COREIA DO SUL

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Ano LX | AGOSTO/SETEMBRO 2014 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤

COREIA DO SUL

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país da liberdade religiosa Prepara receção ao papa

“Indígenas estão a ser massacrados” Pág. 10 “A vida” com a dimensão Pág. 13 de um hectare irmãs da Consolata em portugal há 50 anos Pág. 14


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

Missão no feminino “Pensemos um pouco: o que aconteceria se não houvesse irmãs nos hospitais, nas missões, nas escolas? Experimentem a pensar numa Igreja sem irmãs… Não se pode, não se pode pensar”. A provocação é do Papa Francisco que, ainda há bem pouco tempo declarou que as consagradas são uma dádiva, um fermento que leva por diante a Igreja. Em números redondos andam à volta das 750 mil entre consagradas e membros de institutos seculares. “São presenças que fortalecem e renovam o compromisso da difusão do Evangelho, da educação cristã, da caridade para com os necessitados e da oração contemplativa, no empenho pela formação humana e espiritual dos jovens, das famílias e no empenho com a justiça e a paz na família humana”. E que dizer daquelas que, deixando a família, vão para países longínquos dedicar toda a sua vida à evangelização e promoção das pessoas? Está ainda por fazer a história dessas grandes missionárias que ao lado dos sacerdotes e irmãos leigos deram um enorme contributo à missão. A Igreja, desde os tempos apostólicos, teve nas suas fileiras colaboradoras que aprenderam a gramática da inclusão, do respeito, da paciência e da resistência. Falar da missão no feminino significa reconhecer na mulher o seu papel inalienável de dedicação, de oblação e de transformação.

missionárias era imprescindível no que se refere sobretudo à promoção da mulher indígena. Os diários das primeiras irmãs narram os contactos e o trabalho extenuante que fizeram, ouvindo as pessoas, conversando, curando e catequizando. Cada irmã individualmente tratava por dia entre 50 e 60 pessoas. “Hoje foram tratados mais de 100 enfermos. Aumentam de dia para dia; vemos sempre novas caras, com chagas que arrepiam”. “… Hoje visitei mais de 100 aldeias. Parece que as nossas pernas já estão treinadas nestas marchas diárias”. Enérgicas e preparadas para grandes canseiras e sacrifícios, dotadas de muita constância e resistência, era assim que Allamano queria as suas “filhas”. Não queria temperamentos moles e indecisos, que perdessem facilmente a coragem, mas irmãs viris, à imagem de Teresa de Jesus ou de Francisca de Chantal, que não se deixassem afogar num copo de água. Pessoas completas e equilibradas, sem sentimentalismos exagerados ou desnecessários espiritualismos, mas com sentido prático da vida, desanuviadas na mente e no coração. São assim estas mulheres: próximas das pessoas e portadoras de consolação. Darci Vilarinho

Surgiu-me esta reflexão pensando nos 50 anos de serviço em Portugal das Missionárias da Consolata referidas neste número da nossa revista. Aqui e em toda a parte é indispensável a sua presença. Logo no princípio da sua missão no Quénia, os missionários notaram que a presença das irmãs Agosto/Setembro 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº8 Ano LX – AGOSTO/SETEMBRO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa e Contracapa LUSA Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 Pujança do cristianismo no país da Samsung 03 EDITORIAL Missão no feminino 05 PONTO DE VISTA Sínodo da família aguardado com esperança 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Ajudar está na moda 08 MUNDO MISSIONÁRIO “Um povo dividido pelas ideologias” na Venezuela

Pobres aumentam 100 milhões na Índia Paz é o grande desafio da Colômbia Igreja da Nigéria apoia viúvas 10 A MISSÃO HOJE “Os indígenas estão a ser massacrados” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Um jovem de 83 anos 12 A MISSÃO HOJE Menino marfinense operado com a ajuda dos portugueses 13 DESTAQUE “A vida” com a dimensão de um hectare 14 atualidade Meio século de trabalho ao lado dos carenciados 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Amigos especiais 24 TEMPO JOVEM Recriar a própria vida 26 SEMENTES DO REINO Salvação para todos 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Deus me basta 32 OUTROS SABERES Maneiras de encarar a vida 33 2014 ano allamano Os benjamins do Fundador 34 FÁTIMA INFORMA Alimentar a fé e a esperança


ponto de vista

texto João Munõz*

Sínodo da família aguardado com esperança A Igreja Católica aguarda com muito interesse e serenidade a realização da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada pelo Papa Francisco, e que tem como tema: “Os desafios Pastorais da Família no Contexto da Evangelização”. A reunião de outubro de 2014 será uma “reunião geral extraordinária” do Sínodo, a qual, segundo o código do Direito Canónico, se realiza para “atender assuntos que requerem uma solução rápida”. Esta será composta maioritariamente pelos presidentes das conferências episcopais nacionais, os líderes das Igrejas católicas orientais e os diretores dos principais serviços do Vaticano. Na sua viagem de regresso das Jornadas da Juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco afirmou perante os jornalistas que o próximo Sínodo iria desenvolver uma “atenção pastoral ao matrimónio de uma maneira ainda mais profunda”, incluindo a questão da elegibilidade dos católicos divorciados e recasados em receber os sacramentos da comunhão e reconciliação. Com esta decisão, o Papa Francisco traz à reflexão dentro da Igreja um dos temas mais importantes que a sociedade universal hoje vive, e que precisa de uma nova orientação da hierarquia que vá ao encontro do seu povo. É difícil a situação em que vivem os católicos divorciados e recasados. Apesar de pessoalmente aceitarmos e cumprirmos as regras da Igreja Católica em relação aos casais recasados, somos da opinião que é necessário fazer uma reflexão

profunda sobre este assunto com a seriedade que a isso obriga e com a certeza que o Espírito iluminará com a sua Graça este grupo de prelados da Igreja. Esperamos que seja dada uma resposta institucional assente na verdade, e seja ela qual for, não deverá fazer dobrar quando se torne para alguns um obstáculo, seja ele funcional ou de princípio. Como marido, pai e padrasto sinto todos os dias a exigência que as regras atuais da Igreja pesam sobre mim e a minha mulher, que aceitamos, como sempre aceitámos em todos os tempos. No entanto, ao desejarmos educar os nossos filhos comuns na fé cristã e reconhecendo o papel da família no exercício de dar a conhecer a pessoa de Jesus Cristo, fica-nos sempre a sensação de que, pelo facto de sermos recasados, deixamos de poder acompanhar, no verdadeiro sentido de quem faz o mesmo caminho e não apenas observa outro a fazê-lo. Posso testemunhar o quanto nos é difícil estar em família na sagrada Eucaristia, centro da nossa vida como cristãos e membros de uma comunidade, e no momento da comunhão ver todos os nossos filhos a levantarem-se e dirigirem-se para o altar, pois são “felizes aqueles que são convidados para a ceia do Senhor”, e nós, pais, ficarmos sentados no banco observando, emocionados, mas com a sensação de que para aquela ceia não somos chamados. Como acreditamos que a Igreja é Mãe, temos a certeza de que Ela vai encontrar um caminho e uma forma de misericórdia para todos. E fiéis aos princípios da Igreja universal, sabemos que todos os dias nos devemos questionar que, se “o mundo anda sem nós, de nós depende que ande connosco” (Padre Pedro Arrupe). *Vice presidente da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP)

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leitores atentos

Renove a sua assinatura Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Caros amigos missionários, Agradeço a vossa revista sempre com assuntos tão variados. Há para todos os gostos. Felicito-vos sobretudo pelos artigos mais curtos. Infelizmente hoje há pouco tempo para ler. E por isso prefiro esses textos mais simples que com poucas palavras dizem muito. Gosto também das entrevistas que fazeis, porque

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Tudo muito difícil

Sou a angariadora nº 12260. A minha saúde é de altos e baixos. Depois do enfarte agudo e da broncopneumonia nunca mais fui a mesma. Mas são também os meus 86 anos e a crise que atravessamos que complica ainda mais. Tendo que ajudar as filhas e a neta, está tudo muito difícil. A nossa revista cada vez está mais bonita e traz sempre assuntos de interesse, embora eu já vá lendo menos por causa dos olhos. Que Deus dê muita saúde a todos os que colaboram nela. Maria Fernanda

Pontualidade

Venho renovar a assinatura para este ano. Sei que venho atrasado, mas peço desculpa. Os meus agradecimentos pelo presente que é sempre para mim a vossa revista e pela pontualidade com que chega às minhas mãos. De certeza que não é só pela eficiência dos correios. É sobretudo pelo respeito que têm pelos leitores. Bem hajam e continuem a servir a Igreja desse modo.

definido que certamente foi obtido com tantos anos de serviço. Vejo que fazem as coisas com muito carinho e com muito amor. Isso vale mais que tantas doutrinas. Leio com interesse os textos que me ajudam a refletir e a agir de modo diferente. Amélia

Gota no oceano

Renovo a minha assinatura. Faço-o de boa mente até porque reconheço que o preço da revista é baixo em relação a outras que também recebo. Por isso aqui vai mais alguma coisa. Usem-na para os vossos projetos. Sei que é uma gota no oceano do mundo missionário que tanto precisa, mas é de coração que o ofereço. Maria de Fátima

Joaquim

Refletir e agir

A vossa revista não é uma no meio de outras. Tem o seu lugar bem

são muito diretas e estimulam os leitores. Mas gostaria de ver mais notícias de Fátima. José – Lisboa (recebido por e-mail)

Caro amigo José, obrigado pelo seu e-mail e pelo apreço que tem pela nossa revista. Tentamos agradar a todos os leitores, mas sobretudo informar sobre os problemas do mundo missionário. Sei que há outras pessoas a pedir mais informação sobre Fátima. Embora sabendo que foi aqui que a

revista nasceu há já sessenta anos, há outras publicações mais voltadas para aí. Nós, por vocação, estamos sobretudo focados sobre o mundo missionário, dando prioridade aos povos menos favorecidos. É essa a nossa missão e também o nosso carisma e de certeza que isso agrada a Nossa Senhora.

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horizontes

AJUDAR ESTÁ NA MODA texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Vera era uma jovem feliz. Tudo lhe corria bem. Sucesso académico, simpatia e sentido estético, garantiam-lhe respeito no meio escolar no que se refere à moda juvenil: se a Vera usava, é porque era moda. Prova disso era o número de “amigos” do facebook. Dava-lhe gozo contar os “gosto” que tinha! Era tão viciante que Vera passava grande parte do dia no seu quarto, ao computador, a “curtir” partilhas adolescentes. Vieram as férias. Os pais inscreveram-na para fazer voluntariado numa instituição de acolhimento para pessoas com paralisia cerebral. Apesar de contrafeita e reclamando da autoridade dos pais que não respeitavam a sua liberdade de usar as férias como bem entendesse, foi forçada a obedecer-lhes. O primeiro dia na instituição foi um choque: crianças e jovens da sua idade sem possibilidade de andar, alguns acamados ou sem controle de movimentos até para comerem sozinhos, todos dependentes. Tudo parecia muito mau na vida destas crianças e jovens.

– “Tenho de fugir daqui. Não aguento isto!” Mas, o tamanho do sorriso e as manifestações de felicidade que recebia quando ela se aproximava para os ajudar ou simplesmente para fazer companhia, baralhava a noção de “bom” de Vera. Nunca ninguém se mostrara tão feliz com a sua chegada! Faziam sentir-se “especial” como nunca sentira. Os dias passavam e Vera precisava cada vez mais deles, da Micaela, do Marquinho, quen já não eram um qualquer. Sabia o nome deles, e cada um era especial. Sempre que estava livre, era lá que a encontravam. As suas partilhas no facebook mudaram: as fotos com o bikini novo ou dos programas que revelavam quanto ela era “boa” foram substituídas por fotos de sorrisos brilhantes de jovens presos com cintas para não escorregarem das cadeiras; por vídeos de atividades na piscina, em que ela se misturava com o grupo, ajudando a fisioterapeuta na brincadeira e tratamento; ou a hora da leitura em que alguém os encantava com histórias. Em todas elas, Vera comentava sobre a força e alegria que estes seus novos amigos possuíam e sobre o imenso prazer de viver que eles lhe ensinavam.

Os “gosto” foram os mais numerosos de sempre. Teve uma ideia: – E se eu juntar amigos? Amigos voluntários e amigos com paralisia cerebral?! Entusiasmou-se tanto com a ideia que falou dela na instituição. O acolhimento foi total. Nesse mesmo dia Vera informou sobre os requisitos da instituição para ser voluntário e lançou um alerta: “Entra na Moda: Vem! Ajudar é fixe!” Rapidamente um grupo imenso de jovens estava pronto para se juntar a Vera. A partir daí as férias foram um reboliço de atividades e de prazer. A amizade e os laços que uniram voluntários com as crianças e jovens da instituição, não terminaram com o fim das férias. Também não terminou a nova forma de Vera e os seus amigos voluntários olharem os valores da vida e entenderem aquilo que é fonte de felicidade. Agora são grupo, sem necessidade dos “gosto” do facebook. Terem partilhado aquilo que sabem e podem, fez nascer em Vera e nos amigos um novo vício, e levou para a escola uma nova moda que faz cidadãos maiores: a moda de “ajudar é fixe!”

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mundo missionário texto E. AssunçãO fotos LUSA

“Um povo dividido pelas Pobres aumentam ideologias” na Venezuela 100 milhões na Índia “Sem escutar o povo não é possível encontrar soluções”, afirmam os bispos da Venezuela, a propósito da grave crise que o país atravessa. Na exortação pastoral “Condividimos a consolação que recebemos de Deus”, publicada em meados do mês passado, os prelados explicam que é urgente resolver “as causas dos protestos” que se sucedem no país. Ao apresentar o documento, o bispo Manuel Felipe Díaz Sánchez, arcebispo de Calabozo, fez questão de lembrar alguns dos graves problemas sociais que afetam a população venezuelana. Com este documento a Igreja da Venezuela quer mostrar a sua preocupação pelo sofrimento do povo. Os bispos sublinham que a ação dos pastores passa por “saber criar pontes para promover o encontro entre adversários e a reconciliação do nosso povo, um povo fragmentado e dividido pelas ideologias”.

A pobreza não para de aumentar na Índia. Entre 2011 e 2012 cerca de 363 milhões de indianos, que equivale a 30 por cento da população, viviam abaixo do nível da pobreza. Representava um aumento de 93 milhões relativamente ao período de 2009-2010. De acordo com um estudo desenvolvido por peritos, as dificuldades para reduzir a pobreza na Índia são enormes. Calcula-se que os indianos pobres serão mais 100 milhões. O chamado Painel Rangarajan colocou o nível de pobreza quando o rendimento dos habitantes nas zonas urbanas é de 47 rupias por dia, equivalente a menos de 58 cêntimos de euro; ao passo que nas zonas rurais é de 32 rupias, cerca de 39 cêntimos de euro. A pobreza está a aumentar: prevê-se mais 100 milhões nos próximos tempos.

Verificar para melhorar

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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O verão e as férias convidam a abrandar o ritmo frenético da vida e proporcionam uma boa oportunidade para ganhar fôlego, olhar pela saúde, e programar o futuro. Nas nossas vidas há momentos assim, mas também os há nas paróquias, nos clubes e nas instituições em geral, e o Instituto da Consolata está também ele a passar por um desses momentos. No Capítulo Geral de 2011 foi lavrado um programa de vida e atividade missionária, e nos últimos três anos trabalhou-se com afinco na sua execução. Em junho e julho foram eleitos novos superiores nos países onde os missionários trabalham e em fins de outubro esses


Paz é o grande desafio da Colômbia

Igreja da Nigéria apoia viúvas

O novo presidente do episcopado colombiano afirma que os “guerrilheiros deveriam pedir perdão, mas um perdão verdadeiro”. Eleito recentemente presidente da Conferência Episcopal colombiana, Augusto Castro Quiroga, reafirma que o grande desafio do país é a paz. No seu primeiro encontro público com a comunicação social, o arcebispo de Tunja quis expressar o empenho da Igreja em trabalhar pela paz. Augusto Castro Quiroga, missionário da Consolata, sublinha que os guerrilheiros devem “responder na justiça” pelas suas ações. Para o arcebispo, as negociações de paz a decorrer em Havana, capital de Cuba, são positivas, mas deverão dar um “salto de qualidade”: devem passar do diálogo a uma verdadeira reconciliação. Neste sentido, o arcebispo convidou os vários grupos da guerrilha a assumir um compromisso concreto.

Mais de duas mil viúvas, vítimas da violência do Boko Haram, são assistidas pela diocese de Maiduguri, na Nigéria. “As viúvas sofrem terrivelmente a perda do marido, são marginalizadas e quase sempre os familiares as abandonam, deixando-as sem qualquer apoio”, conta o bispo de Maiduguri, capital do estado de Borno, no norte da Nigéria. Ao apresentar o programa diocesano de assistência e ajuda às mais de duas mil viúvas, Oliver Dashe Doeme reconhece que a Igreja tem “o dever de cuidar dos pobres e necessitados”. A maioria destas mulheres perdeu o marido nas ações violentas realizadas pela seita islamista Boko Haram. “A maior parte destas mulheres ficaram sem trabalho com seis, sete ou 10 crianças para criar”. Depois da primeira ajuda de emergência, o programa pretende tornar as viúvas autossuficientes ajudando-as a criar uma pequena atividade comercial.

novos superiores estarão reunidos em Fátima para se dedicarem à tarefa de verificarem o caminho andado e programarem para mais três anos. O papa Francisco insiste constantemente sobre a “alegria de evangelizar” e essa alegria pertence-nos especialmente a nós missionários, e por isso este tempo de verão está sendo para o governo geral do Instituto aqui em Roma um tempo propício para dar os últimos retoques à preparação desse encontro de Fátima. Pedimos as vossas orações.

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a missão hoje

Telma Silva, do povo Taurepang, entrega uma peça de artesanato a Boaventura Sousa Santos

“Os indígenas estão a ser massacrados” Os líderes de sete comunidades indígenas do Brasil reuniram-se em Coimbra, a convite do Centro de Estudos Sociais (CES). O diretor da instituição, Boaventura Sousa Santos, explicou à FÁTIMA MISSIONÁRIA o quanto a humanidade tem a ganhar com a defesa dos povos indígenas texto e foto FRANCISCO PEDRO FÁTIMA MISSIONÁRIA Porquê um encontro de lideranças indígenas em Portugal? Boaventura Sousa Santos As lideranças indígenas quiseram vir à Europa dar a conhecer as suas lutas, os desafios e os problemas que enfrentam. Escolheram o Centro de Estudos Sociais [em Coimbra] porque sabem que temos estado com eles em muitas ocasiões críticas, importantes para o movimento indígena. O continente latino americano está a viver um ataque global e é muito importante que os líderes indígenas do 10

Brasil saibam que não estão sozinhos, que têm aliados, como nós, ou os povos indígenas de outros países do continente que estão a sofrer os mesmos problemas. FM A que tipo de ataque se refere? BSS O ataque decorre, fundamentalmente, do capitalismo de hoje, que na continuidade do colonialismo, está cada vez mais ávido de terra. São as matérias-primas, os projetos hidroelétricos, os petróleos, a mineração e agora a agricultura industrial. É um momento em que os indígenas estão a ser muito golpeados, atacados, massacrados, com uma grande complacência do governo brasileiro. E um momento de retrocesso, que põe em causa as vitórias das últimas décadas, desde a Constituição. É muito importante lutar para manter esses direitos, mas continuar a avançar para mais reconhecimento de terras. FM O que pode ser feito para ajudar o movimento indígena a partir da Europa? BSS Estamos a celebrar convénios, também com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), para a realização de ações de formação e sobretudo para podermos estar nos momentos críticos na frente de


palavra de colaborador As lideranças indígenas quiseram vir à Europa dar a conhecer as suas lutas, os desafios e os problemas que enfrentam. Escolheram o Centro de Estudos Sociais [em Coimbra] porque sabem que temos estado com eles em muitas ocasiões críticas, importantes para o movimento indígena

luta, podermos denunciar sempre que for necessário e fazer pressão para que os ataques sejam neutralizados.

Um jovem de 83 anos

FM Há quem defenda que Portugal tem uma dívida histórica para com os povos indígenas. O poder político devia ser mais interventivo nestas questões, designadamente junto da União Europeia?

texto DARCI VILARINHO

BSS Devia, mas não o está a fazer porque eu acho que a União Europeia está cada vez mais ao serviço do capitalismo internacional. Basta ver os interesses das multinacionais europeias que estão envolvidas no saque das matérias-primas da América Latina, não são apenas as americanas ou canadianas, são também as espanholas, as portuguesas. Como tal, não espero neste momento, em que as políticas de direita dominam a Europa, que estejam atentos a essa dívida histórica. Mas nós, aqui em Portugal, temos essa responsabilidade. Estamos no centro onde muito do pensamento colonial foi desenvolvido e agora queremos desenvolver aqui um pensamento descolonizador. FM O que falta à sociedade para dar mais atenção aos povos indígenas? BSS A sociedade sempre se alimentou no seu consumo e no seu modo de vida do saque dos povos indígenas. É preciso alterar os nossos padrões de consumo, os modos de vida, e por outro lado, nunca transformar os povos indígenas em ecologistas. Temos que encontrar uma forma de usar a natureza, sem abusar. Os povos indígenas sempre souberam usar sem abusar e é isso que temos que aprender deles. Não é por acaso que 75 por cento da biodiversidade do mundo está em território indígena. Portanto, se a biodiversidade é importante para o mundo, temos que defender as lutas indígenas, pelo bem da humanidade.

Natural de Frazão, Paços de Ferreira, Asdrúbal Martins Souto é um dos primeiros alunos do Seminário da Consolata, em Fátima. Acolhido pelo padre João De Marchi, recorda com orgulho todos os colegas do seu tempo. Sempre ligado às coisas da missão nunca deixou de participar e cooperar em atividades ligadas ao Instituto, em Fátima ou em Águas Santas. O cartão de fotógrafo permitiu-lhe entrar em lugares reservados nas celebrações do Santuário de Fátima. Filmes, fotografias, gravações que ao longo do tempo foi recolhendo constituem um património de arquivo de grande interesse para a história da família da Consolata. Eletricista da Câmara de Paços de Ferreira durante vários anos, ainda possui uma loja de venda de material elétrico e fotográfico, onde conserva as máquinas com que filmou e fotografou os vários eventos. Asdrúbal é a disponibilidade em pessoa. As limitações de saúde não diminuíram o entusiasmo e a estima pelas nossas publicações missionárias, e por isso não para. Quando organiza alguns autocarros da sua zona para a peregrinação Allamano, o lucro eventual é sempre para as missões. Mantém um coração missionário muito jovem. Olha o passado com nostalgia, lamenta o presente desorganizado, mas todo ele é disponibilidade e serviço.

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a missão hoje

Menino marfinense operado com a ajuda dos portugueses

Ramón Esnaola, missionário da Consolata, está a acompanhar a recuperação de Yéo Issa

Os esforços de uma jovem portuguesa finalista em medicina e de um conceituado fotógrafo belga, para ajudar menino marfinense a recuperar a mobilidade, começaram a dar os primeiros frutos. Yéo Issa foi operado e está em recuperação texto FRANCISCO PEDRO foto DR O menino da Costa do Marfim que tem vindo a ser acompanhado há quase um ano por Maria João Lopes, finalista em medicina, e por Yves Callewaert, realizador e fotógrafo de publicidade, foi finalmente operado numa clínica marfinense, graças à campanha desenvolvida pelos dois e que desencadeou uma onda de solidariedade até nas aldeias vizinhas da povoação onde vive o menor. Yéo Issa, de nove anos, viajou no início do mês de julho para Bonoua, onde foi submetido a uma intervenção cirúrgica a uma perna. Dada a complexidade da operação, a recuperação só ficará concluída no final do ano. Os custos serão suportados pelos donativos 12

entregues aos Missionários da Consolata, através da campanha «O Yéo pode andar se você ajudar», promovida por Maria João e Yves Callewaert, e apadrinhada pela jurista Marta Rebelo. O interesse do fotógrafo e da finalista em medicina no caso do pequeno Yéo tornou-se tão contangiante, que antes da partida do menino para a clínica médica, a população das aldeias vizinhas reuniu-se, sem qualquer apelo ou intervenção dos missionários, e juntou 70 euros (uma pequena fortuna naquela região) para ajudar a suportar os tratamentos. Yéo Issa caiu de uma árvore há uns anos e lesionou-se gravemente

Yéo Issa caiu de uma árvore há uns anos e lesionou-se gravemente numa perna. [...] Yves e Maria João tiveram conhecimento do caso o ano passado, durante um campo de férias na Costa do Marfim, promovido pelos Missionários da Consolata, e, sensibilizados com a triste história do menino, decidiram unir esforços para o ajudar

numa perna. Os pais investiram todas as suas economias nos tratamentos, mas algo correu mal na intervenção médica e ele ficou com problemas de mobilidade, que se têm agravado com o crescimento. Se não fosse tratado com urgência, podia deixar de andar. Yves e Maria João tiveram conhecimento do caso o ano passado, durante um campo de férias na Costa do Marfim, promovido pelos Missionários da Consolata, e, sensibilizados com a triste história do menino, decidiram unir esforços para o ajudar. Agora, tudo se encaminha para que possa recuperar a mobilidade, depois de Maria João ter iniciado contactos com especialistas em ortopedia, em Portugal, e criado uma ponte de comunicação com os médicos marfinenses. «Estás ‘repartido’ pelo coração de muitas pessoas e todas vão pensar, rezar ou torcer por ti! És a prova de que a união faz e consegue força para tudo! Vais conseguir!», afirma o padre Ramón Esnaola, um dos missionários da Consolata que está a acompanhar a recuperação do Yéo.


destaque Mundial de Futebol de 2014

“A vida” com a dimensão de um hectare

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

Vejo-me a ler o artigo sobre a final do Mundial de Futebol do Brasil, publicado a 15 de julho, no dia seguinte ao jogo entre a Alemanha e a Argentina. O artigo é um misto de descrição sobre o jogo e de uma narrativa simbólica sobre a vida: de heróis, de culturas, de conflitos, de tensões entre países. Tudo se joga no campo, como uma recriação da vida quotidiana. Talvez resida aí o sucesso do futebol e talvez a sua maior fraqueza: é que a vida, essa, continua, inexoravelmente real, com pouco espaço para aspirações e utopias. O historiador britânico, Eric Hobsbawm, falecido em 2012, disse há uns anos, numa entrevista à Folha de São Paulo que o futebol sintetizava muito bem a dialética entre identidade nacional, globalização e xenofobia dos dias de hoje. Por um lado, se os clubes de futebol se tornaram em “entidades transnacionais, empreendimentos globais”, o futebol popular continua a encontrar as suas raízes na fidelidade local dos seus adeptos. Por outro lado, o que faz dos campeonatos mundiais algo interessante é o facto de que podemos ver países em competição. “Os clubes querem ter os jogadores em tempo integral, mas também precisam que eles joguem pelas suas seleções para legitimá-los como heróis nacionais. Enquanto isso, clubes de países da África ou

da América Latina vão-se tornando centros de recrutamento e perdendo o encanto local de seus encontros, como acontece com as equipas do Brasil e da Argentina. É um paradoxo interessante para pensar sobre a globalização”. A própria presidente Dilma Rousseff, aquando da derrota do Brasil pela Alemanha por sete a um, transformou o jogo num acontecimento verdadeiramente nacional, ao sentir a necessidade de ir às redes sociais anunciar a sua tristeza e apelar aos brasileiros para darem a “volta por cima”. Christiane Amanpour, correspondente da CNN, publicou excertos das conversas havidas com a presidente Dilma Rousseff a propósito da derrota da seleção brasileira nas meias finais do campeonato do mundo, segundo a qual “ser capaz de reagir a uma derrota é a marca de uma grande nação”. “O Brasil será capaz de superar esta situação extremamente dolorosa”, disse Dilma, ainda segundo a correspondente.

Dar a volta, no estádio e na política

As imagens de desespero no final do jogo nos rostos de milhares de brasileiros mostravam o quanto se joga nas quatro linhas: os fracos contra os fortes; a capacidade de superação; os heróis inesperados; a humilhação ou a consagração dos mais fortes; os David e os Golias do nosso quotidiano; a injustiça

Tudo se joga no campo, como uma recriação da vida quotidiana. Talvez resida aí o sucesso do futebol e talvez a sua maior fraqueza: é que a vida, essa, continua, inexoravelmente real, com pouco espaço para aspirações e utopias das decisões incorretas; a razão e a paixão; a sorte, o azar, o destino. Chora-se, rejubila-se, chamam-se nomes aos árbitros, tudo, normalmente, em 90 minutos de jogo e quatro linhas do tamanho de um hectare: um condensado de vida, onde quase todos os excessos são permitidos porque, aparentemente, sem consequências. Talvez aí resida o grande sucesso social do denominado desporto rei. Cá fora, tudo isto custa caro e dificilmente acontece sem consequências. Por isso, as Dilmas deste mundo poderão ficar descansadas: por mais que se chorem as derrotas nos estádios, os adeptos conseguirão dar a volta por cima. Mas se eles começarem a chorar pelos seus problemas sociais, aí vai haver alguém, em Brasília ou noutra qualquer sede do poder, que vai ter de dar a volta.

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atualidade

bodas de ouro Missionárias da Consolata estão em Portugal desde 1964

Meio século de trabalho ao lado dos carenciados Chegaram a Portugal há 50 anos, para espalharem uma mensagem de consolação, de esperança e de paz, junto dos mais necessitados. Silenciosamente, como lhes pediu o fundador, as irmãs missionárias da Consolata continuam a desenvolver um trabalho que nem sempre se vê, mas todos os dias se sente texto e foto FRANCISCO PEDRO

Há uns anos, quando a religiosa Raffaelita Baravalle aterrou no Bairro do Zambujal, na Amadora, para ajudar a abrir uma comunidade missionária da Consolata, impressionou-a o facto dos vizinhos mal se falarem; das mulheres se cruzarem na rua sem se cumprimentarem; de não haver partilha entre as várias culturas presentes na urbanização, nos arredores de Lisboa. Trazia na

Vitória Simeoni, Severa Riva, Raffaelita Baravalle e Maria Ivani Moraes. Equipa do Bairro do Zambujal

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bagagem 37 anos de experiência em terras moçambicanas; na memória as provações de uma guerra civil que a obrigaram a passar noites inteiras fechada no quarto de banho para se refugiar das balas, ou a fugir pela calada da noite para escapar aos ataques de homens armados; e na alma uma enorme vontade de estar próxima das pessoas, sobretudo daquelas que a sociedade teima em empurrar para as fronteiras da

pobreza e da discriminação. Como qualquer religiosa que se consagra para a vida, Raffaelita, como é carinhosamente tratada pelos seus pares, encontrou nas dificuldades, não uma barreira, mas uma janela de oportunidade para a evangelização, para uma pastoral de rua, para o contacto direto com os mais necessitados. E fê-lo de uma forma simples mas eficaz. Pegou numa máquina de costura e

começou a desafiar as mulheres a aprenderem a arte de transformar tecidos em peças de vestuário ou adereços. A semente germinou. Uma década depois, as mulheres estão organizadas (criaram a Comunidade de Mulheres do Zambujal), reúnem-se aos sábados no Centro de Consolação e Vida (dinamizado pelos missionários e missionárias da Consolata), e todos os anos abraçam um projeto de solidariedade para ajudar a população de um país pobre, para angariar fundos para a capela, ou para auxiliar seropositivos. Este pequeno resumo da história da missão no feminino tem como ponto de partida a experiência de Raffaelita Baravalle, mas seria a mesma coisa se partisse do testemunho de Maria Ivani de Moraes, Vitória Simeoni, Severa Riva (todas a trabalhar no Zambujal), ou de Lúcia Tibola, Caridade Oliveira e Lenita Martins, em trabalho pastoral na paróquia do Corim, em Águas Santas, na Maia. Porque todas se movem pelo mesmo objetivo: ser presença no dia a dia dos que mais precisam e mensageiras da Palavra de Deus onde ela ainda não é conhecida. Um trabalho, que apesar de levar 50 anos de continuidade em Portugal, por vezes passa despercebido fora das comunidades onde está localizado, porque as

Fundado em Itália em 1910, o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata chegou ao nosso país em 1964, com a abertura de uma casa no Pousal, Malveira, no concelho de Mafra

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religiosas cumprem à risca os ensinamentos do beato José Allamano, nomeadamente aquele em que pedia aos missionários e missionárias para fazerem “o bem bem feito e sem barulho”.

Orientação vocacional

Fundado em Itália em 1910, o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata chegou ao nosso país em 1964, com a abertura de uma casa no Pousal, Malveira, no concelho de Mafra. “A casa é bonita e situada num lugar ameno, tudo é disposto com amor inteligente para que possa servir no melhor modo possível ao internamento dos doentes pobres e afetos de doenças não contagiosas, mas terminais ou de longa duração”, escreveram as primeiras religiosas que, durante anos, exerceram trabalho de enfermagem num hospital, foram catequistas de crianças e adultos e acolheram irmãs estrangeiras que precisavam de aprender o português para ir em missão para África. Em 1974, duas missionárias partiram para Vila Nova de Foz Côa, para darem a conhecer o Instituto, captarem novas vocações, apoiarem os idosos, as crianças e ajudarem à promoção da mulher. Seis anos depois, foi aberto um espaço para discernimento vocacional e primeira formação no Corim (Maia), e em 1983 a missão do Pousal foi transferida para a casa São João de Brito, em Lisboa. Cumprindo um ciclo de decénios, em 1993, duas religiosas instalaram-se em Fátima para apoiar a vida pastoral do Santuário e promover a orientação vocacional. E em 2003, começaram as visitas ao Bairro do Zambujal,

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Maria Silva Ferreira trabalhou vários anos com os povos indígenas da Amazónia, no Brasil

“Foi no meio do povo, de gente simples, que descobri o Deus próximo, que me ensinaram a aprender o Evangelho”, sintetiza Maria Silva Ferreira, 67 anos, atualmente a trabalhar nas comunidades periféricas de Manaus (Brasil), depois de uma longa experiência com os povos indígenas da Amazónia para onde se transferiram em 2010. O trabalho desenvolvido em conjunto com os missionários neste aglomerado urbano, mesclado de africanos, ciganos e portugueses, deu já origem a um documentário

O elogio de João Paulo II “A presença das irmãs missionárias da Consolata em zonas atormentadas pela guerra civil ou atravessadas por integralismos intolerantes, onde elas se fazem ‘voz de quem não tem voz’, constitui o claro testemunho de uma

– “O meu bairro” – que foi entregue em mão ao Papa Francisco.

No meio do povo

“Sentimos isto como uma missão e as pessoas, tudo o que fazem,

vida totalmente doada ao serviço de Deus e dos irmãos”, afirmou o Papa João Paulo II, numa mensagem enviada à congregação, a propósito do Encontro Capitular de julho de 1999. Na missiva, o agora santo da Igreja Católica, congratulava-se “pela escolha corajosa de solidariedade com populações provadas de vários modos” ao lado das quais as religiosas permanecem,


acrescentam sempre um pouco mais a contar connosco. Sentimo-nos parte das famílias”, conta Maria Ivani, 68 anos, a quem será difícil encontrar sem um sorriso nos lábios. Responsável pela animação pastoral e litúrgica do Centro de Consolação e Vida do Zambujal, a religiosa brasileira parece ligada à corrente. Dá formação às mulheres, está atenta aos casos de doença, acompanha os momentos de oração aos defuntos e procura, sempre que pode, responder aos casos de emergência social. “Há muito desemprego, há pessoas que não conseguem pagar a conta da água ou da eletricidade e famílias que estão há muitos anos numa casa, que viram a renda a aumentar brutalmente de um momento para o outro e vivem na iminência de serem desalojadas”, explica Ivani. Embora vivam das suas magras reformas e de uma ou outra contribuição dos beneméritos, as quatro religiosas conseguem, ainda assim, ir ajudando a pagar as contas às pessoas em maiores

“enfrentando muitas vezes situações de insegurança e de perigo”. E pedia que continuassem a seguir o carisma do fundador, sendo “presença de consolação, de esperança e de paz”.

dificuldades. É isso que as move pastoralmente, é isso que as alimenta espiritualmente. “Foi no meio do povo, de gente simples, que descobri o Deus próximo, que me ensinaram a aprender o Evangelho”, sintetiza Maria Silva Ferreira, 67 anos, atualmente a trabalhar nas comunidades periféricas de Manaus (Brasil), depois de uma longa experiência com os povos indígenas da Amazónia. Natural de Alcobertas, Rio Maior, a religiosa habituou-se à espontaneidade dos cristãos brasileiros, que a abordam e pedem para rezar na rua, e por isso pensa continuar em missão além-fronteiras até que a saúde o permita. Na mesma situação estão as portuguesas Lúcia Tomás e Maricila Marques (em Moçambique); Cecília Carvalho e Anistalda Soares (Itália); Maria da Graça Amado e Graça Lameiro (Colômbia); Cecília França (Brasil) e Palmira Coelho (Argentina). Responsáveis por um trabalho admirável do ponto de vista social e evangelizador, reconhecido publicamente pelo Santo Padre (ver caixa), as missionárias da Consolata continuam, ainda assim, a recusar louvores ou protagonismos. Preferem manter-se humildes, caridosas, solidárias, mas discretas. Porque afinal, como salienta Maria Silva Ferreira, “a missão é de Deus”.

Missionária vai ser beatificada Irene Stefani nasceu em Itália, a 22 de agosto de 1891 e desde cedo se habituou a cuidar dos idosos, dos pobres e das crianças. Entrou no Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata aos 20 anos e partiu para o Quénia em missão, onde se destacou na assistência aos milhares de doentes que chegavam quase sem vida aos hospitais improvisados, no ensino e nas visitas evangelizadoras às aldeias. O povo africano chamava-a de “Nyaatha” – mãe de toda a misericórdia, na língua Kikuyu. Por sua intercessão, um grupo de 260 pessoas conseguiu sobreviver durante três dias na igreja paroquial de Nipepe, em Moçambique, socorrendo-se da água da pia batismal. Este fenómeno, inexplicável à luz da ciência, levou o Papa Francisco a promulgar o decreto de beatificação da religiosa, que deverá ocorrer nos próximos meses.

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dossier

Coreia do Sul Visita do Papa Francisco servirĂĄ para recordar os tempos difĂ­ceis do catolicismo

Uma das igrejas em Seul com um cartaz alusivo Ă visita do Papa Francisco, em agosto

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Pujança do cristianismo no país da Samsung Ao contrário de outros países asiáticos com abundante população cristã, a Coreia do Sul nunca foi colonizada pelos europeus. As conversões ao catolicismo não pararam desde o século XVIII, apesar das perseguições. Hoje, o país é célebre pela liberdade religiosa e, mesmo se o budismo continua forte, a popularidade das igrejas cristãs é óbvia para quem visita Seul, cheia de cruzes texto e fotos Leonídio Paulo Ferreira*, em Seul e Gyeongju Faz-se obra na escadaria que conduz à catedral de Myeong-dong, construída em tijolo e de estilo gótico no final do século XIX e hoje um dos edifícios mais emblemáticos da baixa de Seul. A cruz no topo da torre é uma das muitas que se veem espalhadas pela capital sul-coreana, competindo com os ecrãs gigantes da Samsung e da LG no cimo dos prédios e lembrando que este país famoso pela tecnologia é também um bastião do cristianismo na Ásia. E que em agosto acolherá Francisco, segundo Papa a visitar a Coreia, depois de João Paulo II em 1984 e 1989. “Acho que é por causa do Papa”, explica um dos operários que descarrega material de um camião, percebido graças a um jovem feito intérprete. Coincidência ou não, o esforço para embelezar o acesso à catedral estará concluído a tempo da chegada de Francisco, dia 14, que além de visitar Seul estará em Daejeon. Há 25 anos foi João Paulo II que na sua segunda viagem ao país voltou a prestar homenagem aos cristãos coreanos, comunidade com uma história de perseguições e mártires, mas que hoje exibe grande vitalidade. Calcula-se que dos 53 por cento de sul-coreanos que assumem prática religiosa, mais de metade sejam cristãos, com a Igreja Católica

a ser a maior das que seguem Jesus, mas as confissões protestantes a somarem mais crentes. A outra grande religião coreana é o budismo, introduzido no século IV a partir da China. Funcionária pública, Bora Kim é uma cristã protestante orgulhosa da sua pertença religiosa. Diz que há quatro gerações que a família se converteu à mensagem de Jesus e que toda a sua maneira de ser tem que ver com essa opção pelos valores cristãos. Elogia o papel dos missionários, que, depois da Guerra da Coreia (1950-1953), conquistaram grande simpatia pelo seu trabalho pelos mais desfavorecidos, sobretudo as crianças. Construíram escolas e hospitais por todo o sul do país, dividido do norte comunista até hoje. Bora Kim recorda que o seu avô teve contacto estreito com missionários americanos que vieram para a Coreia nessa época e que “com um deles aprendeu a usar marionetas para explicar a mensagem cristã aos mais novos”. Se toda a gente admite que o dinamismo das igrejas protestantes é impressionante, até por via dos meios económicos, é também indesmentível que a história do cristianismo na Coreia começa Agosto/Setembro 2014

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com o catolicismo. “A Coreia é um caso único. Não foram estrangeiros que trouxeram o cristianismo, foram os próprios coreanos que o introduziram no país a partir da China”, explica Pedro Louro, padre português, um dos missionários da Consolata que vive nesta nação asiática. É em Yeokok, a meia hora do centro de Seul viajando de metro mas já na diocese de Incheon, que este ribatejano a viver há 14 anos na Coreia faz a sua vida. Celebra a missa em igrejas da zona, a pedido dos sacerdotes respetivos, mas também na pequena capela da sede dos Missionários da Consolata. Sentado no chão, numa pequena sala onde as únicas decorações são uma fotografia do beato Allamano e uma imagem de Nossa Senhora da Consolata, Pedro Louro faz a homilia em coreano, língua que aprendeu já no país, para uma audiência de dúzia e meia de fiéis. No final, oferece um marcador de livros com a Senhora da Consolata.

“É bonito. Tem utilidade. E é uma forma de agradecer o apoio que nos dão”, diz o missionário. É que durante toda a manhã um grupo de senhoras esteve a ajudar Marcos Coelho, outro missionário português, a colocar em envelopes transparentes a revista que fazem na Coreia, o equivalente da Fátima Missionária. “Ao todo somos dez missionários, três portugueses”, diz Pedro Louro, acrescentando que Álvaro Pacheco, há 17 anos na Coreia, está a preparar o regresso a Portugal. Na casa da Consolata em Yeokok (há mais duas) surge para o almoço um sul-coreano recém-chegado de África, sendo que o país é famoso por produzir missionários, tanto católicos como protestantes. Aliás, nesta Coreia onde a liberdade religiosa é total (ao contrário do que se passa na Coreia do Norte, oficialmente ateísta) a vitalidade do cristianismo tem levado a uma multiplicação de igrejas

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Fonte: livro Religion in Korea (Korea Foundation)

protestantes, algumas envolvidas em escândalos como o do ferry naufragado há meses e que pertencia a uma empresa ligada a pastores. “É um grupo que não é reconhecido pelo Conselho das Igrejas”, explica Pedro Louro, que lamenta excessos e a incapacidade das autoridades para os travar. Outra polémica é a situação das Testemunhas de Jeová que, visto os seus membros recusarem cumprir o serviço militar, têm uma relação conflituosa com o governo. É preciso não esquecer que nunca foi assinado um tratado de paz entre as Coreias e as duas contam com centenas de milhares de homens em armas e são pouco recetivas a pacifistas. Em Seul, perto do mercado de Dongdaemun, dois jovens distribuem panfletos. São Testemunhas de Jeová e um deles, estudante universitário, lamenta não ter nenhuma publicação em português mas oferece uma em inglês. Questionado sobre quantos são os fiéis na Coreia, responde “um milhão”, número que tem todo o ar de ser só uma ambição. Prova de que a diversidade religiosa é uma das marcas da Coreia, mais à frente surge uma bancada a fazer a apologia da Falun Gong, corrente espiritual recente que tem tido problemas na China, o seu país de origem. Com uma língua bem distinta do chinês e do japonês, os coreanos têm prováveis origens nas regiões siberianas e por isso não é de estranhar que o mais antigo dos seus cultos seja o xamanismo, ainda com seguidores. Depois, importado da Índia via China, chegou à península o budismo, em tempos religião oficial e hoje forte no sul do país, onde existem os templos mais populares, como o de Bulguksa, que atrai milhares de turistas a Gyeongju, antiga capital do reino de Silla. A partir do século XIV, com a ascensão da dinastia Joseon (ou Chosun), o neoconfucionismo impôs-se e o


Pedro Louro e Marcos Coelho, missionários da Consolata portugueses, na Coreia do Sul

“Não foram estrangeiros que trouxeram o cristianismo, foram os próprios coreanos que o introduziram no país a partir da China”, explica Pedro Louro, padre português, um dos missionários da Consolata que vive nesta nação asiática

budismo começou a ser reprimido. Não admira que quando surgiram os primeiros sinais de presença cristã a resposta tenha sido também a perseguição implacável. “Hoje o confucionismo sente-se sobretudo na ética do trabalho, no respeito pelos mais velhos e no gosto pelo estudo”, nota um jornalista britânico, tão interessado nas coisas coreanas que até domina um pouco o idioma deste país pouco maior que Portugal, mas com 48 milhões de habitantes. Foram estudiosos coreanos que visitavam a corte chinesa que começaram por se interessar pelo que chamavam “filosofia ocidental’, com os jesuítas de Pequim a terem influência. Assim, a partir do século XVIII, grupos de coreanos começaram a considerar-se católicos, sendo perseguidos. Andrés Kim Taegon,

Um grupo de senhoras esteve a ajudar Marcos Coelho, outro missionário português, a colocar em envelopes transparentes a revista que fazem na Coreia, o equivalente da Fátima Missionária

martirizado em 1846, foi o primeiro sacerdote coreano. Muitos outros católicos tiveram o mesmo destino, incluindo missionários franceses. Foi aliás a reação militar francesa, e também de outros países ocidentais como os Estados Unidos da América, que obrigou os monarcas Joseon a acabarem com as perseguições religiosas. Foi ao mesmo tempo sinal da fraqueza do Estado coreano, conhecido como o reino eremita, deixando adivinhar a colonização japonesa, que terminou só após a Segunda Guerra Mundial.

democratização, em luta contra o regime militar pró-americano. Muito do prestígio atual da Igreja Católica vem dessa luta pelos direitos humanos, até triunfar a democracia nos anos 1980 num país cheio de vitalidade e que é uma das economias mais dinâmicas do planeta, graças a empresas como a Samsung, gigante dos telemóveis e tabletes, a LG, também eletrónica, ou a Kia, marca automóvel. * jornalista do DN

Francisco, que estará quatro dias na Coreia do Sul, lembrará os tempos difíceis do catolicismo local durante a beatificação de 124 mártires. A história destes é recordada em cartazes junto à catedral de Seul. A própria catedral de Myeong-dong merece ser recordada pelo abrigo que dava aos defensores da Agosto/Setembro 2014

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gente nova em missão

mensageiros Vamos saber mais sobre as virtudes dos anjos

AMIGOS ESPECIAIS Olá amiguinhos! As férias estão a meio e aproxima-se o regresso à escola e à catequese. Preparados para uma nova etapa? E para continuarem em constante alegria e festa? Para nós, todos os dias são de alegria e festa, pois estamos sempre acompanhados por Jesus. Mas também por uns amigos especiais, que estão continuamente ao nosso lado. Querem saber quem são? São os anjos de Deus texto Cláudia Feijão ilustrações RICARDO NETO

MUITO PRÓXIMOS DE NÓS Quando se fala em anjos a maioria das pessoas pensa em algo muito distante. No entanto, para nós, os anjos são uma realidade muito próxima, que se manifesta ao longo da nossa vida, todos os dias e a qualquer hora. Os santos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael são os mensageiros de Deus, estabelecendo connosco esta relação íntima com Deus. São eles que nos ajudam a afastar-nos dos caminhos errados e nos orientam para Deus. São Miguel arcanjo é o protetor do povo de Deus. Ele guia o exército 22

celestial no combate contra o mal. Por sua intercessão temos força para darmos “nega” ao mal e fazermos “like” ao bem. Sê também tu mensageiro do amor de Deus e ajuda os outros a encontrarem o caminho do bem. O arcanjo Gabriel é o mensageiro da notícia mais importante para a nossa vida: a encarnação de Deus na história humana. Através dele, Deus chega ao coração de Maria, que com o seu “sim” lhe confia a sua vida cumprindo a grandiosa missão de ser a mãe do Filho de Deus. Por ele é-nos anunciado o grande amor de Deus pelos homens e que não há


impossíveis para Deus. Sê também tu o mensageiro do amor de Deus através do teu testemunho de fé para que Deus chegue ao coração de todos os homens. O arcanjo Rafael é o mensageiro da cura de Deus. Ele está ao nosso lado para nos ajudar a sarar as feridas abertas pelo pecado. E o medicamento para as curar não obedece a uma fórmula química, mas nasce do nosso coração. O perdão purifica-nos e renova-nos no caminho para a vida eterna. Não sentes o teu coração mais leve quando celebras o sacramento da reconciliação? Sê também tu mensageiro do amor de Deus através do perdão e da reconciliação. Como é bom ter quem nos guia, fortalece, protege e acompanha ao longo do caminho! Sê também tu esse “anjo” para todos os que necessitam de encontrar “o caminho, a verdade e a vida”. São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!

SABIAS QUE

A palavra “arcanjo” significa anjo principal? E que a palavra “anjo” significa enviado, mensageiro? Inicialmente assinalava-se o dia 29 de setembro como o dia de São Miguel, o dia 24 de março como o dia de São Gabriel e o dia 24 de outubro o dia de São Rafael. Mas a Igreja decidiu unificar a celebração dos santos arcanjos num único dia, o 29 de setembro.

CURIOSIDADE

Os três nomes dos arcanjos terminam em “el”, que significa Deus.

Momento de oração Obrigado Senhor

pelo grande amor que tens por mim. Que por intercessão dos teus santos anjos eu tenha força para resistir às tentações e nunca me afaste do Teu caminho mas seja na terra testemunha do Teu amor e do teu perdão. Pai-Nosso… Glória …

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tempo jovem

Recriar a própria vida Ultimamente alguém comentava comigo sobre a grande dificuldade que tinha em silenciar os seus pensamentos e quanta ansiedade estes acabavam por gerar no seu estado de ânimo texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA “Não consigo apagar este pensamento”; “fico distraído de tanto pensar”; “o meu corpo está cá, mas os meus pensamentos estão noutra parte”; “tenho agido sem pensar muito”: são as clássicas frases que muitas pessoas utilizam para justificar a falta de concentração, fácil distração e atitudes erróneas. O que resgato desta experiência geradora de confusão é o facto de poucas vezes nos apercebermos da grande influência e intensidade que os pensamentos têm sobre as nossas motivações e atitudes. É preciso tomar consciência de que os pensamentos de uma pessoa acabam sempre por influenciar o próprio estado emocional em detrimento da própria conduta. Dito de outro modo: os nossos pensamentos acabam sempre por interferir de forma positiva ou negativa no nosso dia a dia. No complexo mundo do nosso cérebro estão aqueles pensamentos que se “adaptam” ou “adequam” à realidade, fazendo-nos mais

objetivos e realistas. Neste caso as nossas atitudes são geralmente assertivas. Mas também estão os pensamentos que eu chamo de “imparciais”, por influenciarem pouco as nossas emoções e conduta. Mas, aqueles pensamentos que nos trazem muitos problemas são os “inadaptados” porque acabam por distorcer a realidade, impedindo-nos de alcançar a objetividade e provocando emoções incompatíveis com a situação que se está viver. Aproveitando este modo simples de classificar os pensamentos, queria fazer uma observação sobre aqueles que ficam ancorados em nós como “crenças”, ou seja, que são consequência de algo que nos aconteceu e nos marcou profundamente, ou são fruto do ADN familiar e social que herdámos. Uma coisa é certa: há pessoas que sofrem muito, vítimas dos tantos “pensamentos” negativos que acabaram programando a própria vida. Ter tido a possibilidade de estudar temas referentes à Programação Neurolinguística fez-me descobrir que é possível “recriar” a nossa vida a partir da reestruturação dos nossos pensamentos e emoções. Em chave cristã, dizemos que é possível renascer de novo, sempre que dermos a “César o que é do César e a Deus o que é de Deus”, sempre que formos capazes de trocar os sentimentos de ódio por amor, de mentira por verdade, e sempre que deixarmos as atitudes egoístas em prol do altruísmo. Identificar, analisar e modificar as interpretações ou os pensamentos

Identificar, analisar e modificar as interpretações ou os pensamentos errados que se têm de si mesmo ou dos outros é um “caminho possível” para atingir uma melhor qualidade de vida no caminho de crescimento humano 24

errados que se têm de si mesmo ou dos outros é um “caminho possível” para atingir uma melhor qualidade de vida no caminho de crescimento humano. Para quem vive algemado na rígida e estática prisão das falsas crenças e dos pensamentos inadaptados, um novo sol se levanta no firmamento da reconstrução humana. É possível a mudança, é factível o recomeçar, é justo e necessário em cada dia vibrar no profundo desejo de recriar a vida. Deixo alguns pensamentos que facilmente se tornam crenças negativas e acabam por bloquear a capacidade de mudança e crescimento de qualquer pessoa. Se te “identificas” com algum deles não duvides: “analisa-o” e procura um modo de reprogramar ou “modificar”. “Não poderia viver sem ele ou ela” “Se alguém está em desacordo comigo, é porque não gosta de mim” “A felicidade consiste em ter êxito em tudo aquilo que me propuser” “Devemos sempre procurar agradar aos outros” “Não vou conseguir, já tentei mais do que uma vez” “Só há ganhadores e perdedores no jogo da vida” “Se o que faço não é perfeito, não é bom” “Se cometo um erro, vou ser um fracassado” “Sou o principal responsável do que acontece ao meu filho” “Eu sou assim e já não vou mudar” “Se lhe manifesto muito os meus sentimentos, acabará por tomar o controle sobre mim” “Sou o único que pode solucionar os meus problemas”.


Em chave cristã, dizemos que é possível renascer de novo, sempre que dermos a “César o que é do César e a Deus o que é de Deus”, sempre que formos capazes de trocar os sentimentos de ódio por amor, de mentira por verdade, e sempre que deixarmos as atitudes egoístas em prol do altruísmo

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sementes do reino

Salvação para todos texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA A grande lição do Evangelho é que o Reino de Deus não é exclusividade de um grupo de pessoas, mas é universal: a grande condição é a fé, ou melhor, a adesão à pessoa de Jesus Cristo.

Ninguém coloca em causa que a Igreja é uma comunidade aberta a todos, independentemente da sua raça, cultura, classe social, ideias políticas. Porém, será que as nossas comunidades são de verdade abertas aos que são diferentes? Aos que pensam de um modo especial?

Leio a Palavra

Mt 15, 21-28 Após ter proclamado algumas parábolas que falavam da realidade do Reino de Deus, Jesus verifica que nem todos os ouvintes estão dispostos a acolher esta novidade. O Evangelho abre com uma mudança geográfica. Jesus vai para uma outra região, e é aí que uma mulher Cananeia vai ao seu encontro. Esta mulher pagã faz uma súplica a Jesus: a sua filha encontra-se possuída por um espírito maligno. Qual é a resposta de Jesus? Silêncio! Ao contrário, os discípulos ficam perturbados com o silêncio de Jesus e a insistência da mulher, ao ponto de O suplicarem que a atenda. A resposta de Jesus ao apelo dos discípulos é ainda mais perturbadora: ele veio apenas para as “ovelhas perdidas da Casa de Israel”! A mulher não desespera e volta a suplicar. Jesus continua duro. A Cananeia não se importa de receber apenas umas migalhas… Jesus espanta-se com a fé daquela mulher e a salvação chega à sua casa.

Saboreio a Palavra

Surpreende a dureza com que Jesus trata a mulher que lhe pede ajuda. Começa por ser indiferente com o seu silêncio. Depois, perante a insistência dos discípulos, responde: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Finalmente, diante do pedido de socorro da mulher, responde: “Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cães”. Como entender esta atitude? A atitude de Jesus serve para mostrar quanto as autoridades religiosas estavam erradas acerca dos chamados “pagãos”. Enquanto estas recusam a proposta do Reino de Deus, os “pagãos” acolhem Jesus e reconhecem-no como verdadeiro Senhor. Ninguém pertence ao “Reino” apenas por um bilhete de identidade; é preciso aderir ao Mestre. 26

Rezo a Palavra

A mulher Cananeia na sua aflição dirige-se com esperança a Jesus. À primeira vista as coisas não lhe correm bem, mas não desiste e a sua fé acaba por obter uma resposta. Apresente a Deus as suas “aflições” com a esperança e a fé de ser atendido.

Vivo a Palavra

Ninguém coloca em causa que a Igreja é uma comunidade aberta a todos, independentemente da sua raça, cultura, classe social, ideias políticas. Porém, será que as nossas comunidades são de verdade abertas aos que são diferentes? Aos que pensam de um modo especial? Aos que são considerados “estrangeiros”? O Evangelho mostra que para fazer parte da comunidade é apenas necessário aderir à pessoa de Jesus.


intenção pela evangelização

A Palavra faz-se missão AGOSTO 31 22º Domingo comum 03 18º Domingo Comum Jer 20, 7-9; Rom 12, 1-2; Mt 16, 21-27

Is 55, 1-3; Rom 8, 35-39; Mt 14, 13-21 Pão repartido Senhor, que nos associas à tua missão extraordinária de dar de comer a quem tem fome, faz com que sejamos pão partido em amor e doação.

10 19º Domingo Comum 1Re 19, 9-13; Rom 9, 1-5; Mt 14, 22-23

Confiar O que é a fé? É fiar-se de Cristo, mesmo que o vento sopre e os pés se afundem. Na falta de fé está a grande tragédia que devasta o mundo e a Igreja. Não temamos porque Ele vai connosco.

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Assunção de Nossa Senhora Apoc 11, 19-12, 1-10; 1Cor 15, 20-26; Lc 1, 39-56 Sinal de consolação Assiste, Senhora nossa, com o teu amor materno, a Igreja ainda peregrina sobre a terra e protege misericordiosamente os nossos passos a caminho da pátria celeste.

17 20º Domingo Comum Is 53, 1.6-7; Rom 11, 13-15.29-32; Mat 15,

21-28 Aumenta a nossa fé Tu nos ensinas, Senhor, que para fazer parte do teu Reino não valem privilégios ou genealogias, mas só uma fé forte e operante, humilde e confiante. Aumenta, Senhor, a nossa fé!

24 21º Domingo Comum Is 22, 19-23; Rom 11, 33-36; Mt 16, 13-20

Quem sou Eu para vós? Com toda a Igreja, proclamemos: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. Tu és a revelação do Pai que nos ama. Tu és o amigo sempre fiel. Tu és a força inabalável da nossa Igreja.

É tão difícil perder Tenho de rejeitar muita coisa para me oferecer como vítima viva, santa e agradável a Deus. Que eu siga os teus passos, Senhor, e contigo me ofereça pela humanidade.

SETEMBRO

7Ez 33,23º7-9;Domingo Comum Rom 13, 8-10; Mt 18, 15-20

Eu estarei no meio deles Que riqueza, Senhor, é para nós a tua presença. Que beleza é poder perdoar-nos uns aos outros e crescer no teu amor.

14 Exaltação da Santa Cruz Num 21, 4-9; Filip 2, 6-11; Jo 3, 13-17

Cruz redentora Ó Pai, rico de misericórdia, que exaltaste o teu Filho obediente até à morte e morte de Cruz, ajuda-nos a levar o peso da cruz de cada dia.

21

25º Domingo Comum Is 55, 6-9; Filip 1, 20-27; Mt 20, 1-16 Na vinha do Senhor Não há lugar para braços cruzados na tua vinha, Senhor. Sempre e cada vez mais há trabalho a realizar na tua Igreja e no mundo. Contrata-nos, Senhor, para a tua missão e sê tu a nossa recompensa no termo da nossa jornada.

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26º Domingo Comum Ez 18, 25-28; Filip 2, 1-11; Mt 21, 28-32. Dizer e fazer Quantas vezes, Senhor, dizemos que fazemos e não fazemos. Somos ouvintes da tua palavra, mas não realizadores obedientes. Dá-nos, Senhor, fidelidade e constância, para fazermos sempre a tua vontade. DV

AGOSTO Para que os cristãos na Oceânia anunciem com alegria a fé aos povos do continente

Cristãos na Oceânia A Oceânia, com mais de 10 mil

ilhas e 14 países, é formada por um grande número de povos indígenas e de imigrantes. Têm um forte sentido do sagrado e uma grande alegria de viver, cultivam os valores do acolhimento e da solidariedade, que facilitam a abertura ao Evangelho. É aqui que os poucos milhões de cristãos são chamados, sobretudo neste mês, a anunciar a própria fé, sobretudo no combate à pobreza e na defesa da natureza e da vida.

SETEMBRO Para que os cristãos, inspirados na Palavra de Deus, se comprometam com o serviço aos pobres e aos que sofrem

Serviço aos pobres

É enorme a mancha da pobreza no mundo. “A Igreja, guiada pelo Evangelho da misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o clamor pela justiça e deseja responder com todas as suas forças”. “Dai-lhes vós mesmos de comer” disse Jesus aos discípulos. É uma tarefa enorme para os cristãos, chamados a “resolver as causas estruturais da pobreza e a promover o desenvolvimento integral dos pobres, com os gestos mais simples e diários de solidariedade”. DV

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o que se escreve Agenda Directório Litúrgico 2015

Um caminho sob o olhar de Maria

Aqui está uma biografia muito completa de uma figura incontornável do mundo católico português do séc. XX e não só: Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado. O livro fornece-nos uma perspetiva muito abrangente desta figura ímpar, fruto de um conhecimento relacional, de um convívio quotidiano e de escritos e testemunhos que espelham a profundidade da sua alma. Com textos bem selecionados e muitas gravuras inéditas é documentado todo o seu percurso de pastorinha de Fátima, de estudante, de religiosa doroteia e de religiosa carmelita. Particular relevo é dado aos “Encontros com o Bispo vestido de branco”: Paulo VI, cardeal Albino Luciani (João Paulo I), João Paulo II e cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI). Um documento valioso. Autor: Carmelo de Coimbra 492 páginas | preço: 20,00€ Edições Carmelo

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É uma agenda litúrgica publicada anualmente pelo Secretariado Nacional de Liturgia. Um instrumento de consulta fundamental para qualquer comunidade cristã, com valiosas introduções referentes ao ano litúrgico, à celebração eucarística e liturgia das horas. São igualmente de interesse as páginas finais referentes à Conferência Episcopal Portuguesa, com todos os seus órgãos e secretariados nacionais, as páginas referentes à Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e um calendário até 2023. Autor: Secretariado Nacional de Liturgia 448 páginas | preço: 9,50€ Edição do Secretariado Nacional de Liturgia

Meditações com São João Paulo II

“Uma existência vivida sob o signo de uma terna devoção a Nossa Senhora, para amar plenamente o Redentor que nela se fez carne; uma vida gasta a edificar no mundo uma morada para o seu criador, uma casa para o Homem que vem salvar o homem, tal foi a existência terrena de Karol Wojtyla.” Aqui está um bom livro escrito por alguém que trabalhou na Secretaria de Estado do Vaticano e que por isso conheceu de perto esta figura ímpar da Igreja sobre a qual vale a pena meditar. Autor: Monsenhor Francesco Follo 94 páginas | preço: 8,50€ Paulus Editora

O mestre está cá e chama-te! Aprender a rezar para Vocação na Bíblia aprender a amar

O livro recolhe os textos escritos pelo padre Manuel João Pereira Correia, missionário comboniano, para a revista Além-Mar. Refletindo sobre a vocação na Bíblia, o autor explorou a aventura da fé de pessoas concretas do Antigo e do Novo Testamento que se deixaram tocar pela experiência do diálogo de amor com Deus. É um ótimo instrumento para uma verdadeira Lectio Divina para saborear os textos sagrados e responder aos apelos de Deus. Autor: Pe. Manuel João Pereira Correia 152 páginas | preço: 5,00€ Editorial Além-Mar

Dirá o leitor: mais um livro sobre a oração! Será, mas nunca é demais discorrer sobre a sua importância. É através do encontro com Deus na oração que nascem todas as transformações pessoais e sociais, porque só o contacto com o céu pode curar a nossa terra. Através deste livro – verdadeira escola de oração muito oportuna para o tempo de férias – poderemos deixar-nos transformar interiormente pelo Senhor para amarmos de verdade. Autor: Jacques Philippe 152 páginas | preço: 11,50€ Paulus Editora


o que se diz Procurar a verdade João, o discípulo amado

É mais um opúsculo de uma série de livrinhos escritos pelo grande biblista, cardeal Gianfranco Ravasi, para a descoberta de Jesus de Nazaré, o Mestre que com as suas palavras, as suas ações e a sua vida ensina a cada homem como ser seu discípulo. Aqui temos uma abordagem direta do Evangelho de São João: um Evangelho surpreendente, que ignora vocábulos caros aos outros evangelistas como “apóstolos”, “evangelho”, “batismo”, “publicano”, “conversão”, mas que é um forte testemunho do “outro discípulo, que viu e acreditou”. Autor: Gianfranco Ravasi 72 páginas | preço: 4,00€ Paulus Editora

Padroeiros da Europa

Este opúsculo ilustrado é mais um presente do Papa emérito Bento XVI: reflexões muito oportunas e cheias de sabedoria sobre os padroeiros da Europa, desconhecidos de muitos cristãos: São Bento, São Cirilo e São Metódio, Santa Teresa Benedita da Cruz, Santa Catarina, Santa Brígida. Homens e mulheres que marcaram a Igreja e a sociedade e que servem de modelo para cada cristão hoje. Autor: Bento XVI 54 páginas | preço: 5,90€ Paulus Editora e CCEE

Abrir as portas “O Papa Francisco fez aquilo que prega nas homilias das Missas

matinais de Santa Marta: a Igreja só tem serviços para abrir as portas a toda a gente (Ostiários). Na peregrinação à chamada Terra Santa, uma peregrinação muito eficaz, abriu portas e muros entre cristãos, judeus e palestinos. Esperemos que, agora, não apareçam os zeladores de uma Igreja de portas fechadas, de israelenses e palestinos sem vontade prática de dois Estados soberanos e fraternos”. Frei Bento Domingues | Mensageiro de Santo António | julho / agosto 2014

Pulmões da humanidade “O silêncio dos mosteiros onde tantos homens e mulheres vivem a

sua história de amor com Aquele que os escolheu e chamou, é para o mundo a tenda do encontro onde Cristo estabelece uma aliança de amor com a própria humanidade. Estes espaços onde o silêncio grita mais alto do que a palavra são os «pulmões verdes da cidade dos homens»”. Irmãs Clarissas de Monte Real | Presente | 3 de julho de 2014

A Trindade obriga-nos “A Trindade ‘obriga-nos’ a amar o mundo e a história que Jesus

‘incarnou’, mas sempre conscientes que a nossa (última) morada é o céu, o nosso horizonte é o eterno e a nossa esperança é ‘regressarmos’ a essa ‘casa’ que é Deus. A Trindade ‘obriga-nos’ a colocar as pessoas no centro e sobretudo a fazer das ‘periferias’ o centro, dos últimos os primeiros e dos pobres a opção preferencial (não penso apenas na pobreza material)”. Nuno Santos | Correio de Coimbra | 3 de julho de 2014

Cuidar dos mais débeis “Certa tradição judaica afirma, interessantemente, que o «êxito»

não é nenhum dos nomes de Deus. Porque a vitória de Deus, em Jesus Cristo, não é a vitória do êxito e da heroicidade, mas a vitória do fracasso (aos olhos humanos). É na nossa debilidade que somos fortes, porque é aí que Deus nos oferece a sua salvação. Aos ricos, que já se consideram salvos pelo seu êxito, Deus não precisa de dar, porque eles também não aceitariam”. João Duque | Mensageiro do Coração de Jesus | julho 2014

No alto mar “Falta é à Igreja sentir que ainda há muito para dizer e testemunhar sobre a Boa Nova de Cristo. E fazê-lo com ardor e novos métodos, sem receio de lançar as redes para o alto mar de tantos que vivem à busca de Deus. No alto mar de tantas dúvidas e medos e incoerências e dor. No alto mar dos 67 por cento dos não cristãos que também são ‘filhos de Abraão’ e precisam de saber que são infinitamente amados por Deus”. Artur de Matos | Boa Nova | julho 2014

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gestos de partilha

Costa do Marfim Maria Formiga 10,00€; Preciosa Formiga 10,00€; Wiecek Artur 15,00€; Teresa Magalhães 700,00€; Fátima Matias 10,00€; Cecília Santos 10,00€; Anónimo 250,00€; João Afonso 70,00€. Total geral = 17.230,65€. Bolsa de estudo Anónimo 250,00€; Noémia Canavarro 20,00€. Criança Yéo Issa – Costa do Marfim Anónimo 100,00€. Crianças de Mecanhelas – Moçambique Anónimo 25,00€; Família Lorenzini Bruno 90,50€. Ofertas várias Adelino Santos 50,00€; Arnaldo Silva 150,00€; António Silva 150,00€; Manuel Felizardo 50,00€; Mário Pereira 150,00€; Maria Rosário Pereira 30,00€; Abel Pinto 25,00€; Jorge Abreu 500,00€; Manuel Castelão 40,00€; Lavínia Rufino 100,00€; Vitória Antunes 100,00€; Franciscanas Vitorianas de Maria 100,00€; Luís Teixeira 25,00€; Grupo da Carapinheira 100,00€; Anónimo 25,00€; Delfina Vieira 120,00€; Fátima Corral 40,00€; Anónimo 30,00€; Maria Narciso 50,00€; Luísa Trovoada 36,00€; José Silva 40,00€; Amélia Gomes 75,00€; Octávio Carreto 43,00€; Carlos Silva 29,00€; Ana Miranda 36,00€; Carmélia Caetano 43,00€; Lídia Vicente 93,00€; Palmira Pedro 72,00€; Helena Barros 63,00€; Lurdes Reis 86,00€; Céu Gomes 40,00€; Carlos Aleixo 50,00€; Celeste Joaninho 40,50€; Luís Dias 26,00€; Adelina Antunes 93,00€; Joaquim Santos 28,00€; Irene Serrano 43,00€; Isabel Pacheco 108,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida Padre LUÍS AMADIO

Deus me basta texto Aventino Oliveira ilustração H. Mourato Às vezes, a vida tem as suas sendas tortuosas. Como na vida do padre Amadio, missionário da Consolata. Nasceu em 1916 em Sault St Marie, no Canadá, de pais emigrantes italianos. Aos cinco anos, toda a sua

família regressou à Itália: pai, mãe e quatro filhos. Um ano mais tarde, faleceram o pai e a mãe, deixando as quatro crianças sozinhas. As três meninas foram colocadas num jardim de infância. Luís foi viver com o seu tio sacerdote, prior duma freguesia. Aos 10 anos entrou para o Seminário da Consolata. Dele disseram os seus formadores: “O Luís tem um grande amor ao Instituto, sólida vida de oração,

convivência fácil, obediência generosa e aplicação ao estudo”. Foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1939. A 2ª Guerra Mundial fizera grandes estragos no Instituto, em pessoal e em estruturas. Era preciso abrir comunidades noutros países. Foi o padre Amadio enviado para o Canadá em 1947 para lá inaugurar a presença da Consolata. No início não foi fácil. Escreveu ele: “Tenho aprendido muito por minha conta, quase sempre sozinho, sem ajuda de ninguém!” Finalmente, obtém licença de estabelecer o Instituto na diocese de Sioux Lookout. De Turim, mandam-lhe três colaboradores. A finalidade era “a animação vocacional e a coleta de fundos para as missões”. Com o tempo, o Instituto estabelece-se na grande diocese de Montreal, onde o cardeal Leger lhe entrega duas paróquias: São João Bosco e Consolata. Confiou-lhe o Instituto várias atividades que fielmente executou: pároco, animador vocacional, superior de comunidades, diretor de construções, administrador, trabalhos de pastoral. Inesquecível aquele seu sorriso que a todos contagiava jovialmente. Para a celebração dos seus 60 anos de sacerdócio, respondia assim à carta de parabéns do Superior Geral: “Celebrei o meu aniversário como desejava: sozinho com Nosso Senhor. Não quero mais nada; cada missa é um aniversário. O tempo que me resta é uma preparação para o encontro com o Senhor. Espero ouvir Jesus dizer-me, como ao bom ladrão: ‘Hoje estarás comigo no paraíso ’”. Aconteceu em 18 de julho de 2010. Recordo um dos seus amores nos últimos tempos da sua vida: fazer quadros da Virgem Consolata, que oferecia a benfeitores do Instituto, um hobby que lhe dava muita alegria.

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outros saberes

MANEIRAS DE ENCARAR A VIDA texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA “Com o suor do teu rosto comerás o pão de cada dia”, disse Deus a Adão ao perder, por sua culpa, a situação paradisíaca muito mais cómoda, a que parecia ter sido destinado. Tamanha advertência persiste ainda hoje. Todos procuramos, mas sem encontrar, a maneira de tudo alcançar sem esforço. Alguns, refugiam-se em Deus impetrando que Ele os substitua naquilo que eles próprios podem alcançar com o tal “suor do rosto” inevitável. Outros encolhem-se na inércia, alegando que não vale a pena lutar contra um hipotético destino já traçado. Outros ainda, procuram atribuir a sua situação precária à pouca sorte e sujeitam-se a perder o pão garantido, mas

dependente de algumas pingas mais de “suor”. A vida não está antecipadamente riscada, pois, cada um escreve a sua com o seu proceder, desafiando, perseverando, arriscando.

estar parado porque, senão, em vez de se tornar parte da solução torna-se parte do problema. Quantos não arriscaram a própria vida para salvar a vida de outros em perigo e se salvaram todos.

Algumas doses de sabedoria:

“Não procurar o mel no traseiro da vespa” (provérbio árabe)

“Viver a sua vida sem medo de arriscar; se vai dar certo ou não, o importante é tentar” (Roberto

de Sousa). É que o medo é o travão do sucesso e faz o homem estagnar e até regredir.

“Que eu reze, não para ser livre dos perigos, mas para os olhar de frente!” (R. Tagore)

Ter medo do perigo pode tornar-se uma obsessão pior que o próprio perigo e até provocar perigos em cadeia. Olhar o perigo de frente quer dizer vê-lo como uma oportunidade de exercitar a própria capacidade de o superar com calma, tenacidade e prudência.

Arriscar não é doce. Requer tenacidade, perseverança e prudência. Ou seja: usar os meios adequados para atingir os fins nobres.

“Há duas maneiras de viver a vida: uma é acreditar que não existe milagre, a outra é acreditar que todas as coisas são milagre” (Desconhecido).

“O suor do rosto” torna-se “água benta” que faz descobrir ao homem que é colaborador de Deus em tornar a terra numa habitação agradável a Ele e a todos.

“O homem revela o que é, quando enfrenta um obstáculo” (Saint Exupéry) Se não o enfrenta com coragem e determinação e prudência é melhor

A vida não está antecipadamente riscada, pois, cada um escreve a sua com o seu proceder, desafiando, perseverando, arriscando

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2014 ano Allamano

Mais algumas pinceladas na figura do beato José Allamano (1851-1926), que ao longo deste ano a ele dedicado queremos retratar. Para que seja mais conhecido e amado e a sua vida exemplar seja um estímulo

Allamano sempre apreciou a preparação técnica dos irmãos consagrados na ajuda à missão

Os benjamins do Fundador texto DARCI VILARINHO foto FM Ao lado dos missionários sacerdotes foram instituídos, logo desde o início da fundação da Consolata, os irmãos leigos, membros consagrados da mesma família religiosa, e igualmente missionários para todos os efeitos, chamados a colaborar na pastoral e a exercer atividades técnicas e profissionais. Admiráveis pelo testemunho de vida, foram excelentes no trabalho da promoção humana. Quando José Allamano organizou a primeira expedição de missionários preocupou-se em colocar irmãos ao lado dos padres. Ao jovem Luís Falda que lhe manifestara o desejo de ser sacerdote, Allamano disse que lhe faltavam alguns irmãos leigos para integrar o grupo. “Não gostarias tu

também de tentar esta aventura?”, perguntou-lhe à queima-roupa o fundador. O moço entusiasmou-se e alinhou no primeiro grupo que partiu para o Quénia. Logo depois foi a vez do seu irmão de sangue, Bento Falda, a quem Allamano contou ter adquirido umas máquinas para montar uma serração e uma carpintaria em África a fim de preparar materiais de construção e móveis para igrejas, residências e escolas. A resposta não se fez esperar: “Se quiser, estou pronto para partir. Poderei ser o técnico que o senhor procura”. O fundador queria que estes consagrados se distinguissem pela preparação técnica, amor ao trabalho, disciplina e piedade, e que ajudassem os povos africanos na promoção humana e cristã. Dedicou-lhes sempre uma atenção especial. Chamava-lhes os seus “benjamins” e tratava-os com especial carinho. Nunca os deixava sair do seu gabinete sem qualquer

lembrança, nem que fosse um punhado de rebuçados. “Antes de partir para as missões – conta um irmão – chamou-me ao seu gabinete, conversou longamente comigo, fez-me as últimas recomendações, deu-me a sua bênção, e depois abriu a gaveta, tirou uma libra de ouro e deu-ma, dizendo: Toma lá, é para ti. Gasta-a como entenderes”. Não há dúvida. Estes “benjamins”, imbuídos do espírito de Allamano, escreveram algumas das mais belas e heroicas páginas da epopeia missionária. As igrejas, catedrais, escolas, hospitais, moinhos e oficinas que construíram. As lições de mecânica e eletricidade que ministraram. A água que do sopé das montanhas canalizaram para as aldeias e cidades. O apoio médico que prestaram nos hospitais. Mas sobretudo o seu serviço humilde e escondido, numa vida digna e santa, ficarão na memória dos povos.

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fátima informa Curso de Mariologia

“Maria no mistério de Cristo e da Igreja” é o tema do curso de Mariologia que decorre entre 18 de setembro e 18 de dezembro, em Fátima. O curso é aberto à participação de todos e realiza-se no âmbito da licenciatura em Ciências Religiosas da Universidade Católica Portuguesa.

Exposição virtual

A exposição “Segredo e Revelação”, que exibe pela primeira vez o manuscrito da terceira parte do segredo de Fátima, pode agora ser visitada online em http://segredoerevelacao.fatima.pt A mostra está patente no Convivium de Santo Agostinho, no Santuário de Fátima, até final de outubro.

Casa do Jovem

António Francisco dos Santos, bispo do Porto, preside à peregrinação aniversária de agosto

Peregrinação do migrante

Alimentar a fé e a esperança Agosto é mês de férias, mas também o período em que muitos emigrantes se ajoelham aos pés da Nossa Senhora de Fátima para entregarem as dores e alegrias de mais um ano que passou texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA A 12 e 13 de agosto decorre a peregrinação dos migrantes ao Santuário de Fátima, este ano presidida por António Francisco dos Santos, bispo do Porto. O tema da peregrinação é “Perdoai-me porque pequei”. Um dos momentos mais simbólicos da celebração é a oferta de trigo, durante o momento da apresentação dos dons, na Eucaristia 34

internacional do dia 13. Esta tradição teve início em 1940, quando um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica, de 17 paróquias da diocese de Leiria, ofereceu ao Santuário de Fátima 30 alqueires de trigo, destinados ao fabrico de hóstias para consumo no próprio Santuário. Desde aquele ano, os peregrinos desta e de outras dioceses do país, e até do estrangeiro, têm dado continuidade ao ofertório. A peregrinação insere-se na 42ª Semana Nacional das Migrações, que decorre de 10 a 17 de agosto, sob o tema “Migrações: rumo a um mundo melhor”. Na mensagem para a Jornada Mundial do Migrante e Refugiado, o Papa Francisco dirigiu uma palavra especial a esta franja da população: “Não percais a esperança de que também a vós está reservado um futuro mais seguro”. O Santo Padre expressou ainda o desejo de que lhes “seja permitido experimentar a solidariedade fraterna e o calor da amizade”.

Apresenta-se como espaço de escuta e de diálogo, de oração e de reflexão, totalmente vocacionado para os jovens. A “Casa do Jovem” continua aberta ao fim de semana, das 09h00 às 12h30 e das 14h30 às 19h00, na antiga Capela da Reconciliação, na Colunata Sul, no mês de agosto. A iniciativa do Santuário de Fátima conta com a colaboração de várias instituições religiosas.

Agosto em agenda 17/24 Curso Geral de Catequistas, Centro Catequético Missionárias Reparadoras Sagrado Coração de Jesus 25/30 Curso Missiologia Seminário Missionários da Consolata

Setembro

09/11 Pastoral Social, com o tema “A dimensão social do anúncio do Evangelho” 20/21 Jornadas Missionárias com o tema: “Família, um Projeto” 27/28 Peregrinação da Família Dominicana


Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

OUTRA VISÃO

DO MUNDO

| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관

APENAS

7 EUROS

POR ANO


Mareante A minha terra é o mar, a minha casa um navio. Trago o vento a navegar nas mãos queimadas de estio. Enrolo nuvens nos pés e vento nos tornozelos, cheiro a brisa e a marés, a corais e a sete-estrelos. Tenho o mar dentro das veias e distâncias no olhar, Ando vestido de areias e de astros a palpitar. A minha terra é o mar, a minha casa um navio. Trago no fundo do olhar o mar frisado e macio. Maria Natália Miranda Poetas e Trovadores


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