Atitude

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Ano LXIII | Fevereiro 2017 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

ATITUDE

EX RECLUSO USA EXPERIÊNCIA DE VIDA PARA PREVENIR DELINQUÊNCIA JUVENIL MISSÃO HOJE

“A missão passa a ser uma forma de estar” Jovem testemunha ano de voluntariado em Moçambique

DOSSIER

Filme mostra coragem dos cristãos na Ásia

“Silêncio” recupera a história de missionários portugueses no Japão

TEMPO JOVEM

Peregrinar no Centenário das Aparições Jovens desafiados a sair do quotidiano e a fazerem-se ao caminho


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM OS MISSIONÁRIOS

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 02 Ano LXIII FEVEREIRO I 2017 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

“ UM FILME QUE MOSTRA A CORAGEM DOS CRISTÃOS NA ÁSIA

04 | EDITORIAL (Des) Conectados 05 | PONTO DE VISTA Uma história de relação 06 | HORIZONTES Forças que libertam 07 | DESTAQUE “Não podemos servir a emancipação de bandeja” 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Paquistão: Primeiro-ministro antecipa respeito pelas minorias religiosas

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.300 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração, Ângela e Rui, Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, Ermanno Savarino, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Ramon Cazallas, Simão Pedro, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Ana Paula Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

10 | A MISSÃO HOJE A assistência espiritual nos cuidados paliativos 11 | VOZES DA RUA Recuperar a esperança 12 | A MISSÃO HOJE “A missão passa a ser uma forma de estar” 13 | FÁTIMA INFORMA Alunos da catequese recriam aparições 14 | ATUALIDADE O vilão que passou a justo

• Congo: Alerta contra o desmatamento e inquinamento dos rios

22 | MÃOS À OBRA Ensinar os jovens a cuidar da “casa comum”

• Palestina: Mahmud Abbas inaugura embaixada junto da Santa Sé

23 | PEREGRINOS DE FÁTIMA

• Venezuela: Grave crise económica em níveis incontroláveis

24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Lembrai-vos dos doentes

• Sudão: Frio mata crianças desnutridas e idosos

26 | TEMPO JOVEM Peregrinar é viver

• Guatemala: Maias invocam a paz com ritual antigo

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

28 | SEMENTES DO REINO “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo” 30 | VIDA COM VIDA “Que eu perca a vida, mas não a vocação” 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

(DES) CONECTADOS Um dia vi uma imagem que prendeu por momentos o meu olhar. Na foto, uma avozinha entrada em anos, sentada num sofá familiar de uma pequena sala. A seu lado, também sentados, estavam quatro jovens. Ela, no meio, a olhar para o nada. Eles, cabeça inclinada, com os olhos fixos nos seus telemóveis. No centro superior da foto, um balão-legenda rezava assim: “Muito obrigado, queridos netos, por me terem vindo visitar”. Não riam! É sério! Cada vez me convenço mais que as novas tecnologias aproximam quem está longe e afastam… quem está perto. Com o passar do tempo algumas formas de comunicação ficaram obsoletas. Usar o telefone fixo ou escrever cartas está em desuso. Um PC, um tablet, um telemóvel ou um smartphone, estão ao alcance de qualquer um e é através deles, e das suas aplicações, que mais interagimos. Mas não sei se nos comunicamos! O Skype, o WhatsApp e as redes socias Facebook, Twitter, Instagram fazem próximo quem está longe, aproximando emigrantes das suas famílias, ajudam a fazer novos amigos, reencontrar colegas de escola, recordam aniversários e, porque não, até partilhamos fotos e vídeos de gatinhos fofinhos. “Cuidado! Esse tal de Feicibuki é o diabo”, advertia-me uma amiga de longa data. Há quem

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Fátima Missionária

use as tecnologias para o crime, o cyberbullying, para a traição, para se alienar? Há! Mas uma grande maioria usa-as como ferramenta útil para o dia a dia. Como em tudo, o problema, a existir, está não tanto nas coisas em si mesmas, mas no uso que delas fazemos. O sociólogo e filósofo polaco Zygmunt Bauman, considerado um dos principais pensadores do século XX, e recentemente falecido, aos 91 anos, disse numa entrevista que “tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”. Para definir as ligações entre as pessoas nos tempos atuais, Bauman criou o conceito de “sociedade líquida”, para dizer que há uma fluidez do tempo e da identidade, e as relações são cada vez menos duradouras e frequentes, e mais frágeis. Os valores sólidos de antes, como a religião, a família, o casal e o trabalho para toda a vida, foram-se esfumando. Hoje em dia, é tudo mais imediato, mas também mais disperso, mais alienado, e, ironia das ironias, mais incomunicado. É o que nos diz a situação da avozinha da foto. A sociedade tem tudo para estar online, antenada. Procura a tua conexão! Urge criar relação: conectar a palavra e o abraço! Físico, de preferência. Albino Brás

Não riam! É sério! Cada vez me convenço mais que as novas tecnologias aproximam quem está longe e afastam… quem está perto


PONTO DE VISTA

JOSÉ PEREIRA DE ALMEIDA* . COORDENADOR NACIONAL DA PASTORAL DA SAÚDE .

UMA HISTÓRIA DE RELAÇÃO Na sua mensagem para este Dia Mundial do Doente (o vigésimo quinto), o Papa Francisco diz que estamos todos “sob o olhar de Maria”. No Centenário das Aparições de Fátima, vale a pena recordar que a referência que São João Paulo II escolheu para o Dia Mundial do Doente – e não por acaso – é a festa de Nossa Senhora de Lourdes, 11 de fevereiro. O Papa Francisco refere que Santa Bernadette “conta que a Virgem [...] a fixava como se olha para uma pessoa”. Este encontro interpessoal corresponde a uma relação. “Bernadette, pobre, analfabeta e doente, sente-se olhada por Maria como pessoa. [...] Isto lembra-nos que cada doente é e permanece sempre um ser humano, e deve ser tratado como tal. Os doentes, tal como as pessoas com deficiências, mesmo muito graves, têm a sua dignidade inalienável e a sua missão própria na vida, não se tornando nunca meros objetos; ainda que às vezes pareçam de todo passivos, nunca o são”. Todos temos a experiência de que os outros são para nós o ‘dom’ que nos permite viver a vida como pessoas. Na relação com eles. A nossa vida é uma história de relação. Recordamos alguns deles com especial ternura. Estamos-lhes gratos por isso. E havemos de saber cultivar esta

gratidão sobretudo para com aqueles que, pela sua fragilidade, nos são confiados: os doentes, as pessoas com deficiência, os que sofrem. Sobretudo se o seu estado, a sua situação, é grave e inspira mais cuidados, eles ou elas correspondem à figura dos fracos, dos necessitados, dos “mais pequeninos” a que a terceira história do capítulo 25 de São Mateus se refere: “foi a Mim que o fizeste” (cf. Mt 25,31-46). Aprendemos que as coisas têm preço; as pessoas têm dignidade. O valor de cada uma delas – quaisquer que sejam as suas circunstâncias (falamos de condição humana) não tem preço: está acima de qualquer equivalente, não pode ser substituída por nada. Dizemos que tem dignidade. São pessoas, não coisas. Não podem ser nunca ‘meros objetos’: são um fim em si mesmas como afirma o Papa Francisco. Na tradição bíblica, a dignidade da pessoa humana tem o seu fundamento no facto de ser imagem de Deus. Sob o olhar de Maria confiemos-lhe a nossa história de relação. Os nossos gestos, as nossas atitudes hão de falar do cuidado, da misericórdia e da ternura de Deus àqueles com quem nos encontramos todos os dias.

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horizontes

FORÇAS QUE LIBERTAM Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Paula abraçou o projeto de ser catequista com a convicção de que os jovens crescem pela mensagem do amor. Mas, ultimamente, pensar nas sessões de catequese representa angústia: “Que fazer com o Simão?” Simão é um jovem de 16 anos do seu grupo de catequese. Dá sinais de estar a consumir algum tipo de droga: está agressivo, irrequieto, com um discurso sem nexo. Paula decidiu que na próxima sessão não o convidaria a sair da sala. Refletiria com o grupo sobre as alternativas à droga e à exclusão. Assim, começou a sessão com uma questão: – Qual deve ser o nosso comportamento, hoje, com o Simão? – Ele deve ir para casa. Não está bem! – Devia tratar-se. Vê-se logo que está “ganzado”. Só perturba. – Talvez ele precise de ajuda para deixar de se drogar. Podíamos ajudar…. – Ele devia falar com alguém sobre os seus problemas… Uma consulta… As opiniões continuaram. Simão ficou silencioso, talvez surpreso por falarem de si na sua presença; talvez já insensível ao que se passava à sua volta. Paula ouvia. Os “seus” jovens eram solidários e acolhedores. Mas, isto não mudaria nada. Voltariam a encontrar-se aos sábados, Simão continuaria na sua vida e os colegas também – e ela também! Simão corria o risco de ser preso. Continuavam os problemas em família, as suas ausências da escola, as tentativas frustradas dos vários serviços em ajudá-lo. Será que havia algo mais a tentar? Arriscou pensá-lo alto com o grupo. – Sei que o padre Luís conhece uma 06

Fátima Missionária

instituição de ajuda a pessoas com problemas de toxicodependência. Que vos parece? O grupo acolheu esta possibilidade. Foram “buscar” o padre Luís que os esclareceu e prometeu colher mais informações. Na semana que se seguiu, Paula recebeu telefonemas de todo o grupo. Tinham pressa em saber novidades da Comunidade para Simão. Mas, a resposta desfez o sonho do grupo: o custo mensal era demasiado elevado. Na sessão de catequese seguinte, estavam todos e também Simão, desta vez suficientemente “acordado” para entender o que se passava. “Como ajudar Simão” continuava a ser o tema. A solidariedade era já tão sólida que ninguém queria desistir. – E se tentássemos contactar patrocinadores? – desafiou Gisela – É, boa ideia! Eu conheço… E eu posso… Eu vou contigo…. – Eram as respostas entusiásticas à proposta de Gisela.

Simão estava quieto, atordoado, desta vez não com droga mas com a emoção que a corrente de afeto dos seus colegas fazia nascer nele. Sentia-se “quente”, rodeado por alguém que se importa. E, pela primeira vez desde que se lembra de si mesmo, sentiu-se acolhido, cuidado e com vontade de lhes corresponder. Seria mesmo possível ele livrar-se das dores que tentava “afogar” há tanto tempo, sem resultado? Então, Simão quebrou o seu silêncio com uma afirmação que arrancou palmas e vivas emocionados: – Eu também vou com vocês. Afinal, eu quero tratar-me! Paula olhou Simão nos olhos. Nunca o tinha olhado assim. Sempre o olhara a procurar sinais de droga. Mas hoje, procurou o Simão. Os seus olhares encontraram-se e ali, sem palavras, formou-se uma aliança de compromisso, embalada na corrente amorosa do grupo que os envolveu a todos, com poder de unidade e libertação.


DESTAQUE

“NÃO PODEMOS SERVIR A EMANCIPAÇÃO DE BANDEJA”

AOS 10 ANOS, JÁ PARTICIPAVA EM PROTESTOS ESTUDANTIS. FOI TORTURADA PELA POLÍCIA E VIU SE OBRIGADA A VIVER NA CLANDESTINIDADE. CONTINUA A RECEBER AMEAÇAS DE MORTE, MAS NÃO DESISTE DE LUTAR PELOS DIREITOS DAS MULHERES Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

Galardoada com vários prémios pela defesa dos direitos humanos e nomeada em 2015 para o Prémio Nobel da Paz, Aminetou Minte Mokhtar continua a lutar contra qualquer forma de discriminação, em particular contra os abusos que sofrem as mulheres e crianças na Mauritânia. Tem pago um preço muito alto pelo seu ativismo, que pratica desde muito nova, e nem assim pensa em desistir de sonhar com a emancipação feminina “real e sem condições”, apesar das constantes ameaças contra a sua integridade física. “A minha voz é a de uma mulher que procura igualdade e emancipação, que recusa a submissão e que se nega a ser relegada para segundo plano, a ser explorada pelo homem. Denuncio as desigualdades não só entre homens e mulheres, mas também entre comunidades. E não aceito os estereótipos nem a cadeia que alimenta o patriarcado”, explica a ativista numa entrevista recente ao jornal El País. Habituada a viver num país, que como em qualquer outra república islâmica é marcado pelo peso da influência dos homens nos centros de decisão, pela pobreza, pelos discursos fanáticos e pela falta de compreensão da população, Aminetou Mokhtar cedo se insurgiu contra a resignação. Por isso, começou a participar em manifestações de protesto de sindicatos e estudantes ainda em criança, o que lhe valeu ter ido parar à cadeia aos 11 anos.

“Fui torturada pela polícia, tive que deixar os estudos porque os professores não me aceitavam, nem a administração. Fui perseguida, vivi nove meses na clandestinidade e fui detida várias vezes. A repressão que se vive na Mauritânia levou muitos homens e mulheres a renunciar aos seus princípios, mas eu conservo a mesma visão. Sou uma democrata que aspira a um Estado de Direito”, sublinhou. Segundo a ativista, que entretanto fundou a Associação de Mulheres Chefes de Família, as mulheres representam 53 por cento da população mauritana. E “se não se integram nas esferas de tomada de decisão, se não participam ativamente em todos os setores da sociedade, não podem evoluir, nem elas nem o país”. “Não podemos servir-lhes a emancipação de bandeja. Têm que lutar por ela, reclamar os seus direitos, estudar e ser empreendedoras para alcançarem a independência económica”, conclui.

DENUNCIO AS DESIGUALDADES NÃO SÓ ENTRE HOMENS E MULHERES, MAS TAMBÉM ENTRE COMUNIDADES

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mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Paquistão

Primeiro-ministro antecipa respeito pelas minorias religiosas “Em breve virá o tempo em que o Paquistão será reconhecido como um país amigo das minorias religiosas”, afirmou o primeiro-ministro Nawaz Sharif. “O governo está a tomar medidas para melhorar a vida dos grupos religiosos minoritários”, anunciou na cerimónia de inauguração do templo hinduísta Kata Raj, no Punjab. Depois dos trabalhos de restauro o templo de 900 anos foi reaberto ao público, oferecendo a ocasião para o primeiro-ministro lançar um apelo ao respeito pelas minorias religiosas. Os crentes de todas as religiões deverão ter direitos iguais no Paquistão e deve-se reconhecer-lhes o contributo para “criar e defender o país”. Sharif referiu-se ao Islão, sublinhando que o respeito das minorias faz parte da fé islâmica. Como afirma o Alcorão, “Deus é o Deus de todos e não apenas dos muçulmanos”, pelo que não deveria existir “nenhuma distinção na base da casta, raça ou fé”. Os representantes hindus e cristãos do Paquistão, as principais minorias religiosas do país, exprimiram o seu apreço pelas palavras do primeiro-ministro.

Congo

Alerta contra o desmatamento e inquinamento dos rios As florestas desaparecem pouco a pouco devido à procura excessiva de madeiras e ao fraco investimento na reflorestação. A denúncia parte dos bispos da República Democrática do Congo, na mensagem para o novo ano, lembrando as riquezas do país em recursos florestais, agrícolas, minerais e marítimos. À exploração selvagem da floresta, aos incêndios de mal-intencionados que destroem florestas inteiras, junta-se a falta de um sistema de recolha do lixo nas cidades e a descarga de águas

poluídas para os rios, pondo em perigo a saúde pública. “A malária, que é a principal causa de morte no nosso país, é também a consequência da falta de manutenção das margens dos nossos rios e dos nossos espaços públicos”, denunciam os prelados. “Daqui proliferam os mosquitos e alguns micróbios que provocam estas e outras doenças, como a febre tifoide”. Os bispos lançam um apelo à “conversão ecológica” que passa pela educação ambiental e respeito pela natureza.

Palestina

Mahmud Abbas inaugura embaixada junto da Santa Sé

O Papa Francisco recebeu Mahmud Abbas, o Presidente palestiniano, em audiência privada antes deste inaugurar a embaixada da Palestina junto da Santa Sé. Um comunicado do Vaticano expressa a esperança de que negociações diretas entre a Palestina e Israel sejam retomadas, para pôr fim à violência causadora de sofrimentos às populações civis e chegar a uma solução justa do conflito. Recorde-se que o acordo, selado dois anos após o reconhecimento pelo Vaticano da Palestina como um Estado, provocou a ira de Israel. 08

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MUNDO MISSIONÁRIO VENEZUELA

GRAVE CRISE ECONÓMICA EM NÍVEIS INCONTROLÁVEIS

A Universidade Central da Venezuela publicou um estudo em que prevê para 2017 um aumento da desnutrição entre crianças em idade escolar. Poderá atingir cerca de 400 mil crianças. O estudo prevê o agravamento da falta de géneros alimentares devido às colheitas insuficientes de 2016 e à falta de recursos para importar alimentos. A Venezuela produz apenas 30 por cento dos géneros alimentares e produtos de primeira necessidade. As crianças com menos de cinco anos serão 3,2 milhões e a desnutrição grave afetará 12 por cento. A carestia atingirá também as mulheres grávidas, os idosos, os doentes psíquicos e os presos. O estudo indica que a grave crise económica que o país atravessa conduzirá a inflação a níveis incontroláveis.

SUDÃO

FRIO MATA CRIANÇAS DESNUTRIDAS E IDOSOS Um frio gélido que persiste no Sudão ocidental desde há várias semanas continua a causar a morte entre as crianças da região ocidental do país. Uma onda de frio na região de Dola, a sul de Deribat, juntou-se à falta de alimentos e de vestuário, conjugada com a inexistência de centros de saúde, provocando a morte e colocando em perigo, sobretudo, a vida de muitas crianças. A segurança alimentar é ainda mais crítica na região de Darfur, devido aos bombardeamentos que obrigam as pessoas a fugir e a abandonar as aldeias, procurando refúgio nas montanhas.

GUATEMALA

MAIAS INVOCAM A PAZ COM RITUAL ANTIGO

No 20.º aniversário da assinatura do Acordo de Paz, diversos líderes religiosos dos Maias de diferentes localidades do país reuniram-se em Kaminal Juyú, um local arqueológico, para invocar a paz e a concórdia entre os guatemaltecos. O Acordo de Paz, assinado em 1996, pôs fim a um conflito sangrento que durou 36 anos, causando mais de 250 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos. Todavia, as causas do conflito armado de 1960 ainda hoje persistem: pobreza e desigualdades sociais. Dos 16 milhões de guatemaltecos, cerca de nove milhões vivem abaixo do nível de pobreza.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

FRIO E GELO NA CIDADE ETERNA Roma é mais famosa pelos verões quentes e abafados do que por invernos de frio intenso e isso levou a que estivéssemos mal preparados para o tempo glacial que ultimamente nos visitou. O Natal veio com temperaturas amenas e isso alegrou especialmente os sem-abrigo que aos milhares vivem nas estradas desta cidade e que pernoitam, alguns deles, ao relento aqui bem perto do Vaticano. Mas também janeiro chegou e não nos poupou a temperaturas abaixo de zero acompanhadas por ventos polares. O Santo Padre Francisco despachou o seu esmoler com ordens para acudir a quem precisasse de roupa ou de comida ou dum lugar onde passar a noite. Foi um gesto que talvez tenha salvado algumas vidas porque estes pedintes são pessoas frágeis, gente que quase já desistiu de lutar por uma vida digna e que no entanto são nossos irmãos, embora alguns deles nem sequer desejem deixar-se ajudar. Para podermos auxiliar estas vítimas do frio e do abandono precisamos – dizia o Santo Padre à multidão na festa do batismo de Jesus – que Deus aqueça os nossos corações. Gelado está o corpo de quem vive em perigo a morrer de frio porque gelado está também o coração de quem olha e passa.

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a missão hoje

A Assistência Espiritual nos cuidados paliativos Texto de opinião | Jorge Ortiga* Foto | LUSA

O Decreto-Lei 253/2009, de 16 de setembro de 2009, sobre a Regulamentação Espiritual e Religiosa no Serviço Nacional de Saúde, afirma liminarmente na introdução: “A assistência espiritual e religiosa nas instituições do SNS permanece reconhecida como uma necessidade essencial, com efeito relevante na relação com o sofrimento e a doença, contribuindo para a qualidade dos cuidados prestados. Particular atenção deve ser dada aos doentes em situações paliativas, com doença de foro oncológico, como imunodeficiência adquirida ou com severidade adquirida”. Pretendo, neste breve artigo, falar sobre a importância da assistência espiritual nos cuidados paliativos, apesar de sabermos que a nossa atenção deve atingir todos os estados de doença. Ao citar a introdução do Decreto-Lei, quero sublinhar quatro dimensões que, se tomadas a sério, são de uma exigência acutilante. Em primeiro lugar, afirma-se que a assistência espiritual é uma necessidade essencial nas instituições do Serviço Nacional de Saúde. Existem, infelizmente, diversas tentativas de a relegar para o plano do opcional, como se fosse algo a descartar. Os peritos são, todavia, consensuais em reconhecer o seu valor. Os efeitos da assistência espiritual são relevantes e dão resposta ao sofrimento. Com o devido acompanhamento, o sofrimento atenua-se e a tranquilidade sai fortalecida. O Decreto reconhece ainda que ela contribui para a qualidade dos atos médicos. A excelência da saúde é hoje um valor inalienável. E a assistência espiritual é, por certo, um fator determinante a ter em consideração numa análise mais cuidada. Por último, reconhece-se o valor dos pequenos gestos em momentos de maior sofrimento. Os cuidados paliativos merecem e necessitam de um cuidado especial, pedem-nos intervenções concretas que nasçam do coração e se expressem em gestos diversificados. Estas dimensões são elucidativas e representam também uma interpelação que responsabiliza a pastoral da Igreja. Na verdade, a legislação nada vale se não for acompanhada por um esforço de a colocar em prática. Não é difícil reconhecer que necessitamos de capelães que se apaixonem pelo seu serviço, dando prioridade 10

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a uma assistência de proximidade amiga e não apenas celebrações sacramentais ou momentos devocionais. A assistência é muito mais do que isso: é atenção a cada doente para responder às suas necessidades específicas. A par dos capelães, é urgente criar uma rede de voluntários que consiga expressar o amor da Igreja pelos doentes. Voluntários devidamente formados, pois a assistência não se improvisa. Nestes casos tão delicados, não basta a boa vontade. Concluindo, direi que a Igreja não pode desconsiderar a assistência espiritual aos doentes. Neles encontramos a expressão da fragilidade humana e o caminho da Igreja.


VOZES DA RUA

Recuperar a esperança Texto | RAMON CAZALLAS

O Papa Francisco coloca-nos, com frequência, perante esta responsabilidade. Não podemos passar ao lado ou pensar que haverá sempre alguém a realizar este trabalho. É verdade que toda a comunidade deve sentir-se responsável, mas a Igreja, dada a sua natureza, ainda mais. Onde há sofrimento, aí deve estar a Igreja. Que a solicitude fraterna mostre como a Igreja ama as pessoas até ao fim. * Arcebispo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana

Onde há sofrimento, aí deve estar a Igreja. Que a solicitude fraterna mostre como a Igreja ama as pessoas até ao fim

Aconteceu em Águas Santas, na Maia. A comunidade missionária abriu as portas para conviver um dia com os amigos que moram nas ruas do centro de Porto. Foram 12 horas de fraternidade, vivida na alegria da amizade. Nem todos eram cristãos mas quando o acolhimento é de amigos caem as barreiras e surgem as pontes. O grupo era formado por 65 pessoas: homens, mulheres, jovens e crianças. É importante sublinhar o papel dos 16 jovens de uma escola de Lousada, que, como voluntários, serviram e animaram o dia para todas estas pessoas. O serviço foi magnífico não só na mesa mas também nos cânticos, nos jogos de entretenimento e na preparação da Eucaristia. Numa árvore seca, com diferentes ramos, os convidados penduraram os seus sonhos escritos num coração, que foram lidos no ofertório. Os mesmos anseios e os mesmos sonhos: justiça, casa, reformas, saúde e dignidade. Na Eucaristia, sentaram-se nos primeiros bancos. Eram os privilegiados da assembleia, cantavam e rezavam com todas as suas forças. Beijavam com carinho o menino Jesus, que, no dizer de alguns “é o único que vale”. João, Pedro e Rosa passaram os últimos meses numa crise. Em setembro, foram a Espanha para a vindima. Ali acordaram o salário, que era bastante bom. Na hora de voltar para Portugal, apenas lhes pagaram a passagem, uma máfia entrou no processo e mudou todos os contratos, deixando estas pessoas a viver na rua. Participaram na celebração do Natal. E recuperaram a esperança que outra vida será possível: “Padres, temos a esperança recuperada, não esqueceremos nunca este dia, alguém nos tocou o coração”.

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a missão hoje

“A missão passa a ser uma forma de estar” Joana Peixoto, 23 anos, educadora de infância, esteve um ano como voluntária na Missão do Sagrado Coração de Jesus, em Nova Mambone, na diocese de Inhambane, em Moçambique. Do seu testemunho, em discurso direto, destaca-se a forma como descobriu “como a vida é bonita” Texto | JOANA PEIXOTO Foto | DR

O bonito de tudo isto é quando, passado um tempo, aquele sítio que nós há um mês nem sabíamos onde ficava, passa a ser a nossa casa. Chegamos e em poucos dias já pouco importa se na minha casa em Portugal não há esteiras, se não conheço este cheiro e não reconheço este sabor, se nunca tinha comido “chima” ou “matapa” e se as mangas que comi toda a vida afinal estavam verdes. Depois da adaptação inicial, o que era novidade passa a ser nosso, ao ponto de já nem sequer pensarmos que há uns meses não era assim. E nesse encontro entre os mundos que passamos a conhecer, encontramo-nos – eu pelo menos encontrei-me – na simplicidade, na essência e no somente estar junto, que nos mostra como a vida é bonita. Ser tia, irmã ou professora, mostra que já não sou só a estranha que chegou e os rostos para mim também já têm nomes, personalidades, famílias e gostos que passam a fazer parte da minha vida. E o trabalho que se faz é sem dúvida baseado também nestas relações que se vão criando, já não conseguimos

Joana Peixoto, educadora de infância, fez um ano de voluntariado com os missionários da Consolata, em Moçambique

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Fátima Missionária

dormir sem pensar se estão bem ou acordar sem pensar em quem se vai cruzar connosco durante o dia. Para mim isso significa que já estava lá por inteiro. E é tão bom ter a graça de poder viver por inteiro. E entre trabalhos, estudos, encontros, abraços, brincadeiras, leituras, formações e mãos dadas passam horas, dias, semanas, meses, até que passa todo o ano, sem ter dado tempo de parar e pensar que voltar a casa significa ter de arrumar toda a gente, pequena e grande, dentro do coração. E é mais difícil voltar porque agora os nossos amigos estão também do outro lado do mundo e as nossas inquietações ficam divididas entre estas duas casas. E assim ficamos a acreditar que pode ser que um dia Deus volte a cruzar os nossos caminhos. E depois de regressar é preciso avisar, sim mãe, eu vim, mas o coração teima em ficar. Decorrido algum tempo, a missão passa a ser uma forma de estar e de ser e não só uma experiência pela qual passámos e para mim é isso que a torna tão especial.


FÁTIMA INFORMA

“(Re)encontrar Deus”

Conferências, ateliês, momentos de oração e reflexão, fazem parte do programa do “Fórum (re)encontrar Deus”, que vai realizar-se no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, dias 11 e 12 de fevereiro. A iniciativa é organizada pelos membros da Comunidade Emanuel.

Estreia mundial

Alunos da catequese da paróquia de Fátima vão voltar a recriar as aparições, tal como já tinham feito em 2015

Alunos da catequese recriam aparições Os momentos vividos pelos três pastorinhos vão ser recriados no adro da Igreja Paroquial de Fátima, por famílias e comunidade da região Texto | JULIANA BATISTA Foto | DR

Crianças, adolescentes e suas famílias, assim como catequistas da paróquia de Fátima, vão recriar vários momentos relacionados com as aparições de Nossa Senhora em 1917. A encenação vai realizar-se no dia 18 de fevereiro, no adro da igreja paroquial, a partir das 14h30, e deverá envolver “aproximadamente 100 pessoas”, informa Sérgio Bregieira, coordenador da catequese da paróquia de Fátima. No total, serão recriados sete momentos: “Um após a aparição de julho, com uma reflexão dos pastorinhos sobre o Santo Padre, e seis em torno da aparição de agosto – o ajuntamento de 13 agosto, a prisão, a decisão no seio da família e na comunidade, a libertação e a aparição”. Para que esta recriação se concretize, várias estruturas vão ser erguidas, com recurso a trabalho voluntário. Segundo Sérgio Bregieira, “o desafio passa pela recriação da prisão, mercearias, postos de vendas e atividades profissionais para além do aproveitamento do espaço real, como a casa do prior e a igreja matriz”. Através desta atividade os responsáveis pela catequese da paróquia de Fátima pretendem “juntar pais e filhos”, dar aos espectadores uma “sessão de catequese” e, por fim, motivar a “celebração do Centenário das Aparições”, indicou o responsável, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

A terceira edição do “Concerto Evocativo dos Três Pastorinhos de Fátima” será assegurado pela Cappella Musical Cupertino de Miranda, sob a direção de Luís Toscano, com a estreia mundial de uma obra de Eugénio Amorim, encomendada pelo Santuário de Fátima. O momento musical acontece a 19 de fevereiro, entre as 15h30 e as 16h30, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Peregrinação

A Federação Portuguesa dos Centros de Preparação para o Matrimónio (CPM) realiza a peregrinação nacional ao Santuário de Fátima, dias 18 e 19 de fevereiro, sob o tema “A Mensagem de Fátima na Espiritualidade da Família”.

Agenda

FEVEREIRO

Dia 04 Retiro no Seminário Consolata: “Contemplar as maravilhas de Deus”

Dia 13 Peregrinação Jubilar dos Operadores de Turismo ‹ Fevereiro 2017 ›

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ATUALIDADE

História de vida

O vilão que passou a justo Johnson cresceu na Cova da Moura, na Amadora, e deixou-se mergulhar no lado negro da existência humana. Consumiu droga, roubou, esteve preso. Mas conseguiu reerguer-se para a vida. E hoje usa a sua experiência para evitar que outros jovens caiam nas mesmas tentações Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se não fizer nada, não existirão resultados”. A frase, da autoria de Mahatma Gandhi, é uma espécie de espelho, a juntar aos muitos outros que decoram a sede da Academia do Johnson, num rés do chão do Bairro do Zambujal, na Amadora. Quando cai a noite, a rua, delimitada por duas fiadas de prédios modelares, torna-se demasiado larga para a falta de movimento urbano, não só pela escuridão assustadora, mas sobretudo pela especificidade do tecido social que ali habita. Há sinais, mais do que evidentes, de uma certa segregação social. Ou seja, um terreno fértil para acender o rastilho da delinquência. As consequências podem ser irreparáveis. Demolidoras até. Se o caminho das dependências se abre, a viagem pode ser de ida sem volta. João Semedo Tavares, 44 anos, agora tratado por Johnson, conhece bem 14

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este trajeto. Levou a vida aos limites, revoltou-se contra o sistema, esteve preso, foi – como costuma dizer-se – até ao fundo do poço, ergueu-se, e voltou a recair. Mas como “homem de fé”, conseguiu trepar de novo até ao topo do orgulho, tocado pela morte da mãe, e sobretudo pela ‘chapada de luva branca’ dada por dois adolescentes, seus ex-alunos, quando o surpreenderam numa recaída, a tentar comprar droga. “Eles chamaram-me e disseram que não era esse o testemunho que lhes tinha dado”, quando após a primeira desintoxicação, “trabalhei na associação Moinho da Juventude”, na Cova da Moura, recorda. Aquelas palavras fizeram soar as campainhas da introspeção. Vieram-lhe à memória os excessos do passado – que aos 10 anos já vivia na rua (contra a vontade dos pais), fumava haxixe e cheirava cola, aos 14 estava agarrado à heroína, depois à cocaína, e aos 17

já estava em prisão preventiva; que a primeira sentença lhe dera o benefício da dúvida, na forma de dois anos de pena suspensa, mas não lhe serviu de emenda; que cinco meses depois de abandonar a cadeia, tinha voltado a ser preso, por envolvimento em assaltos, com recurso a arma de fogo; que nas várias prisões por onde tinha passado, tinha levado mais 10 anos de vertigem, com desafios constantes ao sistema e muita droga à disposição; que já tinha desperdiçado uma primeira oportunidade de mudança de rumo. O momento foi quase de epifania, de conversão. O vilão estava disposto a transformar-se em justo. Começou com uma segunda desintoxicação (que já dura há 13 anos) e prosseguiu com a fundação da Academia, criada para dar apoio aos jovens a quem possa faltar o amparo familiar, ou aos que caminham no fio da navalha, em ambiente propício ao descarrilamento social. “São miúdos


A recompensa surge todos os dias, em forma de resultados: “É ver miúdos que não queriam nada com a escola serem hoje excelentes alunos, é ouvir dizer a um miúdo que tirou 18 a matemática”

que estão na ‘red line’ [na linha vermelha]. Se chegarmos até eles e lhe dermos um cartão amarelo, podem cair para o lado bom”, explica Johnson, com o à vontade de quem se habituou a tornar público o seu testemunho de recuperação. Johnson chegou a Lisboa aos dois anos, oriundo de São Tomé e Príncipe. Cresceu num barraco da Cova da Moura e enfrentou a “discriminação” logo nos primeiros anos de escola. Pela cor e pela inevitável falta de higiene, potenciada pela falta de água canalizada na casa que partilhava com os pais e os restantes seis irmãos. Foram momentos marcantes, que agora lhe dão a autoridade e ‘pedagogia’ para lidar com os 120 jovens que frequentam a ‘sua’ Academia. O prato forte para os miúdos, com idades entre os sete e os 18 anos, é a possibilidade de integrarem uma das cinco equipas de futsal. Depois, há as aulas de apoio

ao estudo, de dança, de lazer cultural e, o mais importante, as sessões de reflexão, onde é incentivada a capacidade de escuta, análise e solução dos problemas individuais. No fundo, “é um trabalho passo a passo, em que temos de ter a capacidade de entender que a vida é deles e nós somos apenas os sinos. Sei que é mais fácil ouvir quem cativa com a promessa de dinheiro fácil, mas eu já estive do lado de lá, trabalhei o meu lixo e agora uso muita dessa experiência como ferramenta para lidar com os miúdos, apostando na relação e no afeto”, explica Johnson à FÁTIMA MISSIONÁRIA. A recompensa surge todos os dias, em forma de resultados: “É ver miúdos que não queriam nada com a escola serem hoje excelentes alunos, é ouvir dizer a um miúdo que tirou 18 a matemática”. Ou seja, como aconselhava Ghandi, Johnson decidiu agir e os resultados estão à vista.

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Silêncio 16

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DOSSIER

UM FILME QUE MOSTRA A CORAGEM DOS CRISTÃOS NA ÁSIA ‘Silêncio’ baseia-se no livro homónimo de Shusaku Endo, um cristão japonês, e conta a história de Cristóvão Ferreira, jesuíta português que fez apostasia no século XVII por causa das perseguições religiosas no Japão. O realizador é Martin Scorsese, que teve vários historiadores a aconselhá-lo, como o americano Liam Brockey, que nos dá a sua visão sobre os acontecimentos que são mostrados no grande ecrã

Texto | Leonídio Paulo Ferreira* Fotos | DR

Estreou para o grande público em Portugal no dia 19 de janeiro, mas uma semana antes teve direito a uma antestreia especial com a presença do Presidente da República e do Núncio Apostólico. Só isso, e a série de palestras e exposições no Museu do Oriente, em Lisboa, mostram como este filme ‘Silêncio’ de Martin Scorsese é marcante, pois revela uma parte trágica da história de Portugal (e da Igreja Católica) no Japão. Com mais de duas horas e meia de duração, o filme conta com atores famosos, como Liam Neeson, que interpreta o padre Cristóvão Ferreira, mas vale muito também pela veracidade com que os acontecimentos do século XVII são contados e nisso há grande mérito de historiadores como Liam Brockey, professor na Universidade

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Liam Brockey foi um dos historiadores que ajudaram Martin Scorsese a dar mais veracidade ao filme

Estadual do Michigan e especialista na presença dos missionários na Ásia. Brockey, fluente em português, é membro da Academia Portuguesa da História e as suas declarações que abaixo podem ser lidas dão uma grande ajuda a quem for ver ‘Silêncio’ e quiser perceber melhor o que se passou há quatro séculos. Hoje, o Japão conta com um por cento de cristãos, bem integrados na população de maioria xintoísta e budista e muito presentes nas elites, pois vários primeiros-ministros japoneses têm sido católicos ou protestantes. A segunda bomba atómica americana, a 8 de agosto de 1945, destruiu Nagasáqui, a cidade onde os portugueses, chegados ao Japão em 1543, tinham deixado mais vestígios da adesão inicial ao cristianismo que a partir do século XIX voltou a ser o grande centro cristão do arquipélago. Sabe-se que Shusaku Endo, que escreveu ‘Silêncio’, foi muito abalado na sua fé por essa tragédia atómica.

SOBRE A VERACIDADE “O filme

‘Silêncio’, é baseado num livro com o mesmo nome do japonês Shusaku Endo que foi publicado nos anos

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1960. O livro em si tomou liberdades consideráveis com a história do cristianismo no Japão, especialmente com as figuras históricas verdadeiras que apresenta como contemporâneas. Do meu ponto de vista, o filme mostra uma visão muito interessante de uma série de acontecimentos históricos ficcionados. Por outras palavras, dá uma interpretação do que terá sido ser missionário no Japão no século XVII, do que a vida religiosa e preocupações espirituais dos jesuítas e dos cristãos japoneses eram durante a perseguição brutal que sofreram, e dos aspetos da cultura católica dos japoneses e portugueses na altura”.

SOBRE SCORSESE “Trabalho com

a empresa de produção de Scorsese há três anos, dando consultadoria para os guiões primeiro e depois sobre adereços, guarda-roupa e outro material. A investigadora principal da empresa (e uma das produtoras), Marianne Bower, foi a principal intermediária. Gostei muito de conversar com ela e com o outro principal consultar americano, o professor Jurgis Elisonas, acerca dos pormenores históricos que aparecem

O filme ‘Silêncio, é baseado num livro com o mesmo nome do japonês Shusaku Endo que foi publicado nos anos 1960. O livro em si tomou liberdades consideráveis com a história do cristianismo no Japão, especialmente com as figuras históricas verdadeiras que apresenta como contemporâneas no filme. Falei pessoalmente com o senhor Scorsese em duas ocasiões, e gostei muito da sua vontade de incorporar tantos pormenores históricos corretos quanto possível”.

SOBRE A INFLUÊNCIA PORTUGUESA NO JAPÃO “A presença dos portugueses nos séculos XVI e XVII no Japão foi importante para o Japão, para a Europa, e com certeza para a emergência do mundo interconectado que começou a aparecer na altura. O “impacto”, no entanto, deve ser visto de forma relativa: o Japão tinha uma grande população espalhada por vasto território e foram poucos os portugueses que foram ao Japão. Mas, nas elites e em certas regiões, os mercadores e os missionários portugueses eram com certeza reconhecidos”.

SOBRE CRISTÓVÃO FERREIRA

“O período das perseguições começou em 1597 e durou quase meio século. Nas primeiras três décadas havia muitos, muitos apóstatas, especialmente entre laicos e mulheres. Até havia companheiros da missão jesuíta que apostataram sob tortura ou sob ameaça


de execução. No que Cristóvão Ferreira foi diferente foi entre os padres europeus. Até apostatar em outubro de 1633, nenhum europeu o tinha feito”.

SOBRE O TALENTO ESPECIAL DOS JESUÍTAS “Essa noção tem sido um

dos lugares-comuns na história das missões no Japão. A ideia, no entanto, é polémica, uma vez que se baseia nos estereótipos dos europeus. Nesta história, os principais protagonistas são italianos – como Alessandro Valignano no Japão, Matteo Ricci na China e Roberto Nobili na Índia – e os seus adversários são portugueses ou castelhanos. Os historiadores na primeira parte do século XX – sobre cujos trabalhos Endo se baseou para o seu livro – insistiram que os jesuítas italianos eram responsáveis por adaptar a sua visão cultural às normas asiáticas. O contraste, pela perspetiva destes historiadores, foi com os conquistadores espanhóis e portugueses, que comparavam explicitamente com os missionários portugueses e espanhóis, quer fossem jesuítas, franciscanos, agostinhos ou dominicanos. Académicos na geração passada revisitaram todos estes

“Não há dúvida de que o catolicismo – precisamente por ter uma cultura adaptável – foi crucial para manter uma presença portuguesa na Ásia. Na realidade, não deveria surpreender que seja tão difícil dissociar uma do outro – a cultura portuguesa do catolicismo

clichés, notando que havia muitos jesuítas portugueses que seguiam as ideias dos seus irmãos italianos, e que muitos italianos queriam conquistar a Ásia Oriental como as forças imperiais tinham feito nas Américas e na costa da Índia. Os jesuítas, no entanto, foram os primeiros a perceber que tinham de fazer algum tipo de acomodação cultural ao Japão, China e Sudeste Asiático, uma vez que não podiam contar com os exércitos coloniais portugueses para os apoiar”.

SOBRE O IMPACTO DO CATOLICISMO NOS JAPONESES

“Não há dúvidas de que havia alguns convertidos, especialmente em meados do século XVI, que se converteram por convicção religiosa. Mas outros fizeram-no por vantagem pessoal – social, financeira ou outra – e por vezes usavam o seu estatuto (uma vez que alguns deles eram senhores locais no Japão Ocidental) para forçar outros a converter-se. O que vemos neste caso, como noutros territórios em todo o mundo, é que com o tempo a religião torna-se um “assunto de família”. Isto é, torna-se parte da identidade pessoal e passa de geração

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em geração. É importante recordar que os cristãos rurais que aparecem em ‘Silêncio’ não eram convertidos recentes, mas descendentes de convertidos. O seu Cristianismo, era a religião há várias gerações, não algo que um missionário lhes apresentou individualmente. No entanto, o japonês que permaneceu cristão após muitos anos de perseguição vivia nas franjas extremas da sociedade japonesa, em vales montanhosos distantes e ilhas”.

SOBRE OS MISSIONÁRIOS COMO HERÓIS “No meu livro sobre o

português André Palmeiro, tal como nos meus estudos anteriores sobre os missionários jesuítas na China, não procurei heróis. Na realidade, como historiador profissional, estaria a trair a confiança dos meus leitores se escrevesse hagiografias. Estou mais interessado em analisar como é que esses indivíduos que viveram há 400 anos lidaram com os problemas das viagens, da tradução, da convicção religiosa, do poder (religioso, político, económico). Como alguém que tem viajado intensivamente, estou familiarizado com a sensação de estar perdido em ambientes extremamente estranhos. Mas também estou familiarizado com a sensação de encontrar ambientes acolhedores em locais estranhos. Essas são emoções que os nossos predecessores nas viagens também sentiram, e escreveram sobre isso em documentos que ainda hoje podemos ler. Para mim, logo, eles não são heróis mas sim humanos. São convincentes para mim pelas suas histórias como indivíduos, não como modelos de virtude – o que muitos deles não eram”.

SOBRE O CATOLICISMO NA ÁSIA

“Não há dúvida de que o catolicismo – precisamente por ter uma cultura adaptável – foi crucial para manter uma presença portuguesa na Ásia. Na realidade, não deveria surpreender que seja tão difícil dissociar uma do outro – a cultura portuguesa do catolicismo. Mas, como sublinha, a língua desapareceu gradualmente enquanto a religião não. Esta situação é um puzzle que continua a atrair a atenção dos académicos e os descendentes dos portugueses na Ásia (e noutros pontos)”. * Jornalista do DN

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Entre católicos e protestantes, os cristãos serão quase um terço dos 50 milhões de sul-coreanos

OUTROS OITO PAÍSES ASIÁTICOS, OUTRAS OITO REALIDADES CRISTÃS CHINA Foi um bom sinal que o avião

de Francisco tenha sido autorizado a utilizar o espaço aéreo chinês quando o Papa regressava de uma visita à Coreia do Sul em 2014, mas o Vaticano e Pequim continuam a não ter relações diplomáticas, preferindo a Santa Sé continuar a reconhecer a República da China, sediada em Taipé, na ilha de Taiwan, em vez da República Popular da China. O diferendo entre a Igreja Católica e o regime comunista vem dos tempos de Mao Tsé-tung e tem que ver com a recusa chinesa de que os bispos sejam nomeados pelo Papa. O que acontece é coexistirem duas igrejas, uma que é oficial e obedece ao governo e outra subterrânea que aceita o Papa como chefe legítimo. Assim, o Cristianismo, que terá chegado à China na era medieval graças aos

nestorianos e depois se implantou muito com a vinda dos missionários no século XVI, poderá ter 30 a 50 milhões de crentes entre os 1.400 milhões de chineses, mas não há certezas.

COREIA DO SUL O horizonte de Seul à noite são os arranha-céus com as palavras Samsung ou LG e as torres das igrejas com as cruzes iluminadas. Entre católicos e protestantes, os cristãos serão quase um terço dos 50 milhões de sul-coreanos. Ao contrário de outros países asiáticos, na Coreia não houve colonizadores a impôr o Cristianismo, chegando este através dos emissários que visitavam a corte chinesa em Pequim e contactavam com os missionários jesuítas. Assim, a partir do século XVIII foi chegando ao reino da Coreia a chamada Filosofia


Ocidental, que ganhou adeptos e acabou por assustar os soberanos, que ordenaram perseguições. Já durante o século XX, e sobretudo depois do fim da guerra entre as duas Coreias em 1953, o Cristianismo tornou-se parte da sociedade sul-coreana, onde prospera a par do xamanismo, do budismo e do confucionismo, mesmo que metade da população se declare não religiosa. A Presidente atual, mesmo que se diga ateia, fez questão de visitar Fátima quando há uns anos esteve em Portugal. Na Coreia do Norte comunista, onde o ateísmo é oficial, não se sabe a força do Cristianismo hoje, mas noutros tempos Pyongyang era conhecida como a Jerusalém do Oriente.

FILIPINAS Dos cem milhões de filipinos, nove em cada dez serão católicos, um legado da colonização espanhola que durou do século XVI ao XIX, quando os Estados Unidos da América assumiram o controlo do território antes de lhe concederem a independência. Hoje a língua espanhola está quase desaparecida, com o tagalog e o inglês a dominarem, mas os apelidos espanhóis e a arquitetura das igrejas relembram essa ligação ao país ibérico. Conhecidos pelo fervor religioso, com as célebres cenas de crucificação durante a Páscoa, os filipinos fornecem também grande número de missionários à Igreja Católica. ÍNDIA Os cristãos indianos serão cerca de três por cento dos 1.250 milhões de indianos. A esmagadora maioria é católica e não faltam igrejas um pouco por todo o país, com destaque para o estado de Goa, que até 1961 foi um território português. Existem cristãos-ortodoxos no sul da Índia desde os primórdios do Cristianismo, com São Tomé a ter fama de ter sido o evangelizador,

mas foi com a chegada de Vasco da Gama em 1498 que o catolicismo se implantou e se tornou influente. Graças à tradição de democracia laica da Índia desde que se tornou independente da Grã-Bretanha em 1947, os cristãos estão bem integrados na sociedade e atingem mesmo cargos de poder importantes, com vários a terem sido ministros, como Eduardo Faleiro e George Fernandes. Goa, com forte justificação, continua a ser conhecida como a Roma do Oriente.

depois com os holandeses, o atual Sri Lanka é de clara maioria budista, mas conta com minorias hindu, muçulmana e cristã. Esta última deverá contar com um milhão de pessoas, seis por cento da população, e ainda há dois anos celebrou a visita do Papa, que foi lá canonizar José Vaz, um goês. Entre os católicos cingaleses existe um grupo chamado burgers, que descende das famílias coloniais portuguesas e holandesas e que têm apelidos como Silva, Fonseka ou Fernando.

PAQUISTÃO Existem igrejas em todas as grandes cidades, com destaque para a catedral de Saint Patrick em Carachi, mas a comunidade cristã paquistanesa não chegará hoje aos dois milhões de crentes (um por cento da população), entre católicos e protestantes. Numa república islâmica, e num país criado para ser pátria para os muçulmanos da Ásia do Sul, a condição da minoria cristã nunca foi fácil, mas nos últimos anos tem sofrido com os ataques terroristas e com o abuso da lei da blasfémia. Esta última, feita para proteger o Islão maioritário de ofensas, é muitas vezes invocada por muçulmanos com motivos falsos por questões de inimizade pessoal ou de disputa de bens. As autoridades paquistanesas têm-se esforçado por proteger os cristãos mas com poucos resultados, o que explica um certo êxodo, sobretudo dos mais educados. De sublinhar que na hierarquia da Igreja Católica paquistanesa existem muitos descendentes de goeses, cujas famílias chegaram nos tempos coloniais, e ainda há pouco tempo Carachi tinha um bispo de apelido Pereira.

TIMOR-LESTE Tem menos de dois

SRI LANKA É a Taprobana de que fala Camões nos Lusíadas e durante muitos séculos também foi conhecida como Ceilão. Com relações com os portugueses desde o século XVI, e

milhões de habitantes, mas destaca-se por ser quase a 100 por cento católico, fruto da colonização portuguesa. Ocupado militarmente pela Indonésia em 1975, Timor-Leste contou com o apoio diplomático de Portugal para que essa anexação nunca fosse reconhecida. Ao mesmo tempo que uma guerrilha lutava contra as tropas indonésias, a hierarquia católica timorense esforçava-se por manter a comunidade unida perante um invasor que era o mais populoso país muçulmano. Em 1996, num sinal de apoio à causa timorense, o Nobel da Paz foi atribuído a dois timorenses, um deles o bispo de Díli, Ximenes Belo. Em 1999, um referendo organizado pela ONU resultou na independência timorense, oficializada em 2002. Desde então, a língua portuguesa tem sido ensinada nas escolas para reforçar a identidade nacional, mas o grande cimento da população timorense, pequeno povo entre as gigantes Indonésia e Austrália, continua a ser o catolicismo.

VIETNAME País de tradição budista colonizado pelos franceses e depois palco de uma luta independentista muito marcada pelo comunismo, o Vietname conta com uma minoria de católicos que rondará os sete por cento dos 92 milhões de habitantes, e ainda cerca de um milhão de protestantes.

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mãos à obra

Ensinar os jovens a cuidar da “casa comum” Centenas de jovens do Vicariato Puerto Leguizamo, na Colômbia, são convidados a participar em ações de reflexão e formação, para proteção do meio ambiente. O objetivo é que passem depois os conhecimentos nas suas comunidades Texto Francisco Pedro Foto dr

Inspirados pela encíclica do Papa Francisco sobre ecologia (Ladauto si), os missionários da Consolata que trabalham no Vicariato Puerto Leguizamo, na Colômbia, vão desenvolver um projeto de sensibilização e formação para jovens, ao longo deste ano, para torná-los ativos e empenhados na preservação do meio ambiente.

Dado que a região é muito rica em biodiversidade, mas enfrenta vários riscos ambientais, como a produção de gado intensiva, mineração ilegal, contaminação de rios, desflorestação e plantação de coca, os missionários decidiram avançar com o projeto “Cuidar da casa comum”, para combater a “indiferença generalizada” e sensibilizar os mais jovens para a importância da preservação ambiental.

“A ideia é oferecer um plano de formação integral, procurando que os jovens tenham “O Amazonas está consciência do lugar em perigo e como privilegiado em que se evangelizadores temos a encontram – a Amazónia responsabilidade de educar – e assumam a sua para uma mudança de Projeto prevê várias ações de sensibilização para os efeitos responsabilidade direta mentalidade, que nos tire de nefastos que afetam os recursos naturais na Amazónia na preservação e proteção um sistema predatório dos da ‘casa comum’”, explica recursos naturais, para um o padre Jair Idrobo, coordenador da pastoral juvenil sistema de conservação e preservação. E, neste momento, local e um dos responsáveis pela iniciativa. a população que mais podemos influenciar é a juventude, que pode ter um papel fundamental no cuidado da ‘casa O Vicariato Apostólico de Puerto Leguizamo situa-se no comum’”, adianta o padre Idrobo. sul do país, junto à fronteira com o Peru. Tem cerca de 46 mil habitantes, 36 mil dos quais são católicos. Ao abrigo deste programa está prevista a realização de A assistência espiritual é assegurada por 12 sacerdotes quatro encontros juvenis, assim como um encontro juvenil e 12 religiosas, um número que não é suficiente internacional, agendado para agosto. Numa destas sessões, para satisfazer todas as necessidades, devido à vasta os anciãos das comunidades indígenas irão recordar extensão do território, mas que se revela fundamental os mitos, lendas e cosmologia. No final, espera-se que os no apoio à população, muita dela deslocada por causa cerca de 300 jovens envolvidos transmitam os dos confrontos armados. conhecimentos adquiridos aos seus grupos paroquiais. 22

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PEREGRINOS DE FÁTIMA

Multidões que celebram a fé e a vida, com Maria. Ontem, como hoje. Com a Basílica ainda em construção, o recinto do Santuário de Fátima já se enchia de milhares de peregrinos em busca de um sinal, de um milagre para as suas vidas

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# gente nova em missão EFEMÉRIDE

Lembrai-vos dos doentes

Olá amiguinhos missionários! Bem-vindos ao mês de fevereiro, o mais pequenino do ano, muito especial para a família consolatina, com o aniversário da morte do fundador, o beato José Allamano, e a Peregrinação Anual da Família da Consolata a Fátima. Mas há também uma data neste mês que queremos assinalar e que é muito importante na nossa caminhada como cristãos, que é o dia 11, Dia Mundial do Doente Texto | ÂNGELA E RUI ilustração | DAVID OLIVEIRA

Estar doente é uma chatice! Pois é, com certeza todos vós já experimentaram passar por um período de doença. Umas mais graves que outras, mas em todas elas sentimos que ficamos bloqueados, não conseguimos viver a nossa vida da mesma forma, não podemos brincar, fazer esforços, sair e muitas vezes não conseguimos até sorrir. Se pensarem bem, quem foi que nesses momentos cuidou de vós com amor, atenuando todo o mal estar? Médicos, enfermeiros, os vossos pais e avós, outros familiares, até. Doutra forma seria muito mais difícil passar por isso, certo?

A importância do Dia Mundial do Doente

O Papa João Paulo II sofreu um atentado à sua vida e esteve bastante doente durante alguns meses e a 11 de fevereiro de 1992 instituiu este dia, para que todos os cristãos se recordem que é muito importante estar perto de quem está em sofrimento. É necessário acarinhar, apoiar, cuidar. Jesus é claro na parábola do Bom Samaritano: “Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?” Respondeu: “O que usou de misericórdia para com ele.” Jesus retorquiu: “Vai e faz tu também o mesmo.”” (Lc 10, 36-37)

Compromisso para este mês

Ide e fazei o mesmo, se alguém que conheçam se encontra doente, procurem a forma de lhe fazer chegar a vossa amizade. À noite, na oração junto da vossa família, lembrai-vos dos doentes e tentai nas vossas comunidades criar correntes de oração por eles. Tentai na catequese propor uma atividade para conhecer por exemplo os Doutores Palhaços, uma associação que leva alegria a crianças que estão hospitalizadas.

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Sabias que

O Papa Francisco escreveu na sua mensagem para o Dia 11 de fevereiro de 2017, que será celebrado no Santuário de Lourdes: “Por ocasião da XXV Jornada Mundial do Doente, reitero a minha proximidade feita de oração e encorajamento aos médicos, enfermeiros, voluntários e a todos os homens e mulheres consagrados comprometidos no serviço dos doentes e necessitados; às instituições eclesiais e civis que trabalham nesta área; e às famílias que cuidam amorosamente dos seus membros doentes. A todos, desejo que possam ser sempre sinais jubilosos da presença e do amor de Deus, imitando o testemunho luminoso de tantos amigos e amigas de Deus”.

MOMENTO DE ORAÇÃO Amigo Jesus: Obrigado pela vida que há em mim Sei que há doenças, que são más Mas também sei que há quem cuida de mim com muito amor Obrigado por me amares tanto Sei que para ser um bom missionário também eu tenho de acolher a quem está doente Que saiba mostrar a Tua misericórdia Com um coração manso e generoso Porque o Teu Reino é agora Por intercessão do beato Allamano Ámen Pai Nosso Ave Maria Glória

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tempo jovem

A peregrinação é um ato de devoção com uma motivação que envolve as várias dimensões da vida, de um indivíduo ou de um grupo

Peregrinar é viver Texto | SIMÃo PEDRO Foto | ANA PAULA

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A cada mês de fevereiro, a Família Missionária da Consolata faz uma peregrinação a Fátima. Vários milhares de amigos e amigas alinham com simpatia, carinho e devoção pela nossa Senhora da Consolata e pelos beatos José Allamano e Irene Stefani. Mas, o que é uma peregrinação? Qual é o seu sentido? E tu jovem, o que achas? Ainda faz sentido para ti hoje peregrinar? A peregrinação é um ato de devoção com uma motivação que envolve as várias dimensões da vida, de um indivíduo ou de um grupo. É um paradigma da própria vida, longas distâncias, retas e curvas, planos e socalcos, momentos alegres e tristes, de companhia e de solidão, de entusiasmo e de angústia… para não mencionar os pés inchados! A peregrinação é, sobretudo, uma oportunidade para sair do quotidiano e refletir sobre a vida. Penso nos milhões de peregrinos que se dirigiram a Fátima nos últimos 100 anos, tanta fé, tanta devoção, tantas motivações. E a tua motivação, qual é? O meu pensamento voa para a Margarida, que conheci em Moçambique. Na falta de um hospital, a missão organizava viagens para levar uns 12 doentes por mês ao Malawi. Tanta gente com cataratas, com bócio, crianças com mãos ou pés tortos ou os lábios leporinos. O hospital ficava a 250 quilómetros mas a “peregrinação” era de dois dias. Primeiro no jipe da missão até ao lago, umas horas de travessia de barco, e no outro dia muitas horas de viagem num comboio preguiçoso. Mas, os coxos voltavam a caminhar, os cegos voltavam a ver, os doentes voltavam curados… verdadeiros milagres. Um dia os catequistas falaram-me de uma senhora que tinha uma “Namukwakuasi”, a palavra makua para uma ferida que não cura. Ao entrar no terreno da sua casa senti um cheiro nauseabundo, a ferida perto do tornozelo tinha

um pus esverdeado, que impedia Margarida de sair de casa há mais de um ano. Casada e com filhos, ainda conseguia cozinhar e arrumar o lar, mas imaginem as dores que tinha de suportar. Não foi nada fácil convencê-la a ir ao médico no Malawi, mas depois de várias visitas ela acabou por confiar e aceitou o desafio. Teve de ficar internada mais de um mês, mas por fim curou-se. A vida desta mulher transformou-se radicalmente, voltou a caminhar, ficou capaz de tratar de todos os seus afazeres, até começou a poder sair de casa. Parecia ter rejuvenescido uns 10 anos. Pois bem, reconhecida, a Margarida fazia todos os meses quase 50 quilómetros a pé para me vir entregar uma galinha, um obrigado que não se cansava de repetir “zikomo, zikomo”. Podemos supor que a Margarida e os seus companheiros de viagem tinham um bom motivo para tal “peregrinação”, ou seja, a própria saúde. Mas não foi este o argumento que a convenceu a ir ao médico. Foi a família, pois a família precisava dela, “tenho que ajudar o meu marido e os meus filhos”. Com o nosso modo de vida europeu tendemos a pensar primeiro em nós e só depois nos outros. A história da Margarida diz-nos que é nos outros que descobrimos a verdadeira motivação para viver e alcançarmos o nosso bem-estar. Neste ano do Centenário das Aparições de Fátima temos um peregrino muito especial: o Papa Francisco. E como diz António Marto, bispo de Leiria-Fátima, é “um motivo de extrema e imensa alegria”, porque “quando o Papa peregrina, é toda a Igreja que peregrina com ele”. Então, lanço-te um desafio. Analisa bem qual é a tua motivação, uma motivação pela qual valha a pena fazeres-te ao caminho, agarra a oportunidade e vai a Fátima como peregrino. Quem sabe ainda vais a tempo de te juntares a nós na peregrinação da Consolata, no dia 18 deste mês.

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sementes do reino

“Vós sois o sal da terra, Vós sois a luz do mundo” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | ANA PAULA

Ser instrumento de paz e de amor, é a vocação de todo o cristão. O perigo está em pretender mudar os outros e o mundo por meio das palavras mais que se deixar transformar pela palavra de Deus e as exigências do seu amor. O Evangelho nos convida a fazer da nossa vida ‘Palavra’, a deixar que Jesus Cristo viva em nós e manifeste a sua luz aos homens para que o reconheçam como o único Deus e Salvador.

Leio a Palavra

No Antigo Testamento, o sal é o elemento que purifica para que a vida possa continuar. “Assim diz o Senhor: Tornei saudáveis estas águas, e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade”. (2 Reis 2,21). No Novo Testamento a responsabilidade dos discípulos é de serem como o sal lançado nas águas de modo que elas não causem a morte, mas a vida. A vida é um dom de Deus. É uma graça que merece ser vivida em plenitude, mesmo quando as provações e sofrimento parecem ser muito grandes. A comparação com a luz complementa o sal. Enquanto o sal é um elemento poderoso, eficiente, mas não muito visível, a luz que ilumina a imagem em toda a casa mostra que os seguidores de Jesus não devem agir de forma encoberta. O ensinamento de Jesus é no sentido de incentivar os seus discípulos a serem testemunho de vida para os outros. O sal e a luz são diferentes na sua essência e na forma como agem e os dois existem não para si mesmos mas para dar à vida sabor e cor. Assim devem ser os discípulos.

Saboreio a Palavra

O apelo que Jesus faz a todos nós não é de fazer coisas sobre-humanas, mas procurar viver o mais humanamente possível. Na verdade, não é solicitado ao sal de ser outra coisa do que sal, mas sim de ser verdadeiramente sal, como a luz de exercer 28

Fátima Missionária

Do mesmo modo que o Filho saiu do Pai para dar sabor e iluminar a humanidade, para a levantar, para a ressuscitar, assim nós, seus discípulos, devemos sair de nós mesmos para nos pormos ao serviço do mundo

o seu ofício que é iluminar. Para cada um de nós o desafio está apenas em sermos nós mesmos. Portanto, a questão para nós, é: como ser verdadeiramente humano, em cada momento e circunstância da minha vida, na relação com os outros?

Rezo a Palavra

Neste trecho do Evangelho, Jesus não diz ‘Eu sou’, mas sim, ‘Vós sois’. Ele nos introduz na sua vocação e na sua missão. Ele nos convida a segui-Lo. Até que ponto eu estou disposto a aceitar a sua proposta, o seu convite? Até onde aceito diluir-me ou manifestar-me para o bem dos outros? Aquilo que recebi partilho-o como um dom ou possuo-o como uma propriedade?

Vivo a Palavra

O sentido da vida encontra-se no dar e receber. Dar sem receber ou receber sem dar, corta o fluxo da vida . A humanidade começou quando aqueles que se tornaram seres humanos puderam trocar gestos, palavras, serviços, bens. Do mesmo modo que o Filho saiu do Pai para dar sabor e iluminar a humanidade, para a levantar, para a ressuscitar, assim nós, seus discípulos, devemos sair de nós mesmos para nos pormos ao serviço do mundo.


A palavra faz-se missão

FEVEREIRO

05 Para ser luz do mundo

5º Domingo Comum | Is 58, 7-10; 1 Cor 2, 1-5; Mt 5, 13-16

“Reparte o teu pão com os esfomeados, dá abrigo aos infelizes sem casa, atende e veste os nus e não desprezes o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se”. A caridade concreta renova, dá sabor e ilumina toda a nossa vida. “Vós sois o sal da terra. Vos sois a luz do mundo”. É a nossa identidade de cristãos e a melhor maneira de sermos benfeitores deste mundo.

Dá-nos, Senhor, do teu sabor e da tua luz para que possamos cumprir a nossa missão.

12 Um par de asas

6º Domingo Comum | Sir 15, 16-21; 1Cor 2, 6-10; Mt 5, 17-37

Os mandamentos da lei de Deus não são um colete de forças, mas um par de asas que elevam até ao céu. Todas as leis se resumem no mandamento do amor. Já não basta cumprir, é preciso amar. É o amor que tem a última palavra. Quando fores à Igreja celebrar o sacrifício do Senhor, se te recordares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa tudo e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então estarás em condições de fazer a tua oração.

Dá-me, Senhor, entendimento para guardar a tua lei e para a cumprir de todo o coração.

19 O nosso distintivo

7º Domingo Comum | Lev 19, 1-2.17-18; 1 Cor 3, 16-23; Mt 5, 38-48

O que nos distingue como filhos de Deus é o amor misericordioso com que amamos todos os outros. Se perdoamos, elevamo-nos à altura de Deus, porque amamos com o seu coração de Pai. Amar os amigos é humano; amar e fazer o bem aos inimigos é divino.

Ajuda-me, Senhor, a misturar-me com as pessoas, mas a distinguir-me como teu filho bem-amado.

26 Não vos inquieteis

8º Domingo Comum | Is 49, 14-15; 1Cor 4, 1-5; Mt 6, 24-34

É a resposta de Jesus à fome de dinheiro e bens materiais que grassa no nosso mundo. O cristão não pode embarcar na atitude pagã de viver nessa obsessão. Ele trabalha e confia na providência de Deus. Não se desinteressa do progresso do mundo, mas vive noutra dimensão, buscando o essencial. “Procurai antes de mais o Reino de Deus e o resto vos será dado por acréscimo”.

Dá-nos, Senhor, o pão nosso de cada dia. E que a tentação da riqueza não destrua a nossa confiança no Teu amor de Pai.

intenção pela evangelização FEVEREIRO Por todos os que vivem em provação, sobretudo os pobres, os migrantes e os marginalizados, para que encontrem acolhimento e conforto nas nossas comunidades

É preciso consolar A primeira viagem de Papa Francisco foi a Lampedusa, sul de Itália, onde já chegaram milhares de migrantes provenientes do norte de África. Foi ali para homenagear os muitos que encontraram a morte nas águas do Mediterrâneo, depois de terem fugido de países em conflito em busca de paz e dignidade. Francisco deixou uma mensagem clara: não ficar indiferentes, não ter medo, não fechar as portas. Hoje, a Europa, perante o extraordinário fluxo migratório, vive a tentação de se fechar: constroem-se muros, feitos de cimento ou de leis mais ou menos xenófobas, para não deixar entrar os que batem à porta por desespero. Mas há também outros que ficam à margem, na própria Europa, onde a crescente complexidade social e económica tende a marginalizar os mais frágeis. Pais ou mães que perdem o emprego, jovens que não o encontram, famílias com salários precários, ou que não têm casa. Acolher é reconhecer estes irmãos que sofrem e fazer o possível para consolar, para que não se sintam e não estejam sozinhos.

DARCI VILARINHO

Ermanno Savarino

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LEITORES ATENTOS

✉ TIRE AS SUAS DÚVIDAS Criámos esta rubrica para si

Se tem dúvidas sobre a missão, a religião ou a Igreja, envie-nos a sua pergunta por correio ou para o endereço eletrónico redacao@fatimamissionaria.pt Teremos todo o gosto em responder.

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Fátima Missionária

Gostei de saber que Mário Soares, recentemente falecido, não sendo cristão, mas um grande defensor das liberdades (e também da liberdade religiosa), defendia o Estado laico, ao mesmo tempo que promovia e respeitava a pluralidade de todas as confissões cristãs. Pergunto: como é que a Igreja se posiciona diante do Estado Laico? Arménio Coelho

A Igreja aceita perfeitamente a separação Igreja-Estado, porém não simpatiza com uma espécie de laicismo que a queira, digamos, expulsar da vida pública. Por isso, convém que se promova e defenda uma laicidade cooperativa que, distinguindo as diferentes jurisdições entre o Estado e a Igreja, procura uma mútua colaboração em busca do bem comum.

SÓ tenho a agradecer

Junto envio um cheque de 20,00€ para pagamento da revista para o ano 2017. O restante é para vocês destinarem para onde seja mais necessário. Sei que é pouco mas é de todo o coração. Não me é possível mais pois tenho familiares também a precisar de ajuda. Só tenho a agradecer a boa leitura desta revista que tanto gosto, mas ao mesmo tempo me comove por tanta miséria. Envio os meus cumprimentos para todos e peço a Cristo o auxílio para vós e para as vossas missões. Rosária Marques

UMAS MIGALHINHAS

Saúdo a todos os que, de qualquer forma, contribuem para a

Num discurso de 2013 o Papa Francisco é bastante claro: “Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença da dimensão religiosa na sociedade, favorecendo as suas expressões mais concretas.” Os valores da vida, da liberdade e da dignidade, assim como a liberdade de consciência e a tolerância religiosa, devem ser amplamente promovidos e defendidos por todos. Por outro lado, é bom recordar que os valores da democracia moderna têm por base profundas raízes cristãs. É a resposta possível, caro amigo, para o pouco espaço disponível nesta página. Albino Brás

realização desta revista, que eu sempre leio com muito agrado, e felicito pela boa apresentação e conteúdos. Envio em vale postal a quantia de 25,00€ para pagamento da assinatura e umas migalhinhas que se juntarão a outras, e algum pão farão. Esmeralda Carvalho Almeida

MERITÓRIA OBRA

Desejo-vos muita paz, saúde, amor e alegria para continuardes a vossa meritória obra. Junto envio uma pequena contribuição e também para a assinatura da maravilhosa revista, Fátima Missionária, que nos põe ao corrente de vários conteúdos. Maria Conceição Oliveira Fernandes


GESTOS DE PARTILHA

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE NOS A CONCRETIZÁ LOS PEREGRINAÇÃO MISSIONÁRIA A FÁTIMA

CRIANÇAS QUEIMADAS DA ETIÓPIA José Neves 39€; António Costa 10€; Adélio Costa 10€; Maria Pereira 20€; Arminda Vieira 20€; Isabel Pacheco 10€; Anónimo 150€; Teresinha Tavares 25€; Manuel Mendes 50€; Fátima Matias 10€; Águeda Ramos 42€; Joaquina Quintela 10€; Joaquim Oliveira 43€; Teresa Cardoso 10€; Mário Barreto 13€; Maria Sousa 20€; Mariana, Raquel, Maria Inês e António 53€; Margarida Silva 13€; Alice Eusébio 50€; Maria Silva 10€; Messias Neto 10€; José Rafael 50€; Anónimo 100€; Luz Coelho 20€; Anónimo 100€; Elvira Amado 15€; Conceição Silva 13€; José Pereira 100€; Eugénia Marques 50€; Virgínia Sousa 35€; Manuela Santos 25€; Família Navarro Machado 30€; José Crespo 10€; Marcolino Pereira 4€; Maria Santos 50€; Manuel Ribeiro 50€; José Lourenço 25€; Anónimo 50€; Manuel Moreira 25€; Anónimo 93€; David Narciso 5€; Leonor Salavisa 15€; José Costa 25€; Madalena Araújo 35€; José Oliveira 50€; António Garcia 20€; Cármen Sena 200€; Teresa Ochoa 10€; Domingos Ferreira 10€; Amélia Conceição 25€; Conceição Barandas 10€; Adelino Canhoto 25€; Fátima Portela 1.250€; Bless4all, Lda. 25€; Lurdes Barbosa 50€; Sebastião Clemente 50€; Eulália Conceição 15€; Carlos Antunes 10€; José Cruz 10€; João Chaves 50€; Armando Silva 50€; Agostinho Gomes 60€; Victor Cruz 5€; Maria Mateus 100€; David Duque 50€; José Dias 100€; António Monteiro 20€. Total geral = 4.883€. CRIANÇAS DE MKINDU – TANZÂNIA Teresa Cardoso 3€; Maria Sousa 20€; José Pereira 50€; Anónimos (AMC – Núcleo do Algarve) 540€. CRIANÇAS IRÃ José Rafael 50€. PADRE JOSÉ NEVES – MOÇAMBIQUE Francisco Soares 250€. NEISU – CONGO Teresa Cardoso 50€. BOLSAS DE ESTUDO José Paulo 250€; Ana Carvalho 40€; Morais Duarte 100€; Joaquina Trigo 250€; Anónimos (AMC – Núcleo do Algarve) 500€; Céu Fernandes 250€; Maria Ferreira 250€; Anónimo 250€; Raquel Oliveira 250€; José Fonseca 250€; João Seia 100€; Adelina Azoia 250€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º Dto - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Seminarista Eugénio Valentino Baldi

“Que eu perca a vida, mas não a vocação” Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

O Eugénio nasceu na Itália em 29 de fevereiro de 1895 e entrou para o noviciado dos Missionários da Consolata em 30 de setembro de 1913. Antes de acabar esta etapa importante da sua vocação missionária, foi lançado para o turbilhão da II Guerra Mundial. Ferido a segunda vez em ações militares, foi-lhe amputada a mão direita. A sua corrida para o sacerdócio missionário parecia terminada. De facto, partia para a vida eterna em 14 de junho de 1917. Não é fácil perceber o que se passa nos corações em certos momentos da vida. O Eugénio era um rapaz “inteligente, sincero, amável e alegre, cuja única finalidade era a de se preparar para o apostolado missionário”. E já tinha crescido nele um amor enorme ao Instituto. Do hospital de guerra em que se encontrava, escrevia ele ao superior do seminário, em Turim: “Ah, meu Deus! O Instituto, só o conhecemos bem quando vivemos longe dele!” No dia antes de entrar para o teatro da guerra escrevera aos colegas de seminário contando-lhes as saudades que já sentia da casa religiosa, e o grande vazio que atormentava o seu coração por não estar perto dum sacrário em que vive Jesus, bem como a aflição de não poder comungar amiúde. E pedialhes que “rezassem para que ele perdesse mesmo a vida, mas nunca a vocação”. Grande foi a sua dor por ter de “renunciar à Terra prometida: as missões na África”. “Tinha um temperamento alegre, ainda que com laivos de orgulho; mas esforçou-se tanto para se vencer que se tornou humilde e obediente de alma e coração”, afirmou o fundador, o padre José Allamano, aquando da morte do Eugénio. A missão tem vários aspetos e expressões: pode ser numa aldeia africana em que a liturgia é altamente exuberante; ou num lar de idosos e doentes em que um sorriso e uma carícia podem ser altamente missionários; ou num convento de irmãs de clausura onde se fabrica muito da graça que serve para que vários corações se voltem para o Senhor da Messe; ou numa família onde a mãe silenciosamente se desdobra em laços de carinho para com o filhinho mais carenciado de dotes e dons. É assim que o Espírito do Senhor trabalha nos campos do apostolado de Cristo: “Muitas vezes e de muitas maneiras fala Deus”. (cf. Hebreus 1,1). 32

Fátima Missionária


O QUE SE ESCREVE

O ROSÁRIO PARA CRENTES E NÃO-CRENTES

Os autores deste livro, à semelhança de um outro antes publicado “Via-Sacra para crentes e não-crentes”, escrevem para quem acredita e quem não crê. Convidam-nos a meditar os 20 mistérios do Rosário com um olhar diferenciado para crentes e para não-crentes. Acompanhando Cristo através do olhar da sua mãe, os autores apresentam 40 reflexões breves mas profundas, em busca do sentido do amor. Os mistérios são ilustrados por Francisco Pereira Gomes.

A PASTORAL DAS GRANDES CIDADES

Este livro reúne as intervenções no I Congresso Internacional sobre a Pastoral das Grandes Cidades, que teve lugar em Barcelona e no Vaticano em 2014. O encontro foi promovido pelo então arcebispo de Barcelona, cardeal Luís Martínez Sistach, depois de conversas com o cardeal Bergoglio antes do conclave que o elegeu Papa Francisco. “É preciso ter a coragem de fazer uma pastoral evangelizadora com audácia e sem temores, porque o homem, a mulher, as famílias e os vários grupos que habitam a cidade esperam de nós, e necessitam para as suas vidas, da Boa Nova que é Jesus e o seu Evangelho”. Autor: Luís Martínez Sistach (org) Páginas: 486 | Preço: 19,00€ Paulus Editora

Autor: José Luís Nunes Martins; Paulo Pereira da Silva 64 Páginas | Preço: 6,90 € Paulus Editora

ANUNCIAI

Anunciai é a quarta e última carta ligada ao Ano da Vida Consagrada, na continuidade de Alegrai-vos, Perscrutai e Contemplai, que a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica preparou. É uma verdadeira exortação à vida consagrada, que é chamada a desenvolver a sua missão com modalidades novas, em novos contextos. O fio condutor desta carta é o convite da Igreja a sair de si mesma e a dirigir-se a todas as periferias. Autor: Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica Páginas: 112 | Preço: 3,50€ Paulus Editora

NÓS TAMBÉM PODEMOS SER SANTOS?!

“Se Deus nos manda ser santos, certamente nos ajudará nessas dificuldades e nos dará os meios de o conseguir. Certamente que Ele não nos dá aquilo que não queremos e não pedimos. Mas quando o pedimos e voltamos a pedir com sinceridade, Ele mostra-nos os abismos da nossa miséria, para que entremos na verdadeira humildade, que tudo espera d’Ele, como criança que tudo espera de seu pai”. Desta ideia “nasceu este livro”, diz a autora, logo na introdução, para quem a santidade está ao alcance de todos. Autor: Maria Stella Salvador Páginas: 352| Preço: 13,50€ Paulus Editora

A PALAVRA VIVIDA

“Ao domingo não se vai à Missa para cumprir um preceito, vai-se escutar a Palavra de Deus, convertê-la em vida e, depois, celebrar a Eucaristia, o centro de toda a vida cristã”. São palavras retiradas da introdução que monsenhor Vítor Feytor Pinto escreveu para este livro, um volume de quase 500 páginas que recolhe, em pequenos textos, as reflexões que ele escreveu para a revista Liturgia Diária ao longo de quatro anos. É uma obra de grande profundidade litúrgica e pastoral. Autor: Vítor Feytor Pinto Páginas: 476 | Preço: 16,50€ Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Nenhuma dificuldade é superior à nossa determinação de a vencer” Daniel Serrão (1928-2017) médico

“Há uma certeza que sempre tive: a verdade não pertence em exclusivo a ninguém, e não há nada que substitua a tolerância. Este é um dos meus grandes princípios” Mário Soares (1924-2017) antigo Presidente da República

“Tudo é mais fácil na vida virtual, porém perdemos a arte das relações sociais e da amizade”

Zygmunt Bauman (1925-2017) sociólogo e filósofo polaco

“A razão pela qual algumas pessoas acham tão difícil serem felizes é porque estão sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é e o futuro melhor do que será”

Marcel Pagnol (1895-1974) dramaturgo e cineasta francês 34

Fátima Missionária

“Ser jovem é um efeito acidental e dispersa-se como neblina. Permanecer jovem é muito mais, é uma arte de poucos”

Johann Goethe (1749-1832) escritor e estadista alemão

“Vista pelos jovens a vida é um futuro infinitamente longo; vista pelos velhos é um passado muito breve”

Arthur Schopenhauer (1788-1860) filósofo alemão


PROJETO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

2016

CAMPANHA

2017

COMPRESSA

AMIGA

1,00€ = 2 tubos creme óxido de zinco | 5,00€ = 5 caixas de gase gorda | 10,00€ = 1 caixa de luvas hospitalares | 25,00€ = 15 frascos de soro fisiológico | 50,00€ = 30 embalagens de compressas

Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Campanha “COMPRESSA AMIGA” | Rua Francisco Marto, 52 2496-448 FÁTIMA

IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05

VAMOS AJUDAR

as crianças queimadas de Gambo, na Etiópia?


Um Retiro na montanha Não me canso De cantar as fontes Como elas não cansam De correr! No sopé Nas encostas E nos cumes Elas manam Feliz no anúncio de nascer. De pedra em pedra A água canta a vida! Na sua quietude A montanha escuta Agradecida! Quando nos regatos, Sedento, me sacio E poiso nos cumes Minha fadiga, Agradeço ao Senhor, Única e primeira fonte Telmo Ferraz

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Fátima Missionária


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