Ano LXIII | Janeiro 2017 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€
MÉDIO ORIENTE ARCEBISPO IRAQUIANO RESISTE A PERSEGUIÇÃO CONTRA CRISTÃOS DESTAQUE
Nascimento de Timor recordado em Portugal Língua portuguesa e religião reforçam identidade do país
FÁTIMA INFORMA
Peregrinos dão testemunho em vídeo Mural digital recolhe experiências espirituais no Santuário de Fátima
ATUALIDADE
Perdão é fundamental para a paz na Colômbia
Povo colombiano necessita de superar os ódios, considera Leonel Narvaez
Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar
BENEFÍCIOS DA BOLSA
Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores
CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05
Um abraço entre a fé e a vida
SUMÁRIO
Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 01 Ano LXIII JANEIRO I 2017 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt
P. 16
ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php
“ A FÉ DE UM ARCEBISPO IRAQUIANO NA FORÇA DO CRISTIANISMO DO MÉDIO ORIENTE
“
FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.400 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)
04 | EDITORIAL A paz é a gente que faz 05 | PONTO DE VISTA Combater a indiferença que nos aliena 06 | HORIZONTES “Aguerridos”, uma disciplina de paz 07 | DESTAQUE Língua e religião definem identidade timorense
10 | A MISSÃO HOJE “Todas as semanas aparecem novos grupos armados” 11 | VOZES DA RUA Descartados pela sociedade 12 | A MISSÃO HOJE Missionários Espiritanos em Portugal há 150 anos 13 | FÁTIMA INFORMA Peregrinos dão testemunho em vídeo
08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Honduras: Terror entre as crianças em idade escolar
14 | ATUALIDADE “Sem perdão não há futuro”
• República Democrática do Congo: Conflitos e exploração causam milhões de órfãos
22 | MÃOS À OBRA Crianças e adolescentes aprendem a preservar tradições indígenas
• Laos: Mártires vítimas dos comunistas • Costa do Marfim: “Violência é a primeira resposta do cidadão” • México: Migrantes aumentam junto à fronteira americana • Myanmar: Acabar com a guerra e tornar 2017 o ano da paz
TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA
23 | PEREGRINOS DE FÁTIMA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Construtores da paz 26 | TEMPO JOVEM Ano novo, vida nova 28 | SEMENTES DO REINO “Vinde, adoremos e prostremo-nos diante de Cristo nosso Rei e nosso Deus” 30 | VIDA COM VIDA Uns olhos que eram as lentes e o espelho da alma 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE
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editorial
A PAZ É A GENTE QUE FAZ “Todos queremos sair de Alepo, adoramos a paz. Não podemos ir lá fora por causa dos ataques aéreos e bombardeamentos. Por favor, tirem-nos de Alepo. Queremos viver como qualquer outra pessoa”. Esta é a voz e o apelo que uma das 47 crianças de um orfanato em Alepo sussurra ao mundo. O grito surdo destes órfãos sírios terá sido escutado? Não sei! Há governantes, milícias, grupos terroristas, que não gostam de dar férias às armas. O tempo presente do mundo dói-me profundamente. Em comparação com outras geografias podemos dizer que Portugal é um oásis de paz. Outras regiões do mundo, melhor seria não abrir os jornais nem olhar os telejornais. À distância, o que resta além da indignação? Não sei. Mas recuso-me a baixar a bandeira da paz. É ponto assente: a violência gera violência. Na mensagem para o Dia Mundial da Paz, a 1 de janeiro 2017, o Papa Francisco diz-nos que a não violência deve ser o caminho a percorrer. A agressão não resolve, portanto, as crises político-militares que afetam o mundo. “A violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado. Responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a sofrimentos atrozes”. A crise dos refugiados é apenas um dos sintomas mais visíveis desse drama.
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Fátima Missionária
A quem evoca o nome de Deus para justificar a violência, Francisco esclarece. “A violência é uma profanação do nome de Deus. Nunca nos cansemos de repetir: jamais o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa, não a guerra”. No texto da mensagem, intitulado ‘A não violência: estilo de uma política para a paz’, Francisco refere que as “grandes quantidades de recursos” que são destinadas a fins militares podiam (e deviam) ser aplicadas pelos Estados em outras áreas, atendendo às “exigências do dia a dia dos jovens, das famílias em dificuldade, dos idosos, dos doentes, da grande maioria dos habitantes da terra”. O Dia Mundial da Paz coincide com a entrada em funções de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas. O seu amigo padre Vítor Melícias diz que ele é “um Papa Francisco à civil”. Curiosa e inspiradora definição de perfil. Seja como for, a Francisco e a Guterres não faltarão desafios e desafetos. Mas, os dois já demonstraram que sabem por onde caminhar. São ambos construtores de paz. E neles intuímos um caminho que se quer comum a todos nós: a paz é a gente que faz. Albino Brás
o Papa Francisco diz-nos que a não violência deve ser o caminho a percorrer. A agressão não resolve, portanto, as crises político-militares que afetam o mundo. “A violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado
PONTO DE VISTA
COMBATER A INDIFERENÇA QUE NOS ALIENA MARIA MANOEL* . PRESIDENTE DA COMISSÃO DE APOIO ÀS VÍTIMAS DE TRÁFICO DE PESSOAS CAVITP .
Cada ser humano é terra sagrada, e o seu corpo é o templo do Senhor, que nós não podemos permitir que seja profanado e comercializado. Da mesma maneira que o zelo de Jesus pela casa de Seu Pai fez que expulsasse os vendilhões do Templo, assim também nós estamos chamados a defender, com esse mesmo zelo, cada um dos nossos irmãos e irmãs, não permitindo que a sua dignidade seja profanada e gritando desde os telhados. Este é um dos princípios que emana da 2ª Assembleia Europeia da Religious European Networking Against Trafficking and Exploitation (RENATE), que reuniu em Roma um grupo de 130 pessoas provenientes de 27 países europeus, sob o lema: “Terminar com o tráfico de seres humanos começa por nós”. Com a ajuda de alguns facilitadores, fomos refletindo sobre a situação de tantos irmãos e irmãs que sofrem nas mãos de perpetradores sem consciência, que usam seres humanos como mercadoria a ser comercializada em proveito próprio.
O ser humano não está à venda Foram dias intensos de muita escuta e partilha sobre um tema tão forte e, ao mesmo tempo, tão atual que, como nos diz o Papa Francisco, é um flagelo no nosso tempo e uma
expressão da moderna escravidão. À medida que os dias iam passando e íamos escutando a experiência dos participantes – religiosas, religiosos e organizações não governamentais – que trabalham no terreno e experimentam diariamente as dificuldades que esta realidade traz consigo, ia crescendo em mim um sentimento de pequenez que me ajudava a tomar consciência do nosso lugar de simples criaturas de quem o Senhor se quer servir para levar adiante a Sua obra. Somos apenas instrumentos nas Suas mãos. Ao mesmo tempo, ia ficando claro para mim que, desde a nossa pequenez, e diante de um problema social tão complexo, sozinhos podemos fazer muito pouco, mas juntos e em rede, podemos combater este flagelo e ir construindo um mundo mais justo e mais humano O próprio Papa, que nos recebeu em audiência particular, nos alertava para a necessidade de combater a indiferença que nos aliena e nos fecha diante do sofrimento e da dor. Combater esta globalização da indiferença e sensibilizar para o tema tantos irmãos e irmãs que ainda estão longe destas questões é, pois, uma prioridade que nós, CAVITP em Portugal, lançamos a todos os leitores. * Religiosa da Congregação Escravas do Sagrado Coração de Jesus
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horizontes
“Aguerridos”, uma Disciplina de Paz Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA
Júlio era um rapazinho franzino, pequeno para a sua idade. Era sensível e destemido. Tinha uma capacidade especial para ver e escutar o que se passava à sua volta e não conseguia ficar quieto face a injustiças, nem dirigidas a si próprio nem a outros. Com este seu jeito, ganhou a alcunha de “O advogado”, o que na verdade até o envaidecia e reforçava a sua energia. Um dia, na escola, viu um seu colega do 9º ano a forçar um aluno do 5º ano a ceder-lhe o telemóvel até ao final do dia. Como este resistia, o rapagão intimidava-o: – Tu é que escolhes: ou emprestas ou ficas sem ele. E nada de queixinhas, senão tás feito! Júlio sentiu a revolta a invadi-lo e, sem hesitar, agarrou no colega pelo braço e ordenou: – Dá o telemóvel ao miúdo! Vi tudo e “quem está feito” és tu se eu te vir a repetir isso com este ou com mais algum miúdo! Estupefacto com aquela intromissão e atrevimento, o rapagão olhou de alto para os olhos do pequeno Júlio e nem tentou resistir. Algo lhe dizia que aquele miúdo não brincava. Entregou o telemóvel ao pequeno que, ainda em choque, permaneceu imóvel, até que a mão forte de Júlio sobre o seu ombro lhe mostrou que agora estava protegido. Naquele dia, Júlio decidiu: era preciso formar um batalhão de proteção daqueles que não conseguiam proteger-se. O poder dos que impunham o seu poder aos
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Fátima Missionária
colegas só existia porque não havia alguém a fazer-lhes frente e ele sozinho era insuficiente. Foi falar com a sua diretora de turma. Ela apoiaria a sua ideia, tinha a certeza. E tinha razão! Um mês depois, havia um novo projeto na escola – o clube “Os aguerridos”, que contava já com três professores e cinco colegas voluntários – e o número tendia a crescer à medida que a sua divulgação era feita nas turmas. Caixas de correio com o nome do clube estavam espalhadas pela escola onde, discretamente, podiam ser colocados pedidos de ajuda de quem, mais tímido, não tinha coragem de se dirigir pessoalmente a denunciar as violências que sofria. Um pequeno “exército” de voluntários destemidos faziam guerra aberta às violências silenciosas e ocultas. A sua presença pacífica junto dos mais frágeis, armados com os valores da solidariedade e da justiça era demasiado poderosa para não ser considerada por quem usava a opressão como forma de satisfação pessoal. No final do ano, Júlio era coordenador de um grupo de 50 voluntários. A sua surpresa feliz foi descobrir que o número de colegas “aguerridos”, que se importavam, era muito maior do que os que dominavam pela violência. Organizarem-se, unirem-se e afirmarem os valores da solidariedade e de fazedores da paz, fazia daquela escola um lugar mais seguro e melhor para viver. A sua unidade tornava-os ainda mais destemidos e temíveis. A escola passou a ter uma nova disciplina que não era dada em sala de aula e da qual não recebiam notas mas que completava a formação de qualquer homem e mulher ativos, que se importam e, aguerridamente, constroem a paz.
destaque Uma referência de democracia no Sudoeste Asiático
Língua e religião definem identidade timorense
Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA
A língua portuguesa e a religião católica são dois dos pilares fundamentais da identidade e da independência em Timor-Leste, consideraram o ex-Presidente timorense e prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, e o jornalista britânico, Max Stahl, que captou as imagens do massacre em Santa Cruz, a 12 de novembro de 1991, em Díli. As afirmações foram proferidas na semana das comemorações dos 20 anos de atribuição dos prémios nobel da paz ao antigo bispo de Díli, Ximenes Belo, e a José Ramos Horta, bem como dos 25 anos que decorreram sobre a recolha das imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz, cuja divulgação permitiu abrir um novo ciclo político e diplomático que conduziu à independência de Timor-Leste. Ramos Horta, numa cerimónia que decorreu no dia 13 de dezembro, na Universidade de Coimbra, sublinhou a importância da língua na criação de uma identidade em países como Moçambique ou Timor-Leste, onde atualmente o número de falantes de português é superior ao que se verificava durante o período colonial. Nos últimos 16 anos, a percentagem de timorenses que falam a língua portuguesa aumentou de 0,5 para 23 por cento. No entanto, em grande medida, devido à influência da televisão indonésia e à fraca e à inadequação da produção de conteúdos em língua portuguesa, nomeadamente a proveniente da RTP, o bahasa indonésio tem ainda uma grande presença.
diferentes áreas, nomeadamente no da Justiça e do combate à corrupção.
Imagens que mudaram a história
A mortalidade infantil “baixou em mais de 50 por cento”; a esperança média de vida passou dos 50 anos, em 1999, para 68 anos atualmente; não há pena de morte nem prisão perpétua; as minorias étnicas não são discriminadas e se, em 2002, havia 19 médicos timorenses, hoje registam-se cerca de mil, 700 dos quais formados em Cuba, sublinhou ainda o ex-Presidente da República. Durante a semana dedicada a Timor-Leste, que decorreu entre 9 a 16 de dezembro, a Universidade de Coimbra recordou também a importância da cobertura dos media no processo de independência de Timor-Leste. No Colóquio Timor-Leste: Mil Palavras; Mil Imagens, os jornalistas Adelino Gomes, João Manuel Rocha, Luís Nascimento, Luciano Alvarez, Francisco Sena Santos e Artur Cassiano recordaram a importância dos meios de comunicação social na
questão timorense. Referindo-se às imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz, recolhidas por Max Stahl, os jornalistas salientaram que a diferença entre este e os outros massacres ocorridos durante a ocupação indonésia de Timor-Leste não teve a ver com a sua gravidade mas no facto de ter sido presenciado por dois jornalistas americanos e um britânico, que recolheram e divulgaram as imagens dos acontecimentos, mudando decisivamente a história daquele país.
A mortalidade infantil "baixou em mais de 50 por cento"; a esperança média de vida passou dos 50 anos, em 1999, para 68 anos atualmente
Num balanço sobre os 16 anos de independência, Ramos Horta sublinhou que Timor é um exemplo de democracia e de abertura no sudoeste asiático, não obstante os desafios que tem de ultrapassar em
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mundo missionário
por E. assunção
Honduras
Terror entre as crianças em idade escolar
Nas Honduras apenas um terço das crianças consegue frequentar a escola em segurança. A violência que se vive no país obriga as famílias a esconder os filhos em casa ou ajudá-los a fugir, muitas vezes sozinhos, para os salvar. O alarme é lançado por uma organização humanitária independente, o Conselho Norueguês de Refugiados,
na sigla inglesa NRC: “O mundo não pode continuar indiferente diante de crianças que são assassinadas no caminho para a escola, nem pode permanecer em silêncio quando grupos de criminosos controlam os territórios das escolas, semeando o terror”. Atualmente cerca de 180 mil pessoas foram obrigadas a deixar o país em busca de segurança. Os pais fazem tudo para ajudar os filhos a escapar, a maior parte deles para os Estados Unidos da América para lhes salvar a vida. O governo americano registou, durante o último ano, mais de 10 mil casos de crianças hondurenhas que entraram sós no território americano para escapar à violência e à insegurança. Honduras é um dos países que regista uma das taxas mais elevadas de homicídios. No primeiro semestre de 2016, foram assassinados 61 menores de idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos, em cada 100 mil habitantes, segundo dados da NRC. O número aumenta drasticamente se se considerarem os jovens entre os 15 e 19 anos.
República Democrática do Congo
Laos
Segundo a organização INUKA, mais de quatro milhões de crianças perderam ao menos um dos pais nos últimos 20 anos. São vítimas silenciosas dos permanentes conflitos e ciclos de violência que constituem a grande multidão de 26 milhões de órfãos que vivem na região dos Grandes Lagos. Crescem entre conflitos fomentados por motivos étnicos e pela luta pela exploração de matérias preciosas. O fenómeno cresce também devido à violência que obriga as pessoas a fugirem, impedindo milhões de crianças de crescer num ambiente familiar normal. Muitos órfãos são forçados a trabalhar para ganhar a vida e, muitas vezes, a tomar conta dos irmãos mais novos. Outros são recrutados por grupos armados ou caem vítimas de exploração sexual.
Vários missionários estrangeiros e catequistas locais, mortos entre 1954 e 1970 no Laos, tornaram-se os primeiros mártires da Igreja naquele país. Numa solene celebração, em dezembro passado, na catedral de Vientiane, teve lugar a liturgia da beatificação de 17 mártires que foram mortos pelos guerrilheiros comunistas Pathet Lao. Os novos mártires foram reconhecidos pela Santa Sé em 2015. A Eucaristia de beatificação foi presidida pelo cardeal filipino Orlando Quevedo, enviado especial do Papa Francisco, em cuja mensagem lida pelo purpurado se afirma que os mártires “são heróis e a sua vida deve ser dada a conhecer às jovens gerações”.
Conflitos e exploração causam milhões de órfãos
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Fátima Missionária
Mártires vítimas dos comunistas
MUNDO MISSIONÁRIO COSTA DO MARFIM
“VIOLÊNCIA É A PRIMEIRA RESPOSTA DO CIDADÃO”
O Ministro da Administração Interna da Costa do Marfim ordenou um estudo que explique porque é que a violência é a primeira resposta do cidadão quando cai numa situação de dificuldade: “Torna-se necessário analisar e compreender”, explicou Hamed Bakayoko, após os incidentes registados entre a população e a polícia, em Yamoussoukro. Em meados de novembro passado, registaram-se violentos confrontos entre jovens e a polícia, após a morte de um jovem ocorrida durante uma rusga. A Costa do Marfim viveu uma longa crise político-militar de 2002 a 2011. Diversas zonas do país caíram nas mãos de grupos rebeldes e atualmente ainda circulam muitas armas utilizadas por eles.
MÉXICO
MIGRANTES AUMENTAM JUNTO À FRONTEIRA AMERICANA
Em Matamoros o número de migrantes não cessa de aumentar. A cidade fronteiriça do Texas, recebe os migrantes expulsos da América e, ao mesmo tempo, acolhe aqueles que chegam da América Central, flagelados pela pobreza em que vivem nos seus países. Segundo o bispo de Matamoros, “o desafio principal para
as autoridades é encontrar os recursos necessários para enfrentar possíveis expulsões em massa que poderão vir a acontecer”. Nesta cidade de fronteira do estado de Tamaulipas receia-se que um considerável fluxo de pessoas provenientes dos Estados Unidos da América possa vir a reentrar no México nos próximos tempos.
MYANMAR
ACABAR COM A GUERRA E TORNAR 2017 O ANO DA PAZ
“É tempo de unir todas as religiões, todos os grupos étnicos para verdadeiramente tornar 2017 o Ano da Paz”, lê-se no apelo do arcebispo de Yangon, Charles Maung Bo. “A paz é possível através da justiça. A paz é possível através da negociação. Pedimos a todas as religiões que a 1 de janeiro de 2017 façam um dia de oração e jejum pala paz”. No texto o prelado afirma: “Urge pôr fim às guerras que dilaceram Myanmar”. Mais de 200 mil deslocados vivem em campos de refugiados devido à guerra que dura há 60 anos. “Em Myanmar estamos ainda envolvidos numa guerra impossível de vencer. Agonia da população, deslocações forçadas são os únicos resultados da violência. A maioria silenciosa do povo de Myanmar é apenas espectador de uma guerra crónica”.
TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA
PLEBISCITO À ITALIANA Dado que Roma não é só o Papa, deixai que hoje fale de política, embora esse não seja o meu ponto forte. A 4 de dezembro a Itália foi a votos num referendo que há tempo estava a ser preparado e sobre cuja necessidade se tinha acumulado um amplo consenso. Sucedeu, porém, que a classe política se sentia lesada pelo primeiro-ministro Mateus Renzi a quem chamavam o “desmantelador”, a tal ponto que os comícios deixaram de considerar as questões sobre as quais se votava para discutirem se se devia ou não desmantelar o desmantelador. Uma cronista da televisão, que caiu da cadeira durante um noticiário, levantou-se e exclamou: “é tudo culpa do referendo! Estava a falar dele e já não aguento!” Posso dizer que eu próprio já andava incomodado com todo este alvoroço. No fim deste arraial de acusações e contra-acusações o povo acabou por derrubar o governo sem muita consideração pela razão original da ida às urnas. Este governo já durava há quase três anos e, num país que nos últimos 70 anos já teve 63 governos, três anos até pareciam uma eternidade. Temos à porta o governo número 64. Que 2017 nos traga menos confronto e mais harmonia. Feliz ano!
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a missão hoje
“Todas as semanas aparecem novos grupos armados” A viver na República Democrática do Congo há mais de duas décadas, Rinaldo Do temeu pela vida quando a missão onde trabalhava foi atacada e saqueada por um grupo armado. Do que havia, restou apenas uma bicicleta, que serviu para continuar o trabalho pastoral Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA
O momento mais marcante da vida missionária de Rinaldo Do, agora com 60 anos, aconteceu no auge do conflito no Sudão, que daria origem à criação do Sudão do Sul. Os grupos armados entraram da República Democrática do Congo (RDC) e não pouparam nem as missões religiosas. A dos Missionários da Consolata, em Doruma, foi totalmente saqueada e o sacerdote, temendo pela vida, refugiou-se na floresta. Quando regressou à missão, encontrou apenas uma bicicleta, que os guerrilheiros não tinham levado porque estava escondida. E foi com esse meio de transporte que prosseguiu o trabalho pastoral e vislumbrou uma nova dimensão da importância da Igreja no acompanhamento aos mais vulneráveis. “Foi um dos períodos mais duros na minha vida, mas ao mesmo tempo um dos mais bonitos, que me deu muita força para continuar. Eu não tinha nada para dar, para além da palavra de Deus, mas as pessoas viam que a Igreja estava ali”, recordou o missionário. 10
Fátima Missionária
Rinaldo Do, missionário da Consolata, trabalha na República Democrática do Congo há mais de duas décadas
Rinaldo Do chegou pela primeira vez à RDC em 1991, para trabalhar na paróquia de Saint Mukasa, na periferia de Kinshasa. Depois foi para a missão de Doruma, junto à fronteira com o Sudão do Sul, e daí para Isiro.
VOZES DA RUA
Para o missionário italiano [Rinaldo Do] o que faz falta na República Democrática do Congo é “despertar o povo” e ter alguém à frente do país com sabedoria e preocupação com o bem comum
Atualmente, é pároco em Neisu, uma região com 87 povoações. O povoado mais distante fica a cerca de 80 quilómetros e a pelo menos dois deles só se consegue chegar após duas horas a pé pela floresta, por falta de acessos que permitam usar a moto ou a bicicleta. Em todos estes anos, o missionário assistiu a muitas mudanças no país. Desde a nacionalização decretada pelo Presidente Mobutu Seko à recente tentativa de Joseph Kabila de alterar a Constituição, para se manter no poder. E o que mais o entristece é ver que, apesar das alterações políticas e da riqueza do país, continuam a faltar muitas infraestruturas e perspetivas de futuro para a população, sobretudo para os mais jovens. “Antes, havia fábricas de café, de óleo de palma e algodão, mas foi tudo abandonado depois da nacionalização. Agora, há jovens que estudam, mas o que vão fazer se não há onde trabalhar?”, interroga Rinaldo Do, revelando que esta situação leva também a que muitos menores abandonem a escola para ir trabalhar nas minas de ouro e diamantes, onde nem sempre são tratados da forma mais digna. Em suma, para o missionário italiano, o que faz falta na RDC é “despertar o povo” e ter alguém à frente do país com sabedoria e preocupação com o bem comum. “Ainda há muita corrupção e todas as semanas aparecem novos grupos armados, sobretudo na zona de Bukavu, onde há muito coltan (minério usado nos equipamentos eletrónicos), ouro e diamantes. Mas o país é rico e se houver uma pessoa sábia que queira bem ao seu povo, tudo pode mudar”.
Descartados pela sociedade Os “sem-abrigo” entram na FÁTIMA MISSIONÁRIA. E com todo o direito. porque o Ano da Misericórdia terminou mas a misericórdia continua, e porque os Missionários da Consolata estão na Igreja para “evangelizar os pobres” Texto | RAMON CAZALLAS
Há nove anos que um grupo de jovens, com o nome de Solidários, decidiu assumir o compromisso de trabalhar pelos pobres do Porto. E escolheu os “sem-abrigo”, pessoas que deambulam pela cidade, dia e noite, a céu aberto ou debaixo das pontes. A maior parte deles descartados pela sociedade de consumo. Duas vezes por semana, sempre à noite, os voluntários saem à rua e levam uma bebida quente, roupas, amizade e companhia missionária. Vão ao encontro de pessoas que precisam de muitas coisas para ter uma vida digna como filhos de Deus, mas sobretudo necessitam de carinho e proximidade. Agora, queremos dar-lhes também voz nesta página, para que nos contem a sua vida e expressem a sua espiritualidade. Mas têm espiritualidade? Vocês opinarão, depois de lerem os seus testemunhos, de forma anónima. Para estas conversas, deixaremos guiar-nos pelas reflexões de São Basílio, padre da Igreja: “Quando alguém rouba as roupas dum homem dizemos que é um ladrão. Não devemos dar o mesmo nome a quem, podendo vestir o nu não o faz? O pão que há na tua despensa pertence ao faminto; o casaco pendurado, sem uso, no teu guarda-roupa, o dinheiro que tu acumulas, pertence aos pobres”.
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a missão hoje
Muitos dos missionários espiritanos foram formados em Portugal sobretudo nas dioceses de Braga e Santarém
Alegres na Esperança
Missionários Espiritanos em Portugal há 150 anos Texto | VICTOR SILVA Foto | DR
o lema escolhido para o jubileu, “Alegres na Esperança”, inspira a renovar o compromisso com paixão e construir o futuro com esperança
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Fátima Missionária
Os Missionários do Espírito Santo completam 150 anos de presença em Portugal. Este jubileu levou a Conferência Episcopal Portuguesa a publicar uma Nota Pastoral, para reconhecer e agradecer esta presença missionária, “recordando o precioso contributo para a missão da Igreja, especialmente no nosso país e a partir dele”. A congregação nasceu em Paris, no dia de Pentecostes de 1703. Um jovem bretão, Cláudio Poullart des Places, congregou uma comunidade de jovens pobres, candidatos ao sacerdócio, e inspirou-a a servir nos lugares mais abandonados da Igreja. Um século mais tarde, Francisco Libermann, judeu convertido ao cristianismo, fundou a Congregação do Imaculado Coração de Maria, orientada para a evangelização dos povos africanos. As duas congregações fundiram-se numa só, que se orientou definitivamente para a missão «ad gentes». A presença dos Espiritanos em Portugal está intimamente ligada a Angola. Quando os espiritanos entraram naquele território africano, em 1866, encontraram a oposição das autoridades portuguesas, que não aceitariam ali missionários que não fossem portugueses. Há males que vêm por bem. Um ano depois, os Espiritanos chegavam a Portugal para começar a preparar futuros missionários. Começaram em Santarém, mas foi em
Braga que criaram as suas primeiras grandes estruturas de formação. A revolução de 1910 levou à perseguição e dispersão dos Espiritanos. Mas não os extinguiu. Alguns anos mais tarde, coordenados pelo padre Moisés Alves de Pinho, mais tarde bispo de Angola e Congo e arcebispo de Luanda, voltaram em força, construindo seminários em vários pontos do país. Durante muitas décadas, quase todos os Espiritanos portugueses enviados em missão partiam para Angola. Depois, a sua missão foi-se alargando por outras regiões, passando por mais de duas dezenas de países, em África, Américas, Europa e Ásia. Em Portugal, estão comprometidos em várias frentes, inseridos na Igreja local. Asseguram a animação paroquial em diversas dioceses, formam grupos de jovens e adultos no espírito missionário, investem na comunicação, colaboram em capelanias hospitalares e prisionais, apoiam imigrantes e refugiados. Para isso lançaram diversos movimentos laicais de cariz missionário que partilham a espiritualidade e a missão desta congregação. Ao recordar esta já longa história, o lema escolhido para o jubileu, “Alegres na Esperança” (Rm 12, 12), inspira a renovar o compromisso com paixão e construir o futuro com esperança. Texto conjunto Missão Press
FÁTIMA INFORMA
Peregrinos dão testemunho em vídeo Um simples toque num computador ou smartphone com ligação à Internet é suficiente para conhecer os peregrinos de Fátima e saber o impacto que a Mensagem de Fátima tem nas suas vidas Texto | JULIANA BATISTA
Os testemunhos dos peregrinos que visitam o Santuário de Fátima estão disponíveis na internet e dão corpo à página “Mural de testemunhos – Fátima e Eu”, que pode ser acedida através do endereço muraldetestemunhos.fatima.pt, desde o passado mês de dezembro. Aos 24 testemunhos inicialmente disponíveis serão adicionados outros, que poderão ser visualizados durante todo o ano do Centenário das Aparições. “Este mosaico dir-nos-á muito do significado de Fátima para quantos têm feito experiência deste lugar e da sua mensagem, expressões de um acontecimento historicamente marcante, profeticamente atual e pessoalmente vivenciado”, destacam os serviços de comunicação do santuário. O “Mural de testemunhos” é uma iniciativa do Santuário de Fátima, em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria (IPL), no âmbito de um protocolo de cooperação entre as duas instituições no contexto da celebração do Centenário das Aparições. A construção do mural e a recolha dos
Música na basílica
Os elementos do Coro VianaVocale convidam os peregrinos a entrar num ambiente de recolhimento e reflexão sobre o “mistério da vida”, através de um concerto. O momento musical vai acontecer na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, dia 8 de janeiro, entre as 16h00 e as 17h20.
Aprender mais sobre Fátima
A 12ª edição do Curso sobre a Mensagem de Fátima vai realizar-se de 13 a 15 de janeiro, na Casa de
testemunhos tem sido realizada no âmbito do curso de Comunicação e Media, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do IPL, também responsável pela edição e pós-produção dos vídeos.
Retiros de Nossa Senhora do Carmo, no Santuário de Fátima. A formação será ministrada por Ângela Coelho, postuladora da Causa de Canonização dos beatos Francisco e Jacinta.
Papa oficializa peregrinação
“O Papa Francisco irá em peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima de 12 a 13 de maio de 2017”, informou a Sala de Imprensa do Vaticano, oficializando assim a deslocação do Santo Padre a Portugal no âmbito da celebração do Centenário das Aparições.
Agenda
JANEIRO
Dia 8 Conferência “Mãe
da Igreja, rogai por nós”. A intercessão maternal da Virgem Maria, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário
Dia 28 Peregrinação das Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima
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[...] Que o significado mais profundo da existência humana é a capacidade de ser um dom para os outros: ser perdão para quem nos ofende. Perdoar sempre e perdoar o imperdoável
“Sem perdão não há futuro” Os próximos anos vão ser fundamentais para o povo colombiano. Quer na conquista da confiança na paz, quer na superação dos ódios e dos desejos de vingança, considera Leonel Narvaez, missionário da Consolata e fundador das Escolas de Perdão e Reconciliação
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Fátima Missionária
ATUALIDADE
Texto e Foto | FRANCISCO PEDRO
Como está a Colômbia a viver o pós-acordo de paz, mesmo depois da maioria da população o ter recusado em referendo? A Colômbia está em estado de parto. Por um lado com dores e por outro com muitas alegrias pela realidade que está a nascer. A derrota no referendo de 2 de outubro último foi um golpe muito duro para uma metade de colombianos que estavam convencidos de que os acordos com as Forças Revolucionárias Armadas da Colômbia (FARC) abriam o caminho para a paz. Tivemos que ganhar consciência que a outra metade dos colombianos não aceitava esse acordo, uns porque reclamavam que não se estava a aplicar castigo suficiente aos que haviam cometido crimes atrozes, outros, porque se tinham deixado infetar pela propaganda do medo ao chamado Castro-Chavismo, à ideologia de género, à narco-economia e, por fim, a um possível governo de delinquentes. Depois de 50 dias de renegociações com vários grupos (entre eles uma boa parte da Igreja Católica) conseguiu-se adotar um novo acordo entre o governo e as FARC, que foi submetido e aprovado pelo Congresso. Desde então, os acordos têm vindo a ser implementados. Atualmente, os guerrilheiros estão a concentrar-se em 28 zonas rurais transitórias, para a entrega de armas e para normalização da situação jurídica de cada um, num processo que se baseia no princípio de que a quem mais verdades confessar, mais favorável será a pena a receber. Ou seja, negoceia-se justiça por verdade.
Com que objetivo escreveu uma carta aberta ao povo colombiano? Escrevi uma carta urgente a todos os cristãos da Colômbia para salientar que o povo colombiano é de maioria cristã (75 por cento católica) e que por isso, não pode negar a inspiração central do Evangelho: o perdão. Que para um cristão a marca de qualidade da sua fé é viver o modelo de justiça que utiliza Deus: a justificação, a misericórdia, a compaixão. Ou seja, o perdão dos pecados. Que a justiça restaurativa em contraposição com a justiça punitiva é, hoje em dia, a opção das culturas mais avançadas, e o castigo, pelo contrário, continua a ser a opção mais medieval e inútil de todas. Que o significado mais profundo da existência humana é a capacidade de ser
um dom para os outros: ser perdão para quem nos ofende. Perdoar sempre e perdoar o imperdoável. Que se um cristão não crê, se não vive e não celebra o perdão, não lhe fica mais nada para crer, viver ou celebrar. Que o escândalo mais insuportável do cristianismo é que conheçamos tão pouco da teoria, da pedagogia e da pastoral do perdão. Que sem perdão não há futuro e que se uma vítima não perdoa fica eternamente vítima. Mas o pior de tudo é que os nossos guias espirituais tenham sido e continuem a ser temerosos e envergonhados no perdão. No referendo aos acordos, os líderes das igrejas cristãs (e entre eles os líderes católicos) perderam uma ocasião de ouro para, mais do que apoiar o sim ou o não, anunciarem com clareza que nenhuma das opções se devia deixar infetar pelo que é mais contrário à inspiração de Jesus: a raiva, o rancor ou a urgência de retaliação.
Que papel teve a Igreja para se chegar finalmente a um acordo de paz, e o que pode fazer para ajudar a implementá-lo? A Igreja Católica foi protagonista e líder em todo este – e anteriores – processos de paz. As suas contínuas mensagens e presenças concretas em todo o território nacional tiveram certamente incidência e impacto. O grande vazio continua a ser a incapacidade para oferecer propostas pastorais mais proféticas, mais concretas e robustas.
O que se espera da Colômbia, agora que é suposto estar resolvido um conflito que se arrastava há 50 anos? Os próximos três a cinco anos serão os mais difíceis, pois será necessário conseguir do povo colombiano a confiança na paz. Mais ainda serão os próximos 20 anos, anos de reconstrução obrigatória do tecido social, de resposta às necessidades objetivas da paz (saúde, terra, educação, habitação e emprego) e às necessidades ambientais da negociação (verdade, justiça, reparação). Serão também anos para superar as necessidades objetivas da paz: a superação dos ódios e as urgências de vingança que, em 2016, continuaram a ser os motivos principais em 87 por cento dos homicídios no país. É aqui que assume pleno sentido a cultura do perdão e reconciliação em que um grupo de missionários da Consolata vem trabalhando há 15 anos com crescente reconhecimento nacional e internacional.
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A FÉ DE UM ARCEBISPO IRAQUIANO NA FORÇA DO CRISTIANISMO DO MÉDIO ORIENTE 16
Fátima Missionária
DOSSIER
BACHAR WARDA ESTEVE EM PORTUGAL PARA DENUNCIAR O TERROR EM QUE VIVEM MUITOS CRISTÃOS EM PAÍSES COMO O IRAQUE OU A SÍRIA, ONDE OS JIHADISTAS SÓ LHES DÃO A ESCOLHER ENTRE A CONVERSÃO, O EXÍLIO OU A MORTE. O ARCEBISPO DE ERBIL REVELA UMA CORAGEM TREMENDA E TEM ESPERANÇA QUE APESAR DE TUDO O CICLO DE VIOLÊNCIA RELIGIOSA TERMINE UM DIA E AS COMUNIDADES CRISTÃS DO MÉDIO ORIENTE VOLTEM A FLORESCER Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Fotos | LUSA
Bachar Warda é arcebispo de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, uma região autónoma onde o fundamentalismo islâmico tem escassos seguidores e cujas autoridades procuram proteger as minorias religiosas num ambiente de guerra permanente. Um pouco por isso, mas também por grande coragem pessoal, diz não sentir medo quando caminha pelas ruas de estar a ser vigiado por um extremista que o tenha identificado como alvo: “Existe quem sinta isso. Eu não. No meu íntimo não sinto esse medo. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos anos acho que ultrapassámos esse medo do quotidiano. Sei que houve padres que foram mortos, outros raptados, e que muita gente foi chacinada, mas para mim existem outras preocupações”. A conversa com o arcebispo decorreu em novembro nas instalações da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), em Lisboa. Warda foi convidado para estar na apresentação do Relatório Liberdade Religiosa no Mundo, que se realizou na Sociedade Portuguesa de Geografia. Está vestido de cinzento, grande crucifixo ao peito, e percebe-se ser ainda um homem jovem (47 anos, fico a saber). É fotografado numa pequena capela, onde uma imagem de Nossa Senhora pendurada na parede se assemelha muito a um ícone bizantino e remete o imaginário para as igrejas orientais. Depois, por uma questão de conforto, mudamos para uma salinha com sofás de pele e uma mesa. O religioso pede um copo de água. Foi antes entrevistado por uma rádio, vão seguir-se conversas com alguns jornais, revistas e também as televisões. Há muita curiosidade sobre esse Médio Oriente onde ser cristão é ato heróico.
“Sim, sinto que somos uma espécie em vias de extinção”, responde, questionado sobre a ameaça de sobrevivência que pende sobre os cristãos do Médio Oriente. E acrescenta: “Sinto isso no sentido em que a longa história do cristianismo lá é também uma longa história de perseguição à Igreja. O Médio Oriente atravessou uma série de mudanças e de dificuldades e nós sempre sobrevivemos. Claro que houve tempos mais florescentes, os tempos da Igreja de Antioquia, e que hoje os nossos números estão a reduzir-se. No campo da teologia, está agora a redescobrir-se a riqueza do cristianismo dessa parte do mundo, mas quando falamos da situação política sentimo-nos vítimas, negligenciados, esquecidos pelos políticos. E sim, as pessoas têm medo de que o cristianismo possa desaparecer do Médio Oriente se o caminho continuar a ser este. Mas tenho ao mesmo tempo muita fé e muita esperança de que o cristianismo não se extinga na região.” Falamos do Iraque, onde xiitas e sunitas se enfrentam e onde o grupo extremista Estado Islâmico, também presente na Síria, até controla Mossul, a segunda cidade do país. Sobre a partida de milhares de cristãos, reduzindo a comunidade no Iraque a um milhão, diz ser “assustador”, mas insiste numa nota de otimismo: “Se é verdade que os tempos não são os de afirmação que se viveram nos anos 1970 e 1980 no Iraque ou na Síria, acredito mesmo assim que, se sobrevivemos dois mil anos, iremos continuar a sobreviver”. E que conselho dá quando uma família cristã iraquiana lhe diz que hesita entre ficar apesar da violência e emigrar, fugindo do extremismo islâmico e do terrorismo, pergunto: “Não tenho resposta para lhes dar
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como bispo. As famílias cristãs no Iraque ou na Síria têm muitas razões que justificam a decisão de emigrar e ninguém as vai contrariar e dizer para ficarem. Aqueles que ficam, fazem-no por fé e por crença em algo e a nós compete ajudá-los, estar com eles. Aos que decidem partir, digo-lhes para terem cuidado. Que se vão viajar sem apoio financeiro para os tempos em que estiverem à espera do caso ser resolvido pelas Nações Unidas ou aceites por outros países, não vão. No Iraque, pelo menos, podemos ajudá-los. Aconselhamos a que não partam a não ser que estejam mesmo forçados a fazê-lo. E dizemos para que não recorram aos traficantes de pessoas”. O arcebispo de Erbil não hesita em classificar o Estado Islâmico de grupo “brutal, diabólico” que mata, degola e queima. Sublinha, porém, que “em termos de mentalidade, são iguais a outros extremistas. A forma como aplicam a violência é que é mais brutal e horrível”. E conta os relatos que recebe sobre os cristãos que vivem em regiões controladas pelos jihadistas, seja no Iraque, seja na Síria: “Vivem num permanente estado de medo. Nunca sabem o que lhes vai acontecer e sobretudo para as raparigas é uma situação horrível, pois são submetidas a tudo e nunca sabem o que lhes vai acontecer. E para os homens o risco é serem acusados de algo e desaparecerem”. E há ainda as tentativas forçadas de conversão ao Islão: “É uma tarefa diária. Um chamamento todos os dias. E se os cristãos não cedem têm de se submeter às humilhações do Estado Islâmico, gente que quer desumanizar o outro”. Pergunto ao prelado as causas para o surgimento do Estado Islâmico. Nasce do caos no Iraque pós-Saddam 18
Fátima Missionária
O arcebispo de Erbil [Bachar Warda] não hesita em classificar o Estado Islâmico de grupo “brutal, diabólico” que mata, degola e queima. Sublinha, porém, que “em termos de mentalidade, são iguais a outros extremistas. A forma como aplicam a violência é que é mais brutal e horrível”
As famílias cristãs no Iraque ou na Síria têm muitas razões que justificam a decisão de emigrar e ninguém as vai contrariar e dizer para ficarem
Hussein, em 2003, e da revolta anti-Bashar al-Assad na Síria, iniciada em 2011? Reflete um pouco, olha para o teto, e depois avança uma possível explicação: “É um acumular de situações, de ressentimentos. E podemos dizer que começou tão cedo como os primórdios do Islão, com a determinação de converter todos. De fazer através da força e da guerra toda a nação aderir ao Islão, tornar-se o povo de Alá. Foi a época da submissão aos soberanos islâmicos. E depois, na era moderna, temos após os anos 1930 a ideia de que é no Islão que está a solução para todos os problemas da humanidade. Que por isso há um dever de jihad. Ao mesmo tempo, acusam o Ocidente de ser uma cultura corrupta, dizem que é inevitável o choque de civilizações”.
Bachar Warda nasceu em 1969 em Bagdad, numa família de cristãos caldeus, igreja obediente a Roma. A sua língua materna não é nem o árabe, falado em Bagdad, nem o curdo, dominante em Erbil, mas sim o aramaico, a mesma língua que falava Jesus. Mas mesmo a antiguidade da comunidade cristã, vários séculos anterior à chegada do Islão no século VII, não impede que sejam vistos como agentes do Ocidente. Como afirma o arcebispo “Os jihadistas olham para o Ocidente como terra de cristãos e de cruzados. E apontam os cristãos do Médio Oriente como tendo uma ligação. E isto não acontece só com os jihadistas, mas sim com quase todos os muçulmanos. E de nada vale explicar-lhes que nem todos no
Ocidente são cristãos e que muitos dos que o são nem sequer são praticantes. Por isso digo sempre que o Estado Islâmico resulta da acumulação de muitos incidentes e episódios na história do Médio Oriente, mas também desta vocação missionária do Islão, da vontade de querer converter todos”. Ou seja, a pressão para a conversão dos cristãos é antiga, mas o Estado Islâmico levou-a ao extremo. “No Islão existe esse zelo de conversão. É um dever para qualquer muçulmano”, sublinha o prelado iraquiano. A conversa já vai longa, porém há ainda tempo para falar da situação dos cristãos iraquianos durante a ditadura de Saddam, que até tinha um vice-presidente cristão, Tarek
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Aziz. “Estávamos silenciosos do ponto de vista político. Sabíamos que havia agentes da polícia secreta dentro da nossa comunidade, a ouvir, a observar e a reportar as atividades da nossa Igreja. Éramos vigiados muito de perto pelo governo e optámos pelo silêncio, por isso deixaram-nos em paz. Mas se soubessem que havia algum tipo de oposição, agiriam. Em 1974 nacionalizaram todas as escolas cristãs. E pediram aos jesuítas para deixarem para sempre o Iraque”. No fundo, Saddam “tolerava todos. Se não tivessem atividade política, não lhe interessava se eram cristãos, sunitas ou xiitas”. A religião estava ausente da política. Não existe, porém, qualquer saudosismo pelo ditador derrubado em 2003 pela invasão americana. A tese dos ditadores laicos como garantia para os cristãos do Médio Oriente não vale para o arcebispo de Erbil, para quem “a melhor proteção seria a dada por um Estado que respeitasse a lei. O cristianismo floresce sempre que existe Estado, lei e liberdade”. Para terminar, pergunto qual o país árabe onde os cristãos estão mais seguros. A resposta é o Líbano, onde “é certo que são muitos, e isso protege, mas sobretudo as comunidades desenvolveram uma cultura de diálogo depois de uma guerra civil muito brutal. Por exemplo, estiveram agora dois anos sem se entenderem para um novo Presidente, que é sempre um cristão, mas levaram a luta política até ao limite sem combaterem. Creio também que a igreja libanesa desenvolveu uma série de instituições, desde a educação à saúde, que fazem a diferença no país e todas as comunidades o compreendem”. *jornalista do DN
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Fátima Missionária
Padre Copta no interior do templo atacado à bomba em dezembro, no Cairo, Egito
Cristãos no Médio Oriente Com as guerras e os refugiados, todos os números sobre o Médio Oriente tornaram-se aproximados. Também há países que proíbem nos recenseamentos que se identifique a religião dos cidadãos, como acontece no Egito.
CRISTÃOS 2%
2%
2%
2%
ISRAEL
JORDÂNIA
TERRITÓRIOS PALESTINIANOS
IRAQUE
8
milhões
7
milhões
4,5
milhões
33
milhões
habitantes
Os coptas sob ataque mas com um defensor No domingo 11 de dezembro, uma capela adjacente à Catedral de São Marcos, no Cairo, foi atacada à bomba, com 25 pessoas a morrerem, muitas delas mulheres e crianças. Uma vez mais a comunidade copta, a mais influente das igrejas egípcias, era visada pelos jihadistas, sabendo-se uns dias depois que o Estado Islâmico reivindicava o atentado, feito por uma célula sua ativa no mais populoso dos países árabes, onde um décimo dos 90 milhões de habitantes segue o cristianismo. De imediato, o Presidente Al-Sisi decretou três dias de luto nacional.
40%
9%
SÍRIA
10%
EGITO
LÍBANO
4,5
milhões
18
milhões
Descrito como um muçulmano piedoso, o general tornou-se conhecido quando foi escolhido pelo então Presidente Morsi para chefiar as forças armadas. A Primavera Árabe tinha feito cair em 2011 o regime de Mubarak e eleições livres tinham posto no poder Morsi, o primeiro civil a ser Chefe de Estado na história do Egito republicano. Mas indignado com a forma como Morsi, apoiado pelos Irmãos Muçulmanos, estava a deixar o Egito mergulhar no caos e a permitir a violência religiosa, Al-Sisi derrubou o Presidente em 2013, num golpe apoiado tanto pelo imã da Universidade de Al-Azhar como pelo papa Tawadros II, chefe máximo da Igreja Copta. E quando Al-Sisi despiu a farda para concorrer às eleições de 2014, os cristãos estiveram entre os seus mais entusiasmados apoiantes, vendo-o como um protetor. O Presidente tem sido muito criticado pela mão-de-ferro com que governa o Egito, dando pouco espaço para vozes críticas, mas no que diz respeito à defesa dos coptas tem-se mantido fiel à sua ideia de que “muçulmanos ou cristãos, todos os egípcios são iguais”. E no passado deu provas de verdadeiro empenho, seja quando visitou a Catedral de São Marcos a 7 de janeiro de 2015, dia de Natal para os coptas, seja quando também
em 2015 mandou a aviação atacar a célula do Estado Islâmico que na Líbia tinha degolado 20 cristãos egípcios. Nacionalista egípcio, Al-Sisi sabe que a força do país depende da unidade entre a maioria muçulmana e a minoria cristã. Mas ao defender os coptas da violência jihadista também está a proteger uma comunidade antiquíssima, que se tornou cristã no século I com a visita de São Marcos mas cuja língua litúrgica remonta ao tempo dos faraós. Até a palavra copta tem a mesma raiz que o nome do país nas línguas europeias (em árabe, Egito diz-se Misr). Claro que saindo em defesa dos cristãos, Al-Sisi acaba também por agradar ao Ocidente, que apoiou o seu golpe contra Morsi. Por força do número (os coptas são em percentagem inferior aos maronitas no Líbano mas muitos mais em termos absolutos) e da proteção oficial, os cristãos egípcios são dos menos ameaçados de extinção no mundo árabe apesar dos atentados e das humilhações quotidianas, como a mulher de 70 anos obrigada a desfilar nua por uma multidão porque o filho tinha uma relação amorosa com uma muçulmana. Aconteceu no ano passado na província de Minya perante a passividade policial, mas Al-Sisi prometeu perseguir os culpados.
90
milhões
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mãos à obra
Crianças e adolescentes aprendem a preservar tradições indígenas da terra, mas depois de uma grande intervenção no canal de Manamo, na década de 1960, o ecossistema sofreu grandes alterações e muitos dos indígenas, para fazer face à degradação dos solos e diminuição do peixe, iniciaram um processo de migração para as periferias dos centros urbanos, sobretudo para a zona de Tucupita, a capital do estado. Alguns conseguiram integrar-se na forma de vida da sociedade urbana, mas uma grande maioria acabou isolada em acampamentos sem as mínimas condições básicas, marginalizada, renunciando, ao mesmo tempo, à sua cultura nativa.
Para ajudar à reintegração social, e incentivar a preservação da cultura Warao, os missionários criaram um projeto de formação, que numa primeira fase, vai abranger 80 crianças e adolescentes 22
Fátima Missionária
A influência cada vez maior da população venezuelana sobre as comunidades indígenas Warao está a causar o isolamento das famílias que arriscam sair das suas aldeias para procurar novas formas de vida na cidade. Missionários tentam ajudar os mais jovens a recuperar o orgulho na sua cultura
“Em geral, há uma espécie de vergonha étnica: o povo indígena Warao sofre de uma forte guetização cultural, com a consequente exclusão das dinâmicas políticas do país e falta de acesso aos serviços sociais básicos”, referem os missionários da Consolata que trabalham nesta região da Venezuela.
Considerado o grupo humano mais antigo da Venezuela, o povo Warao tem vindo a passar por grandes alterações sociais e culturais nos últimos anos, fruto de um maior contacto com a população venezuelana de descendência espanhola, e portanto com características muito diferentes das dos indígenas.
Para ajudar à reintegração social, e incentivar a preservação da cultura Warao, os missionários criaram um projeto de formação, que numa primeira fase, vai abranger 80 crianças e adolescentes instaladas nos arredores da cidade de Tucupita. O programa formativo inclui informação sobre a história, língua cultura e artesanato waraos, mas tem também como objetivo transmitir noções de higiene e saúde – com especial atenção às doenças sexualmente transmissíveis – e dar a conhecer aos jovens os direitos dos povos indígenas.
As comunidades Warao estão distribuídas pelo Delta Amacuro, vivem sobretudo da pesca e dos produtos que recolhem
Segundo dados oficiais das autoridades venezuelanas, a etnia Warao conta atualmente com mais de 36 mil pessoas.
Texto e Foto Francisco Pedro
PEREGRINOS DE FÁTIMA
A devoção dos peregrinos a Nossa Senhora de Fátima tem sido uma constante ao longo do último século. Em sua homenagem, damos início à publicação de uma série de imagens de arquivo, com a qual pretendemos associar-nos também às comemorações do Centenário das Aparições
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# gente nova em missão EXEMPLO
Olá amiguinhos! Bom ano para todos. "Ano novo, vida nova!" lá diz o povo, e isso é comprovado pelas energias renovadas, fruto da chegada de Jesus Menino, Ele que traz a paz à humanidade. E não é que o ano começa com o Dia Mundial da Paz? É para que todos os homens não esqueçam o fundamental: a paz é o caminho da vida e do amor, que Jesus tão bem ensinou e viveu. Este dia coincide também com a solenidade da Santa Maria Mãe de Deus, exemplo de amor e Rainha da Paz Texto | Cláudia Feijão ilustração | DAVID OLIVEIRA
CONSTRUTORES DA PAZ O Dia Mundial da Paz, criado pelo beato Papa Paulo VI, assinala-se, desde 1968, sempre no dia 1 de janeiro. E este ano, o Papa Francisco escreveu a sua mensagem sob o tema: “A não violência: um estilo político para a paz” relembrando a necessidade de salvaguardar a dignidade e os direitos de cada pessoa sem fazer qualquer tipo de discriminação ou distinção. Quando falamos de paz a primeira coisa em que pensamos é no seu oposto: em guerras, em conflitos, ou definimo-la como ausência de guerra (cá está o lado negativo). Mas a paz é mais do que isso: ela é o caminho da vida e do amor. Se somos tolerantes, se valorizamos as diferenças, se falamos com os outros de forma calma e gentil, se temos gestos simpáticos, amáveis e consoladores para quem nos rodeia,
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Fátima Missionária
se perdoamos quem tem palavras ou ações menos boas para connosco, testemunhamos o amor e a misericórdia que Jesus ensinou e viveu, e podemos contribuir para uma mudança interior dos outros. Todos os dias fazemos escolhas (e dizemos coisas) que interferem na vida dos outros; mas, se queremos ser exemplo positivo, há que demonstrar respeito pelo próximo e ter responsabilidade face às consequências das ações praticadas e das palavras ditas, procurar o diálogo e, muito importante, perdoar e escutar (que é diferente de ouvir). Pequenos missionários, é o vosso testemunho, através das vossas palavras e das vossas ações, que pode gerar nos outros uma mudança interior positiva que conduza o mundo ao amor e à paz de Jesus. Ide, pois, e sede construtores da paz.
Sabias que
… também existe o Dia Internacional da Paz? Este assinala-se no dia 21 de setembro e foi instituído pela ONU, em 1982, e visa sensibilizar todas as pessoas para a necessidade da paz no mundo e promover ações que terminem com os conflitos.
MOMENTO DE ORAÇÃO MOMENTO NET Lê a mensagem do beato Papa Paulo VI para o I Dia Mundial da Paz em www.vatican.va
Senhor, quero louvar-te pelo Teu amor misericordioso que continuamente revelas à humanidade. Que as minhas palavras e atitudes sejam testemunho do Teu amor e da Tua paz para ajudar a construir um mundo bondoso, solidário e cada dia mais fraterno, sem discriminação ou distinção. E que aqueles que são afetados pela falta de paz nas suas vidas encontrem em Ti a consolação e a esperança, para que o Teu alento lhes permita ter sempre um coração puro liberto da raiva e rancor. Senhor, dai-nos a Tua paz. Pai Nosso, Ave Maria, Glória
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tempo jovem
Ano Novo, Vida Nova O que é que eu desejo acima de tudo? Não é ser feliz? Aliás, o que é que deseja toda a gente, crente ou não, asiático ou europeu, jovem ou adulto? é mesmo a felicidade
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Fátima Missionária
Texto | SIMÃO PEDRO Foto | LUSA
O Papa Francisco apela aos jovens “Arrisquem a vida por grandes ideais! Apostem em grandes ideais, em coisas grandes; não fomos escolhidos pelo Senhor para ‘coisinhas pequenas’, mas para coisas grandes!” Escolhe Deus, escolhe o amor. Se queres mesmo ser feliz escolhe fazer tudo por tudo para fazer felizes os outros
Quantas vezes deves ter ouvido esta frase nestes primeiros dias de 2017 e outras parecidas. Qual é o teu propósito para o ano novo? Promessas de ano novo do tipo “este ano vou viajar mais”, “vou emagrecer”, “vou começar a poupar”, “vou deixar de fumar”… Quantas promessas, quantas palavras, quantas boas intenções e tão poucas mudanças. Para que servem tantas promessas se a cada ano repetimos as mesmas? Vale mesmo a pena fazer uma promessa que nunca vou cumprir? Desejos recalcados, sonhos apaziguadores, desafogos mais do que intenções, intenções em vez de planos. No entanto, cada ano é uma nova oportunidade para recomeçar, aliás, 365 oportunidades para podar e fazer enxertos, para investir numa vida nova. Sabemos que para fazer um enxerto, a navalha deve fazer um corte no tronco. O tronco sangra e parece chorar… estará aqui o motivo que faz perder o ânimo mais ligeiro de pôr em prática as boas promessas? Duma coisa estou convencido, não é muito prudente multiplicar as promessas, pois a quantidade de enxertos é proporcional à quantidade de cortes efetuados pela navalha. Então vale a pena perguntar “qual promessa”? Só uma? Então tem de ser uma a sério! E se vou fazer uma só promessa, então vou pensá-la bem. O que é que eu desejo acima de tudo? Não é ser feliz? Aliás, o que é que deseja toda a gente, crente ou não, asiático ou europeu, jovem ou adulto? É mesmo a felicidade. E eu sou feliz? E aquele vazio que sinto? Que às vezes é insuportável, outras é interminável, por exemplo quando à noite estou só. Que desespero! Uma das perguntas que apresentei aos alunos das turmas que visitei no mês passado foi, se aparecesse aqui um mago e te dissesse “pede-me o que quiseres e eu realizarei”, o que pedirias? Além de uns poucos que disparavam com “paz,
amor, harmonia” muitos respondiam com sinceridade e determinação, ‘dinheiro’. Esta resposta fez-me lembrar o jovem de 23 anos que conheci numa cidade rica da Europa. “Padre, em minha casa não falta nada, digo-lhe só que em casa tenho dois Ferrari. Nem nunca vou precisar de trabalhar na vida, mas não tenho vontade de viver. Todas as manhãs faço um grande esforço para arranjar um motivo válido para saltar da cama. E muitas vezes luto para afastar de mim o pensamento do suicídio.”
O vazio
É o vazio que toda a gente experimenta ao longo da sua vida e que Santo Agostinho chama a sede insaciável. Deus nos fez com uma sede tal que nos faz estar sempre à procura, para que nunca desistamos de o procurar: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a procurar-te! Eu, disforme, me atirava à beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti” (Confissões 10,27). Nós estamos sempre à procura, mas frequentemente procuramos nas coisas que Deus fez e não procuramos a fonte, que é o amor criador. Não são nem as casas, nem os carros, nem montanhas de dinheiro, que podem dar sentido à nossa vida. Só Deus pode colmatar o vazio que temos dentro, só o amor pode aquecer o mais profundo da nossa alma. Lanço, por isso, um desafio para este ano novo: faz uma promessa verdadeira, uma que valha a pena, a única que pode colmatar os desejos do teu coração. O Papa Francisco apela aos jovens: “Arrisquem a vida por grandes ideais! Apostem em grandes ideais, em coisas grandes; não fomos escolhidos pelo Senhor para ‘coisinhas pequenas’, mas para coisas grandes!” Escolhe Deus, escolhe o amor. Se queres mesmo ser feliz escolhe fazer tudo por tudo para fazer felizes os outros. Bom ano novo.
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sementes do reino
“Vinde, adoremos e prostremo-nos diante de Cristo nosso Rei e nosso Deus” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | ANA PAULA
Sim, Senhor, com os humildes e os sábios, nós viemos adorar-Te. Menino divino. Rei de glória. Luz vinda para iluminar as nações! Nós te trazemos a oferta das nossas vidas, nossas fraquezas, nossos limites, nossas mediocridades; nós te oferecemos também o melhor de nós mesmos ao ajoelharmo-nos diante da tua grandeza. Sem medo de perdermos as nossas seguranças, as nossas certezas, nos pomos em caminho seguindo essa estrela que nos conduz por entre as noites frias e escuras ao calor e à claridade do teu amor.
Leio a Palavra
Além de Jesus, o personagem central desta narração é Herodes. Herodes o construtor, Herodes, o cruel, ciumento, doente pelo poder. O fio que conecta os quatro momentos da narração é o conflito entre os dois reis, o velho déspota e Jesus Messias, “rei dos judeus recém-nascido” (Mt2,2). O rei Herodes, bem conhecido pelos historiadores, é para o evangelista Mateus o símbolo da recusa em acolher Cristo e a sua mensagem. Recebido pelos homens de boa vontade, Jesus será rejeitado pelos líderes do seu povo.
que seja conhecido, que seja dado a conhecer. Pessoalmente, qual é a minha atitude diante deste Deus-menino? Dirijo-me até Ele para me prostrar e o adorar ou fico indiferente, deixando que as forças do mal apaguem a sua divina presença em mim?
Saboreio a Palavra
Vivo a Palavra
Com a vinda dos Magos, a salvação é oferecida a todos. É universal. Na verdade, são os gentios que vêm a Jerusalém em busca do Rei dos Judeus; são eles que tomam a estrada enquanto Jerusalém resta indiferente; são eles que, finalmente, se prostram diante do menino para o adorar. A partir deste encontro com Jesus, os magos tornam-se crentes afastam-se de Herodes. Afastam-se do mal. São advertidos por Deus, por meio dum anjo, como Ele faz com os seus eleitos.
Rezo a Palavra
Não basta que Jesus, o Messias, venha ao mundo. É necessário 28
Fátima Missionária
A epifania, tal como a ressurreição, pedem um ato de fé. Na narração do evangelista São Mateus encontramos diversas atitudes: desde a crueldade e egocentrismo, à vulnerabilidade de quem se põe a caminho para oferecer dons, para se oferecer como dom. E a mim, a decisão de escolher a cada dia o que fazer e como fazer. Ficar indiferente? Passar a vida a calcular sem querer arriscar? Avançar por entre dúvidas e incertezas? É preciso esquecer-me um pouco de mim para me dar um pouco mais aos outros? Uma estrela guiará nossos passos até ao Deus-menino que está lá sobretudo para nós. Avancemos sem hesitar.
Não basta que Jesus, o Messias, venha ao mundo. É necessário que seja conhecido, que seja dado a conhecer
A palavra faz-se missão
JANEIRO
01
Santa Maria, Mãe de Deus Num 6, 22-27; Gál 4, 4-7; Luc 2, 16-21
Começar bem
Começar o ano com a invocação do nome de Maria, a Rainha da Paz, é bom auspício! Começar o ano com a paz no coração, é meio caminho andado para a construirmos nos nossos ambientes. Começar o ano com um programa bem claro de unidade dentro de nós e à nossa volta é já construí-la e difundi-la.
Que a tua Palavra, Senhor, nos ajude ao longo deste ano a ler o teu pensamento a nosso respeito e a respeito do mundo.
08
Epifania do Senhor Is 60, 1-6; Ef 3, 2-6; Mat 2, 1-12
Ponto de referência
Dilata-se a gruta para acolher todos os homens. Deus não pode ficar escondido numa gruta de Belém. É para se revelar a toda a humanidade. É a festa da missão, porque a Igreja quer ser esta “casa”, onde os homens encontram Deus. É nossa tarefa fazer da nossa vida um sinal da presença de Deus.
Aceita, Senhor, o incenso da minha oração, a mirra do meu serviço, o ouro do meu coração.
09
Batismo do Senhor Is 42, 1-7; Act 10, 34-38; Mat 3, 13-17
Eu sou batizado
Eu sou batizado, tu és batizado, eles talvez ainda não. Que diferença entre mim e aqueles que não receberam o batismo de Jesus? Que sinais de Cristo mostramos nós a quem não acredita? Que o Espírito de Deus desça sobre todos e nos apresente ao mundo como discípulos de Jesus.
Ajuda-me, Senhor, a descobrir a minha vocação de batizado.
15
2º Domingo Comum Is 49, 3-6; 1Cor 1, 1-3; Jo 1, 29-34
Eu vi e atesto
É João Baptista quem o diz. Também eu, como cristão e testemunha, tenho por missão proclamar o mesmo: eu vi e atesto. Fomos todos investidos nesta missão de indicar aos outros o caminho: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. O meu pecado, o teu pecado e o pecado do mundo inteiro.
Ajuda-me, Senhor, a fazer uma forte experiência de ti, para que a minha vida te explique aos outros.
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22 * 3º Domingo Comum Is 9, 1-4; 1Cor 1, 10-13.17; Mt 4, 12-23
“Vinde e segui-me”
Jesus não quis fazer tudo sozinho. Precisou e precisa ainda de colaboradores, que livremente o ajudem na sua missão de anunciar aos homens o seu modo de viver. Chamou-lhes amigos e pescadores de homens. É um convite que ainda hoje continua a lançar na praia do nosso mundo: vem e segue-me. Junta-te a mim, vive e proclama o que eu anuncio.
Que eu seja capaz, ó Senhor, de deixar tudo o que for preciso para te conhecer e anunciar.
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4º Domingo Comum Sof 2, 3-13; 1Cor 1, 26-31; Mt 5, 1-12
Sal da terra e luz do mundo
O sal conserva, tempera e dá sabor aos alimentos. Com a nossa fé, sal da terra e luz do mundo, podemos transformar e melhorar a história humana. Com a nossa fé, a nossa esperança e o nosso amor poderemos humanizar e divinizar o mundo em que vivemos.
Infunde em nós, Senhor, a tua luz para que tudo aquilo que fizermos no mundo seja reflexo da tua bondade. Darci Vilarinho
intenção pela evangelização JANEIRO Por todos os cristãos, para que, fiéis ao ensinamento do Senhor, se empenhem com a oração e a caridade fraterna no restabelecimento da plena comunhão eclesial, colaborando para responder aos desafios atuais da humanidade
A RECONCILIAÇÃO GERA COMUNHÃO O tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2017 (18 a 25 de janeiro) é inspirador: “Reconciliação - É o amor de Cristo que nos impele” (cf. 2 Coríntios 5,14-20). Este texto bíblico enfatiza a reconciliação como um dom de Deus, destinado a toda a criação. São Paulo recorda-nos que Deus nos reconciliou através de Cristo e que o amor de Cristo nos impele a sermos ministros da reconciliação. O amor de Cristo é a força impulsionadora que nos leva mais além das nossas divisões, promovendo o perdão e a reconciliação. As divisões que têm acontecido na Igreja no decurso da História contradizem o que Jesus pede ao Pai em João 17,23: “Que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim”. Intensifiquemos a oração, pedindo perdão e a cura das feridas que resultam destas divisões. São um muro que nos continua a dividir… e a envergonhar. Construir comunhão; é disso que precisamos.
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Fátima Missionária
Se Deus tudo criou e nos confiou o cuidado da Criação, não acha que a Igreja se deveria empenhar mais nas questões do meio ambiente, ou isso é coisa só para os ecologistas? Alice Gomes
É uma pergunta muito oportuna porque nos coloca em linha com um tema que está na ordem do dia. O Papa Francisco deixou-nos a ‘Laudato Si’, uma belíssima Encíclica que nos pede a todos um maior compromisso da Igreja e das suas pastorais. E, convenhamos, em questões relacionadas com a ecologia e o meio ambiente ainda temos na Igreja muito caminho a percorrer. Este é um tema ao qual eu sou sensível porque me apaixonei pelo tema da ecologia quando estudei Ética e Bioética. Na comunidade onde estive até setembro do ano passado criei a Pastoral Justiça, Paz e Ecologia Integral. Reuníamo-nos uma vez por mês, liamos a encíclica 'Laudato Si', do Papa
LEVAR A CRUZ COM AMOR
Amigos missionários, pago a minha revista e agradeço por não se esquecerem de mim. Quando ela chega dou-lhe logo uma volta e depois é que a leio com vagar para saborear tudo o que ela tem de bom. A leitura ajuda-me muito e dá-me força para levar a minha cruz que é um pouco pesada, mas a do Senhor foi bem maior. Eu tenho que levar a minha com muito amor. Peço ao Senhor por todos os que
Francisco, cada um apresentava ao grupo o resumo do capítulo que lhe era atribuído e, na Eucaristia dominical da comunidade, apresentava-se um resumo de dois minutos e todos eram convidados a abraçar um compromisso inspirado no capítulo em causa. Exemplo: partilhar mais os recursos do planeta, evitar o desperdício e não deitar lixo para a rua. Foi uma expêriencia muito interessante que outras comunidades poderiam seguir. Que o Papa nos ajude a descobrir que afinal habitamos uma Casa Comum a todos nós – o nosso planeta Terra – e que dele devemos cuidar, abre-nos um campo de sensibilidade e um horizonte de responsabilidade maior. A 'Laudato Si' diz-nos que a falta de respeito pela natureza e a exploração dos recursos naturais podem ser uma ameaça para a paz mundial. Uma problemática da qual a Igreja não se pode alhear. AB
fazem esta revista, que o senhor vos ilumine e vos dê tudo de bom. Alcina Silva Guedes
AGRADECER
Como assinante da FÁTIMA MISSIONÁRIA, não quero deixar de agradecer ao beato José Allamano pelos passos para poder contribuir pela distribuição de 410 calendários para 2017. Fiz com muito amor e carinho pela Missão. Maria Conceição Portela | Pousos – Leiria
GESTOS DE PARTILHA
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CAMPANHA
“COMPRESSAAMIGA ” 2016
2017
Na Etiópia, todos os anos milhares de crianças são vítimas de queimaduras domésticas, por falta de condições de segurança nas habitações. Muitas não resistem aos ferimentos. Outras, ficam com marcas para o resto da vida. Na região de Oromia, os profissionais do Hospital Rural de Gambo, gerido pelos Missionários da Consolata, travam uma luta diária para salvar estes menores. E nem sempre têm à sua disposição os meios indispensáveis. 1,00€ = 2 tubos creme óxido de zinco 5,00€ = 5 caixas de gase gorda 10,00€ = 1 caixa de luvas hospitalares 25,00€ = 15 frascos de soro fisiológico 50,00€ = 30 embalagens de compressas
Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Campanha “COMPRESSA AMIGA” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05
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CRIANÇAS DA ETIÓPIA Anónimo 50€; Purificação Ferreira 193€; Ercília Janin 50€; Carmo Melo 100€; Anónimo 25€; Manuel Dias 5€; Adelina Antunes 100€; Anónimo X 25€; Encarnação Malícia 5€; Rosa Oliveira 10€; Dominicanas do Rosário Perpétuo 25€; Joaquim Curado 500€; Amigos da Emília17€; Augusto Carvalho 50€. Total geral = 1.155€. CRIANÇAS DE MKINDU – TANZÂNIA Gracinda Cabecinhas 25€; Eduarda Bento 50€; Maria Jorge 50€; Ofertas anónimas entregues na Consolata de Fátima 1078€; Fátima Matias 10€; Deonilde Silva 5€; Céu Alves 6€; José Mirra 10€; Lídia Reis 10€; Adalberta Marques 5€; Ester Fernandes 25€; Anónimo 20€; Fátima Silva 10€; Anónimo 43,29€; Isabel Figueiredo 400€; Maria dos Anjos Pereira Sousa 50€. Ofertas entregues na Consolata Loja | Artigos Religiosos 660€; Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia 568€; Consolata Hotel 335€. BOLSAS DE ESTUDO Isilda Gomes 250€; José Mendes 250€; Silvino Agostinho 5€; Belmira Sousa 250€; Carmo Segurado 125€; Isabel Segurado 125€; António Ribeiro 250€; Conceição Portela 100€. OFERTAS VÁRIAS Assinantes da freguesia do Alqueidão (Figueira da Foz) 67,50€.
CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt
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vida com vida
SEMINARISTA PLÍNIO HOCHGREB
Uns olhos que eram as lentes e o espelho da alma Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA
Era uma tarde de sonho, daquelas em que o sentido da felicidade invadia por completo o corpo e o coração dos indivíduos naquele dia 29 de agosto de 1957. Com um grupo de colegas, o seminarista do Seminário da Consolata de São Manuel, no Brasil, aproveitou o dia de férias para dar um passeio até ao Rio Piracicaba. O Plínio sabia nadar muito bem e, com os colegas, lançou-se ao rio. De repente, pelas 14h00, o Plínio desapareceu nas águas. Todos os esforços para o salvar falharam. Só depois dumas setenta horas foi encontrado o seu corpo. O médico legal concluiu que a morte do jovem foi causada por um ataque de cãibras que lhe paralizou os movimentos. Toda a cidade participou no funeral do seminarista, que tinha apenas 22 anos. Às vezes, não é fácil encontrar explicações para certos acontecimentos que contrariam mesmo os prognósticos mais otimistas acerca dum indivíduo. O Plínio era, no dizer do seu superior, uma joia de jovem e de seminarista. Até lhe tinham confiado o cargo de professor de matemática aos mais novos, enquanto ele avançava nos seus estudos. “Tinha ótimas qualidades intelectuais e morais”, disse o seu formador. “A sua caligrafia era clássica, bom cantor, presidente da Cruzada Missionária do seminário”, grupo de jovens que tantas boas obras, sacrifícios e orações ofereciam pelas missões do mundo inteiro. Toda a sua personalidade transpirava sonhos de ardores apostólicos nas missões em que tanto desejava trabalhar. “O seu olhar simples e sereno era um reflexo do que na sua alma pura morava. Na piedade, era sincero e convicto. Aos estudos aplicava-se com um entusiasmo esclarecedor da sua vontade”. Dele disse o superior, que “nunca deu a ninguém desgosto algum”. O Plínio foi a primeira flor colhida nos seminários da Consolata do Brasil. Pioneiro na vida e na morte-vida, é-o também como intercessor na Casa do Pai, da Virgem Mãe e de todos os filhos e filhas consolatinas do Senhor Deus omnipotente no continente americano – a primeira consolação exalada para a Virgem naquelas terras. E é na fé que melhor compreendemos as reviravoltas aparentemente incompreensíveis do ‘destino’. Afinal, também na vida e na morte do Plínio vemos que “a Deus nada é impossível”. 32
Fátima Missionária
O QUE SE ESCREVE
Descalça as tuas feridas
Esta obra apresenta algumas das crónicas que a autora, Marta Arrais, foi publicando no site iMissio. Com grande sensibilidade e atenção às pequenas coisas do dia a dia, que tantas vezes nos escapam, a autora reflete, entre outros muitos temas, sobre o amor e o perdão, a perda e o encontro, a fé e a complexidade da vida atual. Crónicas da condição humana no seu quotidiano. Um livro que merece a atenção do leitor. Autor: Marta Arrais Páginas: 136 | preço: 13,00€ Paulus Editora
Histórias maravilhosas da Bíblia
“Embarca numa viagem pela Bíblia e vem conhecer algumas das suas mais maravilhosas histórias. Neste livro encontrarás personagens importantes que te acompanharão nesta viagem de descoberta.” É o convite lançado na contracapa deste livro bem colorido. Trata-se de uma Bíblia infantil com passagens selecionadas do Antigo e do Novo Testamento, belas ilustrações e textos curtos. Ideal para crianças entre os cinco e os 10 anos. Autor: Vários Páginas: 48 | preço: 11,50€ Paulus Editora
Religiosidade, alternativa, seitas, espiritualismo Desafio cultural, educativo e religioso
Movimentos religiosos alternativos, seitas e espiritualismo são alguns dos temas sobre os quais os bispos da Conferência Episcopal da Emilia-Romagna (Itália) refletem neste documento. É uma obra útil para a formação dos católicos em geral, e em particular dos catequistas e professores de religião. Com uma linguagem simples e eficaz procura-se levar o leitor a um maior conhecimento e consciência do que está a emergir nas nossas sociedades sobre estes temas e desafios. Autor: Conferência Episcopal Emilia-Romagna Páginas: 136 | preço: 10,00€ Paulus Editora
À MESA COM OS 7 PECADOS CAPITAIS
É uma conversa solta à volta de uma das obras-primas do pintor holandês Hironyimus Bosh (1450-1516), dedicada aos 7 pecados capitais, pertença da coleção do rei Filipe II de Espanha. O padre Gonçalo Portocarrero de Almada e Zita Seabra conversam à volta de uma mesa que tem por tampo a pintura de Bosh dividida em sete cenas, uma para cada pecado: ira, soberba, gula, luxúria, preguiça, vaidade e inveja. Conversa rica e esclarecedora. Autor: Gonçalo Portocarrero de Almada e Zita Seabra Páginas: 250 | preço: 12,00€ Alêtheia Editores
Quero acordar a aurora
Este livro apresenta uma série de reflexões escritas pelo bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança ao longo dos últimos anos, fundamentalmente para a revista Ecclesia – Semanário. Os temas abordados pelo autor são bastante variados. O leque de interesses é amplo e abarca temáticas referentes à Igreja, à Fé, à Política, à Cultura e à Família, entre muitos outros. Autor: Manuel Linda Páginas: 158 | preço: 11,00€ Paulus Editora
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MEGAFONE
por albino brás
“A palavra escrita é demasiado limitada para nos dar a dimensão de Deus” Frederico Lourenço escritor e tradutor português, Prémio Pessoa 2016
“Ser diferente não é nem bom nem mau… Significa, simplesmente, que tens a coragem suficiente para seres tu mesmo” Albert Camus (1913-1960), escritor e filósofo francês
“Uma criança pode ensinar três coisas a um adulto: ser feliz sem motivo aparente, estar sempre ocupado com alguma coisa, e saber como pedir com toda a sua vontade o que realmente deseja” Paulo Coelho escritor brasileiro
“Temos de deixar de ter medo uns dos outros e ter confiança” António Guterres secretário-geral das Nações Unidas
“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo”
Leo Tolstoy (1828-1910), escritor russo
“Aceitar o limite é a primeira condição para dar passos em frente. Nós não podemos dominar a história. Mas também não estamos condenados a sofrê-la. Bem pelo contrário, podemos estar dentro dela, dispostos a servi-la” Stefano Camerlengo padre, Superior Geral dos Missionários da Consolata 34
Fátima Missionária
consolata
um abraço entre a fÊ e a vida
Neste novo ano, Senhor Neste novo ano, Senhor, Quero amar Com a universalidade do Teu amor; Quero perdoar Com a constância do Teu perdão; Quero sentir Com a grandeza da Tua misericórdia; Quero dar-me Com a totalidade da Tua entrega;
Quero ser A infinita bondade da Tua vontade Quero viver Com a eternidade da Tua Vida; Por Ti, Senhor Em Ti, Senhor Para Ti, Senhor Nos outros. Ámen. Joaquim Mexia Alves
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Fátima Missionária