ANO LVIII | DEZEMBRO 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤
CHINA
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POPULAÇÃO TEM ESPERANÇA QUE O NOVO LÍDER TRAGA MAIS JUSTIÇA SOCIAL
QUANTO CUSTA FORMAR UM MISSIONÁRIO Pág. 10 CRISE DOS MEDIA OU CRISE DA DEMOCRACIA Pág. 13 “ÁTRIO DOS GENTIOS” E O SENTIDO DA VIDA Pág. 14
editorial
QUE OS ANJOS VOLTEM A CANTAR
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. É o canto dos anjos nessa noite abençoada em que o Céu baixou à terra. Abre-se o Céu e nessa liturgia celeste dá-se o primeiro anúncio de um mistério que pouco a pouco se revelará. Correm os pastores, primeiros missionários dessa notícia que o mundo abalou. Veem, acreditam, contemplam e adoram. Depois anunciam aos outros o que viram e acreditaram. É em miniatura a dinâmica missionária da Igreja, que anuncia o mistério divino entre os homens. O Filho de Deus entra na família humana. Não fica na periferia do mundo ou da história, mas fixa-se na realidade carnal da vida do homem. “Glória a Deus” é a primeira mensagem que o mundo recebe. Dá glória a Deus quem vive na sua presença, quem faz a sua vontade, quem ama o seu semelhante, quem anuncia a sua Palavra. “Paz na terra aos homens por Ele amados”. Sim, porque o amor de Deus pela humanidade é a primeira semente de paz. Quem se sente amado por Deus
É necessário ser “anjo” anunciador dessa bela notícia que é Deus no meio de nós. É necessário sufocar os rumores da guerra ou da injustiça no canto da paz não sabe viver sem a sua paz. E quem acolhe o amor de Deus no seu coração torna-se difusor dessa paz. Angústias e solidões, guerras e violências, crises sobre crises são fruto da falta de Deus, que é portador de paz. Junta-se neste mistério a liturgia do Céu com a liturgia da terra. Restaura-se com Cristo a relação entre Deus e o homem. Não há caminho de felicidade que não passe pela glória de Deus e pela paz entre os homens. Onde Deus for honrado e glorificado, aí será honrado também o homem. Onde o homem for respeitado, aí mesmo se respeita Deus. “A glória de Deus é o homem vivente”, na expressão de Ireneu de Lião. É então necessário e urgente que os anjos tornem a cantar. Que estimulem a construir a paz para que Deus seja por todos glorificado e o Homem dignificado. Ninguém poderá fazer calar essas vozes do céu lançadas sobre a terra. É necessário ser “anjo” anunciador dessa bela notícia que é Deus no meio de nós. É necessário sufocar os rumores da guerra ou da injustiça no canto da paz. É necessário tornar-se, como os pastores, anunciadores da alegria com que Deus inundou a terra para que seja difundida nas famílias divididas, nos adolescentes abusados, nos jovens desnorteados, nos trabalhadores explorados e em todos os recantos da terra que carecem da dignidade humana. Um santo Natal e um 2013 muito feliz para os leitores de FÁTIMA MISSIONÁRIA. DARCI VILARINHO
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 11 Ano LVIII – DEZEMBRO 2012 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.700 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista, Manuel Carreira Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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Mudança de governo na segunda potência económica mundial 03 EDITORIAL Que os anjos voltem a cantar 05 PONTO DE VISTA A arena do diálogo 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES O fogo dos lobitos 08 MUNDO MISSIONÁRIO
Muçulmanas em escola católica do Paquistão Epidemia de cólera mata na Guiné-Bissau Milhares de crianças em Angola não têm família Bispos da Bolívia denunciam graves males 10 A MISSÃO HOJE “Formar um missionário custa 10 mil euros por ano” 11 FIO DA HISTÓRIA Primeiros alunos 12 A MISSÃO HOJE Família de benfeitores fascinada com trabalho dos missionários 13 DESTAQUE Más notícias da imprensa 14 ATUALIDADE Porta aberta à reflexão sobre o sentido da vida 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Religiões existentes em Portugal 24 TEMPO JOVEM O complexo mundo das emoções 26 SEMENTES DO REINO “Não havia lugar para eles” 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Como se um anjo lhe tivesse
composto a roupa 32 OUTROS SABERES O amor é mais forte 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA O homem é grande quando supera a sua obra 34 FÁTIMA INFORMA Comunidade ucraniana prepara Natal
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ponto de vista
A ARENA DO DIÁLOGO
texto JORGE ORTIGA*
Recentemente, a Europa acordou sensibilizada com a história de uma mulher espanhola de 53 anos, que se suicidou, ao atirar-se de uma janela, no momento em que estava prestes a ser alvo de um mandato de despejo por causa de um crédito bancário. Ora, esta imagem espelha na perfeição o novo paradigma político-social: a economia sobrepôs-se à dignidade da vida humana! A curta-metragem “Momentos”, de Nuno Rocha, que passou no recente ciclo de cinema do Auditório Vita,
Nesta arena do diálogo nunca partimos dum ponto zero. Cada um, na sua diferença, é portador dum tesouro intelectual que herdou e produziu. E ao contrário das arenas dos romanos, nesta arena do diálogo, típica do átrio dos gentios, todos saem vencedores. De facto, é chegado o tempo de mobilizar as diversas sensibilidades culturais na procura de horizontes de vida, que mitiguem o escândalo confrangedor da miséria humana. É este “imaginário cultural partilhável”, no dizer de Eduardo Lourenço, que nos assegura a capacidade de sair de uma mentalidade de contraposição, para chegar a uma terceira via de diálogo entre a inteligência da fé e a inteligência cultural. Esta terceira via terá de ser uma nova
O valor da vida congrega-nos, assim, naquilo que somos e pensamos. Por ele somos chamados a uma disposição fundamental para projetar, dum modo novo, o mundo que habitamos. E o melhor método a usar para tal projeto é o diálogo em Braga, recorda-nos, porém, que a vida tem sempre valor, mesmo para aquele sem-abrigo que perdeu o emprego e, por inerência, o dinheiro, a alimentação, a roupa, a casa e a família. O valor da vida congrega-nos, assim, naquilo que somos e pensamos. Por ele somos chamados a uma disposição fundamental para projetar, dum modo novo, o mundo que habitamos. E o melhor método a usar para tal projeto é o diálogo. Por isso, o desejo de realizar o evento do “Átrio dos Gentios” visou somente, como objetivo principal, chamar para a arena do diálogo as diversas áreas e vertentes de pensamento da sociedade, nomeadamente crentes, ateus e filósofos, para em conjunto oferecermos ao país uma nova maneira de pensar a organização da sociedade, a partir de um indicador comum: o valor da vida humana.
modalidade, capaz de desenhar novos critérios de referencialidade e sentido num quadro plural, mas unanimemente compreendido na defesa do ser humano e da obra da criação. Mais do que converter, a Igreja deseja sair dos seus muros, projetos e conceitos, para dialogar com a cultura, como sendo um dos grandes desafios da tão desejada nova-evangelização. Deste ponto de vista, creio que a importância do “Átrio dos Gentios” está muito para além daquilo que será comunicado e partilhado. Na verdade, estou convicto de que ele proporcionará uma esperança responsável para o povo português. * Arcebispo Primaz de Braga
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leitores atentos
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Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Amigo e colega padre Darci Vilarinho, Foi com muito agrado que recebi a “nossa” revista FÁTIMA MISSIONÁRIA de novembro de 2012, onde constam meia dúzia de linhas biográficas acerca da nossa sempre saudosa amiga, senhora dona Soledade de Freitas, que tivemos como professora de português e francês, em Fátima. Era uma senhora extraordinária: piedosa, cultíssima, poliglota, que adorava 6
BONITA IDADE
Bons amigos missionários da Consolata, Com muito amor e sacrifício leio a nossa bela revista, pois que os meus olhos estão abertos desde 1926, e desde que saí da escola, gostei sempre muito de ler. Já sou assinante há muitos anos. Antigamente ia aí a Fátima pagar a assinatura do ano seguinte. Agora, enquanto cá estiver, continuo a pagar a minha, a da minha filha e a do meu filho. Mando esta mini-oferta para o que for preciso. É pouco mas com muito amor. As pensões são baixas e a farmácia leva muito.
TESTEMUNHOS
Junto envio um cheque de 70,00€ para o seguinte: 20,00€ para pagamento da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA de Maria Silvina; 50,00€ são para o pagamento da minha assinatura e para as vossas necessidades missionárias que são muitas. Aprecio e admiro imenso esta nossa revista maravilhosa, os testemunhos dos nossos missionários e ainda dos casais leigos dedicados às missões. O seu testemunho é uma das forças que segura o mundo. Emília
Ana
DESCULPAS
Venho por este meio pedir as minhas desculpas por estar tanto tempo sem mandar nada para a vossa revista. Não é por mal, mas vou descuidando e é o que acontece. Não posso mandar muito, mas o pouco é dado com carinho e boa vontade. Por isso agradeço a vossa revista e farei o possível para não estar tanto tempo sem atualizar. Margarida
incutir nos outros, particularmente nos seus alunos, uma parte do muito saber pessoal – nunca manifestando tal saber, na sua aparência, sempre muito humilde! Enfim, uma senhora fora de série. Manuel Rito Alves
Caro Manuel Rito, Gostei de ler a tua carta toda, embora aqui, por falta de espaço, só publique um extrato. Mas dá para entender que te ficaram gravados na mente alguns aspetos da vida da senhora Soledade, como pessoa e como professora. Esta senhora, tão culta e humilde, foi uma das primeiras pessoas que acreditaram
no padre João De Marchi e se puseram ao lado dele para o apoiarem na grande missão, que ele trazia de Roma, de fundar um seminário em Fátima para a formação de missionários da Consolata, o que aconteceu em 1944. Obrigado por me teres dado a oportunidade de recordar aqueles tempos e aquelas pessoas. Faz-nos bem. Com um grande abraço, Darci Vilarinho
horizontes
O FOGO DOS LOBITOS TEXTO TERESA CARVALHO ILUSTRAÇÃO HUGO LAMI Joana e André aguardam ao lado das mochilas. Pouco a pouco os pequenitos de seis e sete anos preenchem de alegria a praça que devagarinho é inundada pelo sol matinal. É a primeira vez que fazem acampamento com o seu recém-formado grupo de lobitos. Querem que eles experimentem o valor da “participação”. A carrinha chegou. Beijos dados à pressa aos pais e acenos enérgicos dizem que estão prontos para “serem grandes”. A viagem é uma festa de música e riso. Há 10 anos que Joana e André trocam o seu cansaço pela ternura dos esforços daquelas crianças
que descobrem outras facetas da vida e generosamente se tornam defensores do respeito pela natureza, por si, pelo outro e pelo mundo inteiro. A carrinha parou e os lobitos saltaram, ansiosos, por ordem de saída: – “Lobitos, chegámos. A floresta espera-nos. Ela cuida de nós e nós vamos cuidar dela. Vamos lá à descoberta! Num piscar de olhos a clareira transformou-se num campo de alegria e de cores vivas em movimento saltitante. Os líquenes, as folhas caídas, o tapete de musgos, a canção do vento, os passarinhos, as gotículas de orvalho, tudo foi olhado, escutado, apreciado pelas mãozinhas delicadas e pelos olhinhos curiosos, descobrindo as belezas de uma vida escondida nos seus pormenores. As surpresas sucediam-se e o grupo orientava-se num vaivém, atrás das explicações de André e Joana e
do “venham ver isto!”, “olha o que descobri!”, “uauh!.. A noite chegou e com ela o fogo de conselho. Era um dos momentos nobres do dia. Sentados à volta da fogueira, formavam uma roda de braços entrelaçados. Joana iniciou: – Lobitos, que nos dá este fogo? – Fica quentinho. Ilumina. Dá alegria. Fica lindo. Parece festa! Dá vontade de ficar sempre aqui! E o fogo dança, parece que está feliz connosco!… Um após outro, intercalados pelo refrão “obrigado, irmão”, todos quiseram realçar as sensações novas que o fogo e o momento lhes oferecia. – E quem trouxe os pauzinhos para fazermos a fogueira? – continuou Joana – Nós! – Nós, quem? – Eu! Eu! Eu!… – Ah, então, todos participámos, todos fizemos este fogo forte! Participar faz-nos bem? – Faz, responderam em coro, percebendo orgulhosos, o valor da sua colaboração. – Vamos agradecer com um abraço a participação para este fogo? Os abraços sucederam-se calorosos enquanto André tocava na sua viola uma canção à amizade. – E se as árvores não nos dessem os seus raminhos? – Era triste. Não tínhamos fogo! – Então vamos cantar a agradecer à floresta e às nossas árvores a participação neste dia lindo e no nosso fogo? Debaixo do céu estrelado e à volta da fogueira, os lobitos cantaram um sentido hino às árvores que os abraçavam com as folhas de prata banhadas pelo luar. Engasgados pelo brilho de felicidade da alcateia, Joana e André agradeciam a grandiosidade de participar na energia criadora da vida em fraternidade, que ali partilharam e educaram.
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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA
MUÇULMANAS EM ESCOLA CATÓLICA DO PAQUISTÃO “As meninas inscritas são quase todas muçulmanas,
de famílias tribais e muito pobres. A população local está muito feliz e apoia muito esta obra”, explica a diretora de uma escola católica de Sangota, no Paquistão. Riffat Sadiq, das Irmãs da Apresentação, explica que a escola reabriu as portas com mais de 200 alunas, depois de ter sido destruída por grupos de talibãs, numa campanha contra a instrução feminina. “Apenas estejam reparadas todas as salas de aula, serão muitas mais”, explica a diretora, lembrando que antes do encerramento forçado as alunas eram mais de mil. O coração da missão das Irmãs da Apresentação é a instrução, “fundamental para o crescimento e desenvolvimento do país”. Com nove escolas em três províncias do Paquistão, as religiosas garantem a instrução a mais de sete mil meninas, na sua maioria muçulmanas.
EPIDEMIA DE CÓLERA MATA NA GUINÉ-BISSAU Mais de 1.500 casos de cólera, com nove vítimas
mortais, constituem o balanço de uma epidemia que atingiu, no mês passado, a população da Guiné-Bissau. No hospital da capital já foram assistidas centenas de pacientes e os médicos estão convencidos que o flagelo ainda não atingiu o ponto mais crítico. Enquanto as taxas de difusão da cólera nos países vizinhos continuam a baixar, na Guiné-Bissau registam-se aumentos da doença, devido à falta de estruturas sanitárias e de distribuição de água. Segundo o ministro da saúde guineense, a praga atinge sete das nove áreas administrativas da Guiné-Bissau. Em 2008, registou-se uma epidemia que atingiu cerca de 15 mil guineenses.
Ano da fé A 11 de outubro, 50 anos depois da abertura do
TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata português
em Roma
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Concílio Vaticano II, Bento XVI deu início em Roma ao Ano da Fé. Tanto a Igreja como a sociedade civil há muito que se propõem este tipo de celebrações, como seja o ano do jovem ou do imigrante, ou então o ano da água ou das florestas, e assim por diante. Não há muito, nós católicos celebrámos o ano de São Paulo e o ano sacerdotal, e vamos dedicar o presente ano à nossa fé. Estive presente na Praça de São Pedro na noite desse dia 11 entre a multidão a quem o Papa dirigiu a palavra e notei que ele insistiu bem mais nas
MILHARES DE CRIANÇAS EM ANGOLA NÃO TÊM FAMÍLIA Há milhares e milhares de crianças, em Luanda,
a dormir na rua, em casas desabitadas ou nos jardins. Muitas delas enganam a fome ou procuram energia para sobreviver, recorrendo a drogas. Muitas abandonam as próprias famílias, outras são órfãs e acabam a viver na rua. “Abrimos os braços para que ninguém dê um passo atrás”, é o lema de um novo centro destinado a acolher estas crianças da rua. Graças a esta iniciativa, os missionários salesianos oferecem a estas crianças a possibilidade de uma nova vida. A casa São Kizito funciona como centro de primeiro acolhimento, dia e noite. As crianças que aí se refugiam podem lavar-se, comer, jogar e dormir. Atualmente alberga 600 hóspedes, crianças e jovens.
BISPOS DA BOLÍVIA DENUNCIAM GRAVES MALES “Não podemos fechar os olhos nem silenciar a nossa voz diante dos problemas graves que afligem o nosso país”, declaram os bispos da Bolívia. “Corrupção, insegurança, aumento de narcotráfico e pobreza persistente” são alguns dos males que os prelados denunciam num documento em que a Conferência Episcopal da Bolívia (CEB) comemora o seu cinquentenário. Neste meio século de vida, a CEB deixou-se guiar pela “luz do Evangelho”, de modo especial nos momentos de crise social e económica, e de calamidades naturais, denunciando as estruturas injustas de marginalização e de exclusão de vastos sectores da população. A posição dos bispos diante dos problemas sociais e políticos produziu, em alguns casos, “reações negativas e até mesmo ataques das esferas do poder”, lamentam os prelados, reafirmando a sua preocupação e a sua determinação em criar solidariedade com os mais pobres e necessitados.
obras da fé do que nos seus conteúdos. Uma das propostas apresentadas para este Ano da Fé é que se façam peregrinações a lugares como Roma, Fátima e outros santuários onde a fé é celebrada e fortalecida. Temos um ano para repassar o nosso Credo, os Sacramentos e os Mandamentos, para assim podermos responder afirmativamente à pergunta que Jesus nos deixou no Evangelho de São Lucas (18,8): “Quando o filho do homem vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”.
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a missão hoje
Rinaldo Cogliati, administrador geral do Instituto Missionário da Consolata
“FORMAR UM MISSIONÁRIO CUSTA 10 MIL EUROS POR ANO” A crise económica na Europa já se faz sentir no trabalho dos missionários da Consolata, espalhados pelo mundo. As ajudas diminuíram e em muitos países os governos estão a deixar de reconhecer a dimensão social do serviço religioso. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, Rinaldo Cogliati, administrador geral do Instituto Missionário da Consolata (IMC), diz que, cada vez mais, é preciso fazer “uma missão inteligente e atenta às gentes mais pobres” texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA FÁTIMA MISSIONÁRIA Os cristãos europeus, que tradicionalmente contribuíam para ajudar os países mais pobres, estão a passar por um momento complicado de austeridade. Esta crise está a afetar o trabalho dos missionários? Rinaldo Cogliati Sim, tem-se sentido muito nas colaborações. Diminuíram os donativos para o 10
Instituto e as ofertas para os projetos nas missões. Sempre procurámos sensibilizar quem mais tinha a ajudar quem tinha menos. Agora, infelizmente, também por cá [na europa] há cada vez mais gente a ter cada vez menos. E não podem, por exigências reais, dar a mesma colaboração que davam antes. Lamentavelmente, os que concentram o capital nas suas mãos, às vezes são bastante insensíveis. E os projetos nas missões acabam por prolongar-se no tempo, porque o grupo que se comprometeu a financiar a escavação de um poço em África, por exemplo, em vez de conseguir o dinheiro num ano, pode demorar dois ou três anos. Sentimos isso no campo, nas bolsas para os estudantes ou nas ajudas para projetos na área da saúde. FM Quanto custa formar um missionário? RC Varia de país para país, mas custa uma média de 10 mil euros por ano. E a formação demora mais ou menos 10 anos. Tem que fazer filosofia, teologia e uma especialização. É tudo suportado pelo Instituto, graças à ajuda dos benfeitores. Se a família do missionário puder colaborar, colabora, mas em países
fio da história Sempre procurámos sensibilizar quem mais tinha a ajudar quem tinha menos. Agora, infelizmente, também por cá há cada vez mais gente a ter cada vez menos. E não podem, por exigências reais, dar a mesma colaboração que davam antes
da África e da América Latina normalmente temos que ser nós a assegurar os gastos. FM Que diferenças existem entre um sacerdote missionário e um padre diocesano? RC Em todos os seminários diocesanos que conheço os estudantes têm que pagar os estudos, através da família ou de um grupo de apoio às vocações das dioceses. Depois, o sacerdote diocesano tem direito a uma remuneração que pode reservar para ele. Na vida religiosa não é assim; o missionário vive em comunidade e não tem direito a dispor dos seus bens. Pode dispor dos bens só até ao quarto grau de parentesco. Se o pai, a mãe ou a irmã lhe dão uma oferta, tem que pô-la na caixa comum e para utilizá-la precisa de pedir autorização ao superior da comunidade. Se uma pessoa lhe dá uma oferta, não a dá a ele, como sujeito, mas como missionário da Consolata. Ou seja, vai para a caixa comum, para os gastos e manutenção da casa. Essa é a grande diferença. O missionário não pode dispor desse dinheiro porque faz voto de pobreza, ao contrário do diocesano que faz promessa de pobreza. O voto é mais vinculativo que a promessa. Um diocesano pode ter conta no banco e comprar uma casa a título pessoal, por exemplo. Um religioso não. FM A conjuntura atual torna mais difícil manter as missões? RC Sim. Porque para além de escassearem os donativos, os governos, em geral, estão a tentar aplicar um montão de taxas à Igreja e a deixar de reconhecer a obra social. Mas ao mesmo tempo permitem que se criem seitas, fundações e ONG [Organizações Não Governamentais] com vantagens fiscais. Devia entrar-se a fundo em alguns destes casos para ver se o dinheiro que ali entra vai verdadeiramente para causas de maior humanização, para erradicar a pobreza.
PRIMEIROS ALUNOS texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO Hoje falamos dos primeiros alunos ou seja dos seminaristas. Eram 11 ao todo: dois de Fátima, dois da Caranguejeira, um de Santa Catarina da Serra, um do Arrabal, um de Lisboa, um de Seiça, um de Espite, um da Chancelaria e um de Ferreira do Zêzere. A entrada oficial deu-se em 3 de outubro de 1944. Era interessante ver a chegada dos rapazitos com seus pais, uns a pé outros montados nos burricos com o magro enxoval numa saca; poucos usavam a mala. Os que tinham chegado primeiro acompanhavam os da última hora e ajudavam-nos a levar a mala ou a saca da roupa até ao primeiro andar onde ficava a camarata. Logo que desciam, aparecia o padre João De Marchi todo sorridente para se despedir dos familiares e dizer-lhes que fossem descansados que os seus rapazes ficavam bem entregues. À noite veio o jantar e, a seguir, o recreio à luz potente de um holofote colocado na parede da casa. Por fim, uma oração, o silêncio e o deitar. Os sonhos, claro, sobrevoavam as missões e os missionários. E aqui termina, por agora, o «Fio da História» que nos acompanhou ao longo de todo o ano e conquistou a simpatia de muitos leitores e amigos.
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a missão hoje
Alexandro e Lilia Huerta cederam uma casa aos missionários da Consolata no México
FAMÍLIA DE BENFEITORES FASCINADA COM TRABALHO DOS MISSIONÁRIOS Quando assumiu os destinos da empresa herdada pela família, Alexandro Huerta Leal teve receio de não conseguir levar o negócio por diante. O pai chamou-o e disse-lhe: “trabalha como se tudo dependesse de ti e espera os resultados como se tudo dependesse de Deus”. O conselho serviu-lhe de guia para a vida texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA Os especialistas em fogos urbanos e industriais podem arranjar mil e uma explicações para o sucedido, mas para Alexandro Huerta Leal, o que se passou em 2001 na sua fábrica em Guadalajara, no México, será sempre “um milagre”. A unidade industrial, ligada ao fabrico de fibra de vidro, ficou reduzida a cinzas, após um fogo violento. O que tinha sido construído ao longo de várias gerações perdeu-se numa hora de inferno. Os tambores de resina saíram disparados como foguetes, a mais de 50 metros de altura. As altas temperaturas geradas pela combustão transformaram a cobertura do edifício numa amálgama de ferro. Inexplicavelmente, no meio dos 12
destroços, sobrou uma peça intacta, sem um único sinal da fúria das labaredas. “Tudo se acabou, a fábrica ficou completamente destruída, mas a tela da Virgem de Guadalupe permaneceu na parede, como se nada tivesse acontecido. Foi um milagre”, recordou Alexandro à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Se já era um homem de fé, a partir daí, o empresário, de 59 anos, tornou-se num fervoroso devoto da padroeira da Cidade do México. A fábrica foi reconstruída e o quadro tornou-se um ícone para a família, para os empregados e para toda a comunidade. E Alexandro, conjuntamente com a mulher, Lilia
Ramos Huerta, ganharam ainda mais vontade de devolver “a força e a ajuda de Deus”, através do altruísmo. Foi neste contexto que se cruzaram com os missionários da Consolata e se prontificaram a ceder-lhes uma casa para que abrissem uma missão em Santo António Juanacaxtle, na arquidiocese de Guadalajara. O trabalho que os religiosos têm vindo a desenvolver está a deixá-los encantados. “Apresentaram uma nova ideia de viver o cristianismo. Porque, por norma, no México, a Igreja dedica-se às paróquias e aos sacramentos e poucas vezes se dedica às famílias. E agora, que os missionários da Consolata chegaram, eu vejo pessoas que não se confessavam há 30 anos a irem à Igreja, a confessarem-se e a comungarem”, diz Lilia. “Estão a fazer um trabalho muito bonito. Fazem falta mais missionários como os da Consolata no mundo inteiro”, acrescenta Alexandro Huerta Leal, exortando os empresários a terem “mais fé na Igreja e em Jesus Cristo”.
destaque
CRISE DOS MEDIA OU CRISE DE VALORES?
MÁS NOTÍCIAS DA IMPRENSA texto CARLOS CAMPONEZ O jornalismo tem-nos dado más notícias sobre o jornalismo: fecham publicações, jornalistas são despedidos, as audiências baixam, a publicidade também, os títulos em papel passam a existir apenas na sua forma digital. A própria profissão parece estar em perigo: numa altura em que todos podem dar notícias sobre o mundo, através da internet, será que ainda faz sentido haver jornalistas e pagar pelas notícias que lhes dão o salário? Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, numa conhecida expressão sobre a imprensa, comentava que entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria em escolher a segunda solução. Na realidade, as informações e as opiniões divulgadas pelo jornalismo fazem, desde a invenção da imprensa, parte integrante da própria história política moderna e, em particular, das democracias.
Informar ou gritar mais alto?
Claude-Jean Bertrand, um investigador francês que fez grande parte da sua carreira académica nos Estados Unidos, sustentava que o jornalismo não era necessário em regimes ditatoriais, porque estes reduziam-no à sua expressão propagandística. Muitos foram e são os que sofreram e sofrem
pela perseguição das suas opiniões, pela veracidade dos factos que relataram, pelos ideais e a fé que divulgaram, por vezes com o sacrifício da sua própria vida, contra inquisições, ditaduras e autoritarismos que nos quiseram impor verdades que hoje consideramos ridículas. A quantidade de conteúdos que atualmente está disponível nos diferentes meios de comunicação leva-nos a desvalorizar a informação. Tornámo-nos mais desatentos, confundimos informação com divertimento, não sentimos a informação como um bem necessário e, muito menos, estamos dispostos a pagar pelo seu custo. Por seu lado, a liberdade de expressão e de imprensa funciona hoje apenas numa lógica lucrativa e de empresa: a procura de públicos e de publicidade faz-se recorrendo a conteúdos mais superficiais, com mais espetáculo e com menos reflexão. O espaço público, em que as pessoas discutem sobre a vida comum, tem-se tornado cada vez mais desinteressante, transformado que está numa imensa praça, onde a verdade se confunde com o que se grita mais alto.
sido concomitante a um crescendo desinteresse e descrédito das pessoas pela vida pública. Quem não se interessa pelo que nos é comum, por que razão se deve preocupar com a informação relevante para a vida pública? Na realidade, o que a crise do jornalismo não pode deixar de nos interpelar, a jornalistas, a proprietários dos media, a leitores e audiências é sobre a crise dos valores públicos, da cidadania e da participação política, religiosa, cultural e social. É, no fundo, a crise da própria democracia. E se hoje vivemos preocupados sobre que futuro económico deixaremos aos nossos filhos, não nos podemos esquecer que é sobre o legado dos valores políticos que eles construirão esse futuro.
Media e democracia
Os estudos de opinião têm demonstrado que a perda de leitores dos jornais, que se verifica desde os anos 60, tem Dezembro 2012
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atualidade
“ÁTRIO DOS GENTIOS” Igreja em diálogo com crentes e não crentes
PORTA ABERTA À REFLEXÃO SOBRE O SENTIDO DA VIDA Depois de ter passado por várias cidades europeias, o projeto do Vaticano para promover o diálogo entre crentes e não crentes, chegou a Portugal. Foram dois dias de conferências, de confronto de ideias, de interpelação. Para os organizadores, foi apenas o começo de uma longa viagem, que se pretende rica em novas interrogações texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA Partindo do princípio que a chegada é apenas um ponto de partida para uma nova viagem, então pode afirmar-se, sob a forma de despretensiosa profecia, que o “Átrio dos Gentios” realizado em Braga e Guimarães, a 16 e 17 de novembro, chegou a Portugal e à Igreja, aos crentes e não crentes, a alguns dos mais distintos pensadores nacionais. Durante dois dias, falou-se de fé, cidadania, religião, política, filosofia, ecologia, teologia, desporto e cultura. Procurou-se um sentido para o “valor da vida”. E concluiu-se que a sociedade necessita de reorientar trajetos. Precisa de reencontrar os valores morais e espirituais, reforçar o respeito pelo ser humano, retomar 14
João Lobo Antunes, neurocirurgião; Gianfranco Ravasi, cardeal
as grandes interrogações e voltar a valorizar o diálogo e o encontro, sem interferências tecnológicas. Como destacou o neurocirurgião João Lobo Antunes, um dos conferencistas, “a vida só faz sentido se for vivida”. E a melhor forma de a viver, tendo em conta a convergência de ideias entre muitos dos intervenientes no debate, terá de incluir a prática da “solidariedade, caridade e amor recíproco, mas também da justiça”, realçou o presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), cardeal Gianfranco Ravasi. Ou seja, os cristãos devem ter “os olhos bem abertos sobre o mundo” e não ter medo de “dizer palavras duras” sempre que
identifiquem eventuais “desvios” de ordem política ou financeira, que privilegiem apenas “os interesses de poucos”. Convidado a dissertar sobre a identidade nacional na conferência de abertura, o professor universitário Marcelo Rebelo de Sousa lamentou o “esbatimento” da dimensão religiosa e espiritual em Portugal e lançou o desafio para que se recuperem os valores, sobretudo o valor da vida. Num discurso de 40 minutos, o comentador desconstruiu a imagem de um país conquistador, com história, com língua, com território e cultura, e sublinhou que não basta um passado para se construir o futuro. “O nosso sentido
LOCAL DE ENCONTRO E DIVERSIDADE O “Átrio dos Gentios” foi criado pelo Conselho Pontifício da Cultura, organismo da Santa Sé, para promover o diálogo em torno de “interrogações radicais que tocam os grandes temas como a vida e a morte, o verdadeiro e o falso, o amor e a dor, o bem e o mal, liberdade e solidariedade, palavra e silêncio”. A denominação inspirou-se na iniciativa do rei Herodes, que aproveitou a renovação do segundo templo de Jerusalém para mandar criar um espaço onde todos pudessem entrar, judeus e não judeus. Este era o átrio dos gentios, ou dos pagãos, sem distinções de cultura, língua ou credo religioso, um lugar de encontro e diversidade, agora recriado pelo Vaticano. Na mensagem enviada aos participantes na sessão portuguesa, o Papa chamou a atenção para a importância da sacralidade da vida. “Mesmo entre dificuldades e incertezas, cada homem e cada mulher podem chegar a reconhecer na lei natural, inscrita no coração, o valor sagrado da vida humana”, escreveu Bento XVI.
de vida tem-se pautado por atos vindos do que nos antecedeu. Só nos falta agora recolocar os valores, recolocar o espírito, recolocar o que falta no domínio da cultura vivida para construir o Portugal futuro”, em união com novos e velhos, com letrados e iletrados, disse o também ex-dirigente político e atual Conselheiro de Estado.
Prioridade à inquietação
Nesta procura do sentido da vida, revelou-se evidente que é fundamental a inquietação, o regresso às grandes interrogações. “O elemento fundamental da mente é a pergunta e uma das tragédias do nosso tempo é que as grandes perguntas já não se
coloquem”, alertou o cardeal Ravasi. Dirigindo-se à sociedade em geral e aos jovens em particular, o membro da Cúria Romana pediu mais atenção ao valor da relação humana, do encontro, olhos nos olhos, sem a interferência da linguagem virtual. “A vida precisa de relação”, porque “o eu e o tu constroem-se através do olhar”, sublinhou. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, Isabel Varanda, coordenadora da sessão portuguesa do “Átrio dos Gentios”, manifestou-se surpreendida com a qualidade “extraordinária” de muitas das intervenções: “Sentimo-nos provocados e penso
que conseguimos recentrar a questão que a pessoa humana está acima de tudo, está em primeiro lugar e deve ser considerada, não como uma coisa, não como um euro que se mercantiliza, mas com dignidade”. Para Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e anfitrião do encontro, esta foi apenas mais uma porta que se abriu. “E o fundamental está no que se encontra para lá dessa porta, no que poderá surgir”.
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dossier
CHINA Mudança de governo na segunda potência económica mundial
O PRIMEIRO LÍDER CHINÊS NASCIDO DEPOIS DA REVOLUÇÃO
É uma China segunda potência económica mundial e a caminho para o topo que Xi Jinping herda de Hu Jintao. Mas o caminho para o sucesso passa pelo novo secretário-geral do PC Chinês ser capaz de devolver ritmo à economia, combater a corrupção e assegurar a uma população cada vez mais rica e educada o sentimento que existe justiça social. Engenheiro químico de formação, Xi é um homem de méritos reconhecidos, um governante com provas dadas. Resta saber como liderará com as pressões internas, para maior transparência do poder, e as tensões externas com os vizinhos, que poderão desviar a sua atenção texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA
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Xi Jinping herda também um país que, a par dos desafios internos, projeta cada vez mais a sua força no exterior e que não só está a modernizar as suas forças armadas como a mostrar aos vizinhos que uma nova superpotência está a caminho. Que o digam os japoneses, que veem a China a contestar a soberania de um arquipélago minúsculo, mas cheio de potencialidades económicas e valor geoestratégico
por parte dos 1350 milhões de chineses. Xi deverá no próximo ano assumir também a presidência da república e a liderança da Comissão Militar Central, com Hu Jiintao a retirar-se por completo do topo do regime, mais um sinal de que a sua influência foi ultrapassada pela de Jiang Zemin, o antigo secretário-geral. Li Keqiang, que sucederá a Wen Jiabao como primeiro-ministro, sempre foi visto como o preferido por Hu, numa guerra de fações que diz muito sobre a opacidade do sistema.
Lutar por uma vida melhor para os cidadãos e combater a corrupção que ameaça o prestígio do Partido Comunista Chinês são as duas promessas de Xi Jinping, o novo secretário-geral. O discurso, feito após o encerramento do XVIII Congresso do partido que desde 1949 governa a China, não indica grandes caminhos a seguir, muito menos dá pistas sobre como será possível manter o nível de crescimento económico e responder às exigências de maior justiça social
três décadas. E sobretudo assegurar que as desigualdades sociais parem de aumentar, desagradando à população, mas também chocando com o credo de um partido que tem Mao Tsé-tung como líder histórico e até hoje grande referência. Há que defender a credibilidade do regime.
As comparações com Hu Jintao serão o menor dos problemas de Xi, mesmo que se possa dizer que os últimos dez anos viram a China passar de uma economia pouco maior que a Itália a segunda potência só atrás dos Estados Unidos. Foi também uma época em que o rendimento médio dos chineses se multiplicou por cinco, em que o número de internautas bateu todos os recordes e, para orgulho nacional, o país acolheu uns Jogos Olímpicos.
Os meses que antecederam este XVIII Congresso do PC Chinês foram muito desgastantes para o sistema: primeiro foi a queda em desgraça de Bo Xilai, tal como Xi filho de um histórico do partido, e depois, mesmo em vésperas da abertura da reunião, o trabalho publicado pelo 'New York Times' sobre o enriquecimento da família do primeiro-ministro. Acusado de corrupção, Bo está a aguardar julgamento enquanto a sua mulher foi condenada pelo assassínio de um homem de negócios britânico com estranhas relações. Mas Wen Jabao teve de pedir uma investigação aos 2,7 mil milhões de dólares que a sua família terá arrecadado servindo-se de uma rede de contactos privilegiados.
Agora o novo líder precisa de relançar uma economia que este ano deverá crescer só 7,5 por cento, um valor raquítico para os parâmetros chineses das últimas
Cada vez mais educada e mais rica, a classe média chinesa exige maior transparência aos seus governantes. Casos como o de Bo Xilai ou o do filho do alto Dezembro 2012
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A OCDE até fez uma recente previsão dando o país como primeira economia mundial em 2016, o que seria a recuperação de uma liderança histórica perdida há 200 anos
quadro comunista que morreu ao volante de um Ferrari em Pequim alimentam especulações sobre a atuação dos dirigentes do país e dos seus familiares. E mesmo com um controlo férreo da internet quando surge algum caso mais problemático, é quase impossível travar os comentários nas redes sociais. Desde que Deng Xiaoping proclamou que era glorioso enriquecer, a China tornou-se um caso de sucesso. A OCDE até fez uma recente previsão dando o país como primeira economia mundial em 2016, o que seria a recuperação de uma liderança histórica perdida há 200 anos. Mas ao trocar o comunismo pelo capitalismo, o PC Chinês ficou com as fontes de legitimidade limitadas à honestidade e à capacidade de criar prosperidade. E é isso que agora se exige a Xi Jinping, ainda mais que a reforma de um regime que muitos chineses consideram ultrapassado pelo tempo. Uma maior democratização não estará no horizonte do novo secretário-geral, mas maior transparência e justiça é possível de criar. Aliás, ficou na memória de todos o discurso de adeus de Hu Jintao alertando que a corrupção tem de ser combatida para que a honra do Partido Comunista seja mantida. Xi Jinping herda também um país que, a par dos desafios internos, projeta cada vez mais a sua força no exterior e que não só está a modernizar as suas forças armadas como a mostrar aos vizinhos que uma nova superpotência está a caminho. Que o digam os japoneses, que veem a China a contestar a soberania de um arquipélago 18
minúsculo, mas cheio de potencialidades económicas e valor geoestratégico. A tudo isto estão atentos os Estados Unidos de Barack Obama, que terão de construir uma relação de concorrência mas também de cooperação com a nova China de Xi Jinping, de 59 anos, o primeiro secretário-geral do PC Chinês nascido já depois da proclamação da República Popular por Mao. * jornalista do Diário de Notícias
A China é o país com mais população. Tem 1350 milhões de habitantes
UM GIGANTE EM NÚMEROS Rússia Cazaquistão Mongólia
Pequim
CHINA Nepal Índia
Oceano Pacífico
Xangai Hong-Kong
Burma
9,6 milhões de quilómetros quadrados de área 22 mil quilómetros de fronteiras terrestres 14 países vizinhos 14,5 mil quilómetros de linha costeira 1350 milhões de habitantes 7,3 biliões de dólares de PIB em 2011 9,2 por cento de crescimento do PIB em 2011 160 cidades com mais de um milhão de habitantes
À FRENTE DO MAIS POPULOSO PAÍS DO MUNDO Xi Jinping é um dos 'príncipes', nome dado aos dirigentes chineses cujos pais foram figuras destacadas da guerrilha comunista liderada por Mao Tsé-tung. Mas isso não significa que a vida deste homem nascido em Pequim em 1953 tenha sido fácil. Durante a chamada Revolução Cultural o seu pai caiu em desgraça e o próprio Xi Jinping foi mandado para o campo trabalhar. Desses tempos difíceis ficou a ideia de que o novo líder do Partido Comunista Chinês é alguém que
sabe o que a vida custa, seja por ser um político vítima de purga seja porque nos campos chineses o sustento é conquistado com muito suor. O homem que em março do próximo ano deverá também assumir a presidência da China formou-se depois em engenharia química na prestigiada universidade Tsinghua em Pequim e como era natural acabou por aderir ao partido. Seguiu-se uma carreira sempre ascendente, com uma curiosa passagem em 1985 pelo Iowa, integrado numa visita de duas semanas de uma delegação chinesa interessada em estudar as técnicas de cultivo nos Estados Unidos. Desse tempo terá ficado o gosto por filmes americanos, uma das escassas informações pessoais disponíveis a par do gosto
pelo basquetebol, segundo um telegrama revelado pelo Wikileaks. Foi dirigente de províncias como Hebei, Fujian e Zhejiang, onde sempre se revelou competente. O prémio foi o município de Xangai, a maior e mais rica cidade da China. Considerado um reformista que procura consensos, destacou-se como vice-presidente de Hu Jintao e este ano deu nas vistas numa visita aos Estados Unidos. É casado com uma popular cantora do exército, Peng Liyuan, e é dado como certo que a sua filha estuda em Harvard.
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A VIDA MUSICAL DOS LÍDERES NA REFORMA Ainda Hu Jintao não tinha passado o testemunho a Xi Jinping e já as primeiras páginas dos grandes jornais internacionais, como o americano 'Wall Street Journal', mostravam uma foto do secretário-geral do PC Chinês e do seu provável sucessor no partido e na chefia do Estado. Na tal fotografia tirada no início do congresso partidário em Pequim surge também o ex-presidente Jiang Zemin, há uma década longe do poder, numa mensagem de harmonia política entre três gerações. Mas a verdade é que Jiang, mesmo tendo mexido os cordelinhos neste XVIII congresso partidário, tem feito mais que preocupar-se com a política. Ao contrário de Mao Tsé-tung, o fundador da república popular, que morreu em 1976 agarrado ao poder, os seus sucessores têm obedecido a uma regra de discrição pessoal, cumprindo o ditado chinês que diz que cada homem deve restringir-se aos seus próprios deveres. E isso significa dar margem aos sucessores. Por exemplo, Jiang tem aproveitado para ouvir ópera ocidental, tendo em junho de 2010 assistido a um espetáculo da 'La Traviata', o que o levou de novo a Pequim. Desde a sua reforma, em 2003, o antigo secretário-geral e presidente da república optou por viver em Xangai, como contava há dias o 'South China Morning Post', o grande jornal de Hong Kong. Percorrendo na medida possível dos seus 86 anos o país, Jiang tem frequentado pelo menos uma vez por ano o templo de Bailin, na província de Hebei, velho já de 1700 anos e dedicado ao budismo zen. 20
Também a aproveitar a reforma política tem estado Li Peng, que foi primeiro-ministro entre 1987 e 1998 e depois, por mais cinco anos, presidente da Assembleia Nacional Popular, o parlamento da China comunista. Li escreve livros sobre assuntos tão diversos como a construção da barragem das três gargantas ou os seus tempos de governante e a verdade é que vende bem. O dinheiro dos direitos de autor permitiu-lhe, conta o 'Morning Post', fazer uma doação milionária para uma bolsa de estudo dos universitários de Yanan, na província de Shaanxi. Por seu lado, Zhu Rongji, que sucedeu a Li Peng como chefe do governo e ocupou o cargo cinco anos, dedicou-se à sua velha paixão pela ópera chinesa e tem ainda destinado boa parte do seu tempo, já com 84 anos, a tocar huqin, um instrumento de cordas com arco. A música atrai igualmente outro veterano do PC Chinês, o antigo vice-primeiro ministro Li Lanqing, recém octogenário, que dedicou oito anos a escrever um livro sobre músicos clássicos europeus, uma espécie de 50 pequenas biografias, segundo o 'South China Morning Post'. Não se conhecem ainda os planos de Hu Jintao, prestes a fazer 70 anos, para a reforma, nem sequer do já septuagenário Wen Jiabao, até agora primeiro-ministro, mas ambos assistiram em dezembro do ano passado ao espetáculo de Ano Novo da Ópera de Pequim. Na reforma, vão ter muito tempo para a música desde que os seus sucessores não desafinem.
O governo chinês reforçou em mais de 17 por cento o investimento no setor da educação
A ARMA SECRETA DA EDUCAÇÃO Na última década, duplicou o número de universidades na China; são já mais de 2300. Mas com cada vez mais jovens a frequentarem o ensino superior, o esforço de criação de instituições de ensino superior manter-se-á gigantesco: duas novas universidades para 20 mil alunos a cada semana. A educação é uma das armas dos governantes chineses para continuarem a desenvolver o país a bom ritmo. E a tradição ajuda, pois o próprio sistema imperial de uma burocracia constituída por mandarins mostra como ao longo dos séculos a China fez questão de incentivar a criação de cidadãos letrados. Os miúdos chineses também correspondem às expectativas:
os jovens de Xangai participaram no estudo internacional PISA e emergiram como os melhores em matemática, ciências e leitura, batendo os habituais líderes, que eram os estudantes sul-coreanos e finlandeses. É certo que Xangai, uma cidade que faz de capital económica da China, não é representativa de toda a China, mas resultados não oficiais revelam que mesmo em províncias pobres os alunos chineses do nível secundário revelam qualidades invejáveis. E é sintomático que outras parcelas do mundo chinês, como Hong Kong, Macau, Taiwan ou Singapura, também se destaquem nos estudos PISA. O factor cultural é, pois, decisivo. A ética confucionista explica muito do sucesso escolar dos jovens chineses. Há exigência na prestação escolar e os próprios pais fazem um controlo apertado do desempenho das crianças. Boa prova disso é o êxito dos chineses de origem em vários
Os líderes chineses têm sido muito criticados por investirem forte no armamento, mas mesmo com 11,2 por cento de aumento das despesas militares em 2012 ficam muito atrás do poderio bélico dos Estados Unidos. Interessante é notar que o reforço das verbas para a educação ultrapassa os 17 por cento países ocidentais, basta recordar o polémico livro 'Mãe Tigre' da sino-americana Amy Chua, onde essa académica explicava como educar as crianças de modo a retirar delas o melhor na escola, criticando a atitude passiva e permissiva das famílias ocidentais. Na sua luta com os Estados Unidos pela supremacia global, a China necessita de cientistas e técnicos de grande qualidade. A América tem fama de possuir as melhores universidades do mundo e é verdade (150 das 500 melhores contra 42 chinesas), mas os seus jovens do secundário não fizeram melhor que os lugares 17 (leitura), 23 (ciências) e
31 (matemática) no PISA 2010, o último disponível. E isso um dia terá repercussões. Os líderes chineses têm sido muito criticados por investirem forte no armamento, mas mesmo com 11,2 por cento de aumento das despesas militares em 2012 ficam muito atrás do poderio bélico dos Estados Unidos. Interessante é notar que o reforço das verbas para a educação ultrapassa os 17 por cento.
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gente nova em missão
DEZEMBRO Vamos cultivar a tolerância Olá pequenos missionários. Aqui estamos nós no Advento a caminho do Natal. Este mês gostaríamos de vos lembrar que, apesar dos diferentes credos, todas as religiões olham para Jesus com respeito pelo Amor que Ele proclamou, pelo que Ele representa, mesmo que não O vejam como Filho de Deus. Embora o tema de todas as conversas atuais seja a crise económica, há uma problemática à qual os pequenos missionários não devem ser indiferentes, que são as guerras motivadas pelos fanáticos das diferentes religiões, as perseguições por causa da fé, o fanatismo religioso que arrasta ódios, destruição e morte. E vocês como olham para isto? Conhecem alguém que professe outra fé que não a católica? Convivem em ambiente de fraternidade? E como não poderia deixar de ser, um Feliz Natal para todos! texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO
RELIGIÕES EXISTENTES EM PORTUGAL O último retrato religioso português foi realizado pelo Censos 2001 Católicos, Ortodoxos, Islâmicos, Budistas, Evangélicos, Hindus, Muçulmanos, Ismaeli, Judeus
Através desta miscelânea de confissões religiosas percebemos que é necessário haver um clima de respeito entre todos. Portugal é conhecido pela tolerância e aceitação, tanto dos imigrantes como dos diferentes credos. Não existem pois casos polémicos de intolerância religiosa. Os últimos relatórios são muito favoráveis ao nosso país. Que bom pertencer aqui e podermos professar a nossa fé de forma livre! Já pensaram que há 22
muitos meninos no mundo inteiro que não o podem fazer? A isso chamamos intolerância religiosa.
Intolerância religiosa
É um termo que descreve a falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças ou crenças religiosas de outros. Pode resultar em perseguição e ambas têm sido comuns através da história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação
numa época ou noutra. Floresce devido à ausência de tolerância, liberdade de religião e pluralismo religioso. Perseguição, neste contexto, pode referir-se a prisões ilegais, espancamentos, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis. É sabido que este problema tem vindo a aumentar, tendo como exemplos bem conhecidos a Índia,
E NESTE ADVENTO O QUE PODEM FAZER OS PEQUENOS MISSIONÁRIOS
Pesquisar na internet, onde podem encontrar muito material sobre este mal que se abate sobre a humanidade. É muito triste, mas ao mesmo tempo é preciso que vocês saibam aquilo a que a imprensa não dá destaque. Por exemplo no site da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre) podem encontrar várias notícias e formas de colaborar, assim como no site da nossa revista FÁTIMA MISSIONÁRIA e no site dos Missionários da Consolata. Ajudem a preparar as festas da Catequese sobre este tema. Seria interessante que todos percebessem o que é diferente em cada religião. Rezar, para que Jesus nasça uma vez mais no coração dos homens, para que não se atirem mais pedras em resposta a outras, para que todos consigamos viver em clima de fraternidade e amor pelo próximo.
Iraque, China, Cuba, Coreia do Norte, Nigéria, Birmânia, Laos, Arábia Saudita, Paquistão, Sudão, Afeganistão, Argélia, Bahrein, Bangladesh, Belarus, Bolívia, Egito, Eritreia, Terra Santa (Israel e os territórios palestinianos) e México, embora haja muitos outros, infelizmente.
O meu momento de oração Querido Jesus: Neste tempo de Advento quero Preparar-me, estudar e rezar Para a Tua chegada Quero ser um bom missionário Sem fanatismos e intolerâncias Sem rancores nem desdém Quero apenas servir-Te A Ti que nasceste na pobreza Para nos mostrares que a riqueza Está no coração, no Amor Que é a arma mais poderosa Sê a nossa força querido Jesus Para não atirarmos pedras E sermos imagem de Amor Pacientes nas tribulações Consoladores na tristeza Pequenos interruptores todos ligados Para que a Tua Luz irradie sobre o Mal E todos os que no mundo em ti creem possam ter Um santo e feliz Natal Pai Nosso
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tempo jovem
O COMPLEXO MUNDO DAS EMOÇÕES Organizando o plano de formação anual com um grupo de jovens e adolescentes, um dos membros, com um ar tímido, sugeriu que, nestes tempos difíceis que a nossa sociedade está a atravessar, seria bom aprender a saber lidar com as emoções, para não deixar que um olhar de desânimo ou uma simples frase negativa, pronunciada por alguém com uma forte carga emotiva, nos afunde no desânimo ou faça mudar o rumo das nossas vidas texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA Não pretendo ser dramático e muito menos exagerado, mas confesso que tenho visto gente muito boa perder-se no “sem sentido da vida”, seja pela via dos vícios, seja pela via da depressão; na maioria das 24
vezes, a causa principal tem a ver com a incapacidade de saber gerir as emoções. Estou convencido que o êxito de uma boa comunicação e relacionamento depende muito da intensidade e da maneira como lidamos com as nossas emoções. Muitas vezes, sem nos apercebermos, o nosso “conhecido ou desconhecido” mau humor acaba por afetar as pessoas que nos rodeiam, tornando-as cúmplices da nossa “particular” desgraça. E que dizer quando somos apanhados por um sentimento que invade o profundo da nossa alma e nos desequilibra até ao ponto de não nos deixar seguir com normalidade as nossas obrigações quotidianas? Quantas vezes uma interpretação errada dos sentimentos e emoções dos outros acaba por abalar os nossos próprios sentimentos e emoções. Pior ainda, quando nos encontramos sob o descontrole
das nossas emoções e “tudo vale” ou nada faz sentido. Estes e outros factos fazem-me chegar à conclusão que, lamentavelmente, não somos educados a gerir as nossas emoções. Por exemplo, no currículo da nossa formação educativa é importante saber quando e quem foram os intervenientes das guerras mundiais, mas interessa pouco saber quais foram os sentimentos e emoções que levaram os protagonistas daqueles tempos a tomar decisões tão frias e dramáticas. Acho que seria bom e importante aprender mais sobre o mundo complexo das emoções para evitarmos tantas guerras domésticas e sociais que acontecem no nosso dia a dia e que só acabam por esvaziar a nossa humanidade.
CONSELHOS PARA EVITAR O ANALFABETISMO EMOCIONAL
caminham pela vida apanhadas pelas emoções e escravas dos seus estados de ânimo.
1. Conhecer as próprias emoções: é importante sermos
tranquilizar-se a si próprio é sinal de maturidade psicológica. Embora nem sempre seja fácil não se deixar apanhar por um ataque de ira, saber lidar com as ansiedades, os medos, as tristezas e a irritabilidade permite-nos recuperar facilmente a coerência e o equilíbrio psico-afetivo-espiritual.
capazes de reconhecer os sentimentos e reações no momento em que aparecem. O célebre Sócrates, o filósofo, dizia “conhece-te a ti mesmo” como passo prévio para a compreensão de ti e dos outros. Neste campo encontramos pessoas com a capacidade de controlar as suas emoções e com uma visão positiva de si próprias e da vida. Mas também existe um bom número de pessoas que
2. Capacidade de gerir as emoções: ser capaz de
3. A capacidade de auto-motivação é importante
é fundamental para o equilíbrio no âmbito das emoções.
4. Capacidade de reconhecer as emoções dos outros. Saber o
que os outros querem e precisam torna-se essencial no mundo das relações interpessoais. Treinar as emoções para uma boa empatia dá-nos a chave para o encontro autêntico com a diferença. Aristóteles dizia que o valor positivo ou negativo de uma emoção depende da sua identidade e do contexto em que ela ocorre. Avalia as tuas emoções e aventura-te a geri-las inteligentemente.
para atingir as metas propostas. A auto-confiança
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sementes do reino
“NÃO HAVIA LUGAR PARA ELES” “E Maria deu à luz o seu filho primogénito. Envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”, diz-nos São Lucas no seu Evangelho texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA Eles são as grandes figuras de todos os natais: José e Maria, que em Belém não encontram o calor humano duma habitação condigna
para que o Menino pudesse nascer. Eles são todos aqueles a quem o mundo não reconhece os direitos mais elementares do trabalho, da saúde, da habitação. Eles são todos os espoliados da terra que por direito sempre lhes pertenceu. Eles são todos os desempregados deste País à procura do pão para os filhos. Eles são povos inteiros que acorrem às cidades, provenientes de regiões de pobreza e de terras de sofrimento. Eles são os países mais pobres, corroídos pelos juros usurários de outros países mais ricos. Eles são todos os povos migrantes à procura de melhores soluções para uma vida digna em trabalho e moradia. Eles são os milhares e milhares
de refugiados, escorraçados das suas terras por guerras absurdas e fratricidas. Eles são todos aqueles que arribam às metrópoles modernas e aí se sujeitam à indiferença, à solidão e a tantas novas formas de miséria. Eles são todos aqueles que, sem eira nem beira, voltam a abrigar-se debaixo das nossas pontes ou em qualquer barracão. Eles são todos os que, por qualquer razão, não têm lugar no nosso coração. Com os bispos da América Latina queremos aqui recordar que o “Verbo de Deus se faz carne para reunir em um só povo os que andavam dispersos e para fazer deles cidadãos do céu. O Filho de Deus faz-se peregrino, passa pela experiência dos que não têm lugar, como migrante radicado numa insignificante aldeia. Educa os seus discípulos para serem missionários, fazendo-os passar pela experiência
Celebrar o Natal é abrir as portas da nossa casa e do nosso coração para que Jesus aí possa ficar na pessoa dos nossos irmãos do que migra a fim de confiar somente no amor de Deus, de cuja boa nova são portadores”. Vai-se repetindo a história do Natal. Neste mundo que o Filho de Deus veio habitar “para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, nem todos têm o lugar que por direito lhes pertence. Há muitos excluídos do convívio humano, segregados pelo nosso egoísmo. Celebrar o Natal é abrir as portas da nossa casa e do nosso coração para que Jesus aí possa ficar na pessoa dos nossos irmãos.
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intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 02 I Domingo de Advento
Jer 33, 14-16; 1Tes 3, 12-4, 2; Lc 21, 25-36 A HUMANIDADE EM ADVENTO Não é só a Igreja, mas é toda a humanidade que vive em Advento: pelos caminhos de esperança, na expectativa de tempos melhores. Sobre os nossos cansaços, buscas, anseios e desilusões fique a certeza: Aquele que aguardamos, já anda no meio de nós. Abre os nossos olhos, Senhor, para que te reconheçamos no mistério da nossa vida.
08 Imaculada Conceição
Gen 3, 9-20; Ef 1, 3-12; Lc 1, 26-38 UMA MULHER DE SONHO! A beleza de Maria tem a sua raiz em Deus. É Ela o seu mais belo retrato. Conhecendo-a e amando-a, podemos conhecer e amar a Deus que a fez. Contemplando-a, nasce em nós a nostalgia de tudo o que é belo, bom e santo. Preenche, ó Maria, a nossa vida com o perfume da tua vida.
09 II Domingo de Advento
Bar 5, 1-9; Fil 1, 4-11; Lc 3, 1-6 CAMINHOS NOVOS Vem aí o Salvador. Vamos acolher o programa de vida que Ele nos traz. É uma vida nova que em nós Ele quer recriar. Não haverá porventura em mim e em ti áreas de vida a evangelizar, a converter, a endireitar? Que a tua passagem, Senhor, endireite os nossos caminhos.
16 III Domingo de Advento
Sof 3, 14-18; Fil 4, 4-7; Lc 3, 10-18 VIVEI NA ALEGRIA É enorme a alegria de viver na presença de um amigo que enche o nosso coração! Cristo é a plenitude da amizade de Deus em nós. É a certeza de sermos
DEZEMBRO queridos e amados por Deus. É o rosto da nossa fé e o traje da nossa esperança. Exulte, Senhor, o nosso coração na certeza do teu amor.
23 IV Domingo de Advento
Miq 5, 1-4; Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45 MARIA PÔS-SE A CAMINHO “Eis-me aqui!” disse Jesus ao Pai. E a sua vida entrou na nossa vida. “Eis-me aqui!” disse Maria ao Anjo. E a sua vida foi obediência nas mãos do Pai. E Maria parte em missão para levar essa mesma vida a Isabel e a João. E a todos nós. Acompanha-nos, ó Maria, na missão que também a nós o Senhor confiou.
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Natal do Senhor Is 52, 7-10; Hebr 1, 1-6; Jo 1, 1-18 UM CORAÇÃO HUMANO Em Jesus, Verbo encarnado, o Pai ama o homem com um coração humano e o homem ama o Pai com um coração divino. Natal perfeito é o que Jesus me ensina a fazer no coração dos outros. É lá que eu vou nascer, gémeo de todos os homens, meus irmãos. Nasce, ó Senhor, no coração de tanta gente que ainda te ignora ou não te reconhece.
30 Sagrada Família
Sir 3, 3-17; Col 3, 12-21; Lc 2, 41-52 O TESOURO DA FAMÍLIA Celebramos o mistério da presença de Deus na Família de Nazaré e em todas as famílias. A família é um tesouro, um mistério de amor: amor nupcial, materno, paterno, filial e fraterno. Só o amor constitui essa liga de ouro que a valoriza e a mantém unida. Que as nossas famílias, Senhor, bebam sempre na fonte do Deus que é amor. DV
Para que Cristo se revele a toda a humanidade como luz que procede de Belém e se reflete no rosto da Igreja
De Belém para o mundo Vão passados mais de dois mil anos desde que Cristo andou pelo mundo e ao partir deixou aos apóstolos o mandato missionário: “Ide e ensinai”. Animados com a força do Espírito, eles partiram sem saca nem alforge, como o mestre recomendara, e foram por terras e mares até onde se podia chegar. Pregaram, ensinaram, batizaram e fundaram igrejas e comunidades cristãs. Nuns lados foram bem recebidos, mas noutros foram hostilizados, perseguidos e até martirizados. Tudo como Cristo tinha previsto e os tinha prevenido. Mas a doutrina que eles pregavam e o grão que semeavam eram de origem divina e não podiam morrer sem dar o seu fruto. Nesta certeza partiram os apóstolos primeiros, os segundos e os terceiros e a saga ainda hoje continua. Até quando durará? Até que a luz do presépio brilhe em todos os lugares da terra e em todos os corações. MC
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o que se escreve DOMINGO DIA DA RESSURREIÇÃO
Como se depreende do título, o texto gira todo à volta do domingo como dia do Senhor, centrado na Páscoa da Ressurreição. O domingo é, pois, dia de celebração e memória. Desde tempos antigos, os cristãos sentiram necessidade de fazer uma pausa em cada semana para assinalar este acontecimento. Autora: Isabel Maria Alçada Cardoso Prefácio: Manuel Clemente 168 páginas | preço: 12,00€ Paulus Editora
Mensagem de esperança para o mundo
Acontecimento e significado de Fátima
Sete escritores, cada qual à sua maneira, apresentam aqui o significado e a atualidade da mensagem de Fátima. São 343 páginas pelas quais passa teologia, história, Igreja, política, apostolado, guerra e paz, tudo relacionado com as aparições e a mensagem. Resultou num conjunto de textos em que os respetivos autores tiveram a preocupação de apresentar a mensagem no seu todo, como uma unidade orgânica e com uma coerência teológica plausível. Coordenação: Vítor Coutinho 343 páginas | preço: 12,00€ Santuário de Fátima
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AGENDA LITÚRGICA 2013
Esta pequena agenda contém todos os dados próprios de cada dia do ano naquilo que diz respeito à celebração da eucaristia, com indicação dos textos litúrgicos, cor dos paramentos, categoria da festa dos santos que eventualmente ocorram nesse dia. Preço: 3,80€ Editorial A.O.
YOUCAT AGENDA 2013
Podemos dizer que, em certos aspetos, todas as agendas são iguais, mas esta é diferente. Logo a começar pela capa e seguindo pelos vários meses tem imensas curiosidades que alegram e instruem quem olhar para elas e as ler. Organização: Padre Norbert Fink 160 páginas | preço: 9,90€ Paulus Editora
TUDO POR MEIO DE MARIA
O autor revela dois grandes amores: a Virgem Maria e o Papa João Paulo II. São duas vidas totalmente entrelaçadas. Não é por acaso que o Papa escolheu para lema da sua vida e, consequentemente, do seu pontificado, o “totus tuus Maria”; e também não terá sido por acaso que o autor escolheu para título do seu livro: «Tudo por meio de Maria». Autor: Jaime Fuentes 184 páginas | preço: 9,00€ Editorial A.O.
JESUS ABENÇOA AS CRIANÇAS JESUS VAI NASCER OS MAGOS DO ORIENTE
Três livros pequeninos dedicados às crianças. São próprios para o Advento e o tempo de Natal. Rica prenda para os pais, catequistas e educadores de infância lerem às crianças, mostrando os desenhos às que ainda não sabem ler, para elas poderem compreender melhor o que é o Natal e como se podem preparar para ele. Autores: Susanne Brandt, KlausUwe Nommensen. Desenhos: Petra Lefin 28 páginas | preço: 1,50€ (cada) Edições Salesianas
o que se diz ORAÇÕES TRADICIONAIS DA RELIGIOSIDADE POPULAR
Muita paciência terá tido o autor para compilar estas largas dezenas de orações populares, ouvidas a maior parte das vezes da boca das pessoas que as sabem de cor e ainda hoje as rezam. Evocam tempos passados em que as perseguições religiosas obrigaram os párocos a sair das terras alentejanas. Com estas orações e outras que tais, o povo foi segurando a sua fé. Organização: Senra Coelho 256 páginas | preço: 9,50€ Paulus Editora
REZAR NO ADVENTO ANO C
Em cada dia do Advento uma breve citação bíblica, geralmente tirada do Evangelho, a condizer com a liturgia diária; segue-se um pequeno texto para meditação e uma oração “moderna” daquelas que os jovens gostam de rezar. O resto são ilustrações que ajudam a compreender os textos. Um livro pequeno, particularmente dedicado aos jovens, mas que é útil para todos. Autor: Rui Alberto 56 páginas | preço: 1,50€ Edições Salesianas
Santuários marianos Nossa Senhora tem, para o povo cristão, uma enorme capacidade de
atração, que é bem patente nos santuários que lhe estão dedicados e que, por isso, são lugares fundamentais para a nova evangelização. No nosso mundo de tradição católica, necessitado da nova evangelização, Nossa Senhora é referência obrigatória. Muitos dos nossos contemporâneos, que foram batizados, deixaram arrefecer a sua fé, mas mantêm frequentemente uma íntima e forte relação com Nossa Senhora. Carlos Cabecinhas | Voz da Fátima | 13 de outubro de 2012
Domínio do mais forte Numa sociedade onde o mais forte procura concentrar o poder
sob seu domínio, onde quem se julga poderoso procura impor-se ao mais fraco e onde o mais fraco é submisso e procura ajeitar-se à sombra do poderoso por conveniência, a tolerância torna-se um disfarce. O escravo procura tolerar a força do dominador. E o senhor procura dominar o escravo, dando-lhe compensações que o alienem ou controle a vontade de revolta. Joaquim F. Gonçalves | Missões | novembro 2012
Mulher na família Por toda a Europa, a esperança de vida aumentou, a natalidade
diminui acentuadamente, a estrutura familiar mudou radicalmente, com a diminuição do número de filhos, com a mudança do papel das mulheres na sociedade e no mundo do trabalho – elas que desempenharam desde sempre o papel de cuidadoras familiares – com a migração das zonas rurais para as áreas urbanas. O resultado desta mudança, mais do que assustador, é insustentável. Joaquim Morão | Voz das Misericórdias | outubro 2012
Sabedoria acumulada Os mais velhos, que souberem crescer, comportam um peso que só
a sabedoria transportada ao longo dos anos pode fazer acontecer. E o mais curioso é que se trata de um peso de uma leveza imensa. Talvez seja este mais um dos paradoxos de que são feitas as realidades belas e que nos deixam a sorrir. O olhar profundo e libertador de alguém mais velho significa uma teia urdida pelo céu. Madalena Abreu | O Ardina | outubro/novembro/dezembro 2012
Falta de liderança Foi abalada a confiança na capacidade de liderança governamental
– liderança do país, da sociedade, das pessoas. Este é um fator ainda mais lesivo da confiança. Restaurar essa confiança deve ser a tarefa prioritária do primeiro-ministro. Não basta remodelar ministros. É indispensável mais diálogo com a sociedade e melhor pedagogia sobre as medidas governamentais. Francisco Sarsfield Cabral | Família Cristã | novembro 2012
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gestos de partilha Mulheres Missionárias da Consolata (Mem Martins) – 800,00€; Bárbara Silva – 15,00€; Manuel Oliveira – 10,00€; Anónimo (Fiães) – 125,00€; Anónimo – 13,00€; Fátima Matias – 10,00€; Lucilina Coimbra – 25,00€; Maria Trindade Pereira – 70,00€; Conceição Silva – 20,00€; Cândida Barros – 100,00€. Total geral = 26.576,90€.
SOLIDARIEDADE VÁRIOS PROJETOS Bolsas de Estudo Anónimo – 50,00€; Esmeralda Torres – 50,00€; Jorge Correia – 100,00€. Crianças de Moçambique Gracinda Marques – 56,00€. Padre Amadeu Marchiol (Moçambique) Luísa Barbosa – 43,00€. Ofertas várias Grupo de Ferreira do Zêzere – 30,00€; Maria José Moreira – 50,00€; Margarida Neto – 26,00€; Alzira Henriques – 40,00€; Luís Carreira – 36,00€; Jorge Campos – 43,00€; Álvaro Faustino – 36,00€; Anónimo – 50,00€; Maria Céu Gomes – 25,00€; Maria Jesus – 36,00€; Bárbara Silva – 50,00€; Agostinho Gameiro – 30,00€; Florinda Carreira – 43,00€; António Ribeiro – 25,00€; Ofertas dos assinantes da freguesia do Alqueidão – 68,00€.
UM LIVRO COMO PRESENTE DE NATAL “Este é um livro precioso. Escrito por uma das vozes proféticas da Igreja contemporânea” José Tolentino Mendonça
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CONTACTOS
Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 |Apartado 2009 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D Bairro Zambujal |2610-192 AMADORA Telefone 214 710 029 |zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 saomarcos@consolata.pt
vida com vida
COMO SE UM ANJO LHE TIVESSE COMPOSTO A ROUPA O irmão Luís Grassi nasceu em Gambettola, Itália, em 1905. Aos 24 anos entrou no Instituto da Consolata como irmão missionário. Em 1934 partiu para as missões do Quénia. Em 1940 foi levado como prisioneiro de guerra. Voltou depois à sua missão e a seguir regressou a Itália, onde faleceu em 1962 texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO
Morreu como tinha vivido: sem se fazer notar. No dia 30 de junho de 1962, à noite, o irmão Luís Grassi arrumou o quarto bem arrumadinho, e foi-se deitar. No dia seguinte não compareceu na oração da manhã, nem na missa que, naquele dia, era solene, devido à presença de antigos alunos e outros convidados. Só deram por falta dele à hora do almoço quando viram o seu lugar na mesa vazio. Onde está, onde não está, cada qual dava a sua opinião, mas certezas ninguém as tinha, até porque o irmão Luís era impecável no cumprimento do horário, fosse para trabalhar, rezar ou comer. Foram procurá-lo ao quarto e deram com ele morto na cama, muito direitinho, como se qualquer anjo lhe tivesse composto as mantas. Consternação geral! Os altifalantes, que animavam a festa, calaram-se e a alegria esfusiante mudou-se de repente em silêncio e oração.
Que se passara? Que doença o teria vitimado? Todos se interrogavam mas a resposta certa havia de chegar mais tarde com o relatório do médico que disse simplesmente: “Morreu! O coração parou”. Tal vida, tal morte! Foi silencioso na vida, foi silencioso na morte. O irmão Luís Grassi nasceu em Gambettola, Forli, Itália, onde os missionários da Consolata têm um seminário. É natural que tivesse jogado à bola com os seminaristas e desse contacto foi surgindo e crescendo a sua vocação missionária.
na residência dos missionários, na escola de Karema e até no seminário diocesano de Nyeri. Em 1940 veio a segunda Guerra Mundial que estendeu os seus malefícios também ao Quénia: as missões foram encerradas e os missionários foram levados prisioneiros. Foram cinco anos perdidos para as missões. Essa pouca sorte tocou também ao irmão Luís. Quando foi libertado, ainda voltou à missão mais cinco anos. Mas ele já não era o mesmo. Em 1950 regressou a Itália onde veio a falecer em 1962.
O pedido de admissão ocorreu em 1929, não para ser sacerdote, mas irmão leigo missionário. Em 1934, terminada a sua formação, partiu para as missões do Quénia. Dedicou-se ao trabalho com afinco e colaborou com outros irmãos na construção da igreja de Nanyuki, Dezembro 2012
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outros saberes
O AMOR É MAIS FORTE
significado: cada galo tem seu poleiro; cada terra tem seu uso, cada roca tem seu fuso. No fundo todos pretendem evidenciar a soberania de alguém sobre alguma coisa. E todos lutam com unhas e dentes para defenderem o que é, ou julgam ser seu. Se for preciso vão ao tribunal. E juram a pés juntos: Aqui estou eu e daqui ninguém me tira. Brasil
A perseverança é uma grande virtude. Em geral somos prontos para começar qualquer atividade, mas somos outro tanto prontos para a abandonar, o que é sinal de inconstância As algemas partem-se com ideias, não com baionetas texto MANUEL CARREIRA foto LUSA Deus é como a catana; não demora a socorrer
Apoio à compreensão É preciso muita coragem para comparar Deus com uma catana! No entanto, o provérbio tem o seu quê de verdade. Em África é normal, sobretudo entre os camponeses, ver-se um homem agarrado à sua catana ou trazê-la atada ao cinto. É a arma da sua defesa. Tanto pode matar uma cobra ou um animal feroz, como abrir um caminho no meio da floresta cortando silvas e lianas. Deus também é assim: acode quando chamamos por Ele. Macua – Moçambique
O ódio não se vence com ódio, mas com amor
Apoio à compreensão Isto é Evangelho puro. A quem me ofende eu perdoarei quantas vezes? Irei até sete? O Senhor responde: Não sete, mas setenta vezes sete. O Senhor levanta muito a fasquia. É difícil lá chegar. Mas com a ajuda de Deus consegue-se. Primeiro é preciso perdoar; depois é preciso amar. Foi isto que o Senhor fez no alto da cruz com o bom ladrão. Foi isto que João Paulo II fez com o criminoso que o queria matar. Ghandi
Cada macaco tem seu galho
Apoio à compreensão É muito usado no Brasil. Em Portugal é substituído por outros com igual 32
Apoio à compreensão As pessoas são livres e ninguém pode cortar essa liberdade pela força das armas ou por quaisquer outros
O ódio não se vence com ódio, mas com amor Gandhi
meios que atentem contra essa liberdade. Infelizmente tem havido e continua a haver casos em que se tenta obrigar as pessoas a abdicar da sua própria liberdade. Mas pela força isso é impossível. Já vimos outro provérbio que dizia assim: “pode matar-se o corpo, não a alma”. Desmandos tem-nos havido também entre religiões e isso é péssimo. C. Arenal
a missão é simpática
O HOMEM É GRANDE QUANDO SUPERA A SUA OBRA texto NORBERTO LOURO ilustração HUGO LAMI É convicção universal que São Francisco de Assis fosse um apaixonado pelo Homem e pela natureza. Mais ainda. O beijo dado ao leproso e o cântico das criaturas, apontam para poder afirmar que, mais do que um gesto de comiseração no primeiro caso, e uma elevada inspiração poética no segundo, ele os tratasse como lugares teológicos, ou seja, descobrindo Cristo no leproso e, na natureza e suas criaturas, a habitação de Deus.
contradição com o que Francisco estava a fazer, queimando o mais belo dos cestos que tinha feito até ali. “Sabes – interveio Francisco – é que me apeguei de tal maneira a ele que me distraí de Deus. O homem só é grande quando se eleva acima das obras que faz. Só então atinge toda a sua estatura”. “Pai – retorquiu frei Leão – Não te compreendo. Se fôssemos a queimar tudo o que nos distrai da oração, nunca mais acabaríamos”. Francisco anuiu mas continuou: “Sim, sei, vou fazer outro novo, mas era necessário que eu queimasse este primeiro. Isto era mais urgente… elevar-se acima das obras que se fazem”.
escrever, (citando entre aspas o livro “Sabedoria dum Pobre” de Elói Leclerc), provocou-me seriamente. É que, andei vinte anos a escrever nestas páginas que “a missão é simpática”(esta é a última vez que o faço) e São Francisco leva-me a perceber que, porventura, falei mais de mim do que da missão! Se assim é ajudem-me a queimar tudo para que, ao menos, chegue até Ele o tal fiozinho de fumo das horas, e foram muitas, que me distraí com a missão e vos roubei tempo precioso. Obrigado pela vossa simpatia. São Francisco fez outros cestos novos. Vou procurar fazer uma missão nova. Um abraço a todos os leitores de FÁTIMA MISSIONÁRIA.
Perguntará algum dos leitores porque é que citei tão longamente São Francisco. Admiração entranhada. O que acabei de
Certo dia, frei Leão, seu companheiro e confidente preferido, procurou-o no bosque e, a custo, conseguiu localizá-lo, através duma “ténue colunazinha de fumo azulado que se elevava na orla da floresta, perto do eremitério”. Abeirou-se e descobriu que estava a queimar um cesto de vimes. Cestos que ele fazia porque queria trabalhar com as suas mãos e afirmava não haver “nada de mais lamentável do que uma comunidade onde não se trabalha, embora, acrescentava ele, sem chegar ao ponto “de se perder a liberdade, deixando-se mobilizar pelas obras e esquecer-se de adorar a Deus vivo e verdadeiro”. Assim, temos de velar ciosamente para não deixar apagar em nós o espírito de oração. É de tudo o mais importante. Tais princípios inculcados aos seus frades, pareceram a frei Leão em Dezembro 2012
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fátima informa
COMUNIDADE UCRANIANA PREPARA NATAL texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA
Os ucranianos em Fátima celebram o Natal na capela Bizantina Domus Pacis
A comunidade ucraniana em Fátima, de rito bizantino, prepara-se para o Natal, festa do nascimento do Senhor Jesus Cristo, a 7 de janeiro de 2013 (calendário gregoriano). Para festejar condignamente a quadra, os ucranianos vivem a Quaresma de preparação para o Natal, a partir de 28 de novembro. O padre Silvio Litvinczuk, da Ordem Basiliana de São Josafat, explica que se trata de um tempo de “renúncia para acolher Jesus Cristo”. Antes das festas natalinas, a 19 de dezembro, celebram a festa de São Nicolau, bispo de Mira. “Revive-se
“Natividade” até 6 de janeiro
Até 6 de janeiro de 2013 está patente a exposição “Natividade– Obras do Mestre Elias”, no Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima. A mostra é composta por quatro presépios em miniatura e seis telas de pintura. Pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h às 17h.
“Evangelhos da Infância”
Frei Herculano Alves orienta o encontro “Palavra, fé e vida” de dezembro, no dia 1, com o tema “Evangelhos da Infância: Da vida de Jesus à fé da Igreja no Deus 34
o amor ao próximo”, salienta o sacerdote de 33 anos, a viver há quatro anos e meio em Fátima. É uma festa muito importante, especialmente para as crianças, pois é uma data em que recebem doces. Mas também há cenas teatralizadas representando a luta entre o bem e o mal. A celebração de “Emanuel – Deus connosco” com a Santa Missa, equivalente à noite da Consoada para os católicos, realiza-se de 6 para 7 de janeiro, na capela Bizantina Domus Pacis, em Fátima. “O importante na celebração litúrgica são os cantos que recordam Encarnado”, no Centro Bíblico dos Capuchinhos. Inscrições por e-mail: fatima@capuchinhos.org ou telefone 249 530 215 / 249 539 390.
Festival da Canção
Centenas de jovens participam em Fátima, a 1 de dezembro, no nono festival nacional da canção mensagem que decorre no Centro Pastoral Paulo VI, a partir das 20h00. O tema é: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4) e “Ide e fazei discípulos de todos os povos” (Mt 28, 19).
o nascimento de Jesus”, assinala o sacerdote que prevê a participação de mais de cinco centenas de pessoas. Depois da Eucaristia, as famílias festejam à mesa com uma refeição. Na ceia, o prato principal é feito à base de trigo cozinhado com mel, sementes de papoila e vários frutos secos. Não há consumo de bebidas alcoólicas nem de carne. É também a 6 de janeiro que os mais pequenos são convidados a enfeitar a árvore de Natal, que é mantida até 12 de fevereiro.
Dezembro em agenda 01 Encontro de formação dos CPM – Centros de Preparação para o Matrimónio; Encontro Nacional de Diáconos Permanentes 03 Reunião da Equipa do departamento Nacional da Pastoral Juvenil, na casa dos Marianos
Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt
OUTRA VISÃO
DO MUNDO
| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관
APENAS
7 EUROS
POR ANO
TUDO PARA TODOS Tuas mãos tudo partilham do todo que nos trouxeste. teus olhos, felizes, brilham pelo “sim” que ao Pai disseste. Simples, meigo, despojado para vestir nossa veste, Tu és o Deus humanado que nosso Irmão te fizeste. Salvador de todo o povo sem distinção, que nos deste a esperança dum mundo novo, bem-vindo porque vieste! Lopes Morgado