Tecnologia

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Ano LXIII | Dezembro 2017 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

tecnologia Aplicações informáticas ajudam populações isoladas MISSÃO HOJE

Papa agradece toalha com mensagens

Pano gigante escrito por peregrinos foi oferecido na visita a Fátima

DOSSIER

O passado e o futuro da Catalunha

Perguntas e respostas sobre o que está em jogo no processo de independência

Mãos à obra

Famílias plantam árvores para regenerar a floresta Missionários lançam projeto contra o corte desordenado de madeira


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 11 Ano LXIII DEZEMBRO I 2017 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

P. 16

“ PASSADO E FUTURO DA CATALUNHA

04 | EDITORIAL Segundo aviso 05 | PONTO DE VISTA Festejemos o Natal com sentido de amor 06 | HORIZONTES É de aprender? 07 | DESTAQUE A agricultura também é para jovens 08 | MUNDO MISSIONÁRIO

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 21.900 exemplares Diretor Albino Brás Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração, Ângela e Rui, Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, Ermanno Savarino, Leonídio P. Ferreira, Osório Afonso, Ramon Cazallas, Simão Pedro, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

10 | A MISSÃO HOJE Missionários lançam campanha para alimentar crianças desnutridas 11 | VOZES DA RUA Escutar as pessoas 12 | A MISSÃO HOJE Papa agradece mensagens deixadas em Fátima

. Roma

13 | FÁTIMA INFORMA Santuário celebra história centenária

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14 | ATUALIDADE Aplicações informáticas que mudam vidas

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22 | MÃOS À OBRA Cinco árvores por família para regenerar a floresta

Nova santa da Consolata em breve sobre o altar África Migrantes expõem injustiças económicas e sociais dos seus países de origem Timor Agricultores à espera de reforma agrária anunciada e prometida Nigéria Conflitos entre pastores nómadas e agricultores Guatemala Direitos humanos violados no departamento de Quiché

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23 | PEREGRINOS DE FÁTIMA

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26 | TEMPO JOVEM O meu Natal

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Ter um coração grato

28 | SEMENTES DO REINO “Eu sou a voz que grita no deserto” 30 | LEITORES ATENTOS 31 | GESTOS DE PARTILHA 32 | VIDA COM VIDA Tudo a partir de dentro 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Segundo aviso Há anos que os cientistas alertam para os danos que o ser humano está a causar ao planeta e da necessidade imperiosa de se tomarem medidas urgentes que evitem males maiores. Recentemente, 15.000 cientistas de 184 países alertaram para os riscos de desestabilização do planeta. Denunciam a falta de ações para preservar o meio ambiente e os ecossistemas. O aviso surge 25 anos depois daquele lançado em 1992 por 1.700 científicos, que já então alertavam a Humanidade para o impacto preocupante que as atividades humanas estavam a ter na natureza, e que poderia gerar “um grande sofrimento humano” no planeta. Pouco ou nada mudou. Apenas um avanço positivo: a camada de ozono foi estabilizada. Este documento é apresentado como um “segundo aviso”. Os problemas agravaram-se: a perda de quase 120,4 milhões de hectares de floresta; o aumento da população mundial em 35 por cento, que contrasta com uma redução de 29 por cento do número de mamíferos, répteis, peixes; o aumento das emissões de gases com efeito de estufa e da temperatura média do planeta, e a diminuição em 26 por cento da quantidade de água potável disponível por pessoa em todo o mundo. Para os cientistas este caminho é perigoso, mas afirmam que ainda

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Fátima Missionária

é possível reverter esta tendência para que os ecossistemas recuperem a sustentabilidade. Segundo eles, os científicos, os media e os cidadãos devem pressionar os seus governos para que tomem medidas. E instam os cidadãos a mudarem os seus hábitos e comportamentos, diminuindo o consumo de combustíveis fósseis, carne e outros recursos do planeta e adotem o uso das energias renováveis e outras tecnologias verdes. Se o tempo do Advento é um tempo de espera vigilante e renovação, e o Natal um tempo da iluminação – do Menino-Deus que encarnou e faz novas todas as coisas – talvez seja este o tempo favorável para repensarmos os nossos hábitos de vida e de cuidarmos melhor da nossa Casa Comum. Neste Natal, procuremos, por exemplo, fugir da lógica do consumo desenfreado, da excessiva produção de lixo e do desperdício alimentar. São pequenos passos. Mas, são passos! Mudança de hábitos, precisa-se. Deixar um planeta melhor para os nossos filhos? Sim. Mas, sobretudo, educar filhos melhores para o nosso planeta. Não seja o caso de, mais tarde, voltarem os cientistas com um derradeiro aviso. Feliz Natal! Albino Brás

Neste Natal, procuremos fugir da lógica do consumo desenfreado, da excessiva produção de lixo e do desperdício alimentar


PONTO DE VISTA

FESTEJEMOS O NATAL COM SENTIDO DE AMOR ISABEL JONET . PRESIDENTE DO BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME .

O Natal está a chegar. Um pouco por todo o lado, vamos tendo sinais exteriores como as decorações alusivas, com estrelas, bolas e laços; as iluminações, as árvores de Natal verdadeiras ou falsas que se multiplicam, as montras enfeitadas. Parece mesmo que já anda no ar um cheirinho a fritos, canela e especiarias. Multiplicam-se as ações de solidariedade para com os mais pobres e desprotegidos; organizam-se jantares com colegas; reencontram-se amigos que frequentemente esquecemos durante o resto do ano. As pessoas andam num afogadilho a procurar descobrir desejos, sonhos que estejam à altura das suas possibilidades e bolsas satisfazer. É extraordinário ver como, apesar das dificuldades, esta quadra desperta sentimentos. Sentimentos bons que muitas vezes ficam escondidos o resto do ano por falta de vontade ou disponibilidade. Li recentemente uma história engraçada que descreve um quarto rei mago que terá chegado atrasado porque ao longo da viagem foi sucessivamente abordado por diversas pessoas aflitas e com problemas e foi parando para os ajudar a resolvê-los. Foi dando tudo o

que levava para o Menino, desde as ofertas à coroa, passando pelo camelo e até pelas roupas. Demorou mais de 30 anos e quando chegou, era tarde e ficou triste. Só depois percebeu que dera muito mais do que os outros, porque se dera a ele próprio, despojando-se dos bens materiais para minorar sofrimentos. É engraçado como no afogadilho da vida, com a pressa de chegar, não reparamos muitas vezes nos que atravessam as nossas vidas; e as nossas vidas seriam esvaziadas de sentido sem os outros. Ainda recentemente o Santo Padre instituiu o Dia Mundial dos Pobres, a 19 de novembro, como uma chamada de atenção para as pessoas que vivem em condições indignas, no limiar de pobrezas e que precisam da solidariedade e amor de cada um de nós. Esta é, de facto, uma época especial, sobretudo para quem acredita no nascimento de Deus Menino: um recomeço que todos os anos dá esperança e alento. E a certeza que a vida tem sentido. Festejemos então o Natal como ele merece ser festejado, transportando estes bons sentimentos durante o resto do ano e estando atentos ao caminho que percorremos.

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horizontes

É de Aprender?

Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Luzia recebia mensagens de todo o lado. A todos, deixava um agradecimento sentido e algo envergonhado por se lembrarem dela. Os seus 82 anos de vida, quase sem rugas, povoaram o seu mundo de amigos. “Amigos” que ela apelidava de “bênção de Deus”, porque os sentia como presente de Deus. Os seus olhos sorriam por dentro – uma alegria que deixa escapar em gargalhadinhas suaves e gestos ternos. É religiosa numa pequena comunidade, onde é uma das cuidadoras das “irmãs velhinhas”, como ela carinhosamente trata as outras religiosas da sua comunidade. Irmã Luzia diz que nunca fez nada de especial: “só cozinhei e rezei. Ah, e também dei catequese durante alguns anos!” Contudo, todos sabem o quanto ela é. Na retaguarda, de voz baixa, tranquila, tentando passar despercebida, lá estava a irmã Luzia atarefada, de faces rosadas pelo calor da panela, a provar o tempero do caldo ou a massa dos rissóis. Tudo deveria ficar saboroso. Era o “jeito saboroso de amar”! Quem entrava naquela casa, tinha um lugar de visita obrigatória: a cozinha. Lá, havia um abraço afetuoso pronto a aconchegar. E mesmo resistindo, não se conseguia escapar a um miminho fresco a que se juntava uma lata de biscoitos amorosamente preparados para levar na bolsa. Do seu lugar, Luzia rezava em silêncio, ou cantava baixinho. Gostava tanto destas conversas de proximidade com o seu Deus, onde tudo era dito, confiado e apaziguado. Por isso, sempre que podia fazia “publicidade à oração” com uma técnica que nunca falhava: uma pergunta sorrateira que abria caminho para a conversa: 06

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– Então, tens falado muito com Nosso Senhor? Se tivesse como resposta um “não”, logo rematava com uma risadinha lançada com um olhar próprio de quem oferece um bombom: – Não te esqueças que Ele está à espera da tua conversinha. E a sua questão ficava por ali – assim, sem forçar, sem julgar, sem instruir. Só tocar à campainha e deixar acontecer, livremente. Luzia nunca estudara para além da 4ª classe do seu tempo, mas tinha a pedagogia do respeito, do interesse pela pessoa que encontrava, importava-se com ela, queria saber como estava, como vivia. E depois de saber, punha-se em movimento se precisassem dela ou dos seus contactos. Era pequenina de tamanho, e era assim que se via: não uma “pequenina” por ser “sem valor”, mas “pequenina” por ter tanto para crescer. O interessante é que media a todos pela medida grande, deslumbrada com o que eram capazes de fazer, de superar, de sonhar. Talvez por isso, tinha sempre histórias maravilhosas para contar, onde havia sempre pessoas a ocupar lugares de pedestal, por mais humildes que se pudessem considerar. Irmã Luzia não o fazia por usar lentes cor de rosa. Era mais por usar lentes que iam ao fundo do coração da pessoa que encontrava, e por querer ver mais fundo, via de verdade. O seu desejo de conhecer a pessoa, era capaz de a amar, e sem darem conta, ficavam presas pelo coração. Como aprendeu isto, a irmã Luzia? Aprendeu certamente com o coração – ou já o trazia consigo desde sempre, talvez! Pois, já o trazia consigo, certamente, tão genuína e natural que era! Haverá forma de o aprender? Se sim, e se é por aprendizagem, talvez um dia o consiga aprender também!


destaque

A agricultura também é para jovens Hlamalani Ngwenya teve o seu primeiro contacto com a agricultura, quando, em criança, acompanhava o pai aos campos de refugiados de moçambicanos, na África do Sul. As deslocações serviam para distribuir alimentos pelos deslocados, mas acabaram por moldar-lhe o futuro. Nunca mais se desligou da ‘terra’ e hoje corre mundo a incentivar os jovens a apostarem no setor agrário Texto | fRANCISCO PEDRO Foto | DR

“Precisamos tornar mais acessível o espaço agrícola e promover o setor muito para além da sua imagem estereotipada”

Num mundo em que a média de idade das pessoas que trabalham no campo ronda os 60 anos, há uma mulher sul-africana que procura inverter a ideia de que a agricultura não é atrativa para os jovens, e ‘salta’ de país em país, de conferência em conferência, a tentar convencer os mais novos que o setor agrário “tem muito para oferecer”, desde que cada um encontre o seu nicho de mercado. “Tenho uma enorme paixão por mostrar aos jovens as diferentes formas em que podem fazer parte do setor agrícola. Quando falo com estudantes, a grande maioria diz que não gostava de trabalhar no campo. Temos feito muitas investigações em diversos países africanos para perceber os motivos, e concluímos que muitas associam isso à pobreza. Por isso, o que procuro transmitir-lhes é que a agricultura é perfeita”, afirmou recentemente Hlamalani Ngwenya, em mais uma das suas intervenções, desta vez em Bruxelas, na Bélgica. Ngwenya, mais conhecida como Hlami, nasceu na África do Sul e, em pequena, começou a acompanhar o pai aos campos de refugiados moçambicanos, para lhes

levar alimentos. Deste contacto com os desfavorecidos e com a agricultura nasceu a sua grande paixão. Hoje, trabalha como consultora internacional de desenvolvimento rural, é empreendedora social e especialista em atrair jovens e mulheres para o setor agrícola. “Precisamos tornar mais acessível o espaço agrícola e promover o setor muito para além da sua imagem estereotipada. Apesar de para muitos a agricultura significar produzir nos campos ou trabalhar em pequenas porções de terra, também existem outras funções para apoiar o setor. Por este caminho, vamos atrair o interesse de pessoas que não se imaginam a trabalhar dentro da agricultura”, defendeu a consultora, que se define como uma apaixonada pelo trabalho comunitário. Ngwenya começou a carreira profissional como professora. Mais tarde especializou-se em nutrição. Em 1998 foi convidada a dar aulas numa escola agrícola e ligou-se definitivamente ao setor. A partir de 2001, passou a usar a sua experiência profissional para promover ações de integração na agricultura.

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mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Roma

Nova Santa da Consolata em breve sobRe o altar O Papa Francisco autorizou, a 8 de novembro, a promulgação do decreto sobre o martírio da missionária da Consolata Leonella Sgorbati. É um passo importante para reconhecer a santidade da missionária, assassinada na Somália em 2006. A irmã Leonella foi para a Somália, em 2002, com a missão de formar enfermeiras para o único hospital do país. Numa altura em que este enfrentava uma grave crise, sem governo e com uma população quase exclusivamente islâmica, sob forte influência extremista, o risco era muito elevado. Embora consciente dos perigos que a rodeavam, a irmã missionária continuou corajosamente a sua missão de gerir o centro de formação de enfermeiras. A 17 de setembro de 2006, quando deixava o hospital, depois de dar uma aula, e se dirigia para a casa das Missionárias da Consolata, foi abatida juntamente com o seu guarda-costas, por militantes islâmicos. Assistida no local, a missionária proferiu as últimas palavras: “Eu perdoo, eu perdoo”. Reconhecido o seu martírio, espera-se que muito em breve a Igreja proclame a sua santidade.

África

Migrantes expõem injustiças económicas e sociais dos seus países de origem

Os africanos em busca de asilo que chegam à Europa, ou que se deslocam no interior do continente, são pessoas que fogem às guerras, às mudanças climáticas ou à espoliação das suas terras ocupadas por multinacionais estrangeiras. Em África, mais de 15 milhões de hectares de terra foram monopolizados em larga escala, por empresas, particulares ou até governos, que deixam os locais, sobretudo os mais pobres, sem terras, sem casa e sem recursos. Moçambique ocupa o primeiro lugar entre os países que são vítimas desta predação: mais de três milhões de hectares estão nas mãos de multinacionais ou estados estrangeiros. Só uma sociedade dos Emiratos Árabes obteve uma concessão de 600 mil hectares que provocou a deslocação de meio milhão de moçambicanos que perderam os seus meios de sustento. É urgente que os africanos se levantem contra tamanhas injustiças e assumam em mãos os seus próprios problemas. 08

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MUNDO MISSIONÁRIO

TIMOR

AGRICULTORES À ESPERA DE REFORMA AGRÁRIA ANUNCIADA E PROMETIDA

“O povo de Timor tem necessidade de um desenvolvimento real”, afirmou num colóquio Jenito Santana, membro da direção do KSI – Instituto de Instrução Social, de Dili. “O povo do meu país precisa de instrução e de um sistema sanitário de qualidade e de segurança alimentar”, acrescenta. Para o dirigente, o potenciamento da agricultura, “faria aumentar o bem-estar de todos, contribuindo para criar uma sociedade pacífica e harmoniosa”. Timor tem 1,2 milhões de habitantes, é independente desde 2002, tendo enfrentado uma longa luta pela autodeterminação e pela independência da Indonésia. Cerca de 85 por cento da população tem na agricultura a sua base de sustentamento. A nova lei das terras propõe a distribuição de terrenos aos pequenos agricultores.

NIGÉRIA

CONFLITOS ENTRE PASTORES NÓMADAS E AGRICULTORES

Em Taraba, um dos 36 estados da Nigéria situado junto da fronteira dos Camarões, vivem várias tribos de agricultores, na maioria cristãos, que cultivam sobretudo o chá e o café. Os mesmos territórios são frequentados por populações nómadas, de origem muçulmana, dedicadas à pastorícia com grandes manadas de gado. Quando acontece que os pastores precisam de novas pastagens para os seus rebanhos, sequestram com a força terrenos aos agricultores, obrigando-os a fugir. Os conflitos, que não são de ordem religiosa mas económica, sucedem-se e aldeias inteiras são atacadas, obrigando os seus habitantes a fugir. Milhares de pessoas refugiam-se na periferia da cidade de Jalingo em busca de ajuda.

GUATEMALA

DIREITOS HUMANOS VIOLADOS NO DEPARTAMENTO DE QUICHÉ

As agressões aos defensores dos direitos humanos estão a aumentar. A estas juntam-se os conflitos no interior das famílias contra mulheres e crianças registados em diversos municípios do departamento de Santa Cruz de Quiché, habitado por indígenas do grupo étnico maya-ixil. A zona foi palco de massacres de indígenas durante os anos 80, durante a guerra civil que se prolongou desde 1960 até 1996. Atualmente os confrontos são devidos à realização de megaprojetos hidroelétricos altamente poluidores da região indígena maya-ixil, no norte da Guatemala.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

IGREJAS DE ROMA Celebramos a 3 de dezembro São Francisco Xavier que faleceu nesse mesmo dia, em 1552, às portas da China. Em Roma este grande missionário é especialmente venerado porque é aqui, na Igreja do Jesus, que desde 1614 são conservados, num relicário, o seu antebraço e mão direita. É uma relíquia que nos recorda os milhares de batismos que ele administrou, as bênçãos que proferiu, os pobres e abandonados que encorajou. Não quer isto dizer que uma relíquia tenha em si mesma qualquer poder mágico, mas nela se encerra em todo o caso uma memória visível da bondade do nosso Deus. A Roma cristã é de facto, toda ela um verdadeiro relicário, e há nesta cidade bem poucas de entre as suas 400 igrejas que não contenham os restos ou relíquias de algum santo ou santa. Não me consta que venham a Roma peregrinos com o intuito específico de venerar os santos junto aos seus restos mortais, embora se visitem as quatro basílicas maiores e talvez uma ou outra catacumba e aí se invoquem os santos a elas ligados. Quando vierdes a Roma não deixeis de procurar pelo menos algumas destas pérolas da fé, incluindo a bela igreja de Santo António dos Portugueses. Desejo-vos um feliz Advento e Santo Natal.

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a missão hoje

Missionários lançam campanha para alimentar crianças desnutridas Após três anos de presença em Angola, os missionários da Consolata juntaram-se aos profissionais de saúde que trabalham na Pastoral da Criança para desenvolver uma campanha de angariação de fundos que permita ajudar as crianças desnutridas Texto | SIMÃO PEDRO Foto | DR

a campanha “Crianças Saudáveis”, será inteiramente dedicada a reforçar o atendimento e acompanhamento de mães com filhos desnutridos

O pequeno Rodrigues tinha apenas cinco meses quando perdeu a mãe. Foi acolhido pela avó paterna, mas a falta do leite materno e as dificuldades económicas, fizeram com que fosse definhando em vez de crescer. Quando chegou ao centro de saúde da Pastoral da Criança, um mês depois de ter ficado órfão, pesava apenas seis quilos. Estava desnutrido, sofria de paludismo, febre tifoide e gripe. Passou a ser acompanhado pelas técnicas de saúde, quase todas religiosas, e hoje, com quase dois anos, pesa mais de 10 quilos e já sorri. Inspirados na história de Rodrigues, que é apenas uma num 10

Fátima Missionária

universo de milhares de outras semelhantes em Angola, os missionários da Consolata que trabalham nas paróquias da periferia urbana de Luanda – Santo Agostinho, em Kapalanga (diocese de Viana) e Nossa Senhora da Consolata, em Funda (diocese de Caxito) – decidiram lançar uma campanha de angariação de fundos, para ajudar as famílias desfavorecidas, com problemas de desnutrição. E pediram auxílio aos missionários da Consolata em Portugal, para, através do seu projeto anual de solidariedade, contribuírem para devolver o sorriso a muitas outras crianças angolanas. É assim que nasce a campanha “Crianças Saudáveis”, que


VOZES DA RUA

Escutar as pessoas Texto | RAMON CAZALLAS

será inteiramente dedicada a reforçar o atendimento e acompanhamento de mães com filhos desnutridos, em quatro aldeias das duas paróquias. O objetivo é assegurar visitas mensais às famílias carenciadas, proporcionar assistência médica para os casos mais graves e garantir complementos alimentares alternativos para minimizar os casos de desnutrição. Aos agregados familiares em situação crítica, a intervenção passa também pela entrega de uma cesta básica de alimentos, com arroz, feijão, óleo, açúcar, fuba de milho, farinha de soja, massa alimentar, leite, e um complemento alimentar, composto por uma mistura de ingredientes naturais ricos em vitaminas e proteínas. Devastada pela guerra durante décadas, a economia angolana viveu um período de prosperidade até há pouco tempo, fruto da exploração petrolífera, fonte principal dos recursos económicos do país. Com a queda do preço do crude e o alegado aumento da corrupção nas esferas do poder administrativo, o país entrou em crise, com consequências devastadoras para os mais vulneráveis: as crianças e os idosos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2016, Angola registou a mais alta taxa de mortalidade infantil: 156,9 crianças, por cada mil nascimentos.

Muitas vezes, sobretudo à noite, veem-se circular nas grandes cidades muitas carrinhas que distribuem alimentos e roupa aos carenciados. O pobre precisa de pão, sim, mais um pão acompanhado de um sorriso. O pobre precisa, muitas vezes, mais de alguns minutos da nossa vida do que uma esmola que nos tranquiliza; mais de um olhar compassivo e fraterno do que de tantas bonitas palavras. “A ausência do amor é a maior de todas as pobrezas”, dizia a Madre Teresa de Calcutá. Quem trabalha com as pessoas que vivem na rua deve ter presente que o pobre precisa ser escutado e valorizado, ser chamado pelo próprio nome, precisa de alguém para ter uma pequena conversa sobre a sua vida e sobre o que o faz estar na situação em que se encontra. O pobre precisa de amor, de se sentir querido e aceite como ele é. Esta é, por vezes, a maior ajuda. Estamos já a preparar o dia de Natal com as pessoas da rua. É uma experiência que marca as suas vidas. Que na próxima época natalícia vivamos o que diz o Papa Francisco: “A nossa vida cristã se acrescenta com a experiência dos pobres”. Feliz Natal a todos.

No caso das comunidades de Funda e Kapalanga, duas periferias urbanas que vivem imensas dificuldades, a população é um mosaico de diferentes etnias, e a maioria da população juvenil desempregada entrega-se à prática de meios ilícitos, para conseguir o essencial para o dia a dia. As condições sanitárias são muito precárias, o que gera muitas doenças, especialmente nas crianças. Lamentavelmente, muitas destas enfermidades, como a febre tifoide, anemia e malária, são tratáveis, mas continuam a ceifar vidas, devido à alimentação insuficiente e à falta de recursos financeiros das famílias.

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a missão hoje

Papa agradece mensagens deixadas em Fátima Mais de 10 mil peregrinos escreveram mensagens numa toalha de 10 metros, que foi oferecida ao Papa na sua deslocação a Fátima

Santo Padre enviou uma carta de agradecimento a todos quantos contribuíram para a elaboração de uma toalha de linho com “mensagens extraordinárias” para si Texto | Juliana Batista Foto | ANA PAULA

O Papa agradece a todos os visitantes do Consolata Museu, em Fátima, pelas mensagens deixadas numa toalha de linho, que lhe foi entregue no âmbito da sua visita a Fátima. Ao Superior Provincial dos Missionários da Consolata em Portugal, Eugénio Butti, restantes membros da congregação e demais pessoas envolvidas na iniciativa, o Papa concede a bênção apostólica e pede-lhes que “nunca se esqueçam de rezar por ele”, conforme se pode ler na missiva assinada por Paolo Borgia, assessor apostólico. Ao ler o documento, a felicidade dominou Eugénio Butti. “Quando abri a carta, a primeira reação foi a de surpresa. Nunca teria imaginado que me chegaria uma resposta assim. É uma grande alegria interior. Achei as palavras do Papa cheias 12

Fátima Missionária

de afeto espiritual. Foi percebido o carinho do povo que visitou o museu, da nossa família missionária, da nossa congregação. Foi uma iniciativa realmente original, de muito significado, que foi entregue sob a forma de um grande pacote. Com certeza que quem o abriu ficou surpreendido. Cada assinatura que está lá expressa carinho. Quem escreveu, uniu-se espiritualmente ao Papa naquele momento.” Igual satisfação invadiu Gonçalo Cardoso, diretor do Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia. “A equipa do Consolata Museu sente grande alegria por ter recebido uma carta de agradecimento enviada pelo Papa Francisco e a sua bênção apostólica por esta iniciativa bem sucedida, que através da nossa tutela decorreu na capela do Centro

Missionário Allamano e que o museu promoveu junto dos seus visitantes, deixando estas mensagens extraordinárias ao Santo Padre numa grande toalha de linho. É para nós um grande motivo de orgulho.” Entre os dias 10 de junho de 2015 e 30 de abril de 2017, cerca de “dez mil pessoas das mais variadas idades, línguas e condições sociais” escreveram igual número de mensagens para o Santo Padre, em panos de linho, “para lhe dizer que o amam e gostam do trabalho que está a fazer, e sobretudo para lhe agradecer a sua visita ao Santuário de Fátima”, recorda a missiva enviada do Vaticano. Os panos de linho deram origem a uma toalha com dez metros de comprimento e dois metros de largura, “simbolizando a mesa do convívio e da partilha da mensagem da Igreja”.


FÁTIMA INFORMA

Santuário celebra história centenária Durante o próximo triénio será recordada a restauração da diocese de Leiria, a construção da Capelinha das Aparições e da escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima Texto | JULIANA BATISTA Foto | SANTUÁRIO DE FÁTIMA

O ano celebrativo do Centenário das Aparições de Fátima termina e um novo ano pastoral começa. Mas além de um ano, os responsáveis do Santuário de Fátima têm já definidos os próximos três anos pastorais. O triénio será uma ocasião para recordar os “momentos de graça” que marcam a história centenária do acontecimento de Fátima, procurando “avivar a consciência do dom que este acontecimento é para a contemporaneidade”, conforme refere Carlos Cabecinhas, sacerdote e reitor do templo mariano. Ao triénio vinculam-se vários acontecimentos: em 1918 deu-se a restauração da diocese de Leiria, em 1919 morreu Francisco Marto e foi construída a Capelinha das Aparições, em 1920 faleceu Jacinta Marto, foi feita a escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e deu-se o início do trabalho pastoral de José Alves Correia da Silva como

bispo de Leiria. “São efemérides marcantes da história de Fátima, cada uma destas referências propicia a relevação dos traços concretos do acontecimento e da Mensagem de Fátima”, aponta Carlos Cabecinhas.

“Fátima hoje”

internet, utilizando a ligação http://www.fatima.pt/pt/pages/ exposicoes-temporarias.

Exposição temporária coletiva de fotografia mostra alguns aspetos ligados a Fátima. Com o nome “Fátima hoje”, a mostra pode ser visitada no Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia, até 28 de janeiro de 2018.

Exposição online

A exposição, que recria o ‘Milagre do sol’ relatado a 13 de outubro de 1917, em Fátima, está patente no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, e agora é também possível visitá-la através de um dispositivo com ligação à

O primeiro ano pastoral, que inicia este mês de dezembro, será percorrido sob o tema “Tempo de graça e

Reflexão e convívio

Na última noite de 2017 vai realizar-se uma Missa de ação de graças, pelas 22h00, na Basílica da Santíssima Trindade. Seguir-se-á uma procissão rumo à Capelinha das Aparições, onde será recitado o terço. Pela meia-noite terá lugar o toque do carrilhão, consagração ao Imaculado Coração de Maria e gesto da paz. A iniciativa culmina com um chá e momento de convívio.

misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima”. O segundo, 2018-2019, será vivido à luz do mote “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por peregrinar em Igreja”. Por fim, o ano de 2019-2020, vai desenrolar-se sob o tema “Tempo de graça e misericórdia: dar graças por viver em Deus”, sendo uma ocasião para refletir sobre a “vocação à santidade”.

Agenda

DEZEMBRO

Dia 13 Peregrinação mensal ao Santuário de Fátima Dia 17 Concerto de Natal do Santuário de Fátima

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ATUALIDADE

Aplicações informáticas que mudam vidas 14

Fátima Missionária


As novas tecnologias estão A provocar uma verdadeira revolução até entre os mais necessitados, ao possibilitarem o acesso a uma série de serviços, que de outra forma seriam difíceis de aceder Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

As aplicações informáticas, muito usadas nos dispositivos móveis, estão a ganhar cada vez mais adeptos nos países desenvolvidos, por permitirem o acesso a jogos, a serviços ou a novas redes sociais, mas nos países mais pobres e nas zonas mais remotas do planeta, têm-se revelado fundamentais para combater o isolamento, solucionar problemas sociais e ajudar a alcançar os objetivos globais de desenvolvimento. Há aplicações (popularmente conhecidas por apps) que estão a mudar a vida de milhões de agricultores, pescadores e estudantes. É sabido que o recurso ao crédito não está acessível à maioria dos pobres. E que os pequenos produtores nem sempre têm meios para comprar as sementes e os fertilizantes, quando chega a época do plantio. Para minimizar estes obstáculos, foi criada a aplicação “myAgro”, que já está a ser usada por cerca de 30 mil agricultores, no Senegal e no Mali. No essencial, o programa permite aos utilizadores a constituição de uma poupança gradual, através do telemóvel, que depois será usada para comprar sementes, fertilizantes e obter formação. Através desta forma de aforro, que usa o mesmo sistema de um cartão pré-pago, e dos conselhos técnicos disponibilizados, os criadores da aplicação esperam conseguir fazer aumentar os rendimentos dos agricultores inscritos para mais de 1,2 euros por dia, até 2025, e assim ajudá-los

a ultrapassar o limiar da pobreza. Ainda no setor agrícola, mas neste caso para combater a desorganização e fragmentação das cadeias de valor, foi criada a aplicação “Esoko”, que está disponível no Quénia, Tanzânia e Gana. A plataforma procura solucionar as assimetrias de informação, ao nível de preços, equipamentos e assistência técnica. O projeto começou por fornecer preços aos agricultores através de mensagens SMS, mas rapidamente os promotores perceberam que estes dados eram insuficientes e passaram a disponibilizar também alertas meteorológicos, conselhos para melhorar as colheitas, ou a possibilidade de contacto entre compradores e vendedores. A aplicação, que conta já com mais de 500 mil registos, dá ainda acesso a vários serviços fundamentais para o setor, como os financeiros ou os das companhias de equipamentos agrícolas. Os responsáveis pelo programa estimam que a plataforma contribuiu para uma melhoria de rendimentos entre 10 a 30 por cento, dependendo do cultivo ou da zona.

o vento, a situação do plâncton e dos bancos de peixes, e incorpora tecnologia GPS para localização ou envio de um pedido de socorro em caso de emergência. A empresa responsável pela aplicação assegura que a utilização deste software reduz o tempo necessário para pescar em duas ou três horas, diminuindo significativamente os gastos em combustível.

Na Indonésia, onde há mais de 17 mil ilhas, e a indústria pesqueira é dominada por pequenos pescadores, uma das principais operadoras de telecomunicações do país lançou o ano passado a “M-fish”, uma aplicação destinada a melhorar a produtividade e a segurança dos marítimos. O programa disponibiliza informação sobre o estado do tempo, as marés,

Segundo os criadores do programa, em declarações ao jornal El País, os utilizadores, com idades entre os 10 e os 18 anos, chegam a casa e estudam na plataforma entre 20 minutos e uma hora por dia. A empresa também desenvolveu uma versão para a internet, mas o acesso maioritário é feito através de mensagens SMS, pois em muitas das zonas rurais não há acesso à rede de dados móveis.

Com dois milhões de utilizadores, a aplicação “Eneza Education”, que se propõe tornar a educação mais acessível aos estudantes das zonas rurais de África, já está presente em quatro países: Quénia, Tanzânia, Gana e Zimbabwe. Por cerca de 10 cêntimos de dólar semanais, os alunos podem aceder aos cursos disponibilizados quase exclusivamente através de mensagens SMS. Os conteúdos estão alinhados com os planos nacionais de estudo e, depois de assimilarem a matéria, os estudantes recebem as perguntas numa mensagem de texto e comentários às suas respostas.

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DOSSIER

21 Perguntas e Respostas

passado e futuro da Catalunha O governo regional catalão declarou a independência em outubro e Espanha não aceitou, recolhendo o apoio unânime da União Europeia. Agora, a 21 de dezembro, os catalães voltam a eleger o seu parlamento e de novo o embate será entre os que fazem da língua e cultura próprias argumentos decisivos para cortar os laços com Madrid e aqueles que se sentem tão catalães como espanhóis Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Fotos | LUSA

1. Dia 21 de dezembro os catalães voltam às urnas, depois de o parlamento regional ter sido dissolvido por ordem do governo espanhol, por ter ousado proclamar a independência da região. É provável que os partidos independentistas voltem a ter a maioria dos deputados e,

assim, certa legitimidade para prosseguirem com a tentativa de romper com Espanha? Sim, as sondagens dão boas hipóteses aos três partidos independentistas, que vão da democracia-cristã à extrema-esquerda, de repetirem a maioria absoluta de deputados. Mas tal como nas anteriores eleições

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regionais poderão não ter maioria absoluta de votos. O que significa que se quiserem insistir no braço de ferro com o governo de Madrid não lhes bastará ganhar. Precisam também de mostrar que são bastante mais do que metade dos catalães aqueles que apoiam a rutura com o Estado espanhol.

2. Até agora o governo espanhol tem baseado a sua luta contra o separatismo catalão no que diz a Constituição de 1978, aprovada já em democracia, e na qual não se admite o direito à secessão de nenhuma parcela do território. Mas convinha também que bastante mais de metade dos catalães votasse pelos partidos espanholistas a 21 de dezembro, certo? É aquilo que no íntimo espera o primeiro-ministro Mariano Rajoy, acreditando que uma maioria até agora silenciosa de catalães votem e mostrem que querem continuar a ser cidadãos espanhóis. Se isso acontecer, aos argumentos legais contra os separatistas juntam-se os dos números, o que facilitaria a tarefa de manter a Espanha unida.

3. Como começou todo este braço de ferro entre Madrid, liderada por Rajoy, e o governo regional catalão, presidido por Carles Puigdemont? Podemos, para simplificar, dizer que a data-chave foi 1 de outubro, quando um referendo independentista recusado pelo Tribunal Constitucional espanhol foi mesmo assim organizado pelo governo da Catalunha. Por razões diversas, a começar pela intervenção policial, metade da população não votou, mas dos que insistiram em votar, mais de 90 por cento disseram 18

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sim à independência. Esta, porém, acabou por ser proclamada apenas a 27 de outubro, com 70 deputados a votar a favor, dois em branco e dez contra, com os restantes parlamentares (de um total de 135) a ausentarem-se mesmo da sala por discordarem do processo. De imediato, o Senado espanhol, por proposta do governo, aprovou a aplicação do artigo 155 da Constituição, que suspende a autonomia da Catalunha até novas eleições.

4. Como foi na Catalunha o dia seguinte à declaração de independência? Houve festejos imediatos dos independentistas e, em sentido contrário, alívio dos espanholistas pelo afastamento de Puigdemont. Este exilou-se na Bélgica para escapar à prisão. Outros governantes catalães foram presos, mas os que disseram estar dispostos a respeitar a Constituição saíram em liberdade. A possibilidade de serem julgados por sedição e rebelião é forte e constitui uma das armas de Espanha, mas esta terá também de evitar uma repressão demasiado dura contra um conjunto de políticos que apesar de tudo nunca usou a violência.

5. Têm os independentistas catalães alguns argumentos históricos para defenderem um país? É indesmentível que a Catalunha possui uma língua e uma cultura próprias. E isso há cerca de mil anos. Também é verdade que durante a ditadura fascista, que durou desde o fim da Guerra Civil de 1936-1939 até à morte do generalíssimo Francisco Franco em 1975, a sua língua, tal como o basco, era reprimida em favor do idioma castelhano, o chamado

com a chegada da democracia a Espanha, a Catalunha ganhou uma vastíssima autonomia política, com possibilidade de promover o ensino da sua língua mesmo às populações vindas de outras partes de Espanha

espanhol. Mas com a chegada da democracia a Espanha, a Catalunha ganhou uma vastíssima autonomia política, com possibilidade de promover o ensino da sua língua mesmo às populações vindas de outras partes de Espanha.

6. Qual é a principal explicação para as especificidades culturais catalãs? Quando os árabes invadiram a Península Ibérica em 711, vindos do Médio Oriente via Norte de África, a região em redor de Barcelona quase não sofreu a sua influência graças a ser junto aos Pirenéus e à proteção um pouco mais tarde de Carlos Magno. Conhecida como Marca Hispânica, a Catalunha acabou por tornar-se um principado que até ao século XII estava ligado a França.

7. As comparações com Portugal feitas pelos independentistas catalães fazem algum sentido? Pouco. Em 1143 Portugal tornou-se independente do Reino de Leão. Não havia então Espanha. E mesmo entre 1580 e 1640, apesar de partilhar rei com a Espanha, manteve a sua identidade, o que se comprova por ter preservado o seu império (e a

língua portuguesa) tanto no Brasil, como em África e na Ásia. No caso da Catalunha, nunca houve um período de independência efetiva. Como parte da Coroa de Aragão participou mesmo no processo de criação da Espanha, acelerado no final do século XV com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os Reis Católicos que conquistaram em 1492 Granada, último bastião árabe na Península.

8. Mas os catalães dizem que Espanha só foi criada, e à força, no século XVIII, quando foram abolidas as instituições catalãs. É mesmo assim? A 11 de setembro, todos os anos, os catalães assinalam a Diada, celebrando a resistência ao cerco a Barcelona em 1714 pelas tropas dos Borbón. Na Guerra da Sucessão Espanhola, a Catalunha tomou o partido da Casa de Áustria contra os Borbón e estes últimos não lhe perdoaram, acabando com certas regalias da região, que vinham da Idade Média. Mas a centralização do poder sempre foi característica desta dinastia, como mostravam os seus primos franceses. E por isso, se os austríacos sempre preservaram a lógica das várias cortes, e divisões rígidas como as Américas serem para Castela enquanto Aragão era um pequeno império mediterrânico, já os Borbón, que ainda reinam hoje em Madrid, foram os campeões da unidade espanhola.

9. Já agora, como reagiu Filipe VI à tentação separatista catalã? Com uma inesperada firmeza. Filipe VI saiu em defesa, em pelo menos duas ocasiões, da unidade de Espanha e dos grandes méritos da democracia construída com a ajuda do seu pai, Juan Carlos, depois da morte de Franco. O rei

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não quis ser um mediador, até porque os separatistas catalães são republicanos.

10. Uma independência catalã seria o fim da monarquia em Espanha? Bem, os Borbón têm uma história atribulada e já por três vezes perderam a coroa espanhola, o que obriga Filipe VI a não confiar demasiado, pois há muito republicanismo oculto. Mas a secessão da Catalunha seria muito mais dramática do que o mero fim da monarquia, reposta em 1975. Haveria mesmo o grande risco de uma balcanização de Espanha, basta pensar no País Basco, onde os nacionalistas governam e onde até há poucos anos o terrorismo da ETA desafiava o Estado, matando militares, polícias e políticos espanholistas.

11. Rajoy contou com o apoio claro do rei frente aos separatistas catalães. Como se comportaram os outros grandes partidos espanhóis? A unidade dos partidos tradicionais, com os socialistas de Pedro Sanchez a apoiarem o governo de direita, surpreendeu Puidgemont e aliados. Também o Ciudadanos, partido centrista que nasceu na Catalunha mas hoje é nacional, tem estado sólido na defesa da unidade espanhola. Já o Podemos, de extrema-esquerda, divide-se, o que lhe está causar perda de popularidade.

12. Também no exterior, o apoio à unidade de Espanha tem sido total? Sim, a começar por Portugal, com o governo a manifestar-se incondicional

na recusa da independência catalã, apesar de uma parte da opinião pública deixar-se tentar pelo tradicional anticastelhanismo. A União Europeia, em peso, recusou a ambição de Puigdemont, o que foi um duro golpe, pois os catalães são muito europeístas e imaginavam-se já a sair de Espanha mas a permanecer num espaço político e económico muito mais vasto.

13. Uma Catalunha independente ficaria fora do euro e da União Europeia? Tudo indica que sim. Porque a Espanha é Estado-membro e se perdesse uma parcela de território poderia vetar a adesão desse novo país.

14. Também a América Latina se manifestou a favor de Espanha, não foi?

CINCO PROTAGONISTAS DE CARLES PUIGDEMONT

Destituído de presidente do governo regional catalão e auto-exilado na Bélgica, Puigdemont liderou o processo que levou a Catalunha a organizar um referendo de rutura com Espanha e a proclamação da independência. Agora, admite que pode haver outras soluções que não a independência. Figura errática, é vista como fraco pelos mais radicais dos independentistas. 20

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MARIANO RAJOY

Fragilizado por escândalos de corrupção ligados ao PP e por liderar um governo frágil, o galego Rajoy mostrou firmeza em toda a crise catalã e conseguiu o apoio não só da oposição socialista espanhola como dos líderes da União Europeia. Mesmo com o problema ainda por resolver na totalidade, ganhou uma nova aura política como campeão da unidade espanhola.

FILIPE VI

Com necessidade de ganhar prestígio para a monarquia depois da abdicação do pai, o jovem monarca foi à televisão dizer que a Espanha é uma só e que a Constituição democrática é para ser respeitada. Defendeu assim a coroa e a unidade espanhola, não cedendo um milímetro aos separatistas catalães, que são abertamente republicanos e culpam os Borbons da perda das suas instituições no século XVIII.


Sim. Países como México, Colômbia, Chile e Argentina relembraram o carácter democrático da Espanha de hoje e disseram rejeitar qualquer declaração unilateral de independência da Catalunha. É compreensível esta posição também por algumas práticas catalãs recentes, como preferirem imigrantes marroquinos do que sul-americanos, pois aos miúdos árabes é fácil ensinar catalão, enquanto os jovens colombianos ou equatorianos quando chegam à escola já vão fortemente aculturados na língua castelhana.

15. No caso da União Europeia, a oposição à independência catalã também é para servir de vacina contra outros separatismos? Certamente. Da Flandres à Lombardia, passando pela Córsega, não faltam regiões com movimentos separatistas, mesmo na Europa ocidental.

16. Fala-se de um novo nacionalismo dos ricos. É verdade? Sim, pois existe na Flandres, que é a província mais rica da Bélgica, e na Itália do Norte, também mais próspera. A própria Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes (em 45), representa um quinto da riqueza produzida em Espanha e sempre tem defendido ficar com o grosso dos seus impostos, contrariando que Madrid gaste dinheiro catalão no apoio a regiões mais pobres, como a Andaluzia ou a Extremadura. Esquece é que a prosperidade das empresas catalãs beneficia, é certo, do espírito empresarial da burguesia catalã, mas também da mão de obra vinda de outras partes de Espanha e, sobretudo, do mercado espanhol.

17. As empresas catalãs são espanholistas?

UMA CRISE

Umas sim, outras não, depende de quem as gere. Mas muitas delas mudaram a sede social da Catalunha para outras regiões por receio de perderem negócio com a independência.

18. O que se segue a 21 de dezembro? O mais provável é haver o início de algum tipo de negociações entre Barcelona e Madrid. Se os partidos independentistas ganharem reforçando a votação será um diálogo complicado, mesmo que o próprio Puigdemont já tenha dito que a independência não é o único caminho. Talvez se comece a debater a necessidade de edificar uma Espanha federal.

19. É de excluir a longo prazo a independência catalã? Nunca se sabe. Se os partidos independentistas continuarem a governar a região e a promover tanto nos media estatais como na escola o catalanismo, por vezes até mistificando a história, os quase 50 por cento de hoje a favor do corte com Espanha poderá subir muito.

20. E que pode Espanha fazer para preservar a unidade?

INÊS ARRIMADAS

Nascida na Andaluzia, mas filha de gente de Salamanca que chegou a viver em Barcelona, sempre foi apaixonada pela cultura catalã (estudou catalão e é desde criança adepta do Barça) e em adulta mudou-se para Barcelona, chegando agora a figura destacada do partido Ciudadanos. Arrimadas foi no parlamento catalão a figura que mais defendeu que é possível ser catalão e espanhol.

JEAN-CLAUDE JUNCKER

Ao proclamar-se contra a independência, dizendo que serviria de mau exemplo para outros separatismos na Europa, Juncker desferiu um duro golpe nas ambições de reconhecimento da Catalunha. Para o luxemburguês que preside à Comissão Europeia, é preciso combater a ideia de uma União Europeia pejada de novos países, talvez 98 em 15 ou 20 anos: “já é difícil com 28, com 27 depois do Brexit não será fácil, mas com 98 seria impossível”.

Reiventar-se sempre que necessário, talvez federalizar-se, manter uma sólida democracia e dar sinais aos catalães que são uma parte muito respeitável e respeitada do país.

21. Que tipo de sinais pode dar Espanha à sua Catalunha? Vários. Basta pensar como o país escolheu Barcelona em 1992 para acolher os Jogos 0límpicos em vez de Madrid. *jornalista do DN

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mãos à obra

Cinco árvores por família para regenerar a floresta Habitantes de aldeia tanzaniana convidados a participar na gestão e manutenção dos recursos florestais. O objetivo é minimizar os efeitos do excessivo abate de árvores para produção de carvão Texto | Francisco Pedro Foto | dr

os missionários da Consolata que trabalham na região de Iringa iniciaram um projeto de reflorestação, que conta com a participação ativa das famílias da aldeia de Makota

A produção e comercialização de carvão é uma das principais fontes de rendimento das famílias tanzanianas, sobretudo as que vivem nos meios rurais, mas afigura-se também como uma preocupante ameaça à sustentabilidade dos recursos florestais, por falta de uma gestão cuidada e planificada. Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a taxa de desflorestação relacionada com a produção de carvão na Tanzânia ronda os 33 por cento, e, nas áreas urbanas, 95 por cento dos agregados familiares usam este tipo de combustível para cozinhar ou para obterem energia necessária para o funcionamento dos seus negócios. Acresce que grande parte do comércio de carvão e de lenha é feito de forma informal, ou seja, com perdas anuais para o Estado em impostos de cerca de 86 milhões de euros, de acordo com estimativas do Banco Mundial. Cientes de que as atividades relacionadas com o corte de madeira estão a ser feitas de forma descontrolada, sem planeamento e sem a reposição de novas

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árvores, e dos efeitos erosivos que isso representa para os solos e para a floresta, os missionários da Consolata que trabalham na região de Iringa iniciaram um projeto de reflorestação, que conta com a participação ativa das famílias da aldeia de Makota. Numa primeira fase será dada formação à população, com o auxílio de líderes locais e de funcionários da agência tanzaniana para os serviços florestais. Depois, os moradores são convidados a integrar o plano de reflorestação, comprometendo-se a plantar cinco árvores por agregado familiar e a cuidar delas. Duas das ações de formação já estão concluídas e os participantes também já começaram as atividades de limpeza dos terrenos onde serão colocadas as novas árvores. Com a chegada da estação das chuvas, prevista para este mês de dezembro, os missionários esperam iniciar o processo de plantação, que deverá prolongar-se até janeiro de 2018. O custo total do projeto ascende a 5.670 euros, sendo que 5.000 euros são suportados pelos fundos de doadores privados do Instituto Missionário da Consolata.


PEREGRINOS DE FÁTIMA

A que podemos comparar o Reino de Deus? A partilha do pão e do caminho, com ‘mesa’ improvisada, fraternizando, são expressões do Reino já presente. No peregrinar, o alimento dá firmeza ao corpo, fortifica a alma e o espírito. Com outros, descobrimo-nos parte de uma família maior: a dos que vão ao encontro da Mãe (e discípula) do Deus feito homem. E isso também é Natal

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# gente nova em missão EXEMPLO

Ter um coração grato Olá amiguinhos missionários! Já chegamos a dezembro, ao inverno e ao frio. Mas como vocês sabem, chegamos ao Advento, tempo forte do nosso ano, caminhando juntos para o nascimento da pessoa mais incrível que já conhecemos. Aquela pessoa que é igualzinha ao Pai que nos criou. Aquela pessoa que nos ensina a andar ao contrário do egoísmo e da competição, a olhar para os que estão tristes, a cuidar deles, a semear o amor, a perceber que a melhor rede que nos segura e faz feliz, é a rede de amigos que vamos construindo. Jesus vai nascer e o seu nascimento é uma história que trazemos gravada no coração. Sabemo-la de cor e sabemos também de cor o sentido de cada gesto, de cada etapa, o melhor exemplo do que nós esperamos e desejamos ser Texto | ÂNGELA E RUI lustração | DAVID OLIVEIRA

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Com o nosso coração pleno desse bebé que aí vem, podemos pensar num gesto diferente para o ano novo de 2018, algo que nos ajude a crescer ainda mais na fé e na esperança. Nós sugerimos que a partir do dia 1 de janeiro, após a vossa oração, todos os dias, poderiam escrever ou pedir aos vossos familiares que escrevam um papelinho com uma razão pela qual estão gratos, criando assim, um “jarro da gratidão”, para ser aberto apenas no final do ano. Podem utilizar um frasco vazio, para reciclar e enfeitá-lo, com pinturas ou autocolantes.

Vamos ser gratos

Se um bom missionário não sentisse gratidão, não seria capaz de desempenhar muito bem a missão de Jesus, ao serviço dos outros. E porquê? Porque passaria a vida a reclamar, ou da falta de condições, ou das pessoas que estão sempre a chamar, ou do tempo que não ajuda, ou do material que não presta. Mas um bom missionário não é assim. Mesmo sentindo dificuldades, porque entende tudo e todos como dons e serviço do Pai, dá a volta aos problemas, vê as pessoas com outros olhos, acolhe com amor e esperança renovada. A gratidão é a capacidade de nos deslumbrarmos com as pequenas coisas que nos rodeiam, que fazem parte das nossas vidas e olhar para elas como presentes de amor, ou como dificuldades que nos ajudarão a crescer, ou ainda como desafios que nos ajudarão a pôr em prática os talentos missionários. E no


MOMENTO DE ORAÇÃO

final, agradecer a Jesus pelo que ganhamos. Porque com Ele, somos sempre vencedores. Hoje em dia, ouvimos muita gente a reclamar, às vezes são os nossos familiares e amigos e muitas vezes, somos nós. Mas raramente vemos alguém a elogiar, a agradecer por uma refeição, por um dia de chuva que ajudou às plantações, por uma coisa má que trouxe outra boa. Mas nós não queremos ser assim. Por isso, em cada dia do próximo ano, escrevam o que foi que vos aconteceu, que seja motivo de agradecimento. É maravilhoso chegar ao fim e abrir o jarro repleto de bons motivos para agradecer o dom da vida, com um coração diferente, um coração mais grato.

O jogo do silêncio

Agora, fechem os olhos e imaginem duas pessoas diferentes, uma que não agradece nada do que tem, do que lhe fazem ou do que lhe acontece e outra, que por sua vez agradece os dias de chuva e os dias de sol, o perder aquele autocarro porque entretanto encontrou alguém que não via há muito tempo na paragem e pode ficar a conversar, a senhora da cantina que cozinhou tão bem a refeição, o amiguinho que partilhou connosco aquelas bolachas. Já imaginaram? Agora, abram os olhos e tentem imitá-las. Qual é melhor? E sem esquecer, Feliz Natal pequenos leitores missionários!

Obrigado, obrigado, obrigado Jesus, Por quereres sempre nascer neste meu coração, Para o moldares, como se fosse barro, E ficar um sítio bonito aqui dentro do peito, cheio de sol, Com vontade de ser apenas amor, E agradecer a cada dia, As pessoas, As aprendizagens, As pequenas coisas e as grandes também, O que às vezes não percebi logo, mas depois compreendi. Pelo mistério do Natal, que acontece a cada manhã, Adoro-Te, melhor Amigo Ámen Pai Nosso

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tempo jovem

Natal é a comemoração do nascimento do menino Jesus, menino que se tornou no Homem que veio mudar e inspirar o mundo

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Natal são sentimentos capazes de tornar a época especial e inesquecível, porque o que sentimos é poderoso e chega a todos, sem exceção


O Meu Natal Texto | Miguel Nápoles

O Natal está a chegar. É verdade, passou tão rápido. O tempo é mesmo assim, nem damos por ele a passar. Por isso é que devemos aproveitá-lo ao máximo e com a maior intensidade possível. O Natal é sempre das melhores recordações que uma pessoa tem na sua vida. Todos os anos são vividos natais diferentes e inesquecíveis. Eu, como jovem, recordo o Natal como das mais belas partes da minha infância, pois é um momento de grande aproximação, sorrisos inspiradores, olhares que brilham, pessoas felizes, apesar de alguns problemas que possam ter. Essa é a magia desta época, conseguir sobrepor a felicidade, a união, a compaixão, a solidariedade e os sorrisos acima de tudo.

Porque o amor reina, a felicidade está presente em cada pessoa e é partilhada com o próximo. É por isso que o Natal é uma época mágica e feliz. Para um jovem, é uma recordação bem viva na sua memória e no seu coração. Significa um mar de sonhos, em que tudo é possível. É a altura em que chega o Pai Natal, o pai em comum que todos tivemos na infância e que continuamos a ter, não apenas na pessoa do pai e da mãe, mas em primeiro lugar na pessoa do Deus Menino, que com Ele somos tudo e sem Ele somos nada, que nos deu prendas tão desejadas e que nos arrancou sorrisos de orelha a orelha.

O Natal é essencialmente amor. Amor é o que nos define, o que nos define é o que nos faz feliz, e o que nos faz feliz é o que inspira os outros. Já repararam que no Natal as ruas parecem mais vivas e povoadas? As pessoas estão felizes? Os sonhos chegam à realidade? Vivemos momentos de puro prazer? É importante refletir sobre isto.

Desta época tão especial faz parte o presépio, a mais antiga e bela forma de representar a época natalícia. O primeiro presépio foi feito por São Francisco de Assis, no ano de 1223. Desde o momento em que São Francisco de Assis se converteu, apaixonou-se por Jesus e gostava de refletir sobre a sua vida. A ideia de fazer o presépio surgiu quando estava a ler a parte do Evangelho de São Lucas, que narra o nascimento de Jesus. Resolveu então fazer uma representação em tamanho natural, numa gruta da cidade de Greccio. Ainda existe uma parte desse primeiro presépio, que se encontra conservado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Presépio significa “manjedoura dos animais”. Jesus, Deus que por amor, veio viver no nosso mundo, escolheu nascer num sítio pobre e ter uma manjedoura como berço. Isto é o Natal, viver por amor.

Esta época é a comemoração do nascimento de Jesus, que se tornou no Homem que veio mudar e inspirar o mundo. Nós, ao comemorá-lo, temos que respeitar este legado que nos foi deixado. Nesse sentido, amar, ajudar e inspirar são coisas imprescindíveis numa vida. No Natal as coisas mudam por completo. O mundo brilha, quase que é confundido com o sol. E porque é que o mundo brilha?

No fundo, o Natal são sentimentos capazes de tornar a época especial e inesquecível, porque o que sentimos é poderoso e chega a todos, sem exceção. E tu? Queres fazer deste Natal uma época poderosa e de recordar para sempre? Dou-te uma sugestão! Ama-te, ama o próximo, espalha solidariedade e sorrisos e no mundo ecoará a voz da felicidade! Feliz Natal!

O Natal vive-se tão apaixonadamente que qualquer pessoa se recorda vivamente do que viveu em cada ano, único e feliz. E é tão bom quando recordamos coisas boas. A família junta a rir e a conviver, a partilhar as suas alegrias, pessoas que se ajudam, palavras bonitas que circulam, mensagens que nos marcam, o amor que flui, a felicidade que cresce subitamente e os sonhos que se cumprem.

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sementes do reino

“Eu sou a voz que grita no deserto” Texto | OSÓRIO AFONSO Foto | B. BELLESI

A identidade e a missão de João Baptista, o percursor do Senhor, são sublinhadas intensamente no capítulo introdutivo do Quarto Evangelho (Jo 1,6-8;19-28). Ele, como um enviado de Deus para dar testemunho da Luz, é consciente da sua missão: é uma voz que grita no deserto.

Leio a Palavra

Na parte central do texto evangélico, os judeus enviam sacerdotes e levitas para interrogar João sobre a sua verdadeira identidade: “quem és?”. O Evangelista diz que “João confessou e não negou”. Esta incisão, tipicamente semítica, sublinha que ser testemunho é confessar a realidade conhecida, sem cair na tentação de a recusar. De facto, diante da insistente pergunta sobre a sua identidade, João, primeiro diz aquilo que não é: não é Luz, nem o Messias, nem Elias e nem o Profeta. Somente depois, diz a sua verdadeira identidade: “Eu sou a voz que grita no deserto”.

Saboreio a Palavra

João, como testemunho, sabe esperar o objeto do seu testemunho; no momento preciso sabe reconhecê-Lo e é capaz de O mostrar a todos aqueles que, ofuscados com as próprias cegueiras, não reconhecem a presença da Palavra e da Luz. Mas ele é consciente de que é a voz da Palavra, do Verbo. João sabe que não há palavra que se faça ouvir sem a presença da voz, mas também não há voz sensata sem a palavra. Ele é um meio através do qual Deus se faz sentir. Como voz, João não se mete ao centro, pois no centro está a Palavra. A sua missão é “ser relação e estar em relação” e fazer que os outros 28

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No meu ambiente quotidiano devo ser aquela voz que prepara o caminho do Senhor para que os homens, meus contemporâneos, possam usar para ir ao encontro do Senhor, para que eles possam estar em relação com o Senhor

estejam em relação profunda com esta Palavra. Com a sua voz deve despertar as pessoas de modo que oiçam a mensagem, que sejam interpeladas por ela. Os que escutam essa voz devem ter uma atitude operosa: “aplanar o caminho do Senhor”.

Rezo a Palavra

Senhor, neste meu mundo onde o barulho ensurdecedor faz com que nos tornemos espiritualmente vazios e superficiais, faz com que escutemos a voz de João e que também nós sejamos aquela voz que grita não só exteriormente mas, sobretudo, interiormente.

Vivo a Palavra

No meu ambiente quotidiano devo ser aquela voz que prepara o caminho do Senhor para que os homens, meus contemporâneos, possam usar para ir ao encontro do Senhor, para que eles possam estar em relação com o Senhor.


A palavra faz-se missão

DEZEMBRO

03

1º Domingo de Advento (Ano B) Is 63, 16-19; 64, 1-7; 1Cor 1, 3-9; Mc 13, 33-37

Deixar-se moldar

Guiados por São Marcos, iniciamos um novo ano litúrgico. Disponhamo-nos, desde já, a acolher a Palavra, deixando-nos moldar pelas mãos de Deus, rezando com a liturgia:

“Tu, Senhor, és o nosso Pai; nós somos obra das tuas mãos”.

08

Festa da Imaculada Conceição Gen 3, 9-15.20; Ef 3, 6.11-12; Lc 1, 26-38

O encanto do Senhor

No caminho do Advento temos Maria, a cheia de graça, como companheira de viagem Nela e por ela Deus encontra-se com a humanidade para a restaurar segundo o modelo que saiu das suas mãos.

Ensina-me, Maria, a viver como Tu, de coração limpo e disponível à vontade de Deus.

10

2º Domingo de Advento Is 40, 1-5.9-11; 2 Pedr 3, 8-14; Mc 1, 1-8

Caminhos novos

“Preparai o caminho do Senhor”, proclama João no deserto. Vai chegar a divina misericórdia, incarnada em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Vamos desbravar o nosso terreno para que uma vida nova possa nascer em nós.

Que o teu Advento, Senhor, me ajude a limpar tudo o que impede a tua passagem.

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3º Domingo de Advento Is 61, 1-2.10-11; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8.19-28

Preparar o seu Natal

Vamos preparar o Natal do Senhor. Daquele que “os Profetas anunciaram, a Virgem Mãe esperou com inefável amor. É Ele que nos dá a graça de nos

prepararmos com alegria para o mistério do seu nascimento”.

Seja o nosso coração o mais belo presépio que acolha o teu nascimento.

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4º Domingo de Advento 2 Sam 7, 1-5.8-16; Rom 16, 25-27; Lc 1, 26-38

A prenda da Mãe

“Nós te louvamos, bendizemos e glorificamos, Senhor, pelo admirável mistério da Virgem Mãe. Nela, a maternidade, resgatada do pecado e da morte, recebe o dom da vida nova”.

Obrigado, ó Mãe, pelo mistério do teu Sim ao plano de Deus em nosso favor!

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Natal do Senhor Is 9, 1-6; Tit 2, 11-14; Lc 2, 1-14

Habita entre nós

“A luz olhou para baixo e viu trevas: é lá que eu quero ir – disse a luz. A paz olhou para baixo e viu guerras: é lá que eu quero ir – disse a paz. O amor olhou para baixo e viu ódios: é lá que eu quero ir”. Foi assim que o Verbo de Deus inundou a terra.

A nossa humanidade, Senhor, tome consciência do mistério da tua vinda sobre a terra.

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Festa da Sagrada Família Gen 15, 1-6.21, 1-3; Heb 11, 8-19; Luc 2, 22-40

O espelho das famílias

Naquela família vejo as nossas famílias: o silêncio amoroso da mãe, o trabalho silencioso do pai, o amor respeitoso do filho. E todos crescem em sabedoria, em comunhão e em graça de Deus.

Renova, Senhor, as nossas famílias à imagem da tua família de Nazaré. Darci Vilarinho

intenção pela evangelização DEZEMBRO Pelos idosos, para que, sustentados pelas famílias e pelas comunidades cristãs, colaborem com a sua sabedoria e experiência na transmissão da fé e na educação das novas gerações

Confiar em Deus Segundo o Papa Francisco os idosos são “parte essencial da comunidade cristã e da sociedade”, porque ”representam as raízes e a memória de um povo”, a sua experiência constitui ”um tesouro precioso”. As pessoas idosas têm um papel indispensável na trasmissão para as novas gerações duma sabedoria da vida que inclui também a fé, pois testemunham de facto que é possível confiar em Deus e num futuro melhor, também nas provações mais difíceis. Para o Pontífice, os idosos são como aquelas árvores que continuam a dar frutos, das quais falam os Salmos e os Profetas: “mesmo carregados com o peso dos anos, podem dar a sua contribuição original para uma sociedade rica de valores e para a afirmação da cultura da vida”. Contra a cultura do descarte, que marginaliza tudo o que considera não produtivo, a consideração e o carinho pelos idosos nas famílias e na sociedade garantem a construção de um mundo diferente, rico de valores e a afirmação da cultura da vida. ERMANNO SAVARINO

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Fátima Missionária

Li que o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres, e parece que a Igreja Católica vai assinalá-lo no penúltimo domingo do ano litúrgico, que este ano caiu a 19 de novembro. Mas eu pergunto: havia necessidade? Afinal, até já existia o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, que se assinala a 17 de outubro! O que é que se pretende com mais este dia? Porque é que a Igreja fala tanto dos pobres? Isaura Santos, Coimbra

Senhora Isaura. Por mim, acho que foi mais uma boa iniciativa do Papa Francisco. E não me parece que seja mais um dos tantos dias que se assinalam ao longo do ano para tudo e mais alguma coisa. Na mensagem que o Papa escreveu para o primeiro Dia Mundial dos Pobres, ele dá a entender que os pobres continuam a ser esquecidos e, portanto, acha que devemos lutar

AGRADECER

Caros amigos. Serve a presente para vos agradecer a simpática revista Fátima Missionária. Quando começo a lê-la é sempre difícil parar a leitura, tão sugestivos e interessantes são os seus artigos. Envio também um cheque de pagamento das assinaturas. Maria Lurdes Mendes Reis, Almada

GRANDE OBRA

Estimados missionários. Que o Senhor e Nossa Senhora vos ajude e dê forças para

contra a cultura da indiferença e fazer crescer a cultura do encontro. Diz mais: “Os pobres não são um problema: são um recurso para acolher e viver a essência do Evangelho”. Eu diria mesmo que o nosso querido Papa não inventou nada, apenas quis dar corpo a uma sensibilidade pastoral especial que ele tem para com os últimos, os mais carenciados. É do Evangelho! Jesus considerava e valorizava os pobres. Queria e gostava de estar com eles. E a Igreja por Ele fundada diz mesmo fazer “opção preferencial pelos pobres”. Ela coloca-se ao seu lado e preocupa-se em remover a injustiça, a discriminação e a exclusão. A Igreja deve, portanto, estar com os pobres para, a partir de dentro, ajudá-los a afastar as causas das suas pobrezas. O amor, salva. E Francisco lembra-nos disso. Albino Brás

continuarem esta grande obra. Gosto muito de receber a nossa querida revista; quando posso, no dia em que a recebo leio-a toda. Envio o pagamento para 2017 e 2018. Mesmo que eu morra, já fica paga. Sim, porque eu já tenho 77 anos. Já estou sempre à espera do bilhete para a viagem, só peço a Deus que a faça na sua santa Paz. Desejo um feliz Natal que se aproxima e muita saúde e paz para todos. Maria da Piedade, Alfeizerão


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8 201 TA | A L O ONS DA C S O I NÁR SSIO I M OS AL D ANU

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CRIANÇAS DA ETIÓPIA Consolata Museu 291,80€; Consolata Hotel 482,05€; Consolata Loja 160€; Mulheres Missionárias da Consolata (Fátima) 456,60€; Paula Cavalheiro 100€; Armindo Louro 390,50€; Celina Costa 50€; Ernesto Monteiro 100€; Arminda Matias 10€; Fátima Matias 10€; Carlos Soares 20€; Anónimo 47€; Anónimo 15€; Helena Barros 100€; Anónimo 50€; Irene Cardoso 93€; Fátima Pereira 25€; Telma Rodrigues 50€; Anónimo 3€; Lurdes Feliciano 25€; Anónimo X 50€; Luís Teixeira 50€; Carla Ferreira 50€; Luísa Maria 3€; José Rocha 50€; Alice Pereira 3€; Eurico Ribeiro 25€; Emília Quartilho 100€; Carmo Tubarão 8€; Maria Vaz 60€; Anónimo 2,05€; Belmira Silva 50€. Total geral = 28.190,00€ BOLSA DE ESTUDOS Eugénia Jorge 250€; Francisco Alves 25€; Margarida Vieira 250€; Joaquina Trigo 250€; Teresa Marcelo 250€. CRIANÇAS DE ANGOLA Isabel Tavares 5€. OFERTAS VÁRIAS Assinantes do Alqueidão, Figueira da Foz 82,50€; Luísa Barbosa 49€; Armindo Louro 1.000€; Beatriz Carvalho 108€; Alice Fernandes 50€; Agostinho Gameiro 80€; Lurdes Reis 46€; Anónimo 30€; José Neves 30€; Maria Jesus 40€; Deolinda Ferreira 263€; Manuel Soares 63€; Valdemar Vilar 60€; Joaquina Trigo 43€; Fernando Zagalo 93€; João Brito 25€; Anónimo 30€; Isabel Baptista 38€; Maria Fernandes 93€; Augusta Martins 50€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: IBAN: PT50.0033.0000.45519115214.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º Dto - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Seminarista Jesus Alírio Santiago

TUDO A PARTIR DE DENTRO

Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Haverá algo de positivo no ato final da vida dum jovem que deseja ardentemente ser sacerdote missionário e que de repente, ao voltar duma ação pastoral num grupo do povo de Deus, morre num desastre aos 26 anos? Sim. Quando Jesus chamou a si os apóstolos não foi para os enviar imediatamente a pregar o Evangelho; chamou-os para permanecerem com Ele, para conhecerem a sua pessoa humana e divina, para digerirem e assimilarem em si próprios tudo o que Ele era e fazia. O seminarista Jesus Alírio nasceu em 9 de abril de 1977 em Teorama, na Colômbia, e aos 21 anos entrou para o Instituto Missionário da Consolata. Depois de terminar o noviciado na Argentina, começou o estudo da teologia no Seminário Internacional de Bogotá, no seu país de origem. Quando ainda estudante de teologia, com grande entusiasmo fazia apostolado na paróquia de Marialabaja. No dia 3 de julho de 2003, quando voltava de moto de uma atividade pastoral, provavelmente por fraca visibilidade,

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Fátima Missionária

embateu contra uma vaca, sofrendo traumatismo craniano, vindo a falecer três dias depois, aos 26 anos de idade. Jesus Alírio era uma promessa evangelizadora. Dele dizem testemunhas: “Era um jovem completamente

convencido da sua vocação missionária, sempre desejoso de gastar a sua vida pelos irmãos; identificou-se muito bem com o carisma missionário consolatino; desejava concretizar a sua vocação missionária em África; dedicavase ao apostolado entre os pobres com a catequese; o seu desejo era promover as pessoas a partir de dentro, ajudando-as a encontraremse no Evangelho; praticava o que herdara de sua mãe: uma espiritualidade mariana profunda. Ele dizia convicto: “O maior acontecimento da minha vida foi começar a pertencer à comunidade dos Missionários da Consolata”. O seu funeral, testemunha o nosso missionário padre Sandro Carminati, foi para todos “um tempo de fé e de ação de graças pelo dom da vida de Jesus Alírio”. Para sua mãe, o vazio que o seu filho deixara no seu coração materno começava agora a encherse com a presença de tantos outros filhos membros da comunidade dos Missionários da Consolata. Para glória de Deus e da Virgem que ele tanto amava, e para bem da humanidade que ele muito bem serviu.


O QUE SE ESCREVE

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE A VELHICE

SENHOR BISPO, O PÁROCO FUGIU

PARA QUE NADA SE PERCA

“O ancião floresce ainda a partir da sua seiva e da sua verdura”, reza um Salmo. Na Bíblia, ter uma idade avançada é sinal de bênção; mas, hoje, na cultura ocidental, nem sempre é assim. Claro que a Bíblia também fala da fraqueza física, da doença, da angústia ou da tristeza sentidas na idade adulta. O autor do livro recorre aos exemplos de Abraão e de Sara, escolhidos por Deus numa idade avançada, para dizer que as pessoas idosas são chamadas a uma profunda fecundidade espiritual.

O Concilio Vaticano II foi um momento de grande criatividade e renovação da Igreja. Este livro medita e atualiza alguns dos temas ali tratados. O autor, pregador oficial da Casa Pontifícia, reflete sobre os principais documentos do Concílio: as “constituições” sobre a Igreja (Lumen Gentium), sobre a Liturgia (Sacrosanctum Concilium), sobre a Palavra de Deus (Dei Verbum) e sobre a Igreja no mundo (Gaudium et Spes) e o “decreto” sobre o Ecumenismo (Unitatis Redintegratio).

Autor: Loïc Gicquel des Touches Páginas: 128 | Preço: 9,90€ Paulus

Autor: Raniero Cantalamessa Páginas: 128 | Preço: 11,50€ Paulus

AS INQUIETANTES PERGUNTAS DO EVANGELHO

OS DEZ MANDAMENTOS SEGUNDO O PSICÓLOGO

O sonho do padre Benjamim Bucquoy era ser um bom professor de Sagrada Escritura no seminário diocesano e um biblista reconhecido, mas acaba pároco nos arredores de Paris. Angustiado pelas quezílias entre os paroquianos, pelas reuniões chatas, intermináveis e com pouca ou nenhuma utilidade, começa a sentir-se frustrado e afastado do sonho pastoral e espiritual que num primeiro momento o entusiasmava. “Não posso mais. Prefiro desaparecer”. É a nota deixada pelo padre Benjamim no dia do seu desaparecimento. Fugiu? E com quem? Há uma mulher envolvida? Negócios ilícitos? Suicidou-se? Porquê? “O mistério adensa-se”. Best seller em França, onde vendeu mais de 100 mil exemplares, é um romance mordaz, que interpela a Igreja.

Este livro reúne as meditações do padre Ermes Ronchi propostas ao Papa Francisco e à Cúria Romana durante os Exercícios Espirituais; um convite a procurar o Deus das grandes questões: não para O interrogar, mas para deixarmo-nos interrogar por Ele. E em vez de procurar uma resposta imediata, parar e viver bem cada pergunta, as inquietantes perguntas do Evangelho. No Prefácio o Papa Francisco diz que estas reflexões impelem-nos a ser “portadores de luz, de bondade e de esperança”.

Hoje encontram-se mandamentos para tudo. Até para dietas. Este livro faz uma leitura dos Dez Mandamentos na perspetiva da Psicologia. O autor procura levar o ser humano a “reconhecer a existência do Mistério que nos circunda; restituir dignidade e honra aos pais, com quem demasiado depressa entramos em conflito; cultivar a harmonia na nossa vida sexual e nas relações com os bens materiais; reencontrar o equilíbrio psíquico (…), pois os Dez Mandamentos habitam no coração humano”.

Autor: Jean Mercier Páginas: 224 | Preço: 12,90€ Multinova

Autor: Ermes Ronchi Páginas: 156 | Preço: 14,00€ Paulus

Autor: Luciano Masi Páginas: 144 | Preço: 11,90€ Paulus

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MEGAFONE

por albino brás

“Ninguém é sem-abrigo, as pessoas estão sem abrigo. Não estão na rua porque querem, mas porque não têm uma alternativa melhor. Não são pessoas inferiores, não se podem infantilizar, não são coitadinhos” Joana Teixeira da Associação Conversa Amiga

“A humanidade é a vitória dos arrogantes sobre os humildes, dos fortes sobre os débeis, da besta sobre o anjo” Guerra Junqueiro (1850-1923) poeta, prosador, jornalista e político português

“O Papa Francisco, socialmente, é um franciscano; intelectualmente, um dominicano; politicamente, um jesuíta. Mas sempre humano” Dominique Wolton sociólogo francês

“A fragrância das flores espalha-se apenas na direção do vento. Mas a bondade de uma pessoa estende-se em todas as direções” Chanakia (350-283 a.c.) estadista e filósofo indiano

“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos” José Saramago (1922-2010) escritor português 34

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Bendita seja a data [o Natal] que une toda a gente numa conspiração de amor Hamilton Wright Mabi biógrafo e escritor norte-americano

“Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror” Charles Chaplin (1889-1977) comediante inglês


A EQUIPA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA DESEJA LHE UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO 2018


NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado… Só esse pobre me pareceu Cristo. Vitorino Nemésio

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