Ano LIX | JUNHO 2013 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤
Filipinas
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igreja de leigos num país de contrastes
casal tira férias para fazer missão Pág. 12 marcas da exploração no Bangladesh Pág. 13 ONU aconselha a comer Pág. 14 mais insetos
editorial
Mártir dos pobres “Tenho sido frequentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhes que como cristão não creio na morte, mas sim na ressurreição. Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Isto vos digo sem nenhum orgulho, mas com a maior humildade... Como pastor estou obrigado por lei divina a dar a minha vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, mesmo por aqueles que me vão matar. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus o meu sangue pela redenção e salvação de El Salvador”. São palavras de Óscar Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado em 24 de março de 1980 por um francoatirador, enquanto celebrava a Eucaristia na capela do hospital da sua cidade. “Quero correr os mesmos perigos que o meu povo corre”, costumava repetir. Poucos minutos antes do crime, disse na homilia: “Neste cálice, o vinho torna-se sangue, que foi o preço da salvação. Possa este sacrifício de Cristo dar-nos a coragem de oferecer o nosso corpo e o nosso sangue pela justiça e pela paz do povo”.
arquivado desde 1997. Considerado um mártir da Igreja dos pobres e da teologia da libertação, Óscar Romero foi eliminado pelo seu compromisso com os excluídos, contra as desigualdades sociais na América Latina e a violência da ditadura no seu país. Poucos meses antes da sua morte, tinha afirmado que o Concílio Vaticano II pedia a todos os cristãos para serem mártires, isto é, dar a vida pelos valores em que se acredita. Sem se envolver nas lutas mais radicais e sem recorrer às armas, o arcebispo salvadorenho, partidário da “doce violência do amor” correu todos os riscos. Denunciou que agricultores, autorizados a tomar posse de terras pela lei da reforma agrária, eram executados; colocou a rádio da diocese à sua disposição e acusou os militares, paramilitares e esquadrões da morte pelos massacres. Tornou-se, por isso, o mártir da América Latina e símbolo da defesa dos mais pobres e oprimidos. Em boa hora, o Papa Francisco, admirador da santidade corajosa deste bispo, decidiu que o seu processo de beatificação fosse retomado. São exemplos de frontalidade e coerência com o Evangelho que não podem ser ignorados. Darci Vilarinho
Na véspera do seu funeral, um grupo de bispos latino americanos assinou um documento onde se admirava e agradecia o ministério apostólico de Óscar Romero como “anunciador da fé e mestre da verdade”, “resoluto defensor da justiça” e “amigo, irmão, e defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados”. O Papa Francisco decidiu retomar o processo de beatificação deste arcebispo, que se encontrava Junho 2013
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 6 Ano LIX – JUNHO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.000 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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Filipinas, uma Igreja de leigos
03 EDITORIAL Mártir dos pobres 05 PONTO DE VISTA Recordar, contemplar e celebrar 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Decidi mudar! 08 MUNDO MISSIONÁRIO Triste recorde na Colômbia que urge combater
Jovens da Nova Guiné, querem rezar com o Papa em Roma Religiões dizem “stop ao ódio interconfessional” na Tanzânia Pobreza e desemprego para 1,3 milhões de mulheres no México 10 A MISSÃO HOJE “Romero é um santo incómodo” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Um testemunho valioso 12 A MISSÃO HOJE “Ficamos despertos para o essencial” 13 DESTAQUE As marcas da exploração 14 ATUALIDADE Treze perguntas e repostas sobre... alimentar a humanidade 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Quando for grande quero ser feliz 24 TEMPO JOVEM Não desistas! 26 SEMENTES DO REINO Quem sou eu? 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Quando eu morrer cantem o Magnificat 32 OUTROS SABERES Dos fracos não reza a história 33 NOTAS MISSIONÁRIAS Somos complemento uns dos outros 34 FÁTIMA INFORMA “Coração de Maria, refúgio e caminho”
ponto de vista
Recordar, contemplar e celebrar texto António Fernandes*
No mês de junho, toda a Família Missionária da Consolata celebra a sua padroeira, Nossa Senhora da Consolata. Que significado pode ter para nós a aproximação a esta figura maternal e consoladora de Maria que diariamente nos acompanha, ilumina e fortalece na opção de sermos verdadeiros anunciadores da Boa Notícia, na pessoa de Jesus de Nazaré? Recordar, contemplar e celebrar, é o percurso que devemos fazer para que esta festa não se fique por um simples encontro de alegre convívio, mas seja ocasião para um verdadeiro enriquecimento do nosso ser missionários nas comunidades e nas estradas da vida. Recordar: a vida oferecida, o verdadeiro presente que Maria levou à sua prima Isabel. Percorremos os caminhos da missão para oferecer Jesus de Nazaré a todo o ser humano, sem distinção. Ele que subiu a Jerusalém e se doou totalmente, é sempre o nosso modelo. A morte é vencida quando amamos, doamos e oferecemos o melhor de nós. Maria recorda-nos o caminho a percorrer e o presente a oferecer.
fraternidade, solidariedade e justiça. Este é o tempo para parar, contemplar, aproximar-se, doar o que somos e temos, acolher e cuidar. Com Maria Consolata desejamos fazer-nos próximos, e ser sinais de verdadeira consolação para os homens e mulheres que anseiam por compreender e sentir o verdadeiro rosto amoroso e cuidador de Deus. Em cada irmão reconhecemos e contemplamos a Sua presença. Os caminhos são imensos, as encruzilhadas inesperadas, os cruzamentos infinitos. Celebrar: com alegria, de coração aberto a toda a humanidade. Nossa Senhora da Consolata convida-nos a abrir a mente, o coração e a boca para proclamarmos que a vida só é plena quando vivida intensamente na procura do Outro. É deixar-nos encontrar por Deus, na pessoa de Jesus de Nazaré, que é a verdadeira consolação, e com Ele aceitarmos o desafio de ir ao encontro dos outros, fazendo-nos seus próximos e cuidadores. * Superior Provincial
Contemplar: nos caminhos e encruzilhadas da vida, somos diariamente confrontados com os rostos desfigurados de Cristo. Estamos a pensar em todas as pessoas que encontramos no dia a dia, que precisam de ser escutadas, de receber um gesto de carinho e ternura, de uma palavra amiga e acolhedora. Há situações humanas que requerem hospitalidade, Junho 2013
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leitores atentos
Renove a sua assinatura Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Com os meus cumprimentos,
envio um cheque para a renovação da assinatura e o resto para o projeto “Maloca para todos”. Dou os meus parabéns à vossa e nossa revista. Fico muito feliz quando ela me chega às mãos. Gosto imenso de a ler. Admiro e analiso o trabalho que os nossos missionários realizam em terras longínquas tão carentes de uma palavra de conforto e de carinho, oferecendo-lhes com todo o amor
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Eficiência profissional
Agradeço do fundo do meu coração a preocupação do envio das revistas; já está tudo atualizado. É evidente a eficiência do vosso profissionalismo. A revista é maravilhosa (cultura geral, informação, ilustração lindíssima, etc.). A verdade é que nem temos a noção da miséria de outros países; pensamos que só no nosso é que há problemas. Para toda a equipa que trabalha na revista, muita saúde, paz e alegria. Maria da Glória
Assinantes há muitos anos
Há muitos anos que somos assinantes e gostamos muito de ler a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA, que tanto nos ensina e informa. Hoje, desejaríamos partilhar com todos os leitores uma graça recebida com o nascimento de um neto muito desejado.
de pretender ajudar e gostar do conteúdo, dão-me imenso jeito também para as minhas crianças da catequese, como exemplos que pretendo partilhar num mundo tão diferente. Boa continuação e bom sucesso para todos vós! Isabel
Palavra de incentivo
Deixem que vos diga uma palavra de incentivo ao vosso trabalho com a imprensa missionária. Tenho perante mim um exemplar da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA que nos apresenta uma visão do mundo em traços universais e muitas notícias de fácil leitura, acessíveis e bem selecionadas. A disposição gráfica da Happybrands é apelativa. Dou os parabéns à nova direção e à incansável e competente Ana Paula: são mudanças muito positivas que vos deixam bem colocados no conjunto das revistas missionárias. Armando Soares (VOZ DA MISSÃO)
Maria Piedade e José
Partilhar com as crianças
Agradeço a pronta resposta e a colaboração no envio das revistas para minha casa; já as recebi. Além
a Palavra de Cristo. Que o Senhor ajude a todos com a sua bondade.
José Baptista Mirra Couto Santa Cristina (Santo Tirso)
Amigo José, bem-haja pelas suas belas palavras de apreço sobre a nossa revista. Selecionei a sua carta, porque é um dos assinantes mais antigos. O facto de persistir é um bom sinal. Olho para trás e agradeço a Deus por tudo o que aqui se escreveu tendo em vista a informação e a formação das pessoas com o conhecimento da realidade missionária. É essa
a nossa finalidade: ajudar as pessoas a compreender a dimensão do nosso serviço, aqui e além fronteiras, e difundir os valores do Evangelho. Em tempos de crise são esses os valores mais relevantes. Obrigado, por todo o seu apoio.
DV
horizontes
DECIDI MUDAR! texto TERESA CARVALHO ilustração Hugo Lami Sentaram-se dispostos a ter uma conversa profunda como gostavam de fazer em meninos. A ligação e a admiração mútua dos dois irmãos vinha dos tempos de criança quando inventavam respostas para as dúvidas existenciais que a infância traz.
cheguei lá, …”? Fizeste um discurso sobre a parte da tua história que não deu certo, ou sobre aquilo em que não és tão boa. Estás tão preocupada em mudares o que és! Mas, tu sabes realmente o que “és”? – Claro que sei o que sou! Tenho pensado muito, e então nestes últimos tempos…
A determinação de Sofia não deixava dúvidas. Partilhou com Carlos as suas reflexões sobre as falhas ao longo da vida e sobre o que tinha de alterar. E era tanto!
– Pois é, maninha, mas tens andado quase deprimida! Ninguém se vê realmente “como é” quando está no “escuro”. Lembraste-te por acaso de olhar aquela miúda cheia de humor e pronta a ajudar? Ou aquela que faz as coisas mais difíceis para poupar a outros de o fazerem? Lembras-te daquela miúda que era uma “jovenzita” quando foi cofundadora de dois grupos de jovens? E a que fundou o grupo recreativo e desportivo para dar novos horizontes a crianças e jovens que tinham tão pouco? E a que criou um jornal para formar a mente e o espírito? Que dirias daquela moça que investiu em múltiplos cursos para poder resolver o sofrimento das pessoas que a procuram e assumiu como missão partilhar os seus conhecimentos? Que dirias de uma miúda que quando se depara com um fracasso, inventa soluções sem nunca desistir? E daquela que nunca para de sonhar?
– Sofia, reparaste que todo o teu discurso foi à volta de: “não fiz…”, “estraguei…”, “não consegui”, “não
– Não me vejo tão boa assim! Sabes, Sofia, concordo contigo: Tens mesmo que mudar! Mas,
– Sabes, Carlos, hoje, na missa, as leituras vieram todas ao meu encontro, sobretudo o Evangelho: (Jo 21,1-19). Jesus apareceu aos discípulos quando andavam a pescar toda a noite sem apanharem nada. Disse-lhes que deitassem as redes para a direita da barca que achariam peixe. Eles obedeceram e ficaram com a rede a abarrotar. Percebi o Cristo a mandar-me mudar de direção. É o que vou fazer! Preciso da tua opinião.
talvez que a mudança não implique “penitenciares-te” ou centrares criticamente o olhar em ti. Que tal agradeceres a pescaria? Agradecer a vida, agradecer as pessoas, o tempo, as aprendizagens, também os falhanços, agradecer os acontecimentos, a força, a persistência, a procura – tua e dos outros. Agradecer e amar! E isso é feito num contínuo. – Vendo assim diria que tens razão! – Claro, Sofia, talvez que para ti a direita da barca seja o lado bonito do espelho: o lado de gostar de ti com o que és de bom para partilhar; com sorrisos dentro de ti, sorris; amas porque sentes o Amor; aceitas as diferenças porque possuis a compreensão; não te impões porque defendes a liberdade; delicias-te com a vida porque és sensível e decides vivê-la no amor! Tudo isso tu já “és”. É só ousares! – Tens razão, Carlos, começo por aí: lançar-me para a direita da barca, deixando o Cristo me orientar, sem medos! – Bom, vou preparar a grelha, porque os peixes não vão faltar… A gargalhada e o gosto quente do abraço pôs fim à conversa dos dois irmãos, sentindo-se acompanhados em todo o tempo pelo Cristo que renova a vida.
Junho 2013
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mundo missionário texto E. Assunção fotos lusa
Triste recorde na Jovens da Nova Guiné Colômbia que urge querem rezar com o combater Papa em roma Mais de cinco milhões de deslocados internos, segundo Quinze estudantes cristãos da Universidade do Verbo o departamento da Pastoral Social da Igreja Católica, fogem da guerra civil. Vários programas e projetos estão a ser desenvolvidos em 76 dioceses e 5.500 centros e paróquias destinados a socorrer esta enorme massa humana sofredora. A Conferência Episcopal colombiana recorda que há mais de 30 anos se dedica a aliviar tanto sofrimento e a combater esta chaga. O documento “Direitos Humanos: Deslocados pela violência na Colômbia”, recentemente publicado, põe em destaque as dimensões deste fenómeno. A Colômbia é o país com o maior número de deslocados no mundo, seguido pela Síria e pela República Democrática do Congo.
Divino, de Madang, da Papua, peregrinam a Roma de 14 a 21 de junho, por ocasião do Ano da Fé. Os jovens pediram ao Papa Francisco para participarem na Missa, celebrada por ele, na Casa de Santa Marta, em Roma. Durante os encontros de preparação da peregrinação, os jovens pediram para “rezar com o Papa Francisco”. Embora o capelão lhes tenha explicado que o seu desejo não será fácil de realizar, eles “desejam poder realizar o seu sonho de estarem um dia muito perto do Papa e do coração da Igreja”. De diversas confissões cristãs, os jovens pertencem a várias faculdades: Letras, Medicina e Ciências Socais.
Junho mês da Consolata
Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma
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Embora estando em Roma, propus-me desta vez não escrever sobre o chamado “efeito Francisco” a que o novo Papa nos vai habituando. Falemos de Maria, pois no dia 20 de junho é a festa de Nossa Senhora da Consolata. Se dalguma coisa sinto saudades quando penso nos meus tempos de atividade missionária em África, é precisamente do entusiasmo e devoção com que os cristãos lá celebravam esta festa. Não é que aqui em Roma a devoção a Nossa Senhora esteja esquecida; muito pelo contrário. Temos por cá muitas Igrejas a Ela dedicadas e a primeira entre todas é a basílica de Santa Maria Maior construída logo a seguir a 431, ano em
Religiões dizem “stop ao Pobreza e desemprego ódio interconfessional” para 1,3 milhões de na Tanzânia mulheres no México Depois do atentado de Arusha, durante a inauguração Sós, exploradas nas fábricas e privadas dos seus da paróquia de São José, os líderes religiosos cristãos e muçulmanos disseram claramente “não aos discursos de incitamento ao ódio religioso”, na Tanzânia. A decisão foi tomada numa reunião no início de maio, em Dar es Salaam, após o atentado que causou três mortos e uns 60 feridos. A declaração convida todos os líderes religiosos a comprometerem-se a respeitar os diferentes credos e a encorajar os pais a educar os próprios filhos para o valor da paz. Entretanto, a polícia fez saber que o incitamento ao ódio religioso nas mensagens transmitidas nas igrejas ou mesquitas, pela rádio ou outros meios serão punidos.
que o Concílio de Éfeso proclamou o dogma da Maternidade Divina de Maria. Não admira pois que o Papa Francisco – prometi que não ia falar dele, mas faço uma pequena exceção – lá se tenha dirigido nas primeiras horas do seu pontificado para a Ela consagrar o seu novo ministério. Para nós, missionários da Consolata, a devoção a Nossa Senhora é parte da nossa identidade. O nosso fundador dizia que a fundadora era Ela. A missão dela foi trazer Jesus ao mundo e essa é também a nossa missão. Desejo a todos um mês de junho cheio das bênçãos da Rainha das Missões.
direitos fundamentais é a situação de 1,3 milhões de mães mexicanas. Os seus maridos emigraram em busca de melhores condições de vida, tornando-as de um momento para o outro chefes de família. De acordo com a Confederação Nacional Camponesa, o número de mulheres que vivem nas zonas rurais, atingidas pelo desemprego, pobreza e aumento dos preços, deverá chegar aos 13 milhões. Apenas uma pequena percentagem da população feminina do México tem direito à terra, correspondente a 14 por cento dos 3,5 milhões de titulares. Uma mãe mexicana das zonas rurais trabalha mais do dobro de tempo dos homens e quatro horas a mais que as mulheres da cidade, segundo a Comissão Económica da América Latina. Mas os salários delas são muito baixos e insuficientes para sustentar a família, devido ao aumento do custo dos bens de primeira necessidade, cerca de quatro vezes mais que em 2012.
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a missão hoje
Gregório Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador, esteve am Portugal em maio
“Romero é um santo incómodo” Assumiu a defesa dos pobres e oprimidos e pagou a ‘ousadia’ com a vida. Foi morto a tiro quando celebrava a eucaristia, em El Salvador. Três décadas depois, a doutrina de Óscar Romero mantém-se um exemplo para a Igreja Católica, um modelo reavivado pela visão do Papa Francisco, ao pedir mais proximidade pastoral junto dos desfavorecidos texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA A voz profética do arcebispo de San Salvador, Óscar Romero, voltou a ecoar entre os cristãos portugueses. Convidado pelos Missionários da Consolata a recordar o martírio do arcebispo assassinado a tiro em pleno altar, em 1980, Gregório Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador, deixou em Portugal um testemunho emocionado sobre uma figura marcante para a Igreja Católica. Um “mártir” que pagou com a vida “o amor pelo povo, pela palavra de Deus, e a compaixão pelos pobres”. “Romero é um santo incómodo. Um santo que nos obriga a reconhecer que somos medíocres, que necessitamos de conversão, que nos desinstala e obriga a tomar opções. É um profeta que nos impele a rever a forma como estamos a viver o nosso profetismo na Igreja e que muitos quiseram manter longe.
Óscar Romero “é uma figura ímpar na Igreja”. “Mal visto por uns, muito bem visto pela grande maioria, o testemunho vivo que dom Gregório nos trouxe deste santo homem é um alerta para toda a Igreja, sobretudo para a Igreja em Portugal, para a disponibilidade e atenção aos pobres”, afirmou António Lopes, diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias
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palavra de colaborador
Necessitamos de santos assim na Igreja de hoje. O Papa Francisco é um profeta do estilo de Romero” e, por isso, a atualidade da sua doutrina “é inquestionável”, disse Rosa Chávez à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Depois de vários anos bloqueado no Vaticano, o processo de beatificação de Óscar Romero voltou a ter luz verde para avançar, por iniciativa do novo Papa. Rosa Chávez reconhece que o arcebispo mártir “ganhou muitos inimigos” ao assumir-se “voz dos sem voz” em El Salvador, ao oferecer a vida pelo povo e apelar a um cristianismo mais livre e mais envolvido na transformação da sociedade. Mas está confiante que agora se encontram reunidas as condições para fazer de Romero um santo universal. Óscar Romero “é uma figura ímpar na Igreja”. “Mal visto por uns, muito bem visto pela grande maioria, o testemunho vivo que dom Gregório nos trouxe deste santo homem é um alerta para toda a Igreja, sobretudo para a Igreja em Portugal, para a disponibilidade e atenção aos pobres”, afirmou António Lopes, diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias, no final de uma das conferências proferidas por Rosa Chávez. O bispo passou por Lisboa, Porto, Gondomar, Braga e Fátima, no âmbito do ciclo de conferências “Fé, missão e martírio”. Nas sessões foi apresentado o novo livro do catálogo da Consolata Editora – “A doce violência do Amor” –, todo ele construído com textos de homilias do arcebispo Romero.
Quem foi Romero
Óscar Romero nasceu a 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, El Salvador, no seio de uma família pobre. Entrou para o seminário aos 14 anos e foi ordenado padre em abril de 1942. Em 1970 foi nomeado bispo auxiliar de San Salvador e arcebispo titular em 1977. Nunca se calou perante as injustiças e foi morto a tiro a 24 de março de 1980. O processo de beatificação, aberto em 1990, chegou a Roma seis anos depois. Esteve bloqueado até agora.
Um testemunho valioso texto DARCI VILARINHO O sorriso aberto não mostra à primeira vista o que Maria do Rosário Vieira Narciso Silva, natural da Chainça, Leiria viveu nos últimos tempos. Por trás está uma coisa séria que a tem limitado no trabalho. Sabemos que Deus tem sempre um projeto de amor a nosso respeito, mas nem sempre é fácil descobri-lo. Maria do Rosário confessa que a sua fé e confiança em Deus foram postas à prova. “Porquê, Senhor? Tu abandonaste-me e a Tua mãe também!”, foi o grito mais do que compreensível. Deus parecia que estava longe. Mas as filhas “abafaram-na” com cuidados e atenções. Tem seis filhos (mas criou dez), 24 netos e três bisnetos. Uma família muito amiga e muito unida. Pouco a pouco, a confiança voltou… e a oração também. “Tive que deixar a catequese, o grupo coral e outros serviços de voluntariado”. “Fiquei apenas com a cobrança da FÁTIMA MISSIONÁRIA, com a ajuda de duas senhoras da terra”. Maria do Rosário não hesita em dizer que o faz com todo o gosto e com alegria. A Chainça, aliás, tem uma longa tradição de ajuda direta à Consolata desde os tempos heroicos dos inícios. Uma vez por ano, toda a aldeia acorria ao seminário para entregar ofertas em produtos da terra. Hoje a ajuda é de outro tipo, mas não menos importante. E os missionários “pagam” com a sua oração e a Eucaristia dominical e semanal.
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a missão hoje
“Ficamos despertos para o essencial” Cláudia Machado e Fábio Mucavel, dois jovens enfermeiros de Lisboa, de 26 anos, tiraram férias para realizar uma experiência missionária em Soplin Vargas, no Peru. Foi uma aventura curta no tempo, mas suficientemente forte para os deixar com um olhar novo sobre o mundo e a própria vida texto e foto Rui Sousa e Viviana Nunes FÁTIMA MISSIONÁRIA O que vos levou a querer conhecer uma missão tão distante e diferente do vosso quotidiano? Cláudia e Fábio Há muito tempo que tínhamos o desejo de viver uma experiência missionária. Queríamos conhecer o trabalho dos missionários noutras partes do mundo, trabalhar com pessoas mais desfavorecidas, conhecer outras culturas e modos de viver, que têm tanto de diferente como de igual, em relação aos nossos. Até que surgiu esta oportunidade de conhecer a missão em Soplin Vargas. FM As dificuldades com o espanhol não vos impediram de dar formação sobre a educação para a saúde aos jovens de Soplin Vargas.
O jovem casal de Lisboa deu ‘aulas’ de educação para a saúde às crianças
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Cláudia e Fábio É verdade. Apesar de, no início, as conversações não terem decorrido de forma muito fluente, aos poucos, conseguimos adaptar-nos. Em relação às atividades, preparadas pelos leigos missionários da Consolata, tivemos a oportunidade de realizar formações em educação para a saúde, com as crianças do ensino básico e os jovens do ensino secundário. FM Que vivências vos marcaram nesta visita à missão? Cláudia e Fábio Imensas. A viagem pelo rio Putumayo fez-nos embarcar pela aventura que é a Amazónia, e remeteu-nos para uma beleza natural que só conhecíamos pela televisão. A água é barrenta, mas a população utiliza-a para a
higiene diária, assim como para a confeção dos alimentos. Por último, o contacto com as crianças. Elas são tão simples, tão genuínas, recebem tudo de coração aberto, e vivem com um sorriso sempre presente, que é impossível não nos enamorarmos por elas. FM Conheceram vários missionários que trabalham na Colômbia, no Peru e no Equador. Foi mais uma experiência enriquecedora? Cláudia e Fábio É realmente muito enriquecedor conhecer pessoas que contactam com as diferentes culturas e que têm vivências e histórias tão diversificadas. Apercebemo-nos que os missionários estão sempre prontos para partilhar o seu espírito de missão onde seja necessário. As condições nem sempre são as mais favoráveis, e mesmo assim eles não deixam de estar junto das populações e de realizar a sua missão. O conhecimento destas diferentes experiências fez-nos refletir no nosso projeto de vida, e sentir que podemos dar sempre um bocadinho mais de nós. Ficamos mais despertos para o que realmente é essencial.
destaque
A derrocada de um prédio de oito andares provocou a morte a mais de 1000 operários
O maior desastre industrial do Bangladesh
As Marcas da exploração texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA O colapso do Rana Plaza, o edifício da capital do Bangladesh, Daca, no qual morreu mais de um milhar de pessoas, é já considerado o maior desastre industrial do país. Mas no número de mortos esconde-se uma realidade bem mais dura: o da injustiça de um sistema que nega os mais elementares direitos dos trabalhadores dos países mais pobres, em troca de produtos concorrenciais destinados a servir o lucro de marcas ocidentais de referência. A revolta dos trabalhadores nas ruas e a atenção dos media pela catástrofe deu lugar à pública expressão das boas consciências: as autoridades prometem que irão exercer uma maior fiscalização sobre as empresas, as grandes marcas multinacionais que vão pedir maiores garantias de segurança para os trabalhadores na celebração dos seus contratos de produção… é chegado, por fim, o momento das homenagens que o vício presta à virtude.
Segundo a Organização Human Rights Watch, o colapso do edifício foi apenas o último de uma série de acidentes em fábricas de roupas de Bangladesh. Nos últimos três anos, mais de 500 operários do sector têxtil morreram em acidentes de trabalho, 112 dos quais num incêndio de uma fábrica nos arredores da capital do Bangladesh, que produzia artigos para a Walmart e C&A.
Menos de 40 dólares por mês
O Bangladesh é, atualmente, o segundo maior produtor mundial de confeções. Segundo o portal
Nas etiquetas das grandes marcas não podemos apenas ver o seu preço, mas também a expressão dos desempregados que gerou no ocidente e, pior ainda, os escravos que explora no oriente da rádio alemã Deustche Welle, a indústria têxtil representa 80 por cento das exportações do Bangladesh e ocupa cerca de 40 por cento da força de trabalho industrial do país. Um trabalhador têxtil ganha, em média, menos de 40 dólares por mês e a maioria deles trabalha cerca de 10 horas por
dia, seis dias por semana. Um estudo do Institute of Global Labour and Human Rights, citado pela revista brasileira Época, mostrou que uma camisa igual, produzida nos Estados Unidos, custa 13,22 dólares, enquanto, se for no Bangladesh, custa apenas 3,73. Nos Estados Unidos, o custo da mão de obra corresponderia a 57 por cento do valor total da camisa e no Bangladesh, corresponde a 6 por cento. Cerca de 60 por cento dos produtos são destinados à Europa, 23 por cento vão para os Estados Unidos e 5 por cento para o Canadá, com marcas como a Mango, a Primark, El Corte Inglés, Joe Fresh, Benetton e Bon Marché. A concorrência mundial fez com que muitas empresas se deslocalizassem para os países da Ásia à procura de mão de obra mais barata que, por vezes, é apenas um eufemismo para trabalho escravo: nas etiquetas das grandes marcas não podemos apenas ver o seu preço, mas também a expressão dos desempregados que gerou no ocidente e, pior ainda, os escravos que explora no oriente.
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atualidade
proposta Comer insetos é solução para combater a fome
A ONU alerta para a escassez de recursos perante o aumento da população mundial
TREZE PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE... ALIMENTAR A HUMANIDADE As Nações Unidas aconselham a que no futuro se coma mais insetos. É uma solução mais para uma crise alimentar que se teme aconteça com o aumento da população dos atuais sete mil milhões para nove mil milhões em 2050. Mas há outras possibilidades de lidar com o problema texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA 1. Comer insetos pode ser o futuro para a humanidade, como sugeriu a FAO, a agência da ONU para a alimentação, num relatório em maio? Insetos como complemento a outros alimentos sim, que aliás é o que recomenda a FAO, notando que muitas espécies fornecem tanta proteína como a carne. E parte substancial da humanidade 14
consome já insetos, sobretudo escaravelhos, lagartas, abelhas e formigas. 2. Este apelo ao consumo de insetos tem que ver com alguma crise alimentar inesperada? Não, até porque este ano as colheitas de cereais devem apresentar bons níveis. Na
realidade, a FAO está a alertar para a escassez de recursos do planeta e para o facto de a população, hoje um pouco acima dos sete mil milhões, ir atingir os nove mil milhões em 2050. 3. Alargar a área cultivada é uma hipótese? Sim, mas difícil de concretizar sem consequências negativas, como o derrube de florestas que são essenciais para o controlo do CO2 na atmosfera. É importante salientar que da superfície do planeta, menos de um terço é terra firme e mesmo assim a área propícia à agricultura não ultrapassa a soma dos Estados Unidos e do Canadá. Calcula-se que cada hectare de terra boa tem hoje de sustentar cinco pessoas em média. Em 2050, a mesma superfície, que equivale a um campo de futebol, terá de prover a seis pessoas. 4. Até existe terra arável a ser destruída, por absurdo que pareça, como na China?
Por regra, os povoamentos humanos acontecem junto de terrenos agrícolas. Ora, a expansão urbana leva muitas vezes a sacrificar terras aráveis. A recente expansão económica chinesa levou essa situação a níveis extremos, com a construção de edifícios, fábricas e estradas em zonas onde antes se cultivava arroz e não só. E, para reverter um pouco a situação e aumentar as áreas de cultivo, há governantes regionais que estão a tentar desocupar cemitérios. Um desespero natural num país que conta com 20 por cento da população mundial, mas apenas sete por cento das terras aráveis e cinco por cento da água potável. 5. É assim tão desesperada a situação alimentar chinesa? Não de momento, e há décadas que não ocorrem grandes fomes. Mas o desafio é para o futuro e sobretudo há a incerteza sobre o efeito que a intensa busca chinesa por alimentos nos mercados internacionais pode ter sobre os preços dos bens a nível global. 6. Que soluções os líderes chineses têm adotado para prevenir futuras crises alimentares? Segunda potência económica mundial, a China é também dona da maior reserva de divisas. Assim, sabe-se que há chineses a comprar minas de potássio no Canadá, para produzir fertilizantes, e também a arrendar terras em África para fins agrícolas. Existe uma clara preocupação em assegurar o aprovisionamento do país, seja em alimentos, seja em matérias-primas como o petróleo, e isso significa fazer aquisições e negociar contratos mundo fora. 7. A estratégia de comprar terras agrícolas noutros países está em expansão, certo? Sim. Além da China, sabe-se que
a Coreia do Sul comprou terras no Sudão, que o Egito fez o mesmo no Uganda e que o Koweit se interessou por arrozais nas Filipinas. Até Cabo Verde, arquipélago de terras áridas e escassa chuva, comprou fazendas no Paraguai para ter milho. 8. Mas continua a haver muita gente subnutrida? Quase mil milhões, sobretudo em África, na Ásia do Sul e em certas partes da América Latina. E ao mesmo tempo estragam-se alimentos noutras zonas do planeta. 9. Como é isso possível? Sabe-se que muitos vegetais ficam por colher porque do ponto de vista estético não conseguiriam afirmar-se num supermercado. Há também aquilo que se destrói através de uma distribuição deficiente e, pior ainda, o desperdício nas nossas casas. Algumas estimativas apontam para que um terço dos alimentos em países como os Estados Unidos nunca sejam consumidos. 10. O consumo crescente de carne também ameaça o planeta? A carne foi durante séculos um luxo para a maioria da humanidade. Algumas proibições de carácter religioso, como a de comer vaca no hinduísmo, até têm explicação com base no equilíbrio entre aquilo que um território pode produzir e a dimensão da população. Os hindus são em grande número vegetarianos e isso significa que na Índia existe maior rentabilidade na produção agrícola. Sabe-se que são necessários três quilos de vegetais para produzir um quilo de carne de frango, oito quilos para um de porco. No caso da vaca, essa relação atinge valores ainda maiores, para além do problema da emissão de gás metano pelas manadas.
Sim, no caso de alguns peixes que vivem a grande profundidade e que, se forem pescados de forma sustentável, podem ajudar a manter a humanidade. Mas existe sobrepesca e há espécies ameaçadas, desde o esturjão, cujas ovas dão o caviar, até ao bacalhau. Não é por acaso que países como a Noruega fazem uma gestão muito apertada dos seus bancos de pesca. Querem garantir que aquilo que se captura não é superior à capacidade de regeneração da natureza. 12. Que soluções há para alimentar a população mundial que não para de crescer? O ritmo da demografia mundial está a abrandar. Em países como o Afeganistão ou Timor cada mulher pode ter seis a oito filhos, mas na Europa predomina o filho único. Assim, com o investimento na ciência, com melhor gestão agrícola, com mais fertilizantes e rega gota a gota, com o combate aos especuladores e com redução do desperdício, é possível evitar a fome. 13. Adivinham-se avanços científicos notáveis? Tudo é possível, mesmo que polémico. Por exemplo, os Estados Unidos acabam de autorizar a comercialização para consumo humano de salmão com gene de enguia, que cresce mais rápido. Mas também há a imaginação. Em março, os israelitas lidaram com uma praga de gafanhotos usando-os na culinária. A Biblía diz que são ‘kosher’ e os miúdos habituaram-se a comê-los cobertos de chocolate. * jornalista do DN
11. Os oceanos são um recurso ainda por explorar? Junho 2013
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dossier
Ásia Continente de evangelização
A falta de sacerdotes nas Filipinas está a ser suprida pela dinâmica dos leigos
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Filipinas, uma Igreja de leigos É o país com mais católicos em toda a Ásia. À falta de sacerdotes, os leigos filipinos têm respondido com mais entrega e participação. Mas os desafios do futuro são muitos e o bispo auxiliar de Manila, Broderick Pabillo, considera que só podem ser ultrapassados com esperança e perseverança texto e fotos ÁLVARO PACHECO A maior parte dos filipinos pertence à Igreja Católica, que “é uma Igreja de leigos muito ativos”, começa por afirmar Broderick Pabillo. Não há padres suficientes para dar resposta às necessidades das pessoas; assim, os leigos estão a tornar-se cada vez mais dinâmicos. Há muita devoção entre os crentes e um grande sentido de religiosidade. Tem havido um aumento de grupos evangélicos, especialmente devido à falta de sacerdotes e porque a Igreja não consegue chegar a todo o lado – o que revela que os filipinos são um povo sedento de Deus. Começam a aparecer movimentos entre os leigos, sobretudo de cunho carismático, que ajudam no processo de evangelização da Igreja. Todavia, apesar do grande número de católicos e da religiosidade deste povo, há muitos Junho 2013
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pobres. “Alguns dos problemas mais prementes a que nos temos dirigido são: a mineração, a reforma agrária, mortes fora da lei, violações dos direitos humanos, o tráfico humano, especialmente de mulheres e crianças”, sublinha o prelado.
Broderick Pabillo, bispo auxiliar de Manila
problemas na sociedade filipina, alguns até causados pelos católicos, principalmente pelos políticos e pelos ricos. Muitos católicos abastados não têm responsabilidade social, atraídos como estão pela globalização e pelo lucro, ignorando as necessidades dos pobres. Por exemplo, a taxa de desemprego é muito elevada e algumas companhias só contratam a termo, o que causa grande instabilidade social e ainda mais pobreza. “Outro problema é a crise ambiental com que nos deparamos, também causada pela ganância e pela falta de consciência social, particularmente entre as companhias de mineração. Esta situação só faz aumentar os problemas entre os nativos das várias ilhas, que, ainda por cima, são muito pobres”, afirma o bispo auxiliar de Manila.
Outro grande problema é o crescente número de vítimas da Sida: a Igreja defende a fidelidade e a abstinência, enquanto o governo e algumas ONG insistem no uso do preservativo. Outro tópico escaldante é a lei sobre a saúde reprodutiva, que apela ao controle artificial da natalidade, à educação sexual nas escolas, ao fornecimento de preservativos aos pobres, num esforço por fazer diminuir o forte aumento da população. Para Broderick Pabillo, “a solução do problema da pobreza está em cuidar dos pobres mais que em oferecer pílulas e preservativos”. Quanto aos grandes momentos da vida da Igreja nas Filipinas, há três: o Natal, a “Fiesta” (dias festivos de um padroeiro ou da passagem de estação) e a Semana Santa. As igrejas ficam a abarrotar de gente, mas persiste um problema: como educá-los na fé, visto que para muitos a religiosidade é apenas uma questão de práticas religiosas, não de conteúdos. É este um desafio para a nova evangelização. Por outras palavras, precisam de
Responsabilidade social
Segundo Pabillo, tem valido o facto de alguns grupos de leigos estarem a desenvolver uma maior responsabilidade social. Neste apostolado social, a Igreja tem procurado ajudar não só as vítimas da pobreza ou de calamidades – como aconteceu no caso dos tufões recentes –, mas também tem feito campanha pela aplicação de leis justas, mormente no reconhecimento dos direitos dos 18
Malásia
aprender mais sobre os elementos da fé bem como sobre as respectivas consequências.
Igreja mais missionária
O 500º aniversário da chegada da fé católica às Filipinas comemora-se em 2021. Por essa altura, os bispos filipinos esperam que a sua Igreja esteja a enviar para o estrangeiro mais missionários do que aqueles que nela entram, vindos do exterior. Uma das razões para haver ainda poucos missionários filipinos prende-se com a falta de pessoal e de recursos materiais – o rácio está em um sacerdote por cada oito mil crentes ou mais – que não são distribuídos uniformemente. Isto
Manila
Filipinas
quer dizer que a Igreja terá que se tornar mais autossustentável, também porque os recursos e as ajudas vindas da Europa estão a diminuir consideravelmente. Além disso, tal como em muitos outros países, os bispos estão preocupados com a pastoral entre os jovens. Ao contrário de outras nações, a juventude interessa-se pela vida da Igreja – o problema é que há poucos líderes capazes de a organizar e instruir. A situação varia: em algumas dioceses, a pastoral juvenil está bem organizada, ao passo que noutras, ora falta pessoal ora faltam os materiais para a sua instrução. Outro tema complexo é o do diálogo com o Islão. No passado, a maior parte dos islamitas concentrava-se na província de Mindanao. Há comissões de ambas as partes (Católica e Islamita) envolvidas num diálogo positivo. Alguns grupos fundamentalistas, como o Abu-Sayaaf, não estão interessados em diálogo. Hoje em dia, muitos islamitas estão a passar para outras províncias, incluindo Manila, e a maior parte das dioceses não está preparada para isso, havendo pouco ou nenhum diálogo. Ao mesmo tempo, os islamitas começam também a fazer conversões entre os cristãos. Com os protestantes existe algum diálogo, mas não com os pequenos grupos evangélicos, que são mais fundamentalistas. Num certo sentido, esta mudança social colocará uma pressão maior sobre o processo de evangelização da população católica. E os líderes terão que estar prontos a encarar estes desafios com esperança e perseverança.
A pobreza contrasta com o luxo no centro de Manila, capital das Filipinas
País de fortes contrastes As Filipinas são um país muito conhecido pelas suas praias e outros sítios paradisíacos, mas revelam também fortes contrastes entre ricos e pobres, miséria e luxo, desolação e esperança. O arquipélago tem cerca de 7.100 ilhas. A maior é Luzon, sobre a qual assenta a capital, Manila. Com uma população estimada em 96 milhões de habitantes, as Filipinas têm 11 milhões de emigrantes. Sete pontos servem para descrever o país. O primeiro está relacionado com a quantidade imensa de crianças. Andam por todo o lado, sobretudo nas “barracápoles”, que se veem por toda a capital. Muitas vivem na miséria, brincam nas ruas, não têm acesso à educação, mas, ainda assim, conseguem ter a capacidade de sorrir. O segundo ponto refere-se à degradação dos bairros da lata. O contraste com os condomínios fechados ou palácios de luxo é verdadeiramente desconcertante. O caos rodoviário, a escassez de estradas e a quantidade de automóveis surgem no terceiro ponto, seguindo-se a visível divisão
social entre ricos e pobres, seja nas zonas habitacionais, seja nos cemitérios, onde os mais abastados sepultam os seus mortos em mausoléus. Em quinto lugar, a quantidade e a grandiosidade dos centros comerciais, onde muitos cidadãos passam o fim de semana, para fugirem ao calor e descansarem no ar condicionado. Por esta razão, nestes espaços também se celebram missas. É impressionante a quantidade de seguranças armados, nos bancos, restaurantes, lojas e cancelas das subdivisões da cidade. Por último, há que destacar a simpatia, a hospitalidade, a generosidade, o fervor religioso e a simplicidade dos filipinos – e, claro, a beleza das crianças e o seu sorriso.
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Centro de reabilitação das Filipinas foi o primeiro a abrir na Ásia, em 2003
FAZENDA DA ESPERANÇA A “Fazenda da Esperança”, na ilha de Masbate, foi o primeiro centro de reabilitação a ser inaugurado na Ásia, em 2003. E é já um caso de sucesso na recuperação de toxicodependentes, alcoólicos e vítimas da prostituição. A ideia nasceu no Brasil Foi em 1983 que o pároco de Guaratinguetá, diocese de São 20
Paulo, Brasil, o padre franciscano alemão Hans Staple, deu início a um grupo de reflexão “Palavra de vida”, que se reunia todas as manhãs, depois da missa, para meditar sobre o Evangelho e respetiva aplicação à vida prática. Neste grupo encontrava-se Nelson, um rapaz de 18 anos, que habitualmente se cruzava com toxicodependentes a caminho do trabalho. Ao meditar sobre o Evangelho de São Mateus 25, 40 – “O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes” – lembrou-se que aqueles drogados
também eram dos irmãos mais pequenos de Jesus. Depois de ter travado amizade com alguns deles, encontrou um, chamado António, que convidou para o grupo. António foi à missa e à meditação e declarou-se renascido. Atrás dele, vieram outros. Até que o padre Hans sentiu necessidade de arranjar uma casa para eles viverem em comunidade. A habitação tornou-se pequena rapidamente. Mudaram-se então para uma quinta oferecida ao sacerdote. E foi assim que nasceu a primeira “Fazenda da Esperança”. Com o passar dos anos, outras lhe foram
sentia-me cada vez mais só, mais separado da família, acabrunhado e triste”, recorda. Um dia, um tio convidou-o a ir à fazenda, depois de ouvir um extoxicodependente a dizer que se tinha libertado da droga através do Evangelho. Primeiro recusou, mas depois acabou por aceitar. Queria experimentar apenas seis meses, só que depois de perceber que a única terapia aplicada era o trabalho e a vida comunitária, de se sentir bem acolhido, decidiu ficar até ao fim. “Os primeiros dias foram horríveis, com crises de abstinência, alucinações e insónias. Tinha dificuldade em rezar. Não percebia o porquê duma missa diária e pela primeira vez na minha vida, aos 25 anos, passei a rezar o terço e a meditar sobre o Evangelho”, conta Richardson Silva. “Pouco a pouco – prossegue o jovem – comecei a sentir uma alegria intensa. O trabalho na fazenda libertava-me gradualmente e fazia-me sentir o amor de Deus de forma concreta e serena”.
oferecidas chegando a mais de 60 em todo o Brasil e 30 noutros países, incluindo as Filipinas, num total de 93. A primeira ‘filial’ fora do Brasil foi inaugurada na Alemanha em 1988. No mesmo ano surgiu a primeira fazenda para raparigas vítimas da droga e do tráfico sexual. Agora são 2.500 as pessoas da “fazenda” em todo o mundo. E mais de 20 mil já por lá passaram nos últimos 25 anos.
Separado da família
Richardson Silva, brasileiro, agora um dos responsáveis da fazenda
das Filipinas, passou um ano numa fazenda no Brasil a tratar a dependência da droga. Depois foi convidado para voluntário. Richardson contactou pela primeira vez com a droga e o álcool aos 15 anos, após a separação dos pais. Sentia-se bem e feliz. Pensava que podia deixar os narcóticos em qualquer altura, mas estava enganado. “Quando fiz 18 anos experimentei a cocaína e julgava ter alcançado o topo da felicidade. E assim comecei a perder a família, gastando tudo para alimentar o meu vício. Ao mesmo tempo,
No final do tratamento, aceitou ficar como voluntário, casou-se, e mais tarde foi desafiado a ir para as Filipinas com a esposa, para coordenarem as novas fazendas – ele a dos rapazes, ela a das raparigas. Ambos encaram os utentes como filhos. “De facto, não basta ajudar estes jovens a reabilitarem-se: temos que os amar, ajudando-os a renascer através da nossa amizade e partilha de vida. E devemos dar-lhes Deus, com atos concretos de amor e vida nova”, assinala Richardson Silva.
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gente nova em missão
formação Estudar é crescer
QUANDO FOR GRANDE QUERO SER FELIZ
O bom aluno não é popular
Olá amiguinhos missionários! Sabemos o quanto devem andar felizes. Solzinho do bom e cheirinho a férias, que delícia! Assim é o mês de junho, mês dos santos populares, das sardinhadas e das marchas. Mas, para muitos pais, junho é também um mês de preocupação. E perguntam vocês: porquê? E nós respondemos: porque as notas escolares dos filhos não são muito boas, porque os professores não vão dizer nas reuniões as palavras que eles querem ouvir. E é sobre isto que queremos falar este mês, como é que vocês encaram a escola e a palavra estudar. E o que é que um Estudar bom missionário deve fazer No dicionário esta palavra texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO
significa: “Frequentar aulas de. Fazer o possível para conhecer ou compreender. Analisar
Pois é um facto que habitualmente os bons alunos são vistos como impopulares e sofrem das mais variadas formas de ofensa verbal por parte dos seus colegas. Também é um facto que nem todos conseguem ser alunos do quadro de honra, contudo o que está em causa aqui é que os vossos pais e educadores e professores trabalham muito para que não vos falte nada. E vocês? Qual é o vosso trabalho? Estudar, pois claro. E então, fazem-no? Ou querem antes fazer parte dos alunos mais populares da escola, que desafiam as regras e andam ao sabor do momento, sem objetivos?
atentamente. Planear. Decorar. Ensaiar. Sondar, tratar de conhecer. Examinar, observar. Aplicar a inteligência. Observar-se, procurar conhecer-se.” Para nós estudar é também crescer e poder tomar decisões por nós mesmos. Estudar permite-nos saber mais e estar atentos ao que nos rodeia. E quando estudamos, também chegamos melhor a Jesus, porque conseguimos compreender melhor a extensão da sua Palavra e o quanto Ela é atual. É sabermos estar alerta e defender a nossa fé.
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Devo perseguir os objetivos
Ok! Não têm de ser médicos, advogados ou engenheiros. Mas devem perseguir os vossos objetivos, estudando sempre, escolhendo um caminho que vos agrade e que vos seja alcançável, porque quanto mais souberem mais opções têm; estudar é um ato contínuo que nos fortalece, é o exercício do cérebro que o mantém saudável, é um passo de gigante para sermos felizes.
OS MISSIONÁRIOS ESTUDAM MUITO
Todos os missionários consagrados estudam muito e estão sempre a estudar. Sabem muito sobre as Sagradas Escrituras, mas também sabem sobre Filosofia, Ética, Línguas, Música e até Ciências. E nós, os leigos, também devemos seguir estes exemplos para que possamos ser extraordinários missionários cheios de conhecimento e autoestima.
SABIAS QUE
“Um ladrão rouba um tesouro, mas não furta a inteligência. Uma crise destrói uma herança, mas não uma profissão. Não importa se você não tem dinheiro, você é uma pessoa rica, pois possui o maior de todos os capitais: a sua inteligência. Invista nela. Estude!”. Augusto Cury
O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO
Amigo Jesus: Eu sei que a cabeça foi feita para ser usada e bem usada Perdoa-me se às vezes não o faço Quanto mais eu aprender, mais útil poderei ser para os outros assim como para mim mesmo Poderei ser um bom profissional e ser um bom missionário Conhecer o mundo que me rodeia, e ver-Te nele E para isso tenho de estudar, ler livros e interagir com os outros, professores, família e amigos Reconhecer as minhas necessidades e procurar ajuda quando precisar Não para ser um senhor doutor ou um senhor engenheiro, mas antes para ter uma visão ilimitada, uma janela aberta para este mundo e para a sua diversidade. E fazer a minha caminhada ao Teu encontro, munido de uma ferramenta indispensável, o conhecimento. Pai Nosso
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tempo jovem
Não desistas! “Estamos a passar por tempos difíceis” é uma das frases que mais tenho ouvido nestes últimos tempos, em que a crise económica parece ter tomado o leme dos sonhos e esperanças que habitam no coração do homem texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Nas minhas conversas quotidianas com inumeráveis pessoas, tenho constatado que, para muita gente, o sorriso e a alegria agora “valem muitos euros”, quando sabemos que desde sempre isso é algo de gratuito, espontâneo e natural. Pergunto-me quando é que os sentimentos e emoções começaram a ter um preço. Desde quando o fator económico se tornou o lápis que desenha o sorriso nos lábios ou marca os assentos jubilosos do coração? Embora sejam os fatores exteriores a nós que marcam e influenciam a nossa vida, os estados de ânimo e de alegria, são algo de intrínseco a nós, nascem do mais profundo do nosso ser. Portanto, cada um de nós tem a capacidade de gerir, avaliar e decidir sobre todos aqueles fatores, internos e conscientes, que fazem parte do nosso íntimo. Noutras palavras, a nossa felicidade não pode depender do ter ou do não ter nem do que digam ou não digam os outros de nós. A nossa vida não se pode alimentar só de aplausos e reconhecimentos exteriores, porque mais tarde ou 24
mais cedo ficaremos esfomeados. O segredo da verdadeira felicidade tem mais a ver com uma atitude e um equilíbrio interior que se alimentam dos sonhos que somos capazes de criar e recriar. Estou convencido de que no profundo do nosso ADN estão gravados os estigmas do Criador, e portanto todos somos chamados, a toda a hora e em cada lugar, a “criar e
recriar” a nossa vida e esta história que nos toca viver. Proponho-vos algumas palavras com um forte significado e vibração interior, que vos podem ajudar a criar e recriar a própria vida para poderdes ir mais longe.
Persistir
A persistência é um estado de espírito, um modo corajoso de
Resistir é levantar-se mil vezes das quedas pelo caminho, se for preciso, pois o que é mais importante na arte de viver não é chegar, mas caminhar. Chegar é o fim, é parar, é acabar. Caminhar é recomeçar, é continuar, é oportunidade.
Insistir
A insistência madura tem a ver com a capacidade de ter objetivos e metas, saber o que se quer e aonde se pretende chegar. Insistir no contexto do crescimento humano significa continuar a levantar os braços e a bater à porta, mesmo quando tudo já parece estar perdido.
Não desistir
A desistência é consequência do desânimo de quem perdeu os objetivos pelos quais quer lutar e viver. “Não desistir” é a chave para quem alimenta a sua autoconfiança com as forças dos projetos atualizados e sonhos possíveis. Não desistir é o desafio para quem acredita que vale a pena ter motivos pelos quais viver e uma causa pela qual morrer.
Se queres ir mais longe…
Se queres ir mais longe… Persiste com coragem! Resiste sem medos! Insiste com paixão! Mas nunca desistas!
afrontar e assumir a vida. Persistir é ter certezas e convicções fortes em tudo aquilo que somos e fazemos, pois só assim é possível ultrapassar barreiras e limites.
Persiste com coragem! Resiste sem medos! Insiste com paixão! Mas nunca desistas!
Resistir
A resistência é um valor que nasce da força de vontade inscrita no coração de quem acredita profundamente no seu sonho. Junho 2013
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sementes do reino
Quem sou EU? Após algum tempo pelas terras da Galileia, Jesus faz um “balanço” da sua missão, colocando aos seus discípulos uma pergunta: “Quem dizem as pessoas que Eu sou?” Os discípulos apressam-se a comunicar ao Mestre as várias opiniões texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA
Leio a Palavra
Lc 9, 18-24 Confrontados com a pergunta de Jesus, os discípulos facilmente respondem à questão, relatando-lhe o que tinham escutado ao longo da estrada que tinham percorrido com o Mestre. As pessoas dividem-se entre João Batista, Elias ou outro profeta que ressuscitou dos mortos. Pedro, porém, sabe mais do que isso. Declara que Jesus é o Messias, é o enviado de Deus. Jesus logo se apressa a não deixar dúvidas sobre que tipo de Messias: irá sofrer, será humilhado, rejeitado, morto e finalmente ressuscitará. Perante todas estas “informações” surge uma proposta concreta: quem quer seguir Jesus deverá renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir o caminho do Mestre. Nesta escolha encontrará, por incrível que pareça, a verdadeira vida.
Saboreio a Palavra
As opiniões da multidão eram divergentes, mas em certo sentido são também convergentes. Todos consideram Jesus um profeta, alguém que é especial. Mas será isso suficiente? Jesus depois de uma pergunta genérica, envolve pessoalmente os seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Esta mesma pergunta é hoje dirigida a cada um de nós: Quem é Jesus para mim? A Jesus não bastam as 26
respostas aprendidas na catequese. Ele deseja uma resposta muito pessoal, uma resposta que saia da mente e do coração.
Rezo a Palavra
Senhor Jesus, obrigado pela tua Palavra, que ajuda a descobrir a vontade do Pai. Peço-te o Espírito Santo para que possa seguir na minha vida aquilo que acabei de escutar. Rezo com o salmo primeiro que recorda a importância de seguir fielmente o Senhor.
Vivo a Palavra
são muitas as opiniões que levam para longe do verdadeiro Jesus. Seguir Jesus significa renunciar a si mesmo e pegar na cruz, como diz o Evangelho; muitas vezes esta expressão foi entendida como um renunciar à felicidade pessoal, mas será que é isso que Deus quer para nós? Certamente que não. Tomar a cruz significa ir para além das barreiras do egoísmo, ir ao encontro do outro. Curiosamente, essa renúncia acabará por dar a verdadeira vida.
Hoje, tal como naquele tempo, são muitas as opiniões acerca de Jesus. É preciso ter muito cuidado para que essas “opiniões” não minem a nossa fé. É preciso saber discernir o que é bom daquilo que não o é, pois
Tomar a cruz significa ir para além das barreiras do egoísmo, ir ao encontro do outro. Curiosamente, essa renúncia acabará por dar a verdadeira vida
intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO JUNHO
02 Solenidade do Corpo de Deus
Gen 14, 18-20; 1Cor 11, 23-26; Lc 9, 11-17 Isto é o meu corpo “Isto é o meu corpo entregue por vós”. Disse-o Jesus e pediu que também nós o disséssemos com a nossa vida, em memória da sua morte e da sua ressurreição. Como Cristo, posso dizer todos os dias: Este é o meu corpo, esta é a minha vida oferecida por ti, por ele e por vós. A comunhão com Cristo não será completa sem esta comunhão permanente entre nós, pela qual reconhecerão que somos seus discípulos. Senhor, que a minha vida, a ti para sempre vinculada, seja o pão de quem tem fome.
09 10º Domingo Comum
1Rs 17, 17-24; Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17 Para os gentios “Aquele que me destinou desde o seio materno, e me chamou pela sua graça, dignou-se revelar em mim o seu Filho para que eu O anunciasse aos gentios”. É a vocação de São Paulo e a de todos aqueles que se sentem chamados à mesma missão. Da comunhão com Deus ao anúncio do seu Evangelho. Suscita, Senhor, também hoje, apóstolos inflamados para o anúncio do teu Reino.
16 11º Domingo Comum
2 Sam 12, 7-13; Gal 2, 16-21; Lc 7, 36-50 Como vaso de alabastro Que lição extraordinária! Jesus não atira pedras, não julga nem condena. Ama, perdoa e abre o coração a quem fraquejou. Cada um de nós é alguém, que Ele busca incansável. Deus ama-me como se não tivesse no mundo mais
ninguém a quem amar. Pede-me Jesus que também eu abra o coração e, derramando o seu perfume, ame, perdoe e acolha como Ele amou e perdoou. Que eu aprenda, Senhor, a semear os teus gestos de perdão, ao jeito do teu amor misericordioso e acolhedor.
23 12º Domingo Comum
Zac 12, 10-11; Gal 3, 26-29; Lc 9, 18-24 Quem dizeis que Eu sou? Cristo espera de mim uma resposta pessoal, que comprometa toda a minha vida. O cristão é chamado a dar razão da sua fé. Direi quem Ele é para mim e para o mundo, quando a sua vida for a minha vida, quando a minha fé não for uma questão intelectual, mas uma adesão firme à sua Pessoa. Que eu saiba, Senhor, professar a minha fé, numa confiança ilimitada.
30 13º Domingo Comum
1Re 19, 16-21; Gal 5, 1.13-18; Lc 9, 51-62 Segue-me Seguir o Mestre quer dizer comungar na mesma vida e destino. Há que passar por muitas tribulações, mas a paga está garantida: o Reino de Deus em toda a sua plenitude. Há falta de respostas conscientes, porque falta a coragem de cortar pontes e queimar “carros e bois” como na história de Eliseu. Quem dá tudo não pode voltar atrás para retomar o que já ofereceu. Dá-me, Senhor, um coração decidido para te seguir, amar e anunciar. DV
Que as comunidades cristãs saibam promover eficazmente uma nova evangelização, lá onde é mais forte o influxo da secularização
Refazer o tecido cristão São evidentes as situações de
descristianização da sociedade. São numerosas as pessoas que, tendo recebido o batismo, vivem à margem de toda a vida cristã. Há pessoas simples que, embora tenham uma certa fé, desconhecem os seus fundamentos. E há outros ainda que, instruídos nas realidades profanas, possuem uma real ignorância religiosa. As manchas de indiferença, de secularização e de ateísmo são um campo enorme que precisa de ser cultivado através do primeiro anúncio e fortes apelos à conversão. Felizmente, ainda há zonas onde a prática cristã manifesta uma boa vitalidade e um profundo arraigamento na alma das populações. Sendo assim, o caminho mais direto passa pelo testemunho dessas comunidades eclesiais para que se possa refazer o tecido cristão da sociedade humana. É um trabalho ingente a fazer com as famílias, os jovens e os adolescentes para que revitalizem a própria fé e dela deem coerente testemunho. DV
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o que se escreve Papa Francisco e Fátima
A doce violência do amor Este livro, acabado de sair, é
uma preciosa compilação de citações muito oportunas de Óscar Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980. A sua causa de beatificação, parada desde 1997, acaba de ser desbloqueada pelo Papa Francisco. “Dom Óscar Romero é um homem universal, porque tem a dimensão do mundo (…). Ao aceitar o risco decorrente da sua missão, bem como os sacrifícios que lhe são inerentes, deixou um testemunho de esperança e libertação a quem luta pelos mesmos ideais, inspirados no exemplo de vida de Jesus de Nazaré, na construção do Reino” (Eugénio Fonseca). A não perder, pela frontalidade e clareza de pensamento. Autor: Óscar Romero 144 páginas | 8,00€ Editora Consolata
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Os últimos Papas, estiveram todos eles ligados a Fátima. Francisco não faz exceção. Desde o primeiro Angelus, na Praça de São Pedro, fez referência explícita à Senhora de Fátima, peregrina em Buenos Aires em 1998. Este opúsculo contém, entre outras coisas, as homilias dos vários encontros com a Virgem Peregrina e uma bela oração composta para esse evento. A consagração do seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima, feita pelos bispos portugueses, no dia 13 de maio, por pedido direto ao cardeal patriarca de Lisboa, ilustra este opúsculo. Organização: Darlei Zanon 88 páginas | preço: 8,00€ Paulus Editora
A festa da minha Primeira Comunhão
Mais do que um livro é um álbum ilustrado para as crianças recordarem a festa da sua primeira comunhão. Tem espaço para escrever as datas mais importantes do/a festejado/a e lugar para as fotos da família, do batizado e do grupo de catequese. Inclui alguns textos litúrgicos da celebração e as orações fundamentais do cristão. Oportuno para este tempo de primeiras comunhões. 50 páginas | preço: 10,40€ Paulus Editora
As minhas Histórias da Bíblia
Como foi que Deus criou o mundo? E como foi que Noé construiu a Arca? Onde foi encontrado Moisés? Quem foi assistir ao nascimento de Jesus? Neste livro, com histórias simples e ilustrações apelativas, os mais novos vão encontrar respostas a estas e muitas outras perguntas, nesta introdução fácil e divertida à Bíblia. Autores: Su Box e Gillian Chapman 48 páginas | preço: 7,90€ Edições Leya e Gailivro
Uma vida simples e cheia de amor – Maria Domingas Mazzarello
Os Santos – escreveu Jacques Maritain – são os “verdadeiros educadores da humanidade”. Tornam visível o rosto de Deus na história. Assim foi Maria Domingas, cuja breve vida (44 anos) foi toda entregue à educação das jovens experimentando o extraordinário na trama do ordinário. Os santos não só falam de Deus, mas revelam-no na sua identidade mais profunda: o amor. Vale a pena descobrir a pedagogia e a espiritualidade desta ilustre filha cofundadora das Filhas de Maria Auxiliadora. Autores: Maria Pia Giudici e Maria Borsi 288 páginas | preço: 10,00€ Edições Salesianas
o que se diz Cinco pães e dois peixes
Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho de fé. “Liberto, após treze anos de cativeiro, quero partilhar convosco as minhas experiências: como encontrei Jesus em cada momento da minha existência quotidiana, no discernimento entre Deus e as suas obras, na oração, na Eucaristia, nos meus irmãos e irmãs, na Virgem Maria, oferecendo-vos deste modo, também eu, e à maneira de Jesus, cinco pães e dois peixes” (Autor). Este foi o alimento quotidiano do bispo Francisco Xavier Van Thuan, que ele reparte com os seus leitores. A não perder. Autor: Francisco Xavier Van Thuan 95 páginas | preço: 5,40€ Paulinas Editora
A Oração
Estão aqui condensadas num único volume as catequeses do Papa Bento XVI referentes à oração. O texto está dividido em quatro partes: O homem em oração, a oração dos Salmos, a oração de Jesus, a oração do Novo Testamento. São catequeses que espelham o rigor, a profundidade e a riqueza teológica do Papa emérito e que ajudam a entrar nos meandros da oração. Autor: Bento XVI 272 páginas | preço: 14,50€ Paulus Editora
Outros pobres “A opção pelos pobres é essencial à Igreja. Sempre foi, aliás. Mas
convinha precisar o que se deve entender por pobreza. Pobres não são apenas aqueles a quem falta o essencial para uma vida digna. Pobres são todos aqueles que sabem que não se bastam a si mesmos, que sentem necessidade não só de pão para o corpo, mas também de toda a palavra que sai da boca de Deus. Tenho a impressão de que há na Igreja correntes que se esquecem de levar aos homens essa palavra essencial”. Luís Silva Pereira | Mensageiro do Coração de Jesus | maio 2013
Mártires, hoje “Nós fazemos uma grande referência, e bem, aos mártires dos
primeiros tempos do cristianismo e sabemos que são a semente de novos cristãos. Mas nos tempos modernos há muitos mais mártires do que houve nos primeiros tempos da Igreja. Na verdade, as notícias que nos chegam é que os cristãos são perseguidos um pouco por todo o mundo. O próprio Papa já alertou, mais do que uma vez, para esta realidade”. Dom José Alves | A Defesa | 8/05/2013
Um país não é um convento “A política de austeridade não atingiu apenas os seus limites. Lançou
no desemprego milhões de pessoas. Não se devia poder brincar com o destino coletivo dos povos. A reforma da política de um país ou da EU não é a reforma espiritual de um convento, para voltar a estrita observância. A pobreza voluntária é uma escolha virtuosa. Empobrecimento e miséria impostos por políticas erradas é crime, segundo a doutrina social da Igreja, cujo primado é o ‘bem comum’, ao serviço da dignidade das pessoas”. Bento Domingues | Mensageiro de Santo António |maio 2013
Começar por casa “A nova evangelização terá que aprender com os primeiros cristãos
a ‘começar por casa’. O Evangelho terá, pois, que voltar às casas e às famílias, para que, a partir destas, irradie para a sociedade. A missão, de facto, começa por cada cristão batizado, que deve sentir-se obrigado a evangelizar os ‘seus’ e os que não são da sua casa”. Isidro Lamelas | Missões Franciscanas | maio 2013
O dinamismo da fé “As comunidades cristãs não podem fechar-se em si mesmas,
voltadas para dentro, mas tocadas pelo amor de Deus, que nos impele, e possuídas pela alegria e o dinamismo da fé, devem descobrir que ‘é dando que a fé se fortalece’. A Igreja universal é cada vez mais ‘comunhão de igrejas’ que acolhem e repartem entre elas as suas riquezas”. António Farias | Ação Missionária | maio 2013
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gestos de partilha Costa do Marfim Maria Barroso 50,00€; Anónimo 60,00€; Teresa Ferreira 3,00€; Lúcia Marto 3,00€; Bárbara Silva 5,00€; Fátima Matias 10,00€; Maria Anjos Marto 3,00€; Madalena Guerra 20,00€; Ana Cândido 13,00€; Lúcia Santos 20,00€; Conceição Policarpo 50,00€; Inácia Ferreira 13,00€; Anónimo 33,00€; Joaquim Curado 13,00€; Conceição Morais 100,00€. Total geral = 3.613,00€. Bolsa de Estudo Rosa Pereira 250,00€; Lucinda Ferreira 250,00€; Anónimo 250,00€; Noémia Canavarro 20,00€. OUTROS PROJETOS Crianças do padre Paulino Tanzânia Rui Ferreira 50,00€. Crianças de Mecanhelas Moçambique Francisco Santos 60,00€. Ofertas várias Domingos Dias 43,00€; Fernanda Costa 50,00€; António Sousa 86,00€; Celeste Jorge 93,00€; Lucília Martins 53,00€; Agostinho Gameiro 30,00€; Lisete Sousa 36,00€; Diamantina Couto 43,00€; João Santos 43,00€; José Silva 40,00€; Maria Baltazar 43,00€; Lurdes Reis 36,00€; Ana Silva 43,00€; Anónimo 43,00€; Rosinda Gonçalves 43,00€; Emídio Major 460,00€; Artur Pedrogam 43,00€; Irene Serrano 43,00€; Joana Carvalho 49,00€; Vitalino Gomes 43,00€; Helena Ferreira 29,00€; Virgínia Sousa 25,00€; Amélia Moreira 43,00€; António Cardoso 43,00€; António Salgueiro 30,00€; Casimiro Nogueira 77,50€; Deolinda Alves 43,00€; Alfredo Nunes 93,00€; Fernando Pedrosa 53,00€
Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt 30
vida com vida
Quando eu morrer cantem o Magnificat O seminarista Alexandre Cogliati era um amor de criatura. Tinha um rosto de criança muito delicado e suave, um sorrisinho meigo a bailar pela sua face que espicaçava a inveja e a alegria de quem o via. Conheci-o em Turim, Itália, era eu jovem filósofo de 20 anos e ele estudante de teologia. Depois, assim sem quê nem para quê, descobriram que tinha um cancro - coisa de pouca dura, avisaram. Envolveu o seminário uma auréola triste. Tão jovem, tão anjo, 24 anitos apenas texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Foi ordenado sacerdote sentadinho num banco. Viveu ainda três meses, rezou 19 vezes a Santa Missa a que o Senhor o chamou e que tão bem quadrava à sua vida. E depois, assim muito certinho, lá se foi para os aposentos da Virgem Consolata no Céu. Pela morte nasceu para a vida. E era para nós triste o não sabermos porquê. Alexandre nasceu em 18 de junho de 1928 e entrou para os Missionários da Consolata em 19 de setembro de 1939. A sua saúde nunca foi grande coisa, e durante a segunda Guerra Mundial sofreu bastante. Em 1944 adoeceu com uma pleurite. Em 2 de outubro de 1951, dia dos Santos Anjos da Guarda, fez a sua profissão religiosa perpétua. De vez em quando, lá estava ele na enfermaria do seminário. No princípio, não
atinavam os médicos com o mal. Depois, temeu-se que não chegasse a ser ordenado padre. Mas a sua paixão pelo sacerdócio vencia tudo, mesmo de rastos teria ele caminhado o tempo preciso. No dia de São Pedro e São Paulo, 29 de junho de 1952, o brilho duma luz desmedida invadiu a sua alma: foi ordenado sacerdote. Mais um esforço supremo: foi à sua terra celebrar a Missa para a sua família. Depois foi a queda em vertical. Ainda o operaram: nada a fazer.
se encontrava para rezarem pela sua cura! Lá em Cima, a Virgem acenava, e a sua voz materna o chamava de braços abertos. Já com muita dificuldade, rezou com todos o terço e pediu a Santa Unção dos doentes. E no dia 19 de setembro de 1953, a sua alma foi-se para a vida dos bem-aventurados. E houve festa, porque ele pedira: “Quando eu morrer, cantem o Magnificat, pois eu sou menino da Virgem Consolata”. E assim foi feito.
Os que o assistiram no desenlace final testemunham que não chegaram a saber como eram os seus lamentos. Repetia, sim, muitas vezes: “Mãezinha”, mas, dizia ele, era especialmente para que a Senhora da Consolação o ajudasse a sofrer. Bem o Superior Geral deu ordem à comunidade onde ele Junho 2013
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outros saberes “Destroem os seres humanos: O prazer sem compromisso; a riqueza sem trabalho; a sabedoria sem caráter; os negócios sem moral; a ciência sem humanidade; a política sem princípios; a oração sem caridade” Gandhi
destruído. Não se generalize! Há bem sem conta! Mas é preciso remar contra a maré, com coragem! Aí está, coragem! A começar por nós próprios. Diz-nos um provérbio eivado de sabedoria, de virilidade, de ascética e de coerência: “O verdadeiro herói é aquele que tem mais coragem de lutar contra si mesmo”. Ou seja: É fácil apontar os outros a dedo. Mas o mal espreita a todos e: “Um homem prudente vale mais que dois valentes” (provérbio brasileiro). A prudência é mais virtude, quando viaja com coragem (autor desconhecido). Quer dizer: o sensato e o ponderado, mas tenaz e perseverante, vale mais do que os precipitados e fanfarrões. Mas atenção:
DOS FRACOS NÃO REZA A HISTÓRIA texto NORBERTO LOURO foto LUSA Alguém perguntou um dia a Gandhi quais são os fatores que destroem os seres humanos. A resposta que deu abrange o homem na sua inteireza. Ei-la: 32
“Destroem os seres humanos: O prazer sem compromisso; a riqueza sem trabalho; a sabedoria sem caráter; os negócios sem moral; a ciência sem humanidade; a política sem princípios; a oração sem caridade”. Pelo que se ouve, pelo que sistematicamente dão a ver e a ler (de preferência negativo), pela linguagem grosseira, banal e insultuosa com que se trata tudo e todos e também pelo conhecimento de factos concretos nestas áreas, alguém é levado a pensar e a afirmar que pouco resta para ser
Quem tem coragem tem vantagem (provérbio português). Coragem, portanto, nestes tempos de adversidades, pois: “As adversidades são grandes oportunidades” (provérbio árabe) e “A coragem é a luz das adversidades” (Luc de Clapier). E adversidades nunca faltam!
notas missionárias
Somos complemento uns dos outros
Há já algum tempo que o missionário desejava construir uma pequena capela numa povoação bastante a sul da missão. Outros afazeres tinham-no impedido de concretizar o projeto texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI Finalmente, depois das celebrações da Páscoa e chegada a época seca, pôs-se a caminho com o catequista mais idóneo e um pequeno grupo da comunidade. Paravam aqui e além para conversar com as pessoas que encontravam pelo caminho. Quando chegaram à povoação para onde se dirigiam, logo à entrada, travaram conversa com alguns homens que ali se encontravam sentados à sombra de uma bananeira. Expuseram brevemente o que os trazia ali e ouviram a sua opinião. Disse um homem de meia-idade: “Meu senhor, nesta povoação, só há estupidez. Os habitantes são todos obstinados, e ninguém quer saber nem aprender nada. Vocês vão perder o vosso tempo porque não irão converter nenhum desses corações de pedra”. O missionário respondeu: “És capaz de ter razão”. Prosseguiram o caminho e mais à frente encontraram um outro
grupo, que incluía mulheres que regressavam da machamba com cestos de hortaliça à cabeça, que se admiraram por ver forasteiros ali presentes. De novo explicaram o que os trazia ali e logo uma mulher abordou o missionário. Cheia de alegria disse: “Senhor, chegaste a um lugar abençoado. O povo anseia por receber o verdadeiro ensinamento, e as pessoas abrirão os seus corações à tua palavra. Vem falar-nos de Deus”. O missionário, sorrindo afavelmente, replicou: “Tens razão”.
O missionário respondeu: “Cada um vê o mundo da maneira que espera que seja. Porque devia eu contrariar as duas pessoas? Uma delas vê o mal, a outra vê o bem. Tu pensas que uma delas vê de maneira errada? Não são as pessoas daqui, e de todo o lado, boas e más ao mesmo tempo? Nenhum dos dois disse algo de errado, mas apenas algo de incompleto”. Um dos acompanhantes, que era um pouco lento de compreensão, mas que, depois de ponderar as coisas, se convenceu do argumento, disse: “Que grande verdade foi dita agora mesmo. Realmente nunca tinha pensado numa coisa dessas, mas agora também eu vejo que é assim”. E é por essas e por outras semelhantes que o Senhor a todos nos dá o tempo necessário para vermos que todos juntos é que construímos um mundo melhor, cada um completando o seu próximo.
Depois de mais algumas trocas de ideias, despediram-se e continuaram o caminho. Foi então que o catequista interrogou o missionário: “Senhor padre, você disse ao homem lá atrás que ele tinha razão, e a esta mulher, que disse o contrário, você disse que ela também tinha razão. Afinal em que é que ficamos?” Junho 2013
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fátima informa
Peregrinação das crianças
“Coração de Maria, refúgio e caminho” texto Lucília oliveira “Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”. Foram as palavras com que Nossa Senhora reconfortou a vidente Lúcia na segunda aparição, a 13 de junho de 1917, face à notícia de ficar sem os seus primos. Após 96 anos, a peregrinação das crianças, que decorrerá a 9 e 10 de junho no Santuário de Fátima, pretende criar nos jovens “uma atitude interior geradora de confiança e paz, que tem de ser ativada e cultivada”. A comissão organizadora da peregrinação realça que, este ano, as crianças são desafiadas a perceber que “o Coração da Mãe de Deus é, de
Teologia do corpo
Qual é a dignidade da pessoa humana? De que forma o corpo humano revela o interior da Trindade? Estas são algumas das questões a que se propõe responder o quarto simpósio internacional da Teologia do corpo, que decorre de 13 a 16 de junho, no Domus Carmeli, em Fátima. Mais informações e inscrições em www.4tobis.pt.
“Não tenhais medo”
“Não tenhais medo. Confiança – Esperança – Estilo Crente” é o tema do simpósio teológico-pastoral que decorre de 21 a 23 de junho, no Salão do Bom Pastor, no Centro Pastoral de Paulo VI. No contexto do novo ano pastoral e do 3.º ciclo celebrativo do Centenário das Aparições, o 34
facto, refúgio e caminho, não só para as crianças de todos os tempos, mas também para todos aqueles que se acolhem à sua maternal proteção”. São esperados milhares de pequenos fiéis, vindos de todo o país. Para preparar a peregrinação, durante o mês de maio, acenderam uma vela
tema deste ano desafia à escuta e à confiança na promessa da Senhora que manifestou o seu Imaculado Coração aos três pastorinhos. As inscrições podem ser efetuadas no Santuário de Fátima.
Férias para pais de deficientes
O Santuário de Fátima promove, pela oitava vez, a “Semana de férias para pais de pessoas com deficiência”. Durante uma semana, os pais podem deixar os filhos portadores de deficiência aos cuidados dos voluntários, coordenados pelo Movimento da Mensagem de Fátima, no Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto. Haverá quatro turnos, de uma semana cada, e as inscrições encerram a 30 de junho.
todas as semanas, símbolo da fé em Deus e em Nossa Senhora. As velas, sinal deste caminho de fé, serão depositadas num tocheiro colocado no altar da Eucaristia, no recinto do santuário.
Junho em agenda
10 Encontro dos familiares dos missionários e missionárias da Consolata 20 Peregrinação Nacional das Forças Armadas e de Segurança 23 Festa de Nossa Senhora da Consolata 29 Jubileu das vocações da diocese Leiria-Fátima
CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS
Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.
MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
www.fatimamissionaria.pt | www.consolata.pt Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt
Não receies a vida Não receies a vida Enquanto arder, risonho, nos teus olhos O brilho de uma esperança… Não receies a vida Enquanto for sincero o teu sorrir… Enquanto tiveres sede de bonança Não receies a vida, o que há de vir… Só desfalecem os desesperados Só caem os que o mal pôde tocar… Esses, sim! Hão de ser despedaçados Como a nave perdida, no alto mar… Mas tu, radiante, eleva ao firmamento O olhar, em que Deus pôs brilhos de sol… E então, verás! Para ti, a própria noite Terá clarões de fúlgido arrebol… Maria Isabel Lereno Versos apenas