Fm fevereiro 2014

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ANO LX | FEVEREIRO 2014 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

SUDÃO DO SUL

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ÓDIOS TRIBAIS GERAM GUERRA NO MAIS JOVEM PAÍS DO MUNDO

MONGE QUER ECOLOGIA COM MAIS ALMA Pág. 14 RÁDIOS COMUNITÁRIAS A VOZ DOS POBRES Pág. 16 SANTUÁRIO DE FÁTIMA Pág. 34 MUDA ALTAR


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

REINVENTAR A SOLIDARIEDADE É bonito ver que há imensa gente que se dedica a ações de voluntariado, procurando através de gestos diários melhorar as condições de vida das pessoas. Nós missionários somos testemunhas de tudo aquilo que se faz neste campo tanto aqui como além fronteiras. E é consolador ver que, nas situações de precariedade em que vivemos, há famílias, grupos, movimentos, onde as pessoas se apoiam mutuamente e procuram saídas solidárias para a crise. Já se dizia dos primeiros cristãos que “entre eles não havia nenhum indigente”, porque estavam atentos às situações de necessidade das pessoas. A Igreja Católica, aliás, como diz o Papa Francisco, “é uma instituição credível perante a opinião pública, fiável no que diz respeito ao âmbito da solidariedade e preocupação pelos mais indigentes”. A crise que nos aflige, diz ele, “não é apenas económica e financeira, mas tem raízes numa crise ética e antropológica”. E porquê? Porque se colocam “os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, por cima dos valores da pessoa humana” quando deveria ser precisamente o contrário: o ser humano deve estar “acima dos negócios, da lógica e dos parâmetros do mercado”, para que cada pessoa tenha “a possibilidade de viver dignamente e participar ativamente no bem comum”. Enquanto não se voltar, neste e noutros domínios, à centralidade do ser humano, não há possibilidade de resolver a crise.

aumentar o número de pobres em vastas zonas do nosso planeta. Tudo isso “está a demonstrar que existe alguma coisa que não está bem”. Daí a exigência de “reconsiderar a solidariedade não já como simples assistência aos mais pobres, mas como reconsideração global de todo o sistema, como busca de vias para o reformar e corrigir de modo coerente com todos os direitos fundamentais do homem, de todos os homens”. A solidariedade, diz Francisco, “não é só uma atitude, não é uma esmola social, mas um valor social”. Não é um vago sentimento de compaixão, mas um estilo de vida e uma preocupação permanente de uns pelos outros no tecido da família humana. Se, em vez dos mercados ou do sistema bancário, a pessoa estiver no centro das atenções, então seremos capazes de “ver os outros – pessoa, povo ou nação – não como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalho e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim, como um nosso ‘semelhante’, e ‘auxiliar’, que se há de tornar participante, como nós, no banquete da vida, para o qual todos os homens são igualmente convidados por Deus” (João Paulo II). É este o tempo de solidariedade a sério, porque sem solidariedade não há sociedades justas. DARCI VILARINHO

Apesar dos importantes recursos da natureza, o fenómeno do desemprego, por exemplo, alastra de forma preocupante e faz Fevereiro 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº2 Ano LX – FEVEREIRO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.500 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Lusa Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 VENTOS DE GUERRA NO SUDÃO DO SUL 03 EDITORIAL Reinventar a solidariedade 05 PONTO DE VISTA Sem crise não há desafios 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Todos não são demais 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Caos e violência na República Centro-Africana Mulheres cristãs da Índia contra a discriminação Crianças fogem da guerrilha na Colômbia Haiti quatro anos depois do desastre 10 A MISSÃO HOJE Leigos promovem campanha para ajudar menino a andar 11 PALAVRA DE COLABORADOR Temos que nos dispor 12 A MISSÃO HOJE “Foi um prazer comunicar” 13 DESTAQUE França evita genocídio na República Centro-Africana

14 ATUALIDADE

“Não percam a alma” Rádios comunitárias dão voz aos mais pobres 22 GENTE NOVA EM MISSÃO O santo da Consolata 24 TEMPO JOVEM Há tantos vazios a preencher 26 SEMENTES DO REINO Sal e luz para o mundo

28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Homem nobre e delicado 32 OUTROS SABERES A roda do tempo 33 2014 ANO ALLAMANO Nasceu para guiar e consolar 34 FÁTIMA INFORMA Santuário reformula recinto a pensar em 2017


ponto de vista

SEM CRISE NÃO HÁ DESAFIOS texto ANTÓNIO FERNANDES*

“Não pretendemos que as coisas mudem, se fazemos sempre o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera-se a si mesmo sem ficar ‘superado’. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. Sem crise não há desafios; sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um”, escreveu Albert Einstein. O Papa Francisco, por sua vez, alertou, na exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, que “uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas, lamurientos e desencantados com cara de vinagre”. O Evangelho é uma proposta de vida para renovar constantemente a vida pessoal e comunitária. O convite de Jesus – “vem e segue-me” – é permanente e não permite acomodações de nenhum género. A centralidade das nossas vidas e opções não está em nós, nas nossas ideias, sonhos, caminhos e convicções. A alteridade é o grande desafio, nesta descoberta contínua de Deus.

e transformação que aponta para a centralidade de Deus nas encruzilhadas da vida e no grande mistério de amor, em que estamos envolvidos. Conservamos em nós um tesouro em vasos de barro (2 Cor 4,7), renovado pelo infinito amor de Deus, confiado quotidianamente a cada um de nós. Aproximando-nos do mistério da encarnação e caminhando com o beato Allamano ao encontro de Nossa Senhora de Fátima, contemplemos a beleza de Deus que, sendo de condição divina, assumiu a condição humana (cfr. Fili 2, 1ss); aproximemo-nos de Deus para dialogar, repousar, beber da verdadeira fonte e para nutrir a nossa ação missionária; caminhemos felizes ao encontro do outro, doando a própria vida. A cruz não deixa de ser o lugar onde todas as alteridades podem reconciliar-se. Unidos neste caminho, confiantes na força da oração, deixemo-nos iluminar pela Boa Notícia do Evangelho para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo.10,10). *Superior Provincial

Somos convidados constantemente a renovar-nos e a configurar a nossa vida com a vida de Jesus Cristo. Caminho de conversão Fevereiro 2014

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Olá Missionários da Consolata.

Sou a mãe do assinante Carlos Alexandre. Costumo ler a revista toda com muito gosto e foi através dela que recebi um pequeno livro com a novena ao beato José Allamano, por quem tenho uma grande admiração. Tanto eu como o meu filho já passámos por vários problemas (…). Recorri sempre ao beato Allamano e posso dizer que fui sempre ouvida e atendida. Peço por isso que publiquem este meu agradecimento por tudo o que

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GOSTO DOS TESTEMUNHOS

Mais um ano que temos pela frente. Que ele seja positivo para todos nós e em particular para o vosso serviço de formação e informação missionária. A revista continua em alta. Bem hajam. Cada vez a aprecio mais, tanto na linha gráfica e nas fotos como no seu conteúdo que abrange várias dimensões deste nosso mundo. Vejo que tocais em tantos argumentos de interesse, embora eu aprecie sobretudo os testemunhos de missão. Obrigado. Jorge

LOUVOR E APREÇO

Louvo a Deus pela família missionária da Consolata e por todo o trabalho que ela realiza também no campo da informação. A revista traz sempre coisas muito interessantes. Envio cheque para o pagamento da assinatura da revista de que tanto gosto e peço que se lembrem da minha família nas vossas orações e que a bênção de Deus chegue até vós.

TRABALHO EXCELENTE

Enviei um vale de 120 euros para a vossa missão. Mesmo sendo pouco, peço que retirem daí a importância referente à assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA que é uma excelente revista. O vosso trabalho é excelente e revela-se em tudo. Custódia

REVISTA QUE TANTO ADMIRO

Sinceros votos para todos vós a fim de que possam continuar a fazer a revista que tanto admiro. Envio cheque para pagamento da minha assinatura com votos de um bom 2014. Que o vosso trabalho seja reconhecido e apoiado, porque vale a pena. Infelizmente nem todos o apreciam como se deveria. Maria Eugénia

Júlia

recebi. Sei que o beato Allamano está ao lado do meu filho e de tantos outros jovens que vivem no mundo.

Maria Bernardina Coelho – Luxemburgo

Senhora Bernardina, bem haja por esta sua carta. Não é a única pessoa que teria coisas a dizer sobre este assunto. Mas a sua carta dá-nos a oportunidade de falar mais uma vez deste grande santo, José Allamano, cuja festa se celebra precisamente no dia 16 deste mês de fevereiro. No dia 15, cerca de oito mil pessoas vão deslocar-se a Fátima para louvarem

Maria e o beato Allamano por tudo o que até hoje receberam. Apesar de estar no Luxemburgo, junte-se à nossa oração de agradecimento e continue a invocá-lo pedindo também que o Reino de Deus se estenda a toda a terra, como esse grande missionário tanto desejava.

DV


horizontes

TODOS NÃO SÃO DEMAIS texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Juliana transpôs de rompante a porta do gabinete da diretora do Centro da Mãe, uma instituição de apoio a mães solteiras, onde vivia há seis meses. Atrás de si, a sua mãe, Glória, parecia viver o dia mais feliz da sua vida. – Deram-me a Maria! Ela pode vir comigo já amanhã! A juíza deu-me mesmo a Maria! – É verdade, parece mentira. Graças a Deus! – confirmava Glória. Maria, no Centro de Acolhimento para Crianças, ainda não sabia da feliz notícia. Desde há um ano, quando a separaram da sua mãe, Juliana, por esta não lhe prestar os

cuidados necessários, era só isto que desejava: a sua mamã. Nos dias da visita, na hora de dizer adeus à mãe, Maria lançava-se-lhe ao pescoço e batia as pernitas com tanta força que ficava exausta, mas nunca deu resultado. E os seus dois anitos não lhe permitiam entender as razões de a mãe não a levar consigo. Juliana encontrava-se novamente grávida e não podia contar com a ajuda de nenhum dos pais das suas meninas. As promessas que ambos fizeram de construir uma família desfizeram-se quando lhes foi comunicada a gravidez. Juliana não

conseguiria subsistir nem cuidar das suas filhas sozinha. Estava “condenada” a perdê-las por falta de condições. Contudo, no Centro da Mãe, tudo mudou. Reaproximou-se da sua família. Teve coragem para ultrapassar o muro da vergonha que a impedia de pedir a sua ajuda. Nem foi preciso pedir. Quando entrou receosa na casa dos pais, foi recebida com lágrimas e abraços. Afinal, não a acusaram. Quanto desejaram que regressasse! A diretora do centro quis assegurar-se que o sonho de Juliana ia mesmo concretizar-se: – Dona Glória, tem a certeza que cabem todos lá em casa? Lembrese que para além do seu marido e dos seus três filhos ainda tem a sua filha casada com o marido e dois netinhos. – Então não cabe, doutora?! Até estarmos todos, nunca somos demais! Como podia eu gozar a minha casa sabendo que a minha filha não tinha onde dormir? A Juliana e as minhas netinhas estão a fazer falta para completar a família! – Mas lembro que a vossa casa só tem três quartos – insiste a diretora. – A casa não é pequena quando o coração é grande. Já fizemos um anexo. O quarto da Juliana já está preparado: tem a caminha dela e dois berços que eu pedi para a Maria e para a Isabelinha quando nascer. Juliana olhava a mãe. Nela via toda a família que não a julgava e lhe oferecia o teto, a cama, o abraço, o colo todo inteiro. Amanhã, Maria vai adormecer no colo da sua mãe, sem medo que lha roubem. Amanhã, Juliana vai aprender a ser uma boa mãe, com a ajuda de quem mais ama. Amanhã, a família vai rir e enxugar as lágrimas em conjunto. Amanhã nesta família todos terão pão e colo, porque aqui o amor ditou que todos não são demais.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

CAOS E VIOLÊNCIA NA MULHERES CRISTÃS DA ÍNDIA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO A espiral de violência extrema na capital da República Centro-Africana está imparável. Ataques, linchamentos, pilhagens e represálias acontecem a todas as horas do dia. Mais de 100 mil deslocados estão refugiados no campo de M’Poko, perto do aeroporto da capital Bangui. Deixaram para trás casas e haveres. A boa notícia no meio de tamanha tragédia é a vacinação de 68 mil crianças contra o sarampo, nos vários campos de refugiados. A campanha abrangeu crianças entre os seis meses e os 15 anos, que representam 40 por cento da população total dos campos. O sarampo é altamente contagioso e transmite-se rapidamente. As crianças desnutridas são particularmente vulneráveis.

Centenas de mulheres leigas de diversas confissões cristãs, juntamente com religiosas, reunidas em Bangalore, deram origem ao “Movimento das Mulheres Cristãs”. As participantes na conferência nacional pretendem “desafiar a mentalidade patriarcal e promover a igualdade de direitos com uma maior sensibilidade para o género”. Tendo tomado consciência da necessidade de dar voz às mulheres cristãs da Índia, tanto na Igreja como na sociedade, e tutelar os seus direitos, decidiram lançar o Movimento, apontando como principal objetivo tornar-se a voz das mulheres mais pobres e marginalizadas. Uma comissão de nove membros vai agora tentar alargar o Movimento e lançar diversas formas de presença ativa na sociedade indiana, onde prevalece uma forte mentalidade patriarcal, marcada com demasiada frequência por atos graves de violência.

O Papa também se engana

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Poucas semanas depois da sua eleição, o Papa Francisco recebeu alguns prelados que, entre outras coisas, lhe deram os parabéns pelas grandes multidões que às quartas e domingos enchiam a praça de São Pedro para o verem e ouvirem. Consta que a esses prelados o Santo Padre terá respondido que de facto a “mania do Francisco” estava na moda mas que não se preocupassem porque as modas depressa mudam. Bem se enganou e ainda bem que se enganou. Agora que já lá vão 10 meses, o fenómeno destas multidões entusiasmadas parece-me também a mim um verdadeiro mistério. Não preciso senão de poucos


CRIANÇAS FOGEM DA GUERRILHA NA COLÔMBIA

HAITI QUATRO ANOS DEPOIS DO DESASTRE

Um programa de reabilitação de crianças-soldado foi criado pelo governo da Colômbia para crianças que fogem da guerrilha. Com o início do diálogo entre as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – e o governo, o número de combatentes que fogem da guerrilha aumentou 40 por cento. Para ajudar a curar os traumas, as crianças ficam no centro durante vários meses. Trabalham na agricultura, na criação de animais e noutras atividades, enquanto aprendem a confiar em pessoas estranhas. As histórias que estas crianças contam retratam bem a brutalidade vivida na Colômbia nos últimos 50 anos de conflito. Só nos últimos 15 anos, milhares e milhares de crianças fugiram das fileiras da guerrilha.

Uma pobreza inaceitável é a marca do Haiti quatro anos depois do desastre que causou mais de 300 mil mortos. Embora muita coisa tenha mudado e apesar do esforço de reconstrução, mais de 170 mil haitianos permanecem ainda deslocados e 600 mil vivem em condições de insegurança alimentar. Os indicadores de desenvolvimento do país são frágeis e a grande maioria da população vive em condições de pobreza inaceitáveis, em que os direitos mais elementares não são garantidos. Contudo há sinais de esperança. Diversas organizações humanitárias trabalham para minorar os sofrimentos e para inverter a situação. O número dos sem abrigo tem vindo a diminuir e os haitianos aprendem a cultivar a terra e a trabalhar; as escolas reconstruídas estão a funcionar e as crianças recomeçaram a estudar.

minutos a pé para me deslocar a São Pedro mas as pessoas vêm de longe, e num domingo destes, dia de frio e chuva, olhando para esse mar de gente – eram umas 100 mil pessoas – dei comigo a meditar: “o que é que leva toda esta gente a deslocar-se até aqui para verem e ouvirem durante uns quinze minutos o Papa Francisco”? E não é que ele lhes prometa mundos e fundos, mas enche-os de alegria e esperança e parece-me ouvi-los repetir uns aos outros as palavras de Jesus a Natanael: “aqui está um homem no qual não há fingimento”. Deus o conserve.

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a missão hoje

Apesar da crise que afeta muitas das famílias, Marta está confiante na generosidade dos portugueses

Yéo Issa, de nove anos, precisa de uma operação urgente para recuperar a mobilidade

LEIGOS PROMOVEM CAMPANHA PARA AJUDAR MENINO A ANDAR Fotógrafo belga e jovem finalista de medicina conheceram o drama de Yéo durante um campo de férias na Costa do Marfim. Decidiram juntar-se para ajudar o menino a recuperar a mobilidade e lançaram uma campanha de angariação de fundos. A ex-deputada Marta Rebelo aceitou ser madrinha do projeto texto FRANCISCO PEDRO foto DR O olhar intenso e enternecedor de Yéo já era suscetível de cativar quem o conhecesse, mas foi a história de vida do menino marfinense que comoveu e tocou o coração de Maria João Lopes e de Yves Callewaert. A futura médica e o fotógrafo de publicidade contactaram com o menor num campo de férias na Costa do Marfim, promovido pelos Missionários da Consolata, ficaram sensibilizados com as dificuldades de mobilidade que tem enfrentado nos últimos anos e decidiram unir esforços para financiar uma intervenção cirúrgica que lhe possibilite recuperar o 10

andar. Avançaram com uma campanha de angariação de fundos, a que se juntou recentemente a jurista e ex-deputada, Marta Rebelo, como madrinha do projeto. Yéo Issa, agora com nove anos, caiu de uma árvore quando era mais novo e lesionou-se gravemente numa perna. Os pais investiram todas as suas economias nos tratamentos, mas algo correu mal na intervenção médica e o menino ficou com problemas de mobilidade, que se têm agravado com o crescimento. Cientes que só um tratamento urgente e adequado pode evitar que


palavra de colaborador

“As necessidades não conhecem geografias. A vida está em todo o planeta e não é a distância que nos deve impedir de ajudar. Está em causa uma vida que se pretende melhorar e é isso que vamos conseguir” a criança deixe de andar, Yves e Maria João, lançaram mãos à obra, fazendo desta luta um sonho que esperam conseguir concretizar. Com a campanha “O Yéo pode andar se você ajudar”, pretendem ainda abrir caminho para uma ponte solidária entre Portugal e a Costa do Marfim, tantos são os problemas de saúde infantil naquele país africano. Sensibilizada com a história de vida do pequeno Yéo ficou também Marta Rebelo. A ex-deputada aceitou ser madrinha do projeto e disponibilizou-se não só para criar e vender na sua loja online (Petties Bazar) um fio e uma pulseira inspiradas na campanha, mas também para transformar a sua próxima festa de aniversário (15 de fevereiro) numa ação de solidariedade a favor do menino marfinense. “Gostava de contribuir para lhe proporcionar o regresso à normalidade”, disse a jurista à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Apesar da crise que afeta muitas das famílias, Marta está confiante na generosidade dos portugueses. “Esta incerteza no amanhã faz-nos olhar mais para o próximo, torna-nos mais disponíveis e retira o pó e as teias de aranha dos corações”, afirma a jurista, justificando a sua preocupação com um caso distante, quando “há muitas pessoas a passar mal” em Portugal: “As necessidades não conhecem geografias. A vida está em todo o planeta e não é a distância que nos deve impedir de ajudar. Está em causa uma vida que se pretende melhorar e é isso que vamos conseguir”.

“TEMOS QUE NOS DISPOR” texto DARCI VILARINHO

Serro Ventoso, concelho de Porto de Mós, é uma linda terra, com vários assinantes da nossa revista. É a terra da missionária da Consolata, Graça Amado, a trabalhar neste momento na Colômbia. Recebeu-nos o casal Lina e José Calado. Têm dois filhos e um neto. É uma família amiga do padre Elísio Assunção que entregou esta tarefa de colaboradora à mãe da senhora Lina. Porque a mãe já não pode, é agora a filha que se dispõe a prestar esta colaboração. “Eu até contestava este trabalho que a minha mãe fazia, porque uns pagavam, outros adiavam, mas tive que assumi-lo. Temos que nos dispor”, acrescenta a dona Lina, mostrando a situação atual dos assinantes: “Eu gosto das coisas bem organizadas e atualizadas e, sempre que possível, vou convidando pessoas mais novas a substituírem aquelas que por várias razões vão desistindo. Não é fácil, mas todos temos que colaborar”. É este de facto o caminho para que a FÁTIMA MISSIONÁRIA possa crescer e atingir os seus objetivos.

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a missão hoje

Álvaro Pacheco (ao centro) prepara-se para abraçar uma nova missão em Portugal

“FOI UM PRAZER COMUNICAR” Ao fim de 17 anos a trabalhar na Coreia do Sul, onde estudou a língua, absorveu a cultura e partilhou a fé, Álvaro Pacheco, missionário da Consolata, prepara-se para iniciar uma nova missão, mas em Portugal. O seu testemunho em discurso direto texto ÁLVARO PACHECO Longe vai o dia 28 de novembro de 1996, dia em que cheguei à Coreia do Sul, se bem que parece ter sido ontem. Recordo ainda o meu espanto quando, ao sair do aeroporto de Kimpo, deparei com placards iluminados em todos os edifícios (era já noite) e disse a mim próprio: “Ai ai, onde vim parar!” Para mim era tudo chinês! Fiquei um pouco mais tranquilo quando vi que os meus colegas já dominavam o coreano com bastante à-vontade. Eu estava a “nascer de novo”, pois tinha de entrar numa nova cultura, incluindo manejar os pauzinhos e cumprimentar com vénias. E havia depois a língua, que ainda hoje custa a entender em muitas ocasiões! Naturalmente, a comida foi também uma dificuldade, vencida aos poucos. E como o álcool é um “desporto nacional” na Coreia, dediquei as minhas primeiras férias em Portugal a tomar o gosto à cerveja, pois aqui é obrigatório beber. Eu bem lhes 12

dizia que “só bebo em serviço” (ou seja, na Eucaristia), mas não tinha como escapar. O desafio da língua

Como alguém dizia, “quem gosta do que faz e faz o que gosta é um ser abençoado.” E sinto-me muito abençoado por Deus foi de longe o mais difícil, mas felizmente houve um imperador chamado Sejong que encomendou aos seus académicos a criação de um alfabeto, o hangul, que permite às pessoas aprender a ler e escrever com facilidade.

Comunicar a missão

Ainda durante o estudo da língua, os meus colegas repararam que eu tinha um certo jeito para a escrita e para a fotografia. Assim, decidiram que seria eu o novo diretor da nossa revista missionária, na Coreia: assumi o cargo e agradeço a Deus

por este imenso dom. Foi um prazer comunicar a missão e ao mesmo tempo, poder viver noutra cultura, partilhar com muitos a minha fé e experiência de vida, conhecendo novos “irmãos e irmãs”, tal como Jesus prometeu aos que deixaram tudo para O seguir. Como alguém dizia, “quem gosta do que faz e faz o que gosta é um ser abençoado.” E sinto-me muito abençoado por Deus. Sim, digo que foi um prazer, porque no fim de novembro do ano passado passei a pasta da revista ao padre Marcos Coelho. Foram 15 anos de revista e outras publicações, para não falar do facto de que aqui o editor faz literalmente tudo, exceto as traduções. Como a minha missão esteve sempre ligada à revista, pedi aos superiores para fazer outro tipo de experiência fora da Coreia. Fui destinado à região portuguesa, em princípio para regressar mais tarde à Ásia. Afinal, o investimento que se faz por cá a nível de inculturação, sobretudo com a língua, é enorme. Despeço-me com um “até breve”.


destaque

CAOS DESENCADEIA TENSÕES RELIGIOSAS

FRANÇA EVITA GENOCÍDIO NA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Pela segunda vez num curto espaço de tempo, a França foi chamada a intervir num país africano do Sahel. Depois do Mali, o Conselho de Segurança autorizou a intervenção francesa na República Centro Africana (RCA), tendo por base os receios de que o país estivesse à beira de um genocídio. “Existem todos os elementos que vimos em locais como o Ruanda, a Bósnia, estão lá os elementos para um genocídio. Isto não levanta dúvidas”, declarou o chefe das operações humanitárias, John Ging, durante uma conferência de imprensa em Genebra, depois de ter estado cinco dias na RCA. Só durante o mês de dezembro, calcula-se que mais de mil pessoas morreram e mais de um milhão tenha deixado as suas residências, em consequência do caos que se instalou no país após as forças da Aliança, lideradas por Michel Djotodia, terem assumido o poder em março de 2013. Composta por grupos heterogéneos de confissão maioritariamente muçulmana e por mercenários, a Aliança não só não foi capaz de controlar como realizou e promoveu pilhagens e perseguições a comunidades cristãs. Esta situação levou à criação de milícias, onde participaram ex-militares leais ao antigo Presidente Bozizé, que adensaram o clima de tensão, de desconfiança e de ajuste de contas entre estas duas comunidades religiosas. Se anteriormente havia registos de conflitos entre pastores nómadas muçulmanos e agricultores cristãos, o conflito que se acendeu nos últimos meses não deixa de ser inédito para duas comunidades habituadas a viverem

em conjunto, nas mesmas cidades e nos mesmos bairros habitacionais.

Incertezas quanto ao futuro

Em resultado da instabilidade e do conflito, calcula-se que, dos 4,2 milhões de habitantes da RCA, 1,1 milhão de pessoas enfrenta carências alimentares, 2,3 milhões estão a necessitar de ajuda humanitária e cerca de meio milhão abandonou a sua residência para outras regiões ou para campos de refugiados situados em países vizinhos. O grande desafio das tropas francesas será o de tentar restabelecer o clima de confiança entre a população. Porém, alguns

comentadores manifestam reservas sobre esta questão, salientando que o seu mandato se limita ao estabelecimento da ordem, não possuindo um mandato político necessário para o efeito. Para além disso, a degradação da situação na RCA resulta em grande medida do próprio impasse da comunidade internacional: muito tempo decorreu sem que fosse capaz de impor o cumprimento dos acordos de paz no país – já durante o mandato do antigo Presidente Bozizé –, nem tão-pouco o respeito pela ordem interna, quando Michel Djotodia tomou o poder. Finalmente, perante a degradação da situação interna a que o país chegou, a situação política e social vai necessitar de uma estratégia de apoio económico sem a qual não será possível diminuir a violência, nem amenizar os ódios gerados numa luta entre os que perderam bens, entes queridos… e poder.

Calcula-se que, dos 4,2 milhões de habitantes da RCA, 1,1 milhão de pessoas enfrenta carências alimentares, 2,3 milhões estão a necessitar de ajuda humanitária e cerca de meio milhão abandonou a sua residência

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atualidade

Marcelo Barros considera a sociedade demasiado individualista e com pouca alma comunitária

“NÃO PERCAM A ALMA” O monge brasileiro Marcelo Barros esteve em Portugal para falar da relação entre a ecologia e a espiritualidade. Nas palestras que proferiu em Lisboa, Porto e no Minho, o religioso pediu aos participantes que não percam a alma e aprendam a viver de forma comunitária texto JULIANA BATISTA foto ANA PAULA “Não percam a alma!” Foi este o pedido deixado em Portugal por Marcelo Barros, monge beneditino brasileiro, durante o ciclo de conferências “Ecologia e Espiritualidade”. Promovida pelos Missionários da Consolata, em parceria com diversas universidades e organizações de defesa do ambiente, a iniciativa captou a atenção de jovens e 14

adultos em Lisboa, no Porto e também no Minho. Aos portugueses, o religioso falou sobre a forma como o ser humano está a tratar o planeta e a vida, pediu para não perderem a alma e aprenderem a viver em comunidade. “Vivemos numa sociedade que perdeu toda a alma. O sistema capitalista que domina o mundo não tem alma. É cruel. Por isso, o grande

problema não é apenas recuperar a minha alma, mas sim a alma do mundo”, referiu o sacerdote. Nas suas palestras, Marcelo Barros disse que as pessoas devem procurar viver em relação umas com as outras. “É muito importante que as pessoas não se isolem. A nossa sociedade é muito individualista. É fundamental libertarmo-nos disso, sem vivermos em função de nós próprios, mas descobrindo uma alma comunitária, criada na relação com os outros”, explicou, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Fazendo alusão às pequenas ações que cada um pode realizar em prol de um mundo melhor, vulgarmente identificadas como ‘gota d’água’, o monge brasileiro


coerência” e possam contribuir para “mudar o mundo”, Marcelo Barros considera que estas devem assumir diferentes dimensões para serem mais profícuas.

relação profunda das células entre si. Nós dependemos uns dos outros. A vida é uma interdependência total de tudo. E isso é uma responsabilidade séria”, frisou.

“O mundo começa pela mudança em mim. Isso tem uma certa coerência, mas eu não consigo mudar uma estrutura se não atacar em diversas dimensões”, sublinhou o monge numa das suas intervenções. Recordando algumas problemáticas como as secas ou as cheias, mas também os casos de fome e de pobreza no mundo, Marcelo Barros falou sobre a importância de um equilíbrio entre cada um dos setores. “O problema é que a ecologia ambiental não existe sem ecologia social”, alertou.

“É muito importante que as pessoas não se isolem. A nossa sociedade é muito individualista. É fundamental libertarmo-nos disso, sem vivermos em função de nós próprios, mas descobrindo uma alma comunitária, criada na relação com os outros” disse que, apesar de relevantes, esses comportamentos devem ser realizados perspetivando um âmbito mais alargado. “A ‘gota d’água’ é muito importante, mas à medida em que nos inserimos numa luta mais global”, destacou o religioso. Embora admita que as iniciativas individuais tenham uma “certa

“Como é que eu vou defender a água limpa, transparente e potável nas favelas do Rio de Janeiro, no Brasil, onde dois milhões de pessoas vivem sem esgotos e sem água canalizada?”, exemplificou. Segundo o religioso, a solução passa pela criação de uma “justiça eco-social”, sem esquecer a necessidade de uma atitude introspetiva. “Ecologia ambiental e ecologia social dependem de um diálogo interior, profundo connosco próprios e de todos nós com a natureza”, sublinhou. Destacando que é na relação e na vida comunitária que o ser humano se deve emancipar e realizar, combatendo os problemas sociais e ambientais, o monge beneditino teceu alguns comentários sobre o que constitui a nossa existência. “A vida é uma

Ciclo de conferências reúne especialistas O primeiro ciclo de conferências «Ecologia e Espiritualidade» decorreu na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade do Porto e no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho nos dias 14, 15 e 16 de janeiro, respetivamente. Além de Marcelo Barros, também vários especialistas intervieram nas palestras. Paulo Borges, Margarida Felgueiras, Jorge Moreira e Joaquim Cerqueira Gonçalves foram alguns dos convidados. Através desta iniciativa, os Missionários da Consolata pretenderam proporcionar o confronto entre as várias perspetivas existentes em relação a esta temática.

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atualidade

RÁDIOS COMUNITÁRIAS DÃO VOZ AOS MAIS POBRES As rádios comunitárias tornaram-se numa importante ferramenta nos meios mais desfavorecidos e isolados, sobretudo em África e na América do Sul. Dão voz aos sem voz e assumem um papel fundamental no desenvolvimento sustentável, cooperativo e participativo texto e foto FRANCISCO PEDRO A música andina ecoa, quase em surdina, na pequena sala que serve de estúdio à rádio comunitária Voces de Nuestra Tierra. Uma adolescente dirige-se à antecâmara, bate no vidro e avisa o animador que pretende ler uma mensagem. Ele levanta-lhe o polegar, faz-lhe sinal para se sentar em frente ao microfone que está do lado de fora do estúdio, interrompe a emissão e põe a voz da rapariga no ar. A cena passou-se em Jambaló, na cordilheira central dos Andes Colombianos, mas podia passar-se em Moçambique, no Brasil, na Argentina ou na Bolívia. O conceito de rádio comunitária é praticamente inexistente em Portugal, mas em África e no continente sul-americano, esta forma de comunicação tem vindo a assumir-se como uma importante ferramenta de ajuda ao desenvolvimento. A tal ponto, que as Nações Unidas têm apostado neste tipo de emissoras como instrumentos de participação cívica, como veículos para a defesa dos direitos humanos em contextos de extrema pobreza e antídotos ao isolamento, apatia e infoexclusão. Segundo Patrícia da Mota Paula, que defendeu uma tese de doutoramento em ciências da comunicação no Instituto Universitário de Lisboa, as rádios comunitárias apresentam-se como “a tribuna das preocupações e interesses das comunidades locais, normalmente marginalizadas e 16

excluídas, servindo simultaneamente de escola de aprendizagem democrática onde, individual ou coletivamente, as prioridades fundamentais são expressas e exigidas”. A partir de um estudo desenvolvido ao longo de quatro anos, com trabalho de campo em Moçambique

e na Guiné-Bissau, a investigadora concluiu que, enquanto em algumas partes do mundo ouvir rádio é, antes de mais, uma rotina diária, na maior parte dos países do sul “é o único meio de comunicação acessível a uma população maioritariamente iletrada ou a segmentos cujo salário não lhes permite comprar o jornal e muito menos um televisor”. E é-o porque admite o uso de línguas locais faladas por minorias esquecidas, ultrapassa as barreiras impostas pelo analfabetismo (alcança pessoas que não sabem ler nem escrever) e adapta-se na perfeição a culturas dominadas pela oralidade. Por outro lado, o aparelho recetor pode ser a pilhas (que substituem a energia escassa ou inexistente), é relativamente acessível do ponto de vista económico, transporta-se


facilmente e possibilita a escuta coletiva, refere Patrícia Paula.

Instrumento de evangelização

Os dirigentes da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC), uma organização não governamental que congrega mais de 4.000 estações emissoras, federações e centros de produção em pelo menos 115 países, por outro lado, destacam o papel fundamental destes meios de comunicação nas zonas rurais, pastorícias e costeiras, pelo contributo na promoção da segurança e cooperação entre agricultores, produtores de gado e pescadores. O que quer dizer que sendo 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar, decretado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), as rádios comunitárias podem assumir maior

Sendo um meio acessível e barato, que pode ser alimentado por uma central de energia solar, a radiodifusão tem servido até para estimular a paz e a harmonia entre comunidades, seja através da evangelização, ou da prevenção de conflitos protagonismo e atrair a atenção pública mundial para a importância da agricultura familiar na redução da pobreza e da fome. Sendo um meio acessível e barato, que pode ser alimentado por uma central de energia solar, a radiodifusão tem servido até para estimular a paz e a harmonia entre comunidades, seja através

da evangelização, ou da prevenção de conflitos. “A rádio é um dos mais belos tesouros da Igreja. As mensagens que são emitidas entram na mente e no coração dos ouvintes e ajudam a comunicação e a comunhão. É um instrumento que atua em favor da paz, do amor, da instrução e na defesa da vida. Graças a esta técnica maravilhosa, a convivência humana assumiu novas dimensões. O tempo e o espaço foram superados e o homem tornou-se um cidadão do mundo, parceiro e testemunha dos eventos mais remotos e dos acontecimentos em todo o planeta”, sublinhou o Conselho Episcopal Latino-Americano, a propósito do Dia Mundial da Rádio, que se celebra a 13 de fevereiro.

A rádio de Jambaló, na Colômbia, é um exemplo ao serviço da comunidade andina

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dossier

DESILUSテグ Luta pelo poder compromete futuro do paテュs

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VENTOS DE GUERRA NO SUDÃO DO SUL Do ator americano George Clooney à top model Alex Wek, ela própria uma refugiada dinka, muitas foram as estrelas internacionais que se solidarizaram um dia com a causa do Sudão do Sul e festejaram em julho de 2011 a sua independência, ainda por cima com governantes que se proclamavam respeitadores da democracia. Agora é a desilusão, com as lutas políticas a serem marcadas pelos ódios tribais, um velho drama africano texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA Enquanto as potências africanas tentam sentar à mesa em Adis Abeba, capital da Etiópia, as duas fações sul-sudanesas, no terreno as notícias são de ajustes de contas entre os dinka, a maior das etnias, e os nuer, o segundo grupo étnico do mais novo país do mundo. E se o número de mortos nos confrontos étnicos anda já na casa dos milhares, o medo de um conflito generalizado é tanto que há populações inteiras em fuga. Ainda há dias um ferry sobrelotado com refugiados afundou-se no Nilo Branco, a Sul de Juba, provocando a morte a 200 pessoas, segundo o ‘El País’. As Nações Unidas falam de meio milhão de refugiados e dão conta de combates pelo controlo dos campos petrolíferos, sobretudo perto da cidade de Malakal, onde as forças leais ao Presidente Salva Kiir estarão a conseguir vantagem sobre as tropas que tomaram o lado de Kier Machar, o vice-presidente demitido em julho e em dezembro acusado de ser um golpista.

de habitantes, na sua maioria agricultores e criadores de gado. E o próprio Sudão, por onde transita o crude sulista, perde a percentagem que cobra por cada barril exportado, o que explica o surpreendente apoio do Presidente Omar Bachir a Kiir, quando o comportamento óbvio deste líder procurado pelo Tribunal Penal Internacional seria aproveitar as divisões para enfraquecer a antiga parte do país que se tornou independente em 2011, após três décadas de conflito armado. As solidariedades étnicas têm sido evidentes neste braço de ferro entre Kiir e Machar, até porque há antigas contas a ajustar entre dinkas e nuer dos tempos da rebelião do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) e do seu braço armado, o SPLA, quando

as ocasionais traições e pactos com o regime de Cartum faziam parte da lógica dos secessionistas sulistas, saídos de uma comunidade de cristãos e animistas enfurecidos com a supremacia da maioria islâmica arabizada sobre aquele que era então o maior país africano. Mas os ódios étnicos só explicam parte desta quase guerra civil entre sul-sudaneses. Existe uma luta pelo poder no SPLM entre o dinka Kiir e o nuer Machar, com este último a ter acusado em tempos o Presidente de oferecer demasiado dinheiro ao Sudão pelo trânsito petrolífero. Kiir, por seu lado, preparava-se para uma perpetuação no poder e, além de não tolerar críticas, precisava também de evitar problemas com Bachir para ter o máximo de recursos à sua disposição na campanha para as eleições presidenciais previstas para 2015. E o petróleo foi sempre o grande foco de tensão entre os dois Sudões, porque um ficou com os campos enquanto o outro controla os gasodutos, sendo a China, como grande importador, o elemento conciliador entre ambos desde 2011, garantindo que todas as partes ficam a ganhar com o sucesso do pacto. Outra prova que as linhas de confrontação não são exclusivamente étnicas é a presença de um dinka, e ainda por cima filho

Terceiro maior produtor subsariano de petróleo, só atrás de Nigéria e Angola, o Sudão do Sul vê assim afetada gravemente uma fonte Terceiro maior produtor subsariano de receitas que permitia minorar a miséria dos seus dez milhões de habitantes, na sua maioria agricultores e criadores de gado. de petróleo, só atrás de Nigéria e E o próprio Sudão, por onde transita o crude sulista, perde a Angola, o Sudão do Sul vê assim percentagem que cobra por cada barril exportado afetada gravemente uma fonte de receitas que permitia minorar a miséria dos seus dez milhões

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No referendo sobre a autodeterminação do Sudão do Sul, realizado em janeiro de 2011, o voto pela independência rondou os 99 por cento. Ficou por definir a região de Abyei, que num futuro referendo terá de optar entre permanecer parte do Sudão ou integrar o Sudão do Sul de John Garang, o falecido grande herói do SPLM, na delegação da fação pró-Machar em Adis Abeba. E ao lado de Kiir estão ainda vários nuer, como notava a AFP, falando do chefe militar das tropas lealistas. A ONU tem no terreno 7.500 militares, que tentam proteger ao máximo os civis, mas, segundo a BBC, já admitiu não ter capacidade para manter a paz num país tão grande como a Península Ibérica. Além de Malakal, os maiores combates têm sido em Bor, onde os rebeldes, apoiados por um ‘exército branco’ de jovens nuer, parecem estar, para já, em vantagem, apesar de Kiir estar a receber apoio militar do Uganda, nada interessado em ver destabilização no novo vizinho. No referendo sobre a autodeterminação do Sudão do Sul, realizado em janeiro de 2011, o voto pela independência rondou os 99 por cento. Ficou por definir a região de Abyei, que num futuro referendo terá de optar entre permanecer parte do Sudão ou integrar o Sudão do Sul. * Jornalista do DN

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As promessas do respeito pela democracia na festa da independência parecem cair por terra

NOVOS PAÍSES SÃO RARIDADE EM ÁFRICA Um país que não resulte das antigas fronteiras coloniais é uma raridade no chamado continente negro, pois a própria União Africana sacralizou a seu tempo as linhas arbitrárias deixadas pelos europeus para se evitar uma eventual sucessão de guerras com motivações tribais. Certa ou errada, a opção só conheceu em meio século duas exceções: o nascimento da Eritreia

em 1993, após secessão da Etiópia (com a qual depois veio a estar em guerra), e a independência do Sudão do Sul em 2011, arrancada após décadas de conflito e no final por via negocial.


O PRESIDENTE Três meses depois do acordo de paz que abriu portas à secessão do Sudão do Sul, John Garang, líder histórico da rebelião, morreu na queda de um helicóptero. Estávamos em 2005 e foi a grande oportunidade para Salva Kiir emergir da sombra de Garang para se tornar, em 2011, o pai da independência do novo país africano. Uma proeza de moderação que surpreendeu muitos que conheciam Kiir, um membro da tribo dinka nascido em 1951 e com fama de radical, a ponto de se temer que a sua ascensão a líder do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) reacendesse a guerra de três décadas entre a aliança de animistas e cristãos do sul e a maioria islâmica arabizada do norte. Sempre com o seu chapéu à cowboy, Kiir soube,

O ALEGADO GOLPISTA Riek Machar é uma daquelas figuras que tentou sempre adivinhar o vento da história em seu proveito, umas vezes combatendo pela unidade sudanesa, outras sendo já um destacado comandante dos separatistas do Sudão do Sul. Ainda em 1997, chegou a fazer um pacto com Omar Bachir, até hoje o homem forte do Sudão, para finalmente em 2002 abraçar de vez a causa independentista ao lado do líder histórico do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM), John Garang, e do seu braço-direito, Salva Kiir. Foi uma adesão importante por causa de Machar ser um nuer, a segunda maior etnia sulista, e a verdade é que a sua ascensão gradual no

porém, assumir o papel de vice-presidente do Sudão e arrancar o referendo de autodeterminação que Garang tinha combinado com as autoridades de Cartum após um período de transição. Cristão fervoroso, frequentador da catedral de Juba, a capital do novo país, Kiir tinha-se juntado ainda muito jovem à rebelião, voltando a entusiasmar-se com ela quando passou na década de 1980 a ser liderada por Garang, figura que chegou a acreditar num Sudão democrático que respeitasse todos os seus povos mas que acabou convicto da necessidade de separação. Kiir, independentista muito mais assumido, apesar de ter sido oficial do exército sudanês, soube ultrapassar as suas fragilidades intelectuais e dar uma aparência de estabilidade ao novo Estado africano durante dois anos, até que no verão passado demitiu o seu vice-presidente, Riek Machar, um

movimento foi patrocinada em nome da destribalização do SPLM, visto como demasiado dinka. Nascido em 1953, Machar chegou a ser casado com uma trabalhadora humanitária britânica, que morreu num acidente de carro quando estava grávida. Nos últimos anos fez um esforço para desfazer a imagem de senhor da guerra e conquistar nova credibilidade, indo ao ponto de deixar de usar farda e passar a ser visto com fato e gravata. Deu também provas de alguma capacidade diplomática ao servir de mediador entre o governo do Uganda e os rebeldes do Exército da Resistência do Senhor, grupo fundamentalista cristão com um assustador historial de violência. Com a morte de Garang, em 2005, tornou-se o número dois do SPLM e depois vice-presidente do Sudão do Sul, independente desde meados de 2011. Visto como uma ameaça por Kiir, foi afastado do poder há

potencial rival no SPLM. Depois, em dezembro, acusou de tentativa de golpe de Estado o antigo camarada de luta.

seis meses. Mas em dezembro foi acusado de tentativa de golpe, o que nega, afirmando sim estar a ser vítima de uma purga política por um Kiir avesso a rivais.

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gente nova em missão

QUESTIONÁRIO Descobre mais sobre a vida e obra de José Allamano

ENTRE NO JOGO Decerto sabem imensas coisas sobre o “pai” dos missionários e das missionárias da Consolata. No entanto, proponho-vos uma forma divertida de relembrar ou conhecer um pouco sobre o beato José Allamano. Um jogo para se divertirem com os amigos, com a família e com os catequistas. 1. Onde e quando nasceu José Allamano Castelnuovo d’Asti em 21/01/1851 Turim em 29/01/1901 2. De quem José Allamano era sobrinho São José Cafasso São João Bosco

O SANTO DA CONSOLATA Olá amiguinhos! Em pleno Ano Allamaniano, não podia deixar de vos falar no beato José Allamano, e fazer-vos também um convite, que espero seja aceite por todos: a estarem presentes em mais uma peregrinação da Consolata já no próximo dia 15. São sempre momentos que enchem e alegram o nosso coração. Até lá! texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

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3. Aos 11 anos entrou para o colégio dos salesianos. Quem foi o seu diretor espiritual Padre Tiago Camisassa São João Bosco 4. Em 1866 entrou no seminário em Turim. Em que ano foi ordenado sacerdote 1883 1873 5. José Allamano foi formador de seminaristas, prefeito e diretor espiritual do seminário. Em que ano foi nomeado reitor do Santuário de Nossa Senhora da Consolata 1880 1901


6. Allamano sentia a necessidade de levar a todos os povos o Evangelho de Jesus Cristo. Para tal era necessário uma instituição dedicada às missões. Quando fundou o Instituto Missionário da Consolata 29/01/1901 29/01/1910

11. O beato José Allamano queria evangelizadores preparados, que dessem à missão o seu melhor. “Prefiro ter poucos, mas bons”. Qual o seu lema Ide e sede missionários Primeiro santos, depois missionários

7. E o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata 29/01/1901 29/01/1910

12. Em que data morreu Allamano 18/08/1922 16/02/1926

8. Quem foi cofundador dos dois Institutos Padre Tiago Camisassa Cardeal Agostinho Richelmy

13. Em quantos continentes estão presentes os missionários e as missionárias da Consolata 4 3

9. Quantos e para onde foram os primeiros missionários que partiram em 08/05/1902 4 – Quénia 2 – Moçambique

14. Os Missionários da Consolata chegaram a Portugal em que ano 1943 1953

10. Em 03/11/1913, quem partiu para o Quénia As 15 primeiras missionárias da Consolata Quatro missionárias da Consolata

15. As Irmãs Missionárias da Consolata fundaram a primeira comunidade na Malveira, Lisboa. Em que ano chegaram a Portugal 1964 1943

16. O Papa João Paulo II beatificou o padre José Allamano no dia 7 de outubro de que ano 1990 2000

Momento de oração Neste mês, proponho-vos

que coloquem nas mãos de Nossa Senhora da Consolata e do beato José Allamano as vossas preces e que acendam em vós a chama da missão. Pai Nosso e Avé Maria SOLUÇÕES: 1 A; 2 A; 3 B; 4 B; 5 A; 6 A; 7 B; 8 A; 9 A; 10 A; 11 B; 12 B; 13 A; 14 A; 15 A; 16 A

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tempo jovem

HÁ TANTOS VAZIOS A PREENCHER texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA Após um quase interminável mergulho no macromundo que nos rodeia, muitas pessoas ficam quase enjoadas ou perdidas nas mil e uma possibilidades e oportunidades que a aldeia global lhes oferece. Há tantos livros para ler ou filmes para ver, tanta roupa e calçado para estrear, tantas viagens para fazer e comida para saborear, tantos pobres para ajudar e pessoas para compreender, tantos antidepressivos para experimentar e, finalmente, tantos vazios a preencher. Se é verdade que o “macromundo exterior” faz parte da nossa realidade, não podemos descuidar o “micromundo interior” que esconde as respostas essenciais para manter o equilíbrio com o mundo que nos rodeia, sem perder o sentido do caminho, que cada ser humano é chamado a percorrer para experimentar a verdadeira felicidade. Que faço eu? É a pergunta que mais vagueia na consciência humana. As grandes complicações diante deste questionamento começam quando procuramos as respostas nos sítios errados. Facilmente confundimos “dever” com “profissão” e “vocação”. O dever não é mais que o compromisso parcial e concreto que uma pessoa assume perante alguém, a família, o trabalho ou a sociedade. Pessoalmente acho que não existem, como algumas pessoas pensam, categorias do 24

dever, segundo o papel que se tem na família ou sociedade. O nosso papel, profissão ou “status” social não dão grandeza ao dever que assumimos cumprir. Alguém pode ser carpinteiro ou médico, mas isso não qualifica o seu dever. O que realmente conta é “como” cumpre o seu dever ou o compromisso assumido a partir do seu papel na vida. No fundo, o que quero dizer com isto, é que, fazer bem uma coisa ou ser bom nisto ou naquilo não significa necessariamente que encontrámos o sentido da nossa existência. Nós não somos o dom

ou o talento recebido; eles fazem parte de nós como lanternas que nos podem ajudar a encontrar o caminho.

Confundir profissão com vocação

Outra grande lacuna que encontrei no caminho do conhecimento do “micromundo interior”, especialmente no mundo juvenil, é a confusão entre profissão e vocação. Isto tem gerado nos últimos tempos uma grande “angústia existencial” para quem busca descobrir com


Fazer bem uma coisa ou ser bom nisto ou naquilo não significa necessariamente que encontrámos o sentido da nossa existência. Nós não somos o dom ou o talento recebido; eles fazem parte de nós como lanternas que nos podem ajudar a encontrar o caminho

seriedade o seu lugar no mundo. Profissão e vocação não são a mesma coisa. Eu gosto de dizer: “São duas formas de trabalhar”. Geralmente a profissão não compromete a vida pessoal. Podes ser um grande contabilista mas isso não garante a excelente gestão das emoções pessoais. A profissão tem um tempo de validade que pode ser determinado pela reforma, por um acidente ou pelo desemprego. Mas o que é verdadeiro e real é que depois da reforma a pessoa continua a existir, e portanto a profissão pode sustentar parcialmente o sentido de

felicidade na própria procura. Quando se trata de vocação, a pessoa vive uma dupla experiência: de sentir que “alguém chama” e de sentir-se “chamado”. O mais bonito e grandioso desta experiência “transpessoal” é o facto que a vida é vista como “uma missão a cumprir”. Se a vocação tem a ver com a transcendência, na missão juntam-se a ação (dons, talentos, capacidades, profissão) e a fé. Fidelidade à missão recebida por vocação juntamente com a fé é a fórmula exata para a experiência

da felicidade transcendente e duradoira do ser. Em síntese, perante a grande pergunta “O que é que eu faço?”, é justo e necessário confrontar-se com a trilogia dever-profissão-vocação para detetar onde estão as carências e os vazios que precisam de atenção e cuidado no próprio mundo interior.

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sementes do reino

Peregrinação anual reúne a Família da Consolata em Fátima, para homenagear o fundador

SAL E LUZ PARA O MUNDO A família da Consolata vive de modo especial o mês de fevereiro, porque nele se celebra o “nascimento” para o céu do beato José Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata. Foi e é o “pai” de uma família que continua hoje a ser sal e luz num mundo que parece estar a perder o sabor e a claridade texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

Leio a Palavra Mt 5, 13-16

É um texto evangélico que se encontra após a proclamação solene das bem-aventuranças. Jesus está sentado num monte e, à sua volta, os discípulos e seguidores escutam a nova lei. Concluindo essa proclamação, Jesus, qual “novo Moisés”, convida a comunidade a ser sal e luz do mundo. Duas parábolas que definem a missão da comunidade.

Saboreio a Palavra

Jesus indica aos discípulos como devem viver. O “sal” é elemento fundamental na cozinha. Hoje vivemos mais preocupados com o excesso de sal na comida, mas em outras épocas, a sua falta era um problema. Comida sem sal não tem sabor. O sal era usado também para conservar alguns alimentos. Podemos então dizer que o sal tem 26

reflexo da luz que é Deus, ou seja, o discípulo não é o protagonista, mas um “espelho” da luz divina.

Rezo a Palavra

Que a tua palavra, Senhor, ilumine as nossas ações e nos dê a força de ser sal da terra e luz do mundo. Ore com o salmo 27 (26).

Vivo a Palavra duas funções fundamentais: dar sabor e conservar. É essa a missão que Jesus confia aos discípulos: dar “sabor” ao mundo e “conservar” os seus ensinamentos. Na conclusão fica um alerta: se o sal perder a força, qual será a sua utilidade? Se o discípulo deixar de lado a missão de dar sabor, perderá a sua razão de ser. Também a “luz” é um elemento fundamental. Já todos fizemos a experiência de ficar às escuras. Sem luz sentimo-nos perdidos. Jesus explica melhor com duas comparações: a “da cidade situada sobre um monte” recorda que é a luz de Deus que brilha sobre Jerusalém e esta deve irradiar para todos os povos. E “a lâmpada colocada sobre o candelabro” acentua a mesma mensagem. Os discípulos são aqueles que agora devem iluminar o mundo, sendo

Pergunto-me: tem “sabor” a minha vida de cristão? Como discípulo de Jesus tenho influência na sociedade? Há muitos que se “demitem” dessa responsabilidade, praticando um cristianismo “light”, sem exigências nem compromissos. Jesus, porém, é claro: se o sal perde o sabor não serve para mais nada. É essa a missão que Jesus confiou aos discípulos: ser sal da terra e luz do mundo. E foi por este motivo que homens como o beato José Allamano fundaram famílias missionárias, para que sejam sal e luz no mundo inteiro.


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO FEVEREIRO

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Apresentação do Senhor Mal 3, 1-4; Hebr 2, 14-18; Lc 2, 22-40 PONTOS DE LUZ Apresentado no Templo por Maria e José, Jesus é percebido pelo velho Simeão como salvação e luz para todos os povos. As velas hoje benzidas, oferecidas e levadas em procissão significam a nossa vida como oferta e luz para o mundo. É a festa dos consagrados a Deus para serem sinais luminosos da Sua presença no mundo. Que a nossa vida, Senhor, seja luz para quem vive nas trevas.

09 5º Domingo Comum Is 58, 7-10; 1 Cor 2, 1-5; Mt 5, 13-16

IDENTIDADE E MISSÃO “Reparte o teu pão com os esfomeados, dá abrigo aos infelizes sem casa, atende e veste os nus e não desprezes o teu irmão. Então a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se”. A caridade concreta cura, renova, dá sabor e ilumina. “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo”. O mundo precisa do nosso sal e da nossa luz. Dá-nos, Senhor, o teu sabor e a tua luz para cumprirmos a nossa missão.

16 6º Domingo Comum Sir 15, 16-21; 1Cor 2, 6-10; Mt 5, 17-37

UM PAR DE ASAS Os mandamentos da lei de Deus não são um colete de forças, mas um par de asas que elevam até ao céu. Todos se resumem no amor. Não basta cumprir, é preciso amar. É o amor que tem a última palavra, porque só ele dá sentido e valor a tudo o que fizermos. A nossa reconciliação com os irmãos é a oferta mais agradável ao nosso Deus. Dá-me, Senhor, entendimento para guardar a tua lei e cumpri-la com todo o coração.

23 7º Domingo Comum Lev 19, 1-2.17-18; 1 Cor 3, 16-23; Mt 5, 38-48

O NOSSO DISTINTIVO “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”. O que nos distingue como filhos de Deus é o amor misericordioso com que amamos a todos sem distinção. Se perdoamos, elevamo-nos à altura de Deus, porque amamos com o seu coração de Pai. Amar os amigos é humano; amar e fazer o bem aos inimigos é divino. Imprime em nós, Senhor, os teus sentimentos para amarmos a todos com o teu coração de Pai. DV

Para que os sacerdotes, religiosos e leigos colaborem com generosidade na missão de evangelizar

Intensificar a colaboração Cada batizado, seja ele bispo, sacerdote ou leigo, consciente da sua própria missão, deve dar a própria contribuição para a evangelização do mundo. Cada um usando os dons que Deus lhe concedeu. Recorde-se a expressão de Madre Teresa de Calcutá: “Eu sei que o meu trabalho é como uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria menor”. Cresce cada vez mais a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. De facto, a imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos, a cujo serviço se encontra uma minoria de ministros ordenados. Mas nota-se por vezes na Igreja um excessivo clericalismo que mantém os leigos à margem das decisões nas nossas comunidades cristãs. A responsabilidade laical que nasce do Batismo e da Confirmação deverá crescer ainda mais em compromissos de caridade, catequese e celebração da fé. A obra da evangelização na Igreja precisa da colaboração de todos, bispos, sacerdotes e leigos. Estes terão que ser membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços. Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política, nos meios de comunicação, são todos chamados a testemunhar, pela Palavra e pela vida, o Evangelho de Jesus Cristo. DV

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o que se escreve PAPA FRANCISCO Não deixeis que vos roubem a esperança

É precioso tudo o que sai da boca do Papa Francisco. Demonstram-no as multidões que todas as quartas-feiras enchem a Praça de São Pedro para ouvir a sua palavra sempre muito oportuna. Este livrinho apresenta-nos as suas primeiras catequeses, que são um bom instrumento de meditação. Autor: Papa Francisco 82 páginas | preço 5,49 € Editorial Franciscana

A BÍBLIA

Respostas às perguntas mais provocadoras

A leitura da Bíblia provoca tantas perguntas que angustiam os crentes do nosso tempo. O biblista cardeal Gianfranco Ravasi dá respostas breves, simples e ao mesmo tempo densas e documentadas, ensinando a ler corretamente a Sagrada Escritura. Vale a pena ler os textos deste famoso exegeta, com provas dadas sobre o conhecimento da Palavra de Deus. Autor: Gianfranco Ravasi 126 páginas | preço: 5,00 € Paulus Editora

SEMENTES DE EVANGELHO TUDO PELO EVANGELHO A LISTA DE BERGOGLIO Leitura orante do Apontamentos de Espiritualidade Os que foram Evangelho – Ano A Missionária salvos por Aqui está uma A espiritualidade do beato Francisco abordagem José Allamano, fundador dos durante a interessante da Missionários e Missionárias da ditadura Consolata é de extrema atualidade, porque se concentra no essencial para quem se quer empenhar na evangelização do mundo. Aquilo que os últimos Papas têm dito sobre a santidade como alma da Missão, já Allamano o tinha dito no início do século passado: “O verdadeiro missionário é aquele que é santo”. Este livro, uma rica síntese das palestras do beato Allamano aos seus missionários, é de grande utilidade para todos. Autor: José Allamano 320 páginas | preço: 5,00 € Editora Consolata

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Palavra de Deus a partir dos textos evangélicos do ano litúrgico corrente. O livro recolhe os artigos do autor – atual reitor do Pontifício Colégio Português em Roma – publicados no jornal “Mensageiro de Bragança”. “Deus é o grande semeador da história e lança a sua semente confiante que, apesar de todos os obstáculos e riscos, produzirá fruto”. Autores: José Caldas Esteves, Maria da Conceição Borges, Maria José Oliveira 192 páginas | preço: 8,00 € Distribuição: Secretariado Nacional de Liturgia

Este é mais do que um livro. É um documento. Ao longo de cerca de 200 páginas, um jornalista italiano do periódico católico ‘Avvenire’ fala do tema mais inquietante do Pontificado do Papa Francisco: a posição assumida pelo então provincial dos Jesuítas da Argentina durante o período da ditadura militar. O tema tinha – e tem – tudo para fazer correr rios de tinta. Os que foram ajudados revelam hoje como é que o jesuíta Jorge, agindo em silêncio, os salvou. Autor: Nello Scavo 206 páginas | preço: 13,50 € Paulinas Editora


o que se diz NÃO NOS ESQUEÇAMOS DE DEUS Liberdade de fé, cultura e política

É uma reflexão interessante do atual arcebispo de Milão, cardeal Angelo Scola, sobre a liberdade religiosa a partir do magistério da Igreja, presente sobretudo no Concílio e nos últimos Papas. Não há aqui “lugar para estéreis nostalgias do passado, mas a partir de uma notável reflexão teológica, sugerem-se passos para o caminho futuro”. Como diz o Papa Francisco: “A tradição e a memória do passado devem ajudar-nos a ter a coragem de abrir novos espaços para Deus”. Autor: Angelo Scola 94 páginas | preço: 7,00 € Paulinas Editora

UMA BOA NOTÍCIA Gente que acredita, vida que transforma

A Igreja quer levar o Evangelho ao coração das pessoas. É sempre uma boa notícia de que o mundo “angustiado” precisa. Este livro é precioso: contém “94 histórias curtas, provenientes dos quatro cantos do mundo, vividas, muitas vezes, em condições difíceis”. Por outro lado há 229 citações, espalhadas por todo o texto, que nos dizem como ser hoje testemunhas da “Boa Notícia”: o Evangelho. Para ler e meditar. Autor: Chiara Favotti (Ed.) 220 páginas | preço: 10,00 € Editora Cidade Nova

Economia solidária “Podemos usar a riqueza para fazer amigos, mas por causa da

riqueza também podemos destruir muitas amizades. E quem tem muitos amigos vive melhor do que quem tem muito dinheiro. Vive melhor quem coloca no centro das suas atenções as outras pessoas e não os bens. No centro do coração de Deus está a pessoa. Esta é a sabedoria que temos de aprender”. José Carlos Matias | Mensageiro de Santo António | janeiro 2014

Boa Nova de inclusão “Todos nos teremos de converter muito mais à misericórdia de

Deus. (…) É o amor que converte e faz sentar à mesa de Abraão, Isaac e Jacob os que vêm do Oriente e do Ocidente, tocados pela ternura de Deus, que os cristãos devem viver e expressar. Sem fronteiras nem etiquetagens, que discriminam e afastam, a Boa Nova da Igreja de Cristo tem de ser, sempre, uma boa nova de inclusão e de abraço terno a quem se deixa atrair pelo aroma (ainda que muito ténue) do Evangelho”. Artur de Matos | Boa Nova | janeiro 2014

As flores falam… “As flores evocam a perfeição e remetem para o Criador e Artífice

do belo (…). Simone Weil dirá que «o perfume do narciso fazia sorrir todo o céu, a terra inteira e a vastidão do mar» e reconhece que «a beleza é o orifício do labirinto» que nos abre a possibilidade de aceder ao próprio centro onde Deus se revela e se diz, porque «a beleza do mundo é o sorriso e ternura de Cristo por nós através da matéria”. Amália Saraiva | Stella | dezembro 2013

O segredo da popularidade “É impressionante a forma como muitos não crentes se sentem

fascinados pelo testemunho do Papa Francisco, um sinal de que ninguém é indiferente ao testemunho do Evangelho vivido com autenticidade. Só pode ser este o segredo da popularidade do Papa. As expectativas em relação ao novo pontificado até ultrapassam a Igreja”. Pedro Vaz Patto | Cidade Nova | janeiro 2014

Um mundo em mobilidade “A mobilidade é uma característica do ser humano. Não apenas

pelo facto de termos pernas e membros para nos movermos, mas também porque somos inabitados por um desejo de ir mais além, para descobrir novas realidades e sermos mais felizes. Não é apenas o conhecer ou ter mais que nos motiva a deixar os nossos ambientes, mas para sermos pessoas mais realizadas e perfeitas”. António Vitalino | Notícias de Beja | 16 de janeiro de 2014

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Família do padre Paulino Ferreira 45,00€; Leonor Gonçalves 5,00€; Anónimo 20,00€; Paulo Simões 75,00€; Assinante nº 47694 100,00€; Lurdes Ferreira 11,00€; Anabela Silva 20,00€; Esmeraldina Serra 20,00€; M.C.C.R. 10,00€; Maria Piedade 20,00€; Catarina Silva 41,00€; Anónimo 3,00€; Joaquim Cavadas 18,00€; José Pereira 118,00€; Bárbara Silva 5,00€; Isaura Marçal 11,00€; José Martins 30,00€; Lourdes Roque 10,00€; Joaquina Aleixo 30,00€; Cândida Barros 118,00€; Sofia Vicente 33,00€; Elias Oliveira 50,00€; Teresa Rosa 20,00€; Donzília Manata 10,00€; Conceição Fernandes 53,00€; Anónimo 53,00€; Inês e José Rafael 75,00€; Mário Carvalho 5,00€. Total geral = 12.243,65€. Bolsa de estudo Zeladoras de Lordelo – Paredes 310,00€; Lourdes Roque 250,00€; Carminda Duarte 250,00€; António Costa 250,00€; Cacilda Cardoso 250,00€; António Ferreira 250,00€. Crianças de Moçambique Maria Piedade 20,00€; Júlio e Albertina Martins 25,00€. Crianças de Mecanhelas – Moçambique Madalena Ferreira mãe do padre Simão Pedro 160,00€. Crianças do padre Paulino – Tanzânia Manuela Rebelo 10,00€; Deonilde Silva 5,00€. Ofertas várias Assinantes da freguesia do Alqueidão – Figueira da Foz 71,50€; Paróquia de São João Baptista – Alfeizerão 290,00€; Inácio Ferreira 86,00€; Fernando Esteves 26,00€; Anónimo 100,00€; Gracinda Oliveira 40,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida duma comunidade paroquial que tinha 7.000 famílias, e em que circulavam ideias políticas, religiosas e sociais de vários tons. Com uma atitude senhoril, decidida e muito humana, e com o trabalho dos seus colaboradores, o padre Wolmer organizou eficazmente a vida religiosa e social da paróquia. Como bom músico que era, deu à vida litúrgica um impulso maravilhoso fundando e dirigindo o coro da Consolata, que muito bom nome deu à Igreja. Instituiu os grupos que deviam cuidar dos mais pobres. Trabalhou muito para que às crianças e aos jovens não faltasse a educação e a catequese. Tornou-se um porto seguro na comunidade cristã da diocese. Aos críticos invejosos e malignos resistiu com um silêncio decoroso. Como superior e administrador do grupo dos Missionários da Consolata tratou a todos com grande delicadeza.

PADRE WOLMER AZZOLINI

HOMEM NOBRE E DELICADO texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Raramente conheci um perfeito gentil-homem como o padre Wolmer Azzolini, com quem vivi muitos anos. Nasceu na Itália em 21 de dezembro de 1919, entrou para a Consolata e foi ordenado sacerdote em 18 de junho de 1944. Enviado para o Canadá, trabalhou especialmente na cidade de Montreal. Em 1953, o cardeal Léger entregou aos Missionários da

Consolata uma paróquia italiana incipiente, que o cardeal quis se chamasse de Nossa Senhora da Consolata. Foi ali que o padre Azzolini exerceu as suas ótimas qualidades de homem, religioso e ministro de Deus e do seu povo.

Por volta de 1977, a sua saúde começou a fraquejar. Aconselhado pelos superiores, voltou para Itália. Chegaram para ele os tempos da solidão, das saudades do muito que fizera por tanta gente e pelo Reino de Deus. No hospital descobriram uma massa cancerosa no estômago, mas foi impossível operar por causa da fraqueza do seu coração. “Vamos rezar ao fundador para que faça o milagre”, disseram-lhe os confrades. “Não, não”, respondeu ele; “rezem para que eu saiba fazer a vontade de Deus”. Pouco depois, adormecia no Senhor. Na sua escrivaninha, no meio das poucas coisas que possuía, encontraram uma agenda em que escrevia todos os dias um pensamento. Causa de alegria para ele: que tudo fosse feito para glória de Deus e para bem da Igreja missionária.

Empenhou-se primeiro na construção da igreja e suas dependências, e depois na formação Fevereiro 2014

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outros saberes

“Para tudo há um momento: ...tempo para destruir e tempo para edificar, tempo para rir e tempo para chorar… tempo para procurar e tempo para perder…” (Eclesiastes, 3)

A RODA DO TEMPO

adiar. Para esse erro, adverte um provérbio coreano: “Adia por um dia, e dez dias passarão”. A indecisão pode ser fatal!

texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA

Dir-se-á que é para se ter tempo para pensar e se fazer melhor. Nesse sentido dizia Guareschi, um escritor italiano: “Nunca

Bem cantava António Mourão, falecido há pouco: “Ó tempo, volta p’ra trás”, expressando um desejo generalizado, mas evidentemente irrealizável. O mais que pode acontecer, como dizia alguém, é que: “O tempo não para; só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”. Mais um ano que passou, e mais coisas passaram com ele para o arquivo volátil da memória, muitas delas inacabadas por não se ter tido tempo, porque, “a maior parte do tempo, passa-se a ver o tempo passar”. Mas tempo, nunca falta.

me arrependi de deixar para amanhã o que podia ter feito ontem”.

Pensa-se que há tanto tempo que a maior parte dele se passa a

há um momento: tempo para nascer e tempo para morrer…

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Um provérbio árabe, porém, resume bem os riscos subjacentes a ambas as atitudes: a pressa e a lentidão:

“O maior erro é a pressa antes do tempo e a lentidão perante a oportunidade”.

É, de facto, no momento oportuno que cada coisa deve ser feita e não adiada. Como a melhor altura para construir e fazer escolhas acertadas. Tal como diz a Sagrada Escritura: “Para tudo

tempo para destruir e tempo para edificar, tempo para rir e tempo para chorar… tempo para procurar e tempo para perder…” (Eclesiastes, 3). Insensatez é cruzar os braços (Eclesiastes, 4, 5). O tempo é ouro!


2014 ano Allamano

NASCEU PARA GUIAR E CONSOLAR texto DARCI VILARINHO foto ARQUIVO José Allamano nasceu para guiar, consolar e aconselhar. Bispos, sacerdotes e leigos de todas as condições sociais da diocese de Turim, Itália, recorriam a ele para ouvir da sua boca a palavra certa no momento oportuno. Parecia ter recebido de Deus um carisma especial para este género de contactos. Acolhia as pessoas, deixava-as desabafar, e pouco a pouco entrava nos seus problemas, com a inteligência e o coração, e propunha a melhor solução. O olhar e o sorriso eram a pedra de toque que caracterizava o primeiro encontro. Punha a pessoa à vontade e facilitava o diálogo. “Fiquei encantado com a sua maneira de ser, o seu aspeto venerando, o seu sorriso e a bondade com que veio a meu encontro e me cumprimentou”, refere um testemunho. “Bastou um simples colóquio – diz outro seu discípulo – para ele entender o meu problema. E num ápice, revelou-me o caminho a seguir, e as dificuldades e os fracassos que haveria de encontrar”.

mandar em paz algum penitente”. À cabeceira de doentes, alguns deles afastados da prática da vida cristã ou hostis à Igreja, sentia-se ministro de Cristo, o consolador dos aflitos. “Secretário e tesoureiro” de Nossa Senhora da Consolata, como ele próprio se apelidava, desenvolveu grande parte da sua atividade sacerdotal acolhendo no seu coração os sofrimentos dos que a ele recorriam nas inevitáveis provações da vida, para receberem uma palavra de conforto. Com a palavra, e com pequenos gestos, participava nos sofrimentos alheios. Um dia foi ter com ele uma jovem, desfeita em lágrimas, pela morte prematura da mãe. “Não recordo as suas palavras de conforto – diz ela – mas recordo a sua bondade delicada e paterna. Ao ver-me transtornada pela dor, mandou-me servir um café e ocupou-se de mim como se não tivesse mais nada que fazer”. E foi este o estilo que usou por longos anos no Instituto missionário que fundou. Em Turim ou à distância, nas missões, guiava

A figura do beato José Allamano vai preencher este espaço ao longo de todo o ano a ele dedicado. Para que seja mais conhecido e amado, e a sua vida modelar seja estímulo e convite à invocação pessoalmente os seus “filhos”. Entrava na sua alma, conhecia as suas dificuldades, encorajava-os e orientava-os com sábias indicações. Os “Diários” dos seus missionários funcionam como longas cartas escritas a Allamano. Nas entrelinhas sobressai a simplicidade de relacionamentos e uma grande espontaneidade que só beneficiava quem por ele se sentia dirigido.

Defensor infatigável do confessionário, era aí que passava diariamente longas horas. “Dir-se-ia que esse era o seu ministério preferido. Sentia-se feliz quando através da confissão podia

Em Turim ou à distância, nas missões, guiava pessoalmente os seus “filhos”. [...] Os “Diários” dos seus missionários funcionam como longas cartas escritas a Allamano

Um dos primeiros batismos feito pelos missionários na floresta do Quénia

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fátima informa

A mudança do altar será um dos aspetos mais visíveis no futuro enquadramento do recinto

SANTUÁRIO REFORMULA RECINTO A PENSAR EM 2017 Obras preveem reconstrução do altar para melhorar o seu enquadramento no recinto. Estão projetados ainda novos espaços de lazer texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA Os parques de estacionamento a norte e a sul da basílica de Nossa Senhora do Rosário (do parque 2 ao parque 7) estão a ser requalificados, já a pensar no centenário das aparições, em 2017. As obras visam a criação de espaços de lazer, “onde as pessoas possam ter os seus encontros e os seus piqueniques e onde haja melhores condições também para circulação”, afirma o padre Cristiano Saraiva. O diretor do Serviço de Administração

do Santuário de Fátima espera que o grosso dos trabalhos, com intervenção programada para oito meses, possa estar concluído já em maio, “em condições das pessoas estacionarem e circularem”.

Consagrados renovam votos

pastoral, a 9 de fevereiro. Juan Ambrósio, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa é orador convidado da reflexão que tem início às 16h00, na basílica de Nossa Senhora do Rosário.

O dia dos consagrados, que se assinala a 2 de fevereiro, será celebrado em Fátima. Assim, a partir das 10h00, será rezado o Rosário na Capelinha, seguindo-se em procissão de velas para a basílica da Santíssima Trindade. Pelas 11h00, será celebrada a Eucaristia, com a renovação dos votos dos consagrados.

Nosso Senhor “morreu por nós” “Porque está Nosso Senhor assim pregado na cruz? Porque morreu por nós” é o tema da terceira conferência do tema deste ano 34

Paralelamente, será efetuada a reposição do coberto vegetal, que se encontra à volta do recinto. “Temos de começar de imediato para que em 2017 já possa haver em volta do santuário algo mais

Pastorinhos recordados

A 13 de fevereiro assinala-se o 9º aniversário da morte da irmã Lúcia. Ainda neste mês, a 20 de fevereiro, passam 94 anos sobre a morte da beata Jacinta Marto. Nesse mesmo dia, a Igreja celebra a festa litúrgica dos beatos Jacinta e Francisco Marto.

bonito em termos do coberto florestal”, salienta o responsável. A grande obra que será visível no recinto será o altar. Assumido como provisório em 1982, aquando da primeira visita de João Paulo II a Fátima, está a ser definido um projeto definitivo a localizar sensivelmente no mesmo local, com uma preocupação: “Um presbitério que seja todo ele enquadrado dentro do espaço do santuário”. Uma obra que “artisticamente fique para a história, enquadrada” na envolvência da basílica de Nossa Senhora do Rosário e do próprio recinto. Cristiano Saraiva esclarece que o plano de trabalhos será desenvolvido para que “não haja grandes interferências” nas grandes celebrações.

Fevereiro em agenda 09 Peregrinação e bênção dos ciclistas 15 Peregrinação da Família Missionária da Consolata 15/16 Encontro de guias de peregrinos a pé


Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

OUTRA VISÃO

DO MUNDO

| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관

APENAS

7 EUROS

POR ANO


Coração universal

Vai até à outra margem. Vai dizer que na fronteira se levantaram as guardas e o tempo de espera é o espaço do abraço. Vai convidar para a mesa os esfomeados de todas as esquinas e os expatriados da sua condição. Abre a tua tenda, que na estrada erram feridas de todas as lutas e lágrimas enxutas do pó.

Construtor da paz, vai de mãos livres; e, na brancura de uma bandeira, acende a fogueira de um coração universal. João Aguiar Campos, Encontros


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