África

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ANO LX | JUNHO 2014 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

ÁFRICA

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CONTINENTE DE OPORTUNIDADES ENTUSIASMA INVESTIDORES

CONSOLATA HÁ 70 ANOS EM PORTUGAL Pág. 12 “A IGREJA NÃO FAZ NINGUÉM SANTO” Pág. 18 MILHARES DE CRIANÇAS REZAM EM FÁTIMA Pág. 34


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

www.fatimamissionaria.pt | www.consolata.pt Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt


editorial

DE FÁTIMA PARA O MUNDO No passado mês de maio, esteve em exibição nas salas de cinema o documentário “Fátima no Mundo”, um filme de 90 minutos onde é manifesto o impacto internacional que a história e a mensagem de Fátima têm na vida de milhares de pessoas e comunidades fora de Portugal. Com imagens dos lugares e celebrações, e os testemunhos em diversas línguas e culturas, que exprimem a devoção a Nossa Senhora de Fátima nos quatro cantos do mundo, que irradiou de Portugal a partir de 1917. O fenómeno Fátima poderá ter muitas leituras, mas quem, sem preconceitos, se imerge no ambiente das peregrinações concluirá que ali algo de inexplicável se passa. A mensagem questiona. É claro que para este impacto no mundo não tem sido indiferente a atitude e a leitura que os últimos Papas fizeram do fenómeno. E também isto é novo na história da Igreja. Fátima, de facto, não deixa de ser “um sinal extraordinário da misericórdia de Deus para com a humanidade. Um sinal surgido num período histórico de risco e de autodestruição”, como afirma o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, para quem a Igreja começou por ter alguma prudência em aceitar o fenómeno, mas bem depressa Fátima se impôs. Maria, no início do século XX, alertou para os perigos de construir uma sociedade sem Deus, pisando a dignidade do homem, os seus direitos fundamentais e, em particular, a liberdade religiosa. Verdadeiramente, a missão profética de Fátima não está concluída e é evidente a sua atualidade.

em plena segunda guerra mundial, que chegou a Fátima o padre João de Marchi, que logo em 1944, há precisamente 70 anos, abria nesse local o primeiro seminário dos Missionários da Consolata. Este homem, de largos horizontes, vislumbrou na mensagem de Fátima uma alavanca preciosa para a sua missão. Os seus livros sobre as aparições da “Senhora mais brilhante que o sol” correram o mundo. Com eles apoiou o seu serviço missionário nos Estados Unidos, no Quénia e na Etiópia. Sim, de Fátima para o mundo. Aqui Maria falou de Deus e do Evangelho aos pequeninos, aos humildes, aos frágeis. E isso tem a ver com a missão dessa instituição no mundo: ser presença consoladora em situações de aflição. Fátima, ainda hoje, convida a alargar o olhar ao mundo inteiro, para que, em clima de difuso secularismo e em situações de extrema insegurança e miséria, a proposta da Senhora acorde o mundo para a paz, seja um sinal da presença amorosa e salvífica de Deus e dê um novo vigor espiritual ao mundo cansado e aflito. DARCI VILARINHO

No mês de junho os Missionários da Consolata celebram a sua padroeira, a Senhora da Consolação. E foi também no mês de junho de 1943, Junho 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº6 Ano LX – JUNHO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.000 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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“A IGREJA NÃO FAZ NINGUÉM SANTO” 03 EDITORIAL De Fátima para o Mundo 05 PONTO DE VISTA O desastre da “troika” e a inversão de Jesus 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES A canção do pirilampo 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Projeto contra a pobreza em Moçambique através da formação humana Conflitos internos na Colômbia provocam seis milhões de deslocados Doze mil pequenos escravos do cacau na Costa do Marfim “Pacto” de Qabbani entre cristãos e muçulmanos para o Médio Oriente 10 A MISSÃO HOJE Família, um projeto 11 PALAVRA DE COLABORADOR Boas recordações dos missionários 12 A MISSÃO HOJE Uma semente que dá frutos há 70 anos 13 DESTAQUE O “crime” de estudar e ser mulher 14 ATUALIDADE África de sucesso entusiasma investidores 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Um roteiro especial 24 TEMPO JOVEM Autenticidade ou aparência? 26 SEMENTES DO REINO “Eu estou sempre convosco” 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Missionário generoso 32 OUTROS SABERES Crise de identidade 33 2014 ANO ALLAMANO “Posso dormir tranquilo” 34 FÁTIMA INFORMA Um tijolo para reparar o mundo


ponto de vista

O DESASTRE DA “TROIKA” E A INVERSÃO DE JESUS texto ANTÓNIO MARUJO*

“Hoje, corremos o risco de que alguns mass-media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo.” O alerta é do Papa Francisco que, na mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais (1 de Junho), insiste em algumas ideias que marcam o seu ministério: a “distância escandalosa” entre “o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres”; a indiferença com que olhamos para tantos excluídos; o sentido de unidade da família humana, que deveria impelir “à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna”; o desafio a que a Igreja se abra também ao ambiente digital, de modo a que o Evangelho chegue a todos, mas sem o reduzir a uma estratégia; o diálogo com a convicção de que “o outro tem algo de bom para dizer”. A mensagem coincide com o tempo em que, em Portugal, tentam enredar-nos na grande ilusão de que acabou a austeridade e começamos a ficar melhor. Mas, três anos depois, o país está pior. Muito pior: 25 por cento da população é pobre ou vive em risco de pobreza; a dívida (para cujo pagamento a “troika” emprestou dinheiro, dois terços do qual foi para a banca) cresceu e levaremos pelo menos 20 ou 30 anos a pagá-la (se ela não crescer mais, o que será impensável); o desemprego atinge mais de um milhão de pessoas, quase um quinto da população activa; o Produto Interno Bruto contraiu 3,4 por cento; a emigração voltou a taxas dos anos 1960 mas, agora, emigra a mais qualificada geração de sempre; cortaram-se salários, pensões e despesas sociais do Estado, mas deixaram-se intactas as regalias do sistema

financeiro; políticos, empresários e financeiros trocam de cadeiras mas espezinham, juntos, os direitos de quem trabalha; e um longo etc.. Somando tudo isto, e mais grave do que tudo isto, é que se está a criar um caldo social em tudo semelhante ao das vésperas da I Guerra Mundial, como indiciam alguns resultados das eleições europeias de 25 de Maio. Os “mercados” que tudo isto nos impõem – e que não são mais que gente sem escrúpulos, que quer cada vez mais lucro à custa do empobrecimento de povos inteiros, ao arrepio dos princípios básicos do Evangelho – chegam mesmo a adormecer o discurso jornalístico, que apenas repete essa grande ilusão e leva ao desprezo pelo outro. Mas o Papa alerta: “Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro.” *jornalista (O autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Caros amigos, Sigo com muito interesse todas as rubricas da vossa revista. Cada vez mais tenho estima por ela porque me ajuda na minha formação pessoal e na preparação da catequese aos meus 15 adolescentes. Aproveito tudo, desde os testemunhos dos missionários até aos pequenos artigos mais formativos. As “Sementes do Reino” ajudam-me a ler o Evangelho com outros olhos e os pequenos 6

Leio e releio

Junto envio um cheque para pagamento da nossa querida Fátima Missionária. Leio e releio, porque tudo é muito educativo. E até porque falando no padre Allamano para mim diz-me tudo. Manuela

Com muito amor

Envio aos queridos missionários um cheque para o pagamento da assinatura. O resto é para as missões. É pouco, mas é aquilo que posso com muito amor e carinho pelo vosso trabalho. Admiro-vos muito e rezo por vós. Quero continuar a receber a revista e a pagá-la enquanto Deus me der vida e saúde. Sou uma antiga assinante.

aos outros. Junto envio um cheque para o pagamento da revista. O excedente será para as crianças de Mecanhelas (Moçambique). Que continuem a ter força para desempenhar a bela missão que vos foi confiada, são as preces que faço a Deus. Maria de Lurdes

Por graça obtida

Senhor diretor, envio esta oferta para as missões para agradecer uma graça obtida por intercessão do beato José Allamano a quem recorro com muita frequência. E sempre me ouve. Obrigado. Arminda

Lurdes Reis

Trabalho excecional

Faço votos para que Deus continue a abençoar o excecional trabalho dos missionários que com tanta disponibilidade e amor se dedicam Conferência adiada

Ao contrário do que estava previsto, o líder indígena brasileiro, Davi Kopenawa, cancelou a visita a Portugal para participar nas conferências sobre ecologia e espiritualidade do Instituto Missionário da Consolata, que tínhamos anunciado em maio. O agravamento dos conflitos intertribais obrigaram-no a ficar junto do seu povo. Embora alheios a este facto, pedimos desculpa aos nossos leitores.

pensamentos da liturgia do domingo ajudam-me a rezar um pouco mais. Obrigado por tudo, porque tudo me serve.

Ana Rita Ferreira – Porto

Cara Ana Rita, faz-nos bem a sua mensagem que nos enviou por mail. Obrigado pela estima que mostra pela nossa revista. De facto, aquilo que mais nos interessa é que ela sirva para a formação missionária das pessoas. Para a informação temos já o site fatimamissionaria.pt que todos os dias faz chegar aos leitores notícias frescas, mas a revista escrita

serve para nos fixarmos sobre este ou aquele assunto de carácter missionário que mais nos interessa. Oxalá que continue a servir para preparar os seus encontros de catequese. Não deixe de usar também a rubrica “Gente Nova em Missão”, e tantas pequenas notícias dispersas pela revista. Aproveite e, como se costuma dizer, faça render o peixe, entusiasmando os seus adolescentes.

DV


horizontes

A CANÇÃO DO PIRILAMPO

círculo, os alunos: um grupinho de sete meninos e meninas, que, pelo tamanho, deveriam ter quatro ou cinco anos. Até tinham banquinhos – uns caixotes de cartão e outros de madeira, trazidos de uma loja de fruta.

“São tantas as crianças a circular sem destino marcado! E quantas aventuras de destruir! Tantas horas vazias, sem colorido e sem paixão! Foi tudo isto que Amélia viu quando percorreu os bairros da cidade onde dava apoio nas férias de verão. Ao terminar o seu dia de trabalho no Bairro de Santo Antão, entrou no carro com os pensamentos em atropelo: – É preciso fazer alguma coisa, mas o quê? Sozinha, nem pensar! Que posso eu fazer? Nada! Se houvesse alguém a montar uma colónia de férias, mas neste tempo, quem se atreve?!

Amélia dirigiu-se à “turma” que interrompera a canção do pirilampo: – Boa tarde! Reparei que vocês estão numa aula! Tive de parar o carro para conhecer tão brilhantes artistas! Olhinhos encantados e risinhos escondidos foi a resposta inicial. – Vejo que têm uma ótima senhora professora! – É a Joana! Ela ensina música! E também a escrever! E faz jogos – esclareceram os alunos orgulhosos em entusiasmo crescente. – Joana, construíste aqui uma verdadeira sala de aula! – Ah, não é nada! É só para distrair os miúdos daqui do bairro. Eles ficam sozinhos enquanto os pais estão a trabalhar – comentou Joana, embaraçada com tamanho destaque.

texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI

Foi interrompida nesta análise por uma canção infantil cantada em coro, saída da última ruela do bairro. Travou bruscamente. Num canto do pequeno jardim, uma menina com aparência de ter 10 anos, fazia dançar um pauzinho a servir de batuta e fingia ser professora numa sala de aulas ao ar livre. Uma porta velha de cor castanha, apoiada num tronco de árvore, servia-lhe de quadro, onde, letras, números e desenhos feitos com giz, indicavam a lição já dada. À sua frente, em

– Uau, Joana! Que grande ajuda tu dás! Quero-te dizer que hoje a tua lição foi também para mim. Uma grande lição! Agradeço-te muito! Joana olhava envergonhada para aquela senhora importante que vinha ao bairro. Não sabia bem para quê, mas sabia que era uma senhora importante.

Amélia ficou ali sentada no chão, ao lado das crianças a conversar e a aprender a canção do pirilampo. Nesse fim de tarde, o telefone de Amélia não parou. À noite, já tinha um grupo de amigos disposto a fundar uma associação de animação de férias. No dia seguinte, a turminha de Joana e Amélia foram ao mar buscar pedrinhas para pintar. Passada uma semana já tinham um grupo de pequenos artistas a pintar pedrinhas e a vendê-las em pontos estratégicos da cidade. Nesse verão, as crianças e os jovens do Bairro de Santo Antão deliciaram-se com o mar, caminharam na serra, ensaiaram teatro, danças e canções, contaram histórias, pintaram murais e até esculturas montaram. No final das férias, orgulhosos, ofereceram aos pais um espetáculo, onde se descobriram mágicos a criar um mundo encantado. Sobretudo, perceberam o “poder da vontade de fazer acontecer, na unidade”. E por causa dessa vontade e dessa unidade, o projeto não mais parou!

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA E ANA PAULA

PROJETO CONTRA A POBREZA CONFLITOS INTERNOS NA EM MOÇAMBIQUE ATRAVÉS COLÔMBIA PROVOCAM SEIS DA FORMAÇÃO HUMANA MILHÕES DE DESLOCADOS Um projeto social implantado nas zonas rurais de Moatize, na província de Tete, ambiciona melhorar as capacidades das suas populações na luta contra a pobreza. Atinge um milhar de famílias, cerca de cinco mil pessoas e, indiretamente, irá beneficiar à volta de oito mil habitantes que vivem nas áreas circundantes. Intitulado “Programa integrado na luta contra a pobreza mediante o desenvolvimento rural e a formação humana”, o projeto pretende garantir a segurança alimentar destas populações, através de inovações na agricultura e na criação de gado. Organizadas no terreno pelos Missionários Salesianos, as ações são financiadas pelos Salesianos da Áustria. O projeto prevê o potenciamento das capacidades humanas, o desenvolvimento das técnicas agrícolas, a promoção da horticultura, a criação de gado bovino e ovino, o fornecimento de bombas de rega, assim como apoio às escolas e aos centros sanitários.

A trágica realidade dos deslocados devido à violência e aos conflitos atinge mais de 33 milhões de seres humanos em todo o mundo. Só a Colômbia conta quase seis milhões. Segundo um relatório elaborado pela Cáritas, o número continua a aumentar, não obstante os colóquios de paz a decorrer em Havana, Cuba, entre o governo de Manuel Santos e as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Pretendem pôr fim a um conflito que, além dos milhões de deslocados, já causou mais de 200 mil mortos nos últimos 50 anos. Os colóquios iniciaram sem um cessar-fogo de uma guerra interna em curso, o que dá origem a constantes violações dos direitos humanos, a confrontos com grupos armados ilegais, bandos de criminosos e as forças de segurança. Os guerrilheiros e paramilitares que ocupam as zonas rurais submetem os camponeses a graves abusos, provocando a fuga das populações.

A graça de estar presente

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Nos últimos dias de abril, Roma, e especialmente a Praça de São Pedro, viu-se invadida por uma imensa multidão de peregrinos, e a principal razão desta enchente era a canonização de dois Papas; mas também é verdade que às ditas canonizações se poderia ter assistido melhor pela televisão que no aperto dum milhão de pessoas. Tive oportunidade de observar de perto este mistério e de me interrogar sobre as suas razões, e creio que o que contava para as pessoas era o facto de estarem presentes não obstante o desconforto. O cristianismo é de facto uma religião da presença, começando pelo facto de Deus se ter feito


DOZE MIL PEQUENOS ESCRAVOS DO CACAU NA COSTA DO MARFIM

“PACTO” DE QABBANI ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS PARA O MÉDIO ORIENTE

Um milhão e 800 mil crianças trabalham nas plantações de cacau da África Ocidental, mas apenas 284 mil são consideradas trabalhadoras. São dados da OIT – Organização Internacional do Trabalho. A maior parte destas crianças são obrigadas a trabalhar 12 horas por dia, sobretudo na Costa de Marfim, principal produtor de cacau. Neste país, mais de 12 mil crianças vivem em condições de verdadeira escravatura. Em todo o mundo produzem-se, hoje, quatro milhões de toneladas de cacau. Mais de 90 por cento desta produção provém de plantações familiares de cinco hectares, das quais dependem à volta de 50 milhões de consumidores de cacau: a Europa consome quase metade (48 por cento), a América do Norte 20, a Ásia 15 e a América Latina nove por cento. Na Costa do Marfim, Gana, Indonésia, Nigéria e Camarões concentra-se 82 por cento da produção mundial. Os produtores destes países vivem quase todos abaixo do nível de pobreza. Apenas recebem entre três a seis por cento do preço final de uma tablete de chocolate.

O xeique Mohammed Rashid Qabbani, o Grande Mufti do Líbano, apresentou, em 13 de maio último, um pacto islamo-cristão ao patriarca dos Maronitas de Antioquia. A máxima autoridade do Islão sunita da República Libanesa redigiu o texto do pacto destinado a promover a convivência pacífica entre os dois credos, cujo conteúdo submeteu ao cardeal Bechara Boutros Rai, no encontro com a delegação do Conselho da Chariá Islâmica na sede patriarcal, em Bkerkè. Com este pacto, o Grande Mufti pretende proteger o Líbano e o seu povo formado por cristãos e muçulmanos. Em declarações após o encontro, o xeique Rashid Qabbani manifestou que o seu horizonte é mais vasto. Para ele, os ataques contra os cristãos do mundo árabe representam uma «estratégia organizada para destruir as relações entre cristãos e muçulmanos na região». E acrescentou: «Quando os cristãos são atacados no Líbano, venha de onde vier o ataque, isso representa uma ofensa direta também aos muçulmanos». Rashid Qabbani tem intenção de submeter o acordo a todos os chefes das comunidades religiosas presentes no Líbano e apresentá-lo como uma iniciativa pioneira a alargar, pouco a pouco, a todo o mundo árabe.

presente e ter habitado entre nós. Quando eu era jovem sacerdote em Portugal parecia-me que, como missionário, era meu dever marcar presença nas missões e, embora se possa ser missionário em toda a parte, dou graças por ter estado em lugares de primeira evangelização tal como os peregrinos dão graças por terem estado em Roma. E aqui fica o convite para que não sejamos cristãos à distância, mas estejamos presentes não só em santuários e lugares de culto, mas especialmente onde houver pobreza, doença, abandono e injustiça, tal como Jesus esteve.

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a missão hoje

FAMÍLIA, UM PROJETO Com o tema “Família, um projeto…” para as próximas Jornadas Missionárias, a realizar nos dias 20 e 21 de setembro, em Fátima, juntamente com a Pastoral Juvenil, queremos dar o nosso contributo à reflexão e à ação da preocupação do Papa Francisco que colocou a família no centro das suas preocupações, e por isso vai haver um sínodo extraordinário em outubro de 2014 e um sínodo ordinário em 2015, sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização. Hoje as famílias vivem uma situação paradoxal: por um lado, ela é o objetivo de todos, uma vez que todos querem ter uma família, pois a própria felicidade se identifica com esse objetivo. Por outro, vemos incontáveis lares desfeitos e divididos. É importante olhar a realidade como ela é. Se por um lado a realidade nos diz que a família é uma reserva de valores; por outro vemos uma cultura que exalta o indivíduo e leva ao individualismo. Como fazer? É verdade que há dias alguém me perguntava: “Mas este tema tem a ver com a Missão?”. “Claro”, respondi. Porque penso que tudo o que é humano diz respeito à Missão, como diz respeito à Igreja. O próprio Jesus viveu numa família. Aí cresceu, aprendeu a amar, a andar, a falar, a rezar. A própria Missão nasce de Deus Família, encarna-se numa família biológica, cultural, 10

texto ANTÓNIO LOPES* foto DR religiosa. Não é missão da Igreja fazer da humanidade uma família? É por isso que a família é sempre um projeto em todas as suas vertentes e componentes. Estas jornadas, estou em crer, abordam a família nas suas diversas componentes e descobriremos que deveremos estar junto das famílias com benevolência, para as apoiar nos seus desejos de viverem melhor, de ser comunidades de fé, de partilha, de respeito, de atenção, de crescimento e de solidariedade. E ao mesmo tempo, alertar para tudo o que a faz definhar: a violência, o ciúme e a inveja, a mentira. Na família, todos sabemos, somos capazes do melhor, do mais belo, como também do mais terrível. A família é uma comunidade que se reúne, que se recebe pelo amor vivido, pela palavra comum, pela atenção à totalidade da existência de cada membro.


palavra de colaborador

Se as famílias são frágeis por definição, elas são ao mesmo tempo esse lugar único onde sempre se pode manifestar o milagre de amar de novo, amar ainda mais, para além das incompreensões, sofrimentos, desilusões. Amar e sentir-se amado. É que o amor de Deus faz que da sua própria família nos abramos a uma nova família: à família da sociedade, à família da Igreja, à família do mundo. Não é isto a Missão?

BOAS RECORDAÇÕES DOS MISSIONÁRIOS

texto DARCI VILARINHO Uma família é o lugar do diálogo. Graças à palavra, a criança aprende a dar nome ao mundo, e a exprimir os seus sentimentos: o seu amor e os seus medos, a sua confiança, os seus desejos e as suas inumeráveis questões. É aí que conhece a relação entre o amor e a verdade, o perdão e a solidariedade, o “eu”, o “nós” e os “outros”. Uma família não inventa as suas leis. Ela encontra-as já estabelecidas. Felizmente colocadas pelas gerações que a precederam, pela sabedoria que se antecipou. Mas é a ela que compete pô-las em ação para que sirvam a vida, para que cada um se torne no que é, um ser único mas no convívio com todos. Se as famílias são frágeis por definição, elas são ao mesmo tempo esse lugar único onde sempre se pode manifestar o milagre de amar de novo, amar ainda mais, para além das incompreensões, sofrimentos, desilusões. Amar e sentir-se amado. É que o amor de Deus faz que da sua própria família nos abramos a uma nova família: à família da sociedade, à família da Igreja, à família do mundo. Não é isto a Missão?

“Foi assim que comecei. Eu era assinante. Veio cá celebrar a missa um padre da Consolata e eu pedi-lhe que levasse para Fátima a renovação da minha assinatura. E foi aí que ele me disse: se a senhora pudesse recolher todas as assinaturas da terra, faria uma boa ação. E eu aceitei. Estava tudo num caos, mas pouco a pouco fui organizando as coisas”. São palavras da nossa colaboradora Maria Júlia Lopes Silva. Casada há 47 anos, tem uma filha, um filho e dois netos. Mora no Bairro, concelho de Ourém, lugar onde há 70 anos o padre João De Marchi ia de bicicleta celebrar a Eucaristia. O seu trabalho e a sua presença deixaram rasto. Hoje o Bairro tem um bom número de assinantes de FÁTIMA MISSIONÁRIA que Maria Júlia faz o favor de recolher e levar a Fátima. Com o seu ar todo juvenil, apesar do enorme trabalho do campo em que normalmente se ocupa, presta este serviço à missão “com muito gosto e enquanto puder”, como ela própria diz. Tem boas recordações dos missionários que passaram pelo Bairro, fazendo uma referência particular ao padre Manuel Carreira. “Tenho aí tantas cartas que ele me escreveu”, diz ela, com ar agradecido. Mas somos nós quem agradece.

*Diretor Nacional OMP texto conjunto Missãopress

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a missão hoje

Aventino Oliveira (centro), com Manuel Carreira (esq.) e Augusto Fatela, na década de 1950

UMA SEMENTE QUE DÁ FRUTOS HÁ 70 ANOS O Instituto Missionário da Consolata cumpre este ano sete décadas de presença em Portugal. A semente lançada pelo padre João De Marchi, em Fátima, frutificou e gerou uma grande família missionária, que continua a espalhar o perfume da missão pelo país e pelo mundo texto FRANCISCO PEDRO foto ARQUIVO FM Uma pequena casa emprestada na Cova da Iria, com três quartos, cozinha, sótão e garagem. Foi assim que nasceu o Instituto Missionário da Consolata (IMC) em Portugal, corria o ano de 1944. Dois dos quartos serviam de sala de aula, o sótão foi transformado em dormitório e a garagem em sala de refeições. O espaço era demasiado exíguo para as ambições do padre João De Marchi, mas tornou-se fundamental para catapultar a congregação no país e no mundo, como mais tarde se veio a comprovar. Aventino Oliveira, agora com 81 anos, fez parte do primeiro grupo 12

de seminaristas portugueses do IMC e recorda com nostalgia a primeira noite que dormiu na camarata, com a cabeça “quase encostada ao teto”. Convidado a viajar no tempo, debita memórias a um ritmo alucinante, o mesmo ritmo a que se movimentou De Marchi, desde o primeiro dia que aterrou em Fátima, vindo de Itália. “Ele tinha tanto entusiasmo, que até de Roma pediram ao bispo para o acalmar”, lembra o sacerdote. Ultrapassados os primeiros tempos de dificuldades, em que os seminaristas tinham que ir todas as noites buscar “dois cântaros de água” a um poço emprestado, em

1948 surge finalmente uma parte da obra idealizada por De Marchi: o Seminário da Consolata. Inovador, para a época, o edifício acolheu diplomatas, ministros, princesas e até “o rei de Itália”. Mas, acima de tudo, tornou-se num local de referência na formação de missionários. Hoje, embora menos procurado pelas novas vocações, continua a ser a joia da coroa de um complexo que foi sendo enriquecido com a construção de uma capela, um hotel, uma fábrica e loja de artigos religiosos, um centro missionário e um museu. “Conseguiu-se uma obra admirável”, afirma Aventino Oliveira, sublinhando o espírito de “união, alegria e de família” e a enorme “vontade de ajudar os pobres” que prosperou no IMC e que continua a inspirar os missionários espalhados pelo mundo.


destaque RAPTO DE 276 RAPARIGAS NA NIGÉRIA

O “CRIME” DE ESTUDAR E SER MULHER texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Dia 14 de abril, o mundo ficou chocado com as notícias do rapto de 276 alunas de uma escola pública do norte da Nigéria, pelo grupo radical Boko Haram que agiu fundamentalmente por duas razões: por serem mulheres e, como agravante, por serem estudantes. A ação deste grupo radical islâmico, com ligações à Al-Qaeda, pôs a nu as debilidades do sistema de defesa e segurança nigeriano. Segundo as agências internacionais de informação, o Boko Haram atuou com um estranho à vontade no terreno: esteve três horas na escola, numa operação em que mobilizaram 20 camionetas e cerca de 30 motos, tendo deixado o local depois de incendiarem o edifício.

A denominação de Boko Haram resulta da junção das palavras book (livro em inglês) e haram como referência para o que é proibido (pecado) por Alá. Figurativamente, tem sido traduzida por “a educação ocidental é pecaminosa”. Fundado em 2001 por Mohammed Yusuf, o Boko Haram foi inicialmente considerado uma seita que combatia os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos e pretendia estabelecer, em alternativa, uma república islâmica. A partir de 2009, assumiu a sua componente armada, o que levou a que as forças nigerianas lançassem uma grande operação para neutralizar o grupo, que fez cerca

de 700 mortos e levou à detenção e execução sumária do seu líder. Desde essa altura, o Boko Haram reorganizou-se sob o comando de Aboubakar Shekau, então número dois da organização, alargando os seus alvos e o território de atuação, com retaliações contra departamentos da polícia, bases militares, edifícios do governo, prisões, sedes de organizações internacionais, media, escolas e igrejas.

Radicalismo e pobreza

Tradicionalmente considerado um grupo confinado à região nordeste do país, o grupo tem procurado alargar a sua zona de intervenção, como o demonstram os atentados realizados em Abuja, a capital da Nigéria. Ao fazê-lo, o Boko Haram pretende descredibilizar as forças de segurança e o próprio governo, aumenta o receio entre a população e consegue adquirir uma maior visibilidade mediática, ao mesmo tempo que procura pôr em causa a convivência étnica e religiosa, em particular nas regiões de fronteira, entre comunidades. Em meados de abril, a comunidade internacional declarou guerra contra o Boko Haram. Entre os que repudiam estas ações encontramos tanto países ocidentais como países árabes, tanto cristãos como muçulmanos. Porém, as palavras dos Aboubakar deste mundo continuarão a recrutar apoiantes nos setores mais pobres da população, mesmo em países como a Nigéria, considerado um dos mais ricos de África, mas onde grassam profundas desigualdades económicas e sociais. Com efeito, a pobreza e a ignorância são o caldo em que nascem todos os movimentos obscurantistas, seja em que ponto do mundo for.

A comunidade internacional tem-se mobilizado para exigir a libertação das jovens estudantes

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atualidade

ÁFRICA DE SUCESSO ENTUSIASMA INVESTIDORES Há escolas atacadas por islamitas na Nigéria, ébola na Guiné-Conacri e guerra tribal no Sudão do Sul, mas num continente tão grande como três Chinas, multiplicam-se também as notícias positivas, como a boa governação em Cabo Verde, o sucesso das eleições multirraciais na África do Sul, o crescimento económico angolano ou a erradicação da malária pela Suazilândia. E isso ajuda aos negócios. Em 2013, o investimento externo foi de 56 mil milhões de dólares. Este ano, a taxa de crescimento da economia africana no seu conjunto deverá superar os seis por cento texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA No início de abril foi a União Europeia a acolher em Bruxelas uma cimeira com África. E em agosto será a vez de os Estados Unidos da América promoverem em Washington uma reunião do género entre o Presidente Barack Obama e os líderes africanos (estão 47 convidados). No ano passado, pouco tempo depois de tomar 14

posse como número um da China, tinha sido Xi Jinping a escolher a República Democrática do Congo, a Tanzânia e a África do Sul como destinos de uma viagem. É óbvio que os três grandes blocos político-económicos veem hoje África como uma prioridade e, ao contrário de épocas passadas, não

é para fazerem jogos geopolíticos, acorrerem a guerras civis ou fomes, mas sim para responder às necessidades de investimento de um continente que vai crescer 6,1 por cento em 2014 e na mesma ordem de grandeza no próximo ano. Taxas de crescimento económico que batem a europeia (previsão de um a dois por cento) e


americana (dois a três por cento) e que se ficam aquém da chinesa (sete a oito por cento), mesmo assim há países africanos a fazer melhor. Nas primeiras páginas dos grandes jornais internacionais continuam a ser mais frequentes as tragédias africanas, como o terrorismo islamita no Mali, o ébola na Guiné-

-Conacri, a guerra entre cristãos e muçulmanos na República Centro-Africana, o rapto de meninas no norte da Nigéria ou o conflito tribal no Sudão do Sul. Mas nas páginas interiores é possível descobrir histórias positivas, como a Suazilândia estar prestes a erradicar o paludismo, a África do Sul organizar com sucesso as suas

quintas eleições multirraciais, Cabo Verde e Botswana surgirem como exemplos de boa governação ou Angola constar entre os países do mundo que mais se desenvolveram na última década. Porém, começam a evitar-se as generalizações sobre um continente com cerca de 1100 milhões de Junho 2014

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atualidade

Cinco números africanos pessoas e mais de 50 Estados independentes. E as oportunidades de negócio são para aqueles que primeiro perceberem que, por exemplo, um conflito no Corno de África não afeta as possibilidades de investir na África Austral. É o caso de um empresário chamado Jan Kulczyck, que a revista ‘Forbes’ aponta como o homem mais rico da Polónia.

1100 milhões de habitantes 300 milhões de classe média 56 mil milhões de dólares de investimento externo em 2013 6,1 por cento de taxa de crescimento económico em 2014 47 líderes convidados para cimeira em Washington

O grande país da Europa Central viu nascer Joseph Conrad, o autor de ‘Coração das Trevas’, o famoso

Duas histórias antagónicas POSITIVA

NEGATIVA

Herdeiro do legado de Nelson Mandela, o ANC ultrapassou as polémicas em torno do seu líder, o Presidente Jacob Zuma, e conseguiu 62 por cento dos votos nas eleições de maio, as quintas multirraciais da história da África do Sul. Mas o maior partido da oposição, a Aliança Democrática, liderada por Hellen Zille, uma branca que combateu o Apartheid, passou de 17 para 22 por cento e começa a captar votos da maioria negra. E o discurso extremista de Julius Malema, um dissidente do ANC que quer expropriar os brancos 20 anos depois do fim do regime racista, não foi além dos seis por cento. Se está ainda longe de ser uma verdadeira nação arco-íris, a África do Sul conseguiu promover uma classe média negra, atrair de volta centenas de milhares de brancos que tinham partido após 1994 com medo, manter-se como o farol económico e cultural do continente (tem as melhores universidades) e até reduzir para metade a taxa de homicídios.

O grupo chama-se Boko Haram, que em língua haúça quer dizer “a educação ocidental é pecado”, e desde 2002 que ataca escolas no norte da Nigéria. Desta vez, na aldeia de Chibok, sequestrou mais de 200 estudantes, na sua maioria cristãs, ameaçando escravizá-las ou vendê-las. O governo nigeriano, apesar das bombas que o Boko Haram fez também explodir em Abuja, a capital, mostrou pouco empenho em acabar com este sequestro e houve pais desesperados que entraram na floresta, armados de arco e flechas, a tentar recuperar as adolescentes. Mas protestos junto ao Parlamento levaram o Presidente Goodluck Jonathan a finalmente reagir, prometendo enviar tropas para resgatar as meninas aos extremistas islâmicos. Ao mesmo tempo, ou seja três semanas depois do rapto a 14 de abril, a comunidade internacional despertou para o drama e países como os Estados Unidos começaram a ajudar na busca das reféns.

eleições na África do Sul

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sequestro de meninas na Nigéria

livro sobre o Congo, e também foi a pátria de Rysczyard Kapuscinski, repórter célebre pela biografia do último imperador etíope, mas mesmo assim não é o mais óbvio participante numa corrida às oportunidades em África. Mas Kulczyck aproveita a falta de passado colonial da Polónia, como o fazem também os chineses, para vencer tradicionais desconfianças dos africanos e assim tornou-se já dono de minas de ouro na Namíbia, de fábricas de fertilizantes na Nigéria e de campos de gás na Tanzânia. E vale a pena notar esta frase que disse ao ‘Financial Times’: “África é um continente de pessoas pobres e países ricos com uma enorme riqueza escondida por causa da falta de infraestruturas. Mas na Europa temos países pobres [com poucos recursos naturais] e pessoas ricas... é daquelas situações em que todos ficam a ganhar”. No ano passado, o investimento externo no conjunto dos países africanos atingiu os 56 mil milhões de dólares, segundo a Reuters. A África do Sul, motor económico do continente (apesar de ultrapassado agora em termos de Produto Interno Bruto pela ultrapopulosa Nigéria), recebeu a maior fatia, mas o lusófono Moçambique conseguiu entrar no pódio, ao captar sete mil milhões de investimentos. Foram, além dos vizinhos sul-africanos, sobretudo os brasileiros da Vale e os italianos da ENI a apostar na antiga colónia portuguesa do Índico, mas os empresários portugueses também andam por lá, à imagem do que sucede em Angola, onde desde os sumos Compal aos hotéis Pestana, as marcas portuguesas fazem questão de afirmar-se. Outro lugar comum a desfazer é que só as indústrias extrativas (minério e petróleo) levam investimentos a África. Com 300 milhões de pessoas a constituírem a classe média africana isso já não é verdade. As


empresas de telecomunicações, incluindo a portuguesa PT, podem bem testemunhar isso. É que se calcula que existam 800 milhões de telemóveis em África (a fotografia vencedora do último World Press Photo mostra emigrantes no Djibuti a erguer o telemóvel para captar rede das operadoras somalis, com fama de serem as mais baratas). Outro sector em expansão são os centro comerciais que os sul-africanos andam a construir pelo continente. Ou as linhas ferroviárias financiadas pela China como a que agora está a avançar no Quénia.

No ano passado, o investimento externo no conjunto dos países africanos atingiu os 56 mil milhões de dólares, segundo a Reuters. A África do Sul, motor económico do continente (apesar de ultrapassado agora em termos de Produto Interno Bruto pela ultrapopulosa Nigéria), recebeu a maior fatia, mas o lusófono Moçambique conseguiu entrar no pódio, ao captar sete mil milhões de investimentos

São os países que mostram maior estabilidade governativa, legislação

adequada e ausência de guerras que mais estão em condições de beneficiar da competição entre europeus, americanos e chineses (e por que não acrescentar indianos e japoneses?) pelas oportunidades em África. E essa competição até traz benesses. “Isto não é um jogo de soma zero. Isto não é a Guerra Fria. Temos um mercado global e se os países emergentes veem África como uma grande oportunidade, isso pode potencialmente ajudar os africanos”, afirmou Obama, filho de uma americana e de um queniano, no ano passado, durante uma visita à África do Sul. *jornalista do DN

O desenvolvimento em países como Moçambique tem atraído muitos empresários portugueses

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dossier

CANONIZAÇÃO Milhares de portugueses foram a Roma homenagear os dois novos santos

O carisma de João Paulo II ajudou José Alexandre Ribeiro, de 42 anos, a descobrir a sua vocação

“A IGREJA NÃO FAZ NINGUÉM SANTO” Quase um milhão de peregrinos assistiu em Roma, Itália, à canonização de João XXIII e João Paulo II. A ligação dos dois Papas a Fátima ficou bem patente pela quantidade de portugueses que se deslocaram ao Vaticano e agitaram a bandeira nacional na Praça de São Pedro texto e fotos FRANCISCO PEDRO Quando se soube que João Paulo II ia ser canonizado, começaram a cair às dezenas os pedidos de entrevistas da imprensa internacional na mesa de trabalho de Joaquín Navarro-Valls, o homem que durante mais de 20 anos serviu de porta-voz da 18

Santa Sé no pontificado do Papa polaco. As questões a colocar eram as mais diversas, mas havia uma que se repetia com frequência: “Queriam que eu desse a minha opinião sobre o porquê da Igreja tornar João Paulo II santo. A minha

resposta foi sempre a mesma: a Igreja não faz ninguém santo, o que faz é reconhecer que a vida daquela pessoa foi feita em santidade. E uma pessoa que rezava como ele, era verdadeiramente um santo. Para ele, rezar era como respirar”, contou


sobrinho-neto do Pontífice, classificando como “a graça máxima do século XX” a convocação do Concílio Vaticano II por parte do seu tio-avô. Popularizado como o ‘Papa bom’, revelou ainda particular empenho “na unidade dos cristãos e na transmissão de uma mensagem de paz e de justiça para o mundo”, sublinhou Roncalli, um dos maiores especialistas na história do pontificado de João XXII.

Pontificados com história

o ex-diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, num encontro com jornalistas, em Roma. No rescaldo da canonização que confirmou João XXIII e João Paulo II como santos da Igreja Católica, Valls destacou a inteligência, o bom humor e o elevado grau de concentração de Karol Wojtyla, mas lembrou, com especial ênfase e até emoção, a forma como o Pontífice “comunicava Deus, projetos e valores”. “Ele falava no ser mais e não no fazer mais. Nunca falou de egoísmo, mas de como seria belo o mundo se deixássemos de pensar tanto em nós mesmos”.

Menos mediático, até pela distância no tempo, João XXIII não foi tão aclamado pelos mais de 800 mil peregrinos que marcaram presença na Praça de São Pedro, no dia 27 de abril. Mas a sua ação na “abertura da Igreja ao mundo moderno” foi amplamente difundida pelos milhares de jornalistas acreditados pelo Vaticano para fazerem a cobertura da canonização – um momento histórico para a Igreja, que pela primeira vez juntou na mesma celebração dois Papas vivos: Francisco e Bento XVI. “João XXIII via a Igreja como um jardim e não como um museu”, testemunhou Marco Roncalli,

Com personalidades bem diferentes, mas uma enorme vontade de reforçar a universalidade da Igreja, os dois Pontífices foram capazes de assumir grandes responsabilidades, pessoais e universais, que marcaram o mundo. E ambos ficaram ligados à história da mensagem de Fátima. João XXIII porque foi a primeira pessoa a ler o manuscrito da Irmã Lúcia com a descrição do segredo, em agosto de 1959 – três anos antes, ainda como cardeal de Veneza, tinha estado na Cova da Iria, no 13 de maio. João Paulo II porque se deslocou em peregrinação à Cova da Iria por três vezes – uma delas para beatificar os videntes Francisco e Jacinta Marto – e atribuiu a Nossa Senhora de Fátima o milagre de o ter salvado no atentado de 1981, na Praça de São Pedro. A devoção a Maria do Papa polaco deixou marcas nos cristãos portugueses. “Ele é o nosso orgulho, porque levou o nome de Fátima ao mundo inteiro”, confessou emocionada Teresa Francisco, 39 anos, funcionária na Universidade de Lisboa. Integrada num grupo de seis peregrinos de São Mamede da Ventosa, Torres Vedras, a catequista deslocou-se a Roma para “reforçar a fé” e participar em mais “um verdadeiro encontro com Deus”. Tal como ela, milhares de portugueses fizeram questão de marcar presença nas cerimónias da canonização. Uns foram de avião, outros de autocarro Junho 2014

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A maior ovação ouvida na Praça de São Pedro foi quando o Papa Francisco falou em João Paulo II

e outros ainda de automóvel. Muitos arriscaram dormir ao relento nas ruas adjacentes à famosa Via da Conciliação, para conseguirem um lugar nas celebrações. José Alexandre Ribeiro, 42 anos, foi dos primeiros a entrar na Praça de São Pedro, de bandeira portuguesa em riste, acompanhado de outros noviços da comunidade dos irmãos de Saint-Jean, fundada em França pelo dominicano Marie-Dominique Philippe. Natural de Torres Vedras, trabalhou com o pai no sector das obras públicas, sonhou constituir família, mas há quatro anos sentiu que “o Senhor” o chamava. Neste momento, estuda Filosofia num convento francês e dedica-se à vida apostólica e contemplativa. Com um sorriso a rebentar de felicidade, fez questão de realçar a importância que Nossa Senhora de Fátima e João Paulo II tiveram na sua vocação.

Heróis do nosso tempo

Tal como costuma acontecer na Cova da Iria, também em Roma não foi difícil encontrar peregrinos 20

reconhecidos pelas graças que dizem ter recebido do agora São João Paulo II. “Não temos a menor dúvida que a nossa filha nasceu

por sua intercessão”, contou à FÁTIMA MISSIONÁRIA, no final das celebrações, Luís Monteiro, 40 anos, economista e residente

Fonte inspiradora para os jovens O grupo missionário João Paulo II, da diocese de Coimbra, marcou presença no Vaticano, acompanhado pelo seu bispo, Virgílio Antunes, para seguir de perto a canonização da “figura” que os interpelou a fazerem “diferente” e a não terem medo de “abrir as portas”. “João Paulo II foi uma fonte inspiradora. Fez-me perceber que Cristo está presente no meio dos jovens e acreditar que nunca devemos deixar de ser missionários”, disse à FÁTIMA MISSIONÁRIA a vice-coordenadora do grupo, Sara Teixeira.

Criado em 2007, o movimento missionário dedica-se a atividades diocesanas, mas o ponto alto do seu trabalho é quando os seus elementos se deslocam a Chapadinha, no Brasil, para um mês de voluntariado junto da população, em colaboração com as Irmãs Criaditas dos Pobres. A brasileira Vanessa Medeiros, 23 anos, contactou com os jovens missionários de Coimbra durante o ano que residiu em Portugal e quando regressou ao Brasil decidiu criar uma ‘extensão’ do grupo, em Paraíba, no nordeste do Brasil. “O nosso objetivo é criar pontes e laços com os outros,


que teimava em não chegar. Há dois anos, depois de ambos terem participado na beatificação do Papa polaco e de se terem deslocado em peregrinação à Polónia – terra natal de Karol Wojtyla – nasceu a pequena Maria Madalena, que agora quiseram levar ao Vaticano para a cerimónia de canonização.

em Arruda dos Vinhos. Casado há 12 anos com Cláudia, 36 anos, assistente social, esperou mais de uma década por um herdeiro,

Rosa Costa, 60 anos, uma professora aposentada de Braga, também encara o chamado “Papa de Fátima” ou o “Papa da família” como “um herói”. “O meu filho passou por um momento muito difícil, esteve hospitalizado e muito mal. Pedi muito a João Paulo II e ele sobreviveu, daí a minha fé e a minha esperança em vir aqui buscar um pouco de luz, sobretudo nesta altura em que o nosso país está a passar por momentos difíceis”, explicou a portuguesa. Tal como o Papa Francisco referiu na homilia da canonização, ao sublinhar que João XXIII e João Paulo II viveram as tragédias do

século XX, mas não se deixaram vencer por elas, porque o mais forte neles “era Deus”, também o bispo da diocese de Leiria-Fátima, António Marto (que representou a Igreja portuguesa em Roma enquanto vice-presidente da Conferência Episcopal) enalteceu a santidade vivida e manifestada pelos dois novos santos, essencialmente pela paixão de ambos “pelo homem e por Cristo”. E recordou, aproveitando estes dois exemplos, que a beatitude está ao alcance de todo o cristão: “Não há um molde para fazer santos, cada um é-o, na sua situação concreta, no tempo concreto e nos desafios que a Igreja e o mundo nos colocam”.

principalmente com os que mais precisam, porque há mais alegria em dar do que em receber”, afirmou a estudante.

“O nosso objetivo é criar pontes e laços com os outros, principalmente com os que mais precisam, porque há mais alegria em dar do que em receber”

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gente nova em missão

JUNHO Mês de festejos convida a encher os vossos corações

dias mais importantes do ano litúrgico, pois celebramos o Deus que é três pessoas: Deus Pai – Ele é o Criador, é o princípio e o fim; Deus Filho – assume a natureza humana para nos fazer, por Si, filhos do Pai e mostrar e conduzir à salvação; e o Deus Espírito Santo – a força, o amor que é Deus e que vive no coração de cada um de nós. A solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo celebra-se no dia 19. Jesus é o alimento que nos dá força. Na Eucaristia fazemos memória e vivemos a sua presença pois Ele está sempre connosco no pão e no vinho.

Olá amiguinhos! O verão está à porta. E junho apresenta-se como o mês das grandes solenidades. Algumas regiões de Portugal “vestem-se” de gala para as festas do Santo António (13), de São João (24) e de São Pedro (29). Todavia, junho oferece-nos muito mais para o nosso coração. Prepara já a tua agenda! texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

UM ROTEIRO ESPECIAL O nosso “roteiro” das solenidades do mês de junho inicia-se no dia 1 com a Ascensão de Jesus. Jesus “despede-se” dos apóstolos e confia-lhes a missão de anunciarem o Reino de Deus por toda a terra. Aos apóstolos e a nós também. Segue-se o dia 8 – é o Pentecostes. Os apóstolos experienciam a 22

promessa que Jesus lhes fez; recebem o Espírito Santo, que os transforma e fortalece para aquela missão. É o Espírito Santo que faz com que tenhamos gestos de amor para com os outros (até para com aqueles com quem simpatizamos menos). Dois dias depois, no dia 10, festejamos o dia do Anjo de Portugal. Ele que se manifestou aos três pastorinhos de Fátima. Dia 15 é a solenidade da Santíssima Trindade. É um dos

Já a terminar o mês, no dia 27, festejamos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, e no dia 28 a do Imaculado Coração de Maria. Queridos amiguinhos, adaptando um ditado popular ao nosso “itinerário” digo-vos: de solenidade em solenidade... enchei os vossos corações!


O DIA DOS MAIS PEQUENINOS O Dia Mundial da Criança celebra-se oficialmente a 20 de novembro. Nesse dia, em 1959, a Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança e 30 anos depois a Convenção dos Direitos da Criança. Mas Portugal celebra-o no dia 1 de junho. São preparadas muitas atividades para

os mais pequenos se divertirem e conviverem uns com os outros, reforçando os laços da amizade e de entreajuda entre si. Como verdadeiros irmãos. Mas nem todas as crianças podem “festejar”, pois os seus países estão em guerra ou a sua condição de ser humano com direitos não é reconhecida: muitas

crianças continuam a sofrer maus-tratos, doenças, passam fome, são obrigadas a trabalhar e impedidas de ir à escola. Lembremo-nos delas todos os dias nas nossas orações.

ORAÇÃO

Senhor, agradeço-Te por me dares a graça de ser teu amigo. Peço-Te que me dês um coração puro e que me faças testemunha do Teu amor como os apóstolos depois do Pentecostes. Obrigado, Senhor, por todas as coisas boas que proporcionas na minha vida. Mas há muitas crianças que nada têm. Peço-Te, como Pai bondoso que és, que as consoles, dês força a quem as defende e abras o coração daqueles que podem dar “vida” aos seus direitos. Pai-Nosso… Glória… Junho 2014

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tempo jovem

AUTENTICIDADE OU APARÊNCIA? Enquanto caminho lentamente pelas estradas insondáveis do mistério humano, percebo devagar, através do meu ministério sacerdotal, a grande dificuldade que temos de viver sem máscaras. Mesmo apesar de saber que só tirando a própria máscara podemos sentir o gozo e a alegria da liberdade interior, em muitas ocasiões preferimos ficar na nossa “pobre” zona de conforto tantas vezes carente de verdade e de conhecimento de nós próprios texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA

Falamos muito, pensamos demasiado, mas ainda temos a imensa dificuldade de aceitar que as ideias, pensamentos ou até mesmo as palavras, não têm realidade até que não incarnem. Dito de outro modo, facilmente temos a tendência de confundir “palavras, ideias e pensamentos” com “realidade”. Muitas vezes o nosso conhecimento das pessoas é aparente e muito longe da realidade. No mundo das relações humanas vê-se claramente esta limitação. Quando conhecemos alguém pela primeira vez, é preciso aceitar que o conhecimento que temos do outro é muito superficial 24

e marginal, e que tudo o que podemos pensar ou imaginar dessa pessoa é pouco realista. A tendência mais natural e quase automática é projetar imediatamente na pessoa que conhecemos os preconceitos sociais, culturais e familiares do ambiente onde fomos criados, mas isso, na maior parte das vezes, está longe de explicar quem é “realmente” o outro. A situação ainda se complica mais quando o nosso mundo emocional também acaba por influenciar a descrição do outro. As emoções têm a grande capacidade de provocar distorção na perceção autêntica do outro. Por exemplo, se é a inveja que me domina, dificilmente verei o

outro com objetividade. Imaginem então a quantidade de vezes em que somos capturados pela “ira”, quanto errados podemos estar na nossa capacidade de ver, julgar e agir em relação ao próximo. Estou convencido que, na medida em que crescermos na capacidade de ser autênticos, ou seja, de ser realistas com nós próprios, pessoas de uma só cara, sem aparências ou falsas máscaras, maior será a nossa objetividade quando nos encontrarmos, cara a cara, com “aquele” que é diferente. Caso contrário, com muita facilidade, viveremos no “vício neurótico” da distorção, que acaba por estragar as nossas relações.


Pessoalmente, quando me encontro com alguém, utilizo sempre uma espécie de “medidor” ou “verificador” que me tem ajudado bastante a saber se estou a captar a realidade do outro enquanto indivíduo ou se só o estou a “ler” a partir da minha falsa perceção. O que me dá a garantia que estou num processo de autêntico conhecimento da realidade do outro, é a capacidade de me “surpreender repentinamente” na experiência do encontro. Estou convencido que cada ser humano é um mistério a descobrir. Se assim é, porque devemos viver pensando que já conhecemos tudo do outro? O encontro é sempre “novo” porque o outro não é só o

seu passado nem o futuro que nós imaginamos, o outro é sempre presente e é no “aqui e agora” que estamos chamados a perceber a sua presença viva e real. Outra técnica que tenho aprendido, e que pode ser útil para conhecer autenticamente alguém, é o facto de responder de modo realista nos meus encontros interpessoais. Por outras palavras, é preciso reagir com a força humana e real que somos, ou seja, reagir a partir dos nossos sofrimentos, alegrias e capacidade de compreensão da própria vida. Não se trata de reagir com os olhos ou os ouvidos, mas com todo o nosso ser pessoa. Mesmo se neste encontro se

originam por vezes conflitos ou polaridades, fruto das máscaras que o outro ainda utiliza, é necessário acreditar profundamente que o outro ainda tem capacidades para nos surpreender e, em nome da procura de autenticidade, é nosso dever fazer o possível para revelar a realidade do outro, pois só assim confirmaremos a nossa própria realidade.

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sementes do reino

“EU ESTOU SEMPRE CONVOSCO” texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA A certeza da presença de Jesus dá a força necessária para partir em missão. O discípulo sabe que não está só. Essa certeza e essa alegria são as companheiras de viagem, pois o caminho a ser percorrido continua a ser muito grande.

Leio a Palavra Mt 28,16-20

Estes são os últimos quatro versículos do Evangelho de Mateus. Um momento trágico para os

discípulos: em breve ficarão órfãos de Jesus. Ao longo de três anos caminharam, viram, aprenderam com o Mestre… mas agora Jesus regressa ao Pai. Estamos na Galileia, num dos montes da região, lugar para o qual Jesus recomendara aos discípulos que se dirigissem ainda antes de ser preso, e que os anjos, na manhã de Páscoa, recordam às mulheres. Na Galileia, Jesus percorreu muita estrada, lá iniciara a caminhada do anúncio do Reino de Deus e também daí os discípulos deverão partir para o anúncio a todos os povos.

Saboreio a Palavra

O encontro de Jesus com os discípulos é marcado por uma série de sentimentos: a alegria com a dúvida à mistura. Os discípulos adoram (o verbo grego é exclusivo

“Eu estou sempre convosco” – sinta a presença de Deus na sua vida, agradeça esta presença e peça perdão quando ignora este fiel companheiro

para a referência à divindade, ou seja, os discípulos reconhecem que Jesus é um ser divino); no entanto, o evangelista anota também a dúvida. Fé e dúvida parecem misturar-se. Segue-se o envio dos discípulos em missão pelo mundo. Missão que consiste essencialmente em testemunhar as propostas de Jesus, tem a característica de ser universal e destina-se a “todas as nações”. O esquema missionário segue o caminho do ensino e do batismo. Ou seja, os discípulos devem “ensinar” as palavras e os gestos de Jesus, para permitir aos novos discípulos a adesão às propostas de Jesus com o batismo, que significa verdadeira entrega ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Nesta missão contarão sempre com uma presença: Jesus acompanha-os até ao fim dos tempos.

Rezo a Palavra

“Eu estou sempre convosco” – sinta a presença de Deus na sua vida, agradeça esta presença e peça perdão quando ignora este fiel companheiro.

Vivo a Palavra

A missão transmitida por Jesus aos discípulos deve ser agora continuada pelos novos discípulos. No mundo cresce o número daqueles que nunca ouviram falar de Jesus, apesar de todas as facilidades. A missão faz-se urgente, ontem como hoje, Jesus precisa dos nossos pés para poder chegar aos que nunca ouviram falar dele. Dispomos de muitos meios para anunciar o Reino, mas será que temos feito a nossa parte? Quando foi a última vez que falou de Jesus à sua família? Vamos começar hoje essa missão.

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intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO JUNHO

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Ascensão do Senhor Act 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Mt 28, 16-20 IDE POR TODO O MUNDO Sobe aos céus o nosso Redentor, inserindo a humanidade no seio da Trindade. Mas pede-nos que continuemos a sua obra: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura”. É para isso que a Igreja existe: para comunicar o Evangelho e levar a humanidade ao conhecimento de Deus. Qual o meu lugar nesta imensa tarefa? Incute em mim, Senhor, a paixão pelo anúncio do teu Reino a todos os povos.

08 Pentecostes

Act 2, 1-11; 1Cor 12, 3-13; Jo 20, 19-23 RECEBEI O ESPÍRITO SANTO Com Maria e os apóstolos descubramos a nossa vocação missionária. Subamos também nós à sala do Cenáculo para recebermos o Espírito do Senhor qual lufada de ar fresco, que renove a nossa vida interior e nos consagre como apóstolos do seu Evangelho. “Vem, Espírito Santo, vem amor ardente e acende na terra a tua luz fulgente”.

15 Santíssima Trindade

Ex 34, 4-9; 2Cor 13, 11-13; Jo 3, 16-18 DEUS É COMUNHÃO Deus é amor em movimento. Dele para nós, de nós para Ele. De mim para ti, de ti para mim. Eterna fecundidade do dar e do receber. Quem diz Santíssima Trindade diz encontro, relação, comunhão e dom recíproco. Se eu amo e me deixo amar, vivo na Trindade. Se dou a vida por alguém, vivo na Trindade.

É sua casa o nosso coração. É a fonte da cultura do encontro. Fazei que vivamos à vossa imagem, em plena comunhão convosco e com todos os nossos irmãos.

22 Corpo de Deus

Deut 8, 2-3.14-16; 1Cor 10, 16-17; Jo 6, 51-58 CORPO OFERECIDO “Dar a vida” é o porquê da nossa vocação apostólica, é a raiz da nossa missão. Corpo oferecido e sangue derramado foi a missão de Cristo e é a missão da Igreja. É a Eucaristia que faz a Igreja. É vínculo de unidade e germe de ressurreição. É pão que nos alimenta, nos dá o sabor de Cristo e nos introduz na vida sem fim. Quem comer deste pão viverá para sempre.

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13º Domingo Comum 2 Re 4, 8-16; Rom 6, 3-11; Mat 10, 37-42 BASTA UM COPO DE ÁGUA Jesus é o Filho enviado aos irmãos para testemunhar na Sua carne o amor do Pai. Quem o acolhe e se faz seu irmão, acolhe o Pai e torna-se Filho. Até o mais pequeno gesto de acolhimento – um copo de água fresca – é gesto divino, que não será esquecido. Ajuda-me, Senhor, a realizar os mais pequenos gestos da tua missão. DV

Para que a Europa reencontre as suas raízes cristãs através do testemunho de fé dos crentes

Raízes e testemunho Pedimos neste mês para que

a Europa reencontre as suas raízes cristãs. É sinal que as perdeu. Pela história sabemos que foi a Igreja que ensinou os bárbaros europeus a ler e a escrever, a construir e a pintar, nas escolas dos bispos e dos mosteiros. Recordemos que o pai dos monges ocidentais, São Bento, é padroeiro da Europa. Ao longo dos séculos “o rosto espiritual da Europa foi-se transformando graças aos esforços de grandes missionários, ao testemunho de santos e mártires e ao trabalho incansável de monges, religiosos e pastores”. São pais fundadores da comunidade europeia Robert Schuman, Konrad Adenauer e Alcide De Gasperi, todos eles animados por uma profunda fé cristã. Perguntava anos atrás João Paulo II: “Não foi, porventura, nos valores evangélicos da liberdade e da solidariedade que eles encontraram a inspiração para o seu corajoso projeto?” Certamente. E é por isso que se deve lutar para que a Europa não se feche sobre si mesma, mas se abra ao diálogo e à colaboração com os outros povos da terra. É fundamental nesta tarefa o testemunho de fé dos crentes. DV

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o que se escreve JESUS E O DINHEIRO Uma leitura profética da crise

REPORTAGENS COM MISSÃO

São textos escritos pelo padre Tony Neves, atual Provincial dos Missionários Espiritanos, ao longo destes últimos anos, para celebrar as suas bodas de prata sacerdotais. “Em boa hora se publicam em conjunto os textos deste livro”, diz o patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, no prefácio. “Foram escritos ao correr da pena – do teclado agora – mas ainda mais ao correr da vida. Em cima do acontecimento, diz-se, mas sobretudo, dentro dele, do caso ocorrido, da circunstância vivida, do significado ou apelo que cada coisa transporta”. Tony Neves respira a missão por todos os poros. Tem no seu currículo uma larga experiência missionária em Angola e por isso entusiasma as pessoas com o seu testemunho expresso num estilo alegre e divertido. Autor: Tony Neves 344 páginas | preço: 10,00€ Edição: LIAM

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CONHECER O PRÓPRIO CORAÇÃO

Diante da crise atual, que não é apenas económico-financeira, mas uma crise da humanidade, o jesuíta José Antonio Pagola, que é um apaixonado por Jesus, propõe neste livrinho uma reflexão lúcida, inspiradora e revolucionária, que parte do Evangelho e do exemplo dado por Jesus para a transformação da realidade social, económica e política, mas sobretudo humana. Autor: José Antonio Pagola 88 páginas | preço: 7,50€ Paulus Editora

“O que é o homem para dele te lembrares? O ser humano para que o visites?” São palavras do salmo 8 para explicar essa “cana pensante” que povoa a terra, para usar a famosa expressão de Pascal. Este livrinho que o biblista Gianfranco Ravasi nos oferece é mais um contributo para a compreensão do ser humano “destinatário direto de tanto amor e de tanta eleição”, através das páginas da Escritura. Autor: Gianfranco Ravasi 64 páginas | preço: 4,00€ Paulus Editora

MISSÃO EM ROSTOS E PALAVRAS

SORRIA COM OS SANTOS JOÃO XXIII. JOÃO PAULO II

Há muitas pessoas envolvidas na Missão. Este livro apresenta-nos rostos e experiências concretas de pessoas ligadas aos Missionários do Verbo Divino: sacerdotes, irmãs religiosas, leigos e leigas. Todos narram aqui as maravilhas de Deus realizadas através das suas pessoas. De facto a Missão, mais do que transmissão de ideias, é comunicação de vida. Autores: Vários 126 páginas | preço: 3,00€ Edição: Missionários do Verbo Divino

Temos aqui uma abordagem curiosa destes dois Papas recentemente canonizados pelo Papa Francisco. As pequenas “histórias” aqui inseridas são uma ocasião para constatar que estes dois Papas eram alegres, brincavam, faziam sorrir com o seu bom humor. Também o Papa Francisco, no primeiro encontro com os cardeais, após a sua eleição, lhes disse que pedissem a Deus o sentido do humor. E também ele depressa cativou o mundo com o seu sorriso. Autor: Pedrosa Ferreira 80 páginas | preço: 2,10€ Edição: Cavaleiro da Imaculada Edições Salesianas


o que se diz LENGALENGANDO Lengalengas, Trava-línguas e Cantilenas

Apresentam-se aqui textos que se transmitem de geração em geração, manifestações orais da cultura popular que jogam com o ritmo e os sons de tal maneira que o sentido do que é dito importa pouco ou é propositadamente absurdo. Por vezes até nos rimos da nossa incapacidade de os dizer depressa e bem, mas são preciosos para aperfeiçoar a dicção e a fala. Recolha: Marta Cancela Ilustração: Ricardo Neto 48 páginas | preço: 7,50 € Papa-Letras

O AMOR RECÍPROCO

Com mais este volume, Cidade Nova apresenta ao leitor alguns escritos escolhidos de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, para o introduzir no seu pensamento e na sua prática de vida em relação a uma Palavra de Jesus, referida no Evangelho de João: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei”. Exprimem um testemunho pessoal de uma grande mestra de espírito, mas são textos úteis para aprofundar o aspeto da comunhão na vida de cada dia. Autor: Chiara Lubich Elaboração: Florence Gillet 124 páginas | preço: 6,00€ Editora Cidade Nova

Visões curtas “Sem a redescoberta de novos valores e modelos de vida pessoal

e familiar, empresarial, social e política não adianta falar de austeridade, de empobrecimento ou desenvolvimento, pois é uma linguagem do castigo ou da promessa que assenta na demagogia. As visões curtas são sempre mais curtas do que se imaginam.” Frei Bento Domingues | Mensageiro de Santo António | Maio de 2014

Factor de unidade “Ao longo da minha vida também constatei o papel de Nossa

Senhora de Fátima na identidade dos portugueses, embora se trate de um fenómeno com menos de cem anos, mas que se liga a uma longa história de devoção a Maria na Igreja e no povo português. Entre os emigrantes, longe do seu país, Fátima desempenha um papel forte na identidade e na alma dos portugueses, sendo factor de unidade e de estabilidade em países estranhos.” António Vitalino | Notícias de Beja | 15 de Maio de 2014

Gerar vida(s) “Será que ainda não nos consciencializámos que sem gerarmos

novas vidas não construímos o futuro, e o presente torna-se penoso e insustentável? Se aprofundarmos esta questão, encontraremos as razões de fundo: a desvalorização da vida humana e da família tradicional. É o aborto provocado e a eutanásia. É a solidão (e abandono) dos idosos. É a emergência de novas formas de ‘família’. São os abusos científicos eticamente inaceitáveis.” Jorge Cotovio | Correio de Coimbra | 15 de Maio de 2014

A singular grandeza do homem “O que constitui o homem no seu ser profundo é essa relação

com Deus especial, relação que o define no seu valor de pessoa dinamicamente orientada para o seu Criador, acendendo nele – embora tenha sido moldado com os elementos da terra – a centelha do divino, tornando-o capaz de transcender a sua dimensão finita e temporal, para atingir o Infinito e o Eterno.” Maria Voce | Cidade Nova | Maio 2014

O valor da família “Quando os filhos criam problemas, logo toda a gente culpa as

suas famílias. Mas no que diz respeito a ajudá-las, o caso muda de figura. E logo a partir de quem tinha maior dever de ajudar – o Estado. Será que as leis promulgadas nos anos têm valorizado a estabilidade da família como comunidade de vida e de afetos? Será que se têm apoiado devidamente os casais com crianças, favorecendo assim a natalidade?” M.V.P. | O Amigo do Povo | 18 de Maio 2014

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Conceição Policarpo 150,00€; Inácia Ferreira 10,00€; Anónimo 25,00€; Fátima Matias 20,00€; Edite Trindade 10,00€; Conceição Gameiro 10,00€; Cândida Barros 100,00€; Isaura Rocha 13,00€. Total geral = 15.422,65€. BOLSA DE ESTUDO Noémia Canavarro 10,00€; José Soares 150,00€; Amélia Rodrigues 20,00€; Maria Silva 250,00€; José Fonseca 250,00€. CRIANÇA YÉO ISSA – COSTA DO MARFIM Anónimo 30,00€; Maria Moreira 30,00€, Maria Ester Pinho 100€. CRIANÇAS DE MECANHELAS – MOÇAMBIQUE Lourdes Dias 63,00€. OFERTAS VÁRIAS Manuel Rocha 65,00€; José Dias 43,00€; Lurdes Barbas 43,00€; Joaquim Duarte 143,00€; José Gonçalves 53,00€; Helena Ubach 40,50€; Isabel Cunha 33,00€; Ana Ventura 43,00€; Isilda Reis 43,00€; Joaquim Oliveira 68,00€; Lucília Marques 43,00€; Maria Luz Serrano 90,50€; António Silva 93,00€; Armanda Pereira 33,00€; António Mendes 43,00€; Anónimo 93,00€; Manuela Bravo 243,00€; Armandina Silva 26,00€; Helena Firmino 30,50€; Alzira Borrêcho 33,00€; António Guerra 43,00€; Flundório Cardoso 43,00€; João Costa 43,00€; João Amaro 33,00€; Assinante nº 6151 129,00€; Ausenda Carvalho 30,00€; Maria Carmo António 33,00€; Conceição Pinto 29,00€; Madalena Gomes 50,00€; Álvaro Faustino 36,00€; Lurdes Maurício 37,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

tentativa de fuga: ele e alguns colegas escaparam uma noite e rastejaram por entre as videiras duma vinha contígua ao campo. De repente, ouviu-se o uivo das sereias, os holofotes a percorrer a vinha, e as metralhadoras a cacarejar as suas canções sedentas de sangue. Vivo, ficou só ele. Tiritante de frio, de fome, de medo, lá foi viajando semanas sem fim até à sua cidade natal de Turim. Por uns tempos, escondeu-se num monte de palha, enquanto os caçadores germanos o procuravam para dele fazerem mais uma vítima da guerra. No seminário tinha momentos de euforia, e de memórias da guerra. No seu coração de criança vivia um amor tenro à Virgem da Consolação. No seu íntimo, ecoavam melodias silenciosas que só ele ouvia.

Padre João Merlo

MISSIONÁRIO GENEROSO texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Conhecemo-nos na Itália durante o noviciado e o estudo da filosofia, tinha ele 26 anos, eu 17. Possuía uma voz encantadora de tenor, mas raramente mostrava essa qualidade. A vida tinha sido cruel para ele e por isso se refugiava por vezes

numa dependência criança de sua mãe viúva de quem era filho único. Ao entrar no Instituto, descreveu-o o seu prior como “bom assistente de crianças na paróquia, catequista no Sagrado Coração de Maria, e que muito falava na sua vocação missionária”. Foi ordenado sacerdote em 22 de março de 1957.

Em 1960 foi enviado para as missões de Moçambique. Aí trabalhou com amor e serenidade. A sua saúde definhava. De casa, as notícias diziam que a sua idosa mãe piorava de dia para dia: acudiam-na os vizinhos. Falou ao Superior Geral do Instituto na situação, esperando voltar para Turim. Nenhuma resposta durante vários anos: em 1970 foi-lhe concedida a graça. Depois da morte da mãe, a sua saúde piorou. Foi enviado para a casa de Alpignano, uma casa para missionários idosos doentes, onde moravam corações cheios de amor fraterno e muita dedicação, e também alguns deprimidos na última curva da vida. Ali passou três anos antes da morte o padre Giovanni Merlo, missionário de tons marianos, que nunca conseguiu descer do colo da sua mãezinha: um missionário generoso em quem muito morou a solidão.

Soldado durante a Segunda Guerra Mundial, foi feito prisioneiro e levado para um campo de concentração na Alemanha. Depois de algum tempo, integrou-se numa Junho 2014

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outros saberes

CRISE DE IDENTIDADE texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA Li há dias num jornal este pensamento: “Estamos a viver uma crise de identidade que não é somente provocada pela crise financeira. A sociedade portuguesa ainda é muito politizada, mesmo passados 40 anos do 25 de Abril. Jornais, televisão, conversa de táxi e conversa de café ainda se centram demasiado na política!. O nosso futuro e o nosso sucesso estão nas nossas mãos e não nas dos políticos”. Dizia Alexandre Herculano:

“Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer”.

mais longe e para isso trabalha procurando o bem dos cidadãos. De facto há que ter em atenção este grande princípio, que é sempre atual: “Em política, tal como

na moral. É um grande mal não fazer o bem e, todo o cidadão inútil deve ser considerado um homem pernicioso” (Rousseau).

Mas também é nefasto e ruinoso ocupar-se da política para proveito próprio. Tinha razão Bismarck em alertar para o perigo de ver na política “a condução dos

negócios públicos para proveito dos negócios particulares”. Não

Mas atenção: “Pensar só em si

há dúvida que procurar o próprio interesse aproveitando-se dos negócios públicos não é

É o que infelizmente fazem aqueles que não têm projetos de longo alcance, mas se limitam a resolver os problemas do dia a dia. O verdadeiro político sabe ver

“Estamos a viver uma crise de identidade que não é somente provocada pela crise financeira”

e no presente, é um forte erro político” (Jean de la Bruyère).

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eticamente nem evangelicamente correto, até porque “a política é a

arte de fazer aos outros o que não queremos que nos façam” (Emile Bergerat).

Nesse sentido, tal como dizia De Gaulle, “a política é um

assunto sério demais para se deixar com os políticos”.

Todos se devem ocupar dela para o benefício dos outros, embora se reconheça que isso raramente acontece. Dizia ainda Bismarck que “a política não é uma ciência exata, mas uma arte”. Uma arte difícil de

atingir. Talvez seja a única profissão para a qual não se julga necessária uma preparação. Aliás, “há muito

tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder” (L. Bianciardi).


2014 ano Allamano

“POSSO DORMIR TRANQUILO” texto DARCI VILARINHO foto FM Mais algumas pinceladas na figura do beato José Allamano (1851-1926), que ao longo deste ano a ele dedicado queremos retratar. Para que seja mais conhecido e amado e a sua vida exemplar seja um estímulo. Dizia José Allamano aos seus missionários: “Nossa Senhora, invocada com o belo título de Consolata, é a nossa Mãe e nós seus filhos. Sim, é uma querida mãe que nos ama como a pupila dos seus olhos, que idealizou o nosso Instituto, que o sustém espiritual e materialmente aqui e em África, e está sempre atenta às nossas necessidades. Por isso posso dormir tranquilo”.

defendam os mais humildes, os pobres e os frágeis, e se trabalhe constantemente pela paz e concórdia entre os homens. Com a fundação de um Instituto missionário e mariano, Allamano evidenciou a missão de Maria na Igreja e contagiou com a mesma dimensão os devotos que frequentavam o Santuário da Consolata, levando-os a ser como Maria colaboradores na evangelização. Tinha ele fundado o boletim “La Consolata” para difundir a devoção à padroeira de Turim. Pois bem, foi nesse mesmo boletim que a partir de 1902 começaram a aparecer as crónicas e os testemunhos dos seus filhos nos primeiros contactos com outros povos. Foi o melhor contributo para que a missão contagiasse outros e o Instituto crescesse em dinamismo e ardor apostólico.

É bem verdade que a proliferação de novos carismas na Igreja é um sinal tangível da presença materna de Maria na Igreja, para o bem da humanidade. A realidade do nosso carisma na Igreja deveu-se de um modo particular a Maria “aquela Mãe de ternura que nos ama como a pupila dos seus olhos”. Basta isto para dizer como são profundas e vitais as nossas raízes, e como é importante crescer na comunhão com a Igreja e com Maria, a mãe da nossa Missão.

Consciente desta profunda ligação entre a Virgem da Consolata e a nova instituição missionária, Allamano reconhecia humildemente: “Chamam-me fundador, mas não fui eu que fundei o Instituto, foi a Consolata. Eu fui simplesmente o instrumento”. E às Irmãs perguntava em 1915: “Quem é a Consolata para nós? Foi ela que fundou o Instituto, que o orienta, que nos dá o pão de cada dia, e nos faz chegar o dinheiro para continuarmos a obra iniciada”. Depois da Eucaristia, a devoção mariana é o ponto mais forte da vida espiritual de Allamano. Afirmava que, pela semelhança de tarefas que tem com Maria, o missionário deve parecer-se com ela na vida e nas virtudes. A ação da Igreja no mundo é como um prolongamento da solicitude de Maria. O amor operante da Virgem encontra continuidade na ânsia materna da Igreja para que todos conheçam a verdade, se

A devoção a Nossa Senhora da Consolata era um dos pontos fortes da vida espiritual de Allamano

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fátima informa

UM TIJOLO PARA REPARAR O MUNDO Peregrinação das crianças prevê a construção de um muro que simbolizará o mundo a precisar de restauração texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto SANTUÁRIO DE FÁTIMA É uma peregrinação especial, não só pelo colorido e alegria que leva ao Santuário de Fátima, mas também pela beleza dos cânticos. A 10 de junho, milhares de crianças peregrinam à Cova da Iria sob o lema da primeira expressão da oração que Nossa Senhora ensinou aos três videntes, em julho de 1917, quando lhe oferecessem orações e sacrifícios: “Ó Jesus é por vosso amor”. Ao longo do mês de maio, foi proposto aos mais pequenos que olhassem para o mundo à sua volta e descobrissem o que torna as pessoas infelizes e longe de Deus. Depois, com oração, boas obras e sacrifícios foram desafiados a preparar um ‘tijolo’ que levarão para Fátima e colocarão no altar da celebração eucarística. Os ‘tijolos’

Curso da mensagem de Fátima

De 6 a 8 de junho decorre a quarta edição do curso sobre a mensagem de Fátima, dedicado ao “triunfo do amor nos dramas da História”. A irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto é a formadora desta ação que decorre na Casa do Carmo.

Imagem visita conventos

A imagem peregrina de Fátima iniciou, a 12 de maio, a peregrinação nacional pelos mosteiros de clausura em Portugal, incluindo Açores e Madeira. A primeira imagem da Virgem Peregrina de Fátima, entronizada 34

Crianças portuguesas prepararam durante um mês a participação na peregrinação de junho

reconstruirão, simbolicamente, um mundo que precisa de restauração. A peregrinação terá início a 9 de junho, pelas 18h00, com a visita livre aos locais das aparições do Anjo: Loca de Cabeço e Aljustrel, seguindo-se uma celebração noturna, a partir das 21h30. No dia 10 de junho, pelas 10h00, e após a oração do Rosário, os pequenos peregrinos participam na na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, entrou no Carmelo de São José, em Fátima, convento da ordem Carmelita, pela qual a irmã Lúcia professou e onde ficava quando se deslocava a Fátima.

Santuário lança revista

“Fátima XXI” é a nova revista cultural do Santuário de Fátima e foi apresentada a 12 de maio. A publicação pretende “fazer eco da dimensão cultural de Fátima e ser espaço de reflexão”, ao abordar temas relacionados com a história, a mensagem e a cultura de Fátima, salientou o reitor do santuário, padre Carlos Cabecinhas.

Missa, no recinto do santuário, sob o tema “Em Jesus Eucaristia, Deus é amor reparador”. A celebração de despedida está marcada para as 16h00, na basílica da Santíssima Trindade, onde também será encenada a peça “Ó Jesus, é por vosso amor”, às 09h30 e 15h00.

Junho em agenda 10 Festa dos familiares dos missionários da Consolata 14/15 Peregrinação dos missionários da Boa Nova 19/20 Peregrinação das Forças Armadas e de Segurança



O PARAÍSO DENTRO DE NÓS O Paraíso é na Terra, Ele está dentro de nós. Cada dia é como um rio Com nascente, curso e foz. Em cada dia da vida, Há sempre novos começos, Há sempre novas viagens, Há sempre novas chegadas. Passamos por mil paragens E todas as nossas rotas São por Deus abençoadas, E cada foz banha as margens De uma Terra Prometida. O Paraíso é a vida Se cada dia que passa Soubermos merecer a Graça De Deus nos ter dado a vida. Fernando Henrique de Passos Retábulo


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