ANO LIX | FEVEREIRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤
HOMENAGEM
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MANUEL CARREIRA, MISSIONÁRIO PIONEIRO E LUTADOR SILENCIOSO
FALTAM SALAS DE AULA NA COSTA DO MARFIM Pág. 10 UMA OPORTUNIDADE PARA O CREMILDO Pág. 12 MARTÍRIO DO GUIÚA CONTADO EM LIVRO Pág. 14
editorial
NÚMEROS SURPREENDENTES “Se a Mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (Jo 15, 20). Se assim é, não deveria surpreender-nos a perseguição religiosa atual. Morrem hoje pela sua fé mais cristãos do que aqueles que foram mortos no auge das piores perseguições do Império Romano. O sociólogo Máximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa na Itália, afirmou recentemente que em 2012 foram mortos em todo o mundo, por motivo da sua fé, 105 mil cristãos. Na sua opinião, são “números espantosos”. Países com uma forte presença do fundamentalismo islâmico, tais como a Nigéria, a Somália, o Mali, o Paquistão e algumas regiões do
A Igreja nunca deixou de ter os seus mártires. É a Paixão de Cristo que continua na história. É uma fidelidade a Cristo e à sua Igreja que atravessa os séculos Egito, países totalitários e outros assinalados por nacionalismos étnicos, são hoje considerados zonas de perigo para os cristãos. Há Estados onde o simples facto de ir à missa ou à catequese já constitui por si só um perigo. Sem falar dos milhares que todos os dias são perseguidos, confiscados dos seus bens, separados da família, encarcerados e torturados por causa da sua fé. Segundo a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, os cristãos constituem atualmente o grupo religioso mais perseguido e discriminado do mundo. Um estudo recente refere que 75 por cento dos atentados contra a liberdade religiosa têm os cristãos como alvo.
Apesar de ser um dos direitos fundamentais da pessoa humana praticar a própria religião, apesar do Vaticano II ter declarado que “os grupos religiosos têm o direito de não serem impedidos de ensinar e testemunhar publicamente, por palavras e por escritos, a sua fé”, os cristãos continuam a ser mundialmente perseguidos, sobretudo onde são uma minoria. A Arábia Saudita, a Coreia do Norte e o Paquistão representam os países onde a liberdade religiosa é mais ameaçada. Mas também na China, Tunísia, Líbia, Egito e Nigéria ela é severamente limitada. A Igreja nunca deixou de ter os seus mártires. É a Paixão de Cristo que continua na história. É uma fidelidade a Cristo e à sua Igreja que atravessa os séculos. Uma multidão enorme: jovens mártires, crianças mártires, homens e mulheres mártires, povos mártires. É um fresco de tantas cores que inclui muitos missionários que recusaram abandonar as próprias comunidades na hora do perigo. Mártires da missão, onde o medo não apagou o amor. Num tempo em que a escolha da fé e do seguimento de Cristo é contrastada e hostilizada por tamanha intolerância, aumenta a responsabilidade dos cristãos de serem testemunhas intrépidas do Evangelho. Estamos a viver uma nova estação para o testemunho da nossa fé. DARCI VILARINHO
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 2 Ano LIX – FEVEREIRO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.400 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Ana Paula Contracapa Lusa Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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UM LUTADOR SILENCIOSO
03 EDITORIAL Números surpreendentes 05 PONTO DE VISTA Mestra da fé 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Um amigo faz a diferença 08 MUNDO MISSIONÁRIO Um milhão de deslocados e 600 escolas destruídas no Congo
Bispo de Bissau chama a testemunhar a fé na sociedade Crianças do Bangladesh trocam livros por trabalho Mapuches do Chile vítimas de séculos de marginalização 10 A MISSÃO HOJE Jovens da Costa do Marfim precisam de mais educação 11 PALAVRA DE COLABORADOR É tudo por amor 12 A MISSÃO HOJE Missionários apoiam jovem no curso de corte e costura 13 DESTAQUE Conflito ameaça acordos de paz 14 ATUALIDADE Catequistas mártires exemplo para a Igreja do futuro 16 ATUALIDADE França em guerra contra os islamitas no Mali 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Preparemos a Páscoa 24 TEMPO JOVEM Prevenir o enfarte 26 SEMENTES DO REINO Boas opções 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Stop aos 33 anos 32 OUTROS SABERES Quem quer cavalo sem defeito anda a pé 33 NOTAS MISSIONÁRIAS O segredo é amar 34 FÁTIMA INFORMA Renovação para a nova evangelização
ponto de vista
MESTRA DA FÉ CARLOS CABECINHAS*
A 23ª peregrinação a Fátima da Família Missionária da Consolata, no dia do seu fundador, o beato José Allamano, marca sempre um momento festivo para o Santuário de Fátima. Não se trata apenas de questão de “boa vizinhança”, devida à presença dos Missionários da Consolata na Cova da Iria, à sua colaboração
Em Ano da Fé, o tema da peregrinação – “Feliz quem acredita” – convida a tomarmos consciência da fé como fonte de alegria e felicidade, mas também a contemplar Maria, proclamada feliz porque acreditou com o Santuário ou às iniciativas para a difusão da mensagem de Fátima que levam a cabo. Trata-se mais fundamentalmente de um testemunho missionário que nos desperta para a identidade da própria Igreja e da sua missão. Em Ano da Fé, o tema da peregrinação – “Feliz quem acredita” – convida a tomarmos consciência da fé como fonte de alegria e felicidade, mas também a contemplar Maria, proclamada feliz porque acreditou (cf. Lc 1, 45), como modelo dos crentes e amparo da fé dos cristãos.
profundidade. Ela foi a “mulher crente” por excelência, tornando-se no modelo incontornável da vivência da fé. Esta exemplaridade de Maria faz dela nossa mestra: aquela que, pelo seu exemplo, nos ensina a percorrer o caminho da configuração com Cristo e nos ensina a comunicá-lo aos outros. O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini, apresentava Maria como “Mãe da fé” precisamente como corolário do capítulo dedicado à “resposta do homem a Deus que fala”. E a fé é fundamentalmente resposta do homem a Deus que Se nos revela e nos fala. Ao mesmo tempo, Maria é a Mãe que sustenta a fé dos seus filhos. Ela, que reina gloriosa no Céu, atua misteriosamente na terra, pela sua intercessão materna. Por isso, já desde tempos antigos, Nossa Senhora é invocada pelo povo cristão como «amparo da fé». Ela é, pois, guia segura na vivência deste Ano da Fé. Nas suas aparições, em Fátima, Maria foi “mestra de fé” para os pequenos videntes e continua a sê-lo para nós hoje. Faço votos de que esta peregrinação da Família Missionária da Consolata ajude todos os peregrinos a aprofundar a sua fé e a testemunhar a felicidade de acreditar. * Reitor do Santuário de Fátima
Por um lado, Maria ocupa um lugar muito especial na vivência do Ano da Fé: desafia-nos a deixarmo-nos conduzir por ela até Deus, de tal modo que a nossa fé se torne mais consciente e a possamos confessar, celebrar, viver e rezar com maior Fevereiro 2013
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leitores atentos
RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Foi com imenso desgosto e surpresa que recebi a notícia do falecimento do senhor padre Manuel Carreira. Ele foi sempre muito meu amigo e da Isabel, minha mulher. Meu, pelo que fiz na juventude ao auxiliar, há cerca de 60 anos o senhor padre Armando Giovanni, que veio de Itália com o fim de dar a conhecer a Consolata no norte do país. Mas também admirava a minha mulher, pelos versos que publicou 6
UMA PRESENÇA AMIGA
Queridos missionários: Venho pagar a minha assinatura para 2013. Faço-o com o coração cheio de apreço pelo vosso trabalho. A vossa revista é realmente uma presença amiga muito boa, porque desperta, enriquece e alimenta a nossa fé. Que o novo ano seja cheio de bênçãos e de muita paz. Segue um Hino à Paz: Teu perfume é mais belo que o das rosas, Tua beleza não cabe nos jardins, Mas para seres assim tão pura e tão formosa Ninguém mais senão Deus te fez assim. Lucília
TENHO PENA
Estimados irmãos missionários: Envio o pagamento dos assinantes que estão a meu cargo. Por um assinante que se perdeu, apareceu uma assinante nova. Espero que seja por muitos anos. Quero dar-vos os parabéns pelo conteúdo da revista. Está uma maravilha. Só tenho pena de o nosso irmão Norberto Louro não continuar a escrever “A missão é simpática”. Era um texto que lia imensas vezes. Quando estava mais triste ficava sempre bem disposta.
LAÇOS DE AMIZADE
Caros amigos: É com grande tristeza que partilho convosco o recente chamamento para o Pai do nosso querido amigo padre Carreira, a quem me ligavam laços de grande respeito e amizade. Que o Senhor lhe conceda a felicidade eterna. Frederico
É DE TODO O CORAÇÃO
Caros missionários: Junto envio uma importância para o pagamento das assinaturas a meu cargo. O resto é para quem mais precisar. Não é muito, mas é de todo o coração. Os tempos são de grande crise. Que Deus nos dê saúde para ajudarmos os nossos filhos e netos e todos os que precisam, principalmente os Missionários da Consolata, a quem eu amo de todo o coração há já muitos anos. E as minhas condolências pela recente partida para a Casa do Pai do padre Manuel Carreira, meu grande amigo há mais de 25 anos. Maria Encarnação
Maria Ascensão
em livro, donde escolhia algum poema para a revista. Dizia o beato Allamano: “No céu farei por vós mais do que fiz na terra”. Estou certo de que assim fará o nosso bom padre Manuel Carreira. António Lereno
Caro senhor Lereno: Aproveito a sua mensagem para agradecer a si e à sua mulher toda a colaboração que têm prestado à causa missionária, e as suas condolências pelo falecimento do nosso caríssimo padre Carreira. O nosso agradecimento estende-se a todas as pessoas que com
as suas mensagens marcaram presença na sua despedida deste mundo. O trabalho que aqui desenvolveu e a sua proximidade amiga junto dos colaboradores da nossa missão fizeram dele uma pessoa muito amada e consultada. Do céu, como afirma o senhor Lereno, o padre Carreira junto à Consolata e ao beato Allamano vão certamente continuar a ajudar as pessoas amigas do nosso trabalho missionário. DV
horizontes
UM AMIGO FAZ A DIFERENÇA TEXTO TERESA CARVALHO ILUSTRAÇÃO HUGO LAMI Júlia fazia a sua primeira semana de serviço no hospital. Agora que concretizara o seu sonho, sentia um misto de temor e de entusiasmo, certa da responsabilidade que ser médica acarreta. Contudo, era a minimizar sofrimentos que queria dedicar os seus conhecimentos e capacidades. Terminou a passagem do turno às 00h30. Pouco depois, no ecrã do telemóvel, sinal de mensagem de Tony. Ao lê-la, olhou em redor com espanto e aflição. Leu de novo a tentar que não fosse o que temia: – Só te queria dizer adeus. Agradeço toda a ajuda que me quiseste dar, mas nada vale a pena. Sê feliz! Júlia apressou-se a responder: – Olá, Tony! Estou a sair de serviço. Apetece-me um chá. Vens ter comigo? – Para mim é tarde para chás. Há algum tempo que Júlia sentia Tony triste, fugidio dos amigos, desinteressado do que antes lhe
dava prazer. Refugiava-se em casa e nem às mensagens de telemóvel respondia. Face aos sinais de depressão, Júlia propôs-se marcar consulta de Psicologia ou Psiquiatria. Tony ofendeu-se e afastou-se ainda mais. Júlia continuou os contactos via sms ou por mail, sempre sem resposta. Por isso, esta mensagem era tão assustadora. Que iria ele fazer? Tentou nova mensagem: – Tony, neste momento sou eu que preciso de ajuda. Preciso encontrar-me contigo. – Boa tentativa! Busca outra pessoa porque eu não sei nem posso ajudar-te. Tenho outro programa para esta noite. Em desespero por entender o risco que ele corria, ligou para o telemóvel dos pais. Silêncio. Deveriam estar a dormir. Entrou no carro e em velocidade máxima, dirigiu-se a casa de Tony. No dia seguinte podia ser tarde demais. Tocou a campainha. O quarto dos pais de Tony iluminou-se e pouco depois o pai vinha à janela. – Júlia!? Que aconteceu? – Preciso falar convosco com urgência. Daí a pouco Júlia e os pais estavam sentados na sala, eles incrédulos e aterrorizados com a perspetiva que Júlia lhes dava: – Mas Tony nunca nos disse nada!
Até parecia estar tranquilo. Só mostra preocupação por não estar a trabalhar, mas graças a Deus nada lhe falta. Ele é precioso para nós e ele sabe isso. Como pudemos ser tão cegos?... – Senhor José, dona Amélia, são questões mais profundas dentro dele. É ele que não acredita merecer o vosso amor porque está deprimido. Sempre quis poupar-vos, por isso fingia quando estava convosco. Esta noite ele pode pôr em risco a sua vida. Precisa de internamento no serviço de saúde mental para ser protegido e tratado. Ainda em choque, e depois de assegurar que Tony estava no quarto e a dormir (a fingir?), estabeleceram um plano de ação. Estavam ali para tudo o que o seu filho precisasse, como sempre estiveram. Um mês depois, na visita a Tony, Júlia foi informada da alta clínica. Havia um longo percurso ainda a fazer mas o abraço que Tony lhe deu era uma afirmação de vida novamente capaz de sentir, de querer e de agir. Foi a resposta máxima que Júlia poderia receber de tão pequenina ação. O seu papel foi apenas de «importar-se», mas isso fez a diferença de uma vida.
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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA
UM MILHÃO DE DESLOCADOS BISPO DE BISSAU CHAMA E 600 ESCOLAS DESTRUÍDAS A TESTEMUNHAR A FÉ NA NO CONGO SOCIEDADE
Com mais de 600 escolas destruídas, cerca de 250 mil estudantes estão impedidos de continuar os estudos, no Kivu Norte, República Democrática do Congo. O vandalismo e a instabilidade causados por diversos movimentos armados obrigaram ainda cerca de um milhão de pessoas a abandonar as suas casas e os seus bens. Estes grupos armados aterrorizam e flagelam a população civil. Segundo os observadores, a situação mantém-se tensa para pressionar o governo congolês empenhado em negociar uma solução pacífica para a crise do Kivu Norte. As negociações decorrem em Kampala, Uganda, se bem que diversos relatórios das Nações Unidas denunciem o apoio do Ruanda e Uganda aos rebeldes do movimento armado M23.
“Dado o momento histórico que estamos atravessando no nosso país, o caminho que temos a percorrer juntos apresenta-se cheio de dificuldades e desafios”, afirma José Camnate, bispo de Bissau. A gravidade da situação que o seu país vive está subjacente à carta pastoral que o prelado dirige às comunidades cristãs e aos homens de boa vontade da Guiné. Intitulado “Reavivar e testemunhar a nossa fé”, o documento lembra aos cristãos guineenses a sua responsabilidade de “reforçar o papel que devem exercer como homens e mulheres de fé na sociedade”. O bispo de Bissau sublinha que a fé cristã, para ser autêntica, “tem de ser vivida na Igreja, em casa, na família, na escola, no trabalho, na economia, no comércio, na política, nas diversões, na vida social”.
Fevereiro Consolatino
TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata português
em Roma
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Há já uma dúzia de anos que não passo o inverno na Europa e tenho recebido informações contraditórias acerca do que me pode vir a acontecer este ano. Já me preveni com a vacina contra a gripe e uns reforços de vitamina C. Fevereiro, porém, fala-me especialmente de um outro tipo de saúde, aquela que não está sujeita às contingências do bom ou mau tempo. Para nós, Família Missionária da Consolata, é o mês em que celebramos a pessoa e o espírito do nosso Fundador. Em Portugal muitos membros desta família alargada deslocar-se-ão a Fátima em peregrinação no dia 16. “E em Roma?”, perguntareis. Celebrar 87 anos sobre
CRIANÇAS DO BANGLADESH TROCAM LIVROS POR TRABALHO
Uma pobreza avassaladora penaliza metade dos alunos do ensino elementar do Bangladesh. As crianças veem-se obrigadas a abandonar a escola para encontrar trabalho. Os pequenos trabalhadores recebem, em troca de 10 ou 12 horas diárias de trabalho, uma remuneração ridícula que anda à volta de 20 cêntimos. Cerca de seis milhões de crianças entre os 10 e os 14 anos, de acordo com um relatório oficial, trabalham no sector “informal”, isto é, não regulado por normas ou contratos. No entanto, há já programas que tentam combater este flagelo, procurando valorizar as capacidades dos jovens mais pobres. Já passaram por estes programas mais de 140 mil e muitos deles conseguiram um trabalho permanente.
a morte do beato José Allamano, 22 anos depois da sua beatificação, é para nós aqui na cúria geral do Instituto um momento de especial alegria e também um desafio à ação. Muitas vezes me tenho perguntado se de facto os filhos e devotos de Allamano estão fazendo tudo o que lhes é possível para obterem o milagre necessário para a canonização. Aqui em Roma estão surgindo grandes iniciativas nesse sentido e espero que em Fátima essa intenção esteja também no coração e na oração de todos os peregrinos.
MAPUCHES DO CHILE VÍTIMAS DE SÉCULOS DE MARGINALIZAÇÃO
“Há violência e medo por todo o lado”, denuncia Manuel Vial, bispo de Temuco, Chile. “O povo mapuche foi maltratado durante séculos. Eu estou em Temuco há 12 anos e sempre afirmei que o Chile tem uma dívida aberta com o povo mapuche”. A denúncia do prelado segue-se a declarações da Comissão Permanente da Conferência Episcopal chilena. Elas manifestam uma “profunda preocupação” com o conflito que ainda se vive na região de La Araucanía, território do povo mapuche, vítima de sucessivas ocupações. É necessário pôr fim à violência “com profundo respeito pela vida humana e pela dignidade das pessoas”. Os bispos chilenos afirmam a prioridade do “diálogo como meio de resolução dos conflitos”. O perpetuar-se desta situação “exige a reparação de séculos de marginalização e injustiça”. A região de La Araucanía é muito rica em recursos naturais e regista uma explosão do turismo devido às suas belezas naturais, que contrastam com os altos índices de pobreza das suas populações.
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a missão hoje
Kaffet Guy Serge, professor na escola de Sago, sonha com computadores e internet
JOVENS DA COSTA DO MARFIM PRECISAM DE MAIS EDUCAÇÃO A taxa de analfabetismo supera os 50 por cento, faltam milhares de professores e as salas de aula são insuficientes. As crianças que nasceram durante a guerra enfrentam ainda outro problema: não têm documentos de identificação texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA Ainda a recompor-se social e economicamente da guerra civil que fustigou o país nos últimos anos, a Costa do Marfim enfrenta agora problemas novos, sobretudo no setor da Educação. Das soluções que vierem a ser aplicadas poderá depender o futuro de várias gerações e da própria nação. Para já, a única certeza que existe é que mais de metade da população não sabe ler nem escrever. E que, um pouco por todo o país, há carência de professores, escasseiam as salas de aula e falta muito equipamento escolar. “A educação dos jovens é um dos maiores desafios”, afirma Michael Miano, um dos missionários da Consolata que trabalha na Costa do Marfim. 10
“A juventude tem uma grande vitalidade e uma enorme capacidade de ação, mas necessita de muita formação”, adianta o sacerdote, salientando a necessidade de se aproveitar a esperança e dinamismo dos mais jovens para que as gerações futuras não se fiquem pelas “coisas fúteis”. O Ministério da Educação marfinense reconheceu, recentemente, que faltam perto de 3.000 professores no sistema educativo e que o parque escolar se encontra deficitário. Com a falta de edifícios escolares, muitas das salas de aula projetadas para acolherem 25 estudantes estão neste momento com uma lotação de 40 ou mais alunos. Ao contrário, na região oeste,
palavra de colaborador Em Sago, uma pequena localidade a 200 quilómetros de Abidjan, mantêm em funcionamento uma escola primária, que acolhe 256 alunos e dá trabalho a seis professores e um estagiário. Para assegurar que as crianças se mantêm na escola durante todo o dia, foi necessário criar uma cantina, para servir refeições
onde se verificou um êxodo maciço de pessoas para a Libéria, muitos estabelecimentos de ensino tiveram que fechar por falta de educandos. Um outro desafio que o país está a enfrentar no rescaldo dos confrontos pós-eleitorais prende-se com a falta de documentos de identificação de dezenas de milhares de crianças, nascidas durante a guerra civil. As famílias deixaram de levar a sério o registo dos bebés e a falta de dados de identificação dos cidadãos tornou-se num grave obstáculo nas regiões onde o Estado esteve ausente, entre 2002 e 2010. A dimensão do problema começou a atingir proporções alarmantes à medida que essas crianças foram avançando nos estudos e foram impedidas de avançar para o ensino secundário por não terem certidão de nascimento. Neste caldo de contrastes e dificuldades, os missionários da Consolata vão contribuindo, como podem, para o enriquecimento educativo do país. Em Sago, uma pequena localidade a 200 quilómetros de Abidjan, capital económica, mantêm em funcionamento uma escola primária, que acolhe 256 alunos e dá trabalho a seis professores e um estagiário. Para assegurar que as crianças se mantêm na escola durante todo o dia, foi necessário criar uma cantina, para servir refeições. Se os menores continuassem a ter que ir almoçar a casa, muitos deles dificilmente regressavam à escola da parte da tarde, contou o professor Kaffet Guy Serge à FÁTIMA MISSIONÁRIA. O programa curricular do estabelecimento contém as disciplinas obrigatórias, desde a matemática às ciências, mas contempla também outras matérias, como os trabalhos oficinais, a música e a dança. Os alunos podem ainda frequentar a catequese. No futuro, os professores idealizam voos mais altos. “Sonhamos com as novas tecnologias, com a instalação da internet na escola, com computadores para os docentes e com uma biblioteca”, revela Kaffet Guy.
É TUDO POR AMOR Natural de Alqueidão, concelho da Figueira da Foz, Celeste Páscoa Areia, de 63 anos joviais, dá graças a Deus pela sua família: o marido, os dois filhos e a netinha. Há muitos anos que se ocupa do serviço precioso de fazer a cobrança das 105 assinaturas da FÁTIMA MISSIONÁRIA que tem a seu cargo texto e foto DARCI VILARINHO “Quando vi que a revista tinha coisas tão bonitas, achei que valia a pena difundi-la”. É um serviço que presta com todo o gosto às Missões, sozinha ou com a ajuda do marido, quando deve fazer a cobrança na zona da Figueira. “É tudo por amor”, diz ela, convencida de que nada do que faz ficará esquecido por Deus. “E olhe que por vezes tenho que ir umas dez vezes a casa da mesma pessoa...”. Mas ela insiste, não só porque o contributo de cada um é importante, mas também pelo bem que se faz às pessoas, incitando-as a ler. “Insisto sempre para que leiam, porque é uma revista que vale a pena ler”. Alqueidão e Lavos são duas comunidades confiadas aos Missionários da Consolata. “Quanta honra e quanta alegria”, diz dona Celeste. A vinda dos missionários para a paróquia “foi uma partida do beato Allamano. É de faltar a respiração, tal o carinho que eu tenho por vós, missionários. A amizade já vem de longa data. Vós sabeis quanto admiro o vosso trabalho maravilhoso e a nossa querida revista FÁTIMA MISSIONÁRIA...”.
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a missão hoje Atentas à dedicação, mas sobretudo ao esmero que colocava em todas as tarefas, as formadoras convidaram-no a ajudar nos pequenos trabalhos de artesanato. Mais uma vez, correspondeu às expectativas, aprendendo e trabalhando afincadamente. No final do curso, como prémio, os missionários ofereceram-lhe um kit de costura, dando um sinal de que acreditavam no seu trabalho e uma perspetiva que esta atividade lhe podia abrir um futuro economicamente independente, numa região em que o desemprego é quase endémico e em que a pessoa portadora de deficiência, sem quaisquer apoios, tem a vida ainda mais dificultada.
Cremildo Chauque destacou-se no primeiro curso de costura aberto a homens
MISSIONÁRIOS APOIAM JOVEM NO CURSO DE CORTE E COSTURA Foi o melhor aluno do curso de formação em costura e saúde e fazia todos os dias cinco quilómetros a pé para não falhar com a primeira encomenda. A missão do Guiúa, em Moçambique, vai ajudá-lo a tirar um curso profissional texto FRANCISCO PEDRO* foto MARGARIDA RIBEIRO ROSA Criado inicialmente para dar formação às mulheres de Guiúa, Moçambique, o curso de costura e saúde lecionado na missão de Santa Isabel, dos Missionários da Consolata, contou na sua última ação formativa com uma novidade. Pela primeira vez foram aceites inscrições de rapazes. E foi precisamente um desses jovens que se destacou 12
como o melhor aluno do curso. Cremildo Chauque, 17 anos, tem uma complicada deficiência óssea nas costas e no peito e uma provável sequela deste problema que o faz coxear bastante. Porém, as dificuldades não o impediram de ser sempre um dos primeiros a chegar às aulas, destacando-se pela assiduidade e qualidade do trabalho.
Cremildo vive com os avós. Nunca conheceu o pai, e a mãe habita com a sua nova família noutra casa. Para o incentivar, a missão encomendou-lhe 50 bolsas para guardanapos. O modo como se atirou ao trabalho – sem hesitar percorrer a pé cinco quilómetros – e a abnegação demonstrada levaram os missionários a lançarem-lhe outro desafio: frequentar um curso profissional de corte e costura na Escola Secundária Técnico Profissional de Inhassoro, situada a 400 quilómetros do Guiúa. A família agradeceu a oportunidade e o jovem começou as aulas em janeiro. A missão do Guiúa assumiu as despesas do internato e as propinas. Apesar de não ter sido uma decisão fácil, nestes tempos de crise, “os missionários acreditam que alguém os quererá apoiar nesta aposta de um futuro para o Cremildo, transformando esse sonho numa alegria partilhada”. * com Diamantino Antunes
destaque
Manifestação em Bangui, na sequência dos ataques da coligação rebelde
REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
CONFLITO AMEAÇA ACORDOS DE PAZ texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Governo, rebeldes e oposição da República Centro-Africana chegaram a um acordo, a 11 de janeiro, em Libreville, travando deste modo o avanço das forças rebeldes que em pouco mais de duas semanas ocuparam cerca de 85 por cento do país. Em consequência do acordo, o presidente François Bozizé foi forçado a demitir o governo, a aceitar um governo de salvação nacional liderado pela oposição e a realizar eleições antecipadas. O conflito das últimas semanas representa o regresso à instabilidade política e militar, face ao impasse na implementação dos anteriores acordos de paz, assinados em 2008.
Apesar de uma importante presença de forças militares internacionais no país, François Bozizé foi obrigado a deslocar-se a Libreville para aceitar uma situação política que pusesse termo ao avanço das forças rebeldes da Séleka (que significa Aliança em língua sango).
aproximar-se da capital, Bangui. Numa mensagem à nação, os bispos denunciaram a violência contra civis nas áreas conquistadas pelos rebeldes Séleka, incluindo o recrutamento forçado de crianças e as detenções arbitrárias cometidas na capital por parte das forças de segurança do governo.
Bispos contra a guerra
Odor a petróleo
A Aliança reúne vários movimentos políticos como a União das Forças Democráticas para a Reunificação, de Michel Am Nondokro Djotodia, a Convenção dos Patriotas para a Justiça e a Paz, de Abdoulaye Issene, e a Frente Democrática do Povo Centro-Africano, de Abdoulaye Miskine. Entre as principais reivindicações dos rebeldes está a exigência que o presidente Bozizé respeite os acordos assinados em 2008. Em causa está, nomeadamente, o desarmamento e a integração no exército de elementos das diferentes partes beligerantes no conflito. Apesar de as forças Séleka serem constituídas por movimentos políticos muito diferentes e com perspetivas inconciliáveis sobre o futuro do país, o certo é que em poucas semanas conseguiram ocupar inúmeras cidades e
Reeleito em 2011, numas eleições contestadas pela oposição, Bozizé foi perdendo alguns aliados políticos internacionais, nomeadamente a França, que, com o então presidente Nicolas Sarkozy criticou o “autismo de Bangui”, ao recusar-se levar por diante as reformas políticas no país. Por seu lado, numa entrevista ao jornal Le Monde, o presidente François Bozizé apontou a pobreza e, em particular, o “odor a petróleo” como causas mais próximas do conflito, considerando que a Aliança estaria a ser financiada por interesses económicos poderosos, razão que justificaria a qualidade do armamento ao dispor dos rebeldes.
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atualidade
MOÇAMBIQUE História de um massacre que abriu feridas difíceis de sarar
CATEQUISTAS MÁRTIRES EXEMPLO PARA A IGREJA DO FUTURO Missionário português presta homenagem aos catequistas assassinados há 20 anos no Guiúa, Moçambique. Num livro recheado de testemunhos, convida os cristãos a descobrirem uma forma diferente e apaixonada de viver a fé texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA Antes da partida para o Centro Catequético do Guiúa, na diocese de Inhambane, sul de Moçambique, em março de 1992, Luísa Mafo teve um
Diamantino Antunes, à esquerda, no lançamento do livro, no Porto
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mau pressentimento. Sonhou com dois quadros. Um, muito bonito com coisas atraentes. O outro, assinalado pela cruz de Cristo. As imagens
formadas durante o sono surgiam como um sinal de alerta para o perigo que poderia correr, tendo em conta o clima de insegurança que se vivia na região. Na festa de despedida da comunidade de Massinga, a catequista, mulher estimada pela sua simpatia e disponibilidade, revelou esse sonho e admitiu que poderia já não voltar. Foi aconselhada a desistir, mas manteve-se inabalável na sua fé. “Tenho que ir porque o Senhor me chama para lá. Tenho que escolher a cruz de Cristo”, justificou, perante uma população emocionada. Na madrugada do dia em que devia começar o curso de formação
cristã, Luísa Mafo foi barbaramente assassinada pelos soldados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), juntamente com mais 22 catequistas. Antes, em 1987, um outro ataque das forças da oposição ao governo tinha provocado a morte de outro catequista, Peres Manuel. No total, foram mortos 24 catequistas no Guiúa, hoje considerados como mártires e símbolo do grande número de pessoas que morreram durante a guerra civil. O massacre deixou uma ferida difícil de sarar na alma dos cristãos moçambicanos. Tanto, que passados 20 anos, os quadros sonhados por Luísa Mafo parecem querer ganhar vida e dimensão na realidade atual. O mais belo para projetar a imagem do leigo, como pilar fundamental (e um exemplo para os cristãos da Europa) da manutenção e fortalecimento da Igreja Católica em Moçambique, que se assume hoje como jovem e ministerial. O quadro mais sombrio, o da cruz de Cristo, para recordar que o tema do martírio não é coisa do passado, mas uma realidade viva e presente em locais antes inimagináveis. É assim que surge, pleno de atualidade, o novo livro de Diamantino Antunes, padre missionário da Consolata. Nas páginas de “Véu de morte numa noite de luar”, mais do que uma homenagem aos que morreram por perseverarem na fé, encontra-se a imagem de um país exemplar em termos de prática religiosa. Descobre-se uma Igreja viva, assente em alicerces formados pelas comunidades cristãs, onde os leigos são protagonistas nos ministérios pastorais que a Igreja lhes confiou.
Novas pistas de evangelização
Será possível este modelo numa Europa cada vez mais secularizada?
se viva a fé “sem complexos”. “Ser uma Igreja ministerial não é só os leigos agirem, é sentirem a Igreja como sua, considerando-a como uma comunidade e uma família”, afirma o missionário.
“A paz é um dom que estamos a saborear e não devem ser criadas situações que ponham em causa a estabilidade. O importante agora é apostar na formação dos recursos humanos e globalizar a solidariedade. E o papel da Igreja será mais uma vez fundamental” Brazão Mazula, professor universitário
“É pelo menos desejável e deverá ser esse o caminho, tendo em conta a redução do clero. A experiência de Moçambique tem muito a dizer-nos nesse sentido”, advoga Diamantino Antunes, atual diretor do Centro Catequético do Guiúa. Neste olhar sobre a realidade moçambicana e o papel dos leigos na reconstrução da Igreja, o sacerdote, natural de Pombal, inclui também a necessidade de uma mudança de mentalidades dos cristãos europeus. “Cá [na Europa] vive-se um cristianismo mais envergonhado, mais individual, uma espécie de consumismo do sacramento, em que o cristão é mais clericalista que o padre”. Torna-se por isso fundamental mudar comportamentos para que
Para Brazão Mazula, professor universitário e ex-presidente da Comissão Nacional de Eleições de Moçambique, o massacre dos catequistas do Guiúa é “a prova concreta de como foi atroz” a guerra civil. “Matou-se sem dó nem piedade, destruiu-se quase tudo ao nível de infraestruturas, dividiram-se famílias, provocaram-se traumas difíceis de esquecer”. Embora a paz perdure no país há duas décadas, a proximidade das eleições autárquicas, legislativas e presidenciais, reacendeu os fantasmas da rebelião, com o regresso do líder da RENAMO para as matas da Gorongosa, antigo bastião do movimento rebelde. Brazão Mazula, que reuniu com Afonso Dhlakama antes de partir para Portugal para uma série de conferências promovidas pelos Missionários da Consolata, mantém-se otimista. “A paz é um dom que estamos a saborear e não devem ser criadas situações que ponham em causa a estabilidade. O importante agora é apostar na formação dos recursos humanos e globalizar a solidariedade. E o papel da Igreja será mais uma vez fundamental”, conclui.
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atualidade
INTERVENÇÃO Força aérea francesa atua em nome das Nações Unidas
Militares franceses ultimam preparativos para mais um ataque às forças rebeldes
FRANÇA EM GUERRA CONTRA OS ISLAMITAS NO MALI Perante a fraqueza do Estado maliano, a comunidade internacional multiplicou-se nos últimos meses em condenações dos grupos islamitas que tomaram todo o norte do país e impuseram a lei islâmica em cidades como Tombuctu, património cultural da humanidade. Agora, perante a ameaça dos islamitas de avançar para sul, a França decidiu enviar tropas para a antiga colónia. Soldados de países africanos, como a Nigéria, devem juntar-se a esse esforço para evitar o colapso do Mali perante bandos armados ligados à Al-Qaeda fundada por Osama bin Laden texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA De Tombuctu, mítica cidade do deserto com os seus edifícios de areia, chegaram nos últimos meses apenas notícias trágicas: 16
amputações, lapidações, destruição de túmulos de santos sufis. Senhores de todo o norte do Mali, vários grupos ligados à Al-Qaeda
instauraram de forma brutal a sua versão da charia, a lei islâmica, ignorando a tradição moderada dos muçulmanos da região, sobretudo adeptos do sufismo. Perante a fraqueza do Estado maliano para fazer frente aos fundamentalistas islâmicos armados, a França decidiu intervir em meados de janeiro, enviando tropas e aviões. Sob mandato das Nações Unidas, outras nações prometem também apoiar a ação militar, como é o caso da Nigéria. Situado na zona de transição entre o Norte de África, branco, e a África subsariana, negra, o Mali tem encarnado desde março do ano passado todos os males do continente. País muçulmano independente de França desde 1960, assistiu à democratização a partir dos anos 1990, com muito do mérito a ser atribuído a Amadou
Toumani Touré, mais conhecido por ATT, cujo mandato terminava em abril de 2012. Mas em março, uma junta militar afastou o Presidente, a pretexto de salvar o Estado, incapaz de enfrentar o terrorismo islamita. Seguiu-se uma desgraça ainda maior. Há vários anos que um grupo denominado Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI), com raízes na Argélia, se move por todo o Saara, da Mauritânia ao Níger, sequestrando turistas. Perante esse misto de atividade criminal e de terrorismo, os governos da região mostraram-se incapazes de atuar, enquanto a Europa e os Estados Unidos, preocupados, também não iam além das palavras. Mas o golpe em Bamako ofereceu uma oportunidade à AQMI de tomar o norte do Mali, aliando-se a outro grupo islamita, o Ansar Eddine liderado por Yiad ag Ghali, e aos guerrilheiros tuaregues. Estes últimos, reforçados por elementos bem armados que tinham lutado na Líbia ao lado das tropas de Muammar Kadhafi, representam uma rebelião laica que luta por direitos para a sua comunidade, mas acabaram por ser usados, e depois afastados, pelos islamitas. A partir de abril de 2012, os rebeldes passaram a controlar Kidal, Gao e Tombuctu, as três cidades do norte do Mali. E quando a França se preparava para, apoiada nas resoluções da ONU, dar uma resposta militar do governo de Bamako, os islamitas lançaram uma ofensiva para sul, tomando a cidade de Konna. Aconteceu a 10 de janeiro. De repente tudo se precipitou. As tropas francesas avançaram de imediato, com aviões Mirage a bombardearem os combatentes rebeldes e o Presidente François Hollande a
prometer reforçar de 800 para 2500 o número de militares envolvidos. Em Bamako, a população celebrou a resposta aos islamitas. A junta militar, liderada pelo capitão Amadou Sanogo, cedeu pouco depois do golpe o poder ao presidente do parlamento, Dioncounda Traouré, agora chefe de Estado interino, e este último joga a sua credibilidade no sucesso do ataque aos rebeldes. Mas se em Tombuctu os islamitas parecem ter desaparecido logo após os bombardeamentos, há quem tema que seja mera retirada tática. E a verdade é que já com a França em guerra, os islamitas conseguiram tomar outra cidade do sul, Diabali, a 400 quilómetros de Bamako, o que significa que o conflito arrisca ser mais demorado que aquilo que Paris desejaria. *jornalista do Diário de Notícias
AZAWAD, O PAÍS DOS TUAREGUES O norte do Mali é terra tradicional dos tuaregues, os famosos homens de azul, nome tirado da cor das suas vestes, que por vezes deixa a tinta debotar para a própria pele. Espalhados por uma imensa faixa desértica, que abrange partes da Argélia, do Niger, do Burkina Faso e da Líbia, além de muito do território do Mali, milhão e meio de tuaregues lutam há muito por um Estado, o Azawad, mas admitem também aceitar uma autonomia que lhes permita manter a sua cultura nómada e a língua berbere. Muçulmanos, fazem do Sara o seu meio natural, cruzando-o à revelia das fronteiras. O seu principal grupo é o Movimento Nacional para a Libertação de Azawad, que ganhou força após a derrota de Muammar Kadafi na Líbia, com muitos tuaregues que combatiam nas fileiras do ditador a regressar às suas terras de origem. Mas na rebelião maliana, os islamitas conseguiram deixá-los numa posição secundária.
Estrangeiros sequestrados na Argélia Chefiados por um dissidente da AQMI, rebeldes islamitas tomaram a 16 de janeiro um campo de tratamento de gás na Argélia. Instalações controladas pela argelina Sonatrach, a britânica BP e ainda a norueguesa Statoil, o campo de Amenas contava com centenas de trabalhadores estrangeiros, sobretudo europeus, e o objetivo do grupo de Mokhtar Belmokhtar, um argelino que chegou a combater no Afeganistão, era retaliar contra a França e seus parceiros pela intervenção militar no Mali contra os grupos islamitas. No dia seguinte, a Argélia ordenou uma operação de resgate em Amenas, no Saara. Sabe-se que o ataque terá causado um número indeterminado de mortes, com pelo menos 30 estrangeiros (desde britânicos a japoneses, passando por noruegueses) dados como em paradeiro incerto 24 horas depois do resgate. Fevereiro 2013
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dossier
PADRE MANUEL CARREIRA Paix達o, coragem e entusiasmo pela miss達o
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UM LUTADOR SILENCIOSO A convicção sempre foi o seu forte. Começou na juventude, com a decisão de entrar no seminário, prosseguiu na forma como se entregou à formação dos seminaristas, reforçou-se no trabalho pastoral em África e consolidou-se na escrita fluente e criativa que usou para comunicar a missão. Partiu um amigo, mas ficou um modelo de entrega ao sacerdócio missionário, à Igreja e à Consolata texto REDAÇÃO foto ANA PAULA | E. ASSUNÇÃO A decisão foi anunciada à família de forma seca, mas convicta: “Não aguento mais! Tenho que resolver isto quanto antes”. Aos 18 anos, Manuel Carreira Júnior, o jovem vivaço, de olhar azul cativante, tinha descoberto a sua vocação. Queria ser missionário. Depois de um falso alarme, aos 11 anos, agora era mesmo a sério. Só faltava escolher o seminário para onde ir. Abordou os franciscanos, mas a “farda” (o hábito) não lhe agradava. Falou
com os dominicanos, também não gostou. E o seminário diocesano não o atraía. Enquanto isto, os seminaristas da sua paróquia, a Caranguejeira, no concelho de Leiria, continuavam a chegar e a partir de férias, fazendo aumentar a sua chama vocacional. Foi então que se deu o encontro providencial. Numa deslocação ao Santuário de Fátima, para participar num retiro espiritual, conheceu o missionário italiano João De Marchi, que dava
os primeiros passos na instalação do Instituto Missionário da Consolata (IMC) em Portugal. A química entre os dois foi imediata. “O padre De Marchi usava batina comprida, barba preta e tinha uns olhos negros azeviche, duma vivacidade que fulminava. O nosso encontro foi breve mas muito intenso. Nada de palavras supérfluas. A ele interessava-lhe saber se eu tinha estofo para entrar no seu seminário; a mim interessava-me saber se o que ele me propunha condizia com o meu conceito de vocação missionária. Afinal, entendemo-nos bem. Foi amor à primeira vista. E, como não havia tempo a perder, marcámos ali mesmo a data de entrada no seminário: 3 de outubro de 1944”, descreve o próprio Manuel Carreira, num texto a que deu o título “Encontro que resultou”. No dia e hora combinados, o candidato a sacerdote apresentou-se
PERFIL
Manuel Carreira Júnior (ao centro na foto) nasceu a 5 de janeiro de 1925, na freguesia da Caranguejeira, concelho de Leiria. Foi batizado com apenas 13 dias de vida e crismado em julho de 1936. Entrou no seminário a 3 de outubro de 1944, completou os estudos teológicos em Itália e foi ordenado sacerdote em Turim, a 20 de junho de 1954, dia da Nossa Senhora da Consolata. Foi professor, assistente e diretor do Seminário de Fátima (1954-1961) e pároco de Campolide (1961-1968). Em Moçambique, foi diretor da Escola de Vila Cabral, agora Lichinga, e pároco de Nova Freixo, atualmente Cuamba (1968-1974), no Niassa. De regresso a Portugal, assumiu a função de superior da comunidade de Águas Santas, na Maia. Entre 1977 e 1981 foi Superior Regional e regressou à paróquia de Campolide. Esteve cinco anos como formador na comunidade da Figueira da Foz (1984-1989) e dois anos como animador vocacional no Cacém, Sintra. A partir de 1991, passou a integrar a redação da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA. Faleceu a 7 de dezembro de 2012. Fevereiro 2013
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Manuel Carreira festeja com familiares os 50 anos de ordenação sacerdotal
no pequeno Seminário das Missões de Fátima. “Era então a Cova da Iria uma aldeiazinha muito pacata, em que toda a gente se conhecia e se queria bem. Havia só uma rua que atravessava duas carreiradas de casas, e essa rua não era mais do que a estrada entre Vila Nova de Ourém e a Batalha. O Santuário consistia na Capelinha das Aparições, na Capela das Confissões, o fontenário e a parte do hospital, lado poente, que mais tarde foi arrasada”, de acordo com a descrição feita, posteriormente, pelo padre Aventino Oliveira. Manuel Carreira e Francisco Marques, também da Caranguejeira, destacavam-se no primeiro grupo de 11 seminaristas por serem os mais velhos. Os outros tratavam-nos por “maiorais”.
Ideias fortes
A maturidade fez com que ambos fossem enviados para Itália, em 1949, para prosseguirem os estudos. Numa Europa ainda a refazer-se da guerra, demoraram três dias a chegar a Turim. E marcaram uma viragem histórica na vida do IMC, pois eram os primeiros estrangeiros a professar como missionários da Consolata. Mais adiantado nos estudos, Carreira chegou mais depressa à ordenação sacerdotal, em junho 20
de 1954, ganhando assim o estatuto de primeiro missionário da Consolata português. Este pioneirismo, que alimentou ao longo da vida, nunca o envaideceu. “Não era daqueles que têm que estar no palco, com as luzes em cima, e viveu sempre com simplicidade. Costumo dizer que foi um grande lutador silencioso, com ideias muito fortes, bem enraizadas, pelas quais lutava com paixão, coragem e entusiasmo”, recorda Elísio Assunção, um dos missionários da Consolata que mais tempo com ele conviveu de perto. Após a ordenação sacerdotal, Manuel Carreira regressou a Fátima, para lecionar no Seminário do IMC, onde mais tarde assumiu as funções de diretor. Pelas suas mãos passaram centenas de seminaristas, que ainda hoje o
lembram com admiração. “Sempre tive muita estima por ele. Para mim, foi um modelo de sacerdote e missionário”, pode ler-se numa das muitas mensagens de condolências, enviadas pelos antigos alunos. Depois de uma experiência pastoral na paróquia de Campolide, em Lisboa, onde teve a oportunidade de enfrentar com mestria várias dificuldades de ordem religiosa, humana e social, partiu para Vila Cabral (agora Lichinga), em Moçambique. No dia do embarque, revelava a forma segura, obediente e ponderada com que sempre encarou a missão, ao afirmar: “Se me perguntassem se parto agora mais contente que há 14 anos, apenas ordenado, diria que então teria partido com mais entusiasmo; hoje, porém, parto melhor preparado e agradeço aos superiores por me
Leitor assíduo, Manuel Carreira tinha um olhar crítico e lúcido sobre a realidade missionária, nacional e internacional, que transportou para as páginas da FÁTIMA MISSIONÁRIA durante duas décadas, através da sua escrita fluente, sensibilidade e perspicácia. Escrevia sempre à mão, nunca ligou às novas tecnologias, mas mantinha viva a vontade de inovar, de perpetuar a história da Consolata
“Era o missionário em Portugal que melhor conhecia o fundador, a vida, os escritos, o espírito, o carisma. Trazia-o nas mãos, na língua, no coração”, e não perdia uma oportunidade para o dar a conhecer
terem proporcionado estes anos de experiência aqui na Metrópole”.
Capacidade de resistência
A experiência, de que falava na partida, revelou-se dura e extenuante, por causa das amarras impostas pelo regime ditatorial, mesmo nas ex-colónias. “Estávamos saturados de repressão que nos moviam os sicários do antigo regime desde o altar até à escola e à nossa vida privada. Quantas acrobacias, quantos estratagemas. Houve muitos missionários que preferiram abandonar o território em sinal de protesto: outros foram expulsos pelo governo. Nós, os do Niassa, cerrámos os dentes e combinámos todos resistir até à última, permanecer junto dos nossos cristãos até ser possível. Optámos por esta decisão por nos parecer a que melhor servia os interesses deles”, declarou, na chegada a Portugal, em finais de 1974. Manuel Carreira Júnior destacou-se sempre pela capacidade de resistência, cooperação e empreendedorismo. Travou, inclusive, várias lutas com a direcção-geral do Instituto, para que não reduzissem o corpo formador e docente do seminário. “As missões puxavam para a África e para a América, nós puxávamos para
os seminários onde, sem bons e abundantes formadores, não se poderiam colher missionários”, explicou, num dos seus muitos textos sobre a evolução da Consolata em Portugal. A par desta preocupação constante com a formação, tornou-se um “apóstolo” da obra do fundador, o beato José Allamano. “Era o missionário em Portugal que melhor conhecia o fundador, a vida, os escritos, o espírito, o carisma. Trazia-o nas mãos, na língua, no coração”, e não perdia uma oportunidade para o dar a conhecer, salienta Elísio Assunção.
Sacerdote do povo
Este amor ao Instituto e à Igreja complementava-se com o amor ao encontro e à família – fosse a de sangue ou a da Consolata. “Tinha uma relação fácil com as pessoas, pelo sorriso, pela maneira positiva, avançada e moderna de olhar para a vida”, realçou Elísio Assunção. E um carinho muito especial por todos os amigos, difusores e colaboradores da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA. Eram para ele os primeiros benfeitores da obra missionária do Instituto. O compromisso de fidelidade e de abertura para com quem o abordava, do mais pobre ao mais abastado, fizeram dele um exemplo. “O sacerdote, antes de ser jesuíta
ou franciscano, é sacerdote do povo. E essa era uma das maiores qualidades do Carreira. Não era só pessoal, mas efeito da sua convicção, de que era para o povo de Deus”, louva Aventino Oliveira. Florinda Carreira, a cunhada que o acompanhou durante toda a vida e com quem se encontrava quase todos os domingos, foi uma das pessoas que mais saboreou este cunho pessoal. “Conversávamos muito e se por alguma razão não o podia visitar, bastava-lhe um telefonema. Dizia-me que já era um mimo, que lhe sabia muito bem”. Leitor assíduo, Manuel Carreira tinha um olhar crítico e lúcido sobre a realidade missionária, nacional e internacional, que transportou para as páginas da FÁTIMA MISSIONÁRIA durante duas décadas, através da sua escrita fluente, sensibilidade e perspicácia. Escrevia sempre à mão, nunca ligou às novas tecnologias, mas mantinha viva a vontade de inovar, de perpetuar a história da Consolata. Criou e alimentou rubricas como o “Fio da história”, “Outros saberes”, “Vida com vida” ou as “Aventuras do Pipo”, e trabalhou até ao dia em que o seu coração resolveu parar, a 7 de dezembro de 2012. Na homilia da missa de corpo presente, o Superior Provincial do IMC, padre António Fernandes, recorreu às palavras da Sagrada Escritura para enaltecer o homem que dedicou toda a sua vida à missão. “O padre Manuel Carreira Júnior era uma árvore aromática que espalhava o perfume de Deus, que se transformava na sombra acolhedora da Palavra do Evangelho, que emanava luz em qualquer encontro”.
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gente nova em missão
FEVEREIRO Caminhada quaresmal
PREPAREMOS A PÁSCOA Olá pequenos e jovens missionários. Estamos em fevereiro, mês onde todos podem brincar numa festa divertida que é o Carnaval. Escolham bem as vossas máscaras e não se esqueçam de respeitar as regras. Mas neste mês mais curtinho começa um período muito importante que é a Quaresma, iniciado pela Quarta-Feira de Cinzas. O que nós vos queremos propor é que escolham um tópico para a vossa caminhada quaresmal. Vamos dar como exemplo o conflito na Síria, mas pode ser o que quiserem. Boa caminhada! texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO
QUARESMA, UMA CAMINHADA DE QUARENTA DIAS A Quaresma quer dizer a ida de Jesus para o deserto e o jejum que Ele fez por 40 dias e 40 noites. É a preparação para a Páscoa. Começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. O nosso Papa Bento XVI diz que a pedagogia da Quaresma sugere três exercícios espirituais clássicos, a saber: a oração, o jejum e a esmola. A oração, essa ferramenta tão preciosa que nos permite escutar a Deus e avaliar os nossos passos, o jejum que nos afasta do consumo e nos aproxima de Deus e a esmola que é a prova da caridade.
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SABIAS QUE:
No outro dia, no Facebook, lemos esta frase: “Uma pulga não pode fazer parar um comboio, mas pode fazer cócegas ao maquinista”. Assim, quando se sentirem pequenas “pulguinhas”, pensem nisto.
O CONFLITO NA SÍRIA
A guerra civil síria é um conflito interno a acontecer nesse país, que começou com uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para revolta armada em 15 de março de 2011 e que se mantém até aos dias de hoje. A oposição pede uma democracia e para isso quer destituir o Presidente
Bashar al-Assad do poder, mas este e o seu governo dizem estar apenas a combater “terroristas armados que visam desestabilizar o país”. Na verdade, a ONU aponta para mais de 60 mil as pessoas que já morreram e um país muito destruído. Esta guerra é, tal como todas as guerras, muito triste e injusta e parece não querer acabar mais.
ORAÇÃO, JEJUM E ESMOLA
Então o que nós vos propomos é que as vossas orações neste período sejam para o povo da Síria, para que se chegue rapidamente à paz, ao fim do conflito e que no coração de todos os homens o Espírito deposite a Caridade para que se ajude o país e as pessoas a reerguerem-se. Também vos propomos que abdiquem de coisas de que gostem para partilharem com este povo os dinheiros que pouparam. Vão ver como se sentirão mais missionários. Estão a ver como é simples? E porque não propor esta caminhada nas
O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO
vossas casas, com a vossa família e na vossa catequese ao vosso catequista?
Querido Jesus: Eu sei que devo preparar o meu coração para a tua Páscoa. Eu entendo quando me dizes que estar mais próximo de Ti é ter menos para ter mais. E depois de todas estas festas em que enchi a barriga, Às vezes esqueço-me de que há muitos como eu Que sofrem injustiças, que não têm nada E tudo à sua volta é destruição e dor. Por isso, Te peço, planta em mim sede de justiça e consolação E ajuda-me nesta caminhada quaresmal Para ficar um missionário mais forte no final E o mundo ser um lugar mais justo e solidário. Pai-Nosso
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tempo jovem
PREVENIR O ENFARTE Recordando os velhos tempos de estudante de medicina, veio-me à memória o mundo complexo do sistema circulatório do nosso organismo. Um sistema que tem como objetivos: levar nutrientes para às células, fazer “comunicação” unindo em rede todo o nosso organismo, regular a temperatura corporal e defender-nos contra às doenças texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Uma boa vitalidade e uma boa saúde, conseguem-se na medida em que o nosso corpo deixa fluir o sangue pelo caudal venoso e arterial de modo harmonioso, dinâmico e com as “provisões” necessárias para este fim. Um dos problemas arteriais mais frequentes é aquele onde a corrente sanguínea se torna “lenta e pesada” devido às substâncias nocivas que vão lentamente
ocupando lugares privilegiados na composição do sangue. São um factor determinante na avaliação do equilíbrio e do bem-estar de uma pessoa. O triste e doloroso desta situação é quando o próprio sangue começa a criar ou a transportar elementos autodestrutivos, provocando o bloqueio dos caminhos e percursos que servem para irrigar vida e fechando de modo catastrófico o circuito que abre ao intercâmbio e
à partilha com o resto dos sistemas do corpo humano. O ator principal deste filme é o “famoso colesterol alto” que tantos transtornos provoca em muita gente. Não pretendo entrar no mundo da medicina; tudo isto, porém, vem ao encontro da analogia que vejo entre o fenómeno que sucintamente acabo de descrever e o maravilhoso mundo das relações interpessoais que geralmente se vivem num grupo, comunidade ou família que tem como meta a partilha de um mesmo ideal.
O colesterol das nossas relações
Enquanto o modo de nos relacionarmos for aberto e dinâmico, a boa energia e disposição que circula entre nós vai ser saudável. Ser aberto e dinâmico no mundo do encontro com “o outro” significa não ficar fechado à novidade que traz a diferença e deixar-se impelir pela força transformadora da mudança. À semelhança dos nossos problemas
ONDE DOIS OU TRÊS ESTIVEREM REUNIDOS, SERÁ PRECISO GERAR COMUNICAÇÃO E INTERLIGAÇÃO ENTRE OS MEMBROS DO GRUPO, ENTRE O GRUPO E OUTROS GRUPOS, ENTRE O GRUPO E O MUNDO, ESTE GRANDE ORGANISMO VIVENTE DO QUAL FAZEMOS PARTE
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circulatórios, quando decidimos ficar agarrados aos elementos que tornam a nossa vida mais pesada, mais lenta e sem ar de renovação, a perceção que temos das coisas e do outro acaba por ser sempre a mesma; não somos capazes de ver mudanças, só vemos rótulos predefinidos.
oxigénio que serve para fortalecer o coração. Um coração sem oxigénio origina “um ataque cardíaco”. Um grupo, comunidade ou família sem sangue novo, ideias novas e projetos novos ficam paralisados no fúnebre hábito da repetição sem sentido.
A rotina sem a procura “do novo” torna-se nociva, pois acaba por nos alienar num circuito viciado e pouco oxigenado. A situação complica-se ainda mais quando fomentamos atitudes que bloqueiam o nosso caminho do encontro com o próximo e vice-versa. Eu chamo a isto o colesterol das nossas relações. O exclusivismo de só “este ou aquele” ou onde “só nós somos especiais” torna fechado e coloca em perigo de morte iminente qualquer grupo, família ou comunidade. Um grupo fechado é como uma artéria bloqueada; com a obstrução ocorre uma diminuição da quantidade de sangue rico em
Onde dois ou três se unirem no mesmo sonho, será preciso fazê-lo com a consciência de que, para que as coisas funcionem e deem frutos abundantes é essencial ter as “portas abertas”: as artérias do coração desbloqueadas de substâncias e atitudes mesquinhas que muitas vezes acabam por nos fazer adoecer.
Onde dois ou três vivem reunidos, será preciso velar pelo calor humano baseado no respeito e na aceitação, calor que garante a temperatura certa para uma relação madura e equilibrada. Onde dois ou três construírem
Receita para uma boa saúde grupal juntos, será obrigatório
fazê-lo unidos, puxando todos para o mesmo lado, reconhecendo a beleza e o mérito do trabalho do outro; neste bom e são ambiente não haverá doença sobre a face da terra que possa enfraquecer o espírito do grupo, família ou comunidade.
Onde dois ou três estiverem reunidos, será preciso gerar comunicação e interligação entre os membros do grupo, entre o grupo e outros grupos, entre o grupo e o mundo, este grande organismo vivente do qual fazemos parte.
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sementes do reino tentador tentou desviar Jesus do projeto do Pai. O diabo propõe a Jesus um caminho de facilidades, de riqueza, de sucesso e fama pessoal. Mas Jesus, fazendo uso do “arsenal” da Palavra de Deus, renova sempre a sua opção de fidelidade ao projeto inicial do Pai. O episódio conclui-se com a partida do adversário, “até certo tempo” (Lc 4,13).
O deserto é na cultura bíblica não apenas um local, mas também uma experiência de vida
SABOREIO A PALAVRA
As tentações foram uma experiência concreta na vida de Jesus. Colocado perante várias opções, Jesus recusa o caminho da facilidade e opta pela fidelidade ao projeto do Pai. É um convite ao cristão a renovar as suas opções de vida. Hoje as propostas de caminhos fáceis estão omnipresentes e muitos são os que se iludem com eles. Urge ter claras as opções que regem a vida pessoal. Convém, por isso, questionar-se: quais são as minhas opções fundamentais?
BOAS OPÇÕES A Palavra de Deus, qual fonte de vida, convida-nos ao silêncio. Silêncio exterior e interior: da alma, do espírito e dos sentimentos. Para que nada se perca do que a Palavra tem para nos dizer. No início da Quaresma, a Palavra de Deus propõe uma “viagem” até ao deserto para “participar” de um momento fundamental na vida de Jesus: as tentações. É um convite ao cristão para que repense as suas opções de vida texto PATRICK SILVA foto LUSA
LEIO A PALAVRA
Lc 4,1-13 Após ter sido batizado por João Batista nas águas do Jordão e antes de iniciar a sua pregação, o 26
REZO A PALAVRA Evangelho apresenta o Espírito “conduzindo” Jesus ao deserto para aí ser tentado. O deserto é na cultura bíblica não apenas um local, mas também uma experiência de vida. O povo de Israel experimentou no deserto momentos de alegria, mas também de prova. O tentador aproxima-se de Jesus no momento em que este sente fome, isto é, num momento de debilidade, o que já dá para entender a tática deste adversário. Por três vezes o diabo se aproxima de Jesus para lhe fazer uma proposta. E por três vezes obtém uma resposta negativa da parte de Jesus, que usa a Sagrada Escritura para rebater as propostas. Mas também o diabo é conhecedor da Escritura, de acordo com a última tentação. Isso demonstra que a Escritura também pode ser manipulada para “responder” aos anseios pessoais, afastando-se do seu verdadeiro propósito. Colocadas em conjunto, as três tentações demonstram como o
Ore com o salmo 119 (118). Trata-se de um longo salmo, no qual o autor elogia/louva a lei divina, porque esta é essencialmente a manifestação do amor de Deus para com o seu povo.
VIVO A PALAVRA
Todo o cristão deve seguir o caminho da fidelidade ao projeto do Pai. Por isso, precisa de fazer e refazer as suas opções de vida sempre que for necessário. Precisa de ser capaz de ultrapassar as tentações que apresentam propostas de caminhos donde Deus fica excluído, porque muitas vezes é visto como empecilho à felicidade pessoal. No entanto, só o caminho da fidelidade levará à vitória final. Boa caminhada quaresmal cheia de boas opções com Deus.
intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 03
4º Domingo Comum Jer 1, 4-19; 1Cor 12, 31-13, 13; Lc 4, 21-30 SER PROFETA
Como Jesus em Nazaré, também eu sou convidado a ser profeta, testemunhando o Evangelho com a vida e a palavra: na família, no trabalho, na escola, nas leituras, nas conversas, nos compromissos. Será que as pessoas que se aproximam de mim são estimuladas na prática do bem? Dá-nos, Senhor, coerência de vida, no testemunho de cada dia.
10 5º Domingo Comum
Is 6, 1-8; 1Cor 15, 1-11; Lc 5, 1-11 INDIGNIDADE/IDONEIDADE
Isaías, Paulo, Simão Pedro estão conscientes da própria indignidade. Não é falsa humildade. Sabem muito bem que não são santos acabados. Mas fazem a experiência da misericórdia divina que com a sua graça cobre a fraqueza humana. Ninguém é candidato à fé cristã ou a qualquer serviço na comunidade pelo facto de ser idóneo, mas porque Deus o escolhe e o torna idóneo. Obrigado, Senhor, pela confiança que depositas em nós.
16 Peregrinação a Fátima com
o beato José Allamano OREMOS
Deus nosso Pai, que escolheste o beato José Allamano como Fundador da nossa família missionária para a evangelização dos povos, ajuda-nos a acolher com amor e fidelidade o seu espírito e concede-nos a graça de continuarmos no mundo a sua presença, para sermos, como ele,
FEVEREIRO dispensadores incansáveis da consolação de Maria Santíssima e colaboradores corajosos na obra da evangelização. Por Cristo nosso Senhor. Ámen.
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1º Domingo da Quaresma Dt 26, 4-10; Rm 10, 8-13; Lc 4, 1-13 A PALAVRA ESTÁ PERTO DE TI
“A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Quaresma é tempo para abrir os ouvidos à Palavra que há 2000 anos ecoou na Palestina e hoje pode ressoar no nosso coração. Precisamos de parar para escutar e entender por onde passam os caminhos de Deus, alinhando por eles a nossa vida. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. Abre, Senhor, os nossos ouvidos e o nosso coração para entendermos a Palavra do teu Filho Jesus.
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2º Domingo da Quaresma Gn 15, 5-18; Fil 3, 17-4,1; Lc 9, 28-36 SUBIR AO MONTE PARA ORAR
Quaresma é subir ao monte com Jesus para me deixar deslumbrar pela sua divindade e poder contemplar o seu rosto. Fazemos tanta coisa, trabalhamos noite e dia, e esquecemos talvez o essencial: rezar. Com Jesus e como Jesus. Orar é subir. Orar é transfigurar-se. É procurar caminhos diferentes, aclarar dúvidas e incertezas. “É de joelhos que se vê melhor”. Porque se vê com os olhos de Deus. Dá-me, Senhor, o gosto da oração para dialogar contigo e partilhar a minha vida com os outros. DV
Para que as populações que experimentam as guerras e conflitos possam ser protagonistas da construção de um futuro de paz.
Felizes os promotores da paz Há hoje, infelizmente, grandes divisões e fortes conflitos no nosso globo que lançam densas sombras sobre o futuro das populações. Há vastas áreas do planeta envolvidas em tensões crescentes. É sobretudo o Médio Oriente que continua a ser teatro de conflitos e atentados. É na Síria, no Líbano, no Afeganistão, na Palestina, no Paquistão e em países africanos, como a República Democrática do Congo, envolvidos em guerras civis. São ameaças permanentes à paz e à tranquilidade das populações, impedidas de fazerem uma vida de crescimento normal. São vidas ceifadas, famílias destruídas, crianças vitimadas. Em tempos tão difíceis é verdadeiramente necessária a mobilização de todas as pessoas de boa vontade para se encontrar caminhos de paz. Como é que as populações desses países em conflito podem ser protagonistas da construção de um futuro de paz? Dizendo não à vingança e promovendo os valores da vida, do perdão e da reconciliação. Semeando gestos de paz e cultivando o gosto pelo que é justo e verdadeiro, mesmo que isso exija sacrifícios e obrigue a caminhar contracorrente. DV
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o que se escreve PADRES E DOUTORES DA IGREJA
Este precioso livro condensa num único volume todas as catequeses de Bento XVI referentes aos Santos Padres e aos Doutores da Igreja. Escrito de uma forma dinâmica e atraente, destaca aspetos essenciais da vida e obra destas figuras fundamentais para se entender a tradição e a espiritualidade cristã. Autor: Bento XVI 278 páginas | preço: 14,50 € Paulus Editora
ORAÇÕES PARA TODAS AS OCASIÕES
Véu de morte numa noite de luar História dos 24 catequistas do Guiúa, mártires de Moçambique
Diamantino Antunes, autor deste livro singular, é o atual diretor do Centro Catequético do Guiúa, em Moçambique, onde em 1987 e 1992 foram martirizados 24 catequistas. Aqui se documenta amplamente essa tragédia e se apresentam depoimentos sobre a bela realidade que é a Igreja ministerial desse jovem país, com um papel muito ativo dos leigos. Admiráveis pilares da Igreja, é aos catequistas de Moçambique que se deve a sobrevivência das comunidades cristãs nos tempos da revolução e da guerra. É um livro de enorme interesse para todos, nomeadamente para os catequistas. Autor: Diamantino Antunes 116 páginas | preço 10,00 € Consolata Editora
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É um livrinho muito bem ilustrado com 21 orações para ajudar as crianças mais pequeninas a rezar. Também elas são capazes de “falar com o coração” e fazer da oração não uma rotina, mas uma descoberta de Alguém que as ama tanto. Se tiver necessidade de oferecer uma prenda a uma criança, aqui tem uma ideia bonita. Autor: Thereza Ameal Ilustrações: Raquel Pinheiro 50 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora
NOVAS CARTAS SOBRE A ORAÇÃO
Deve ser coisa muito boa a oração, se tanta gente a recomenda para o equilíbrio da própria vida. Henri Caffarel é um mestre na arte de bem rezar. Estas “Novas cartas sobre a oração” são para rezar enquanto se leem. Cada leitor é convidado a identificar-se com os vários destinatários destas cartas. Autor: Henri Caffarel 128 páginas | preço: 9,90 € Paulus Editora
O ENIGMA DA EXISTÊNCIA E O ACONTECIMENTO CRISTÃO
O enigma da história e o acontecimento eclesial O enigma do homem e a realidade baptismal
São três volumes de uma Catequese de Adultos na procura de uma resposta à pergunta: “a vida humana tem um sentido, sim ou não?”. O autor, antigo arcebispo de Bolonha, procura responder com as lições propostas durante quase 20 anos aos professores universitários de Bolonha. Esta “catequese de adultos” é uma verdadeira antropologia cristã e um convite à contemplação do único mistério da Salvação: o mistério do Homem redentor e o mistério do homem redimido. Autor: Card. Giacomo Biffi Preço: 19,00 € cada volume Paulus Editora
A MINHA BÍBLIA EM HISTÓRIAS
O livro, todo ele colorido desde a capa até ao interior, com frases pequenas, dá a conhecer aos adolescentes e jovens alguns episódios dos mais importantes da Bíblia e as respetivas personagens: Adão e Eva, David e Golias até José e Maria, Jesus e muitos outros. O livro recomenda-se para todos sem distinção. Autoras: Renita Boyle e Melanie Florian 142 páginas | preço: 11,90 € Gailivro
o que se diz CINCO PEQUENAS CATEQUESES SOBRE O CREDO
O Credo é uma história de amor, aqui expressa em cinco belas catequeses. Cada uma delas é explicada e aprofundada com uma linguagem simples e atual. O livro nasceu da preparação quaresmal feita pelo autor, um bispo francês, a uma comunidade de Limoges. No final de cada capítulo, o autor oferece pistas para a reflexão pessoal ou em grupo. Autor: Christophe Dufour 84 páginas | preço: 8,50 € Edições Salesianas
EU CREIO NÓS CREMOS
Encontros sobre os fundamentos da Fé É um livro destinado a encontros de formação para jovens e adultos a partir da primeira parte do Catecismo da Igreja Católica. De forma ativa e intensa, cada encontro ajuda os participantes a (re)descobrir as razões e o sentido da fé como resposta pessoal a Deus. O livro inclui um DVD para a apresentação e dinamização dos temas. Autor: Rui Alberto 158 páginas | preço: 20,00 € Edições Salesianas
Do mero auxílio ao dom de si “O missionário só tem autoridade na medida em que é fiel a Cristo
e como Ele obediente, nada dizendo ou fazendo por sua conta e risco ou a seu bel-prazer. Só pode dizer e fazer aquilo que, por graça, lhe for dado ver fazer. O missionário é então também um contemplativo. É aqui que voltamos outra vez à configuração do missionário com Cristo e por Cristo. O missionário não é, portanto, aquele que vai apenas em auxílio de alguém. O missionário tem de passar do mero auxílio para o dom de si”. António Couto | Intervenção no Sínodo sobre a Nova Evangelização, 2012
O bem comum “Cresce também cada dia a ‘caça às bruxas’, onde se torce e retorce tudo para que tudo resulte como quer o caçador. A comunicação social tem mérito reconhecido no desmontar de muitos edifícios com alicerces sem consistência e no apear de estátuas com pés de barro. É a sua missão. Mas ninguém a dispensa de trilhar caminhos de respeito pela verdade, de depor preconceitos, simpatias e antipatias de qualquer ordem, de respeitar as pessoas e promover o bem da comunidade no seu conjunto”. António Marcelino | Notícias de Beja | 10 de janeiro 2013
A esperança cristã “A esperança em Deus não significa cruzar os braços e esperar
que Ele faça sempre os milagres que queremos, significa sim trabalharmos continuamente pela construção do Reino de Deus, seguindo o exemplo de Cristo e o seu mandamento: ‘Ide por todo o mundo pregar o Evangelho e batizar todos os povos’. A esperança cristã significa lançar a semente à terra e cuidar dela, esperando que no tempo certo se possam colher os seus frutos”. Francisco Pereira | Voz da Fátima, nº 1083
Vale a pena “Vale a pena voltar a andar de bicicleta, ler um livro com muitas
páginas; ouvir música ou ir a um concerto; tocar viola ou escutar acordeão; fazer um piquenique; jogar cartas ou xadrez; caminhar a pé ou mergulhar e nadar; vale a pena reaprender a sabedoria de quem sabe esperar que o ‘peixe morda a isca’; vale a pena almoçar sem telemóvel, sem televisão nem computador… Vale a pena voltar a escrever livros, cultivar a terra, regar flores e educar filhos”. Nuno Santos | Mensageiro de Santo António | janeiro 2013
Redes sociais “As redes sociais são um instrumento maravilhoso. Passadas as
tolices inevitáveis da euforia inicial, serão tão úteis como o correio, o telefone, a imprensa ou os clubes. No entanto, para isso é preciso que vigore nelas o mesmo critério de verdade e bem da vida comum. Uma opinião não é atendível por ser tecnológica, mediática ou popular, mas justa e válida”. João César das Neves | O Mensageiro de Leiria | 3 de janeiro 2013
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gestos de partilha COSTA DO MARFIM Conceição Lucas – 43,00€; Maria Fernandes – 100,00€. Total geral= 143,00€ MALOCA PARA TODOS Maria José Moreira – 15,00€; Rosária Zorro – 10,00€; Silvestre Santos – 5,00€; Anónimo – 50,00€; Celeste Alves – 50,00€; José Mirra – 10,00€; Anónimo – 175,00€; Lurdes Anjos – 8,00€; Conceição Fernandes – 23,00€; Fátima Matias – 18,00€; Dulcelina Vieira – 3,00€; Anónimo – 100,00€; Alice Silva e Conceição Sousa – 6,00€; Adelina Antunes – 80,00€; Lídia Marto – 13,00€; Rosa Carvalho – 75,00€. BOLSAS DE ESTUDO Jorge Correia – 100,00€; António Ribeiro – 250,00€; Maria Silva – 250,00€; Esmeralda Torres – 50,00€; Conceição Portela – 100,00€; Assinante nº 6151 – 100,00€; Ausenda Carvalho – 50,00€; António Costa – 250,00€; Cacilda Cardoso – 250,00€; Lídia Neves – 500,00€; Arminda Vieira – 500,00€; Eugénia Jorge – 250,00€; Natália Oliveira – 250,00€. PADRE JOSÉ SALGUEIRO – MOÇAMBIQUE Maria José Moreira – 20,00€. GURUÉ – MOÇAMBIQUE Maria José Moreira – 5,00€; Conceição Policarpo – 500,00€; Esmeralda Alves – 5,00€. SANZA – TANZÂNIA Assinante nº 6151 – 10,00€. OFERTAS VÁRIAS Beatriz Duro – 43,00€; Isabel Cunha – 33,00€; Ana Ventura – 43,00€; Anónimo – 173,00€; José Almeida – 93,00€; Lucília Marques – 43,00€; Adelina Azoia – 43,00€; Isilda Gomes – 250,00€; Luís Almeida – 43,00€; Flundório Cardoso – 43,00€
CONTACTOS
Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt
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vida com vida
STOP AOS 33 ANOS Padre Bruno Dosso nasceu a 13 de setembro de 1929 em Subiate Inferior, Milão.Entrou na Consolata em 1945, já com uma parte dos estudos feitos. Foi ordenado sacerdote em 1955. Em 1957 partiu para a missão da Tanzânia onde exerceu a sua atividade durante apenas cinco anos. Faleceu em 1962 aos 33 anos de idade texto MANUEL CARREIRA* ilustração H. MOURATO O padre Bruno foi vítima de um grave acidente da moto que ele próprio conduzia. Por umas palavras que o seu pai lhe enviou, gravadas numa cassete poucos dias antes, podemos deduzir que o jovem missionário gostava de carregar no acelerador. Por duas vezes na fita magnética se ouve a voz do pai a dizer: “Filho tem cuidado com a moto! Chi va piano va lontano”. (Devagar se vai ao longe!). Eram palavras de sabedoria, que o filho já não leu, porque quando chegaram já ele tinha falecido. Muita gente se interrogou se isto teria sido uma simples coincidência, uma inspiração do alto ou qualquer força da telepatia. Só Deus é que sabe. Nós agora não temos muitos dados, mas fica-nos a impressão de que a moto lhe fora oferecida por algum amigo, ou, se calhar, até pelos próprios pais. O jovem missionário na pujança dos seus melhores anos, teria tido a veleidade de correr, puxando pela máquina até onde ela podia dar. Razão tinha o pai para o acautelar. O Bruno trabalhou como missionário apenas cinco anos,
mas deu para entender que muito havia a esperar dele. Era inteligente e soube desfrutar esse dom que a natureza lhe dera. Conseguiu tirar um diploma na escola do magistério. Esse documento era de grande valia para ele poder dar aulas nas escolas públicas da missão onde trabalhava. Durante um ano e meio também frequentou um curso de inglês em Londres, para se aperfeiçoar na língua que iria falar na Tanzânia. Todos os missionários que viveram com ele são unânimes em dizer que ele era um bom companheiro, respeitoso, compreensivo e generoso. O padre Olivo, pároco de Tosamaganga, abanava a cabeça e, com grande tristeza repetia: “33
anos! Quem havia de imaginar?”. Por sua vez o Superior Provincial, falando do padre Bruno, dizia: “Foi exemplo de vida religiosa, cumpridor dos horários, bom professor e exigente para com os alunos. Para com os superiores era obsequioso e respeitador”. Se mais não fez, foi porque os curtos cinco anos de missão não lho consentiram. Tinha apenas 33 anos quando faleceu. * texto póstumo
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outros saberes
QUEM QUER CAVALO SEM DEFEITO ANDA A PÉ
texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA Abundam nos programas televisivos infantis séries onde os animais são os protagonistas. E a pequenada pespega-se a eles e ri a bandeiras despregadas, o que, bem aproveitado, se pode tornar altamente pedagógico. É verdade que de fábulas se trata, mas imaginar, descrever e mostrar ao vivo entre animais “sentimentos”, “atitudes” e “qualidades” exemplares e edificantes que por vezes rareiam entre as pessoas, pode criar afeição, emulação e estímulo em miúdos e graúdos. Tal intuição é comum entre todos os povos, que foram fixando em “dizeres” e “provérbios” um património cultural de altíssimo valor que não ficam nada mal e bem podem caber nesta página de “outros saberes”.
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Já agora (para me introduzir na condução desta página em substituição do sábio e saudoso padre Manuel Carreira) vou começar com algumas dessas sentenças alusivas a animais, que ele deixou enunciadas para analisar. A primeira bem se pode aplicar a mim, nesta passagem de mão pois o manancial que o padre Carreira deixou nas páginas de FÁTIMA MISSIONÁRIA é porventura insuperável.
À falta de cavalos recorre-se aos burros
Definição à primeira vista depreciativa e arrasadora, mas injusta para com um pobre animal, o jerico, paciente, pachorrento, bonacheirão e pacífico, que não tem culpa de ser diferente e deixa a sua marca e utilidade inconfundíveis em préstimos que só ele tem. Deixando de lado as comparações odiosas, talvez se lhe possa valer com um provérbio Persa:
Quem quer cavalo sem defeito, tem de andar a pé
E eu acrescentaria: ou vai de burro, que não é um cavalo com defeitos. O provérbio deixa prognosticar
que nem tudo é perfeito para todas as coisas e deixa campo aberto à criatividade e à inovação. Iludir-se com o perfecionismo é sujeitar-se a canseiras, desassossego e frustrações. Outro provérbio popular do mesmo género acrescenta:
Antes burro que me leve do que cavalo que me derrube
Devagar se vai ao longe. A fogosidade do cavalo é um dos seus defeitos. A precipitação, a irreflexão, a pressa, a temeridade, a jactância, a imprudência, derrubam e destroem muitas boas intenções, comprometem e desfazem muitos projetos. Mesmo que nos animais haja indícios de “sentimentos” por vezes melhores do que nos humanos, é oportuna a advertência do salmo 32: “Não sejas irracional como um cavalo ou um jumento, cujo ímpeto só é dominado com freio e cabresto”.
notas missionárias
O SEGREDO É AMAR texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI Recentemente foi beatificado um missionário francês, que amou profundamente o povo da África do Sul que ele evangelizou durante largos anos. Trata-se de Joseph Gérard, um missionário oblato de Maria Imaculada, falecido em 1914. Chegou à África Austral com apenas 22 anos e nunca mais regressou à sua pátria. Durante cerca de oito anos trabalhou afincadamente entre o povo Zulu mas sem obter grandes resultados, humanamente falando. Até o próprio fundador, Eugénio de Mazenod, lhe escreveu para o consolar e encorajar: “O tempo chegará quando a graça de Deus produzir uma espécie de explosão e a Igreja crescer”.
morreu, o cavalo de que se servia para as visitas às aldeias da missão foi vendido a outro proprietário. Mas este bem depressa o restituiu à missão. Era impossível utilizá-lo, porque sempre que esbarrava numa pessoa parava imediatamente diante dela, habituado como estava com o seu antigo dono que se entretinha longamente a falar com as pessoas que encontrava pelo caminho.
Foi esta, aliás, a metodologia missionária dos filhos do beato Allamano. Era isto o que ele entendia dizer quando pedia aos seus missionários que se “africanizassem”, que procurassem falar bem as línguas dos povos a evangelizar, para compreender bem a sua cultura, sempre numa atitude de respeito pelas pessoas.
É esta a raiz de toda e qualquer inculturação: sabermos parar para ouvirmos as pessoas, para escutá-las por dentro, esvaziando-nos de tudo aquilo que pode impedir que elas entrem em nós com as suas alegrias e as suas dores. É este o modo melhor para entrar na alma, na cultura, na mentalidade, nas tradições e costumes de um povo, fazendo emergir as sementes do Verbo de Deus.
E tinha razão. Essa explosão da Igreja foi uma realidade sobretudo entre os Basotho que ele evangelizou com a sua santidade e o seu estilo perpassado de amor pelas pessoas. O padre Gérard foi sempre um excelente comunicador. Sabia dar tempo ao diálogo com as pessoas, em qualquer lugar que as encontrasse. Tinha sempre uma palavra de conselho e de encorajamento para todos. Dizia ele: “Há um segredo para se fazer amar: é amar! Isto vale também para aqueles que não creem como os Basotho ou os Metebele. Para convertê-los é preciso amá-los, amá-los de todas as maneiras, amá-los sempre. Deus quer que façamos o bem às pessoas, amando-as. O mundo pertence a quem o amar e lhe der prova disso…”. O cavalo era o seu meio de transporte preferido neste país de montanhas e vales profundos. Conta-se que, quando o missionário Fevereiro 2013
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fátima informa
Leigos e religiosos vão refletir em Fátima sobre a fé e a vida consagrada
RENOVAÇÃO PARA A NOVA EVANGELIZAÇÃO
evangelização para a transmissão da fé”. Já o bispo de Lamego, António Couto, abordará a questão da evangelização na palestra “Verdadeiros evangelizadores”.
texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA
Relatos vocacionais integram os trabalhos que serão concluídos com uma conferência da reitora da Universidade Católica Portuguesa, Maria da Glória Garcia. A iniciativa é da Conferência de Institutos Religiosos de Portugal. Mais informações em www.cirp.pt.
“Será que a fé se apoderou de nós e move a nossa vida e ação, de modo a sermos verdadeiros evangelizadores?”. Esta é a questão que serve de mote aos trabalhos da 28ª Semana de Estudos da Vida Consagrada que decorre de 9 a 12 de fevereiro, em Fátima. Mil religiosas e religiosos, alguns membros de Institutos Seculares e leigos irão refletir sobre “Fé e vida
consagrada: renovação para a nova evangelização”, no Ano da Fé e por ocasião do 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II.
“Damas de carvão”
com os ícones dos beatos – onde será celebrada a Eucaristia festiva. Este é também o 93.º aniversário do falecimento da beata Jacinta Marto.
Esta é uma exposição que retrata a atividade da carvoaria na Costa do Marfim, a que se dedicam, sobretudo, mulheres. A mostra de mais de duas dezenas de fotografias de Ana Paula Ribeiro estará patente de 16 de fevereiro (dia da peregrinação da Consolata a Fátima) a 31 de março no Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima.
Festa dos beatos
A 20 de fevereiro celebra-se a festa dos beatos Francisco e Jacinta Marto. Para assinalar e viver este dia, o Santuário de Fátima propõe um programa que tem início às 10h00, com a recitação do Rosário na Capelinha. Segue-se a procissão até à basílica da Santíssima Trindade 34
Dos trabalhos destaca-se a participação de dois bispos. O primeiro, Manuel Clemente, prelado do Porto, partilhará as impressões e linhas gerais do Sínodo dos bispos de 2012 sobre o tema “A nova
Deus na arte
“Deus na arte do nosso tempo: o silêncio e a inquietude” é o tema da conferência que Paulo Pires do Vale profere a 10 de fevereiro, às 16h00, na basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima. O apontamento musical é da responsabilidade do coro de vozes femininas Vox Aetherea, sob a direção do maestro Alberto Medina de Seiça. A conferência está integrada no 3º ano do ciclo preparativo do centenário das aparições, em 2017. A entrada é livre.
Fevereiro em agenda
02 Encontro do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura 16 Peregrinação da Família Missionária da Consolata 23/24 Retiro da Quaresma Seminário da Consolata
CADA INSTANTE EM MIM FOI VIVO Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de Amor se eternizassem. Sophia de Mello Breyner