Coreia

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Ano LXII | Fevereiro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

COREIA TESTE NUCLEAR a norte aumenta tensão a sul DESTAQUE

Luta pela liderança no Médio Oriente

Relações entre Irão e Arábia Saudita podem degenerar em conflito

MISSÃO HOJE

Consolata perde missionário português

Carlos Domingos morreu na Etiópia onde estava em missão desde 2014

FÁTIMA INFORMA

Basílica de Nossa Senhora do Rosário reabre ao público Peregrinos têm novos percursos para visitar os túmulos dos videntes


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 02 Ano LXII – FEVEREIRO 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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BOMBA NORTE COREANA “ AVOLTA A ASSUSTAR O MUNDO

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.300 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Sair para encontrar

11 | PERFIL SOLIDÁRIO Dar colo a quem precisa

05 | PONTO DE VISTA A saúde em Portugal

12 | A MISSÃO HOJE Mkundi aldeia jovem e dinâmica

06 | HORIZONTES Vem também!

13 | FÁTIMA INFORMA Reabre Basílica de Nossa Senhora do Rosário

07 | DESTAQUE A luta pela liderança no Médio Oriente 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • África: Ataques do Boko Haram privam da escola mais de um milhão de crianças • Jordânia: Cristãos e muçulmanos unidos por valores comuns • Chile: Novos excluídos da sociedade • Paquistão: O católico Paul Bhatti combate a lei da blasfémia • Uganda: País permanece pobre apesar de projetos ambiciosos 10 | A MISSÃO HOJE Consolata perde missionário que nunca virava a cara ao trabalho

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

14 | DOSSIER • A bomba norte-coreana volta a assustar o mundo • O misterioso fã da Disney e da NBA • 70 anos de divisão • Sinais preocupantes a sul 22 | MÃOS À OBRA Alimentar idosos doentes e abandonados 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Luz para o mundo 26 | TEMPO JOVEM A geração dos "noodles" 28 | SEMENTES DO REINO Nem só de pão vive o homem 30 | VIDA COM VIDA Calmo, perseverante no trabalho e na oração 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Sair para encontrar Os mexicanos aguardam a visita do Papa Francisco nos dias 12 e 13 deste mês de fevereiro. Será a primeira longa viagem de 2016 do missionário da misericórdia e da paz. Nas quatro viagens apostólicas realizadas em 2015, do Médio Oriente à América Latina, da Europa à África, Francisco forja uma nova diplomacia que se ocupa primeiramente das vítimas esquecidas das várias crises do mundo contemporâneo. É um Papa que sabe, como ninguém, a importância da proximidade. Na Ásia chega ao Sri Lanka e às Filipinas. Na América Latina entra no Equador, Paraguai e Bolívia. Aqui, no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Francisco constata em forma de pergunta a urgência da mudança nas sociedades contemporâneas: “Reconhecemos nós que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade”? Vai a Cuba um ano depois do acordo promissor entre Havana e Washington, elaborado seguramente pela sua obstinação. Aos membros do Congresso, nos Estados Unidos da América, apresentando-se como filho de emigrantes, ousa pedir a abolição da pena de morte e respeito por todos os direitos humanos: “Tratemos os outros como gostaríamos de ser tratados nós… Se queremos segurança, demos segurança. Se queremos vida demos vida. Se queremos oportunidades, ofereçamos oportunidades”. Já mais para o fim do ano Francisco aterra em Nairobi, no Quénia. 04

Fátima Missionária

Condena a violência tribal e denuncia a injustiça atroz imposta aos excluídos. Entra no bairro de lata de Kangemi para estar com os últimos e repudia expropriações de terra e as condições desumanas em que vivem milhões de pessoas. “Todas as famílias têm direito a uma casa decente”. Na República Centro-Africana, onde abriu a Porta da Misericórdia, Francisco atravessa corajosamente um cerco de milícias cristãs armadas para ir ter com os muçulmanos aí enclausurados. Aconteceu num bairro da capital, Bangui, o PK5, reduto dos últimos muçulmanos, depois de as milícias cristãs terem forçado mais de 100 mil a fugir, entre vários massacres. Foi este ciclo de violência que Francisco procurou quebrar, transpondo o cerco, num carro descoberto, de pé e acompanhado por um imã. Na mesquita central proclama: “Deus é paz, salam”, “somos irmãos e irmãs”. Um velho muçulmano declara: “Pensávamos que todo o mundo nos tinha abandonado, mas ele não nos abandonou. Sinto-me feliz porque ele também nos ama, a nós muçulmanos”. Não é demagogia nem proselitismo, é capacidade de incluir, aproximar, romper muros e criar fraternidade. Darci Vilarinho

“Pensávamos que todo o mundo nos tinha abandonado, mas ele não nos abandonou. Sinto-me feliz porque ele também nos ama, a nós muçulmanos”


PONTO DE VISTA

A SAÚDE EM PORTUGAL JOSÉ PEREIRA DE ALMEIDA . COORDENADOR NACIONAL DA PASTORAL DA SAÚDE .

Escrevi há tempos que “as desigualdades sociais fazem mal à saúde”. E este é o primeiro traço que gostaria de deixar. Recordo-me de ver escrita num muro da Universidade Nova de Lisboa a frase: “Os ricos com médicos privados e os pobres privados de médicos”. Pelo menos, dá que pensar. Pensar sobre o sentido de um Serviço Nacional de Saúde (de que celebrámos já o 35º aniversário). Pensar se não teremos um país a duas velocidades em matéria de saúde: para os que podem e para os que não podem pagar. De facto, sabemos todos também que a saúde não tem preço, mas que os cuidados de saúde têm custos. De que modo promovemos entre nós a equidade? Ou desistimos? Ou resignamo-nos como se as injustiças fossem uma fatalidade? O Papa Francisco afirma que “a desigualdade é a raiz dos males sociais”. Por isso recomenda vivamente que o nosso pensar e o nosso agir não se exerça sobre os efeitos, as eventuais consequências por nós observadas, mas tenha como objeto as estruturas, as causas da desigualdade social. O atual ministro da Saúde, Campos Fernandes, afirmava no ano passado que “ao Estado caberá a responsabilidade de promover a equidade através de adequadas medidas de redistribuição social, incorporando os novos modelos de prestação de cuidados, clarificando as áreas de intervenção e definindo

políticas que assegurem a provisão de direitos no âmbito da prestação e da qualidade dos serviços”. Esperamos vivamente que esta intervenção se torne mais patente e operativa. O outro traço corresponde à necessidade de uma atenção prioritária aos cuidados primários de saúde. É claro que é importante que os cuidados de saúde hospitalares possam ser acessíveis a todos. Mas é particularmente relevante que cada família possa ser acompanhada pelo seu médico de família. Com tempo para ouvir, compreender, diagnosticar e realizar as terapêuticas adequadas a cada situação pessoal. Ao afirmarmos que as pessoas são mais importantes que os números, não se menosprezam os indicadores; diz-se que eles não são tudo. E que cada pessoa deve ter os cuidados de saúde de que necessita. Um último traço: os cuidados paliativos. Muito se tem caminhado, em termos de consciência, acerca da necessidade de criar uma rede de cuidados paliativos que apoiem e possam dar qualidade de vida (tratando a dor e aliviando o sofrimento) aos doentes que, estando progressivamente em fase de tratamentos não curativos, continuamos a querer acompanhados. Pelos seus familiares e por todas as outras pessoas que podem cuidar deles. Até partirem. Desejavelmente em paz. Isto não depende só dos cuidados de saúde mas, no que de nós depende, que estejamos à altura das nossas responsabilidades.

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horizontes

Vem também! Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Carmo entrou na padaria do senhor João, com a boa disposição habitual. Da mesa do fundo, um senhor acenou-lhe. Depois de um breve reparo, Carmo saltou com alegria. – Sérgio, és mesmo tu? Sérgio e Carmo foram colegas de escola há muitos anos e desde então não se tinham encontrado. Juntos, relembraram momentos e partilharam destaques da vida que cada um construiu. Sérgio tornou-se arquiteto como sonhava mas Carmo abandonou o projeto de ser advogada para ajudar os pais num longo período de doença. Era agora a secretária de confiança numa empresa onde se sentia realizada. Mas, um dos motivos importantes da sua realização, dizia Carmo, era o projeto que a trazia à padaria do senhor João: faz parte de um grupo que recolhe, prepara e distribui diariamente refeições a quem tem fome. Carmo e a sua equipa são responsáveis por assegurar a distribuição de refeições em três dias na semana: no final da tarde passam pelos restaurantes, hotéis e padarias que lhes oferecem alimentos, distribuem-nos em doses individuais, montam a “Mesa da Partilha” num espaço cedido e aí servem as refeições àqueles que os procuram. Sérgio estava estupefacto. – Fazes isso? Três dias na semana? Não te cansas? – Ao contrário: estou viciada nestes encontros. As pessoas que servimos ensinaram-me a ter um respeito imenso pela pessoa independentemente do que possui ou aparenta. Eles, nós e aqueles que oferecem os alimentos, criámos laços que nos preenchem e unem. – Vendo o teu entusiasmo, sinto-me envergonhado. Não faço nada para além de cuidar da minha família. – Envergonhado? Mas cuidar da família é a vida inteira, a todo o tempo! Isso é imenso! Mas, concordo, ainda podes fazer mais! Queres colaborar? – Como? – Bom, precisamos de cuvetes, garfos e colheres descartáveis, precisamos de gasolina para os

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Fátima Missionária

transportes... Se não tens tempo e podes dispensar algum dinheiro, bem vindo ao grupo! – Conta comigo. E talvez com alguns amigos! – Uau! E não queres vir connosco um dia contactar com estas pessoas? – Só posso aceitar e agradecer! Sérgio saiu da sua zona de conforto. Ficou com um problema que não tinha: até ali, a fome era problema dos “outros”. Mas Carmo fê-lo “ver de perto” e ele não conseguiu ficar de fora. Ser construtor de edifícios, ele sabe, mas construir uma maior justiça social é uma “arquitetura” que lhe é estranha, mas hoje, atraente. Aí, no contacto com os que serviu na franja invisível e sofrida da sociedade, Sérgio encontrou grandiosidades desconhecidas. Encontrou um mundo imenso a quem dar, mas muito maior no receber. Descobriu a sua vocação de “arquiteto de justiça” – ficou cativo.


destaque Tensão entre Irão e a Arábia Saudita

A luta pela liderança no Médio Oriente Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

A tensão acumulada nos últimos anos entre o Irão e a Arábia Saudita atingiu um nível tal que qualquer situação pode degenerar em conflito entre os dois países. É neste contexto que deve ser visto o corte de relações diplomáticas entre Riade e Teerão, na sequência da execução da pena de morte que pendia sobre o líder religioso xiita Sheik Nimr al-Nimr, na Arábia Saudita, acusado, entre outras coisas, de ter apelado à intervenção estrangeira no reino saudita. Com efeito, a execução de al-Nimr está a ser entendida como o culminar de um conflito mais vasto que tem a ver com a supremacia na região, com questões geoestratégicas, religiosas, económicas e de política interna dos dois países.

Atualmente, Irão e Arábia Saudita enfrentam-se por procuração, através do apoio a diversos grupos armados, em territórios como o Iémen, a Síria, o Iraque e o Líbano, procurando determinar o poder político regional. Esta situação agravou-se com a intervenção norte-americana no Iraque, que abriu o campo a um confronto direto entre os dois países na luta pela preponderância regional. Com efeito, para além de pôr em causa o papel de Bagdad como um dos tradicionais equilíbrios do poder regional, a invasão iraquiana arrastou consigo a crise política na Síria. Como agravante, a região deixou de poder contar com o papel do Egito, outro dos países com uma voz na região,

População iraniana manifestou-se nas ruas contra a política da arábia saudita ↘

A luta pela preponderância regional acentuou-se a partir de 1979, com a tentativa de Teerão em exportar a Revolução Iraniana, o que começou por ser considerado uma ameaça para as monarquias árabes do Médio Oriente e acentuou as clivagens entre persas e árabes, entre muçulmanos xiitas e sunitas, bem como entre formas de organização social e política.

também ele a braços com uma grave crise interna resultante da denominada Primavera Árabe, que afetou o Médio Oriente e o Norte de África, em 2010.

Economia Saudita preocupa FMI

A Primavera Árabe promoveu uma onda de contestação política em outros países como a Arábia Saudita, o Koweit, o Bahrein, o Iémen, que estão no centro das tensões com o Irão. Em grande medida, a contestação interna foi abafada através de um poder repressivo violento – recorde-se que, com Nimr foram executadas outras 46 pessoas, muitas delas por razões consideradas menores – e com programas sociais, exigindo o reforço das despesas do orçamento. O acordo com a comunidade

internacional, pondo fim ao enriquecimento de urânio para a produção de energia nuclear, veio permitir que o Irão pudesse aumentar as exportações de petróleo, um fator que – a par da crise na China – tem provocado a queda dos preços do crude e a diminuição de forma drástica das receitas da Arábia Saudita, a braços com uma dívida galopante. Ao ponto de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter lançado um alerta chamando a atenção para o facto de, se a situação não se alterar, a Arábia Saudita poder ficar sem dinheiro nos próximos cinco anos. E caso o Irão pretenda reocupar o lugar que já teve no passado entre os maiores fornecedores mundiais de petróleo, a Arábia Saudita vai ter sérias razões para se preocupar.

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mundo missionário

por E. assunção

África

Ataques dO Boko Haram privam da escola mais de um milhão de crianças

Mais de um milhão de crianças abandonaram a escola na Nigéria, Níger, Chade e Camarões, devido às incursões do Boko Haram, informa um comunicado da UNICEF, organismo das Nações Unidas para a infância. “Mais de duas mil escolas” destes países “estão fechadas devido aos conflitos”. A UNICEF está preocupada porque “centenas delas foram saqueadas, danificadas ou destruídas”. A organização explica que “o conflito constitui um enorme choque para a educação na região e a violência tira muitas crianças das salas de aula há mais de um ano, aumentando o risco do completo

abandono da escola”. O diretor-geral da organização na região, Manuel Fontaine, descreve a situação: “As escolas foram o alvo dos ataques e as crianças têm medo de regressar à escola. Quanto mais ficam sem aulas, mais elas correm o risco de se tornarem vítimas de abusos e de serem recrutadas pelos grupos armados”. A UNICEF lamenta que apenas uma das 135 escolas fechadas nos Camarões, em 2014, tenha sido reaberta. Professores e alunos receiam que a violência possa regressar de um momento para o outro e abater-se sobre eles, causando mortos e destruição.

Jordânia

Chile

O rei Abdullah II afirmou que os cristãos árabes “são uma parte integrante do nosso passado, do nosso presente e do nosso futuro”. Num discurso transmitido por ocasião da festa do nascimento de Maomé, celebrada a 23 de dezembro, o monarca hachemita acrescentou: “Foram parceiros essenciais para a nossa cultura, para a constituição da nossa civilização e para a defesa do Islão”. O monarca quis sublinhar que o “Islão é uma religião da misericórdia” e que cristãos e muçulmanos estão unidos por “valores comuns” totalmente opostos às práticas daqueles que ele definiu como “os fora da lei do Islão”. Segundo o rei, os cristãos contribuíram de maneira essencial para a construção da civilização árabe-islâmica, desde os tempos da batalha de Mu'tah (quando Maomé ordenou às forças islâmicas em luta contra o exército bizantino de não fazerem mal aos cristãos da Síria).

Indígenas, pobres, jovens e migrantes são, segundo a Comissão Justiça e Paz, do Chile, “os novos rostos dos excluídos”. No documento “Igualdade e Desenvolvimento no Chile”, a Igreja Católica chilena explica que “as excessivas diferenças económicas e sociais entre membros e pessoas de uma família humana são escandalosas e opõem-se à justiça social, à igualdade, à dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional”. O documento convida, mais uma vez, a dialogar sobre problemas que comprometem gravemente as bases do sistema social.

Cristãos e muçulmanos unidos por valores comuns

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Fátima Missionária

Novos excluídos da sociedade


MUNDO MISSIONÁRIO PAQUISTÃO

O CATÓLICO PAUL BHATTI COMBATE A LEI DA BLASFÉMIA

O irmão de Shahbaz Bhatti, ministro paquistanês para as Minorias, assassinado por um terrorista a 2 de março de 2011, está envolvido na campanha para a abolição da lei da blasfémia no Paquistão. Falando recentemente sobre o tema da perseguição dos cristãos no mundo, Paul Bhatti afirmou que o seu compromisso político, que assumiu depois da morte do irmão, é de seguir a herança política, moral e espiritual de Shahbaz. Daí a sua corajosa opção em aderir abertamente à campanha para a abolição da lei da blasfémia. Tal lei é uma porta aberta para abusos graves, sobretudo através de grupos radicais islâmicos.

ESTADOS UNIDOS

BISPOS AMERICANOS CONTRA EXPULSÃO DE IMIGRANTES CLANDESTINOS

No primeiro fim de semana do ano, as autoridades americanas prenderam 121 imigrantes clandestinos para os expulsar do país. A reação dos bispos americanos foi imediata: “Estas ações geraram medo entre os imigrantes e abalaram a confiança das suas comunidades nas forças da ordem”, escreve o bispo auxiliar de Seattle, Eusébio Elizondo, em carta dirigida a Jeh Johnsonm, secretário do Departamento de Segurança Nacional. A Conferência Episcopal dos Estados Unidos pediu ao governo americano que suspenda a expulsão de famílias centro-americanas que não têm licença de residência. O documento lembra que o Presidente Obama declarou que o governo expulsaria criminosos, mas não famílias, crianças ou mães “que trabalham duramente para manter os seus filhos”. Já desde há vários meses, os bispos católicos têm convidado as autoridades a acabar com “a prática ruinosa da detenção de mulheres e crianças”, tendo pedido ao Congresso que apoie “os esforços humanitários na região para eliminar a violência e por cobro a situações que obrigam as pessoas a abandonar as próprias casas”.

UGANDA

PAÍS PERMANECE POBRE APESAR DE PROJETOS AMBICIOSOS

Apesar dos fracos recursos minerais, o Uganda registou uma das mais altas taxas de crescimento do continente africano. No entanto, o país tem sobrevivido graças à exportação de produtos agrícolas. Tristemente famoso pela sanguinosa ditadura de 1971 a 1979, o Uganda continua a crescer a um ritmo sustentado desde 2001. A estabilidade política, assim como as regras macroeconómicas impostas ao país terão contribuído para o progresso económico. Todavia, apesar do sucesso, o país continua a debater-se com o grave problema da pobreza. Mais de 60 por cento da população vive com menos de dois euros por dia. A situação económica é muito delicada devido à queda dos preços das matérias-primas, como o café que, em menos de 12 meses caiu 40 por cento.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

UM VERDADEIRO ISRAELITA No primeiro dia de janeiro o Papa Francisco encontrou-se com um grupo de pequenos cantores, e as crianças quiseram saber se ele gostava de cantar. Respondeu que não conseguia cantar pois era desafinado como uma cana rachada ou, disse ele, como um asno. Quando lhe perguntaram o que é que ele em criança se propunha ser quando fosse grande, a sua resposta foi que em criança ia ao talho com a mãe e via o açougueiro a preparar a carne para os clientes e que esse lhe parecia um trabalho de artista; queria também ele ser açougueiro. Afinal essa sua primeira vocação nunca se veio a concretizar. Nenhuma agência de informações se preocupou na altura em explorar esta notícia tida como marginal, mas eu creio que o Papa se demonstrou aqui um amigo da verdade, embora a alguns devotos possa parecer que a um futuro Papa nunca deveria ter passado pela cabeça vir a ser carniceiro. Eu chamar-lhe-ia, como Jesus chamou a Natanael, um verdadeiro israelita em quem não há fingimento. No mundo de hoje, onde reina o desejo de salvaguardar as aparências, fica bem este exemplo de simplicidade. Como nos ensina São Paulo, é na nossa fraqueza que se manifesta a força do nosso Deus.

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a missão hoje

Carlos Domingos estava na Etiópia desde 2014 e faleceu na sequência de uma queda acidental num precipício com mais de 20 metros, junto à cascata da missão de Gambo

Consolata perde missionário que nunca virava a cara ao trabalho Texto | REDAÇÃO Foto | DR

Carlos Domingos faleceu aos 53 anos, na sequência de uma queda, na Etiópia. Deixa uma herança marcada pela simplicidade, inteligência, curiosidade e entrega pastoral. Mas deixa sobretudo a imagem de uma pessoa disponível, sempre pronta a pôr mãos à obra. Fosse um computador, ou o motor de um gerador O sentido de humor refinado era um dos pontos fortes da personalidade de Carlos Matias Domingos, o missionário da Consolata que morreu acidentalmente na missão de Gambo, na Etiópia, no segundo dia deste ano. Conta, quem com ele privou, que no intervalo das sucessivas reuniões comunitárias costumava gracejar: “Se Deus hoje voltasse à terra, podia não nos encontrar unidos, mas encontrar-nos-ia reunidos certamente”. Henrique Pinto, ex-colega de seminário, descreve-o como “minucioso, inteligente, aluno exemplar, amigo de 10

Fátima Missionária

todos os livros que encontrasse”. “Nunca foi de grandes e expansivas relações (preferia o silêncio), mas era sempre divertido e provocador nas conversas”, adianta o fundador das associações CAIS e Impossible – Passionate Happenings. Carlos Domingos nasceu a 29 de abril de 1962, no seio de uma família rural, na aldeia de Várzea dos Cavaleiros, no concelho da Sertã. Cumpriu o sonho de se tornar sacerdote missionário a 21 de julho de 1990. Quatro anos depois, foi enviado para a África do Sul, onde deixou marcas pastorais e humanas, que ainda hoje são enaltecidas. “Ele era um contador de histórias, um ‘homem prático’, disponível, próximo dos pobres, dos doentes e dos idosos, e era um conselheiro”. E o mais importante é que “não usava esses dons para se servir a si, mas para servir os outros, para servir o chamamento missionário que tinha recebido”, recorda José Ponce de Léon, bispo de Manzini (Suazilândia) e antigo companheiro de ministério


perfil solidário

sacerdotal na região sul-africana de Madadeni. Nomeado administrador nas várias delegações e províncias por onde passou, quer em África, quer em Portugal, gostava de se informar e documentar, antes de negociar. O que quer que fosse. Na África do Sul, por exemplo, ficou ‘famoso’ entre os mais desfavorecidos por lhes conseguir caixões mais baratos. E, embora pudesse estar pouco confortável perante o excesso de papelada, “ninguém o ouvia a queixar-se pelos cantos”, lembra o padre José Martins, que com ele conviveu desde os tempos da juventude. Quem o conhecia de perto, identificava-o pelo passo largo e apressado, mas sobretudo pela sua paixão pela fotografia e pela informática. “Ele era, para nós, uma espécie de ‘génio do computador’. Enquanto ‘pessoas normais’, como nós, sempre que tínhamos um vírus no computador tentávamos livrar-nos dele, o padre Carlos, provavelmente, iria salvá-lo para entender como tinha sido feito”, refere o bispo de Manzini. São também famosas as suas entregas ao trabalho duro nas missões, fosse a montar e desmontar tendas para sessões com os jovens, a arranjar bombas de água ou motores de automóveis, a construir obras sociais por administração direta, ou a sacrificar-se para proteger os bens comuns. “Em 1995, ele trabalhou horas no telhado de uma das nossas capelas isoladas para garantir que as telhas não eram roubadas. Quando chegou a casa, disse-nos: Eles ainda podem roubá-las, mas vão ter que trabalhar muito para o fazer”, recorda José Ponce de Léon. Carlos Domingos estava na Etiópia desde 2014 e faleceu na sequência de uma queda acidental num precipício com mais de 20 metros, junto à cascata da missão de Gambo, onde tinha ido a acompanhar um benfeitor do hospital do lugar, gerido pela Consolata. O funeral realizou-se a 5 de janeiro e o corpo ficou sepultado junto à missão. Curiosamente, na liturgia do dia da sua morte, há uma passagem no Evangelho que resume bem a história de vida deste missionário, quando o apóstolo João grita no deserto: “Aplainai a vinda do Senhor”.

Dar colo a quem precisa Texto | FP

A socióloga Sandra Anastácio é o rosto da associação Ajuda de Berço, que se dedica ao acolhimento de crianças em risco, vítimas de maus-tratos, abusos sexuais, negligência ou abandono. Começou o seu percurso solidário como voluntária na Casa de Proteção e Amparo de Santo António, em Lisboa, e rapidamente sentiu a necessidade de fazer mais para informar e acolher mulheres grávidas em situação de crise: criou a Ajuda de Mãe. Mais tarde, em 1998, o drama dos bebés abandonados nos hospitais levou-a a fundar, em conjunto com outras pessoas, a Ajuda de Berço. Desde que iniciou a atividade, a instituição já acolheu mais de 300 bebés, garantindo-lhes um colo e a perspetiva de um projeto de vida duradouro e feliz. Com a ajuda de muitos voluntários, tem conseguido oferecer “amor, segurança e afeto” e ajudado muitos destes menores a crescerem em harmonia. “Estas crianças não são fruto do castigo de Deus, encontram problemas na vida, mas no fim desta meta vão encontrar uma solução maravilhosa e eu sou testemunha de que o bem vence sempre e que todo o ser humano encontra a felicidade”, considera Sandra Anastácio.

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a missão hoje TANZÂNIA

MKUNDI aldeia jovem e dinâmica Texto e Foto | ELÍSIO ASSUNÇÃO

MkUndI! Um nome já conhecido de muitos leitores. Encaixada entre a serra e a estrada que chega a Morogoro proveniente de Dodoma, a capital política da Tanzânia, MkUndI é uma aldeia jovem, com os problemas próprios de um aglomerado humano que cresce de maneira espontânea, de dia para dia

entre os membros de maneira planeada e faseada”. É uma espécie de banco popular que ajuda a “resolver problemas económicos que de outra forma não se conseguiriam ultrapassar”.

Projeto de escola pré-primária

Uma boa parte da população de Mkundi é católica. A comunidade local tem capela, horta comunitária, além de ter conseguido das autoridades um terreno para a instalação da futura paróquia. “É constituída por sete pequenas comunidades que são visitadas regularmente pelos catequistas”. Com o apoio dos Missionários da Consolata, “a comunidade pretende construir uma escola pré-primária”. A realização do projeto prevê “envolver a comunidade local para apoiar e participar na construção. Já se comprometeu a pagar propinas para o salário dos professores e a manter a escola”. As crianças para aceder à escola primária necessitam de uma preparação sobretudo na língua nacional e no inglês. “A construção iniciará logo que a comunidade consiga os primeiros fundos”.

Os seus habitantes fixam-se aí atraídos pela cidade de Morogoro, onde encontram trabalho e meios de subsistência para as suas famílias. Conversamos com o missionário da Consolata Cipriano Mvanda sobre esta aldeia com meia dúzia de anos: “Situada nos arredores de Morogoro, está a crescer rapidamente devido ao aumento da população da cidade vizinha”. Um desenvolvimento tão rápido, acarreta problemas de vária ordem. “Tal como noutros subúrbios, faltam estruturas e serviços sociais, como água, escola, saúde e outras”. Recentemente surgiu mais um problema: “Grande parte da população está sediada numa zona que agora foi destinada a parque nacional. O novo governo considera esses residentes como intrusos e as suas casas já começaram a ser demolidas”. Meninos e meninas de Mkundi A decisão do governo deixou este querem ir à escola. Os pais e povo “numa situação de sofrimento, tornando-o ainda mais pobre e o missionário da Consolata desamparado”.

Ajudas-me?

Aldeia sem jovens

CIPRIANO Mvanda apelam aos leitores da Fátima Missionária: ajudem-nos a construir a escola pré-primária para as nossas crianças!

A maior parte dos jovens não vive na aldeia. O missionário, que é reitor do seminário propedêutico, explica-nos que, “depois de terminar a escola primária, os jovens rumam para as grandes cidades, como Dar es Salaam. Vão em busca de trabalho”. Ao passo que as crianças “ficam em casa, com os pais; apenas muito poucas conseguem avançar para a escola secundária”. O novo governo introduziu a escola gratuita para todos. “Seria uma boa notícia, mas não é realista. Atualmente existe apenas uma escola primária na região para uma população tão grande”.

Grupos empreendedores

Em tais circunstâncias, a aldeia está a começar a organizar-se. “Além de algumas atividades, como o desporto, que surgem de maneira espontânea, existe uma iniciativa chamada «vikoba». São grupos, que surgem especialmente entre as senhoras, para recolher fundos que depois são distribuídos 12

Fátima Missionária


FÁTIMA INFORMA

Reabre Basílica de Nossa Senhora do Rosário Monumento apresenta altar requalificado e melhorias no acesso aos túmulos dos Pastorinhos Texto | JULIANA BATISTA Foto | SANTUÁRIO DE FÁTIMA

A Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, reabre dia 2 de fevereiro, às 11h00, com uma Eucaristia na qual será dedicado o altar. A cerimónia será presidida por António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e vai contar com a presença de membros de várias congregações religiosas, uma vez que se assinala o Dia do Consagrado. O templo foi alvo de uma “profunda intervenção” de limpeza, conservação, restauro e

requalificação de alguns espaços, durante cerca de um ano e meio. A “grande novidade” são os “percursos devocionais”, desenhados e concebidos por Francisco Providência, e que permitem a oração junto das relíquias dos videntes com “maior tranquilidade”, destacam os serviços de comunicação do Santuário. Já o presbitério foi “totalmente reconstruído”. O espaço passa a contar com uma escultura de Bruno Marques representando um Cristo

Professores em formação

“Educar (é) Evangelizar?!” é o nome de uma formação dirigida a docentes das Escolas Católicas de todo o país. A iniciativa decorre dia 20 de fevereiro e terá lugar no Centro Pastoral Paulo VI.

Música recorda videntes

O segundo “Concerto Evocativo dos Três Pastorinhos de Fátima” realiza-se dia 20 de fevereiro, às 21h00, na Igreja Paroquial de Fátima. O espetáculo é protagonizado pelo coro Vox Aetherea, dirigido por Alberto Medina de Seiça.

Idosos artistas

Telas de acrílico criadas por utentes do Lar de Idosos de Santa Beatriz da Silva (Fátima) fazem parte da exposição “A seara dos pobres”. A mostra está patente no Consolata Museu, em Fátima, até 28 de fevereiro e poder ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h00 às 17h00.

Crucificado em bronze que integra a escultura da Virgem Peregrina. O escultor é também o autor de todas as peças do mobiliário litúrgico, construído a partir da ideia do Rosário, com pequenas esferas lembrando os terços. Depois da reabertura da basílica serão retomadas as três celebrações diárias, às 07h30, 11h00 e 18h30, até à Páscoa, altura em que a celebração das 11h00 será transferida para a Basílica da Santíssima Trindade.

Agenda

FEVEREIRO

DIA 07

Peregrinação anual da Família Missionária da Consolata e Peregrinação dos Consagrados

DIA 20 e 21

Retiro no Seminário da Consolata: “Sempre que fizeste isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizeste”

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PENÍNSULA DA COREIA Tensão nuclear 14

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DOSSIER

A BOMBA NORTE-COREANA VOLTA A ASSUSTAR O MUNDO Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Fotos | LUSA

Desta vez, Kim JOnG-un reclama ter testado uma bomba de hidrogénio, muito mais destrutiva. Cientistas duvidam, mas o mundo político está preocupado e ONU prepara novas sanções contra um país que insiste no isolamento e contrasta cada vez mais com a irmã-inimiga Coreia do Sul Desde 2006, a Coreia do Norte tinha já realizado três ensaios nucleares e entrado assim, contra a vontade do mundo, no restrito clube dos países senhores da mais terrível das armas. Mas o anúncio feito no início de janeiro, logo depois de os sismógrafos dos países vizinhos terem detetado um abalo nada natural, assustou por poder tratar-se de uma bomba de hidrogénio. Também chamadas de bomba H, estas podem ser mil vezes mais destrutivas do que a bomba A, do tipo daquelas que os Estados Unidos da América (EUA) lançaram em agosto de 1945 sobre as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, para forçarem o Japão à rendição, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. Foi uma vez mais em nome da independência nacional e como defesa contra a ameaça americana (e do seu aliado Coreia do Sul) que o regime norte-coreano justificou o ensaio nuclear. Contudo, se as

reações políticas foram unânimes na condenação, já os cientistas mundo fora mostraram algumas dúvidas se se tinha tratado mesmo da explosão de uma bomba H. Não só o abalo sísmico foi pouco superior ao dos anteriores testes, como os níveis de radiação abaixo das expectativas, mesmo tratando-se de um teste feito a grande profundidade. A questão de se tratar de uma bomba H pode ser de somenos no que diz respeito à proliferação, com a Coreia do Norte a dar o mau exemplo e mostrar a outros países que, mesmo isolada e submetida a sanções das grandes potências, é possível adquirir tecnologia nuclear. Mas do ponto de vista da ameaça à Ásia Oriental, sobretudo Coreia do Sul e Japão, a nova bomba é mais perigosa, pois ao ser mais destrutiva consegue ser miniaturizada e colocada em ogivas de mísseis, aumentando a capacidade bélica do regime da dinastia Kim, que

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com Kim Jong-un vai já no terceiro líder, mostrando-se cada vez mais ultranacionalista e cada vez menos comunista. Mais pobre do que a Coreia do Sul, apesar de ter herdado da colonização japonesa a indústria pesada, a Coreia do Norte tem usado a chantagem nuclear para obter ajuda económica tanto da irmã-inimiga, 12.a potência económica mundial, como dos EUA. Mas começa a haver cansaço no mundo com esta estratégia iniciada por Kim Jong-il, o segundo dos Kim, e agora seguida pelo filho de uma forma bem menos diplomática e por isso contraproducente. A Coreia do Sul, que não tem interesse em ver o fim abrupto do regime nortista, mesmo assim anunciou um reforço das sanções, além de ter voltado a colocar os altifalantes fronteiriços a emitir propaganda anticomunista, desta vez música K-Pop, muito popular a sul mas odiada a norte. No poder desde 2011, o jovem Kim Jong-un (33 anos?) permanece um mistério. Acumulam-se as histórias tanto sanguinárias como caprichosas, mas a única certeza que existe é que tem feito as purgas necessárias para reforçar o seu poder. Ao mesmo tempo, e apesar da debilidade económica, tem tolerado as pequenas plantações privadas e os mercados informais de modo a evitar a repetição das catastróficas fomes dos anos 1990, quando as intempéries e a má gestão agrícola se somaram para dar colheitas fraquíssimas. E a tecnologia nuclear exibida, mesmo sabendo-se que houve compra de informações a um cientista paquistanês, revela que a Coreia do Norte possui muitos pontos em comum com a Coreia do Sul, pátria da Samsung. Afinal, os

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Mais pobre do que a Coreia do Sul, apesar de ter herdado da colonização japonesa a indústria pesada, a Coreia do Norte tem usado a chantagem nuclear para obter ajuda económica

25 milhões a norte do Paralelo 38 e os 50 milhões a sul dessa fronteira herdada da Guerra Fria são o mesmo povo, com a mesma língua, cultura, ética do trabalho e apego ao saber. Contudo, à exceção de duas cimeiras e de alguns reencontros familiares, as duas Coreias quase não têm contactos, uma separação total que não aconteceu nos outros países divididos no tempo da competição ideológica entre EUA e União Soviética, como os Vietnames e as Alemanhas. E isso, mais o fosso económico tremendo, impossibilita os cenários de uma reunificação à alemã, impossível de pagar pela Coreia do Sul. Por isso interessa à região, mesmo aos velhos aliados


Kim Jon-un, seguindo o caminho do avô Kim il-Sung e do pai, não acredita demasiado na proteção chinesa ou da Rússia pós-comunismo. E olhando a regimes como o Iraque de Saddam Hussein ou a Líbia de Muammar Kadhafi, dois líderes que tentaram e depois desistiram da opção nuclear, joga com a bomba H (ou simplesmente A) para assegurar que nunca será atacado. * jornalista do Diário de Notícias

O MISTERIOSO FÃ DA DISNEY E DA NBA Passados mais de quatro anos desde a sua chegada ao poder, em dezembro de 2011, a verdade é que pouco se sabe sobre Kim Jong-un. O filho mais novo de Kim Jong-il sucedeu ao pai, como este sucedera ao pai, Kim Il-Sung em 1994. Sem grande experiência política ou militar e com apenas 28 ou 29 anos na época (sim, até a sua data de nascimento é um mistério), Kim terá beneficiado de ser filho de Ko Yong-hui, a terceira mulher do pai e sua favorita. Alguns especialistas em Coreia do Norte acreditam ainda que as suas semelhanças físicas com o avô terão beneficiado Kim Jong-un em relação aos dois irmãos. Isso e o facto de o mais velho, Kim Jong-nam, ter sido deportado do Japão em 2001 quando tentava visitar a Disneyland de Tóquio com um passaporte falso, e de – segundo o livro de 2003 ‘Eu fui o chef de Kim Jong-il’, escrito sob o pseudónimo Kenji Fujimoto, pelo japonês que cozinhou para o líder norte-coreano – o seu pai ter dúvidas sobre a “masculinidade” do filho do meio, Kim Jong-chul. Educado na Suíça – onde jantava sempre com o embaixador norte-coreano para evitar ser contagiado pela cultura ocidental –, de volta à Coreia, Kim Jong-un frequentou a Academia Militar de Pyongyang e depressa recebeu alguns cargos de relevo no Partido dos Trabalhadores, que davam a entender que poderia vir a suceder ao pai. E mal chegou ao poder, o terceiro Kim deu mostras de querer continuar o culto da personalidade da dinastia que lidera a Coreia do Norte desde o fim da guerra (1950-53), que levou à divisão da península. Com um penteado característico e um físico avantajado, Kim começou por tentar lançar um satélite no espaço. Sem sucesso. No ano seguinte, o terceiro teste nuclear norte-coreano valia ao país novas sanções internacionais e aprofundava a tensão com a Coreia do Sul. E esse ano não terminaria

Kim Jong-un está há quatro anos no poder

Rússia e China, uma evolução pacífica do regime norte-coreano, que não dê azo a aventuras nucleares nem à desagregação súbita do aparelho de Estado.

sem Kim ter purgado o tio, Chang Song-thaek, acusado de conspirar contra o regime. E já este ano, voltou a assustar o mundo, alegando ter testado uma bomba de hidrogénio. Da vida privada do homem a quem a mãe chamava Rei Estrela da Manhã também pouco se sabe. Pelo menos até às imagens da televisão estatal o mostrarem em atos oficiais ao lado de uma jovem de cabelo curto e roupas ocidentais. Em julho de 2012, os media oficiais anunciaram o seu casamento com “a camarada Ri Sol-ju”. Esta continua um mistério também, mas parece fazer parte da estratégia de Kim para modernizar a imagem de um dos países mais isolados do mundo. Depois de se ter especulado sobre uma eventual gravidez de Ri, o basquetebolista Dennis Rodman, que já visitou a Coreia do Norte a convite de Kim – afinal parece que a cultura ocidental deixou algumas marcas nele – garantiu aos media ocidentais que Kim tem uma filha. Fã não só de basquete, mas também da Disney – em 2012 assistiu a um espetáculo com personagens como o Mickey ou o pato Donald – Kim serviu de inspiração a ‘Uma Entrevista de Loucos’, um filme no qual a personagem do líder norte-coreano é assassinada, o que levou ao ataque informático à Sony Pictures, alegadamente feito por hackers da Coreia do Norte.

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DEZ PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O NUCLEAR

1.

Quantas são hoje as potências nucleares?

Há nove países possuidores de ogivas nucleares: as cinco oficiais (Estados Unidos da América (EUA), Rússia, China, Reino Unido e França) e ainda a Índia, o Paquistão, Israel e a Coreia do Norte.

2.Porquê oficiais?

Trata-se dos cinco países que já possuíam armas nucleares aquando da entrada em vigor em 1970 do Tratado de Não Proliferação Nuclear.

3.Os outros negam ter as armas?

Índia e Paquistão pouco ou nada fazem para camuflar. Depois há o caso de Israel, cujo silêncio contrasta com a soberba da Coreia do Norte. Mas, em 2006, o então primeiro-ministro Ehud Olmert assumiu o nuclear numa TV, uma gaffe quando comentava a ambição iraniana.

4.

O Irão está perto de se tornar o próximo membro do clube?

O Irão assinou no verão um acordo com o P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e também potências nucleares oficiais mais a Alemanha) e aceitou reduzir as capacidades instaladas, além de acolher inspetores para vigiarem que uso será só civil. Do ponto de vista prático, o Irão estava na altura a escassos três meses de obter a bomba, passando a precisar agora de um ano se de repente quebrar o acordo e reiniciar o processo.

5. Como começou a produção

de bombas? Foi pouco antes de Hiroxima, em agosto de 1945?

Durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA assumiram o Projeto Manhattan para não ficarem atrás das ambições nazis. O primeiro

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teste ocorreu num deserto do Novo México, a 16 de julho. Três semanas depois, o Presidente Harry Truman autorizava o bombardeamento de Hiroxima. Mas só depois da segunda bomba, sobre Nagasáqui, o imperador japonês aceitou o fim da guerra na Ásia (na Europa Hitler tinha-se suicidado e a guerra terminara em maio).

6.

Quanto tempo os EUA tiveram o monopólio da bomba atómica?

Apenas quatro anos. Em 1949, a União Soviética fez o seu teste. Depois, Reino Unido e França juntaram-se ao clube. A China só em 1964.

7.E como se suspeitou de Israel? O Sunday Times noticiou em 1986 os segredos nucleares de Israel. Como fonte, o jornal teve um engenheiro israelita que trabalhou nas instalações de Dimona.

8.Já os casos da Índia e do

Paquistão foram mais óbvios?

Sim, pois em 1998 os países fizeram testes quase em simultâneo.

9.Há países a desistir do nuclear? Sabe-se que a África do Sul, na transição do apartheid para a democracia, destruiu o arsenal que tinha acumulado. E no final dos anos 1970, as ditaduras brasileira e argentina esforçaram-se por obter armas nucleares. Há ainda o caso da Ucrânia, que aceitou que o arsenal soviético fosse herdado só pela Rússia.

10.

E então quantas ogivas nucleares há no mundo?

Calcula-se que EUA e Rússia tenham sete mil cada. A Coreia do Norte terá dez. No total, as nove potências terão umas 15 mil.

70 ANOS DE DIVI 1945 A Coreia é libertada no final da Segunda Guerra Mundial. Com as tropas soviéticas a norte e as americanas a sul, é preciso decidir que exército dos Aliados vai aceitar a rendição dos japoneses. Um oficial americano olha para um mapa e escolhe o Paralelo 38 como divisória. 1948 Com a Guerra Fria a adivinhar-se, os comunistas liderados por Kim Il-Sung proclamam a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte), enquanto a sul, sob inspiração americana, é criada a República da Coreia (Coreia do Sul). 1950 Incentivadas pela União

Soviética e pela China, as tropas de Kim Il-Sung tentam a reunificação da península coreana. Conquistam Seul e avançam para sul, só sendo travadas em Busan. Na ONU, aproveitando a ausência do embaixador de Moscovo, é votada uma intervenção militar em auxílio da Coreia do Sul.


1988 A Coreia do Sul organiza os Jogos Olímpicos e confirma a adesão à democracia. 1994 Morre Kim Il-Sung, sucede-lhe o filho Kim Jing-il. São anos de más colheitas na Coreia do Norte. Economia sofre também com o fim da ajuda soviética. 2000 Antigo preso político, Kim Dae Jung não só se faz eleger Presidente sul-coreano como promove uma cimeira com Kim Jong-il. Três anos depois recebe o Nobel da Paz. 2006 Coreia do Norte faz testes nucleares.

ISÃO O desembarque em Busan permite às tropas sob bandeira da ONU reconquistar Seul, tomar Pyongyang e avançar até à fronteira chinesa. É então que centenas de milhares de voluntários chineses entram no conflito.

1953 Em Panmunjom, no Paralelo

38, representantes da Coreia do Norte e da ONU assinam um armistício. É

criada uma zona desmilitarizada e a nova fronteira é quase igual à de 1945.

1961 O general Park Chung-hee toma

o poder e governará a Coreia do Sul até ser assassinado em 1979. A Coreia do Sul é mais pobre do que a do Norte, mas as medidas de Park de incentivo aos Chaebol (grupos empresariais gigantes, como a Samsung) trouxeram um milagre económico.

AS DUAS COREIAS

Coreia do Norte

2011 Morre Kim Jong-il, sucede-lhe o filho Kim Jong-un. A Coreia do Norte é cada vez mais uma república dinástica ultranacionalista. 2013 Park Geun-hye, filha do

general Park, é eleita presidente da Coreia do Sul.

2016 Relações entre as duas Coreias

são quase inexistentes. Sul vai tornar-se 11.a economia mundial, norte reclama ter testado uma bomba de hidrogénio.

Coreia do Sul

População

48,9 milhões

24,7 milhões

Líder

Kim Jong-un

Park Geun-hye

PIB por habitante

1800 dólares

32400 dólares

Esperança média de vida

69,2 anos

79,3 anos

Forças armadas

1,2 milhões de efetivos

655 mil efetivos

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Sinais preocupantes a sul Texto | PEDRO LOURO Foto | LUSA

Há certas realidades que evoluem a passo de caracol, mas a questão da paz na península coreana parece que tende a evoluir a passo de caranguejo: ou seja, continuamos a andar para trás Nos últimos anos a tensão entre as duas Coreias tem-se agravado, especialmente devido à decisão da Coreia do Norte de continuar com os testes nucleares. No dia 6 de janeiro, e para resfriar ainda mais o ambiente, os norte-coreanos concluíram o quarto teste nuclear que proclamaram ser a explosão de uma bomba de hidrogénio criada com tecnologia própria. Quanto a isso ser ou não verdade ficam muitas dúvidas devido à magnitude da explosão. Porém, este teste demonstra como o país se aproxima temerosamente de ter a tecnologia necessária para colocar as suas bombas nucleares nos mísseis que tem testado nos últimos anos. A reação da Coreia do Sul não se fez esperar e a faixa de terra já conhecida por ser o lugar da maior concentração de tropas do mundo tornou-se também palco de grande barulheira. Em retaliação ao ensaio

A Igreja Católica coreana também tem procurado ser parceira no processo de aproximação entre as duas Coreias

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nuclear, o governo sul-coreano decidiu reativar os altifalantes de propaganda que tinha feito calar no final de agosto de 2015, quando as negociações pareciam estar no bom caminho. Obviamente, a Coreia do Norte fez o mesmo. Corrida às armas Na realidade, uma vez mais, as travessuras do jovem líder de Pyongyang, Kim Jong-un, não cativaram a atenção geral da Coreia do Sul, onde as pessoas estão mais preocupadas em como pagar as astronómicas rendas de casa, manter o emprego, fazer estudar os filhos, e com os cortes orçamentais para 2016 na área da educação. É verdade que se sente um pouco de tensão, mas olhando para os 15 anos que já passei no país, a situação não vai além dos normais dois ou três dias em que a notícia se consegue manter nos cabeçalhos dos jornais e na abertura dos telejornais. Depois, as coisas voltam ao normal. Há porém sinais que são preocupantes. O primeiro é a grande tentação que se nota nos ambientes políticos e militares do governo de Seul, especialmente nas fações mais conservadoras, ao defenderem que chegou a hora da Coreia do Sul possuir também armas nucleares ou então permitir que as armas nucleares dos Estados Unidos da América (EUA) possam ser estacionadas em território nacional. O segundo é a posição dos chineses em relação à atitude do líder

as pessoas estão mais preocupadas em como pagar as astronómicas rendas de casa, manter o emprego, fazer estudar os filhos, e com os cortes orçamentais para 2016 na área da educação

norte-coreano. O teste nuclear ocorreu num momento crítico em que a China se encontrava a fazer contas com os próprios terrores, ou seja as contínuas quedas da bolsa, e as autoridades chinesas limitaram-se a condenar o teste por simples palavras, advertindo a Coreia do Sul para não ser demasiado dura no reagir. Igreja tenta aproximação Obviamente que cada movimento um pouco fora do normal feito pelos “camaradas do norte” se torna sempre um bom motivo para


Na Coreia do Sul as alas mais conservadoras defendem que o país também deve ter armas nucleares ↘

os EUA reforçarem a sua presença no sul da península coreana. Desta vez foi a visita do colossal bombardeiro B52, que pode carregar dezenas de toneladas de bombas incluindo mísseis nucleares. Uma demonstração de força que não tem como único destinatário a Coreia do Norte, mas também a vizinha China que constitui a verdadeira ameaça e que precisa ter debaixo de olho. Aliás, a Coreia do Norte constitui uma excelente oportunidade para a administração norte-americana poder, com um

só olho, controlar dois tigres. Com tal situação é de esperar que às manifestações de força se junte uma corrida ao armamento. Aliás, segundo a imprensa local, o governo sul-coreano encontra-se já em diálogo com os EUA para a possibilidade de receber baterias anti-míssil SCUD num futuro próximo. A Igreja Católica coreana também tem procurado ser parceira no processo de aproximação entre as duas Coreias. No final de 2015 uma

comissão participou numa jornada de diálogo entre líderes religiosos das duas nações e o presidente da Conferência Episcopal visitou mesmo Pyongyang, tendo firmado um acordo para dar apoio religioso ao norte na altura das solenidades da Páscoa e Natal. Em que estado ficou este pacto depois do último teste nuclear, ainda não se sabe bem. Uma coisa é certa. Os passos para uma solução são poucos ou inexistentes. Ou seja, a sensação é de que se está a andar de marcha-atrás, a passo de caranguejo.

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mãos à obra

Alimentar idosos doentes e abandonados Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

Missionários no Guiúa, Moçambique, criaram um projeto para alimentar e dar um pouco mais de conforto aos idosos rejeitados pela família. Muitos deles são deficientes ou estão doentes

Durante anos construíram escolas primárias, secundárias, centros de saúde, centros de alfabetização e oficinas para ensinar as técnicas de costura, de liderança e de vida comunitária. Mas, no manancial de atividades sociais e pastorais, os missionários da Consolata detetaram uma lacuna: o sofrimento por que passam muitos idosos doentes e abandonados, na missão do Guiúa, uma das mais pequenas da diocese de Inhambane, em Moçambique. Identificado o problema, rapidamente foi elaborado um plano para angariar 20 mil euros e garantir uma vida melhor a pelo menos 150 homens e mulheres de mais idade, durante um ano. “Havia pouca preocupação com os mais idosos, que permanecem sozinhos, abandonados e muitas vezes rejeitados pela família. São homens e mulheres que não têm condições para trabalhar e que acabam descartados pela comunidade e condenados à marginalização. O nosso objetivo é proporcionar alívio e conforto nestes irmãos e irmãs, pelo menos no que é essencial na vida quotidiana”, explica o padre Sandro Faedi, um dos promotores do projeto. Na área abrangida pela missão do Guiúa, fundada em 1972, habitam cerca de 15 mil pessoas, 3.500 das quais são católicas. A maioria vive da agricultura de subsistência, devido à aridez do terreno, outras dedicam-se à pesca e outras ainda a explorar a planta de coco. Para contornar a situação de pobreza, os homens arriscam, com frequência, migrar para as grandes cidades ou procurar novas formas de vida na vizinha África do Sul. Quando regressam à terra natal, alguns trazem consigo graves problemas de saúde, que transmitem à família e agravam o problema do abandono, pois, por vezes, os familiares consideram que são a sua fonte de infortúnio e de miséria. Com grande parte da população mergulhada na pobreza extrema, os preconceitos e as superstições acabam por potenciar ainda mais a marginalização dos mais velhos, atirando-os para a mais extrema solidão. Ou seja, muitos “passam fome de dia e frio à noite”, lamenta Sandro Faedi, sublinhando a esperança dos missionários em poderem minimizar o sofrimento dos idosos, assegurando-lhes alimentação, roupa e alguns bens essenciais.

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IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | Arquivo

Tempos de guerra – 1ª Guerra Mundial – que se estendeu até à África oriental. Tempos heroicos nos quais os missionários e missionárias, muitos deles alistados na Cruz Vermelha, praticavam a misericórdia, curando as doenças, tratando as feridas, exercendo todo o tipo de enfermagem hospitalar. Ícone excecional deste serviço foi a irmã Irene, missionária da Consolata, há bem pouco tempo beatificada pela Igreja. Deram-lhe o nome de Nyatha, que significa “mãe cheia de misericórdia”, a indicar o modo como exerceu esta missão de consolação misericordiosa

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# gente nova em missão quaresma

LUZ PARA O MUNDO Texto | Cláudia feijão ilustração | david oliveira

Olá amiguinhos! Este mês entramos no período de preparação para a grande Festa da Páscoa: é o tempo da Quaresma. Mas não sem antes celebrarmos, no dia 2, a Festa da Apresentação de Jesus no Templo. Em muitas comunidades, neste dia, realiza-se a procissão e a bênção das velas, bem como são apresentados os bebés. Mas sabes o que tem de especial esta Festa? É Deus que apresenta o Seu Filho à Humanidade; é a Luz apresentada ao Mundo São Lucas é o único evangelista que fala sobre a infância de Jesus; para além da anunciação do Anjo e do nascimento de Jesus, narra também o momento em que, cumprindo a lei do Senhor, Maria e José vão ao templo para oferecerem o Menino ao Senhor. Porém, mais do que os pais entregarem o seu primogénito a Deus, é Deus quem apresenta o Seu Filho à humanidade. No templo, dá-se um encontro especial com um homem chamado Simeão e com uma mulher chamada Ana, os quais viram em Jesus o Messias tão aguardado (eles representam todos aqueles que esperavam a vinda do Messias). “Porque os meus olhos viram a salvação”, a “luz para iluminar todas as nações”. É, assim, a revelação da missão de Jesus: Ele é a salvação e a luz para todos os que O acolhem. Amiguinhos, que cada um de vós tenha sempre o coração aberto para receber a luz que é Jesus, e a possa transmitir aos outros. Como? É fácil, pois não é nada que cada um de vocês não faça: sendo amigo, sendo obediente, sendo bondoso, sendo solidário, sendo consolador, estando disponível.

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SABIAS QUE

Em 1997, o Santo Papa João Paulo II associou esta celebração ao Dia da Vida Consagrada? Tal como Jesus, todos os consagrados entregam a sua vida a Deus (e, dessa forma, também aos outros). É por isso que neste dia conclui-se o Ano da Vida Consagrada

MOMENTO DE ORAÇÃO Obrigada Senhor por estares sempre ao meu lado e por me dares força nos momentos menos bons. Que, por meio das minhas palavras e ações, eu saiba cumprir sempre a Tua vontade, e que o meu coração esteja sempre aberto para receber a luz de Jesus. Que eu saiba imitar Jesus para que seja sempre fonte de esperança e de consolação para quem mais necessite. Pai-Nosso… Ave Maria… Glória…

HORA DE DIVERSÃO

Porque acompanhado é mais divertido, em família ou com os colegas da catequese, responde às questões deste “Caça ao Tesouro”, tendo por base o Evangelho de São Lucas (vou dar uma ajuda: começa no capítulo 2, mais não digo, vocês encontrarão rapidamente): A) Quantos dias tinham passado quando foi dado o nome a Jesus? B) O que é que a Virgem Maria e São José ofereceram, em sacrifício, a Deus? C) Segundo a lei, quem é que era consagrado ao Senhor? D) Como se chamavam as duas pessoas que se encontraram no templo com Jesus, Maria e José? E) O que é que Simeão fez quando os encontrou? F) Quem era Ana? G) O que é que Simeão e Ana tinham em comum? H) O que é que Simeão disse ter visto?

A) 8 dias; B) um par de rolas ou dois pombinhos; C) todo o primogénito do sexo masculino; D) Simeão e Ana; E) tomou Jesus nos braços e louvou a Deus; F) era uma profetisa; G) ambos esperavam a chegada do Messias; H) A salvação e a luz

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tempo jovem

A GERAÇÃO DOS “NOODLES” a ideia de que “a vida são dois dias, e, como tal, há que aproveitá-la ao máximo parece invadir cada vez mais a mente de muitas pessoas, incluindo jovens. Daí a necessidade de vivê-la como se fosse uma tijela de “noodles”. Mas a vida deve ser vivida, apreciada e saboreada com calma, com coerência e moderação, de modo a ser autêntica e profunda

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Texto | ÁLVARO PACHECO Fotos | LUSA

Uma das experiências mais interessantes que como missionário vivi na Coreia do Sul teve a ver com a mudança de mentalidade nas gerações mais jovens. Vi muitas dessas mudanças nos 17 anos que por lá vivi sobretudo na forma de relação social dentro da família e com os amigos, a maior parte delas para pior, contribuindo para a grave crise que afeta as famílias daquele país. E mais: enquanto aqui no ocidente as mudanças levam anos e anos a instaurar-se, por lá são cada vez mais “rápidas e furiosas”, ou seja, ocorrem a uma velocidade estonteante, causada sobretudo pelos avanços tecnológicos que caracterizam a sociedade sul-coreana e a influência cada vez mais intensa dos valores ocidentais, negativos e positivos, mas com mais incidência por parte dos negativos. Esta experiência levou-me a chamá-los de “geração dos noodles” (os famosos esparguetes que na Ásia oriental se comem com água a ferver e que, como tal, cozem instantaneamente). E porque é que os chamava assim? Porque vivem precisamente de forma instantânea e veloz, sempre a correr, como se não houvesse amanhã. Quando aprendia coreano, a expressão que os professores nos indicavam como sendo uma das que melhor definiam o carácter do povo coreano era “palli, palli”, ou seja, “rápido, rápido”. Ora, se um dos maiores dons que temos é o dom do tempo, creio que por vezes o desperdiçamos de formas muito variadas e quase sempre sem nos darmos conta. Os anos passam e, quando olhamos para trás, vemos que em certas ocasiões podíamos ter aproveitado mais e melhor o tempo, sobretudo com quem faz parte da nossa vida de forma mais direta e profunda. Alguém disse que a vida não é tanto uma questão de quanto vivemos, mas de como a vivemos. Voltando aos jovens coreanos, uma das mudanças no carácter e forma de encarar a vida deu-se em relação à palavra “compromisso”. Ou seja, muitos vivem com medo de se comprometerem com a vida e com alguém, deixando tudo para um futuro incerto... e, ao mesmo tempo, vivendo tudo a correr e no “já e agora”. Os compromissos assumidos são de curta duração, porque a

dimensão do “para sempre” mete cada vez mais medo. Ora, todos gostamos de viver e de ser felizes, construindo a nossa felicidade à medida que o tempo passa e o conhecimento de nós mesmos, do mundo e dos outros vai aumentando. Só que o conhecimento maior, ou seja, o que está relacionado com Deus e com o amor, não pode ser vivido como se estivéssemos comendo “noodles”. Por outras palavras, as modas e tendências são parte da sociedade, tanto local como global, mas mesmo essas vão sendo cada vez mais curtas no tempo. Parece que há uma ânsia voraz de preencher apressadamente espaços da vida e do coração que deveriam ser reservados a um outro ou ao ‘próximo’ de que fala Cristo no Evangelho com experiências rápidas e alucinantes. Mas muitos acabam por sentir um vazio enorme dentro de si mesmos, porque falta na base uma relação íntima e profunda com um Outro que nos define e completa como seres que podem e devem amar e ser amados. A nossa vida é feita de momentos, encontros, experiências e etapas que podemos e devemos partilhar com outros porque não vivemos isolados ou sozinhos neste mundo. Mais ainda: a ideia de que “a vida são dois dias, e, como tal, há que aproveitá-la ao máximo parece invadir cada vez mais a mente de muitas pessoas, incluindo jovens. Daí a necessidade de vivê-la como se fosse uma tijela de “noodles”. Mas a vida deve ser vivida, apreciada e saboreada com calma, com coerência e moderação, de modo a ser autêntica e profunda. E terá mais valor ainda se conseguirmos fazer dela um exemplo de felicidade para outros. São muitas as formas de alcançar a felicidade, mas em Cristo encontramos todas as atitudes e métodos que nos ajudam a alcançá-la. Porém, há ainda muita gente por esse mundo fora que não o conhece. Como dizia Jesus, “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”. A messe são os povos e culturas que serão mais enriquecidas com o conhecimento e seguimento dos seus ensinamentos. Mas, como dizia São Paulo, “como podem conhecer se não há quem lhes anuncie”?

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sementes do reino

Nem só de pão vive o homem Texto | PATRICK SILVA Foto | ANA PAULA

A nossa vida está repleta de momentos de deserto, por isso, a presença do companheiro é essencial

Talvez nunca como hoje tivemos tanto “pão”, mas a expressão bíblica “Nem só de pão vive o homem” é ainda de gritante atualidade, porque são muitos os que, apesar de todo o “pão” que têm disponível, não encontram a felicidade. É que ela não depende apenas do “pão” material, é preciso bem mais do que isso. Este tempo de Quaresma convida a ir ao deserto para aí, descobrir o verdadeiro “pão” que leva à felicidade.

Leio a Palavra

Lc 4, 1-13 São três os diálogos que Lucas emprega para apresentar este episódio. Os protagonistas são dois: o diabo e Jesus. O primeiro diálogo/tentação é o de seguir o caminho da facilidade. Ou seja, Jesus poderia usar o seu poder divino para resolver todos os problemas. A segunda tentação é a de escolher o caminho do poder, da glória, bem ao modo dos poderosos da terra. O terceiro diálogo é a escolha do “show”, do espetacular, bem ao modo dos super-heróis que aprendemos a ver na televisão. Perante as três tentações, a resposta é sempre definitiva: o projeto do Pai é mais valioso que todas as tentadoras propostas do diabo.

Saboreio a Palavra

O primeiro domingo da Quaresma leva-nos ao deserto, local especial para os textos bíblicos, onde o povo fizera experiências de Deus, mas também a 28

Fátima Missionária

experiência da fragilidade. É no deserto que Jesus experimenta a tentação, que em poucas palavras poderíamos definir como: deixar de lado o projeto de Deus para escolher o caminho do poder, da riqueza ou do sucesso humano, com tanto de aplauso. Não foi essa, porém, a sua escolha.

Rezo a Palavra

Reze o Pai Nosso e pare no pedido “não nos deixeis cair em tentação”. Peça a Deus que não o deixe cair na tentação de escolher o caminho do aparentemente mais fácil. Recorde-se que no deserto Jesus não estava só, acompanhava-o o Espírito Santo. Peça ao Pai este companheiro.

Vivo a Palavra

O Evangelho apresenta o confronto entre duas lógicas, a de Deus e a do mundo. Também nós somos chamados a uma escolha. Não é possível viver as duas lógicas, porque se contradizem. Com que lógica conduzo a minha vida? Na pele de Jesus, qual seria a minha resposta? As tentações oferecem “excelentes” propostas, humanamente falando. Não é o que buscamos tantas vezes na nossa vida? A riqueza? O caminho fácil? O poder e a glória? Só mesmo com a ajuda do Espírito Santo é possível responder como Jesus. A nossa vida está repleta de momentos de deserto, por isso, a presença do companheiro é essencial.


A palavra faz-se missão

FEVEREIRO

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5º Domingo Comum Is 6, 1-8; 1Cor 15, 1-11; Lc 5, 1-11

“Faz-te ao largo”

Fiemo-nos na Palavra de Cristo, que nos manda ainda hoje cumprir a sua missão na terra. Com o mesmo entusiasmo que tiveram os cristãos da primeira hora e com a força do mesmo Espírito que desceu no dia de Pentecostes e hoje ainda nos impele a recomeçar.

Guia, Senhor, os nossos passos, neste novo ano. Sustém-nos com a força do teu Espírito.

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1º Domingo de Quaresma Dt 26, 4-10; Rm 10, 8-13; Lc 4, 1-13

A Palavra está perto de ti

“A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Quaresma é tempo para abrir os ouvidos a esta Palavra que há 2000 anos ecoou na Palestina e hoje pode ressoar no nosso coração. Precisamos de parar, abrir o Livro Sagrado, entender por onde passam os caminhos de Deus e alinhar por eles a nossa vida. Nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus.

Abre, Senhor, o nosso coração para entendermos as Palavras do teu Filho Jesus.

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2º Domingo da Quaresma Gn 15, 5-18; Fil 3, 17-4,1; Lc 9, 28-36

Subir ao monte para orar

Subir ao monte, contemplar Jesus, imitando-o no seu gesto sublime de rezar. Fazemos tanta coisa, trabalhamos noite e dia, e esquecemos talvez a coisa principal: rezar. Com Jesus e como Jesus. Orar é subir. Orar é transfigurar-se. É

aclarar dúvidas e incertezas. “É de joelhos que se vê melhor”. Porque é aí que nos sentimos íntimos de Deus, vemos com os seus olhos e podemos dialogar com Ele face a face. Que dignidade!

Dá-me, Senhor, o gosto da oração, no diálogo de intimidade com o Pai e na partilha da minha vida com os outros.

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3º Domingo da Quaresma Ex 3, 1-15; 1Cor 10, 1-12; Lc 13, 1-9

Vidas sem fruto

A vida é uma oportunidade que não podemos perder. É Jesus quem nos revela o rosto de um Deus paciente, mas insistente, à espera que produzamos frutos na nossa vida. A nossa conversão, a mudança de atitudes, a reorientação da nossa vida é o primeiro fruto que nos é pedido. Deus, por seu lado, intervém sempre no respeito da nossa liberdade e nos cuidados e atenções de que precisamos.

Cuida, Senhor, desta frágil planta, para que possa dar os frutos desejados. DV

intenção pela evangelização Para que cresçam as oportunidades de diálogo e de encontro entre a fé cristã e os povos da Ásia

Diálogo em caminho A Igreja da Ásia é minoritária num contexto religioso muito variado, mas de ricas tradições e de grande vitalidade. Temos o contexto budista. Na Índia, Tailândia, Myanmar e Sri Lanka, o budismo é maioritário e, em certos casos, religião de Estado. Temos depois o contexto hinduísta. É sobretudo na Índia que a Igreja enfrenta um hinduísmo que nos últimos anos se tornou fundamentalista e agressivo em termos culturais e sociais. E ainda o contexto islâmico: na Indonésia, no Paquistão, no Bangladesh, a Igreja vive em ambiente muçulmano, com muito fundamentalismo à mistura e perseguições à Igreja. Depois há também o contexto comunista na China e nos países da Indochina onde há vários entraves à vida e crescimento da Igreja. Sem esquecer o contexto materialista das sociedades de consumo: no Japão, em Taiwan, em Singapura, em Hong Kong, na Coreia do Sul, na própria China e nas Filipinas onde as sociedades de consumo fazem antever dificuldades futuras. É nestes contextos que se espera o respeito pela fé cristã e um grande esforço de diálogo inter-religioso. DV

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Fátima Missionária

Estatuto editorial

Fátima Missionária assume-se co­mo uma publicação de informação geral com a missão de promover os autênticos valores humanos e cristãos, tais como a paz, a solidariedade, a justiça, a fraternidade e a defesa do ambiente. Fátima Missionária tem como objetivo informar os leitores sobre os mais diversos temas que dizem respeito sobretudo a Fátima e aos povos do Terceiro Mundo, nomeadamente aos de língua portuguesa. Pretende ser um veículo de notícias e iniciativas que circulam em ambos os sentidos. Fátima Missionária pretende chegar às cidades e às aldeias, dentro e fora do país; dirige-se a um público muito variado: crianças, jovens e adultos sem distinção de raça nem credo – usando para isso mesmo um estilo simples e acessível a todos. Fátima Missionária nasceu e mantém a sua sede na cidade de Fátima, cada vez mais um ponto de encontro de povos e cul­tu­ras, a nível mundial. Como o seu nome in­­dica, quer informar sobre a Missão em geral, desenvolvendo as potencialidades que o tema encerra: evangelização e promoção dos povos; di­­reitos humanos, incluindo a denúncia dos seus atropelos, violações e injustiças; relações entre

Grande paz de espírito

o norte e o sul do planeta, batendo-se por uma justa cooperação entre as nações; cultura, usos e costumes dos povos, sociedade, religiões e missão da Igreja; divulgação de notícias de todo o mundo, com prioridade para os países menos desenvolvidos; formação para a mundialidade, e apoio a campanhas de solidariedade para com as minorias e grupos humanos mais desfavorecidos, designadamente refugiados e povos ameaçados de extinção. Fátima Missionária é propriedade da Dele­gação Portuguesa do Instituto Missionário da Con­so­lata. Não tem fins lucrativos, não tem vínculos partidários, nem é órgão oficial de qualquer instituição ou religião. Dirigida pelo seu diretor, equipa de redação e administrador, propõe-se colaborar com os órgãos de comunicação afins e com associações cujos objetivos sejam a defesa dos seus interesses e finalidades. Fátima Missionária compromete-se a res­­pei­tar os princípios deontológicos e a ética pro­fis­sional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores. Fátima Missionária é mensal e é distribuída por assinatura, vivendo exclusivamente da con­tri­bui­­­ção generosa dos seus assinantes, leitores e ami­gos.

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vida com vida

Padre Carlos Massano

Calmo, perseverante no trabalho e na oração pensava o seu pároco: o Carlos era um rapaz que sabia o que queria, e com muita seriedade se preparava para o sacerdócio missionário. Dele disseram os seus formadores, ao apresentá-lo para a ordenação sacerdotal, que teve lugar em 18 de maio de 1961: “Embora não superiormente dotado, o Carlos trabalha duramente para responder à sua vocação, com uma piedade séria e convicta e com frequentes tempos de adoração eucarística. É de convivência generosa, trabalhador, e sacrifica-se pelos outros; sempre se pode confiar nele: será um bom missionário”. Depois da ordenação foi enviado para a Colômbia. Trabalhou como vigário cooperador em San Vicente, no Caquetá, uma zona bem difícil que exigia um comportamento delicado. Foi durante este tempo que sofreu a perda da mãe. Dela escreveu: “Dá-me grande consolação ter a minha mãe sido uma santa mulher. A fé que ela me deu com o seu leite materno traz-me agora calor e júbilo, mesmo na dor. Sinto-a cada vez mais perto de mim. Brevemente voltarei a vê-la”. Ao serviço pastoral dedicou todas as suas capacidades e energias.

Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

“Declaro que o jovem Carlos Massano sempre teve um comportamento exemplar e uma conduta cristã”. Foi com estas palavras que o seu pároco o apresentou aos Missionários da Consolata. Em 1950-51 vivemos juntos no Seminário da Consolata de Rosignano Monferrato, e sempre pensei dele como 32

Fátima Missionária

Passavam os anos, e a uma certa altura começou a sentir sinais de cansaço e problemas da coluna vertebral. Aconselhado pelos superiores a um período de calma na Itália, obedeceu, dizendo que “lhe faria bem esta atualização”. Mas ajuntou: “Desejo voltar à minha querida terra de missão o mais depressa possível. Agradeço a possibilidade que aqui tive de estudar mais a fundo o fundador, que agora considero que era missionário da Consolata até à última gota do seu sangue”. Mas as perturbações da saúde não o deixaram partir para a terra dos seus sonhos missionários. Em Itália trabalhou na promoção missionária e vocacional. Em 2011 foi transferido para a comunidade de Alpignano. E a 5 de fevereiro do ano seguinte entregava ao Senhor e à Virgem da Consolação a sua alma simples e tão sinceramente missionária.


O QUE SE ESCREVE

O Livro dos Salmos

A Arte da Vida O quotidiano na beleza Quando o pensar, o habitar o espaço, o vestir-se, o comer, a educação, a imaginação, o trabalho e até mesmo o fracasso se tornam revelação da vida nova, da humanidade redimida, o ser humano volta a ser feliz e a fé torna-se a força da beleza, a espiritualidade da sabedoria, o esplendor da luz sem ocaso. O autor, jesuíta, estudou pintura na Academia de Belas Artes e teologia na Universidade Gregoriana. Dedica-se também à arte litúrgica e já produziu inúmeros mosaicos espalhados por todo o mundo. A sua obra está presente na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima. Autor: Marko Ivan Rupnik, sj 216 páginas | preço: 12,00 € Editorial A.O.

Era uma vez a Reconciliação

O biblista António Couto, bispo de Lamego, brinda-nos com mais um livro. Trata-se do Livro dos Salmos que ele, com arte nos ensina a entender melhor. Diz na introdução que “a oração dos salmos, recitada com toda a intensidade, depura e decanta a nossa vida. O instrumento que a dedilha é a nossa vida, de Deus recebida e a Deus oferecida, por Deus agraciada e transformada, transfigurada”. Possam os leitores e orantes sentir e saborear a intensa beleza dos salmos.

O que é o pecado? O que significa perdoar? O que é a reconciliação? Responder a tais perguntas é um desafio. Este livro apresenta um percurso de histórias e reflexões sobre o tema do pecado e do perdão. São contadas de forma muito próxima e cativante com experiências facilmente interiorizadas pelas crianças. O livro muito bem ilustrado é antes de mais para elas, mas pode também servir para gente adulta.

Autor: Dom António Couto 120 páginas | preço: 7,00 € Editorial Missões – Cucujães

Autor: Bruno Ferrero e Anna Peiretti 48 páginas | preço: 5,00 € Edições Salesianas

Felizes os Misericordiosos 36 Vidas

As Parábolas da Misericórdia

É a bem-aventurança de Jesus que no Jubileu da Misericórdia devemos ter diante dos olhos: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Para melhor percebermos a beleza e as exigências desta palavra de Jesus, apresentam-se neste livrinho 36 modelos de vida à luz da misericórdia. São figuras do século XX que foram misericordiosas, cada qual à sua maneira, e por isso felizes. Autor: Pedrosa Ferreira 80 páginas | preço: 1,50 € Edição Cavaleiro da Imaculada

Este livro é mais um texto da autoria do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização em apoio do Ano da Misericórdia. As “parábolas da misericórdia” remetem-nos para três narrativas do Evangelho de São Lucas: a ovelha perdida, a moeda encontrada e o filho pródigo. Mas na verdade, o tema da misericórdia é tocado noutras páginas do Evangelho, que aqui são bem comentadas. Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 128 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Estou no Estado mais pequeno do mundo com o maior homem do mundo. Não se pode falar moderadamente do Papa. É um revolucionário, é maravilhoso. Fiz tudo para o ver”

Roberto Benigni ator e realizador italiano, aquando da apresentação do livro do Papa Francisco “O nome de Deus é Misericórdia – Uma conversa com Andrea Tornielli”

“A tradição dos transmontanos, quando alguém bate à porta, é dizer ‘entre, quem é!’, ou seja, primeiro o acolhimento e depois o conhecimento”

José Cordeiro bispo de Bragança-Miranda

“A humanidade só se pode libertar da violência através da prática da não violência”

Mahatma Gandhi (1869-1948), líder espiritual e pacifista indiano

“À medida que envelhecemos, as perguntas resumem- “Se quiseres se a duas ou três. Quanto tempo mais? E o que é que chegar eu vou fazer com o tempo que me resta?” depressa, David Bowie (1947-2016), cantor e compositor inglês caminha sozinho: se quiseres “Dá valor às coisas, não pelo que chegar longe, caminha com valem mas pelo que significam” outros” Gabriel García Márquez(1927-2014), escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano

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Fátima Missionária

Provérbio africano


ROMA

PEREGRINAÇÃO ACOMPANHADA POR PADRE DARCI VILARINHO

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dias 10 13

junho 2016

PARA MAIS INFORMAÇÕES DEVERÁ CONTACTAR: INSTITUTO MISSIONÁRIO DA CONSOLATA

917 513 575

Um abraço entre a fé e a vida

RESERVE JÁ O SEU LUGAR

LUGARES LIMITADOS

ASSIS


CONTRASTE Há contentores às portas das cidades cheios de gente como se de lixo. Há palacetes dentro das cidades cheios de luxo mais do que de gente. E entre os contentores e os palacetes o fosso é evidente. Fernanda Seno Trilho de pó

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Fátima Missionária


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