DESPEJADOS

Page 1

Ano LXV | Mensal | Junho 2019 Assinatura Anual | Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

DESPEJADOS PRESSÃO TURÍSTICA NO PORTO ATIRA MAIS POBRES PARA A RUA DESTAQUE

Líbia à beira de uma nova guerra civil Comunidade internacional chamada a reforçar mediação

FÁTIMA INFORMA

ENTREVISTA

Mala será entregue a Nossa Senhora na Peregrinação do 10 de junho

Maria Holguin diz que ninguém devia pôr futuro do país em risco

Crianças preparam mochila Ex-ministra da Colômbia com preces e boas ações fala do processo de paz


OS ASSINANTES SÃO O NOSSO ORGULHO E A NOSSA FORÇA. AJUDE NOS A IR MAIS LONGE.

FAÇA PARTE DESTA MISSÃO

OFEREÇA UMA ASSINATURA AOS SEUS FAMILIARES, AMIGOS E VIZINHOS

Envie os dados do novo assinante (nome, morada, local, código postal, telefone) para: FÁTIMA MISSIONÁRIA | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 460 e-mail assinaturas@fatimamissionaria.pt Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€


SUMÁRIO

Nº 06 Ano LXV Junho I 2019 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

Estatuto editorial http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

P. 16

“ Despejados: Turismo da indiferença

04 | EDITORIAl O grito da terra 05 | PONTO DE VISTA Ordens e a era da globalização 06 | HORIZONTES Verdade de sonho 07 | DESTAQUE Líbia à beira de uma nova guerra civil 08 | MUNDO MISSIONÁRIO

. Níger Ser cristão no Sahel é um risco . México Milhares de migrantes caminham dias e dias sem alimento

. Paquistão Falsos matrimónios encobrem tráfico humano

. Índia Cristãos e muçulmanos juntos para socorrer o Sri Lanka

. República Centro Africana Pigmeus de Belemboké readquirem a liberdade

. Nicarágua ONU atesta assassinatos no regime de Daniel Ortega

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 20.800 exemplares Diretor Albino Brás Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Ângela e Rui, Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, José Matias, Leonídio P. Ferreira, Luís Tomás, Osório Afonso, Simão Pedro, Teresa Carvalho Diaman­tino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção Capa Ricardo Graça Contracapa DR Ilustração David Oliveira Design BAR Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

10 | A MISSÃO HOJE “Um pastor abnegado, sempre próximo, sempre disponível” 11 | PERIFERIAS Mãos que se doam 12 | A MISSÃO HOJE A infância no Ano Missionário 13 | FÁTIMA INFORMA Crianças deixam mochila da felicidade em Fátima 14 | ENTREVISTA Colômbia: “Acabou a guerra e ninguém devia pôr paz em risco” 22 | MÃOS À OBRA Jovens incentivados a trabalhar a terra 23 | OBJETIVA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Comunhão em rede 26 | TEMPO JOVEM A Igreja precisa de ti 28 | SEMENTES DO REINO “O Espírito Santo vos ensinará e vos recordará tudo”

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

30 | LEITORES ATENTOS 31 | GESTOS DE PARTILHa 32 | VIDA COM VIDA Missão ao Zénite 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

‹ Junho 2019 ›

03


editorial

O GRITO DA TERRA A notícia recente de que um urso pardo foi avistado em Portugal, no nordeste transmontano, causou algum alvoroço na região e a simpatia de muitos portugueses, que viram ali a esperança de voltar a ter em território português uma espécie que já não existe no país desde 1843. O urso terá vindo dos montes Cantábricos, onde existem cerca de 280 exemplares. Curiosamente, por esses mesmos dias era divulgado pela ONU um novo e amplo estudo sobre biodiversidade, que mostra, entre outras coisas, que cerca de um milhão dos oito milhões de espécies animais e plantas existentes no nosso planeta estão ameaçadas de extinção. Em alguns casos o desaparecimento seria uma questão de décadas. Desenvolvido nos últimos três anos por 145 especialistas de 50 países, aquele relatório, de mais de 1.500 páginas (será publicado na íntegra até o final do ano), não é encorajador. Diz-nos que três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66 por cento dos marinhos foram “significativamente alterados” pela ação humana; que 33 por cento dos recursos de pesca marinha foram explorados a níveis insustentáveis ​​ em 2015; que as emissões de gases com efeito de estufa duplicaram desde 1980 e causaram o aumento global da temperatura em pelo menos 0,7 graus Celsius; e refere, ainda, que a poluição por plástico

04

Fátima Missionária

aumentou dez vezes desde 1980. O aumento da população mundial (já somos mais de sete mil milhões) tem exercido uma pressão tremenda sobre os habitats e trazido um grande desequilíbrio aos ecossistemas. A agricultura intensiva, a caça clandestina, a exploração madeireira, a pesca sem regras e a mineração estão a provocar sérias e rápidas alterações ao mundo natural. A vida animal e vegetal já caiu mais de 20 por cento nos últimos 100 anos. Urge inverter o caminho que nos está a levar para o abismo. Cuidar da natureza é cuidar do bem-estar humano. Mas isso não pode ser um fardo a ser carregado pelos mais pobres, que já são os mais afetados pelo impacto das alterações climáticas e da perda de biodiversidade. Acreditamos que é possível conciliar desenvolvimento económico com conservação, promovendo uma ética da responsabilidade. Num mundo alienado pelo excesso de novelas e futebóis, o que parece estar já a acontecer é que temos a casa a arder, mas estamos tão distraídos que nem reparamos no desastre. Pode ser que quando nos dermos verdadeiramente conta já seja demasiado tarde. Avisos, não faltaram! Haja quem ouça o grito da Terra. Albino Brás

Cuidar da natureza é cuidar do bem-estar humano. Mas isso não pode ser um fardo a ser carregado pelos mais pobres, que já são os mais afetados pelo impacto das alterações climáticas e da perda de biodiversidade


PONTO DE VISTA

JOSÉ EDUARDO FRANCO . HISTORIADOR .

ORDENS E A ERA DA GLOBALIZAÇÃO Se hoje Portugal é considerado um dos países construtores da universalidade moderna não deixa de dever às ordens uma assessoria fundamental e qualificada neste processo que é uma das melhores marcas da nossa cultura histórica. As diferentes ordens hospitaleiras tinham como missão viver radicalmente o valor da hospitalidade, quer protegendo os peregrinos e os estrangeiros na grande época das peregrinações medievais a Jerusalém e a outros lugares santos, quer mais modernamente especializando-se na assistência hospitalar para atender às pessoas em situação de doença e pobreza física e espiritual. A mais conhecida destas ordens tem marca portuguesa, os Irmãos de São João de Deus, cujo fundador nasceu em Montemor-o-Novo. Muitas ordens e congregações têm desenvolvido trabalho no plano do ensino das populações atendendo desde sempre ao direito e à necessidade fundamentais de educação e cultura. É de todos reconhecido o papel matricial dos mosteiros e conventos na preservação da cultura e na formação de quadros especializados, sedimentando os fundamentos do que veio a ser a Europa Moderna. Justo é, por isso, o título atribuído a São Bento de Pai da Europa, podendo a mesma paternidade estender-se à imensa rede de mosteiros que a sua regra inspirou e regulou. Mas o mesmo se poderia dizer de muitos outros santos

fundadores de comunidades religiosas, como Santo Agostinho, São Francisco, São Domingos, Santa Clara, Santa Teresa, Santo Inácio de Loyola. Por seu lado, é pertinente verificar que as ordens religiosas, fundadas no dealbar da Idade Média com a sua estrutura organizativa transnacional, eram aquelas que estavam mais bem preparadas para adaptar-se ao mundo que veio a afirmar-se na modernidade: o mundo cada vez mais globalizado. Com efeito, as viagens marítimas potenciadas pelos reinos ibéricos de Portugal e Espanha romperam as distâncias que impediam os diferentes continentes e povos de comunicarem entre si. Movidos pelo ideal de universalização do Cristianismo fizeram, no século XVI, a primeira globalização. Trocaram-se produtos comerciais (especiarias, ouro, diamantes, produtos manufaturados), como se trocaram conhecimentos, ao mesmo tempo que se levou a todo o lado a fé cristã. As ordens religiosas através dos seus missionários estiveram na primeira linha para acompanhar as caravelas neste processo de abertura do mundo, sendo, por isso, criadoras de globalização. Criaram missões, abriram colégios, hospitais… Globalizaram a ideia de educação cristã do homem todo e de todo o homem; globalizaram o valor da solidariedade, procurando atender ao ser humano em situação de fragilidade física e espiritual; globalizaram a utopia da construção de homem novo e da fraternidade universal.

‹ Junho 2019 ›

05


horizontes

Verdade de Sonho Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Joaninha sonhava, sonhava… Sonhava a dormir e sonhava acordada. Talvez por isso frequentemente Joaninha sobressaltava-se com uma voz que lhe lembrava: – “Joaninha, outra vez de cabeça na lua!?” E era verdade, mas Joaninha não conseguia evitar. Gostava tanto daqueles sonhos! Até se esquecia de brincar ou de ouvir o que a senhora professora ensinava, e até o que lá em casa lhe diziam ou pediam. As histórias que ela inventava, até pareciam de verdade. Nelas, Joaninha fazia de conta que não havia gritos nem disputas, nem maldizeres, nem ordens para esquecer aqueles que preenchiam o seu coraçãozinho, nem havia nada que a fizesse sentir-se pequenina, tão pequenina que às vezes lhe apetecia ficar invisível. No seu sonho de fazer de conta, tudo acontecia como ela desejava, e nesses momentos, Joaninha sentia-se feliz. Feliz de verdade! Em todas as histórias de Joaninha, todos sorriam, havia música e gargalhadas, e ela saltava de abraço em abraço, de braços abertos, sem receio de cair ou de magoar. E aqueles que preenchiam o seu coraçãozinho de menina, estavam todos lá, presentes, leves, livres, sem mágoas ou confusões de entristecer. Era tão aconchegante que às vezes Joaninha até adormecia embalada nas histórias de encantar. Um dia, “alguém” quis ouvir e perceber por onde andava Joaninha quando estava de “cabeça na lua”. E a petiz não se fez rogada. Contou com pormenor todos os recantos das suas histórias de fazer de conta, enquanto os olhinhos brilhantes contavam como ela era feliz a navegar nesse outro universo onde tinha liberdade de ser e de sentir. Depois de escutar as histórias de

06

Fátima Missionária

Joaninha, esse “alguém” desafiou a petiz: – E tu serias capaz de criar essas histórias sem ser a “fazer de conta”? Joaninha ficou espantada. Ainda não sabia que as histórias de fazer de conta também podiam transformar-se em histórias de verdade. Mas, se era possível, ela queria ser tão feliz de verdade como era no “faz de conta”! Então, esse “alguém” que passou também a saber as histórias de faz de conta de Joaninha, assumiu a responsabilidade de ir ao encontro das pessoas de verdade, nos locais de verdade. Descobriu que essas pessoas de verdade, também não eram felizes com os gritos, ou com as disputas, nem com maldizeres e proibições. Tinham montado muros de separação feitos de armas apontadas, que já nem sabiam onde tinham iniciado, e que lhes roubava a tranquilidade e a alegria. Contou-lhes as histórias de encantar de Joaninha onde tudo parecia fácil. E seria fácil se a quisessem ouvir. Eles até já se tinham esquecido que Joaninha também pensava e sentia e sonhava e desejava. Como puderam estar tão distraídos? Estando todos reunidos, e depois de alguns impasses e disputas de poder, em conjunto, criaram um espaço de encontro, englobando todos aqueles que chamavam Joaninha pelo nome, e que ela incluía nas suas histórias de fazer de conta. Desde então, a vida de Joaninha passou a traduzir de verdade as histórias que eram de faz de conta. Deixou de precisar de ter a “cabeça na lua” para poder ser feliz, só a fingir. Pode agora construir histórias de verdade com todas as pessoas a quem ela pertence e que lhe pertencem de verdade, e que têm sempre reservado para ela um lugar à mesa, com o seu nome bem gravado no coração: Joaninha! Joaninha, a feliz de verdade!


destaque

Comunidade internacional reforça mediação

Líbia à beira de uma nova guerra civil Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

Um piloto de nacionalidade portuguesa, que pilotava um caça das forças governamentais líbias, foi capturado, em maio, após o seu avião ter sido abatido pelo exército da oposição. Esta notícia, tratada em Portugal quase como uma curiosidade, é a expressão de um conflito maior que opõe o marechal Khalifa Haftar às forças governamentais de Fayez Sarraj, do governo, e que colocou o país à beira de uma nova guerra civil. Khalifa Haftar é o líder da rebelião que, no passado dia 4 de abril, lançou uma vasta ofensiva militar, que reúne milícias anti-islâmicas e antigas forças do ditador Muammar Kadhafi, morto em 2011. A queda de Kadhafi e do seu regime surgiu na sequência da denominada Primavera Árabe, que gerou uma onda de revoluções, manifestações, protestos e guerras civis em vários países do Norte de África e do Médio Oriente. Apesar das eleições de 2012 mostrarem a possibilidade de o país

retomar a sua normalidade, com a criação de um Conselho Nacional Geral, o governo líbio enfrentou inúmeros problemas para pacificar o território. As milícias não foram desarmadas e, depois da deposição da ditadura, dedicaram-se a defender os seus próprios interesses, substituindo-se ao exército e à polícia nacionais. Face ao poder das milícias, o governo perdeu também o controlo de inúmeras empresas petrolíferas, o principal recurso económico do país. Como se isso não bastasse, dedicou-se a um processo de depuração política, afastando e perseguindo os apoiantes do antigo regime e aprofundando as feridas políticas ainda recentes.

Regresso às negociações?

As eleições de 2014 não só não resolveram como agravaram a crise social e política, acabando por lançar o país numa guerra civil. Os partidos islamistas, que perderam as eleições, recusaram-se a reconhecer os resultados. O conflito acabou com a criação de dois governos, um

em Trípoli, outro em Tobruk, no Leste do país, enquanto as forças do Estado Islâmico aproveitavam para se instalarem em Sitra, cidade do antigo líder Líbio, Kadhafi. Para pôr termo ao conflito, a comunidade internacional consegue fazer com que os governos de Trípoli, onde se cria um Conselho de Estado, e o de Tobruk, onde funcionará a Assembleia Nacional, aceitem uma jurisdição superior a ambos, com a criação do governo de união nacional, liderado por Fayez Sarraj. Porém, a Assembleia Nacional, em Tobruk, recusa-se a cumprir os acordos internacionais. Khalifa Haftar é uma figura controversa que soma no seu currículo o facto de ter sido um general de Kadhafi, tendo-se rebelado contra ele e desenvolvido uma proximidade com os Estados Unidos da América, onde chegou a estar exilado. Agora, controla a maior parte do país, reduzindo a soberania das autoridades de Trípoli a uma ínfima parte do território.

‹ Junho 2019 ›

07


mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Níger

Ser cristão no Sahel é um risco

A segurança na zona fronteiriça do Níger com o Burkina Faso é cada vez mais frágil. As forças da ordem nigerianas mostram-se impotentes para travar os ataques frequentes provenientes do deserto do Sahel. Em maio passado, um grupo não identificado atacou por três vezes a paróquia de Dolbel, a cerca de 200 quilómetros da capital Niamey. O pároco, Nicaise Avlouké, foi ferido, tendo sido socorrido no hospital militar. As forças armadas reagiram aos ataques perseguindo os assaltantes que se puseram em fuga, em direção ao Mali. A zona do ataque foi colocada em estado de emergência.

México

Milhares de migrantes caminham dias e dias sem alimento Na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América a situação dos migrantes agrava-se de dia para dia. O esforço para acolher a todos provoca uma crise logística insustentável. No entanto, a situação no sul do México é ainda mais dramática, devido à chegada de migrantes provenientes de África e da Ásia em busca de meios para se dirigirem a caminho do norte. Está criada “uma verdadeira crise humanitária”, no dizer do bispo auxiliar de Monterrey, Alfonso Guardiola. Milhares de pessoas “sem alimento há vários dias, dormem ao

relento nas estradas. São crianças, idosos, doentes e mulheres grávidas, algumas prestes a dar à luz”.

Paquistão

Falsos matrimónios encobrem tráfico humano

“Mulheres paquistanesas casam com homens chineses, convencidas de obter um benefício, mas estas jovens

08

Fátima Missionária

mulheres e as suas famílias não estão conscientes que podem estar a ser enganadas, caindo em matrimónios fraudulentos”, alerta o bispo paquistanês Samson Shukardin, presidente da Comissão Episcopal da Família. Estes matrimónios são realizados por falsos pastores cristãos e registados em agências matrimoniais ilegais. Depois do matrimónio, estas jovens são levadas para a China onde muitas vezes são maltratadas e vendidas como escravas sexuais, ou outras finalidades. Este tráfico humano foi denunciado já em 2018 pela ativista dos direitos humanos Saleem Iqbal. O matrimónio organizado pela família é ainda uma prática cultural largamente enraizada no Paquistão.


MUNDO MISSIONÁRIO ÍNDIA

CRISTÃOS E MUÇULMANOS JUNTOS PARA SOCORRER O SRI LANKA

“Juntos, queremos oferecer uma ajuda concreta às vítimas dos ataques da Páscoa para as ajudar a sair da crise sem precedentes que atingiu as suas vidas”, lê-se na declaração conjunta do arcebispo de Bombaim, cardeal Oswald Gracias, e do secretário-geral do Conselho dos Teólogos Muçulmanos da Índia, Mahmood Madani. “Enviamos uma delegação inter-religiosa de alto nível composta por personalidades das nossas comunidades de fé, para explorar as possibilidades de cooperação e apresentar as nossas sinceras condolências à população do Sri Lanka”. Depois de pedir às forças da ordem para tomarem medidas “que impeçam os grupos terroristas de devastar a sociedade civil”, os dois líderes religiosos apelam a “todos os homens de boa vontade, independentemente da religião, casta ou credo, a empenharem-se para salvar a humanidade e manter a harmonia e a paz social”. O Sri Lanka é um país multiétnico, de 22 milhões de habitantes. A maioria da população é budista, mas conta com diversas minorias de cristãos, muçulmanos e hindus.

REPÚBLICA CENTRO AFRICANA

PIGMEUS DE BELEMBOKÉ READQUIREM A LIBERDADE

A 500 quilómetros da capital Bangui vive uma comunidade de pigmeus. Os únicos não-pigmeus são dois missionários africanos e três irmãs religiosas da América Latina. Em 1973, nasceu a aldeia e paróquia de Belemboké. Os pigmeus ergueram, à volta da igreja, as suas pequenas cabanas típicas de folhas entrelaçadas, em forma de igloo. Pouco a pouco libertaram-se da dependência dos chefes das outras etnias, que os tratavam como escravos. Graças à ação da missão, a sua cultura e tradições foram preservadas e eles viram a sua liberdade e dignidade reconhecidas e respeitadas.

NICARÁGUA

ONU ATESTA ASSASSINATOS NO REGIME DE DANIEL ORTEGA

Tortura de prisioneiros políticos, ataques brutais contra a liberdade de expressão e o assassinato de 325 nicaraguenses são crimes cometidos pelo regime da Nicarágua desde abril de 2018. Tais crimes, agora denunciados pelas Nações Unidas, são atestados por organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos. A Nicarágua é um dos 14 Estados analisados pela terceira vez pelo grupo de trabalho da ONU. Este grupo deverá aprovar uma série de recomendações que serão apresentadas durante a 34ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que terá lugar no próximo mês de novembro.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

ITÁLIA, UM ANO DEPOIS Foi em março de 2018 que as eleições políticas italianas abriram as portas a um governo de coligação, uma geringonça à italiana, entre dois partidos que patrocinam visões bastante opostas: a Liga Norte, que é uma formação de extrema-direita, e o Movimento Cinco Estrelas, de tendências centristas e populistas. Na altura pareceu-me que um tal conúbio não iria durar, mas enganei-me. Creio que a sobrevivência deste governo se deve ao facto de ambos os campos terem líderes fortes. Os vice-primeiros-ministros, Luís Di Maio, pelo Movimento, e Mateus Salvini, pela Liga, agem como dois ditadores em miniatura e para poderem governar vão-se tolerando um ao outro enquanto esperam por tempos melhores. Neste momento, em todo o caso, já se fala de eleições políticas antecipadas, talvez lá para outubro. Parece-me que a Itália está perdendo muita da sua estatura cívica e moral na Europa e no mundo. Para já, Roma continua a ser uma lixeira a céu aberto, as grandes obras estão paradas, e a imigração tornou-se um campo de batalha. Seria belo se os políticos deixassem de impor as suas agendas pessoais e se preocupassem mais com o bem-estar dos cidadãos. Mal será se assim não for.

‹ Junho 2019 ›

09


a missão hoje

“Um pastor abnegado, sempre próximo, sempre disponível” Cristãos moçambicanos participaram em grande número na ordenação do novo bispo de Tete, o missionário da Consolata português, Diamantino Antunes. Marcelo Rebelo de Sousa enviou uma mensagem de felicitações Texto e foto | MARGARIDA RIBEIRO ROSA

Uma multidão de fiéis reuniu-se num amplo terreiro à frente da catedral de São Tiago, no passado dia 12 de maio, na cidade de Tete, para assistir e participar ativamente na cerimónia de sagração como bispo de Diamantino Antunes, o primeiro português do Instituto Missionário da Consolata (IMC) a ser escolhido para o episcopado. As autoridades governamentais e eclesiásticas fizeram-se representar ao mais alto nível, e até o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, se quis associar à celebração, ao enviar uma mensagem de felicitações ao novo bispo. “Foi com grande alegria que soube da nomeação do padre Diamantino Guapo Antunes, por Sua Santidade o Papa Francisco, para ser bispo de Tete, em Moçambique. Uma alegria pela honra concedida pela primeira vez a um missionário da Consolata português no mundo, facto que muito deverá orgulhar toda a equipa de missionários e o seu incansável trabalho junto da população moçambicana, há décadas”, escreveu o Chefe de Estado. Destacando o novo bispo de Tete como “um pastor abnegado, um amigo generoso, e um irmão na fé, sempre próximo, sempre disponível”, Marcelo Rebelo de Sousa expressou, em seu nome e “em nome de todos os portugueses”, a mais profunda convicção de que Diamantino Antunes “irá representar em Tete e em Moçambique, a esperança, a alegria e a confiança que todos os portugueses, sem exceção, desejam para os seus irmãos moçambicanos”. A cerimónia de sagração foi presidida por Inácio Saúre, arcebispo de Nampula e também ele missionário da Consolata, concelebrada por mais de 100 presbíteros e pela quase totalidade do episcopado de Moçambique, num verdadeiro testemunho de unidade e comunhão da Igreja moçambicana, facto esse sublinhado mais tarde pelo presidente da Conferência Episcopal, Lúcio Muandula. Na sua homilia, e fazendo menção à missão de Cristo Bom Pastor, Inácio Saúre salientou o sonho missionário de chegar a todos e a beleza de ser pastor, referindo a importância e a sabedoria de saber caminhar à frente 10

Fátima Missionária

do povo, mas também de saber vir atrás para o esperar e acompanhar quando se atrasa. Destacou ainda a importância de aceitar as ideias das ovelhas que correm mais depressa e apelou à capacidade de todos ajustarem


PERIFERIAS

Marcelo Rebelo de Sousa expressou, em seu nome e “em nome de todos os portugueses”, a mais profunda convicção de que Diamantino Antunes “irá representar em Tete e em Moçambique, a esperança, a alegria e a confiança que todos os portugueses, sem exceção, desejam para os seus irmãos moçambicanos”

os ritmos de modo a seguirem juntos o caminho do bem. Por fim, aconselhou o novo bispo a administrar o espírito de santidade e a comunicar o espírito de verdade com a consciência de que o episcopado é, acima de tudo, um serviço. Antes da benção final, foram lidas mensagens da diocese de Tete, do seu administrador apostólico, do Superior Geral do Instituto dos Missionários da Consolata e do governador da província de Tete. Discursaram também o bispo Lúcio Muandula, em nome da Conferência Episcopal moçambicana, e o Núncio Apostólico, em nome do Papa Francisco. Após a Missa, Diamantino Antunes acolheu a numerosa multidão que acorreu para o saudar, a todos dedicando uma palavra de saudação e agradecimento sendo efusivamente cumprimentado pelos fiéis. Diamantino Guapo Antunes é natural de Albergaria dos Doze, freguesia do município de Pombal, e tem trabalhado em Moçambique toda a sua vida. É o quinto bispo de Tete, diocese que foi criada em 1962, cuja extensão territorial considerável ascende aos 102 mil quilómetros quadrados e onde existem 28 paróquias e missões e um total de 1.500 comunidades católicas. A diocese conta com 12 padres diocesanos, 39 sacerdotes religiosos e 65 irmãs religiosas.

Mãos que se doam Texto | JOSÉ MATIAS

Do seio da comunidade católica do Bairro do Zambujal – Alfragide surgiu há alguns anos o grupo ‘Comunidade das Mulheres do Zambujal’ (COMUZA), orientado pelas Irmãs Missionárias da Consolata; um grupo que realiza importante trabalho, seja em benefício da própria comunidade, seja da missão, seja ainda dos vários grupos, sobretudo de jovens, que passam pelo bairro ou nele fazem as suas experiências missionárias. O grupo, que tem como lema: amizade, formação e trabalho, promove o importante papel da mulher na família e na sociedade, trabalha em favor das Missões e colabora em projetos de solidariedade. Além disso, caminha no crescimento da verdadeira amizade, criando laços de comunhão e de fraternidade. São mãos e corações que se doam numa escola de costura onde se aprende e se ensina. Fazem coisas extraordinárias. Confecionam vários artigos e com eles fazem exposições onde estes são vendidos, e os frutos servem para apoiar o próprio grupo e outras atividades missionárias. Este grupo de mulheres também se disponibiliza na preparação da comida na festa de São José Operário, padroeiro deste bairro, e dos vários grupos que nos visitam e outros eventos que vão acontecendo na comunidade. E sempre com um coração missionário. Alguns elementos do grupo também se dedicam à pastoral da consolação, acompanhando os missionários na visita aos doentes, idosos, aos que estão sós e a pessoas mais necessitadas. Rezam o terço, acompanhando os idosos nos lares, fazem parte das ‘batucadeiras’ espalhando alegria através do batuque. Perguntei a alguns elementos do grupo com que espírito fazem todo este trabalho. A resposta foi unânime e veio sem demora: “No grupo podemos partilhar alegrias e preocupações, criamos amizades, aprendemos a tomar maior consciência missionária. Dá-nos alegria poder oferecer um pouco de nós mesmas em favor de quem mais precisa. Assim, somos mulheres felizes”, afirmam Elisa Cruz e Providência Teixeira.

‹ Junho 2019 ›

11


a missão hoje

A infância no Ano Missionário Texto | CELINA MACHADO* Foto | DR

“Todos, tudo e sempre em Missão”. Este é o lema que nos orienta durante este Ano Missionário. Desde que o ano começou, as Estrelas Missionárias, no desenvolvimento do seu projeto, têm vindo a crescer e a dar cada vez mais forma a este desafio enquanto “pequenos missionários”. O centro disto tudo é a oração, o testemunho e a solidariedade.

Oração

Enquanto pequenos missionários, participamos nas atividades da paróquia, onde desempenhamos uma das nossas principais missões: a oração. Organizamos vigílias, terços e novenas missionárias e ajudamos o grupo coral da catequese na animação da Eucaristia de domingo, uma vez por mês. Nas nossas

reuniões, a oração é um dos pilares principais, estando sempre presente em todos os nossos encontros.

na sua festa missionária, deixando esta semente de missão para novos grupos que se pretendem formar.

Testemunho

Solidariedade

Durante algumas semanas do Advento, as Estrelas foram visitar as catequeses do 1º ao 6º ano. O grupo subdividiu-se para testemunhar e dar a conhecer aos mais novos a história e missão da Infância Missionária. “Foi um desafio”, disse-nos o Paulo. “Impressionou-me a sua atenção e vontade de querer ajudar”, completou Patrícia, referindo ainda que também foram distribuídos mealheiros missionários para tornar real o nosso lema “crianças ajudam crianças”. O grupo também foi dar testemunho às crianças e adolescentes da paróquia de Anta, Espinho, e às crianças da catequese de Gondomar,

‘Estrelas Missionárias’ procuram distribuir sorrisos, carinho e atenção aos mais necessitados

12

Fátima Missionária

Durante algumas tardes da semana, as Estrelas costureiras dedicaram o seu tempo a costurar kits higiénicos para as meninas de São Tomé, para que estas nunca precisem faltar à escola – uma iniciativa da Casa Fiz do Mundo, de Carregosa. Em continuidade com o projeto Adotar Avós, as Estrelas têm visitado pessoas idosas, acamadas ou doentes, acompanhando também os ministros extraordinários da comunhão onde, para além do momento de partilha da Palavra de Deus e da Sagrada Eucaristia, distribuíram sorrisos, carinho e atenção. Participamos ainda no “Work for Smile”, festival solidário de angariação de alimentos, em Maceda. Em janeiro, saimos à rua, a cantar e encantar os pinheirenses nas tradicionais Janeiras, onde todo o dinheiro angariado reverteu a favor das Obras Pontifícias Missionárias. E assim temos vivido o Ano Missionário, conscientes do nosso papel e que Missão é testemunhar e dar a conhecer o Jesus que nos ama e ama todas as crianças do mundo! *Estrelas Missionárias Infância, Adolescência e Juventude Missionária de Pinheiro da Bemposta Texto conjunto Missão Press


FÁTIMA INFORMA

Retiro para pais

A pensar nos pais que perderam filhos crianças, os responsáveis pela Escola do Santuário vão dinamizar um “Itinerário de espiritualidade” nos dias 15 e 16 de junho. A iniciativa vai decorrer com o tema “’Não se aflija, minha mãe, eu vou para o céu’. Perder um filho criança”.

Desafios de Fátima

Crianças deixam mochila da felicidade em Fátima Mala transporta água, pão e mapa em cartão, como as descrições de boas ações e preces dos mais novos Texto | JULIANA BATISTA Foto | SANTUÁRIO DE FÁTIMA

Pequenos peregrinos de todo o território nacional são convidados pelo Santuário de Fátima a preparar uma mochila para transportar o “essencial para o caminho da vida”, e a entregá-la “aos pés de Nossa Senhora, em Fátima”, no dia da Peregrinação das Crianças, a 10 de junho. O molde para a mochila e para os elementos que ela transportará – garrafa de água, pão e mapa – são em cartão e fornecidos pelo santuário. A atividade coloca os mais novos a recortar, dobrar e a colar, mas também a refletir e a meditar. No interior da mochila, as crianças levam um pequeno texto ou um desenho sobre um gesto que tenham praticado para tornar alguém feliz. No verso da garrafa de água seguirá uma carta a Jesus Cristo, e na parte de trás da representação de um pão constará uma oração a “Jesus escondido”. O mapa conta com desenhos sobre a parábola do bom samaritano e a merenda que os pastorinhos davam aos pobres. A Peregrinação das Crianças vai decorrer sob o tema “Façam aqui uma capela” e será presidida por Armando Esteves Domingues, bispo auxiliar do Porto. A jornada inicia-se a 9 de junho, pelas 18h00, com visitas aos locais onde os pastorinhos viram o anjo e a Mãe de Cristo. No dia seguinte há momentos de oração na Capelinha das Aparições, a celebração da Eucaristia, e encenações sobre o tema da peregrinação na Basílica da Santíssima Trindade.

A escritora Lídia Jorge, o poeta José Rui Teixeira, o eurodeputado Paulo Rangel e a investigadora Helena Vilaça são alguns dos oradores do simpósio teológico-pastoral “Fátima, hoje: que caminhos?”, que vai realizar-se no Centro Pastoral de Paulo VI, de 21 a 23 de junho. A primeira noite do encontro prevê a realização de um serão cultural, a iniciar pelas 21h00.

“Férias com Deus”

Numa altura em que se aproxima um habitual período de férias, os Missionários da Consolata preparam um fim de semana de “férias com Deus”, de 21 a 23 de junho. O retiro será orientado pelos padres Geoffrey Menya e Kennedy Orero e terá lugar na Consolata, em Fátima.

Agenda

JUNHO

Dia 02 Palestra e recital no Santuário de Fátima

Dia 13 Memorial mariano no carrilhão do Santuário Dia 30 Recital de órgão no Santuário de Fátima

‹ Junho 2019 ›

13


Colômbia

14

Fátima Missionária


ENTREVISTA

“acabou a guerra e ninguém devia pôr paz em risco” Entrevista a Maria Ángela Holguin, que foi ministra dos Negócios Estrangeiros da Colômbia entre 2010 e 2018. Esteve em Portugal para participar no VIII Encontro Estratégico América Latina, Europa e África, organizado pelo IPDAL Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Foto | LUSA

Está satisfeita com a evolução do processo de paz com as FARC, com a pacificação da sociedade e com o desenvolvimento do país?

Nós colombianos não vimos a dimensão e a importância do que é desenvolver o acordo de paz e tirar proveito dele. Ainda estamos a discutir se demos demais ou se devíamos dar menos às FARC e no fundo estamos a perder a floresta, só vemos as árvores. Há toda uma discussão sobre a justiça transicional, sobre a lei que se aprovou no Congresso. O governo quis mudar alguns artigos, mas o Tribunal Constitucional e o Congresso não foram recetivos. O que se passa é que estamos outra vez divididos, uma polarização que não ajuda nada, depois do grande resultado dessa ideia que podia ter realmente unido os colombianos: a paz.

O Presidente Iván Duque não assumiu todo o legado de Juan Manuel Santos?

O governo do Presidente Duque tem reservas sobre alguns temas do acordo de paz.

Há algum perigo de regresso à luta armada?

Agora, infelizmente, perante a incerteza de implementação do acordo, há mais membros das FARC na dissidência. Saíram dos lugares onde estavam e isso faz que haja um risco de que entremos outra vez num conflito que há dois anos lhe diria que estava completamente resolvido. A

incerteza traz riscos, e o melhor contra a incerteza é poder implementar o acordo que se levou a cabo e em que o Presidente Santos trabalhou por acreditar ser o melhor para a Colômbia.

O prémio Nobel da Paz que o Presidente Santos ganhou foi um reconhecimento pela comunidade internacional de que o esforço e o resultado eram positivos no geral?

Sim. Foi de facto o reconhecimento pelo esforço de chegar à paz depois de 50 anos de conflito na Colômbia e depois de todos os presidentes o terem tentado fazer. Não houve um único Presidente que não tenha tentado fazer um acordo de paz, que não se tenha sentido tentado a dialogar com a guerrilha e ter o resultado que se teve. Claro que contavam as circunstâncias, porque vínhamos de uma melhoria em matéria de segurança, porque se preparou a comunidade internacional, que deu um apoio muito grande, e que por diferentes razões aconteceu naquele momento.

Como está o país em relação ao narcotráfico? O acordo de paz também traz soluções?

O acordo traz soluções para combater o narcotráfico e está prevista uma substituição de cultivo dos campos de todos os camponeses que se viraram, infelizmente, para a ilegalidade. O que diz o acordo é que o governo fará a substituição do cultivo a todas as famílias que

aceitem estar de acordo com a substituição, e temos muitas que já assinaram e que vão substituindo. Este programa necessita de recursos porque tem de ajudar os camponeses a cortar as plantações de cocaína, a tratar a terra, a plantar um produto legal, e financiá-los até a sua plantação estar pronta para comercialização. É um grande esforço financeiro para o governo, mas realmente a única saída para acabar com o narcotráfico é esta.

Que exige tempo, até haver resultados.

Este é um processo de longo prazo, não se resolve de um dia para o outro. O que se passou é que nos primeiros acordos que se fizeram falava-se do tema das drogas e de um financiamento para essas pessoas, e evidentemente houve um aumento da produção nesses anos porque os camponeses passaram a produzir mais porque quando chegasse o momento de entregar os recursos iriam estar em vantagem. Por outro lado, não se pode fazer aspersão com glifosatos, por recomendação da OMS e do Tribunal Constitucional, e por isso terá de haver outra maneira de erradicar as plantações ilegais. Se se olhar para a alternativa oferecida pelo acordo, o compromisso das famílias de camponeses que estão ilegais e o cumprimento das obrigações do governo, essa será a saída do narcotráfico. *jornalista do DN

‹ Junho 2019 ›

15


Despejados

16

Fรกtima Missionรกria


DOSSIER

Turismo da indiferença O aumento do fluxo turístico e a transformação dos imóveis em unidades de Alojamento Local, na cidade do Porto, fizeram disparar o preço das rendas e as ordens de despejo. Resultado: “Há cada vez mais pessoas a viver na rua”, asseguram as instituições humanitárias

Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | RICARDO GRAÇA

“Entrem, entrem … cuidado para não tropeçarem”. As palavras de Maria João, mulher franzina, de gestos delicados e discurso confuso, fazem eco na escadaria do prédio vazio, nas proximidades do Jardim do Carregal, na cidade do Porto. É uma mulher amargurada, aquela que nos guia até ao segundo piso, iluminando os degraus com uma pequena lanterna, que emana um feixe de luz tão ténue, como débil parece estar o futuro da mão que a segura. As sensações confundem-se com sentimentos. Predomina o odor a casa antiga e abandonada, intriga o ranger do piso em madeira, nauseiam os vestígios de rastejantes e roedores. Mas é a história desta mulher de 55 anos, outrora uma senhora da classe média, que mais impressiona. Fruto de um passado errante, que se furta a pormenorizar, Maria viveu algum tempo na rua. Sem fontes de proveitos, conseguiu o Rendimento de Inserção Social (RSI) e conseguiu também alugar o pequeno quarto,

onde vive há ano e meio, mais mês menos mês. É um espaço exíguo, com sinais evidentes de humidade, praticamente sem calafetagem, cheio de restos do tempo que passa em solidão e de perigosos pedaços de estuque, prontos a soltar-se a qualquer momento. Mas é o seu porto seguro, onde pode guardar as suas “coisinhas”, onde pode assegurar a higiene diária, onde pode dormitar, onde pode recordar sonhos do passado e enfrentar pesadelos do presente. Em julho do ano passado, deixaram de lhe aceitar o pagamento da renda. E acha que já lhe deram uma ‘ordem de despejo’. Mas não tem a certeza. O certo é que, no exterior do edifício, está já afixada a placa de uma imobiliária de imóveis de luxo, anunciando a venda do prédio. O que virá a seguir é uma incógnita para Maria João. “Olhe, está tudo à venda, está a ver?”, aponta a inquilina, mostrando a quantidade de placas, visíveis em grande parte dos imóveis daquela zona. “Estão a mandar as pessoas

‹ Junho 2019 ›

17


Os novos casos detetados pelos voluntários são documentados para informar a Segurança Social

Com a mudança de ocupação urbana, através da transformação dos edifícios em locais de alojamento turístico, se já era difícil encontrar um quarto para pessoas sem-abrigo, pelo seu perfil associado normalmente aos problemas afetivos, perturbações mentais, dependência do álcool ou de drogas, esta tarefa revela-se agora praticamente impossível 18

Fátima Missionária

para fora do Porto. Isto agora é tudo só para os estrangeiros. Eu não quero ir para um albergue, mas também não tenho capacidade para pagar 300 euros por um quarto, que é praticamente o que estão a pedir por aí”, lamenta-se, enquanto tenta recompor-se de mais um acesso de choro: “Desculpe, mas eu estou com muito medo do que vai ser o meu futuro”. Processo de “gentrificação” O caso de Maria João é apenas mais um, num lote de tantos outros, apanhados de surpresa por um processo de regeneração urbana dos grandes centros, a que o geógrafo Luís Mendes chama de “gentrificação”. Em suma – explica o investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa – o que já aconteceu em muitas capitais europeias, está a acontecer em Portugal. E o Porto não ficou indiferente a esta oportunidade turística e imobiliária. O capital privado deixou-se cativar pelos bairros tradicionais dos centros

históricos, muitos dos imóveis foram transformados em hostels ou unidades de alojamento local, os preços imobiliários encareceram e as classes populares foram confrontadas com ordens de despejo inusitadas. Grosso modo, conclui Luís Mendes, “entram os ricos e saem os mais pobres e vulneráveis”. “A minha casa ardeu em junho do ano passado, estive em casa de pessoas amigas, depois fui para casa de uma sobrinha. Mas ela despejou-me e eu tive que vir para a rua, porque a Câmara não tem casa para me dar. O subsídio por doença e o rendimento mínimo dão para comer à noite, mas não dão para a pensão. Eles pedem perto de 250 euros por mês e não dá”, confessa António Jorge, 54 anos, enquanto se ajeita nos cobertores, para enganar o frio agreste de uma noite de abril. Revela que é transplantado renal, que sempre trabalhou na lavoura (“lá em Gondomar”), que não tem filhos, e que por isso resolveu ir experimentar a sorte no Porto. O seu destino foi igual ao de tantos outros, que se atiram – ou são atirados –, sem rede, para uma vida


Há zonas da baixa do Porto onde se concentram vários sem-abrigo

na rua. De repente, é como se tivesse entrado numa floresta, mas de betão. Vê-se obrigado a recorrer à caridade para poder tomar um banho, para ter uma sopa quente, para falar com alguém que o escute. Até os cobertores tem que esconder durante o dia, para assegurar o aconchego da noite. Muitos destes sem-abrigo e sem-teto, segundo os responsáveis das equipas de voluntários que lhes prestam apoio, têm o acompanhamento da Segurança Social. O problema é que nem a Segurança Social escapa à voracidade do investimento urbano. E o resultado é bem visível à noite: nos vãos de escada dos edifícios públicos, debaixo de uma ponte, num jardim público, ou nas colunatas de uma qualquer instituição bancária. Confrontada com este problema, Paula David, presidente dos Solidários Missionários da Consolata (SMC), não tem dúvidas na resposta: “Há mais pessoas na rua. Antes, a Segurança Social conseguia quartos por preços razoáveis, agora isso não acontece”, desabafa a voluntária, mostrando-se identificada com a

questão da explosão imobiliária na cidade do Porto, fruto de uma intensa procura turística. Preços proibitivos Gonçalo Alves tem 53 anos. Os últimos seis passou-os a vaguear pelas ruas da baixa portuense. Quando encontra um quarto a preço compatível com os seus rendimentos ocasionais, deixa de aparecer nos locais por onde passam “as carrinhas” com uma refeição quente, um saco com doces e salgados, um cobertor, alguma roupa e uma disponibilidade muito grande para ouvir e tentar ajudar. Alves não é de muitas falas. Recusa revelar onde esconde o ‘vistoso’ colchão que encontrou na via pública, durante as horas do dia, mas aceita partilhar parte da sua história, e da sua experiência com os efeitos da pressão imobiliária. “Eu trabalhava nas obras mas fiquei sem emprego. Às vezes arranjava quarto, mas agora é muito difícil, dizem que é por causa dos ‘hostéis’ ou isso do alojamento local. Ainda há dias me pediram 300 euros… Como é que a gente pode dar 300 euros

por um quarto?”, interroga-se este ex-trabalhador da construção civil. Segundo um estudo divulgado recentemente pela Universidade Católica Portuguesa (UCP), a pressão do Alojamento Local (AL) na baixa da cidade do Porto apresenta “um elevado grau de concentração”, com valores que atingem “o dobro” dos verificados em todo o município. “Observou-se uma elevada ocupação por AL de habitação previamente existente o que, intuitivamente, reforça a apreensão”, referiram, nas conclusões gerais, os autores da investigação. Com a mudança de ocupação urbana, através da transformação dos edifícios em locais de alojamento turístico, se já era difícil encontrar um quarto para pessoas sem-abrigo, pelo seu perfil associado normalmente aos problemas afetivos, perturbações mentais, dependência do álcool ou de drogas, esta tarefa revela-se agora praticamente impossível. Medidas de contenção A FÁTIMA MISSIONÁRIA tentou perceber como é que o Núcleo de Planeamento e Intervenção

‹ Junho 2019 ›

19


Sem-Abrigo (NPISA) do Porto está a lidar com este problema, mas sem sucesso. As questões enviadas ao coordenador da plataforma e vereador da Câmara Municipal do Porto com os pelouros da Educação, Habitação e Coesão Social, Fernando Paulo, foram reencaminhadas para o Gabinete de Comunicação da autarquia, que também não respondeu. Recorde-se que o NPISA congrega e coordena “as entidades ou organismos do setor público, nomeadamente os tutelados pelos membros do governo nas áreas do emprego, segurança social, educação, saúde, justiça, administração interna, obras públicas e ambiente, cidadania e igualdade; e todas as entidades com intervenção na área que desejem estabelecer um trabalho articulado e integrado” na identificação e apoio às pessoas sem-abrigo, como pode verificar-se na página digital do núcleo. Em reunião do executivo municipal, porém, e em reação ao estudo da Universidade Católica, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, garantiu estar disposto a implementar “medidas de contenção” para limitar o alojamento local no centro histórico da cidade. O projeto, segundo o vereador com a pasta do Turismo, Ricardo Valente, citado pela agência Lusa, deverá ser apresentando durante este mês de junho. Até lá, e na ausência de respostas oficiais às preocupações de quem trabalha para minimizar o sofrimento de quem se vê agarrado a uma vida na rua, fica no ar o desabafo de Gonçalo Alves: “Alguns deviam ter a experiência que a gente tem na rua para darem o valor”. 20

Fátima Missionária

Solidários com paixão As periferias da existência humana, de que tanto fala o Papa Francisco, têm nome e vagueiam pela cidade do Porto. Quem se cruza com eles e os vê aninhados em cobertores, em cima de cartões de papel, chama-lhes sem-abrigo. Mas por detrás de cada uma destas pessoas, há uma história de vida, de luta, de resiliência, de sofrimento. Podíamos falar da Marta, 46 anos, natural de Viseu, “empurrada” para as ruas da baixa portuense pelo “desespero”, causado por um divórcio, seguido do desemprego e da descoberta que o restaurante onde trabalhou 12 anos, afinal, nunca lhe tinha entregue os descontos à Segurança Social. Pensou que no Porto “arranjava logo trabalho”. Enganou-se. Podíamos falar do Júlio Pinto e do José Carlos, de 54 e 46 anos, alojados num barraco de madeira, debaixo de uma ponte do Campo Alegre, porque se recusaram a ir para um quarto

providenciado pela assistente social, por não terem onde deixar os três cães que os acompanham há vários anos. Podíamos ainda falar, da jovem Alexandra, que gostava de ser educadora de infância, mas, aos 21 anos, ainda depende do rendimento mínimo da mãe e mendiga umas calças de ganga na 24 de agosto; da Gina, 66 anos, abandonada pela progenitora ainda menina, do Manuel, que foi fotógrafo, padeiro e gasolineiro, até o desemprego o atirar para a miséria, ou do misterioso homem, que se esconde por detrás de umas lonas, a fazer de casa, no antigo lavadouro, instalado nas traseiras do Seminário de Vilares. Para minimizar as privações destas e de tantas outras pessoas com nome, os Solidários Missionários da Consolata (SMS) mobilizaram um grupo com cerca de 50 voluntários – incluindo elementos dos Jovens Missionários da Consolata (JMC) –, que partem todas as sextas-feiras


Os Solidários Missionários da Consolata saem para a rua todas as sextas-feiras e domingos

e domingos de Águas Santas, na Maia, para distribuir ajuda a cerca de 150 sem-abrigo. À sexta-feira, as equipas, normalmente constituídas por cinco ou seis voluntários, percorrem os pontos da cidade onde se concentram mais indigentes, e distribuem kits

com doces e salgados, café quente, alguns cobertores quando está frio, e algum vestuário. Aos domingos, os voluntários fixam-se em três pontos pré-estabelecidos, e os sem-abrigo vão ao seu encontro para receberem sopa, um prato com comida

Uma igreja como local de encontro

A comunidade de Águas Santas dos Missionários da Consolata acalenta o sonho de ter à disposição uma igreja, no centro do Porto, que pudesse estar sempre aberta e fosse um local de referência para os sem-abrigo. “Gostávamos que fosse um local de encontro para os descartados, os que procuram e não encontram, os que estão longe de Deus e da Igreja, os que querem silêncio e oração, que estão sozinhos, ou que procuram consolação”, explica o padre Ramon Cazallas, um dos mentores do projeto. A ideia tinha sido “bem acolhida” e até incentivada pelo malogrado bispo do Porto, António Francisco dos Santos, mas com a sua morte, o processo voltou à estaca zero.

confecionada no dia, bolinhos, café e fruta. Ao todo, são distribuídas entre 130 a 150 refeições. “Se conseguirmos matar a fome a 10 ou 15 por cento dos que veem ao nosso encontro, já é muito bom. Porque quando vimos uma pessoa a devorar uma taça de sopa bem quente e vem de imediato pedir outra, é porque está mesmo com fome”, testemunha Paula David, presidente dos SMC. Os bens distribuídos, normalmente, são oferecidos por empresas, cadeias de distribuição alimentar, ou suportados pelas quotas pagas pelos voluntários e pelas doações feitas por benfeitores, nas atividades e campanhas promovidas pelo grupo. O resto é garantido pela paixão de cada um. Uma paixão que tem que estar assente no equilíbrio mental e emocional, para conseguir absorver tantas histórias de vida madrasta. “Temos que fazer as coisas com o coração. E, por vezes, há pessoas que veem uma vez e já não conseguem voltar”, conclui a leiga missionária.

‹ Junho 2019 ›

21


mãos à obra

Jovens incentivados a trabalhar a terra o projeto procura estimular uma série de elementos da comunidade a trabalhar o campo, as hortas e a criação de animais

Projeto missionário no distrito de Marávia, em Moçambique, procura ajudar os adolescentes a explorarem melhor os recursos naturais e a apostarem mais na agricultura Texto | Francisco Pedro Foto | dr

Numa zona afastada dos grandes centros, onde só se chega através de estradas em terra batida e os índices de analfabetismo atingem os 75 por cento, todas as ajudas são poucas para ajudar a melhorar a qualidade de vida e as formas de sobrevivência da população. Com base nesta premissa, os Missionários da Consolata desenvolveram um projeto de formação, destinado a pelo menos uma dezena de jovens da região de Uncanha, no distrito moçambicano de Marávia, para os incentivar a explorar as potencialidades agrícolas da região e a conceber pequenas explorações para criação de animais. “Em traços gerais, o projeto procura estimular uma série de elementos da comunidade a trabalhar o campo, 22

Fátima Missionária

as hortas e a criação de animais. A primeira fase decorreu em abril e maio de 2018, com formação e entrega de material para a criação de hortas e produção de animais, e a segunda etapa desenvolveu-se em outubro, com os cultivos de milho, feijão e amendoim. O objetivo foi dar aos jovens a oportunidade de potencializar o bom solo, a água do rio Ncanha e as grandes áreas de terreno, visando a melhoria da vida, a venda de produtos e a assistência a algumas atividades sociais”, explicam os promotores da iniciativa. Com o financiamento de doadores privados italianos, que angariaram os 5.300 euros solicitados, os missionários conseguiram comprar diverso equipamento agrícola

(enxadas, ancinhos, regadores e uma bomba de nebulização), sementes, bois, um arado, perus e galinhas, e uma cerca para proteger as plantações de uma eventual investida dos animais. Os Missionários da Consolata chegaram a Marávia em 2013 e, desde então, têm trabalhado na recuperação da missão de Uncanha, transformando-a num centro de formação. Em 2018 iniciaram o primeiro curso de formação e promoção humana integral, com uma turma de 85 alunos, de diferentes idades. Mais tarde, criaram um centro de alfabetização de adultos e a ideia é prosseguirem com as ações que proporcionem o crescimento pessoal e profissional da população.


OBJETIVA

A epidemia de ébola no nordeste da República Democrática do Congo já fez mais de 1.160 vítimas mortais e as equipas de saúde têm dificuldade em travar a propagação, devido à resistência da população e à insegurança causada pelos grupos armados

‹ Junho 2019 ›

23


# gente nova em missão ENCONTRO

COMUNHÃO EM REDE Olá amiguinhos! Mais um ano letivo que termina. Estou certa que para muitos os resultados foram os esperados; para aqueles para quem os resultados não foram tão bons, ânimo que o próximo ano será melhor! Agora é tempo de descanso: do corpo, da mente, e porque não do uso constante do telemóvel e do acesso contínuo às redes sociais. Afinal, a melhor rede que há é a da amizade, é aquela que nos permite olhar nos olhos uns dos outros, de abraçar, de dialogar pessoalmente com as pessoas. É tempo de viver a verdadeira comunhão humana Texto | Claúdia feijão Ilustração | DAVID OLIVEIRA

24

Fátima Missionária


As redes sociais tornaram-se local de encontro das pessoas e, em muitos casos, também de solidariedade. Tornaram-se um recurso válido para pessoas que estão longe e que podem “falar” com a família e com os amigos, ou como meio das pessoas se juntarem para fazer o bem... isso é uma coisa boa. No entanto, o seu uso excessivo tem vindo a dar lugar a uma forma de dependência e de isolamento que afasta as pessoas do contacto direto, do encontro “cara a cara”. No dia 2 celebra-se o quinquagésimo terceiro Dia Mundial das Comunicações Sociais, e na mensagem do Papa Francisco, com o tema “Somos membros uns dos outros: das comunidades de redes sociais à comunidade humana”, há um convite para que cada pessoa reflita sobre a forma como tem convivido com a internet e com as redes sociais. Mais do que meio exclusivo para estabelecer relações com os outros, as redes sociais devem apresentar-se como um complemento, como uma oportunidade de encontro. Como refere o Papa Francisco nessa mensagem, “se a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de mim, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une, então é um recurso”. Por isso, não é de estranhar, como todos sabemos, que o Papa Francisco esteja presente na Web com formas inovadoras de comunicar e de se fazer próximo de todos. Qual de vós, pequenos missionários, não sabe que o Papa está presente nas redes sociais Twitter e Instagram? Algum de vós que possa ter conta no Twitter e/ou perfil no Instagram o seguem? Ou quem não sabe que o Papa Francisco desafia, mensalmente, cada pessoa a agir de acordo com as intenções mensais em “O Vídeo do Papa”? Pois bem, pequenos missionários, sem esquecer que o encontro pessoal com os outros é o que nos torna verdadeiramente humanos, fazei das redes sociais uma oportunidade (e não o meio) de encontro, de diálogo e de comunhão com os outros, de comunhão em rede.

MOMENTO DE ORAÇÃO Senhor, obrigado pelo dom da comunicação que permite que nos relacionemos uns com os outros. Dá-nos a graça e a sabedoria para utilizar os diversos meios de comunicação ao serviço dos outros, promovendo o verdadeiro encontro com os irmãos, que é também verdadeiro encontro contigo. Pai Nosso, Glória

MOMENTO EM FAMÍLIA ler e refletir sobre a mensagem do Papa Francisco; e ver qual o desafio e a intenção mensal do Papa Francisco para junho em “O Vídeo do Papa”.

‹ Junho 2019 ›

25


tempo jovem

A IGREJA PRECISA DE TI

Se Jesus te chama para mudar o mundo, nรฃo hesites, corre e faz parte deste caminho: consolar os aflitos, os abandonados, os rejeitados, os presos, os imigrantes e aqueles das periferias do nosso mundo atual

26

Fรกtima Missionรกria


Texto | Kennedy Orero Foto | DR

Maria é para nós, Jovens Missionários da Consolata (JMC), a Mãe dos missionários, a esperança da juventude do nosso tempo. Uma mulher de grande ternura, o caminho que nos leva ao encontro com Jesus, com o Seu grande amor de Mãe. Ela convida-nos a aceitar a vontade de Deus, faz ressoar nos nossos ouvidos: “fazei tudo quanto Ele vos disser” (João 2:5). Um jovem católico tem a consciência deste papel de Maria, que nos convida à escuta da palavra de Jesus. Para o jovem que procura encontrar-se com Jesus o caminho é a Consolata. A imagem de Maria que proclamamos é da Mãe que aceitou ser a consoladora do homem decaído no pecado, perdido e sofredor na injustiça mundana. A Consolata para todos nós é a esperança, que tanta falta faz ao homem de hoje. José Allamano, com 11 anos, ouviu a voz de Jesus a chamá-lo para a vida sacerdotal, e ao decidir disse: “Deus chama-me agora.... não sei se chamará outra vez, dentro de três ou quatro anos!” O rapaz, apaixonado pela Mãe Consolata, não hesitou seguir a voz que o chamava ao serviço da Igreja. Inspirado pelo Espírito Santo, Allamano, sacerdote no Santuário da Consolata (Turim), ouviu de novo a voz de Deus para que convidasse jovens a participar nesta sublime missão de Maria. Fundou o Instituto Missionário da Consolata onde convidou e continua a convidar os jovens a levar a consolação de Maria a todos os povos da terra. É deste instituto missionário que eu hoje faço parte. E não só eu, mas também outros jovens missionários consagrados à missão, espalhados pelo mundo, partilhando a consolação de Maria com o género humano. Lembro-me quando ouvi a mesma voz que me chamava. Eu nunca sonhei entrar no seminário até ao dia em que

encontrei um boletim missionário da Consolata: “The Call”. Estava no sétimo ano. O animador acompanhou-me durante dois anos. Quando entrei no secundário abandonei a ideia de entrar no seminário, mas no último ano morreu um padre diocesano que era o meu modelo e inspiração de sacerdote. Um homem santo que ajudou muitas pessoas na minha aldeia. No funeral, o bispo que presidiu à cerimónia disse: “Um grande servo e ministro de Deus nos deixou, foi chamado por Deus para que voltasse a casa. Ele deixou um grande vazio que alguém deve preencher. Quem, entre os jovens aqui presentes, quer continuar o trabalho que ele deixou?” Estas palavras mexeram comigo, era como se fossem dirigidas a mim. Senti uma força que me puxava para a vida religiosa e voltei a procurar o animador. Convidou-me logo para uma reunião de formação que durou três dias. Voltei para casa à espera de saber se entrava no seminário. Meses depois entrei e iniciei a minha formação. Após 13 anos, fui ordenado sacerdote. Quanta alegria entregar a vida ao serviço do Reino de Deus. Agradeço à Mãe Consolata que me convidou para participar nesta missão de servir e consolar seus filhos. Jovens! Esta voz, Jesus, à qual Allamano obedeceu, ainda hoje nos fala e nos chama fortemente. A Igreja precisa de ti, Jesus chama-te para colaborar com Ele na Sua vinha. Para seres instrumento de salvação divina para os outros. Para seres colaborador da Consolata no caminho da consolação do mundo. A esperança de um mundo melhor, com Cristo no centro, somos nós! Se Jesus te chama para mudar o mundo, não hesites, corre e faz parte deste caminho: consolar os aflitos, os abandonados, os rejeitados, os presos, os imigrantes e aqueles das periferias do nosso mundo atual.

‹ Junho 2019 ›

27


sementes do reino

“O Espírito Santo vos ensinará e vos recordará tudo” Texto | OSÓRIO AFONSO Foto | DR

Jesus continua falando do amor, enquanto nos une a Cristo, ao Pai e ao Espírito Santo. Isto é, enquanto estamos mergulhados no mistério da Santíssima Trindade, onde o Espírito Santo tem uma grande missão: ensinar-nos e recordar-nos sobre o amor.

Leio a Palavra (Jo 14,15-16.23-26)

Nesta passagem do Evangelho, Jesus inicia o seu discurso confortando os seus discípulos: “não se perturbem os vossos corações”. Depois, na parte central, Ele apresenta-se como o caminho, a verdade e a vida; e, por fim, na parte conclusiva, Ele promete o Espírito Santo, sob condição: “se me amardes”. O envio do “outro Paráclito” da parte de Deus, por intercessão de Jesus, exige da parte dos discípulos um amor incondicional a Jesus, como Ele bem sublinhou na frase condicional “se me amardes”. O Paráclito, chamado também “Espírito Santo”, chegando e permanecendo nos discípulos, terá duas funções: ensinar e recordar tudo.

Saborear a Palavra

Na frase condicional, Jesus, usando o verbo “amar” (em greco ‘agapao”), que é diferente do verbo “fileo”, quer dar uma conotação divina à relação entre os discípulos e Deus. Não se trata, pois, de um amor afetuoso, amigável, sentimental e passional, mas sim, e sobretudo, de uma relação de total abertura e adesão a Deus. Por isso, o discípulo é chamado a observar e a custodiar, não somente os mandamentos, mas sim este Amor, que é Jesus, que se fez um de nós e que, com gestos concretos de amor, deu a vida pela humanidade. Se me amardes, diz Jesus, sereis instrumentos concretos, sinais visíveis, do meu amor para a humanidade que 28

Fátima Missionária

encontrais no vosso quotidiano. Para realizar esta relação e esta missão, precisamos do Paráclito, isto é, o defensor e o protetor que, permanecendo sempre connosco, nos ensinará e nos recordará qual é a nossa missão: amar. O verbo recordar, em hebraico, significa fazer memória, isto é tornar presente, através das celebrações, acontecimentos salvíficos realizados no passado. E é o Espírito Santo que “atualiza” esta memória, isto é, faz presente nos discípulos os ensinamentos de Jesus. Esta é a missão do Espírito Santo.

Rezo a Palavra

Mestre, Deus é amor e Tu nos ensinastes com palavras, gestos concretos e mesmo com a tua vida, que temos que amar os nossos irmãos: manda-nos o Espírito Santo, para que nos faça presente a nossa grande missão: amar.

Vivo a Palavra

Somos chamados a reconhecer a missão do Espírito Santo na vida de cada um de nós e procuremos invocá-lo para que nos recorde esta preciosa missão: amar.

Somos chamados a reconhecer a missão do Espírito Santo na vida de cada um de nós e procuremos invocá-lo para que nos recorde esta preciosa missão: amar


A palavra faz-se missão

JUNHO

02

Ascensão do Senhor Act 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Lc 24, 46-53

Ide por todo o mundo

Subindo ao Céu, o nosso Redentor introduziu-nos no seio da Santíssima Trindade. Mas por enquanto ficamos para continuar a sua obra: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura”. A Igreja existe para comunicar o Evangelho e promover ascensões.

Incute em mim, Senhor, a paixão pelo anúncio do teu Reino a todos os povos.

09

Festa de Pentecostes Act 2, 1-11; 1Cor 12, 3-13; Jo 20, 19-23

O Espírito da nossa missão

A descida do Espírito Santo inaugura o tempo da Igreja. Paira sobre nós em línguas de fogo o Espírito renovador da face da terra. É o Espírito animador da comunidade dos discípulos de Jesus que os torna seus anunciadores destemidos.

20

JUNHO Festa do Corpo de Deus Gen 14, 18-20; 1Cor 11, 23-26; Lc 9, 11-17

Tomai e comei

“Tomai e comei: isto é o meu corpo entregue por vós”. Disse-o Jesus e pediu que também nós o disséssemos em sua memória. Também eu posso dizer todos os dias: este é o meu corpo, esta é a minha vida oferecida por ti, por ele e por vós. Por esta comunhão permanente entre nós reconhecerão que somos seus discípulos.

Senhor, que a minha vida, a ti para sempre vinculada, seja o pão de quem tem fome.

23

12º Domingo Comum Zac 12, 10-11; Gal 3, 26-29; Lc 9, 18-24

E vós, quem dizeis que Eu sou?

Cristo espera de mim uma resposta pessoal, que comprometa toda a minha vida. Direi quem Ele é para mim e para o mundo, quando a sua vida for a minha vida, quando a minha fé não for uma questão intelectual, mas uma adesão firme à sua Pessoa.

Vem, Espírito Santo, vem amor ardente e acende na terra a tua luz Senhor, que a minha identidade fulgente. cristã diga ao mundo quem Tu és para mim.

16

Festa da Santíssima Trindade Prov 8, 22-31; Rom 5, 1-5; Jo 16, 12-15

Laços sagrados

A Trindade não é mistério para entender com a cabeça. É para viver em cada relação que tecemos. Somos feitos uns para os outros numa dependência sagrada e vital. A minha família, o meu grupo, a minha comunidade, só os posso entender como espaço de relações trinitárias, em permanente acolhimento daquilo que cada um tem para dar.

Reforça, Senhor, os laços da nossa unidade e constrói-nos no mútuo amor.

30

intenção missionária

13º Domingo Comum 1Rs 19, 16-21; Gal 5, 1.13-18; Lc 9, 51-62

Segue-me

Segui-lo quer dizer comungar na mesma vida e destino. A paga está garantida: o Reino de Deus em toda a sua plenitude. Há falta de respostas conscientes, porque falta a coragem de cortar pontes e queimar “carros e bois” como na história de Eliseu. Quem dá tudo não pode voltar atrás para retomar o que já ofereceu.

Pelos sacerdotes, para que, com a sobriedade e a humildade da sua vida, se empenhem numa solidariedade ativa para com os mais pobres Quando o sacerdote, sobretudo na posição de pastor, assume um estilo de vida que reflete modéstia e simplicidade, ele faz uma escolha que tem consequências diretas para a eficácia do seu ministério. Se ele quiser sensibilizar uma parte do seu rebanho – a que vive em maior desafogo económico – em favor da outra menos dotada e a precisar de apoio, os apelos que lançar terão tanto mais credibilidade quanto mais o seu exemplo de proximidade e frugalidade se tiver afirmado no seio da comunidade. O sentido de solidariedade não conhece fronteiras; onde se vê a necessidade nasce o apelo. Pela sua sensibilidade social e orientação moral, o sacerdote é o candidato natural a colher e transmitir o alerta. Ao fazê-lo, pode apoiar-se no crédito que o seu modo de vida entretanto lhe granjeou à sua volta. O exemplo pesa mais que as palavras – assim reza o ditado. LUÍS TOMÁS

Dá-me, Senhor, um coração decidido para te seguir, amar e anunciar.

DARCI VILARINHO

‹ Junho 2019 ›

29


LEITORES ATENTOS

✉ TIRE AS SUAS DÚVIDAS Criámos esta rubrica para si

Se tem dúvidas sobre a missão, a religião ou a Igreja, envie-nos a sua pergunta por correio ou para o endereço eletrónico redacao@fatimamissionaria.pt Teremos todo o gosto em responder.

renove a sua assinatura

Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2019. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do estado ao porte dos correios. Faça o pagamento da sua assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal ou ainda por transferência bancária: IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte.

“Foi com grande constrangimento que li um artigo na vossa revista de abril (Odivelas acolhe mais de 50 templos e é modelo de diversidade religiosa). Gostaria muito que explicassem este artigo, e o que pretendem com ele... Estou perplexa. O que querem mostrar? Talvez que todas as religiões são boas, ou então que todos temos lugar, ou que temos que aceitar todas, etc... Por favor alguém me explique, pois para mim este artigo é um absurdo numa revista católica” Iraide Rosa, Campo, Valongo

Cara leitora, no número da FÁTIMA MISSIONÁRIA a que se refere (abril 2019), quisemos abordar o valor da liberdade, mas na vertente da liberdade religiosa. E foi isso que a autora do texto, Lavínia Leal, fez, e de modo exemplar. Sabíamos que Odivelas é, nesta temática, um caso de estudo: pela quantidade de templos e diversidade de expressões religiosas ali existentes

Fátima Missionária

Albino Brás

Parabéns ao novo bispo, Diamantino Antunes

Parabéns aos Missionários da Consolata pela grande graça da ordenação episcopal de Diamantino Antunes, primeiro bispo da sua paróquia de origem (Albergaria dos Doze), que muito o estima e admira e por ele continua a rezar, em ordem ao seu novo trabalho pastoral a desempenhar, com novas funções e responsabilidades, ao serviço da Igreja. Deus capacita sempre os que Ele chama, para os enviar a outros, a evangelizar e a amar. Parabéns pessoais e das paróquias que me estão confiadas (Albergaria dos Doze e São Simão de Litém). Votos de bom trabalho pastoral. Abraço de grande amizade e unidade pastoral. Padre José Frazão, Albergaria dos Doze

30

e, sobretudo, pela tolerância e convivência pacífica entre elas, um exemplo para o mundo de hoje. A FM é uma revista missionária de inspiração cristã, mas não doutrinária. Que esta revista fale de evangélicos, judeus, hindus, budistas ou muçulmanos, não se trata de modo algum de pôr em causa a identidade cristã católica (que significa universal, que abraça a todos). Quisemos ressaltar que é possível e desejável conhecer, respeitar e conviver com as diferentes expressões de fé, defendendo a liberdade de fé, promovendo a cultura do encontro, do diálogo inter-religioso e convivência pacífica entre crentes, sem lugar para o sectarismo e a intolerância religiosa (praticados, por vezes, em nome do próprio Deus). Portugal é dos países que melhor convive com a pluralidade e integra as diferenças. Quisemos mostrar que Odivelas era só, e apenas, um exemplo dessa liberdade religiosa.


gestos de partilha

Apoie os nossos projetos e ajude-nos a concretizá-los

aprender em segurança em Mgongo na TANZÂNIA

KibiNTi pode estudar, se você ajudar!

2019 PROJETO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

Aprender em Segurança AMC (Núcleo Algarve) Anónimos 472€; Comunidade de Águas Santas - Maia 1.000€; Paulo Silva 45€; Consolata Hotel 155,17€; Consolata Loja 109,37€; Consolata Museu 82,93€; Comunidade de Fátima 89,70€; Isabel Caetano 10€; Joana & André - Sociedade de Mediação de Seguros, Lda 40€; Dulce Ribeiro 33€; Grupo de catequese 9º e 10º Ano (Pousada de Saramagos) 60€; Ilídio Lourenço 15€; Maria Pereira 15€; Paulo Fonseca 5€; Madalena Pereira 10€; Joaquim Silva e seus amigos 167€; Pedro Murteira 30€; Guida Borges 50€; Cecília Cruz 80€; Esmeraldina Serra 20€; Pedro Antunes 20€; Melli Giovanna 300€; Sandra Santos 37,50€; Domingos Martins 100€. Total geral = 16.123,17€. Moçambique precisa de nós! Anónimos (Ourém) 150€; Beatriz Quintela 50€; Fátima Matias 10€; Arminda Silva 10€; Fátima Felizardo 100€; Fátima Pereira 25€; Anónimo 100€; Conceição Policarpo 500€; Carminda Alexandre 6€; Conceição Portela 50€; Anónimo 50€; José Santos 50€; Anónimo (Fiães VFR) 150€; Moltraço - Modelagem para Indústria Têxtil e Vestuário, Lda 100€; Rosa Pereira 200€; Maria Oliveira 40€; Anónimo (Fiães VFR) 150€. Total geral = 6.642€. Bolsa de Estudos Amália Santos 125€. Crianças da Etiópia Anónimo X 20€; Anónimo 40€. Crianças Irã (Guiné-Bissau) Alice Fialho 14€. Crianças de Moçambique Isidro Prazeres 20€. Flores do Padre Paulino (Tanzânia) Guida Borges 2,50€. Ofertas várias Lucinda Ferreira 33€; Amândio Fernandes 108€; Alfredo António 43€; Alzira Borrêcho 40€; Lúcia Simões 46€; Armanda Naldinho 53€; Manuel Brás 143€; Rita Duarte 43€; Fernando Lopes 43€; Mário Pinho 26€; António Sousa 93€; Gracinda Mateus 44€; Ernesto Monteiro 100€; António Teles 35€; Manuel Antunes 29€; Cármen Sena 43€; Emília Santos 43€; Brilhantina Santos 54€; Manuel Sá 43€; Isabel Lopes 36€; Joaquim Vitorino 93€; Anónimo J 50€; Arménio Sousa 36€; Pedro Reis 36€; Sofia Figueiredo 33€; Álvaro Faustino 36€; Maria Ferreira 36€; Fernanda Costa 80€; Joaquim Azevedo 43€; Agostinho Gameiro 53€; Domingos Dias 46€; Ana Laires 39€; Otília Cardoso 43€; Artur Pedrogam 43€; Lisete Bento 66€

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: IBAN: PT50.0033.0000.45519115214.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º Dto - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

‹ Junho 2019 ›

31


vida com vida

Francisco Lerma Martinez

Missão ao zénite Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

32

Fátima Missionária

Francisco Lerma nasceu em 4 de maio de 1944, em Múrcia, Espanha, uma região de grande produção de frutas, verduras e flores da Europa. Entrou para os Missionários da Consolata em 1965 e foi ordenado sacerdote em 20 de dezembro de 1969. Em 1987 doutorou-se em Missiologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Em 1971 já se encontrava em missão em Moçambique. Sempre que vinha à Europa, gostava de visitar a Consolata em Portugal e, em 2011, presidiu à Peregrinação da Família Missionária da Consolata a Fátima. Durante a sua vida exerceu várias atividades missionárias na Igreja de Moçambique, especialmente na formação do povo de Deus e seus líderes: diretor do Centro Catequético Diocesano de Lichinga para a formação de catequistas; diretor do secretariado diocesano da pastoral de Inhambane e do Centro Catequético de Guiúa; reitor do Seminário da Consolata em Matola; docente de Antropologia Cultural no Seminário de Santo Agostinho e no Instituto de Ciências Religiosas Maria Mãe da África; diretor do Secretariado de Ação Pastoral da diocese de Inhambane – cursos de inserção missionária, formação para os diversos ministérios e conservação da memória dos Catequistas Mártires de Guiúa; Superior Regional dos Missionários da Consolata em Moçambique; e desde 2010, bispo de Gurué. Enquanto bispo, Francisco Lerma lançou-se com entusiasmo vibrante ao trabalho de evangelização e consolidação da Igreja local e à formação de agentes de pastoral a todos os níveis. Dele dizem que era um missionário de alma e coração, com espírito forte, corajoso e inovador, que amava profundamente Moçambique e o seu povo, a sua cultura e a sua Igreja. Autor profícuo de 14 estudos sobre vários temas de antropologia e espiritualidade, mencionados no maior catálogo de obras literárias, o WorldCat (Catálogo Mundial). Menção especial para o seu livro “O Povo Macua e a Sua Cultura”, com 18 edições em espanhol e português. Deste povo, dizia ele: “Quero contribuir para o conhecimento e a estima deste povo, realçando a riqueza dos seus valores culturais, a sua maneira de ser, viver e amar”. De grande importância também a sua biografia dos Mártires Catequistas de Guiúa. Francisco Lerma, homem de Deus, missionário cheio de energia cristã, de empreendedorismo pastoral e dum sentido de humor que geravam alegria e cativavam quantos dele se abeiravam, faleceu em 24 de abril deste ano, em Maputo, vítima de complicações cardíacas.


O QUE SE ESCREVE

DESCALÇO TAMBÉM SE CAMINHA

RELIGIÃO NA SOCIEDADE PORTUGUESA

ALEGRES NA ESPERANÇA

Esta obra é uma coletânea de 350 textos. São mensagens e reflexões de fé e esperança do cónego João Aguiar Campos, que trabalhou durante 40 anos na pastoral da comunicação social. “Muitas vezes queixamo-nos das nossas circunstâncias, da dureza do caminho, dos outros, do calçado... E devemos pensar que, apesar de tudo, não podemos desistir, devemos continuar. Descalços, por isso, também se caminha”, explica o autor. Setenta ilustrações acompanham os textos.

Este livro condensa num único volume as catequeses do quinto ano de pontificado do Papa Francisco referentes ao tema da esperança cristã. Estas catequeses, feitas nas audiências-gerais, às quartas-feiras, no Vaticano, de 7 de dezembro de 2016 a 25 de outubro de 2017, são um ótimo subsídio para crescermos na fé e conhecermos melhor o pensamento do Pontífice. E Francisco justifica o tema que está na base destas catequeses dizendo-nos que “a esperança não desilude”.

Autor: João Aguiar Campos Páginas: 432 | Preço: 15,00€ Editora: Paulus

Autor: Papa Francisco Páginas: 136 | Preço: 9,90€ Editora: Paulus

BÊNÇÃOS DE DEUS NO MEU CRISMA

A PROTEÇÃO DOS MENORES NA IGREJA

Como se caracterizam as identidades religiosas em Portugal? O que persistiu e o que mudou com as alterações das formas tradicionais de vivência crente e a emergência de novas paisagens religiosas? Apesar de 80 por cento da população se autorrepresentar como católica, a sociedade portuguesa caminha, num ritmo próprio, para uma maior diversidade religiosa. O presente ensaio, do antropólogo Alfredo Teixeira, convida à compreensão das atuais formas de crer e pertencer, a partir de três eixos de observação: destradicionalização, individualização, diversificação. Trata-se do retrato de uma mudança – da religiosidade do “Deus da nossa terra” às formas religiosas de um mundo globalizado.

O Crisma é um dom de Deus que nos ajuda a viver como cristãos. Este pequeno livro, ilustrado, contém orações para aprofundar a vivência do Crisma e a presença do Espírito Santo na vida do dia a dia. A partir de trechos bíblicos, sugere pequenas orações sobre esta Pessoa da Santíssima Trindade, sobre cada dom do Espírito Santo e outros momentos da vida dos crentes. Talvez o livro que gostasse de oferecer a quem faz o Crisma.

Autor: Alfredo Teixeira Páginas: 108 | Preço: 5,00€ Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos

Autor: António Fonseca e Cláudia Sebastião Páginas: 56 | Preço: 5,90€ Editora: Paulus

O presente volume recolhe as intervenções oficiais durante o encontro sobre a proteção dos menores na Igreja, que teve lugar no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, as palavras do Papa Francisco, os testemunhos das vítimas e as conferências dos relatores. Aquela importante cimeira, reuniu 190 líderes católicos de todo o mundo para discutir a responsabilidade da Igreja Católica nos abusos sexuais de menores. Autor: Cimeira no Vaticano Páginas: 192 | Preço: 7,00€ Editora: Paulus

‹ Junho 2019 ›

33


MEGAFONE

por albino brás

“O nosso mundo de hoje tem imagens de uma vida ‘abençoada’: muito dinheiro, o Último modelo de roupas, carros, perfumes e aparelhos eletrónicos, fama, influência, segurança. Será que a fé ainda tem um lugar importante no nosso desejo de uma vida boa?” Luís Antonio Tagle cardeal, presidente da Cáritas Internacional

“Ceder à injustiça é animar os outros a praticá-la” Walter Scott (1771-1832), novelista e poeta

“Falo muito comigo mesmo, às vezes em voz alta, às vezes em voz baixa, porém isso ajuda-me a autogerir-me, a animar-me, a colocar-me limites. Falar-me é fundamental no meu dia a dia. Todos deveríamos falar mais sozinhos”

“Podemos pretender ser quanto queiramos, mas não é lícito fingir que somos o que não somos”

Luís Rojas Marcos psiquiatra, investigador e professor

José Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo

“Há pessoas que vivem constantemente mergulhadas no temor. Isso não tem sentido. Vamos para a frente confiando plenamente em Deus. Digamos com o salmista: «Na vossa Palavra, Senhor, ponho toda a minha confiança»”

“É tão fácil o prometer, e tão difícil o cumprir, que há bem poucas pessoas que cumpram as suas promessas

Beato José Allamano (1851-1926) padre, fundador Dos Missionários e Missionárias da Consolata

Marquês de Maricá (1773-1848), escritor e político

34

Fátima Missionária


VISITE O MUSEU MISSIONÁRIO EM FÁTIMA

Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | PORTUGAL Tel. +351 249 539 470 | museuartesacra@consolata.pt | www.consolata.pt GPS N39.629039, W8.669634


Brincar na rua Tarde? O dia dura menos que um dia. O corpo ainda não parou de brincar e já estão chamando da janela: É tarde. Ouço sempre este som: é tarde, tarde. A noite chega de manhã? Só existe a noite e seu sereno? O mundo não é mais, depois das cinco? É tarde. A sombra me proíbe. Amanhã, mesma coisa. Sempre tarde antes de ser tarde. Carlos Drummond de Andrade


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.