Brasil

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Ano LXII | Janeiro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

BRASIL país de dimensão continental 200 anos após a independência DESTAQUE

Venezuela em suspenso com troca de governo País enfrenta uma taxa de inflação superior a 200 por cento

MISSÃO HOJE

Ida à guerra ajuda a definir vocação

Missionário percebeu que queria ser padre no serviço militar obrigatório

MÃOS À OBRA

Microcrédito dá esperança a mulheres do Congo

Vítimas de violência reencontram caminho em cursos de formação profissional


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM os missionários

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

Contactos Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 01 Ano LXII – JANEIRO 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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BRASIL EM CRISE MAS “ UM AMBICIOSO PARA O BICENTENÁRIO

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.400 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Ana Paula Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL “Onde está o teu irmão?” 05 | PONTO DE VISTA A “Cimeira do Clima de Paris”

10 | A MISSÃO HOJE Guerra ajuda a definir a vocação

06 | HORIZONTES Num outro tempo

12 | A MISSÃO HOJE A misericórdia não se diz

07 | DESTAQUE O chavismo não sucedeu a Chavez 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Coreia do Sul: na terra de ninguém à procura de “adolescentes perdidos” • Angola: luta solidária a favor das crianças e mães • Paquistão: apelo contra lei da blasfémia • Porto Rico: dívida causa fome e miséria • Perú e Equador: boa notícia para os imigrantes • Mundo: combate contra a escravatura

11 | PERFIL SOLIDÁRIO O homem das Misericórdias

13 | FÁTIMA INFORMA Santuário premeia fotografias sobre Fátima 14 | DOSSIER • Um Brasil em crise mas ambicioso para o bicentenário • Povo indígena símbolo de resistência 22 | MÃOS À OBRA Recuperar autoestima das mulheres com ações de formação e microcrédito 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO 14 Tarefas 26 | TEMPO JOVEM O dom da partilha 28 | SEMENTES DO REINO No início era a Palavra

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

30 | VIDA COM VIDA Um rosto onde bailava a vida 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

“Onde está o teu irmão?” A pergunta é dos primeiros capítulos da Bíblia, mas a resposta está no capítulo 25 do Evangelho de Mateus. “O que fizestes ao mais pequeno dos meus irmãos a mim o fizestes”. O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença. Tive fome, tive sede, era estrangeiro, estava nu, doente ou na prisão. E tu que fizeste? Comentando esta passagem bíblica alguém me fez notar um facto curioso. O olhar de Jesus pousa sempre sobre a necessidade do ser humano: a sua pobreza e a sua fragilidade. Mais. Ele vai à procura do bem que faz circular a vida, como seja o pão ou a água, a saúde ou a liberdade, os gestos que ajudam a viver. São as pequenas obras de misericórdia que qualquer um pode fazer. Através do olhar de Jesus, Deus não olha tanto o pecado cometido, mas sobretudo o bem feito. Quer dizer que no balanço de Deus pesa mais o bem. E é esta a beleza da fé: a luz é mais forte do que a escuridão; uma espiga de trigo vale mais do que o joio do coração. Na segunda parte da narrativa de São Mateus, “tive fome e não me destes de comer…” há aqueles que são expulsos do reino, simplesmente por não terem feito nada de bem. Não foram maus ou violentos, não odiaram nem maltrataram, simplesmente foram indiferentes, não fizeram nada pelos pequenos da Terra. A indiferença pode matar. Não se comprometer com o bem comum, por quem tem fome ou sofre injustiças, faz-nos cúmplices do mal. “É preciso abrir os olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da sua dignidade e escutar o seu grito de ajuda”, diz o Papa Francisco na 04

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proclamação do Ano da Misericórdia, alertando para essa “indiferença global”, fruto do egoísmo ou da instalação do homem que anestesia as pessoas e as torna insensíveis aos gritos dos irmãos. É por isso que abrir os olhos às situações dramáticas em que vivem hoje tantos dos nossos contemporâneos é um enorme desafio que requer a nossa responsabilidade. Ninguém diga: isso não é comigo, porque todos estamos implicados. Ninguém se pode esquivar à pergunta do Criador: “que fizeste do teu irmão?”, porque habitamos o mesmo planeta, somos parte da mesma família humana. “Vence a indiferença e conquista a paz” é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a 49ª Jornada Mundial da Paz, que ocorrerá no primeiro dia de janeiro de 2016. Se a indiferença perante os flagelos do tempo atual é uma das causas principais que deterioram a paz no mundo, o seu apelo é que não cruzemos os braços e nos empenhemos lucidamente a construir caminhos de paz. Darci Vilarinho

“Vence a indiferença e conquista a paz” é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a 49ª Jornada Mundial da Paz, que ocorrerá no primeiro dia de janeiro de 2016


PONTO DE VISTA

ARNALDO DA FONTE . ADVOGADO .

A “CIMEIRA DO CLIMA DE PARIS” A terra é a casa comum – é de todos. E a vida não espera por ninguém; o relógio do nosso tempo não pára; compete-nos respeitar o pulsar de cada batimento deste coração que nos alimenta de oxigénio – a terra. É, alegadamente, o que se pretende com a Conferência de Paris. O acordo deve ser duradouro, vinculativo, monitorizada a emissão de gases com efeito de estufa, sancionados os países inadimplentes. O problema não é a falta de informação, será antes a deficiente consciência da importância vital contida na informação. Muita da riqueza acumulada pelos países mais ricos foi construída nos escombros dos países menos favorecidos. As exigências a uns e a outros não poderão ser as mesmas, embora o fim seja o mesmo. Os primeiros não poderão eximir-se a ajudar financeiramente os mais pobres a suportar o peso do seu subdesenvolvimento e a obrigação de contenção na emissão dos gases com efeito de estufa. O poder do dinheiro vai mandar. Quem tem desertos não pode ter florestas; quem vende petróleo só o pode fazer a quem o possa pagar. As alternativas pressupõem investimento em dinheiro e em conhecimento, o que não estará ao alcance dos mais pobres. A União Europeia e o Brasil falam em “desenvolvimento sustentado”. Os detentores do conhecimento estabelecem limites para a sobrevivência da vida na terra como a conhecemos. Quantos carros a menos? Quantos barcos a menos?

Que hábitos temos de modificar? Descarbonizar a terra? Sim, a natureza não nos deu só petróleo, gás e carvão. A consciência individual será o mediador mais fiável entre o querer e o poder. Seria humanamente possível viver sem normas políticas, sem tantos ‘gadgets’ tecnológicos, mas não se pode viver em desrespeito pelas leis da natureza. A consciência do bem e do mal será garantia para a sobrevivência do Homem. Não pode guerrear a sua terra. Os recursos são finitos, como a vida na terra. Ignorar esta evidência tornará o homem coveiro da sua história. Têm de conviver: clima, economia e finanças. Os arautos do desenvolvimento tecnológico, a par dos produtores de petróleo, gás e carvão serão os responsáveis primeiros de um futuro que tem de ser de todos. O acordo espelha preocupações, estabelece compromissos, evidencia a urgência de soluções inadiáveis, e garante, tanto quanto a política consente, confiança mútua de todos os seus subscritores. A natureza culpar-nos-á, a todos, das nossas negligências. Parece, muitas vezes, que vivemos em planetas diferentes, mas não, a casa–mãe é a mesma. Francisco disse, através de palavras simples e lapidares: “é um imperativo moral que transcende o mundo da política”.

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horizontes

NUM OUTRO TEMPO

Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Adelaidinha está num lar. Chamam-na de Adelaide, como está no bilhete de identidade. Ninguém a chama de Adelaidinha. E disso ela terá concerteza saudades: talvez do seu nome, da sua cama com os quadros do Coração de Jesus e de Nossa Senhora sobre a cabeceira; do mar que avistava da sua casa. Mas a saudade maior seria talvez a de andar pela aldeia, com a sacola de tecido no braço, preenchida com tudo o que poderia precisar para levar o consolo que lhe pediam. Hoje, no lar, ninguém sabe. Mas ela sabia: viveu num tempo em que faltava tudo. Na sua aldeia nem escola havia. Nem médicos, nem enfermeiras, nem antibióticos. Nesse tempo Adelaidinha era uma jovem destemida e curiosa. Aceitou o convite para trabalhar na cidade, na casa do médico a quem toda a aldeia recorria. Aí, atenta e sempre disponível, aprendeu tudo o que uma assistente de médico podia aprender. Quando por razões de saúde teve de abandonar o seu trabalho, regressou a casa dos pais. Mas não vinha como partira: continuava sem saber ler, mas sabia agora tanta coisa de curar! Foi assim que passou a ser a curandeira da aldeia. Se alguém se cortava, lá ia Adelaidinha; se havia medicação injetável, era a ela que chamavam; até se alguém partia um dedo, também nisso lhe pediam ajuda. Percorria quilómetros, a pé, com sol ou chuva. Se a chamavam com urgência, lá ia ela, não interessava onde nem quanto demoraria. 06

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Costumava andar sozinha, mas sempre que podia, levava uma criança consigo – para que aprendesse o que ela sabia, e um dia, talvez, fariam bem mais do que ela. Um dia, o sobrinhito que a acompanhava tropeçou e torceu o pé. Adelaidinha enfaixou-lhe o pezinho e levou-o ao colo o resto do percurso. Aliviado da dor, Artur confessou-lhe numa certeza de criança que sonha ser grande: “Tia, quando for velhinha, também vou pegar em si ao colo”. Adelaidinha recordava esta promessa muitas vezes. Gostava de sentir quanto fora amada. Não sei se foi pegada ao colo. Só sei que no lar que é a sua casa de agora, ninguém sabe da sua história nem do seu nome de verdade. Não sabem que suturou golpes, que curou feridas, que enfaixou fraturas. Não sabem que consolou, que apaziguou dores, que curou. Talvez só saibam que é Adelaide e analfabeta. Mesmo não estando a pedir, tal como nunca pediu nada em troca dos seus percursos ou dos bálsamos que aplicou, Adelaidinha gostaria, isso eu sei, de ser tratada com o carinho com que sempre cuidou de quem dela precisou. Como sei? Porque quando alguém lhe faz uma carícia ou lhe fala, costuma soltar-se uma lágrima dos olhos cansados e habitualmente fechados. Talvez ela gostasse de sentir que tal como ontem, hoje há alguém que se põe a caminho porque escuta o pedido de quem tem dor, e porque sabe e quer usar o que tem na “sacola”: algo que cura!


destaque Oposição impõe pesada derrota ao Governo venezuelano

O chavismo não sucedeu a Chavez Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

a taxa de inflação superior a 200 por cento, a penúria de bens de consumo, a crise das finanças públicas e a recessão do país, com uma queda do Produto Interno Bruto superior a 10 por cento, é difícil de prever como é que o atual governo conseguirá chegar até 2019

O chavismo, liderado por Nicolás Maduro, teve uma pesada derrota nas eleições parlamentares do passado dia 6 de dezembro. Sem Chavez e com o preço do petróleo em baixa, o chavismo enfrenta o desafio da sua própria sobrevivência, perante uma oposição que obteve uma maioria qualificada que lhe dá amplos poderes para proceder a profundas reformas no país. Ao obter dois terços dos votos, a Mesa de Unidade Democrática terá plenos poderes legislativos, ficará com a presidência do Parlamento e com as presidências de todas as comissões parlamentares, como terá a possibilidade de proceder a inúmeras alterações políticas no país, incluindo a de convocar um referendo contra o Chefe de Estado e, em casos mais radicais, a destituição de altos cargos políticos. Nicolás Maduro está numa situação duplamente difícil. Em primeiro lugar, porque as eleições foram consideradas também como um plebiscito à sua

gestão, agora sem a aura de Chavez, falecido há dois anos. Em segundo lugar, porque o Presidente, que é simultaneamente Chefe de Estado e de governo, terá agora de negociar as suas políticas, tendo em conta o poder entretanto gerado no Parlamento.

Um mandato difícil até 2019

Uma semana depois das eleições, Maduro tirou as primeiras conclusões dos seus resultados e destituiu o governo. No entanto, numa cerimónia de saudações de fim de ano com a Força Armada Nacional Bolivariana, o Chefe de Estado venezuelano qualificou a vitória do MUD de "circunstancial" e alertou para o facto de a oposição parlamentar pretender privatizar as empresas públicas do petróleo, das comunicações, da siderurgia e da energia elétrica, acrescentando que a Constituição tem mecanismos para defender o que considera ser as conquistas da revolução. Nesse mesmo dia, a oposição invocava a mesma Constituição para destituir Maduro, caso este obstaculizasse a ação do Parlamento. Tendo em conta o clima de 17 anos de tensão entre o chavismo e a oposição, a taxa de inflação superior a 200 por cento, a penúria de bens de consumo, a crise das finanças públicas e a recessão do país, com uma queda do Produto Interno Bruto superior a 10 por cento, é difícil de prever como é que o atual governo conseguirá chegar até 2019. A grande incógnita reside neste momento do lado da oposição. Entre os que defendem compromissos e o aprofundamento das reformas sociais alcançadas nos últimos anos e os que pretendem afrontar Nicolás Maduro, existe de facto uma multiplicidade de posições e agendas políticas, entre os partidos que compõem a aliança dos partidos de oposição, que esconde a maioria absoluta alcançada nas eleições.

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mundo missionário

por E. assunção

Coreia do Sul

Na terra de ninguém à procura de "adolescentes perdidos"

Cerca de 2.000 jovens abandonam anualmente a escola e a família na cidade de Suwon, Coreia de Sul. Muito poucos encontram um local de acolhimento; a maioria corre o risco de destruir a sua jovem vida no álcool, na prostituição e na violência, no roubo e na cadeia. “Ao descobrir esta dramática realidade, decidimos ir à sua procura”, refere o missionário Vicente Bordo. Com uma carrinha de várias cores, uma tenda, duas mesas e quatro cadeiras, das 19 às duas da madrugada, vamos

pelas ruas em busca destes adolescentes”. E acrescenta: “Se calhar, somos um pouco doidos por amor destes jovens”. O missionário, que há 23 anos fundou a “Casa Ana”, um centro que acolhe idosos sós, desocupados, jovens abandonados, afirma que hoje é preciso ir além das “periferias”, ir “às terras de ninguém” em busca dos adolescentes abandonados pelas famílias e pelo Estado. “Quando um jovem aceita seguir os voluntários é levado para a «Casa Vermelha», o primeiro centro de acolhimento para jovens que vêm da rua”. Aí são-lhes oferecidos encontros, terapias, aconselhamento com o objetivo de os reinserir na família e no mundo do trabalho. “Nesta terra de ninguém, negra e brutal, onde parece que nem sequer há lugar para Deus, habitada pela violência, conflitos, abuso sexual de menores, embriaguez e outros abusos, encontrei um novo rosto de Deus”, exclama o missionário. “Por isso decidi deixar as periferias e ir mais além, para estar ao lado destes jovens”.

Angola

Luta solidária a favor das crianças e mães

Cerca de 300 mil pessoas da província do Cunene, no sul de Angola, sofrem as consequências de viverem longe da capital. É sobretudo na saúde que as carências são maiores. Além da falta de pessoal médico e estruturas sanitárias, escasseiam medicamentos e alimentos para combater a fome provocada pela seca. Sem estradas e comunicações entre as várias áreas rurais da província, as dificuldades avolumam-se. É nesta situação que opera a associação “Médicos com a África”, com um projeto que visa “promover a assistência sanitária da população rural do Cunene”. A associação trabalha em parceria com outras instituições, nomeadamente com o governo provincial, a diocese de Ondjiva e os doadores. “Sozinhos não se conseguem resultados; juntos sim, como demonstram os resultados já conseguidos”, referiu o representante da associação. Iniciado em março passado, o projeto tenta reduzir a mortalidade materno-infantil. São muitas as crianças com menos de cinco anos vítimas da desnutrição e de doenças fatais, como a malária, diarreia e infeções respiratórias.

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MUNDO MISSIONÁRIO PAQUISTÃO

APELO CONTRA LEI DA BLASFÉMIA

É urgente revogar a lei da blasfémia no Paquistão, exige um grupo de 60 iminentes juristas de todo o mundo, associados da «Comissão Internacional de Juristas», sediada em Genebra, Suíça. A organização define esta norma como “cruel”, mesmo pelas penas que inflige. Os juristas convidam o governo a modificar a lei de forma que esteja em sintonia “com os padrões internacionais da

liberdade de expressão, a liberdade de pensamento, de consciência e de religião”. Ao mesmo tempo recordam que é muito frequente no Paquistão o abuso de tal lei, usada para resolver disputas privadas sobre negócios ou propriedades. Segundo a Comissão de Justiça e Paz, 200 cristãos, 633 muçulmanos, 494 ahmadi e 21 hindus foram acusados de blasfémia desde 1987, num país de maioria muçulmana.

PORTO RICO

DÍVIDA CAUSA FOME E MISÉRIA

“Venho em nome do meu povo que está a sofrer”, proclamou nas Nações Unidas Roberto Nieves, arcebispo de San Juan de Puerto Rico. O arcebispo convidou as autoridades do governo e os credores da dívida de Porto Rico a negociar

uma solução razoável para a dívida da ilha, que depende dos Estados Unidos da América, situada entre a República Dominicana e as Ilhas Virgens. “Não venho a esta mesa de diálogo como um perito ou até como um credor; venho com a profunda preocupação pelo meu povo que está a sofrer”, afirmou o arcebispo Nieves. “A dívida é impagável e pouco importa o que o governo de Porto Rico ou os credores possam dizer: existe uma verdadeira e própria crise humanitária”. Mais de 45 por cento da população vive mergulhada na pobreza.

PERÚ E EQUADOR

BOA NOTÍCIA PARA OS IMIGRANTES

Embora separados na história recente, Perú e Equador dão as mãos para regularizar a situação dos cidadãos imigrantes de ambos os países. O embaixador do Equador em Lima revelou que a preparação do acordo está na reta final. Assim, tanto os cidadãos imigrantes com o visto caducado como os que entraram irregularmente em ambos os países poderão ver a sua situação regularizada. O embaixador reconhece que o Equador sempre promoveu a livre circulação de mercadorias e capitais, mas descuidou a circulação de pessoas.

MUNDO

COMBATE CONTRA A ESCRAVATURA

Mais de 60 milhões de seres humanos no mundo são forçados a abandonar o seu país e muitos mais milhões obrigados a atravessar as fronteiras em busca de melhores condições de vida. Todos correm o risco de cair nas malhas da escravatura, tornando-se escravos. É urgente a erradicação das diferentes formas desta chaga contemporânea, como o tráfico de seres humanos, a escravatura sexual, as mais degradantes formas de trabalho infantil, o matrimónio forçado e o recrutamento de meninos para utilizá-los nos conflitos armados.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

MISERICÓRDIA E CONSOLAÇÃO Aproveito para estabelecer este contacto a 8 de dezembro, dia em que aqui em Roma damos início ao Ano Santo da Misericórdia. Ouço a palavra do Papa que nos convida a reconhecer o nosso Deus como Pai misericordioso sempre pronto a perdoar e não um deus justiceiro e pronto a castigar, e uno-me a esta imensa multidão que não se deixou intimidar pelo perigo de possíveis atos terroristas e enche a Praça de São Pedro. A propósito da misericórdia de Deus talvez haja entre os leitores quem sinta como em tempos eu senti que os nossos pecados nos perseguem e mais cedo ou mais tarde acabam por nos alcançar; já assim não penso nem tal deve pensar quem é discípulo daquele Jesus que na sua cruz crucificou os nossos pecados. Introduzindo este Jubileu, o Papa Francisco disse e escreveu que o homem de hoje precisa de compreender que misericórida é o nome do nosso Deus e eu afirmo que esse nome é também nosso, como batizados e filhos do Deus-Misericórdia, e para vós amigos que partilhais comigo a espiritualidade de Maria Consoladora, a Consolata, acrescento que consolação é nome da misericórdia. Sede misericordiosos, sede consoladores. Feliz 2016.

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a missão hoje

Guerra ajuda a definir a vocação Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

O desejo de ser padre já vinha da adolescência. Mas foi uma ida à Guiné-Bissau, como militar do exército português, que ajudou Mário Silva a cimentar a convicção de que o seu futuro passava pela pastoral missionária. Hoje, a trabalhar no Brasil, divide o seu tempo entre a formação, o acompanhamento espiritual dos jovens e as visitas aos doentes No calor da juventude, e já com a ideia de se tornar sacerdote a fermentar no pensamento, Mário Alves da Silva chegou a vacilar entre fugir para França ou alegar objeção de consciência e entrar de vez no seminário, para evitar o serviço militar obrigatório. Optou por cumprir o dever cívico. E, reconhece agora, aos 73 anos, que em boa hora o fez, pois o contacto com as carências sociais do povo guineense serviu

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Fátima Missionária

para o ajudar a reforçar a sua vocação. “Eu estava integrado num pelotão militar que fazia muitas visitas às aldeias, para ajudar na construção de casas, no abastecimento de água e na distribuição de medicamentos. E o que fui encontrando era uma grande necessidade de apoio humano. Por isso, meses depois de regressar a Portugal, entrei no Seminário dos Missionários da

Consolata, que já conhecia. As pessoas, inclusive a minha família, pensavam que tinha voltado pirado, mas não, era mesmo isso que eu queria para o meu futuro”, recorda o missionário. Mário Silva é natural de Vila de Rei, diocese de Portalegre-Castelo Branco. Com a ida “à tropa”, acabou por só iniciar os estudos teológicos aos 24 anos. Quando foi ordenado,

MÁRIO SILVA considera que o futuro da Igreja Católica passa pelo reforço do papel dos leigos


perfil solidário

imaginava-se a partir para uma das muitas missões no estrangeiro, mas os superiores quiseram aproveitar as suas qualidades no campo da formação e enviaram-no para o Centro Missionário de Águas Santas, na Maia. Daí foi para o seminário de Abrantes e só depois partiu para o Brasil, onde, entre outras tarefas formativas, ajudou a abrir o Seminário Teológico de São Paulo. Pelo meio ainda passou sete anos em Portugal, no Seminário da Consolata, em Fátima, tendo retornado depois à Terra de Vera Cruz, para dar continuidade ao trabalho pastoral, agora em Brasília. Com tantos anos ligado à formação, o missionário interpreta a falta de vocações na Europa, e até no Brasil, como uma consequência natural da forma como a sociedade atual está organizada, em “famílias muito pequenas”, o que torna mais difícil os pais orientarem os

filhos para a vertente espiritual. “Acho que vou dizer uma loucura… Mas se a Igreja abrisse um serviço temporário de sacerdócio, por três ou quatro anos, penso que teríamos mais vocações”, sugere Mário Silva, explicando, que se tem cruzado com jovens com uma grande dimensão espiritual e religiosa, aos quais “apetece convidar à vocação”, só que esbarra quase sempre no facto da maioria deles não estar na disposição de assumir um compromisso sério com o sacerdócio. Perante este cenário, o sacerdote considera que o futuro da Igreja Católica passa pelo reforço do papel dos leigos. “A não ser que haja algum milagre, a Igreja vai ter que trabalhar ainda mais a dimensão laical” e promover a ordenação de diáconos permanentes. “Nunca é como o padre, mas ajuda bastante”, sobretudo nas zonas onde há mais escassez de sacerdotes, conclui o missionário português.

O homem das Misericórdias Texto | FP

Eleito para um quarto mandato à frente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, 65 anos, é responsável pelo modelo de gestão das cerca de 400 misericórdias em território nacional e ainda ajuda no trabalho das mais de 4.200 espalhadas pelo mundo. Foi distinguido em 2013 com a Ordem do Infante Dom Henrique, pelo Presidente da República, e, logo de seguida, homenageado por grande parte dos provedores, que quiseram “agradecer-lhe todo o trabalho com que sempre devotou boa parte da sua vida profissional às causas da saúde e da solidariedade em prol das misericórdias e dos mais desfavorecidos”. Preocupado em manter o equilíbrio entre a sustentabilidade das instituições e a necessidade de dar resposta às pessoas carenciadas, manifesta-se também apreensivo quanto o futuro do país, em termos de natalidade: “É preciso criar condições para que as pessoas tenham filhos e, para isso, não basta baixar o IRS ou dar mais tempo às mães para ficarem em casa. Diz-se que os jovens são egoístas e não querem ter filhos, mas eu acho que os jovens se preocupam e muito com o futuro que podem dar aos filhos e, por isso, ser pai passou a ser uma decisão tão ponderada”.

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a missão hoje

A misericórdia não se diz Texto | JOAQUIM FRANCO* Foto | ANA PAULA

Dizer a misericórdia é uma tarefa difícil, talvez impossível. Poderemos sondar os caminhos onde a misericórdia se faz, porque, nascendo num Deus que se espera, a misericórdia ganha expressão prática no homem que Procura. Como a justiça, a misericórdia revela-se na ação. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”. A misericórdia é uma libertação do isolamento, da solidão. Benevolência, bondade e compaixão surgem em quase todos os contextos éticos ou religiosos. E sem a permanência e a urgência do outro, a fé cristã é um equívoco. Não há fé sem consequências na vida praticada

e partilhada. Não faz sentido sem a corresponsabilidade. Seria um equívoco. O indivíduo é um somatório de contextos e de relações. Ser humano é viver a essência da relação. Um Eu a caminho de um Tu, para fazer um Nós. E é neste Nós inevitável que Deus se revela, na intimidade da relação. Pode estar antes, mas revela-se em relação. Ninguém pode ter uma relação com Deus se não tiver uma relação com os outros. Uma relação de coração, uma relação de intimidade. Ser ‘com’ e ‘para’. O grande desafio é o outro e a sua intrínseca dignidade, antes da condição de ser. Um Deus de misericórdia, que se revela pelo

homem, tem “coração”, faz relação, é capaz de comover e de se comover. De ceder para facilitar o encontro e reconstruir. Como diz frei Fernando Ventura, “se o Deus de misericórdia é um Deus com tripas, então a misericórdia só pode significar que temos de fazer das tripas coração para ir ao encontro do outro”. A felicidade é um caminho construído com o outro e não há como não reconhecer que, sem o outro, nada somos. Ter misericórdia não é dar esmola, eternizando a carência do outro. É “entrar” na carência do outro até que esta se torne a nossa debilidade insuportável. Até que a carência do outro seja a nossa carência. As ‘obras de misericórdia’ indicam um percurso revolucionário – “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. As denominadas ‘obras espirituais’ agarram por dentro, encostam o indivíduo à parede. As ‘obras corporais’ exigem uma hermenêutica para o exterior, estão de saída. Diz o Papa Francisco que justiça e misericórdia são “duas dimensões duma única realidade”. A misericórdia é operativa, não é teórica. Se a misericórdia faz a (re)construção do outro, implica a justiça. Por isso não se diz, ou melhor, diz-se quando se faz, na construção ética, no exercício da justiça e da paz com um inquestionável enquadramento político e comunitário. * Jornalista Texto conjunto MissãoPress

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Fátima Missionária


FÁTIMA INFORMA

Santuário premeia fotografias sobre Fátima A melhor imagem, no conjunto das quatro categorias a concurso, será premiada com 2.500 euros. Iniciativa integra-se nas comemorações do Centenário das Aparições

Rezar pela paz

No primeiro dia do ano de 2016, terá lugar no Santuário de Fátima uma procissão eucarística pela paz no mundo. Os ofertórios deste dia vão reverter para os pobres, à exceção do das 15h00.

Conhecer a mensagem

A irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto e vice-postuladora da causa de beatificação de Lúcia de Jesus, vai orientar a 9.ª edição do Curso sobre a Mensagem de Fátima, de 8 a 10 de janeiro.

Teólogo realiza conferência

Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

O Santuário de Fátima convida os fotógrafos portugueses e estrangeiros a participar no Prémio Fotografia Centenário das Aparições de Fátima. Os interessados em concorrer podem desde já proceder ao envio dos trabalhos, fase que se prolonga até 13 de outubro de 2016. A concurso estão as categorias “Retrato Humano”, “Paisagem”, “Espiritualidade e mensagem: práticas e ritualidade” e “Fotonarrativa”, que valem um prémio de 1.000 euros cada. À melhor fotografia, no conjunto das categorias a concurso, será concedido o prémio “Fotografia do Centenário das Aparições”, com um valor total de 2.500 euros.

Pedro Valinho Gomes vai conduzir a conferência “Em vós está a fonte da vida”, dia 10 de janeiro, às 16h00, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores. A iniciativa é promovida pelo Santuário de Fátima e a entrada é livre.

Agenda

JANEIRO

DIA 16

Os trabalhos devem ser entregues na reitoria do Santuário ou via correio postal, até 31 de outubro de 2016. O júri é constituído pelos fotógrafos Fernando Guerra, Rui Ochoa, Inês d’Orey, Paulo Catrica, e José Soudo, pelo diretor do Museu do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, e pelo sacerdote e reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas.

Retiro no Seminário da Consolata – “Tive sede e deste-me de beber"

Os vencedores serão conhecidos a 4 de novembro de 2016 e os melhores trabalhos “poderão vir a integrar uma exposição e ser objeto de publicação” informam os responsáveis pela iniciativa. O regulamento pode ser consultado em fotografia. fatima.pt.

Encontro das instituições e guias que dão assistência aos peregrinos a pé

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O Brasil de hoje não só é maior do que qualquer país americano de língua espanhola como também muito mais populoso do que qualquer um deles, até do México. São 200 milhões de habitantes

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DOSSIER

UM BRASIL EM CRISE MAS AMBICIOSO PARA O BICENTENÁRIO Só em 2022 haverá a celebração dos 200 anos do Brasil como país independente, mas a verdade é que mais do que um corte abrupto com Portugal houve uma emancipação gradual, em que a própria família real portuguesa tem um papel decisivo. Assim, a chegada em 1808 do futuro Dom João VI ao Rio de Janeiro, fugindo da ocupação francesa de Lisboa, inIcia uma nova era na relação entre a metrópole e a colónia. Depois, em 1815, passa a haver o Reino Unido de Portugal e do Brasil e logo a haver igualdade entre os territórios de um lado e outro do Atlântico. Tudo culmina em 1822 com o Grito do Ipiranga, de Dom Pedro, herdeiro do trono português mas que prefere ser imperador brasileiro. O legado desta época é o gigante Brasil de hoje, em crise, mas cheio de potencial Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Fotos | LUSA

Não foi bom o ano que agora acabou para o Brasil. Com a recessão económica a instalar-se e a ameaça até de um processo de destituição da Presidente Dilma Rousseff, o gigante lusófono praticamente não assinalou uma data que é única na história das Américas e do próprio mundo: os 200 anos da elevação do Brasil a um plano de igualdade com Portugal, deixando de ser uma colónia. Ora, essa decisão inédita de um monarca europeu, o português Dom João VI, aconteceu a 16 de dezembro de 1815 e precedeu em sete anos a declaração formal de independência, feita a 7 de setembro de 1822 por Dom Pedro I do Brasil, mais tarde também Dom Pedro IV de Portugal.

Se o Brasil de hoje, apesar da dupla crise económica e institucional, é um país de dimensão continental, o quinto maior do mundo, isso deve-se em boa medida ao processo de emancipação ocorrido há dois séculos. Com as tropas napoleónicas a invadirem a Península Ibérica, a corte portuguesa decidiu em 1807 partir de Lisboa para o Rio de Janeiro. Na frota, protegida pela marinha britânica, viajaram a rainha louca Dona Maria II, o príncipe regente Dom João e o resto da família real portuguesa. Esta evitou assim o destino dos Borbón, depostos em Espanha e com a coroa a ser atribuída a José Bonaparte, irmão de Napoleão, o imperador francês.

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Dilma RoussefF tem enfrentado uma situação económica adversa, com o PIB em 2015 a ter caído cerca de três por cento

Para Portugal, seguiram-se tempos difíceis, com a população a entrar numa guerra de guerrilha contra os franceses, apoiando o exército britânico nas chamadas Guerras Peninsulares. À frente dos britânicos estavam o duque de Wellington, que em 1815, em Waterloo, na atual Bélgica, desferirá o golpe definitivo nas ambições de Napoleão, derrotado e enviado para a ilha de Santa Helena, um minúsculo pedaço de terra perdida no Atlântico sul. Para o Brasil, já então a maior e mais próspera parcela do Império Português (que incluía possessões em África, na Índia, na China e ainda Timor), foi uma época de profunda transformação. Nunca antes um monarca europeu tinha cruzado o Atlântico, nunca um império europeu tinha transferido a sua corte da metrópole para uma colónia. Com

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a chegada em 1808 do futuro Dom João VI (a coroação só ocorrerá em 1816), o Rio de Janeiro substitui Lisboa como capital da dinastia dos Bragança e o Brasil assiste a um surto de desenvolvimento único. Como que para mostrar que, sendo na Europa um anão, nas Américas Portugal era um gigante, Dom João conquista a Guiana Francesa, que depois da derrota de Napoleão será devolvida. Conquistará também o Uruguai, que o jovem Brasil independente não conseguirá, porém, manter. Com a instalação da corte em 1808, o Brasil deixa de estar submetido aos constrangimentos habituais nas colónias. No fundo, conquista a independência económica e a liberdade de comerciar. Também ganha a sua primeira universidade. E de tal modo Dom João aprecia a


terras agrícolas imensas, além do maior gado comercial do mundo (maior do que o dos Estados Unidos da América (EUA), mas não do que o da Índia, mas nesse país as vacas são sagradas, não servem de elemento de desenvolvimento económico). Ora, o Brasil do século XXI é imenso porque nunca se desagregou, ao contrário das antigas colónias espanholas, também independentes há 200 anos. Com a chegada da família real portuguesa em 1808, o fim da condição oficial de colónia em 1815 e a independência formal em 1822, foi todo um processo que afirmou o poder central contra os separatismos vários (Nordeste, Pará, Rio Grande do Sul) e manteve a coesão do território, ainda hoje com um traçado fronteiriço muito próximo do que existia no final do domínio português. sua nova capital que mesmo depois de pacificada a Europa resiste a regressar. É então que no Congresso de Viena, realizado pelas potências que derrotaram Napoleão Bonaparte, alguém questiona como pode estar um rei europeu ausente do seu reino. A solução será equiparar Portugal e Brasil, nascendo então o Reino Unido de Portugal e do Brasil, algo inédito e revelador de que a América de língua portuguesa terá um destino diferente do da de língua espanhola. O Brasil de hoje não só é maior do que qualquer país americano de língua espanhola como também muito mais populoso do que qualquer um deles, até do México. São 200 milhões de habitantes. Do ponto de vista das riquezas naturais, o país é também um colosso. Tem vastas reservas de petróleo e de minério de ferro, possui também

Dom João VI foi finalmente coroado em 1816, no Rio de Janeiro, na sequência da morte de Dona Maria I. Mas depois da Revolução Liberal em Portugal, em 1820, teve mesmo de voltar à Europa. Pressentindo que os ventos independentistas sopravam já demasiado fortes, o rei terá dito a Dom Pedro, o príncipe herdeiro nascido em Queluz, para ficar senhor do Brasil se tivesse de ser, antes ele do que os chamados bandidos, uma alusão a eventuais senhores da guerra republicanos como o venezuelano Simón Bolívar ou o argentino San Martin. E Dom Pedro, a 7 de setembro de 1822, fará mesmo o Grito do Ipiranga, esse célebre “independência ou morte”. A aconselhá-lo estava um velho brasileiro, recém-regressado de uma vida científica na Europa: José Bonifácio de Andrada, que além de grande cientista formado na Universidade de Coimbra e reputado

BRICS, BRIC OU SÓ IC? Quando em 2001 o economista britânico Jim O’Neill, da Goldman Sachs, cunhou o termo BRIC, o Brasil era presidido por Fernando Henrique Cardoso e estava finalmente a entrar no bom caminho em termos de desempenho económico. No ano a seguir, à quarta tentativa, o metalúrgico Lula da Silva foi eleito Presidente e para surpresa de todos conseguiu fazer justiça social sem afetar a economia. Assim, o Brasil, o B de BRIC (com Rússia, Índia e China a completarem a sigla), juntava-se a estes países emergentes que prometiam revolucionar a hierarquia das potências mundiais. Mais tarde, a África do Sul juntou-se ao grupo, então já formalizado e até com cimeiras anuais de líderes. Mas o fulgor dos quatro BRIC iniciais, os autênticos, já não é o mesmo. China e Índia ainda apresentam crescimentos respeitáveis (na ordem dos sete por cento do PIB) mas Brasil e Rússia, demasiado dependentes das exportações de matérias-primas, acabaram 2015 em recessão, talvez menos três por cento de crescimento cada um. Agora até O’Neill, numa entrevista à Blooomberg, já fala de repensar tudo e semioficializar os IC. Mas o economista dá até final da década para Brasil e Rússia mostrarem que a crise atual é conjuntural, não estrutural. Só então decidirá.

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UM GIGANTE EM NÚMEROS ÁREA 8,55 milhões de km2 POPULAÇÃO 200 milhões CAPITAL Brasília (Rio de Janeiro é a antiga capital, São Paulo é a capital económica) RELIGIÃO Maioria de católicos, com crescente número de evangélicos. Minorias judaica, muçulmana e de praticantes de cultos africanos ESPERANÇA DE VIDA 71anos para os homens e 77 anos para as mulheres PIB 2,3 biliões de dólares PIB POR HABITANTE 11.760 dólares MOEDA Real (1 = 0,23 euros) PRINCIPAIS EXPORTAÇÕES Produtos manufacturados, minério de ferro, café, laranjas, carne bovina

em vários países europeus, tinha liderado uma guerrilha de professores e estudantes contra os franceses. Será preciso esperar por 1825 para Dom João VI reconhecer a independência do Brasil (os EUA foram pioneiros a reconhecer o novo país, em 1824), mas o próprio rei sabia que tinham sido os acasos da história e a sua própria figura que tinham propiciado a separação, apesar de tudo muito menos sangrenta e traumática do que a ocorrida nas Américas espanholas. E a dinastia dos Bragança, graças a Dom Pedro, assegurará ainda durante décadas que tanto Brasil como Portugal ficam sob a sua liderança. O imperador brasileiro abdica para o filho, Dom Pedro II do Brasil, e para a filha, Dona Maria II de Portugal. A monarquia só acabará no Brasil em 1889 (com o derrube de um idoso Dom Pedro II), em Portugal sobreviverá até 1910 (quando é derrubado Dom Manuel II, bisneto de Dona Maria II). Quando se torna uma república em 1889, afinal a forma de governo habitual nas Américas, o Brasil

é já um país consolidado. Dilma Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, é assim a 36.a Presidente do Brasil e encabeça aquela que, apesar dos problemas, é a sétima economia mundial. E que poderá em 2022, quando celebrar o bicenentenário do Grito do Ipiranga,

DATAS PARA PERCEBER O BRASIL 1500 DESCOBERTA PELO PORTUGUÊS PEDRO ÁLVARES CABRAL

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1549

1565

FUNDAÇÃO DO FUNDAÇÃO DE SALVADOR RIO DE JANEIRO E EXPULSÃO DOS DA BAHIA COLONIZADORES FRANCESES

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1654

1789

1808

1815

1822

EXPULSÃO DOS HOLANDESES DO NORDESTE

INCONFIDÊNCIA MINEIRA. REVOLTA CONTRA PORTUGAL ESMAGADA

FAMÍLIA REAL PORTUGUESA INSTALA SE NO RIO DE JANEIRO

CRIAÇÃO DO REINO UNIDO DE PORTUGAL E DO BRASIL

DOM PEDRO I DECLARA A INDEPENDÊNCIA


último ano da presidência deste o Brasil cresceu 7,5 por cento. Mas pior para Dilma Rousseff, e para o Brasil, é o constante surgimento de escândalos de corrupção, como o recente Lavajato, que mancha a elite empresarial mas também a classe política. Os críticos da Presidente querem destitui-la, sem provas concretas de algum abuso.

estar ainda mais acima, basta o país cumprir todo o seu potencial. Sucessor de um Presidente extremamente popular, Dilma Rousseff tem enfrentado uma situação económica adversa, com o PIB em 2015 a ter caído cerca de três por

cento, o que resulta em boa parte do abrandamento do crescimento chinês (a China é grande importador de matérias-primas brasileiras) e da quebra do preço do barril de petróleo. As comparações com o patrono Lula da Silva tendem a ser más para a atual Chefe do Estado, até porque no

Dois séculos depois do processo de emancipação gerado pela família real portuguesa, há ainda quem aponte culpas dos problemas passados à colonização portuguesa. E não falta mesmo quem refira que teria sido melhor a colonização holandesa (tentaram no século XVII no Nordeste, mas foram expulsos por tropas luso-brasileiras). Para quem conhece bem a história, e a atualidade, é uma ideia absurda e injusta. A colonização holandesa na América do Sul produziu o Suriname, país que de forma alguma se pode comparar em poder e potencial ao Brasil, mesmo ao que agora, em plena crise, pouco entusiasmo teve para celebrar os 200 anos do reino unido. * jornalista do DN

1831

1888

1889

1960

1984

2002

2010

DOM PEDRO II IMPERADOR

ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA, COM DEODORO DA FONSECA COMO PRIMEIRO PRESIDENTE

CRIAÇÃO DE BRASÍLIA, NOVA CAPITAL

REGRESSO DO BRASIL À DEMOCRACIA, APÓS DUAS DÉCADAS DE REGIME MILITAR

O METALÚRGICO LULA DA SILVA É ELEITO PRESIDENTE

BRASIL CRESCE 7,5 POR CENTO, CHEGA A SER A SEXTA ECONOMIA MUNDIAL, MAS BAIXA PARA SÉTIMA

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Povo indígena símbolo de resistência As organizações de defesa dos povos indígenas não têm dúvidas: a história dos índios do Brasil “tem sido marcada pela brutalidade, escravidão, violência, doenças e genocídio”. Milhares de comunidades foram dizimadas e chegou a temer-se a extinção total. Muitas recuperaram mas continuam a lutar pela posse da terra Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | LUSA

O episódio ficou conhecido como o “Massacre do Paralelo 11” e figura nos anais do passado como uma das agressões mais horrendas contra os povos indígenas do Brasil. Corria o ano de 1960, estava a corrida à borracha no seu auge, quando um importante seringueiro decidiu abrir caminho aos exploradores, dizimando cerca de 3.500 membros da tribo Cinta Larga. Num relatório com mais de 7.000 páginas, onde estão compilados inúmeros casos de assassinatos em massa, tortura, escravidão, guerra bacteriológica, abuso sexual, roubo de terras e

de negligência contra os povos indígenas, conta-se que várias barras de dinamite foram lançadas de um pequeno avião sobre a aldeia dos Cinta Larga, matando dezenas de indígenas. Mais tarde, índios desta tribo foram presenteados com alimentos envenenados com arsénio, e as crianças receberam brinquedos contaminados com vírus da gripe, sarampo e varíola. Os que sobreviveram a esta série de ataques foram eliminados a tiros de metralhadora. Este caso, assim como muitos outros descritos no documento divulgado

em 1967, teve grande eco a nível internacional, fez rolar cabeças nas estruturas governamentais ligadas aos povos indígenas, e contribuiu para o aparecimento de organizações de apoio às comunidades índias. Hoje, há mais de 200, mas nem assim os indígenas brasileiros podem respirar de alívio em relação ao seu futuro. “O Brasil tem planos agressivos para desenvolver e industrializar a Amazónia e até os territórios mais remotos estão sob ameaça. Vários complexos de barragens hidroelétricas estão a ser

Cinco séculos de extermínio Quando os primeiros colonos europeus chegaram ao Brasil, em 1500, estima-se que existiam no território cerca de 11 milhões de índios, espalhados por 2.000 tribos. No primeiro século de contacto, 90 por cento foram exterminados pelas doenças importadas, como a gripe, o sarampo e a varíola. Nos séculos seguintes, milhares morreram vítimas de escravidão nas plantações de cana de açúcar e borracha, ou foram assassinados por seringueiros, madeireiros, garimpeiros e fazendeiros sem escrúpulos. O extermínio foi de tal forma acentuado, que na década 20

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de 1950, o conhecido antropólogo Darcy Ribeiro chegou a prever que não sobreviveria nenhum índio, até 1980. A previsão não se confirmou, mas muitas tribos têm desaparecido e outras vivem grandes problemas de perda de identidade, devido ao contacto com os não índios. Atualmente calcula que há 240 tribos no Brasil, totalizando cerca de 900 mil pessoas. O governo já reconheceu 690 territórios como zonas indígenas, que abrangem 13 por cento do território brasileiro. A quase totalidade destas terras (98,5 por cento) encontra-se na Amazónia.


Grande parte da sociedade brasileira partilha da opinião que os povos indígenas não têm lugar nos espaços geográficos, políticos, económicos e sociais do país

Muitos Guarani cometem suicídio em desespero com a falta de qualquer perspetiva de futuro”.

construídos perto de tribos isoladas, que irão privar milhares de índios da terra, água e meios de subsistência. As barragens irão fornecer energia barata para as empresas de exploração mineira, que estão prestes a realizar a mineração em grande escala nas terras indígenas se o Congresso aprovar um projeto de lei”, defendido com ‘unhas e dentes’ pelo ‘lobby’ da mineração, alerta a Survival Internacional, uma plataforma de defesa dos direitos indígenas, com sede em Londres. Segundo o diretor da organização, Stephen Corry, muitas tribos do sul do país, como os Guarani, vivem em condições desumanas sob barracas de lona em bermas de estradas. “Os seus líderes são sistematicamente atacados e mortos por milícias privadas de pistoleiros contratados pelos fazendeiros para evitar que eles ocupem sua terra ancestral.

“A intolerância, a ganância e o preconceito, combinados com a omissão e negligência do governo federal, continuam a motivar e acentuar as agressões contra os povos indígenas"

“O governo de Dilma Rousseff foi um dos que demarcou menos terras indígenas. E as políticas criadas só têm servido para atrapalhar e criar dificuldades, colocando em causa os direitos adquiridos pelos povos indígenas. No estado de Roraima, onde trabalho, as terras por demarcar continuam em suspenso, e as já demarcadas estão ameaçadas pelo poder político, pelo agro-negócio, pelos mineradores e pelos garimpeiros”, afirma, por sua vez, o missionário da Consolata português, André Ribeiro, acrescentando que até a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), criada para proteger os indígenas, quase “não tem poder e apenas existe no papel”. Perante estes dados, os dirigentes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), um organismo tutelado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançam duras críticas em relação à forma como têm sido encaradas as comunidades indígenas: “A intolerância, a ganância e o preconceito, combinados com a omissão e negligência do governo federal, continuam a motivar e acentuar as agressões contra os povos indígenas, condenando-os a uma violência quotidiana. Nega-se, neste contexto, a vida. Negam-se os direitos e estimula-se uma falaciosa ideia de que os povos indígenas não têm lugar nos espaços geográficos, políticos, económicos, culturais e sociais do país”.

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mãos à obra

Recuperar autoestima das mulheres com ações de formação e microcrédito

cursos de formação nas áreas da informática, estética, corte e costura, artesanato, cozinha e atividades hortícolas para 378 mulheres, residentes na cidade de Kinshasa e na província de Isiro. As da zona urbana, sofriam as consequências da urbanização maciça e descontrolada, que as tinham atirado para uma situação precária, onde as relações sociais praticamente não existiam e o objetivo de vida principal passava pela sobrevivência individual. As que viviam em meio rural, na zona oriental do país, tentavam ainda recuperar do trauma da violência e da insegurança, gerado pelo conflito sangrento de 1997-2002, ainda latente, e que deixou marcas profundas na dinâmica social da comunidade.

Marcadas pelo trauma da violência e da insegurança de um conflito sangrento que ainda não está completamente resolvido, centenas de mulheres da República Democrática do Congo reencontraram o caminho através de um projeto de formação básica e profissional Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

Umas eram mães solteiras, outras viviam em comunidades suburbanas desestruturadas, em que o único objetivo de vida era lutar pela sobrevivência individual. E todas necessitavam de passar por um processo de formação que as ajudasse a recuperar a autoestima, a aprender uma profissão e a ganhar conhecimentos que lhes permitissem 22

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melhorar a situação económica pessoal e familiar. Mais de 300 conseguiram alcançar estes objetivos, através de um projeto lançado pelos missionários da Consolata na República Democrática do Congo (RDC). Com o apoio dos municípios de Roma e Turim (Itália), foi possível promover

Para todas, além das aulas de especialização profissional, foram criados programas de aquisição de competências para a vida, de capacitação e treino, onde entraram matérias relacionadas com os direitos das mulheres ou com a necessidade de adotarem formas de vida equilibradas e saudáveis, para evitar, por exemplo, possíveis infeções com o vírus HIV/Sida. No final das ações de formação, cerca de uma centena de formandas teve ainda acesso a um fundo rotativo de microcrédito, através do qual puderam dar início a uma atividade profissional, conquistar a independência económica e garantir o reforço do rendimento familiar. Os missionários da Consolata estão presentes na RDC desde os anos 1970.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | ARQUIVO

Neste Ano Jubilar da Misericórdia vamos viajar com os leitores pelos nossos arquivos, sabendo que as imagens falam mais do que os textos. A misericórdia vista pelo ângulo dos missionários tem muitos rostos. Os de todas as pessoas que eles ou elas promoveram: na escola, na catequese, na saúde, na família. A evangelização, como força libertadora e promotora de desenvolvimento, começa pela elevação integral da pessoa para que cresça na cultura, na fé, na dignidade, no trabalho. E seja sobretudo mais feliz. O serviço escondido da irmã missionária mais tarde ou mais cedo dará os seus frutos.

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# gente nova em missão jubileu

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Olá amiguinhos missionários, já chegámos a janeiro. Que tal a vossa jornada Advento/Natal? Esperamos que tenha sido uma ótima oportunidade de deixarem entrar Jesus nas vossas casas! Mas novidades não faltam e como vocês já leram aqui no mês passado, o nosso querido Papa Francisco decidiu instituir um Jubileu Extraordinário para este ano, o Jubileu da Misericórdia, que teve início a 8 de dezembro. Ora esta é uma excelente oportunidade para falarmos sobre um tema muito querido para os catequistas, as obras de misericórdia, corporais e espirituais, que são ótimas guias para o nosso caminho missionário Texto | ÂNGELA E RUI ilustração | david oliveira

Misericórdia

No dicionário: “subst. f. piedade, caridade”. O Papa Francisco pede-nos muitas vezes para que a Igreja (nós) trilhe este caminho de testemunho da misericórdia. Segundo ele, “ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus” e a Igreja “é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém”.

Obras de misericórdia espirituais

Ensinar aos que não sabem Dar bons conselhos aos que precisam Corrigir os que erram Perdoar as ofensas Consolar os que choram Suportar com paciência os defeitos dos outros Rezar pelos vivos e pelos mortos.

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Obras de misericórdia corporais

Visitar os doentes Dar comida aos que têm fome Dar de beber a quem tem sede Visitar os presos Dar roupa aos que não têm o que vestir Dar abrigo ao peregrino Enterrar os mortos.

Se fizerem uma séria reflexão sobre estas catorze tarefas, verão que umas são ligeiramente mais difíceis que outras, embora seja na nossa vida rotineira que podemos aplicá-las. Se cada um de nós o fizer na família, no emprego, na escola, na catequese ou até numa saída ao shopping, a luz de Jesus dentro de nós brilhará com mais força aos olhos de todos. Aproveitem este convite do nosso Papa para durante este ano trabalhar uma obra de cada vez, por semana, e planeiem cumpri-la ou, em caso de não ser possível, ler algo sobre a mesma. Assinalem-no no vosso canto de oração e quando terminarem façam uma avaliação. Enviem-nos o vosso resultado, com textos ou desenhos ou, se quiserem, façam-no na catequese e peçam ao vosso catequista para nos enviar e depois poderemos partilhar aqui na revista.


MOMENTO DE ORAÇÃO

Sabias que As obras de misericórdia estão escritas no Evangelho? Repara: "«Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede e te servimos, doente ou na prisão e te visitámos, peregrino ou estrangeiro e te acolhemos?». E o Rei responderá: «Sempre que fizestes estas coisas a um dos meus irmãos, a Mim o fizestes»" (Mt 25, 37-40).

Amigo Jesus Esta luz que há em mim desde o meu batismo Não se apagará Sempre que em Teu Nome uma obra de misericórdia fizer É tão fácil, mas neste mundo cada vez mais egoísta e individualista Parecem querer calar a Tua voz Mas eu sou forte porque Tu vives em mim Voltaste a nascer em mim há poucos dias E eu sou feliz O caminho é este, Tu nos conduzes E misericordioso, nos esperas no atalho quando nos perdemos A Tua misericórdia é infinita, és o Meu melhor Amigo. Ámen Pai-Nosso… Glória…

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TEMPO JOVEM

O DOM DA PARTILHA Texto | ÁLVARO PACHECO Fotos | ANDRÉ SANTOS E FP

O NOSSO MUNDO PRECISA, CREIO QUE MAIS DO QUE NUNCA, DE GENTE QUE QUER PARTILHAR O QUE É E O QUE TEM, SEGUNDO A METODOLOGIA, ESTILO E AUTENTICIDADE DE CRISTO

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Jesus era famoso não só pelos discursos fabulosos e emocionantes, por vezes chocantes e desconcertantes, como pelos seus milagres e encontros com várias pessoas, desde líderes religiosos a pessoas comuns Um dos encontros mais marcantes e certamente inesquecíveis para os discípulos foi o que tiveram com Ele após a sua ressurreição, no qual lhes fez uma tríplice oferta: o dom da paz, o dom do Espírito Santo e o dom da missão. De certo modo, Ele concluiu o dom da entrega de Si mesmo, a qual ficou registada no sacramento da Eucaristia como memorial do mistério da sua paixão, morte e ressurreição, mistério que constitui o núcleo da nossa fé cristã. Estes três dons são parte do seu “testamento”, que recebemos precisamente quando celebramos a Eucaristia. Como tal, a Eucaristia torna-se a oração mais completa que podemos partilhar como seus irmãos e irmãs, amigos e discípulos. Nela, ouvimos a Palavra após nos reconciliarmos com Deus através do seu perdão; depois entramos em comunhão profunda ao recebermos o Corpo de Cristo, que se entrega mais uma vez a cada um de nós para se tornar um connosco. Como tal, a Eucaristia é o ponto de partida e o de chegada da missão que Jesus entregou a cada um de nós. Desta missão faz então parte a partilha que fazemos com o próximo do que somos e temos. E todos temos muito para dar e receber no contexto desta partilha. Acredito que esta partilha, quando feita com profundidade, quando envolta em humildade e marcada pela gratuidade, dá não só sentido à vida como à presença de Deus em cada um de nós. Por outras palavras, quando assumimos verdadeiramente a nossa identidade de cristãos, ou seja, pessoas que se identificam com Cristo, estamos a viver plenamente o dom da vida, da fé e da nossa vocação cristã e missionária. Como chegar a esta partilha? Antes de mais, creio que ela tem início na paixão ou enamoramento por Deus e por todos aqueles que Ele vai colocando a nosso lado ou na nossa estrada da vida. Como não podemos amar o que não conhecemos, é fundamental crescer na dimensão do conhecimento do coração e da mente de Deus, seja através da prática da nossa vida cristã, seja através de uma leitura atenta dos sinais do tempo e da presença de Deus na nossa vida. De facto, muitas vezes Ele manifesta-se na nossa vida através de pessoas, eventos ou momentos que nos parecem banais ou habituais,

Uma das formas de partilha de vida que Jesus ofereceu aos seus discípulos foi a de colocarem a sua vida ao serviço da missão e do Evangelho, entendendo por Evangelho a própria pessoa de Cristo

tanto que é frequente darmos por descontado o amor e a presença dos outros sem nos darmos conta de que Ele está presente e ativo também neles e através deles. Como tal, valorizar o outro é ser consciente da presença de Deus nessa pessoa. Pessoalmente, sempre me esforcei por não dar por descontado muita coisa, sobretudo muitas pessoas, porque por vezes é quando menos esperamos que Deus nos revela o seu amor e presença. Por isso, não costumo pedir nada para mim quando rezo, por exemplo, de modo a deixar que Deus me surpreenda. E Ele surpreende-me de muitas maneiras, convidando-me a uma partilha contínua e sempre mais profunda com aqueles que coloca na minha vida, através da missão que me confiou e que renova diariamente. Neste contexto, partilhar tem não só um sentido, como se revela cada vez mais um desafio apaixonante, mesmo que nem sempre possível ou bem feito. Uma das formas de partilha de vida que Jesus ofereceu aos seus discípulos foi a de colocarem a sua vida ao serviço da missão e do Evangelho, entendendo por Evangelho a própria pessoa de Cristo. Por outras palavras, Jesus entrega-lhes a mesma missão que recebeu do Pai. O nosso mundo precisa, creio que mais do que nunca, de gente que quer partilhar o que é e o que tem, segundo a metodologia, estilo e autenticidade de Cristo. Como tal, ele continua chamando e convidando jovens para que o conheçam, o amem, o sigam e o testemunhem. Como dizia alguém, “o nosso mundo precisa de discípulos, porque de mestres estamos fartos”. Claro, para nós o Mestre é só um, mas os seus discípulos são ainda insuficientes para satisfazer a fome de tantos no mundo, fome de sentido para a vida, de caminhos para a felicidade e de modos de partilha intensa e verdadeira. Junta-te a nós!

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SEMENTES DO REINO

NO INÍCIO ERA A PALAVRA Texto | PATRICK SILVA Foto | ANA PAULA

Ao começar o novo ano é bom saber que desde o início contamos com a presença de Deus. Este Deus que era desde o início e que se fez pessoa em Jesus, seu Filho, para nos dar a possibilidade de também nós sermos seus filhos. Ao mando da Palavra tudo teve início, desde a terra, o mar e o céu, mas sobretudo o ser humano. Esta Palavra continua hoje a sua missão criadora, “recriando” quem a escuta para se tornar cada vez mais imagem e semelhança de Deus.

esta Palavra, é comunicação, é dom. Deus fala e o Filho escuta, numa verdadeira relação de amor. Assim, cada pessoa é convidada a escutar este Deus que fala para que a relação de amor possa ser completada.

Leio a Palavra

Vivo a Palavra

Jo 1, 1-18 Este prólogo apresenta a protagonista do Evangelho: a Palavra. O texto é um hino à Palavra. Era, provavelmente, um texto anterior que o evangelista adaptou e incorporou no início do seu Evangelho. São aqui apresentados os temas principais: a vida, a luz, o acolhimento, o testemunho, a graça, a plenitude, a visão da glória, o tornar-se filhos de Deus. Trata-se de um texto carregado de significado, muito rico, mas difícil de explicar.

Saboreio a Palavra

O Evangelho é a apresentação desta Palavra que se faz carne em Jesus. Encontrar e aderir a Jesus é encontrar e aderir à Palavra, que fez o mundo. Ou seja, aderir a Jesus é encontrar a plenitude da vida e da felicidade que a pessoa deseja. No início era a Palavra, mas o que é a Palavra? O termo “palavra” deriva do latim “parabola”, que quer dizer “deitar fora”. A pessoa ao falar, “deita fora”, expõe-se, propõe-se, doa-se ao outro para que possa ser acolhida, para que possa dialogar. Deus é 28

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Rezo a Palavra

Reze com o Salmo 119 (118), onde o salmista reconhece que a lâmpada para os seus passos é a Palavra, a luz que ilumina a sua vida. Deixe que esta luz ilumine toda a sua vida. A Palavra é a origem de tudo, através dessa aconteceu a criação.

Do mesmo modo, cada vez que se acolhe a Palavra é um novo momento de “criação” que acontece, ou talvez melhor de “re-criação”. Acolher a Palavra é aceitar modelar a própria vida a esta Palavra, para se tornar mais imagem e semelhança de Deus. Não acolher a Palavra significa não querer a luz para os próprios passos, é permanecer nas trevas. Porque é a Palavra que ilumina o caminho que leva à plenitude da vida, isto é, à felicidade. Neste início de ano, coloque como propósito escutar e acolher a Palavra na sua vida.

NESTE INÍCIO DE ANO, COLOQUE COMO PROPÓSITO ESCUTAR E ACOLHER A PALAVRA NA SUA VIDA


A palavra faz-se missão

JANEIRO

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Santa Maria, Mãe de Deus Nm 6, 22-27; Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21

Dai-nos a Paz A paz constrói-se com o diálogo entre os povos e com a prática da justiça. Para os cristãos, para além de ser uma missão exigente e permanente de anunciar o Evangelho, ela é um dom a pedir constantemente ao nosso Deus.

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2º Domingo Comum Is 62, 1-5; 1Cor 12, 4-11; Jo 2, 1-11

“Fazei tudo o que Ele vos disser” A imagem do vinho, genuíno e abundante, exprime a riqueza do dom de Deus e a alegria que Ele suscita no coração dos homens. Jesus veio transformar a pobreza da nossa água no vinho novo da sua vida. Para transformar os corações, renovar e fortalecer o nosso mundo.

Abençoa, ó Mãe, este novo ano para que o vivamos na paz.

Ajuda-nos, ó Mãe, a cumprir sempre a Palavra de Jesus em cada momento da nossa vida.

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Epifania do Senhor Is 60, 1-6; Ef 3, 2-6; Mt 2, 1-12

O Natal dos povos

A epifania é o mistério do Natal que se revela a todos os povos. Ninguém o pode ignorar. Com os Magos caminhamos todos para Belém. Quem procura o rosto de Deus e o adora, encontra a estrela que o guia pelos caminhos da vida.

3º Domingo Comum Ne 8, 2-10; 1Cor 12, 12-30; Lc 1, 1-4; 4, 14-21

O “hoje” de Deus

“Hoje cumpriu-se esta Palavra”, disse Jesus. É Ele, Jesus, a Palavra de Deus dita à humanidade, que se cumpre em cada seu gesto e em cada gesto da Igreja. É Ele o caminho, a verdade e a vida. É Ele o “hoje” da nossa conversão e da sua presença no meio de nós.

Chama para Ti, Senhor, as multidões que Te ignoram.

Eu sei, Senhor, que o momento presente é o tesouro que me confias todas as manhãs.

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Batismo do Senhor Is 40, 1-11; Tit 2, 11-14; 3, 4-7; Lc 3, 15-22

A sua e a nossa missão

No batismo de Jesus, ouve-se a voz do Pai que O confirma na sua missão, por meio do Espírito Santo. Na sua está a nossa. Como filhos no Filho, também nós somos imensamente amados pelo Pai e recebemos o encargo de ser luz no mundo.

Na tua força, Espírito Divino, revelamos ao mundo os mistérios da salvação.

4º Domingo Comum Jer 1, 4-19; 1Cor 12, 31-13, 13; Lc 4, 21-30

Ser profeta hoje

Em Nazaré, as pessoas refutam Jesus, porque pedia uma mudança radical de vida. Hoje, também eu sou convidado a ser profeta, isto é, a testemunhar o Evangelho com a vida e a palavra, em todas as situações: família, trabalho, escola, conversas, compromissos.

Dá-nos, Senhor, coerência de vida, no testemunho de cada dia. DV

intenção pela evangelização Para que, através do diálogo e da caridade fraterna, com a graça do Espírito Santo, sejam superadas as divisões entre os cristãos

Superar divisões É um facto. Os cristãos continuam divididos. É verdade que se têm dado passos enormes na aproximação das várias confissões cristãs, sobretudo entre católicos, ortodoxos e anglicanos. Mas ainda estamos longe daquilo que Jesus pediu na Última Ceia: “Que todos sejam um, ó Pai, como Nós somos um” (Jo 17, 22). Cada família traz a marca dos pais. O sonho mais belo de Deus, nosso Pai, é que vivamos unidos, porque Deus é amor em si mesmo, na reciprocidade do dom e da comunhão que existe entre cada uma das três divinas pessoas. E quando Deus criou a humanidade, Ele a modelou à sua imagem e semelhança, imprimindo nela a sua própria capacidade de relação. Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Se é esse o sonho de Deus, queremos que seja também o nosso sonho e a nossa vontade: construir a unidade. Na escuta, na atenção ao outro, na partilha das suas dores ou alegrias. A começar por nós, pela nossa família, pela nossa comunidade cristã, evitando tensões, discórdias, incompreensões ou desavenças. DV

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LEITORES ATENTOS

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Se tem dúvidas sobre a missão, a religião ou a Igreja, envie-nos a sua pergunta por correio ou para o endereço eletrónico redacao@fatimamissionaria.pt Teremos todo o gosto em responder.

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Fátima Missionária

Interesso-me pelos projetos e apelos lançados na vossa revista. Mas faço uma pergunta: será que os dinheiros que recolhem vão mesmo parar às mãos dos interessados? Como é que podemos saber? Ângelo Ferreira – Lisboa

A pergunta é pertinente. Mas vou responder. Antes de mais, a soma recolhida é pública. Basta ver os resultados na página aqui mesmo ao lado, na rubrica Gestos de Partilha. Mas tem razão. Não é suficiente que sejam publicitados, o que importa é que cheguem ao lugar para onde as pessoas os destinaram. Disso se encarrega o nosso administrador, enviando para lá, ao fim do ano, a soma atingida. É o que vamos fazer logo que se feche o projeto de 2015 de apoio às crianças irã, da Casa de Bambaran, em Bissau. Por vezes, e devia ser sempre assim, recebemos a confirmação da soma recebida da parte das pessoas interessadas. Ou por carta ou pelo envio de uma fotografia da obra realizada ou do projeto a realizar. É claro que isso leva o seu tempo. Não se constrói uma obra do pé para a mão. Mas confie em nós, que disso temos larga experiência. E, se puder, faça publicidade do novo projeto que já lançámos para o ano 2016: a construção de uma escola pré-primária na aldeia de Mkindi, Morogoro, na Tanzânia. DV

Para as crianças irã Caros irmãos da Consolata, um grupo de alunos de Teologia da Universidade Sénior de Valongo contribuiu com a soma de 60 € para ajudar a vossa tão meritória obra da Casa de Bambaran, na Guiné-Bissau. Aguardo o próximo ano letivo para angariar mais. Agradecia que enviassem uma carta a comprovar que o dinheiro vos foi enviado. Rosalina Machado Correia

Um gesto de carinho Venho comunicar que a revista enviada pela vossa grandiosa obra para o nosso endereço deverá ser remetida para o meu nome. Ela chega até nós com o nome de Manuel Castro Sousa, meu tio, que frequentou o vosso seminário na sua juventude. Entretanto casou e mudou de residência. A sua mãe e minha avó materna recebeu-a sempre na sua morada e colaborava convosco dentro das suas possibilidades em nome do seu filho Manuel. Lúcida, com 89 anos, faleceu em nossa casa a 5.08.2015. Era seu gosto que alguém um dia ficasse em seu lugar. Eu gostaria de a substituir, como gesto de carinho, assinando a Fátima Missionária. Andreia Nogueira Oliveira


gestos de partilha

Apoie os nossos projetos e ajude-nos a concretizá-los Quero ir à escola Os Missionários da Consolata estão a apoiar o projeto destas 700 famílias de Mkindu, na Tanzânia e lançam um apelo: Warda Baththromeo 7 anos

ajudas-me? Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Quero ir à escola” Rua Francisco Marto, 52 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

Ajudem a construir a escola para crianças de Mkindu tijolo 1,00€ saco de cimento 5,00€ balde de tinta 10,00€ mesa + banco 25,00€ porta 50,00€

Crianças de Mkindu – Tanzânia Bárbara Silva 20,00€; Anónimo 93,00€; Celeste Portela 50,00€; Alzira Lajes 84,00€; João Almeida 10,00€; Maria Neto 5,00€; José Neto 5,00€; José Tralhão 20,00€; Albino Ferreira 30,00€; Conceição Gameiro 10,00€; Arminda Vieira 10,00€; Albano Costa 25,00€; Deonilde Silva 5,00€; Anónimo 200,00€; Armanda Azevedo 2,50€; Catarina Silva 25,00€; Maria Jesus 50,00€; Manuel Calvário 13,00€; Anónimo 3,00€; Maria Ferreira 250,00€; Irene Cardoso 50,00€; Joaquim Almeida 25,00€; Maria Pereira 100,00€; Adélia Andrade 50,00€; Piedade Duarte 10,00€; José Santos 50,00€; José Mendes 79,00€; Alberto Tavares 25,00€; Fernanda Januário 1.000,00€; José Dias 25,00€; António Garcia 25,00€; Ramiro Avelar 18,00€; Rui Ferreira 50,00€; Ana Fernandes 20,00€; Cecília Silva 50,00€; José Jorge 10,00€; Álvaro Laranjo 25,00€; Eduardo Soares 30,00€; Anónimo 20,00€; Ilídio Vasconcelos 50,00€. Total geral = 2.622,50€. Crianças Irã Equipa de Nossa Senhora (Sintra 4) 240,00€; João Almeida 5,13€; Emília Fernandes 23,00€; Teresa Rosa 20,00€; Manuela Costa 10,00€; Anónimo (Fiães) 130,00€; Lurdes Jordão 10,50€; Odília Teixeira 200,00€; Pedro Oliveira 10,00€; José Tereso 10,00€; Maria Figueiredo 4,00€; Domingos Ferreira 10,00€; Cláudia Conceição 10,00€; Solange Maximiano 56,00€; Rosa Costa 30,00€; Fátima Matias 10,00€; Cristiano Faria 100,00€; Maria Fernandes 50,00€; Lurdes Pereira 100,00€; Júlia Mateus 50,00€; Rosa Santos 6,00€; Anónimo de Taboeira 10,00€; António Garcia 13,00€; António Ribeiro 50,00€; Conceição Branquinho 53,00€; Cristiano Faria 100,00€; Anónimo 12,00€; Emília Sequeira 10,00€; Anónimo 20,00€; Isabel Vieira 20,00€; Maria Carmo Curado 450,00€; José Neves 30,00€; Lídia Marto 13,00€; Luís Fontes 25,00€; Maria Aguiar 20,00€; Bárbara Silva 10,00€; Conceição Policarpo 30,00€; Dulce Jorge 13,00€; Anónimo 50,00€; Fátima Matias 20,00; Fátima Pereira 100,00€; Fátima Madeira 30,00€; Fernanda Silva 5,00€; Helena Barros 120,00€; Isabel Figueiredo 500,00€; Maria Moreira 25,00€; Lurdes Silva 5,00€; Manuela Costa 10,00€; Sofia Vicente 50,00€; Anónimo 100,00€; Piedade Pombal 10,00€; Anónimo 20,00€; Zélia Alarico 20,00€; Ofertas entregues na Consolata – Hotel 293,53€; Ofertas entregues na Consolata – Loja 200,16€; Ofertas entregues na Consolata – Museu 126,23€; Mulheres Missionárias da Consolata – Fátima 616,18€. Bolsas de Estudo Deolinda Pinto 8,00€; Anónimo (Fiães) 250,00€; Maria Incenso Correia 250,00€; Anónimo (Loureira) 250,00€; Raquel Oliveira 250,00€; Deolinda Pinto 25,00€; Conceição Portela 100,00€; Anónimo 250,00€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

padre Roberto Rezac

Um rosto onde bailava a vida Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

É difícil esquecer o rosto sorridente do padre Roberto Rezac com quem vivi seis anos nos Estados Unidos da América (EUA). Aquela serenidade tão cristãmente humana era o bafo duma alma simples em quem a graça borbulhava jatos de vida que penetravam os corações mais duros. Muita experiência tinha ele ao entrar para os Missionários da Consolata aos 32 anos. O Bob, como lhe chamávamos, licenciou-se em filosofia e literatura clássica e doutorou-se em economia e psicologia. Experiências de trabalho: foi membro do Corpo de Marinheiros dos EUA; professor civil de eletrónica numa base militar; professor de matemática, inglês e latim em centros de estudos superiores; acompanhante psicológico numa prisão para jovens; diretor duma escola; diretor dum clube com 32

Fátima Missionária

1.200 membros; e agente comercial duma companhia de aspiradores. Finalmente teologia no Seminário dos Missionários da Consolata, onde foi ordenado sacerdote em 1977. O missionário que o acompanhou na sua preparação, assim o descreveu: “O Bob é sincero, honesto e tem muita maturidade humana. Grande sentido de responsabilidade, de iniciativa e de colaboração. Perito em relações humanas, inteligente e muito capaz de ler o íntimo das pessoas. Profunda vida de oração pessoal e comunitária. Grande espírito apostólico. Coerente na prática da vida religiosa. Muito positiva a sua presença em qualquer comunidade”. Os primeiros 15 anos de vida apostólica foram passados na animação missionária e vocacional. Finalmente o seu sonho concretizou-se

quando em 1992 foi enviado para o Quénia como professor no Seminário de Nkubu. Mas muito gostou do seu trabalho na zona árida, e por vezes perigosa, de Marsabit, em Maralal onde, dizia, aprendeu mais do que ensinou. Aos superiores declarava-se disposto a qualquer trabalho que lhe pedissem. Em 2002 está de volta aos EUA. Eleito Superior Provincial em 2011, foi fulminado por um enfarte, seguido de hemorragia cerebral, três meses mais tarde: uma surpresa triste para todos e uma perda considerável para o Instituto. Nada mais resta a dizer exceto agradecer ao Senhor e à Virgem Consolata o dom que fizeram ao Instituto deixando-nos por um tempo absorver a beleza humana e espiritual do irmão bem-amado que foi para nós o padre Bob Rezac.


O QUE SE ESCREVE

As Obras de A Igreja em diálogo Misericórdia com o mundo Corporais e É um conjunto de Espirituais reflexões escritas Jubileu da por João Lavrador, Misericórdia atual bispo coadjutor 2015-2016 dos Açores, na Voz

Celebrar e praticar a misericórdia Subsídios para viver o Ano Jubilar da Misericórdia Vai felizmente aparecendo muito material alusivo ao Ano da Misericórdia: um tema atualíssimo, porque sempre existiu e existirá no coração de Deus, porque o mundo o requer e porque o Papa Francisco o colocou no lugar que merece. O jesuíta Manuel Morujão foi muito feliz na proposta que nos oferece. Diz ele na apresentação: “Redigir este livro sobre a misericórdia foi um trabalho que fiz com devoção. Mais do que trabalho, foi um mergulho neste oceano imenso que é o amor que Deus me tem, que enternecidamente devota a cada um dos habitantes do universo”. É um instrumento precioso para conhecer e celebrar devidamente este Ano Santo da Misericórdia. Autor: Manuel Morujão 264 páginas | preço: 12,00 € Editorial A.O.

Cristo identificou-se com quem tem fome ou sede, não tem roupa ou é peregrino, está doente ou na prisão, com quem tem dúvidas ou está aflito e necessita de ajuda e de consolação para não cair na angústia. São gestos de solidariedade humana que divinizam quem os cumpre. No Jubileu da Misericórdia, os cristãos são chamados a cuidar destas feridas, aliviando-as com o óleo da consolação e da esperança. Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 110 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

Portucalense. “Preside à elaboração dos textos o desejo de ajudar o leitor a ser protagonista da evangelização mais do que seu destinatário, interventor num mundo em mudança mais do que recetor da mudança do mundo, comprometido com a missão da Igreja mais do que espectador passivo do que diariamente acontece”, escreve no prefácio António Francisco dos Santos, bispo do Porto. É de ler, porque é doutrina segura e proposta eficaz.

Dou-te a minha palavra

Os infinitos do amor 53 reflexões

Lopes Morgado, franciscano capuchinho, padre jornalista, diretor da revista “Bíblica” durante 25 anos, colaborador na RTP, RR, RDP2, TSF, e em numerosos jornais, é também poeta. Diz ele: “A minha poesia é uma outra voz de quem nasceu para comunicar e passa dias e noites no gabinete. É um grito de liberdade em que alongo as minhas asas para além da instituição”. “Dou-te a minha palavra” é um livro surpresa, visível, por exemplo, neste poema: “A escrita / diz ao Verbo / meu Amor / na escrita / faz-se o Verbo / carne viva”. Autor: Lopes Morgado 110 páginas | preço: 8, 00 € Paulinas Editora

Autor: D. João Lavrador 382 páginas | preço: 18,00 € Paulus Editora

Leio numa das reflexões: “Dar a vida é reconhecer que ela não é nossa. Que nos foi oferecida, e que se nada fizermos para a merecer antes, podemos sempre fazê-lo agora. Dar a vida é ser silêncio e ser simples. Não é estar presente. É ser presente”. Por isso, mais do que para ler, este é um livro para refletir e agir. Nada ficará como dantes na vida daquele que se dispuser a enveredar por qualquer uma destas preciosas 53 reflexões que o pensador José Luís Nunes Martins nos propõe. Autor: José Luís Nunes Martins 224 páginas | preço: 16,00 € Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

"Quem apenas dá o que tem, dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos"

José Luís Nunes Martins filósofo português

"A única forma de fazeres um grande trabalho é amar o que fazes" Steve Jobs (1955-2011), inventor e empresário, fundador da Apple

"A comédia não está longe da tragédia, rir é uma maneira diferente de chorar"

Beatriz Batarda atriz e encenadora portuguesa, Visão

"Não há melhor momento que este para ser feliz… a felicidade é um caminho, não um destino"

Eduardo Galeano jornalista e escritor uruguaio 34

Fátima Missionária

"A força protege sempre o bem de todos à custa de todos os outros. Só o amor pode alcançar e proteger o bem de todos"

Thomas Merton (1915-1968), escritor e poeta católico, monge trapista e ativista social


CONSAGRADOS NA MISERICÓRDIA

PEREGRINAÇÃO A FÁTIMA POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO DO ANO DA VIDA CONSAGRADA COM TODOS OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA EM PORTUGAL

DOMINGO

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FEVEREIRO 2016 PROGRAMA Com Allamano

PEREGRINAÇÃO DA FAMÍLIA MISSIONÁRIA DA

10h00 Rosário na Capelinha 10h45 Procissão para a Basílica da Santíssima Trindade 11h00 Eucaristia presidida pelo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Clemente TEMPO PARA O ALMOÇO 15h00 Aldeia Missionária 17h00 Saudação e consagração a Nossa Senhora no recinto da Consolata


À RAINHA DA PAZ

Como durante a noite a lua resplandece Em vós, Senhora, a Luz do Pai nos aparece: Bendita sois, Maria! Como Deus prometera, a Salvação nos veio E o Príncipe da Paz nasceu do vosso seio: Bendita sois, Maria! Gerada sem pecado, inteiramente pura, Maravilhosa imagem da Igreja futura: Bendita sois, Maria! Os povos vos esperam, Mãe da humanidade, Chamai-os para Cristo, a eterna claridade: Bendita sois, Maria!

DA LITURGIA, 1º DIA DO ANO

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Fátima Missionária


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