Exploração

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Ano LXII | Dezembro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

exploração ativista denuncia o lado amargo Das culturas de fruta tropical MISSÃO HOJE

Campanha ajuda crianças da Etiópia

Missionários da Consolata dedicam projeto a vítimas de queimaduras

dossier

Os sete desafios da América de Trump

Novo Presidente enfrenta divisões internas e externas

TEMPO JOVEM

Reflexão: Felizes são os "loucos"

As contradições do presente na vida de um discípulo de Jesus


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM OS MISSIONÁRIOS

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 11 Ano LXII DEZEMBRO I 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

“ OS SETE DESAFIOS DA AMÉRICA DE TRUMP

04 | EDITORIAL Vestir de Evangelho este Natal 05 | PONTO DE VISTA Obrigado ao Papa Francisco 06 | HORIZONTES Joana mãe 07 | DESTAQUE Desenvolvimento: novas histórias, novas imagens 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • México: Mães procuram filhos migrantes desaparecidos • Paraguai: Crianças trabalhadoras discutem condições de vida • Índia: Hindus e cristãos juntos pelo respeito da criação • Burundi: ONU denuncia graves violações dos direitos humanos • Myanmar: Líderes religiosos pedem a paz para as minorias • Quénia: Fantasmas de violências eleitorais estão de regresso

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.500 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Lusa Contracapa André Santos Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

10 | A MISSÃO HOJE Queremos ser solidários ou chega lamentarmo-nos? 11 | PERFIL SOLIDÁRIO Uma vida a lutar pelos pobres 12 | A MISSÃO HOJE Missionários ajudam a tratar crianças vítimas de queimaduras 13 | FÁTIMA INFORMA Pórticos celebram aparições 14 | ATUALIDADE “Cidadãos podem acabar com a pobreza” 22 | MÃOS À OBRA Poço leva água potável a escola indígena 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Alegria, palavra chave na vida dos amigos de Jesus 26 | TEMPO JOVEM Felizes são os “loucos" 28 | SEMENTES DO REINO “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” 30 | VIDA COM VIDA Construir a Igreja 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Vestir de evangelho este Natal Há um Natal que chega cada vez mais cedo. No início de outubro vi uma secção inteira de um hipermercado já com toda a parafernália do Natal. E, na mesma zona comercial a entrada de uma loja mostrava, na fachada, e em letras garrafais, um bem iluminado ‘Feliz Natal’. Sensação estranha, senti. “É o mercado a funcionar”, comentou um amigo, com alguma ironia. Ouvi esta publicidade na televisão: “Este ano o Natal chega mais cedo no [nome do supermercado]: entremeada de porco por apenas 2,99 euros”. Curioso. Que Natal é esse que chega mais cedo na entremeada de porco? A febre consumista e materializante, marca deste tempo, parece não ter volta atrás. O essencial – o nascimento do Menino Deus, em circunstâncias e condições simples e despojadas de conforto e riquezas – parece ser agora o acessório. Custa aceitar que este seja o novo normal. O Natal assim vivido é, para muitos, uma época desconfortável. Ficam mais irritadiços, ansiosos, depressivos, solitários... As perguntas inquietam: “Onde vou ao jantar de Natal, este ano?”, ou: “Será que alguém da família vai ficar melindrado se eu não for?”. E, numa nova situação de separação: “Com qual de nós dois vai o nosso filho passar o Natal?”. Um sem fim de

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perguntas, que geram inquietação. É preciso voltar ao Natal essencial, simples, inclusivo e missionário; centrado no mistério de um Deus que encarna na natureza humana. Um Natal que facilite o encontro com o Deus da vida e da História. Vamos vestir de Evangelho o nosso Natal 2016. Com este número, dou início à minha caminhada como novo diretor desta revista. Um desafio que estou disposto a abraçar, mas consciente das minhas limitações. Felicito o anterior diretor, padre Darci Vilarinho, pelo espírito de entrega que colocou neste serviço. Com a excelente equipa que herdei, vamos procurar enriquecer e potencializar a nossa forma de comunicar, na fidelidade aos mais de 60 anos de história da revista e, ao mesmo tempo, com a criatividade e a ousadia necessárias para podermos trilhar os caminhos novos que o exigente campo da tecnologia e comunicação, cada vez mais multiplataforma, apresenta. Quanto a si, cara leitora e caro leitor, que nos lê, tanto na revista impressa, como nos sites e plataformas digitais, contamos consigo, com as suas críticas e contribuições. Em nome de toda a equipa que faz chegar esta revista às suas mãos, desejo um feliz e abençoado Natal. Albino Brás

Em nome de toda a equipa que faz chegar esta revista às suas mãos, desejo um feliz e abençoado Natal


PONTO DE VISTA

MANUEL BARBOSA . SECRETÁRIO DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA .

OBRIGADO AO PAPA FRANCISCO Fátima, eminente espaço de devoção mariana, é um acontecimento de fé em Cristo, onde Maria tem especial lugar. Celebrar o Centenário das Aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos Jacinta, Francisco e Lúcia é celebrar a mensagem evangélica que nos foi oferecida desde 1917. Fátima vale por si mesma, pela sua forte mensagem. A vinda do Papa, não alterando o que de essencial a fé aí nos aporta, confirmará de modo intenso e profundo tudo o que como portugueses assumimos na nossa identidade cultural onde Fátima tem especial significado, e em particular tudo o que o povo de Deus vive em Cristo por intercessão de Maria. Ter o Papa entre nós nas celebrações centenárias de 12 e 13 de maio em Fátima é uma alegria, uma interpelação e uma bênção. Uma alegria, por ser esta a marca da existência cristã, tão acentuada pelo Papa Francisco na sua forma de viver e no seu magistério pastoral. Um dinamismo bem expresso nos próprios títulos das grandes exortações apostólicas, a “Alegria do Evangelho” e a “Alegria do Amor”. Uma alegria que brota do Evangelho e, no caso concreto, da mensagem que Maria nos deixou em Fátima, a ser certamente renovada pela presença do Santo Padre entre nós.

Uma interpelação, porque o Papa Francisco nos tem dito de forma clara, e virá com certeza reafirmar-nos com a sua tão simples mas significativa presença, que somos Igreja missionária, à maneira de Maria, qual primeira discípula missionária e evangelizadora. Fátima é expressão de uma Igreja em saída, sempre peregrina e a caminho, com criativos itinerários e tempos de encontro. Fátima missionária exprime a essência do que a mensagem de Fátima nos oferece a todos, discípulos missionários. Uma bênção, ao nos transportar para Deus que adoramos e para Maria que veneramos. O Papa Francisco convida-nos a ser devotos de Maria e, por sua especial intercessão, adoradores de Deus na Pessoa de Jesus Cristo a quem aderimos na fé. A nossa atitude para com o Santo Padre só pode ser de reconhecido agradecimento e hospitaleiro acolhimento, que é afinal o que muito nos caracteriza no que somos como cidadãos portugueses e como crentes em Igreja. Obrigado ao Papa Francisco, por desejar visitar-nos por ocasião do centenário de Fátima! Pedimos-lhe que reze por nós como nós rezamos por ele, sempre em comunhão mariana.

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horizontes

JOANA MÃE

Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Joana era conhecida na turma como a “Joana mãe”. Engravidou do seu quinto filho depois de iniciar a licenciatura que atrasou até momentos mais livres. Toda ela era sorrisos, olhar terno, aconchego, colo. Trabalhar com ela significava organização, rigor e alegria. Tudo parecia fácil e possível. Num fim de dia, recebeu-me na sua casa para trabalho de grupo: grávida e com outros quatro filhos, ainda encontrava espaço e tempo para os amigos. E tudo estava em ordem. Ao entrar em casa, em frente, a sala comum, espaçosa. Uma mesa grande ocupava o centro. Tudo ali “cheirava a família”: fotos, muitas fotos, “obras de arte” feitas pelas crianças, mobília para vários tamanhos. No corredor, a “ala das crianças”, feita de três quartos: num, quatro camas e quatro mesas de cabeceira de diferentes tamanhos; noutro, o escritório, com estantes, três secretárias e uma mesinha de criança para o Zézito de três anitos que gostava de “estudar” ao lado dos irmãos; e um quarto de brincadeira, com almofadões coloridos, brinquedos e jogos. Parecia estar-se numa história encantada, “Alice no País das Maravilhas”! Na outra dimensão da casa, a cozinha e o setor dos pais. Quando chegámos, a dona Augusta que vinha um dia por semana a casa para ajudar a que nada se perdesse e que todos tinham o necessário, usava a grande mesa da sala para converter roupas, cozer bainhas, colocar joelheiras, cotoveleiras. – Mãe, cheguei! – Até logo, mãe! Lá em casa este era um rodopio habitual. E todos eram recarregados com um imenso sorriso e um abraço aconchegante da mãe Joana, enquanto fazia as recomendações obrigatórias. Na licenciatura, onde quis Joana mãe especializar-se? Numa escola, a ajudar crianças a serem mais felizes. E o sucesso foi brutal! Queixas? Nunca! Nem mesmo quando não dormia para socorrer na febre, na tosse, no pesadelo, ou quando passava todo o dia no hospital a acompanhar o Simão nas suas crises renais, ou ainda quando prolongava a noite a estudar. O curso terminou, passaram 28 anos e perdemos o contacto. Há dias, uma surpresa extraordinária: no telemóvel, um 06

Fátima Missionária

número desconhecido. Do outro lado, uma gargalhada feita de alegria, inconfundível: – Joana mãe! Incrível! Que alegria! Como me descobriste? Ao longe, tornado perto pela amizade que não se desatualiza, consegui “sentir” a minha amiga, feliz e realizada. Pôs à prova o meu sentido de adivinhação: – Adivinha quantos netos tenho. – Sete, disse eu, atirando um número que me pareceu seguro. – Dezassete, graças a Deus! É uma bênção! Agora estou dedicada a ser avó! Ainda tenho um dia livre para fazer voluntariado na instituição onde trabalhava. Não consigo desapegar-me daquelas crianças. O Rui pai, também reformado, apanhou o gosto do voluntariado num lar de idosos. A gargalhada genuína falava da felicidade da Joana mãe, e agora, também Joana avó, iluminada por uma vida de mãos cheias, a amar sem medida. – Espero-te cá em casa. Ficas conosco mesmo que a “tropa” esteja cá acampada – e com aquela alegria de quem constrói e distribui o céu no caminho, desligou, deixando-me de coração cheio, com vontade de viver, eu também, o céu dentro de mim.


destaque Os doadores querem saber como são aplicados os seus contributos

Desenvolvimento: novas histórias, novas imagens Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

As pessoas estão cansadas de se confrontarem com as mesmas histórias e com as mesmas imagens sobre os problemas de desenvolvimento e os dramas humanitários registados no mundo, defendeu Chris Elliot, jornalista e ex-provedor dos leitores do jornal britânico de referência, The Guardian. Durante um debate realizado sobre o Jornalismo e o Desenvolvimento, no passado dia 16 de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o jornalista britânico defendeu a necessidade de se alterar o relacionamento entre os agentes que trabalham na área do desenvolvimento e os jornalistas, para que outras histórias sobre os países menos ricos não se resumam aos dramas e cataclismos humanitários. Os esforços de desenvolvimento das comunidades locais devem ser também do conhecimento da opinião pública dos países

doadores de ajuda humanitária. Para isso, são necessárias parcerias entre jornalistas e organizações humanitárias. A este respeito, um estudo realizado pelo projeto “Aquele outro mundo que é o mundo – Os media e o mundo do desenvolvimento” revelou que muitas das organizações não

governamentais manifestam ainda algumas dificuldades em comunicar publicamente os seus projetos e as suas experiências com as comunidades com quem trabalham. Por seu lado, os media, com cada vez menos recursos financeiros, parecem interessarem-se sobre os países em desenvolvimento apenas em momentos de crise.

Os riscos da manipulação

Os esforços de desenvolvimento das comunidades locais devem ser também do conhecimento da opinião pública dos países doadores de ajuda humanitária

Chris Elliot salienta que o público interessa-se por acompanhar os grandes dramas humanitários, mas que isso não deve constituir o essencial das notícias sobre o desenvolvimento. No entanto, acrescenta que as pessoas no Reino Unido “começam a dizer que não suportam mais os pedidos de cada vez mais dinheiro” para a ajuda ao desenvolvimento, revelando por isso uma exigência maior em saber para onde vão e como são aplicadas as suas contribuições. Neste contexto, Marina Costa Lobo, politóloga, sublinhou a importância dos media e do jornalismo, na divulgação de informação diversa e plural, num mundo onde a informação circula cada vez mais pelas redes sociais. As redes sociais permitem que as pessoas recebam cada vez mais a informação que lhes interessa diretamente. No entanto, isso pode fazer também com que elas vivam mais desligadas dos outros temas que fazem parte do mundo. Nalguns casos, podem criar, por essa via, espaços fechados de discussão e pouco abertos a opiniões diversas. Deste modo, as pessoas ficam mais expostas a processos de manipulação. Para Marina Costa Lobo, esta situação explica o sucesso que Donald Trump teve nas últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, não obstante as mentiras divulgadas durante a sua campanha eleitoral.

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mundo missionário

por E. assunção

México

Mães procuram filhos migrantes desaparecidos

Com uma tradição de 12 anos, a “Caravana das Mães” percorreu 11 estados, passando por 30 localidades do México. Várias dezenas de mães de jovens migrantes desaparecidos partiram do centro do México, de Ciudad Cuahutemoc, considerada a porta de acesso à Serra Tarahumara. A caravana escolheu como lema: “Buscamos vida en caminos de muerte” (Procuramos a vida nos caminhos da morte). Em nome da esperança e do testemunho, a caravana caminhou em memória de Berta Caceres, a ambientalista hondurenha assassinada a 3 de

março deste ano. Esta iniciativa pretende chamar a atenção dos meios de comunicação, nacionais e estrangeiros, e dar voz às mães que procuram os seus filhos que contactaram pela última vez algures em território mexicano. Uma parte da caravana iniciara o seu percurso em vários países da América Central. Deste modo, pretendeu mostrar que a entrada no México dá-se ao longo de toda a fronteira com países como a Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua. É nesta linha limítrofe que os migrantes são atacados pelos traficantes e pelas redes de criminosos.

Myanmar

Líderes religiosos pedem a paz para as minorias

“Nós, representantes de todas as religiões que vivem em Myanmar dirigimos um apelo aos líderes políticos e aos grupos armados para que procurem o caminho da reconciliação como bem comum de toda a população”. Os líderes religiosos da ex-Birmânia estão preocupados com os recentes confrontos que se registaram nos estados de Kachin e Karen, entre grupos armados das minorias étnicas e o exército birmane. Estão na memória de todos as violências religiosas que atingiram a minoria muçulmana, em setembro passado, após a conferência nacional sobre minorias religiosas organizada pelo governo birmane. Myanmar é uma democracia muito jovem, iniciada após eleições pacíficas. Os olhos da opinião pública internacional estão voltados para o percurso deste país asiático, onde anualmente afluem milhões de turistas. Todavia, paira sobre o país o receio de uma guerra civil, os deslocados internos ascendem já a 200 mil, juntam-se agora novos conflitos aos antigos e a perda da esperança agrava os sofrimentos crónicos que atingem milhares de pessoas. 08

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MUNDO MISSIONÁRIO BURUNDI

ONU DENUNCIA GRAVES VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS

Um relatório das Nações Unidas alerta para um perigo iminente que recai sobre o Burundi: “Se não se intervier a tempo, corre-se o risco de um genocídio”. O documento denuncia: “Estão a cometer-se crimes contra a humanidade”. Em 2015, o Presidente Pierre Nkurunziza decidiu apresentar-se às eleições para um terceiro mandato, violando a Constituição do país. Desde então já morreu mais de um milhar de pessoas e vários milhares de presos políticos estão detidos nas prisões, além de várias centenas de desaparecidos. Mais de 300 mil pessoas procuraram refúgio além-fronteiras. É urgente uma missão de paz da ONU para garantir a paz e o diálogo político.

QUÉNIA

FANTASMAS DE VIOLÊNCIAS ELEITORAIS ESTÃO DE REGRESSO

“Corremos o risco de voltar a cair nas violências de 2007 e 2008” avisam os bispos do Quénia. Na pré-campanha já iniciada para as eleições gerais a terem lugar até agosto de 2017, “notamos com preocupação o ressurgir da violência, da linguagem conflituosa e dos discursos que incitam ao ódio”. As acusações recíprocas entre políticos, “em prejuízo da verdade”, alimentam a violência em diversas zonas do país: “Já se perderam vidas humanas em incidentes entre os pokotes e os marakwetes. Estão em curso confrontos entre os povos Kisii, Masai e Kipsigis”, lamentam os prelados, que apelam à responsabilidade de todos os quenianos: “O bem-estar e a prosperidade do país dependem de cada um de nós”.

PARAGUAI

CRIANÇAS TRABALHADORAS DISCUTEM CONDIÇÕES DE VIDA

“O trabalho enobrece, a luta une-nos e fortalece-nos”, foi o lema do encontro regional do movimento latino-americano, que se realizou em Luque, no Paraguai. Meninos, meninas e adolescentes trabalhadores encontraram-se para reforçar a formação e avaliar as atividades conjuntas para garantir o direito ao trabalho e a uma vida digna. Os participantes eram provenientes de vários grupos, organizações e movimentos da América Latina e Caraíbas.

ÍNDIA

HINDUS E CRISTÃOS JUNTOS PELO RESPEITO DA CRIAÇÃO

Organizado pelo Instituto Hinduísta de Bombaim, Índia, realizou-se em novembro passado, um seminário internacional que juntou hindus e cristãos, à volta do tema: respeito e cuidado da criação. Empenhada em promover e difundir o espírito de paz, harmonia e fraternidade universal, através da instrução e do diálogo, a organização propôs o tema: “Ensinamentos do Papa Francisco sobre ecologia e cuidado da natureza em paralelo com o hinduísmo”. Além de líderes hindus e cristãos, participaram também líderes muçulmanos.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

PRESOS E SEM ABRIGO Era minha intenção no mês passado apresentar a última das minhas curtas crónicas de Roma sobre o Ano da Misericórdia que o Santo Padre encerrou há dias. Desculpai se volto a esse tema tantas vezes reiterado na Sagrada Escritura e tão facilmente esquecido por nós os crentes. Jesus convida-nos de facto a descobrir o significado do imperativo “eu quero a misericórdia” (Mt. 9:13), e por isso nunca é demais perguntarmo-nos se e como somos misericordiosos. Com a multidão de peregrinos que acorreram a Roma nos últimos tempos, quase me passava despercebido o exemplo dado pelo Papa Francisco ao concluir este Ano Santo, com dois domingos especiais, um deles dedicado aos presos e o outro aos sem-abrigo. Não podemos ficar indiferentes perante a condição dos reclusos nas nossas prisões ou a multidão de pobres e refugiados que vivem ao relento. Ao chamar a atenção para os deserdados da terra, o Papa Francisco recorda-nos que a misericórdia é possível, e alegra-nos verificar que ele pratica aquilo que prega. Que o Natal que se avizinha e nos vem recordar as “vísceras de misericórdia do nosso Deus” transforme os nossos corações endurecidos.

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a missão hoje

Queremos ser solidários ou chega lamentarmo-nos? Há um ano, o tema ainda estava em todos os telejornais e a emoção movia a sociedade. Hoje, já não chama a atenção e as agendas mediáticas focam-se noutros temas Texto | RUI MARQUES * Foto | LUSA

Começou a cair o manto do silêncio. Mas o drama dos refugiados continua vivo. O sofrimento de milhares de crianças, de homens e mulheres continua a habitar o nosso espaço. Vidas adiadas, de quem espera e desespera, de quem se divide entre a vontade de lutar e a tentação de desistir. Do nosso lado, a nossa Europa continua em crise. Numa crise de solidariedade que nos desfigura e nos trai. Em muitos locais, o medo continua a ser mais forte que a coragem e a indiferença ganha margem à generosidade. Entre nós, há quem contrarie esse destino. Trezentas e cinquenta organizações da sociedade civil, num gesto espontâneo de mobilização, perante o desespero de milhares que buscavam abrigo, constituíram, em setembro de 2015, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR). Esta rede informal, feita de vontades fortes e não temendo recursos escassos, gerou um programa de acolhimento de crianças refugiadas e suas famílias, que tem vindo progressivamente a acolher refugiados no nosso país. Numa lógica de proximidade, cada instituição assume-se como anfitriã de uma família de refugiados, cuidando, durante dois anos, de tudo o que a integração exige (alojamento autónomo, apoio na aprendizagem do português, integração das crianças na escola, de toda a família na saúde 10

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perfil solidário

Esta rede [a Plataforma de Apoio aos Refugiados] informal, feita de vontades fortes e não temendo recursos escassos, gerou um programa de acolhimento de crianças refugiadas e suas famílias, que tem vindo progressivamente a acolher refugiados no nosso país e dos adultos no mundo do trabalho). Hoje são já 65 famílias que beneficiam desta hospitalidade e estão mais 40 para chegar. Serão 600 pessoas, em breve. Claro que há dificuldades: da comunicação às partidas sem aviso prévio, dos preconceitos mútuos aos mal-entendidos. Só que, ao lado destas “pedras na engrenagem” há um sentimento indescritível de missão cumprida, de serviço gratuito e de sentido solidário, que anima estas instituições anfitriãs perante todas as inquietações e perplexidades. Estes são exemplos da intervenção do que tem sido possível fazer. Mas há ainda mais tarefas à nossa espera. A mais urgente é ser capaz de aumentar a capacidade de acolhimento de famílias de refugiados, que estão à espera em campos ou centros na Grécia. Portugal pode fazer mais, pois está ainda longe de ter atingido sequer a sua quota de responsabilidade. Por isso, aqui deixamos o desafio: mais do que lamentarmo-nos, precisamos de (continuar a) lançar mãos à obra. Cada uma e cada um de nós, pode desencadear à sua volta, junto da sua paróquia, movimento, instituto religioso, o impulso para acolher uma família e ajudá-la a recomeçar a sua vida. A solidariedade não pode esperar, nem, pior ainda, ser esquecida. É agora que é preciso acolher. (Ver www. refugiados.pt ou contatar via mail, par@ipav.pt para se tornar instituição anfitriã). *Presidente da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) Texto conjunto MissãoPress

Uma vida a lutar pelos pobres Texto | FP

Doutorado em Sociologia, Alfredo Bruto da Costa fez carreira como professor universitário, ocupou vários cargos públicos, e nunca se desviou do sonho que era viver num mundo sem pobreza e sem desigualdades sociais. Foi ministro dos Assuntos Sociais no governo liderado por Maria de Lurdes Pintassilgo, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, presidente do Conselho Económico e Social, e esteve à frente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, até 2015. Um ano antes, tinha tomado posse como conselheiro de Estado. Faleceu, vítima de doença prolongada, no passado dia 11 de novembro. Do seu percurso de vida, “inteiramente cristão”, fica a constante “inquietação” no combate à erradicação da pobreza, como fez questão de recordar, na missa exequial, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente. “Alfredo Bruto da Costa somou o desafio da fé à intervenção marcada pela caridade, pela ação social junto dos mais pobres”, e “deu a vida pelo serviço aos pobres com uma intenção imensa de mudar a sociedade, no que passasse pela sua capacidade de intervenção”, lembrou, por sua vez, o padre Vitor Feytor Pinto. Para o sacerdote, que acompanhou o sociólogo nas últimas duas décadas, Bruto da Costa tinha um “sentido de igualdade enorme” e sonhava com uma sociedade onde pontificasse a “distribuição dos bens disponíveis”.

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a missão hoje

Missionários ajudam a tratar crianças vítimas de queimaduras É um problema global nos países em desenvolvimento. As queimaduras são a quinta causa mais comum de lesões durante a infância. E a Etiópia é um dos países que mais contribui para esta triste estatística. Pela quantidade de mortes e pelo número de crianças que todos os dias, por um simples descuido, ficam marcadas para o resto da vida Texto e Foto | FRANCISCO PEDRO

Azmera, de apenas dois anos, brinca descontraída no interior da pequena cabana escura, na região de Gambo, no sudeste da Etiópia. O pai saiu para o campo, a mãe partiu manhã cedo para cumprir o ritual diário de recolha de água, os irmãos estão entretidos no pasto com os animais e a menina está entregue aos cuidados da irmã, oito anos mais velha. No chão da palhota, como na maioria das habitações rurais etíopes, arde uma fogueira, protegida com meia dúzia de pedras. Irrequieta, Azmera aproxima-se do fogo e, num desequilíbrio involuntário, próprio da idade, estatela-se nas chamas. Com queimaduras de segundo grau numa parte considerável do corpo, é levada para o Hospital Rural de Gambo, gerido pelos Missionários da Consolata, onde fica internada, na melhor das hipóteses, por um período

não inferior a três semanas. E passa a fazer parte da trágica estatística, que atira todos os anos mais de 60 crianças para a unidade de queimados desta unidade hospitalar. “São sobretudo menores entre os três meses e os sete anos, mas a maioria tem menos de três anos”, refere o irmão Francisco Reyes, diretor da instituição. “Infelizmente, as queimaduras são muito frequentes, sobretudo nas crianças. As cabanas têm fogueiras sem proteção e as crianças caem. Depois, são as meninas, entre os oito e os 10 anos, que se queimam com líquidos a ferver, como água ou café, ou com combustíveis que usam para acender a fogueira”, adianta o médico, de 50 anos, parte deles passados com muitas noites em claro, na esperança de que no dia seguinte chegasse o indispensável donativo para o pagamento dos

O hospital rural de Gambo recebe todos os anos uma média de 60 crianças, vítimas de queimaduras domésticas

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Fátima Missionária

ordenados dos técnicos e dos clínicos, mas sobretudo para a compra de medicamentos e material hospitalar. Conhecedores destas dificuldades, os Missionários da Consolata em Portugal decidiram transformar o seu próximo projeto anual numa campanha solidária de auxílio ao tratamento de crianças queimadas, a que deram o nome “Compressa Amiga”. Segundo Eugénio Butti, Superior Provincial da delegação portuguesa, esta é também uma forma de homenagear o padre Carlos Domingos, o missionário português que faleceu a 2 de janeiro deste ano, num fatídico acidente: “Queremos fazer memória do sacrifício da vida deste nosso missionário, que partiu para a Etiópia para ser administrador da missão de Gambo, e acabou por doar lá a sua vida”.


FÁTIMA INFORMA

Pórticos celebram aparições Estruturas metálicas instaladas nas várias entradas do Santuário de Fátima recordam o arco que demarcou o local das aparições, em 1917 Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

Uma série de pórticos em metal foram instalados recentemente nas entradas para o Santuário de Fátima, para recordar o arco que, em 1917, assinalou o lugar das aparições, e sob o qual foram fotografados os três pastorinhos.

celebrar os 100 anos de Fátima”, informam os serviços de comunicação do local de culto. “Ali estão presentes os elementos que já constituíam o pórtico de 1917: a cruz central e as lanternas que a ladeiam, em clara referência à marca cristológica da mensagem de Fátima.”

Entre as novas estruturas destaca-se a que está instalada no recinto de oração, devido às suas “grandes dimensões”. Coube à arquiteta Joana Delgado desenhar esta estrutura, “à escala do recinto”, e identificada como “Pórtico Jubilar”.

A primeira passagem oficial do “Pórtico Jubilar” assinalou o arranque do Ano Jubilar do Centenário das Aparições na Cova da Iria, a 27 de novembro. A partir desta data, os peregrinos passaram a encontrar em cada um dos pórticos o “Itinerário do Peregrino”, um folheto que convida os fiéis a percorrer vários espaços do santuário e propõe um conjunto de orações.

“A criação deste ‘Pórtico Jubilar’ resulta da intenção de dotar o santuário de um elemento visual que possa

Bispo fala a diáconos

As Jornadas Pastorais dos Diáconos vão ser dinamizadas por José Cordeiro, bispo da diocese de Bragança-Miranda, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em Fátima. O encontro realiza-se dia 1 de dezembro com o tema “O Diaconado e a Liturgia”.

Jovens revelam originais

O Festival Nacional Jovem da Canção Mensagem terá lugar no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, dia 10 de dezembro. Jovens de todo o

país vão mostrar ao público os seus trabalhos originais numa iniciativa promovida pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil.

Concerto de Natal

A Orquestra Sinfónica e Coro do Conservatório de Música do Porto dá um concerto de Natal dia 18 de dezembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, pelas 15h00. A obra a estrear é uma criação do compositor Fernando Valente, encomendada pelo Santuário de Fátima para celebrar o Centenário das Aparições.

Agenda

DEZEMBRO

DIA 11 – 16h00

Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima Primeira Conferência sobre o tema do ano: "Maria guardava tudo no seu coração" – dos Evangelhos a uma Espiritualidade Cordial, Ruy Ventura

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Kozel Fraser reconhece que as dificuldades financeiras de muitos cidadãos portugueses e de pessoas de todo o mundo são um “entrave” para a prática de um consumo sustentável

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Fátima Missionária


ATUALIDADE

“Cidadãos podem acabar com a pobreza” O sabor doce de muitas frutas tropicais opõe-se à vida amarga de muitos dos seus produtores, tantas vezes a lidar com “agroquímicos tóxicos” prejudiciais para a saúde, alerta a ativista Kozel Fraser, que convida os cidadãos a olharem para o seu “poder” enquanto consumidores Texto | JULIANA BATISTA Foto | Gustavo Lopes Pereira | Âmago

As condições em que são produzidos os alimentos que chegam aos supermercados e as opções que os cidadãos podem tomar em prol de um mundo mais sustentável são assuntos que mobilizam Kozel Fraser, porta-voz dos produtores e trabalhadores da campanha internacional “Fruta tropical justa”.

mesmos produtos”. A especialista defende que as grandes cadeias de supermercados, com um “grande” poder negocial junto dos fornecedores, devem tomar medidas para fomentar o consumo sustentável como, por exemplo, “garantir que um preço justo é pago aos produtores e oferecer produtos sustentáveis nas suas lojas”.

A luta por um mundo mais sustentável conduziu esta ativista a Portugal no mês de novembro. Por terras lusas, Kozel Fraser deu conferências, entrevistas e encontrou-se com retalhistas portugueses. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, a responsável deu conta do papel que os responsáveis pelas cadeias de supermercados e os consumidores devem assumir e alertou para os problemas verificados em plantações de várias partes do mundo.

Aos consumidores, a ativista deixa um conjunto de alertas e mostra a importância das suas opções alimentares. “O meu conselho para os cidadãos é pensarem na forma como a comida e os produtos que consomem são produzidos e também pensarem no poder que têm, como consumidores, na escolha de produtos sustentáveis”, de forma a levar ao “desenvolvimento social e ambiental”. Kozel Fraser acredita que “os cidadãos têm o poder de acabar com a pobreza, de promover o bem-estar e de garantir um futuro mais sustentável para as futuras gerações”.

“Em países como o Equador e a Costa Rica, há violações dos direitos humanos como a perseguição de trabalhadores que estão organizados em sindicatos, que representam os trabalhadores. As condições de segurança no trabalho também são ignoradas. Os trabalhadores do setor da fruta tropical, em particular a banana, estão muitas vezes expostos à aplicação intensiva de agroquímicos tóxicos, o que acaba por causar graves danos à sua saúde”, denunciou. Por Portugal, o diálogo entre Kozel Fraser e os responsáveis pelas grandes cadeias de supermercados, mostrou que “alguns desconhecem ou não estão sensibilizados para a possibilidade de violação de direitos humanos nas plantações”. De acordo com a ativista, “os supermercados confiam no que os seus fornecedores dizem e não dispõem de quaisquer canais de ligação direta com os produtores para verificarem se o que dizem os fornecedores é verdade”. Além disso, os supermercados tendem a “disponibilizar produtos com base no preço mais competitivo e não providenciam a sustentabilidade, com base no cumprimento de critérios ambientais e sociais, desses

A responsável reconhece que as dificuldades financeiras de muitos cidadãos portugueses e de pessoas de todo o mundo são um “entrave” para a prática de um consumo sustentável. Por isso, o que os defensores deste sistema de comércio justo pedem são modificações na cadeia de abastecimento e “mudanças nas margens de lucro dos supermercados e empresas, de modo que as escolhas sustentáveis sejam mais fáceis para os consumidores e não se traduzam, necessariamente, em preços finais mais elevados”. Apesar das situações de violência que marcam o percurso de muitos alimentos, a ativista considera que o mundo está a “caminhar na direção correta” rumo à sustentabilidade. Contudo, é necessária “coerência nas políticas para o desenvolvimento sustentável, desde o nível da Comissão Europeia até ao nível das autoridades locais”. “Precisamos de programas mais abrangentes para a educação e empoderamento dos cidadãos e precisamos de modelos de sucesso que possamos multiplicar para a obtenção de um impacto de larga escala”, indica.

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Fรกtima Missionรกria


DOSSIER

Os sete desafios da América de Trump

Donald Trump derrotou Hillary Clinton a 8 de novembro. A 20 de janeiro de 2017 tomará posse como presidente dos Estados Unidos da AMÉRICA. Nos quatro anos do seu mandato liderará a mais poderosa nação, mas também um país muito dividido no interior e muito desafiado no exterior

Texto | Leonídio Paulo Ferreira* Fotos | LUSA

Contrariando as sondagens, o republicano Donald Trump ganhou as eleições presidenciais de 8 de novembro nos Estados Unidos da América (EUA). O seu discurso político, marcado pelo isolacionismo e pela xenofobia, atraiu o eleitorado tradicional do Partido Republicano e também franjas da classe média que costumavam votar democrata. Trump, denunciando a imigração ilegal e a deslocalização de fábricas para o estrangeiro, cativou milhões de americanos que perderam o emprego nos últimos anos e que sentem que a globalização nada de positivo lhes trouxe. A candidata democrata, Hillary Clinton, não foi capaz de libertar-se da imagem de ser membro da elite e de ter uma agenda mais preocupada com temas como a multiculturalidade e os direitos das minorias do que com as questões sociais relacionadas com a pobreza. No final, Hillary teve mais votos (61 milhões contra 60 de

Trump) mas o sistema americano, que se baseia em 51 minieleições (o número de estados mais Washington, D. C.), deu a vitória ao rival, que ultrapassou a barreira dos 270 votos no Colégio Eleitoral, bilhete para a Casa Branca. A tomada de posse de Trump, que com 70 anos é o mais velho Presidente de sempre, está marcada para 20 de janeiro de 2017. Durante os quatro anos do mandato terá que lidar com desafios como a concorrência económica da China, o regresso da rivalidade da Rússia, as tensões de uma sociedade cada vez mais multicultural, a crescente desigualdade social e o fosso cada vez maior entre os grandes partidos. O mundo reagiu com desagrado à eleição de Trump, sobretudo entre os aliados europeus da América, mas os primeiros sinais dados pelo novo Presidente são de alguma moderação em relação ao prometido no calor da

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campanha: por exemplo, o célebre muro a construir junto à fronteira com o México agora pode ter zonas de vedação. A escolha em breve dos nomes para a futura Administração (governo) que o acompanhará em Washington pode indicar se Trump pretende ser um pragmático ou se será um Presidente tão errático como foi enquanto candidato.

1. Contrariar a ascensão da China Este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês deverá crescer 6,6 por cento enquanto o americano se ficará por um aumento de 1,5 por cento. Ora, isso significa que embora os EUA, com uma riqueza nacional de 17,9 biliões de dólares, continuem a ser a maior economia, o fosso com a China é cada vez menor, a ponto de uma ultrapassagem a médio prazo ser possível (o PIB chinês atual é de 10,9 biliões). Quando Trump falou de “fazer a América grande de novo”, um dos seus slogans de campanha, estava a mostrar saudades de um tempo em que os EUA eram a superpotência dominante, com um PIB que representava metade da riqueza mundial. Mas isso foi logo a seguir à Segunda Guerra Mundial e não será por fechar fronteiras aos produtos chineses, através de tarifas elevadas, que o novo Presidente irá restabelecer uma ordem mundial desaparecida. O melhor seria ler o que escreveu Paul Krugman, ainda antes de receber o Nobel da Economia: “É muito difícil imaginar como é que o tipo de supremacia que os EUA tiveram pode regressar. A América não dominará a economia mundial da forma como o fazia, não porque esteja a fazer algo errado, mas porque outros países também estão a fazer algo bem. E isso são boas notícias para todos”. Ou seja, Trump não criará emprego 18

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escreveu Paul Krugman, ainda antes de receber o Nobel da Economia: “é muito difícil imaginar como é que o tipo de supremacia que os EUA tiveram pode regressar. A América não dominará a economia mundial da forma como o fazia, não porque esteja a fazer algo errado, mas porque outros países também estão a fazer algo bem. E isso são boas notícias para todos”


fechando o mercado, até porque os EUA sofreriam retaliações comerciais que afetariam as suas exportações, mas sim aumentando a produtividade dos seus trabalhadores. E isso pode passar por uma relação com a China de grande proveito mútuo, como quando os engenheiros californianos imaginam os iPhone ou iPad e a Apple os encomenda a uma fábrica dos arredores de Cantão. Um dia destes a China será mais rica como país, mas mesmo assim os americanos em média continuarão muito mais ricos do que os chineses por muitos anos.

2. Evitar nova Guerra Fria com a Rússia Trump já conversou ao telefone com Vladimir Putin depois de ter sido eleito. E tendo em conta a troca

de elogios à distância, durante a campanha eleitoral americana, a conversa teve tudo para correr bem. O novo Presidente já disse várias vezes não ser defensor de uma nova tensão com a Rússia, uma espécie de regresso da Guerra Fria dos tempos da União Soviética, mas a supremacia militar americana (um orçamento de Defesa nove vezes maior) permite-lhe dialogar com mão firme com o Kremlin. Putin, que já lidou com presidentes como Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, tem perfeita consciência da diferença de meios atuais e se os interesses americanos são globais, as prioridades estratégicas da Rússia são na sua vizinhança e pouco mais, seja a Ucrânia ou o Médio Oriente. Talvez Trump esteja disposto a ouvir os alertas de Henry Kissinger, o guru da diplomacia americana, que tem insistido que “a Rússia deve ser entendida como um elemento essencial de qualquer equilíbrio global” e procure com Putin uma solução para a guerra na Síria, que traga a aniquilação do Estado Islâmico, o inimigo comum. Isto terá de ser feito de forma a defender a unidade da NATO, aliança que não gostou de ouvir Trump criticar o baixo nível de despesas de alguns Estados-membros e ameaçar, por isso, com a falta de solidariedade americana em caso de ataque.

3. Eliminar a ameaça terrorista Trump já contou várias vezes que estava em Nova Iorque a 11 de setembro de 2001 e que da janela da sua Trump Tower assistiu à derrocada das duas Torres Gémeas na ponta sul de Manhattan, depois de atingidas por dois aviões comerciais desviados pela Al-Qaeda. Passados mais de 15 anos, a Al-Qaeda perdeu protagonismo (o fundador, Osama

bin Laden, foi morto por ordem de Obama no Paquistão em 2011) e é o Estado Islâmico que mais ameaça a América. Dois recentes atentados em solo americano, o de San Bernardino e o de Orlando, foram obra de gente que vivia nos EUA e que cedeu à tentação de ser mártir. Em reação, durante a campanha, o agora Presidente eleito prometeu destruir o Estado Islâmico nas suas bases na Síria e no Iraque, num prazo de cem dias, e proibir a entrada de muçulmanos nos EUA, com a segunda proposta a gerar protestos mundo fora. Na Casa Branca, Trump terá de combater a ameaça jihadista sem ceder à tentação da islamofobia (há quatro a cinco milhões de americanos muçulmanos) nem alienar os tradicionais aliados islâmicos, desde Marrocos ao Paquistão, passando pela Arábia Saudita. É um dos desafios para o qual o magnata do imobiliário agora feito político parece menos preparado para enfrentar.

4. Libertar-se da dependência do petróleo O ano de 2015 foi excecional: os 14 milhões de barris de petróleo diários fizeram dos EUA o primeiro produtor mundial, à frente da Arábia Saudita (11,6 milhões) e da Rússia (10,8 milhões). Mas bastou o preço do barril baixar para menos de 50 dólares para muitos poços americanos fecharem, dado o alto custo da tecnologia para extração do chamado petróleo de xisto. Só isto, somado aos EUA serem a civilização do automóvel (800 carros por mil habitantes, só abaixo de microestados como Mónaco e San Marino) deveria levar o novo Presidente a pensar nas energias renováveis. Mas Trump, que nem sequer aceita que a poluição está a destruir a atmosfera e a provocar o

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aquecimento global, estará rodeado de defensores dos carros que bebem galões e galões de gasolina, estando pois destinado a ser um defensor do petróleo. Disse mesmo, e sem estar a brincar, que o carvão é uma energia limpa. Assim, há poucas hipóteses de ver a primeira economia mundial tornar-se amiga do ambiente. E as palavras de Elon Musk, o visionário presidente da Tesla, sobre como “podemos dar energia à América cobrindo um pequeno canto do Utah com painéis solares”, não têm quaisquer hipóteses de serem ouvidas por quem manda em Washington, o que significa muita dependência do crude do Médio Oriente, a tal região onde tropas americanas continuam a combater.

5. Reconstruir o sonho americano Uma sondagem publicada no ‘Huffington Post’ mostrava que 60 por cento dos americanos consideram que o sonho americano morreu. E o que era esse sonho? Acreditar que através do trabalho esforçado era possível sustentar uma família, comprar casa e carro, enviar os filhos para a universidade e esperar que tivessem vida melhor do que os pais. A verdade é que a classe média tem vindo a diminuir, sendo hoje já menos de 50 por cento dos 323 milhões de americanos e, pela primeira vez na história recente, menos do que a soma das classes pobre e rica. Trump culpou muito a globalização dos males da economia americana e prometeu devolver a esperança a muitas famílias vítimas da desindustrialização, o que lhe valeu votos inesperados na chamada “cintura da ferrugem”, estados como o Ohio ou o Michigan. Mas o futuro Presidente, também defensor de menos impostos para os ricos, vai 20

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ter de lutar contra as crescentes desigualdades também no outro extremo: segundo a revista ‘Forbes’, a mesma que inclui Trump entre os grandes magnatas mundiais, “os CEO de topo ganham mais de 300 vezes o salário médio de um trabalhador”. E nas últimas quatro décadas, com os valores já ajustados à inflação, os salários dos gestores cresceram 1.000 por cento enquanto o dos trabalhadores subiram apenas 11 por cento.

6. As contradições da nação arco-íris Foi à África do Sul pós-Apartheid e democrática que se começou a chamar de nação arco-íris, mas os EUA cada vez mais merecem esse título: pensemos em Barack Obama, filho de um imigrante queniano e de uma americana do Kansas com raízes irlandesas, e que chegou à Casa Branca; ou em Kamala Harris, agora eleita senadora pela Califórnia, que é filha de um jamaicano e de uma indiana. Os brancos não hispânicos

são hoje 62 por cento da população, mas as previsões a 20 anos remetem-nos para 51 por cento e as a 50 anos para 46 por cento. É que os hispânicos não param de aumentar (são já 18 por cento), ultrapassando os negros como primeira minoria, e os asiáticos também são cada vez mais. Trump, que foi eleito graças ao voto branco, terá de se adaptar a uma sociedade multicultural e mesmo as suas ameaças de deportar os imigrantes ilegais, sobretudo mexicanos, ou de construir um muro na fronteira, não alterará grande coisa a tendência demográfica. Em estados como a Califórnia os brancos são já uma minoria perante a soma das outras comunidades e, no entanto, isso não afeta a prosperidade do mais populoso dos 50 estados, que, se fosse um país, disputaria com a França o estatuto de sexta economia mundial.

7. Sarar o grande fosso entre republicanos e democratas A América estava dividida, saiu destas eleições ainda mais dividida.


Trump, que foi eleito graças ao voto branco, terá de se adaptar a uma sociedade multicultural e mesmo as suas ameaças de deportar os imigrantes ilegais, sobretudo mexicanos, ou de construir um muro na fronteira, não alterará grande coisa a tendência demográfica

Há republicanos a querer usar a vitória de Trump para revogarem toda uma série de leis adotadas nos últimos anos por Obama – como o programa de saúde; há democratas a argumentarem que Hillary ganhou no voto popular e por isso deveria ser ela a estar na Casa Branca e não o rival. Com um Congresso dominado

pelos republicanos (maioritários no Senado e na Câmara de Representantes), o futuro Presidente terá a tentação de moldar o país à imagem dos seus partidários e para isso o controlo do Supremo Tribunal é decisivo. Formado por nove juízes vitalícios, o órgão que interpreta a Constituição só é renovado

quando um deles morre ou decide reformar-se. Quando isso acontece, o Presidente nomeia alguém e o Senado confirma a escolha. Mas a morte do ultraconservador Antonin Scalia deixou os juízes empatados a quatro entre um bloco liberal e um bloco mais conservador, com Obama a nomear Merrick Garland e o Senado a não dar curso defendendo que tal deveria competir ao seu sucessor. Agora Trump será pressionado a nomear alguém que seja contra o aborto e contra o casamento homossexual, legais hoje em dia na América. É previsível que escolha também alguém que não queira mexer nem na lei sobre posse de armas (muito laxista) nem na pena de morte, tema que não está na agenda dos partidos. E tendo em conta a idade avançada de outros juízes, poderá mesmo surgir a oportunidade de formatar um Supremo Tribunal ultraconservador, o que não ajudará a pacificar a sociedade americana. *jornalista do DN

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mãos à obra

Poço leva água potável a escola indígena

Comunidades da região do Baixo Cotingo, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no norte do Brasil, criaram uma escola onde os jovens podem continuar a aprender a língua materna e a manter-se identificados com a cultura tradicional. Faltava um poço para lhes garantir o acesso a água potável Texto | Francisco Pedro Foto | DR

Após a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), no estado brasileiro de Roraima, e a retirada do território dos não índios, as comunidades indígenas vão lentamente retomando a produção própia de alimentos, ganhando autonomia e reforçando a transmissão dos seus valores culturais. Distribuídos por uma área com mais de 17 mil quilómetros quadrados, os 19 mil habitantes, pertencentes a 209 comunidades, das etnias Makuxi, Ingarikó, Taurepang, Jarekuna, Patamona e Wapixana, enfrentam agora novos desafios, relacionados com a autossustentabilidade, saúde, segurança, criação de infraestruturas e educação. E foi precisamente pela falta de entendimento no que respeita ao ensino da língua indígena que a comunidade

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da Serrinha, na região do Baixo Cotingo, decidiu criar, em 2014, uma nova escola de ensino fundamental e médio, para acolher cerca de oito dezenas de alunos e servir de local de encontro para as reuniões comunitárias. Além de transmitir os conhecimentos da sociedade moderna, tem como objetivo pedagógico também o ensino da história e dos valores tradicionais, tais como os contos, cantos e danças, pinturas, costumes e a língua indígena. Criada a escola, faltava resolver o problema da falta de água, que se tem agravado nos últimos anos pela estiagem prolongada no estado de Roraima, e que obriga a população da Serrinha a esperar pelo abastecimento por um camião cisterna, o que nem sempre acontece. Mais uma vez, a comunidade propôs-se a pôr mãos à obra, e pediu ajuda aos Missionários da Consolata, para angariar 5.000 euros, a verba necessária para construir um poço artesiano. A campanha de recolha de fundos já está em curso, e logo que possível, será feita a escavação que irá levar depois uma caixa com capacidade para 5.000 litros de água. No local será ainda instalado um gerador que alimente a bomba de extração. Desta forma, os líderes indígenas e os missionários contam prevenir os riscos de doenças associadas ao consumo de água não potável, quer nos alunos, quer na restante população.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

As crianças são sempre as primeiras vítimas dos frágeis sistemas sanitários, das secas, das guerras, dos conflitos armados... Porque são as mais indefesas, as mais vulneráveis da sociedade…. É, sem dúvida, uma autêntica obra de misericórdia alimentar, vestir, consolar, dar carinho e afeto aos mais desprotegidos. Ontem, como hoje! Nesta foto de arquivo, uma irmã missionária da Consolata dá o biberão a um bebé órfão do povo Kikuyu, em Tuhtu, primeira Missão da Consolata no Quénia. Foto | ARQUIVO

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# gente nova em missão NATAL

Olá amiguinhos missionários, estamos no mês de dezembro, a trilhar o caminho para o nascimento de Jesus. E já agora, como se chama a este tempo litúrgico de preparação para a festa que se aproxima? O Advento, pois claro! Como já havíamos explicado há um ano, este ano pastoral foi especial, o Jubileu da Misericórdia terminou em novembro. Agora e como vamos receber o nosso querido Papa Francisco em Fátima no mês de maio, a diocese do Porto decidiu atribuir este ano pastoral à Mãe de Jesus, Maria Texto | ÂNGELA E RUI Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Alegria, palavra chave na vida dos amigos de Jesus

O tema deste ano pastoral é muito apelativo: “Com Maria renovai-vos nas fontes da alegria”. O objetivo é trabalhar para construir um futuro com esperança e alegria, guiados pela mão daquela que disse sim com fé, mesmo sabendo o caminho que a esperava. Muitas vezes vocês devem estranhar de verem pessoas que dizem acreditar em Deus, andarem sempre desanimadas e tristes. Então, mas como é que isso é possível? Se sabemos que Deus é amor, que tem uma misericórdia infinita por nós, 24

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que estará sempre connosco, que nos ensina a partilhar, a amar, então isso não deveria ser motivo para estarmos sempre confiantes e tranquilos? A resposta é sim. Então como fazer essas pessoas entenderem que o cristão é feliz? Maria pode ajudar. Quando pensamos na Nossa Mãe do Céu, o que é que nos vem à cabeça? Escrevam estas palavras num desenho que façam dela: acolhimento, ternura, esperança, consolação, orientação na missão, alegria!


Sabias que

Nas bodas de Caná, Ela nos ensina: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” (Jo 2,5)

MOMENTO DE ORAÇÃO

100 anos das Aparições de Nossa Senhora

Já vai fazer um século que a “Senhora mais brilhante que o Sol”, a nossa Mãe, apareceu aos pastorinhos. Na catequese procurem com os vossos catequistas e coleguinhas celebrar e partilhar com a comunidade e, em vossas casas, enfeitar os cantinhos de oração com desenhos ou frases para se lembrarem sempre da grande família cristã a que pertencemos com alegria. E sem esquecer deste pormenor tão especial feliz Natal para todos!

Amigo Jesus Percorro este caminho junto à Sagrada Família Que o meu coração fique preparado Para Ti, pequenino, que nascerás para nos trazeres o tempo O tempo do Reino, a mensagem que nos transforma E com Maria aprendamos a dizer sim Sim Jesus, eu quero ser um missionário Um missionário da alegria Ámen Pai Nosso Ave Maria Glória

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tempo jovem

Somos convidados a ser “loucos por amor A Deus e ao próximo,” da forma que mais se adequa aos nossos talentos e capacidades

Sim, porque quem dá e partilha o melhor de si a outros e com outros é, na perspetiva do nosso mundo, um “louco varrido”. Mas na dinâmica do Evangelho, é um “louco bem-aventurado”

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FElizes são os "loucos" Texto | ÁLVARO PACHECO Foto | FRANCISCO PEDRO

Uma das frases mais usadas recentemente no contexto da nossa Igreja, desde que o Papa Francisco escreveu a encíclica “A alegria do Evangelho”, é precisamente essa: todos ou quase todos mencionam “A alegria do Evangelho” nos seus escritos, opiniões e ideias. Não, não vou falar sobre ela, mas sobre uma outra atitude que brota do Evangelho e que o caracteriza, tal como à pessoa de Jesus, até porque como dizia alguém, o Evangelho é a própria pessoa de Jesus Cristo. Como já adivinharam, a palavra que escolho para esta minha reflexão é “loucura”, também porque está na moda definir de “loucos” os anos e eventos recentes, desde o absurdo e loucura que é a guerra na Síria (são já cinco os seus anos de vida) até ao ‘Brexit’ inglês, passando pela mais recente loucura: a eleição de Trump como Presidente dos Estados Unidos da América. Mas não é de política que quero falar, mas sim da loucura do Evangelho e da pessoa de Jesus. Sabemos o quanto ele era odiado e perseguido pelos poderosos do seu tempo, sobretudo religiosos, o que já por si é de loucos, pois deveriam ter sido eles os primeiros a dar-se conta de que, em Jesus, Deus estava encarnando na história e na vida da humanidade. De facto, as suas palavras e ações eram consideradas absurdas e loucas, heréticas e blasfemas por muitos dos que o escutavam, enquanto os seus discípulos e amigos mais próximos tinham também imensa dificuldade em perceber e aceitar a novidade do seu discurso e a forma de se relacionar com as pessoas, sobretudo com os que a sociedade “normal” considerava de “amaldiçoados.” Jesus tinha tanto de fantástico e maravilhoso como de louco nos seus discursos e atitudes, elucidadas num comportamento que por vezes o pôs em sério risco de perder a vida. Mas é precisamente nesta loucura sã e positiva que reside a Boa Nova que ele veio trazer. ‘Boa’ porque Jesus centrou sempre a sua atenção e dedicação no bem-estar integral de cada pessoa que encontrava e ‘Nova’ porque, como dizia um guarda do templo, “nunca ninguém tinha falado assim”. Ou seja, revolucionou o modo de se entender a essência e a identidade de Deus (Deus é Amor) e aproximou o ser humano à sua própria “divindade”, chamando-nos de “amigos” e dando por nós

a vida. Mais ainda: a novidade está sobretudo centrada no modo como Jesus se relaciona com Deus, chamando-o de Pai, e nas atitudes que tinha em relação a todos, seja de acolhimento, cura e consolação para com muitos, seja de crítica construtiva e convite à conversão feita a alguns. E nós? Compreendemos esta loucura de Jesus? Certamente não é fácil também para nós compreender e aceitar, muito menos praticar, alguns dos ensinamentos e atitudes que ele teve ao longo da sua missão. Mas se por “loucura” entendermos “amor radical”, então será fácil perceber a lógica de Jesus e a sua loucura, uma loucura capaz de transformar a solidão e a discriminação a que muitos eram condenados em acolhimento que os renovava e ajudava a redescobrirem a sua dignidade, beleza e valor perante Deus e os outros. Como tal, Jesus aceita o desafio de “educar” homens e mulheres lentos de compreensão, mas com um coração grande e generoso a quem chamou discípulos e amigos, formando-os na escola do amor e na comunidade da partilha, de modo a criar as raízes daquilo que somos hoje: membros do corpo da Igreja, da qual ele é a cabeça. É desta loucura que o mundo precisa, não da que destrói e mata, da que corrompe e explora, da que oprime e discrimina. Somos convidados a ser “loucos por amor a Deus e ao próximo,” da forma que mais se adequa aos nossos talentos e capacidades. Loucura significa também, neste contexto, ser-se apaixonado pela humanidade e, como todo e qualquer apaixonado que quer somente o bem de quem ama, o discípulo e missionário de Jesus deve ser um louco apaixonado por Deus e pelo ser humano, ser que manifesta a sua identidade e essência em múltiplas culturas, tradições e modos de vida. Claro que seguir Jesus de mais perto, através da vocação missionária, religiosa e/ou sacerdotal exige uma boa “dose de loucura”, porque muitos são os que deram e dão inclusivamente a vida ao serviço da missão em muitos cantos do mundo. Para mim, um dos termos que define esta “loucura de Cristo” e que dá sentido profundo à vida é partilha. Sim, porque quem dá e partilha o melhor de si a outros e com outros é, na perspetiva do nosso mundo, um “louco varrido”. Mas na dinâmica do Evangelho, é um “louco bem-aventurado.”

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sementes do reino

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | LUSA

”Que pretendo fazer para que em mim as trevas não me enganem nem me impeçam de optar pelo que me torna livre e solidário? Quando essa Luz divina chegar, onde estarei eu? Onde estará o meu coração?

O Verbo, a segunda pessoa da Trindade, encarnou no seio da Virgem Maria para dar àqueles que o recebem, aqueles que acreditam nele “o poder de se tornarem filhos de Deus”. Existirá comunhão mais perfeita e total que permita ao homem partilhar a mesma vida de Deus? No Verbo encarnado, nesta criança de Belém, Deus não é mais um ser longínquo, ele torna-se o pai e o irmão do próprio homem.

Leio a Palavra (Jo 1, 1-18)

O Prólogo, colocado ao início do Evangelho de João foi o último a ser escrito. É a síntese final, colocada no início. Nela, João descreve a caminhada da Palavra de Deus que precisava de chegar mais perto de nós e tornar-se carne em Jesus. Tudo o que ele diz e faz é a comunicação que revela o Pai. Ao dizer «No princípio era o Verbo», João recorda a primeira frase da Bíblia que diz: «No princípio Deus criou os céus e a terra» (Gn 1,1). Deus criou tudo através da Sua Palavra. «Ele falou e a vida surgiu» (Sl 33,9, 148,5). Todas as criaturas são uma expressão da Palavra de Deus. Esta Palavra viva de Deus, omnipresente, brilha na escuridão e nada a pode impedir. João Baptista veio para dar testemunho

da luz mas «João não era a luz”. Assim como a Palavra de Deus se manifesta na natureza, na criação, também se manifesta no «mundo», isto é, na história da humanidade e, em particular, na história do povo de Deus. Mas o «mundo» não reconhece nem acolhe a Palavra. «Ele veio para os seus, mas eles não o receberam.» Mas àqueles que a receberam e acreditaram em seu nome deu-lhes o poder de se tornarem “filhos de Deus”.

Saboreio a Palavra

“O Filho único” que dá a conhecer o Pai é o resumo deste Evangelho. Jesus Cristo, Palavra encarnada. É a única fonte de vida e luz, ele é Deus que decidiu residir entre nós. Tudo o que Deus é em sua própria natureza: amor e luz se manifesta nesta pessoa adorável de Jesus que, infelizmente, não é acolhido nem reconhecido. O mundo não reconheceu o seu Criador, não acolheu o seu Salvador. Mas a luz vence as trevas e aqueles que acolhem essa Palavra de Deus que é luz, tornam-se filhos de Deus.

Rezo a Palavra

A leitura deste Evangelho tem a força necessária para me convencer que Jesus Cristo é a Palavra encarnada de Deus? Como acolho na minha vida esta luz e verdade que a maioria rejeita e despreza?

Vivo a Palavra

É fácil constatar que a multiplicidade de luzes humanas me impedem de ver a verdadeira luz. Viver este Evangelho exige uma mudança corajosa que me leva a renunciar à violência do consumismo e da diversão fugaz. Que pretendo fazer para que em mim as trevas não me enganem nem me impeçam de optar pelo que me torna livre e solidário? Quando essa Luz divina chegar, onde estarei eu? Onde estará o meu coração? 28

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A palavra faz-se missão

DEZEMBRO

04

2º Domingo de Advento Is 11, 1-10; Rom 15, 4-9; Mat 3, 1-12

O lobo e o cordeiro

Quando virão esses dias anunciados pelo Profeta em que o lobo viverá com o cordeiro e a pantera com o cabrito? A realidade do mundo é tão diferente. Mas foi para isso que Cristo desceu até nós: para trilharmos caminhos de justiça e de paz e sabermos conviver em harmonia uns com os outros. É essa a missão que anunciamos. Quando é que o mundo a entenderá?

Faz-nos acreditar, Senhor, que são possíveis novos caminhos para a humanidade.

08

Festa da Imaculada Conceição Gen 3, 9-15.20; Ef 1, 3-6.11-12; Luc 1, 26-38

A flor da humanidade

Flor da humanidade e de toda a criação, e criatura perfeitamente realizada, é Maria que atraiu o olhar de Deus com a sua humilde beleza. Desde o princípio triunfa nela a harmonia com Deus e com os outros. É o ideal humano de justiça e santidade. Viver à sua imagem é procurar a sua beleza sem mancha, é superar egoísmos e tensões, é abrir o coração aos projetos de Deus.

Porque és espelho de Deus, ó Mãe, tinge-nos com a beleza de que Ele te revestiu.

11

3º Domingo de Advento Is 35, 1-10; Tiago 5, 7-10; Mat 11, 2-11

Uma nova humanidade

“Os cegos recuperam a vista, os coxos caminham, os leprosos são limpos...”. É a dinâmica missionária de Jesus. Não é só uma obra de misericórdia, é um mundo novo que Jesus quer formar: um mundo onde não haja ninguém que não pertença a alguém.

Ajuda-nos, Senhor, a caminhar ao lado das pessoas e a limpar o rosto desfigurado deste mundo.

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DEZEMBRO 4º Domingo de Advento Is 7, 10-14; Rom 1, 1-7; Mat 1, 18-24

Não fiques parado

Daqui a dias é Natal. Põe-te a caminho e vai até Belém. Não encontrarás um Deus triunfante e glorioso, mas um menino frágil e pequeno. Procura o rosto de Jesus no rosto amedrontado dos oprimidos, na solidão dos infelizes, na amargura de tanta gente, onde Jesus continua a nascer e a viver em fragilidade.

Dá-me os teus olhos, Senhor, para descobrir o teu rosto nas fragilidades do nosso mundo.

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Natal do Senhor Is 9, 1-6; Tito 2, 11-14; Luc 2, 1-14

A luz do presépio

Vamos todos nascer de novo com Ele e inventar situações de paz. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. É a grande mensagem do nosso Deus! Vive o mistério do Natal, coloca-o no teu coração, para que Ele possa, por teu intermédio, tornar-se o coração do mundo.

A luz que emana do teu presépio, ó Jesus, inunde os nossos corações.

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intenção pela evangelização

Festa da Sagrada Família Sir 3, 3-7.14-17; Col 3, 12-21; Mat 2, 13-23

A beleza de uma família

Que grande dom é ter uma família que te ama, te acolhe e te sustém. Que graça é ter alguém com quem contar e em quem confiar. Ter um espaço onde se pode descobrir o desígnio do amor de Deus sobre cada um de nós, onde se pode rezar juntos e aprender a abertura aos outros.

Santa Família de Nazaré, protege, abençoa e acolhe os anseios das nossas famílias.

Para que os povos europeus redescubram a beleza, a bondade e a verdade do Evangelho, que dá alegria e esperança à vida

REDESCOBRIR O EVANGELHO NA EUROPA A Europa, um continente de profundas raízes cristãs, que em tempos enviou milhares de missionários para evangelizar outros continentes está, agora, a ficar descristianizado. As vocações escasseiam, os seminários estão (quase) vazios. A própria Igreja parece ter adormecido no tempo, sentada na soleira do seu próprio adro a lamentar o tempo que foi e os templos que um dia estiveram cheios de cristãos batizados. Como redescobrir o vigor do Evangelho numa Europa velha e cansada? A Igreja deve desacomodar-se, sacudir o pó, sair para a rua e “cheirar a ovelha” (Papa Francisco). Ir ao encontro do povo, lá onde ele está, com prioridade para as periferias sociais, económicas e existênciais. E não ter medo de oferecer o Evangelho, na gratuidade, pelo testemunho de vida. Essa é a nossa prece: que a Europa se vista novamente da beleza e da alegria do evangelho! AB

Darci Vilarinho

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Fátima Missionária

Um cristão católico pode criticar a Igreja? Rodrigo Costa

“No necessário, unidade; na dúvida, liberdade; em tudo, caridade”, pedia Santo Agostinho. E quanta sabedoria de vida encerra esta frase. Dizia também: “Aos elogios que me corrompem, prefiro as críticas que me aperfeiçoam”. Quase que me bastariam estas palavras deste grande santo da Igreja para responder a esta pergunta. Acrescento que a crítica, quando construtiva, feita com assertividade, é até necessária, se entendida como caminho de purificação, de conversão. Muitos foram os santos que ao longo da História fizeram críticas, por vezes severas, ao funcionamento da Igreja Instituição, aos rumos que tomava, por vezes às derivas conservadoras ou progressistas,

ESTOU A MELHOR!

Sou amigo dos Missionários da Consolata há bastantes anos e até tenho ficado hospedado com a minha família, a carregar as baterias, no vosso Seminário em Fátima, onde me tenho sentido muito bem, em todos os aspetos. Tive um AVC em 2015, mas graças a Nossa Senhora da Consolata, estou a melhorar. Louvado seja Deus! Sou assinante da Fátima Missionaria. Junto envio um cheque de 50,00€ com este destino: 20,00€ para renovar a assinatura até 2018; 10,00€ para um missionário que

à avidez dos pastores, à sumptuosidade dos templos… Sabemos como o atual Papa Francisco é um autocrítico da Igreja que governa. E o seu testemunho de vida dá-lhe legitimidade às muitas das críticas que continua a fazer. Um exemplo: quando refere que a Igreja não se pode afastar dos pobres; quando pede aos bispos e padres para irem ter com o povo, para as periferias, “cheirar a ovelha”, denunciando os “bispos de aeroporto”, sempre em viagem. Resumindo, o católico pode e deve criticar, sim, mas usando argumentos construtivos, objetivamente fundados e que estão em linha com os valores e os princípios da doutrina católica. Críticas, sim, mas com caridade, com amor e a partir do seu próprio testemunho de vida. AB

se encontre em terras de missão; 20,00€ para celebrar duas Missas na comunidade de Fátima. Com respeitosos cumprimentos. Augusto Crucho

algumas migalhas

É com muita alegria que vos estou a escrever, enviando-vos a quantia de 700€ para renovar as assinaturas da minha lista de assinantes. Se deste pagamento restarem algumas migalhas, vocês saberão onde há mais necessidade. Respeitosos cumprimentos para todos. Celeste Areia


GESTOS DE PARTILHA

PROJECTO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE NOS A CONCRETIZÁ LOS CAMPANHA

“COMPRESSAAMIGA ” 2016

2017

Na Etiópia, todos os anos milhares de crianças são vítimas de queimaduras domésticas, por falta de condições de segurança nas habitações. Muitas não resistem aos ferimentos. Outras, ficam com marcas para o resto da vida. Na região de Oromia, os profissionais do Hospital Rural de Gambo, gerido pelos Missionários da Consolata, travam uma luta diária para salvar estes menores. E nem sempre têm à sua disposição os meios indispensáveis. 1,00€ = 2 tubos creme óxido de zinco 5,00€ = 5 caixas de gase gorda 10,00€ = 1 caixa de luvas hospitalares 25,00€ = 15 frascos de soro fisiológico 50,00€ = 30 embalagens de compressas

Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Campanha “COMPRESSA AMIGA” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05

VAMOS AJUDAR?

CRIANÇAS DE MKINDU – TANZÂNIA Mulheres Missionárias da Consolata - Mem Martins 500€; Mulheres Missionárias da Consolata - Fátima 643€; Piedade Cristina e amigas – Guia 140€; Amigo das missões – Chainça 80€; Procadimolde Fabricação e Comércio de Moldes 50€; Fátima Matias 10€; Marta Faia 15€; Paula Oliveira 20€; João Almeida 5€; Anónimo 44€; Helena Lobo 10€; Anónimo 100€; Helena Barros 80€; Rosa Matias 293€; Maria São José Lopes 10€; Maria José Moreira 10€; Odília Teixeira 200€; Florinda Peralta 6€; Anónimo 8€; Anónimo 25€; Total geral = 22.595,35€. BOLSAS DE ESTUDO Ludovina Morais 400,00€; António Costa 250€. CRIANÇAS DE IRÃ – GUINÉ-BISSAU José Dias 100€; Maria José Moreira 10€. GUIÚA – MOÇAMBIQUE Conceição Policarpo 100€. PADRE ANTÓNIO FERNANDES AMC (NÚCLEO ALGARVE) Anónimos 169€. OFERTAS VÁRIAS Maria Jesus 50€; Maria Gomes 100€; Ernesto Monteiro 100€; Conceição Morais 113€; Valdemar Vilar 60€; Casimira Vieira 40€; Alzira Borêcho 33€; José Almeida 43€; José Graça 93€; Ludovina Morais 32€; Fernando Campos 36€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Padre PEDRO LOURENÇO ORI

Construir a Igreja Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Ao partir desta vida para receber a paga do seu trabalho apostólico na terra, dizia do padre Ori um colega que muito com ele trabalhara, o padre João Genta: “Do seu nome Pedro pode dizer-se dele que serviu o Senhor na construção da sua Igreja: de catedrais, capelas, escolas e universidades; do seu nome Lourenço, que mereceu a coroa duma vida totalmente dedicada aos pobres e ao seu Instituto que amava acima de tudo”; do sobrenome Ori(=ouros), podemos dizer que dessa qualidade era a coroa que lhe colocou na cabeça o Senhor da Seara e da Vinha ao acolhê-lo na Terra Prometida do Céu. Pedro Lourenço Ori nasceu em 13 de julho de 1920. Entrou para os Missionários da Consolata e, durante a Segunda Guerra Mundial, como tantos outros seminaristas, teve de peregrinar amiúde dum seminário para o outro por causa dos bombardeamentos, e por causa da fome que atingia milhões de italianos desse tempo. Foi ordenado sacerdote na Festa da Assunção da Virgem Maria, em 1945. Com vários outros sacerdotes da Consolata foi enviado para Portugal. No seminário de Fátima fez um trabalho maravilhoso como educador, professor e ecónomo. Ali conheci durante vários anos a sua alegria e entusiasmo, e a sua dedicação perene ao

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Fátima Missionária

Instituto. Quando o padre João De Marchi partiu para a América, coube ao padre Ori continuar a direção da construção do seminário. De carácter altamente alegre e expansivo, brincalhão e afável, sabia conquistar a confiança e a amizade das pessoas. Na música, era delicioso ouvi-lo cantar. Ainda recordo quando ele, o padre Cavallera e o padre Morando cantaram a Paixão do Senhor na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, algo que muita gente por bastante tempo recordou. Em 1955 encontrámo-lo missionário no Quénia, na diocese de Meru, onde permaneceu até 1970. Desejava construir uma igreja para uma comunidade cristã: a ‘sua’ igreja de Nkubu foi sagrada com o batismo de 500 cristãos e 50 casamentos. O seu envio para a Etiópia em 1971 encheu-o de alegria, pois ia trabalhar de novo ao lado do padre João De Marchi, de quem o padre Ori disse: “Estou pronto a ir com o padre De Marchi mesmo até ao fim do mundo!” Em 2 de outubro de 2001, ao celebrar os seus 60 anos de profissão religiosa, já a sua saúde declinava apressadamente. E pouco depois, em 31 de julho de 2003, terminava a sua vida de entusiasmo apostólico frenético cá na terra. Bem-aventurados os que adormecem no Senhor.


O QUE SE ESCREVE

Deus ou Nada Entrevista sobre a fé

Este livro resulta de uma inspiradora conversa entre o vaticanista francês Nicolas Diat e o cardeal guineense Robert Sarah. Foi arcebispo de Conacri de 1979 a 2001, e em 2014 foi nomeado pelo Papa Francisco prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. O estilo é autobiográfico e prende o leitor, tal o interesse dos temas e a profundidade com que são abordados por um dos mais desassombrados cardeais da Igreja Católica Autor: Cardeal Robert Sarah, com Nicolas Diat 344 páginas | Preço: 22,95€ Lucerna

Ler a Bíblia em 100 episódios

Advento e Natal para Crentes e Não-Crentes

Este livro apresenta 100 episódios da Bíblia, fundamentais para uma primeira aproximação à Sagrada Escritura. Para cada episódio apresenta-se o texto bíblico, uma introdução e um comentário que permite ao leitor apreciar a profundidade e a riqueza do mesmo. É um conjunto de textos bíblicos que ajudam a compreender vários temas: a vida e a morte, a fé e a incredulidade, a esperança e o desespero, a fidelidade e a transgressão, a paz e a guerra.

Continuando a coleção "Para Crentes e NãoCrentes", este livro apresenta meditações escritas por Isabel Figueiredo e Jorge Reis-Sá para cada domingo do Advento e Natal. Um escreve para quem crê, dando pistas de ações concretas no final de cada reflexão. O outro reflete sobre a vida, o amor, a família, a paternidade, a maternidade, o futuro partindo dos textos para este tempo de Advento e Natal.

Autor: Piero Stefanie e Luciano Zappella 272 páginas | Preço: 15,00€ Paulus Editora

Beatriz, usa o Nariz!

Autor: Isabel Figueiredo e Jorge Reis-Sá 64 páginas | preço: 5,00€ Paulus Editora

Uma leitura da exortação A Alegria do Amor

Esta é a história de uma menina chamada Beatriz e do seu melhor amigo, o dragão Igor. A Beatriz tem um problema que a deixa sempre cansada: ela não sabe usar o seu nariz! Conta, por isso, com a ajuda do Igor, que é um dragão muito especial. "Beatriz, usa o nariz” é um recurso para consciencializar as crianças (e os adultos) para a importância da respiração nasal. O livro inclui um CD de oferta com a história narrada e canções originais.

A exortação apostólica pós-sinodal sobre o amor na família, assinada pelo Papa Francisco, apresenta muitas sugestões para revolucionar a pastoral familiar na Igreja. Um texto com tão grande riqueza necessita de uma leitura comentada, como a que se apresenta neste livro, para ajudar os bispos, os párocos, os agentes pastorais, os casais e todos os crentes a acolher tão grande desafio. O autor do livro participou como especialista nas duas assembleias sinodais sobre a família.

Autor: Ricardo Santos e Isabel Couto 32 páginas | Preço: 12,00€ Papa Letras

Autor: Maurizio Gronchi 96 páginas | Preço: 7,00€ Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“A religião é o meu hobby favorito. É profundo e voluptuoso, puro deleite. Nada se compara ao deleite que é possível ter desta atividade. A não ser, claro, da sedução. Quando se é um homem novo, essa é a melhor coisa a fazer” Leonard Cohen (1934-2016), cantor, compositor, poeta e escritor canadiano

“A grande doença do espírito é a infelicidade” João Lobo Antunes (1944-2016) neurocirurgião português

“Temos um sintoma de esclerose espiritual, quando o interesse se concentra nas coisas a produzir, em vez de ser nas pessoas a amar” Papa Francisco

“Posso não concordar com nenhuma das tuas palavras, mas lutarei até à morte pelo direito a dizê-las” Voltaire (1694-1778) escritor e filósofo iluminista francês

“Não aceitem o habitual como coisa natural, pois em tempos de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar” Bertold Brecht (1898-1956), dramaturgo, poeta e encenador alemão

“A vida dos pobres é demasiado séria para andarmos às experiências e teimosias” Alfredo Bruto da Costa (1938-2016), político português e ex- presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz 34

Fátima Missionária


Natal

PASSAGEM DE ANO

20162017

Para mais informaçþes ou reservas por favor contactar reservas@hotel.consolata.pt ou 249 539 400


NÃO POSSO ADIAR O AMOR Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração António Ramos Rosa in “Viagem Através de uma Nebulosa”

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