MIGRAÇÕES

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Ano LXV | Mensal | Maio 2019 Assinatura Anual | Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

migrações

um dos Desafios da união europeia em tempo de eleições MISSÃO HOJE

ENTREVISTA

Parte para a Guiné-Bissau em missão um dia depois do casamento

Novo bispo de Tete, Diamantino Antunes, encara nomeação com humildade

Casal faz voluntariado “Nunca pedi nada, apenas em lua de mel quis ser missionário”

MÃOS à OBRA

Jovens venezuelanos aprendem a pescar

Projeto missionário dá ferramentas para sobreviverem à crise no país


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MOÇAMBIQUE PRECISA DE NÓS! OS EFEITOS DO CICLONE IDAI FORAM DEVASTADORES. TODA A AJUDA É POUCA PARA APOIAR A RECONSTRUÇÃO DO PAÍS. VAMOS DAR A MÃO ÀS FAMÍLIAS QUE FICARAM SEM NADA

OS DONATIVOS SERÃO ENTREGUES DIRETAMENTE AO RECÉM NOMEADO BISPO DE TETE, DIAMANTINO GUAPO ANTUNES ENVIE A SUA OFERTA ATÉ DIA 30 DE MAIO PARA: CAMPANHA “MOÇAMBIQUE PRECISA DE NÓS”

RUA FRANCISCO MARTO, 52 | 2496 448 FÁTIMA IBAN: PT50 0033 0000 45519115214 05 INDICAÇÃO “MOÇAMBIQUE”


SUMÁRIO

Nº 05 Ano LXV Maio I 2019 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

Estatuto editorial http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

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“Sete desafios para a União Europeia em tempo de eleições

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 20.800 exemplares Diretor Albino Brás Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Ângela e Rui, Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, José Matias, Leonídio P. Ferreira, Luís Tomás, Osório Afonso, Simão Pedro, Teresa Carvalho Diaman­tino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção Capa Lusa Contracapa DR Ilustração David Oliveira Design BAR Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAl O agora dos jovens

10 | A MISSÃO HOJE A procura de novos caminhos

05 | PONTO DE VISTA Deus é arroz

11 | PERIFERIAS Alfabetização no bairro

06 | HORIZONTES Haverá lugar para nós?

12 | A MISSÃO HOJE Casal faz voluntariado na lua de mel

07 | DESTAQUE Ébola regista o seu segundo maior surto epidémico

13 | FÁTIMA INFORMA Missões “extraordinárias” contadas aos jovens

08 | MUNDO MISSIONÁRIO

14 | ENTREVISTA “Nunca pedi nada, apenas quis ser missionário”

. Jordânia Mundo árabe respeita cristãos

. Paquistão Direitos das minorias desafio para o futuro

. Colômbia Presidente assina acordo

22 | MÃOS À OBRA Jovens aprendem a pescar para sobreviver à crise na Venezuela

com indígenas e camponeses

23 | OBJETIVA

. Nigéria Cristãos e muçulmanos

24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Como é bom ser...

unidos pela paz

. Senegal Catedral de Ziguinchor corre o risco de derrocada

. Nicarágua Bispos denunciam

repressão contra cidadãos pacíficos

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

26 | TEMPO JOVEM “Quando for grande, quero ser como tu, Maria” 28 | SEMENTES DO REINO “As minhas ovelhas escutam a minha voz” 30 | LEITORES ATENTOS 31 | GESTOS DE PARTILHa 32 | VIDA COM VIDA Rico em calor humano e cristão 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

O agora dos jovens A constatação em ambientes pastorais é unânime: não é fácil fazer chegar a proposta de Jesus às novas gerações, aos jovens de hoje. Sobre o que possa estar a falhar, e porque falha, já se escreveu e disse muita coisa. O Papa Francisco até convocou um sínodo dedicado aos jovens. E foi inspirado na experiência desse sínodo, que decorreu no Vaticano em outubro de 2018, sob o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” que Francisco lançou no dia 2 de abril a exortação apostólica pós-sinodal “Cristo Vive”, o primeiro documento papal sobre a juventude, ainda que o texto seja direcionado a todo o povo de Deus. Mas Francisco fala diretamente ao coração dos jovens; porque sonha uma Igreja jovem. “Ele vive e quer-te vivo”, lê-se na introdução, como que iluminando os 299 pontos distribuídos em nove capítulos da exortação, onde o Papa não foge aos temas difíceis: o digital, a imigração, a questão dos abusos, reconhecendo o drama que este último tema tem representado para a Igreja Católica. Francisco fala aos jovens com um estilo direto, sem intermediários, como, aliás, já nos habituou. “Eu quero recordar-to: Deus ama-te. Nunca o duvides, suceda o que te suceder na vida”, escreve o Papa, apresentando

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Fátima Missionária

um Jesus que quer jovens autênticos, não superficiais nem vazios, mas cheios de valores, e que se sintam membros vivos da Igreja. O documento não contenta a todos. O título “Cristo vive” não é o mais adequado para o público jovem, dizem uns. Outros, que o Papa, num texto de mais de 30.000 palavras, ignorou temas como as questões de género, aspetos da sexualidade dos jovens que os preocupam, o tema da igualdade das mulheres, temas que apareceram nas preocupações dos mais de 300 jovens que em março de 2018 se reuniram no pré-sínodo dos bispos. Parece claro que o Papa quis abordar apenas as propostas daquele sínodo que, a seu ver, lhe pareceram mais significativas. Talvez por isso, sugerimos que a exortação seja lida em conjunto com o relatório final do sínodo. É um documento que traz muita vida dentro, e que deve transbordar cá para fora. Esta exortação deve ser lida, estudada, debatida e vivida por todos. Francisco escreve que “os jovens são o agora de Deus” e recorda que “a pastoral juvenil deve ser sempre uma pastoral missionária”. Tomemos nota. Albino Brás

Francisco escreve que “os jovens são o agora de Deus” e recorda que “a pastoral juvenil deve ser sempre uma pastoral missionária”


PONTO DE VISTA

ADELINO ASCENSO . SUPERIOR GERAL DA SOCIEDADE MISSIONÁRIA DA BOA NOVA .

DEUS É ARROZ “God is Rice” (Deus é Arroz) é o título de um livro do teólogo japonês Masao Takenaka (1925-2006). Trata-se de uma expressão intensa que convida a um sorriso ou pode ser sentida como uma provocação, embora o subtítulo, “Asian Culture and Christian Faith” (Cultura asiática e fé cristã) nos conduza ao cerne da questão; compreendemos que ele está a tratar seriamente o tema da inculturação da fé e do diálogo entre Oriente e Ocidente. Takenaka começa por recorrer à Sagrada Escritura para demonstrar a significação mística do pão para os cristãos e apresenta o centro da sua tese: enquanto os ocidentais consideram o pão como símbolo da comida quotidiana que inclui em si um profundo sentido espiritual, para muitos asiáticos o pão é um produto estranho, representando o arroz tal papel de alimento físico e espiritual. Por isso, seria mais apropriado, aos asiáticos, dizer “Deus é arroz” do que dizer “Deus é pão”. No entanto, para dissipar qualquer eventual confusão, Takenaka explica que a finalidade não é prestar culto ao arroz nem substituir o pão pelo arroz na celebração eucarística, mas sim considerá-lo como símbolo da graça divina e raiz de toda a criação.

A essência do Evangelho é universal, mas as formas da sua expressão são locais. O arroz é, na maior parte dos países asiáticos, representação de uma dádiva da natureza, dos céus, de Deus; representa a harmonia com o cosmos; tem uma dimensão fortemente comunitária, porque congrega as pessoas para o seu cultivo e também para o ato de comer em conjunto como uma forma de partilha da própria existência. Poderia, assim, servir como eixo axiológico para muitas comunidades cristãs asiáticas. A inculturação da fé no continente asiático exige uma abertura a diferentes terminologias e abordagens, pois as sensibilidades e os modos de perceção do divino diferem daqueles a que estamos acostumados no Ocidente. O encontro com o grande número de asiáticos que vivem entre nós, assim como com aqueles que nos visitam e passam por Fátima – certamente buscando uma representação maternal da expressão da sua fé – serão um desafio a que espraiemos o horizonte e a que o vento varra do nosso interior algum mofo que porventura se tenha vindo a acumular. Talvez cheguemos a entender que num bago de arroz se podem esconder os anseios do universo.

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horizontes

HAVERÁ LUGAR PARA NÓS? Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

“Centro de Apoio à Vida” – era o nome da placa colocada na porta que se abriu para Carolina entrar. Não sabe o que bate mais forte: se a campainha que acaba de pressionar, se o seu coração a galope, ou se o coraçãozinho de Amelinha que traz no ventre. Entra naquela porta sem nada. Vem da rua e na rua não se tem nada. Já houve dias em que nada lhe faltava. Mas nessa altura Carolina sentia falta de aventura, de novidade, de uma vida sem limites, sem exigências ou responsabilidades. Foi à procura dela, e descobriu tantas novas sensações nesse mundo imenso de liberdade que parecia não ter fim... e quantos outros povoavam também esse mundo!? Foi junto a estes “outros” que Carolina se juntou e sentia segura. Eles sabiam como sobreviver nesse universo paralelo, onde existiam sem ninguém ser visto ou olhado, ou escutado, para não incomodar. Foi aí, na rua, que Carolina viveu um dia depois do outro, esquecida de qual era o cheiro dos lençóis, o conforto de um banho quente, o sabor do caldo de carne feito pela mãe, a algazarra da escola. Nesta história que Carolina começou quando ia à procura da liberdade, afinal não se sentiu livre. Era uma história sem princípio que se interessasse, sem previsão de futuro… era uma história sem jeito. Nesse sítio escondido da existência, um dia Carolina sentiu um pequeno ser habitar o seu corpo. Mexia-se, palpitava, tinha vida – e este pequeno ser fez Carolina despertar. De imediato o seu pensamento voou para um tempo distante, quando usava lençóis que cheiravam a alfazema, e um abraço gigante que não lhe podia dar a liberdade que ela pedia, porque sabia que se lha desse, 06

Fátima Missionária

ela usá-la-ia e poderia perder-se em outros mundos. De tudo o que anteriormente possuia, Carolina agora não tinha nada. Estava carregada de temores, de rejeições, de “não´s”. Depois de muitos avanços e recuos, Carolina veio ter aqui, a esta campainha, que tocou de olhos fechados, com força, como um grito muito tempo calado. Aqui talvez a ajudassem a regressar a casa... Será que a aceitariam de volta? Durante todo o tempo de rua e de consumos, a mãe, o pai, os irmãos, a família, sempre tão esquecidos e arredados das suas preocupações, reapareciam agora, nas suas recordações e desejos de os ver e ser por eles recebida, e poder cheirar de novo os lençóis de alfazema e aninhar-se no abraço gigante que também faz caldos e espanta os fantasmas do sono. A porta abriu-se. Era tudo ou nada. Um pontapé minúsculo no ventre fê-la saber que não estava só. Estavam juntas nesta força de querer viver. Afinal, não estava sem nada! Chegava ali com um ser que, ainda antes de lhe conhecer o rosto, era já capaz de transformar a sua vida. Carolina teria de assegurar ajuda para ambas. E foi o que aconteceu. O desejo de ser novamente família, pôde ser traduzido em palavras que montaram pontes e garantiram abraços. Quando Carolina chegou, estavam todos lá à sua espera, como sempre tinham estado, à espreita de um sinal para poderem novamente partilhar com ela o caldo quente da mãe, à volta da mesa que precisava dela para estarem completos. Agora, estes colos que nunca se tinham fechado para Carolina, independentemente dos outros universos por onde se tenha aventurado, acolhiam também a sua filha, que entrava no lugar aonde ambas pertenciam e que precisava delas para construir a sua própria História: Estavam em família.


destaque República Democrática do Congo

Ébola regista o seu segundo maior surto epidémico Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

A Cruz Vermelha e a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertaram, em abril, para os riscos de propagação do vírus do ébola na República Democrática do Congo (RDC), cuja epidemia é considerada a segunda mais grave que afetou o país, tendo provocado a morte de mais de oito centenas de pessoas, num total de cerca de 1100 casos registados. Em 2014, um grande surto epidémico afetou vários países de África Ocidental, atingindo a Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa, Senegal e Nigéria. Apesar desta epidemia ser a primeira registada após a descoberta de uma vacina para a doença, os riscos de propagação mantêm-se elevados. O alerta da Cruz Vermelha e da OMS registou-se depois de se detetarem um número assinalável de novos casos e de, em três semanas dos meses de março e abril, uma centena de pessoas terem morrido, contaminadas pelo vírus. O início da epidemia registou-se na região nordeste do país, nas províncias de Kivu e Ituri, afetando várias cidades da região, em particular Beni, Butembo e a região rural de Mangina. Esta é a décima epidemia de febre hemorrágica registada em território congolês, desde 1976, e foi declarada em agosto do ano passado, decorridas apenas duas semanas de a nona epidemia ter sido considerada extinta. O conflito armado na região, a situação política e as questões culturais e religiosas têm sido consideradas as principais dificuldades de combate à epidemia. As denominadas Forças Democráticas Aliadas, de inspiração islâmica, e as milícias situadas na região da cidade de Beni são acusadas de terem atacado centros de tratamento, provocando a fuga dos doentes internados e a disseminação da doença.

O conflito armado e as questões culturais têm dificultado o combate à propagação da doença

Por outro lado, a oposição ao Presidente Joseph Kabila, desde 2001 no poder, tem contribuído para desvalorizar junto da população a gravidade da epidemia, considerando que a ameaça do vírus do ébola foi utilizada para este se manter no poder. Depois de dois anos de sucessivos adiamentos, as eleições, que deveriam ter-se realizado em 2016, só tiveram lugar em dezembro último, ditando o afastamento de Kabila. No entanto, devido à epidemia do Ébola, as eleições foram suspensas nas regiões de Beni e Butembo, consideradas favoráveis à oposição.

Desconfianças sobre a doença

A cultura local tem sido vista como um fator de resistência ao controlo da doença. Muitas pessoas continuam a recorrer a líderes religiosos, acreditando nas origens espirituais da doença. Para além disso, os centros de tratamento não são bem acolhidos pela população, que vê

neles locais de morte, ao mesmo tempo que resiste a que as vítimas sejam enterradas de acordo com as normas de segurança e fora dos rituais fúnebres locais. A corrupção tem minado também a confiança das populações. Os recursos necessários para a erradicação do vírus do ébola levam muitos populares a considerar que a doença é um negócio para os agentes locais e o governo, envolvidos no seu combate . Apesar da gravidade do ébola, com uma taxa de mortalidade de cerca de 60 por cento das pessoas contagiadas pelo vírus, a cólera é responsável por um número igualmente elevado de vítimas no país. Considerada uma região tradicionalmente marginalizada pelos investimentos nacionais, as populações locais tendem a desconfiar da quantidade dos recursos envolvidos no combate ao ébola.

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mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Jordânia

Mundo árabe respeita cristãos

O Rei Abdallah II reafirma que a Jordânia continuará a desempenhar o seu papel histórico de proteção dos Lugares Santos islâmicos e cristãos de Jerusalém. O reino da Jordânia nunca escondeu a sua face de Estado muçulmano, governado por uma dinastia que legitima o seu poder na base da própria descendência de Maomé,

em linha direta. As teorias laicizantes e progressistas do nacionalismo pan-árabe que inundaram países vizinhos como a Síria, o Egito e outros, nunca se afirmaram no reino da Jordânia. Por sua vez, os cristãos não levantam objeções de princípio à natureza islâmica das instituições jordanas.

Paquistão

Colômbia

“Devemos promover um sistema eleitoral conjunto não assente na pertença religiosa de modo a sermos cidadãos iguais uns aos outros”, reclamaram 130 delegados de várias religiões, num encontro realizado em Karachi, Paquistão, em meados de abril. “As minorias religiosas não devem ser marginalizadas ou caminhar separadamente, mas ser parte integrante da sociedade; deste modo poderão ver os seus direitos fundamentais defendidos”, afirmou Kashif Anthony, coordenador da Comissão Justiça e Paz, perante uma plateia de muçulmanos, hindus, sikhs e cristãos.

A população de Cauca bloqueou durante 27 dias, no início de abril, a principal rodovia do sul da Colômbia, a Panamérica, para exigir do governo que cumprisse as promessas de desenvolvimento local que remontam a 1999. As reivindicações, que causaram um morto e alguns feridos graves, estão relacionadas com a reforma agrária, falta de escolas e de assistência sanitária. O Presidente colombiano Iván Duque assinou em Popayán, um acordo com os indígenas e camponeses, em que o governo se compromete a investir na zona indígena Cauca em planos de habitação, de novas estradas e em mecanismos de proteção. O acordo prevê ainda um novo encontro para verificar quais as ações de desenvolvimento que estão a ser implementadas.

Direitos das minorias Presidente assina acordo desafio para o futuro com indígenas e camponeses

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Fátima Missionária


MUNDO MISSIONÁRIO

NIGÉRIA

CRISTÃOS E MUÇULMANOS UNIDOS PELA PAZ

“A principal causa de violência na Nigéria não é a religião”, afirmou Cornelius Omonokhua, diretor do Conselho Inter-religioso da Nigéria, um organismo que reúne muçulmanos e cristãos. “A realidade é que a fome é uma das fontes primárias e potentes de divisão da existência humana, ao passo que o alimento é um vínculo forte”. Omonokhua afirma que a avidez de poder e de governo transformou a política em fator de divisão muito sério a todos os níveis na vida da Nigéria. O diretor sublinha ainda a necessidade de uma sinergia entre cristãos e muçulmanos para a construção da nação nigeriana.

SENEGAL

CATEDRAL DE ZIGUINCHOR CORRE O RISCO DE DERROCADA

“O teto da nossa catedral está a cair aos bocados. Parte da igreja já está fechada aos fiéis por motivos de segurança”, explicou o pároco, Damase Coly. Uma derrocada pré-anunciada desde fevereiro passado pelo bispo Abel Mamba, que então lançou o alarme: “O nosso receio é que a próxima estação das chuvas acabe por levar a melhor

sobre a nossa catedral e aconteça o irreparável”. Apesar da visita das autoridades locais ao templo dedicado a Santo António, não há ainda uma data do início dos trabalhos de recuperação do edifício. “Que esperam? Um desastre? É tempo que as autoridades assumam a responsabilidade desta situação”, lê-se numa nota publicada pela diocese.

NICARÁGUA

BISPOS DENUNCIAM REPRESSÃO CONTRA CIDADÃOS PACÍFICOS

A dura repressão contra manifestantes pacíficos no centro de Manágua, em finais de março passado, mereceu duras críticas dos bispos de Nicarágua. Os manifestantes foram literalmente agredidos pela polícia quando pretendiam protestar pacificamente numa praça da cidade. Os ataques aconteceram 24 horas após o Presidente Daniel Ortega manifestar o seu empenho em respeitar os direitos constitucionais do povo nicaraguense. O bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, declarou que acompanha “a população que está a sofrer devido à repressão do governo”.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

APOSTOLADO DA FRATERNIDADE Conta-se de dois professores universitários que um deles para se dar coragem olhava para os seus alunos e pensava: “é um rebanho de carneiros”, enquanto o outro se sentia feliz ao ver neles: “uma turma de irmãos meus”. Creio que nas relações entre pessoas e povos de diferentes religiões possam existir comportamentos parecidos com este. São “carneiros” dignos do matadouro ou são irmãos muito amados, filhos do mesmo Pai? Refiro-me especialmente aos muçulmanos e aos cristãos que depois de tantos séculos de guerras e desentendimentos ainda não encontraram modo de viver e conviver em harmoniosa fraternidade. O nosso Papa Francisco ousa imaginar e proclamar que essa fraternidade é possível, e são prova disso as visitas que fez ultimamente a dois países muçulmanos, os Emirados Árabes Unidos, em fevereiro, e Marrocos, em março. Talvez haja quem julgue tais visitas uma perda de tempo, mas a verdade é que Francisco acredita no apostolado da fraternidade e nisso é um exemplo para todos nós, à imitação de Maria Santíssima de quem a 31 de maio celebramos a festa da Visitação e no dia 13 a sua vinda a Fátima. Visitar é amar.

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a missão hoje

A PROCURA DE NOVOS CAMINHOS Texto | AMADEU GOMES ARAÚJO* Foto | DR

O missionário deve levar “em uma das mãos a cruz, símbolo augusto da paz e da fraternidade dos povos, e na outra a enxada, símbolo do trabalho abençoado por Deus. Deve ser padre e artista, pai e mestre, doutor e homem da terra; deve tão depressa pôr a sua estola, […] como empunhar a picareta para arrotear uma courela de terreno; deve tão depressa fazer uma homilia, como pensar a mão escangalhada pela explosão duma espingarda traiçoeira”. Foi nesta linguagem expressiva que o padre António Barroso, ao regressar do Congo, em 7 de março de 1889, esboçou a figura do missionário para a África do seu tempo. A cruz associada à enxada. A fé cristã associada ao desenvolvimento. Era dotado de um espírito reformador, aliou a ação à reflexão, foi missionário e missiólogo. O padre António Lourenço Farinha, que foi missionário em Moçambique e historiador, entende que António Barroso abordou a questão missionária como ninguém até então tinha feito, e refere-se-lhe como “o maior de todos os missionários modernos”.

D. ANTÓNIO BARROSO Era dotado de um espírito reformador, aliou a ação à reflexão, foi missionário e missiólogo

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Fátima Missionária

Considerava fundamental que os agentes da missão repensassem os seus métodos de trabalho. Entendia que a forma de preparar operários para a messe africana, dotados de uma mentalidade nova, passaria pela criação de uma instituição diferente do Colégio das Missões Ultramarinas, onde se formara. Falava duma Congregação nova com membros ligados por sólidos laços de solidariedade, com o futuro assegurado em caso de doença ou de velhice e com a continuidade da obra também assegurada. “É indispensável – afirmou – que o missionário que trabalha em África saiba que a sua obra não morre, que quando a faina lhe roubar a vida ou o inutilizar para o trabalho, veja chegar os que devem continuar a sua obra de paz e de progresso”. Foi o precursor da Sociedade Missionária da Boa Nova. A partir da sua experiência no Congo, ao chegar a Moçambique, passou a prestar particulares cuidados à localização e centralização das missões. Entendia que, por razões de economia e de estratégia, deviam estar organizadas a partir de uma missão central. Esta


PERIFERIAS

É indispensável – afirmou – que o missionário que trabalha em África saiba que a sua obra não morre, que quando a faina lhe roubar a vida ou o inutilizar para o trabalho, veja chegar os que devem continuar a sua obra de paz e de progresso

missão-mãe deveria localizar-se numa zona salubre e dominar uma vasta população, donde fosse possível irradiar, contactar com as povoações circundantes, com as missões sucursais em redor. Na escolha da localização das missões, sempre prestou atenção às distâncias, de modo a permitirem aos padres visitarem-se e ajudarem-se mutuamente. Para evitar o isolamento, instaurou o regime de comunidades de padres e auxiliares. Com tais medidas, o espírito dos missionários mudou, melhorou significativamente. Foi notável a lucidez e a determinação do bispo Barroso para restaurar em Angola e em Moçambique o verdadeiro sentido da missionação como evangelização das populações locais, sendo de relevar a atenção que prestava ao ensino e à formação da juventude, o humanismo com que lidava com o homem africano e com que defendia os seus direitos, o valor que atribuía à honradez e ao civismo nas relações comerciais. Historiadores da ação missionária escrevem que é notória a importância que passou a atribuir-se às irmãs missionárias e aos irmãos leigos, bem como a valorização que passou a dar-se ao clero autóctone. Neste esforço foi pioneiro entre o episcopado católico.

ALFABETIZAÇÃO NO BAIRRO Texto | JOSÉ MATIAS

Dizia a minha mãe, já em idade avançada: “Que pena eu tenho de não ter aprendido a ler e a escrever. No meu tempo de criança a escola era para os rapazes. Para as meninas tocava-nos guardar cabras”. Disse-lhe: “Ainda está a tempo de aprender umas letras”. “Ó filho”, respondeu ela: “Burro velho não aprende línguas”. E lá foi para o céu sem saber ler nem escrever. Pouco tempo após a minha chegada ao Bairro do Zambujal, senhoras já de uma certa idade manifestaram o desejo em aprender a ler e a escrever. Lembrei-me do provérbio da minha mãe, mas pensei que a idade não deve impedir o sonho. E surgiu o projeto de alfabetização. Passaram anos e nunca mais parou. Na verdade, o sonho daquele grupo de senhoras, tornou-se realidade. Lucinda Soares, cabo-verdiana, 79 anos, diz: “Sempre senti o desejo de saber ler bem, antes de morrer. Dava-me pena ter livros e não entender nada. Faço grande sacrifício porque agora a cabeça já não dá muito, mas já posso dizer que consigo ler a Palavra de Deus na Missa. É uma alegria que me satisfaz muito”. Regina Monteiro, 74 anos, também cabo-verdiana, diz: “De pequena fui algumas vezes à escola, mas não aprendi nada. A escola ficava longe, chegava sempre tarde, apanhava muito sol e sangrava bastante do nariz”. “’Não vais mais à escola’, - disse, um dia, a minha avó. Passaram muitos anos. Agora tive esta oportunidade e a alegria que sinto em saber escrever o meu nome, assinar papéis, pertencer ao grupo de leitores na Igreja, faz-me esquecer todo o esforço e sacrifícios que tenho feito. Agradeço a todos os que me ajudaram a não desanimar nesta aventura. Sou uma pessoa feliz”. Como estas duas, outras mais seguiram o mesmo caminho. Vale sempre a pena.

*Vice-Postulador da Causa de Canonização de D. António Barroso Texto conjunto MissãoPress

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a missão hoje

Casal faz voluntariado na lua de mel

Partem para a Guiné-Bissau um dia depois do casamento, com o objetivo de levar ânimo e esperança à comunidade de Empada Texto | JULIANA BATISTA Foto | RUI ANTUNES

o que nos é possível oferecer”, explicou Carina. Para os jovens residentes no concelho de Sintra, a ida em missão assume uma dimensão especial. “Queremos fazer uma experiência de entrega e doação ao outro, de libertação de nós, das preocupações materiais da vida, uma experiência que nos faça recomeçar esta nova família com outra visão, força e com uma base sólida”, disse Carina, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

Bruno Judas e Carina Brito vão ajudar as irmãs missionárias da Consolata, na missão de Empada

“Vamos trabalhar na organização da biblioteca, apoiar os estudos dos alunos e a logística da missão, prestar acompanhamento na área da saúde nutricional, na pastoral, e acompanhar os jovens apoiados pelo projeto dos Leigos Missionários da Consolata – o ‘Estuda Lá’”

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Fátima Missionária

Com o casamento civil agendado para o dia 13 de maio, e com a partida para Empada (Guiné-Bissau) marcada para o dia seguinte, Carina Brito e Bruno Judas vivem por estes dias um conjunto de sensações. “Temos em mãos a preparação do casamento, a ida em missão, a casa, muita coisa... Tentamos equilibrar tudo, com um misto de emoções: uns dias nervosos, exaustos e com ansiedade, outros em paz, tranquilidade, e com uma segurança incrível, mas, principalmente, sentimos muita esperança em fazer a diferença em Empada, no nosso trabalho, entre amigos e família. Esperança neste caminho, que nos completará e realizará”, refere Carina Brito. Em Empada, Carina e Bruno, de 32 e 33 anos, respetivamente, vão ficar na casa das irmãs missionárias da Consolata até ao dia 1 de junho, recorrendo, para isso, à “licença de casamento e a mais uns dias de férias”. “É um projeto de curta duração, mas é

Uma vez no terreno, Carina, licenciada em Gestão, e Bruno, licenciado em Engenheira Civil, vão dedicar-se a várias atividades. “Vamos trabalhar na organização da biblioteca, apoiar os estudos dos alunos e a logística da missão, prestar acompanhamento na área da saúde nutricional, na pastoral, e acompanhar os jovens apoiados pelo projeto dos Leigos Missionários da Consolata – o ‘Estuda Lá’ – através do levantamento das necessidades educativas e também da realização de relatórios de atividades a fornecer aos padrinhos.” Depois de ter estado em missão em Vilankulo (Moçambique), a Guiné-Bissau atenuará as saudades de África de Carina. “Fica sempre este desejo de voltar a embarcar numa experiência missionária, de voltar à missão, de sentir o calor e a alegria do povo africano, o verdadeiro sentido de partilha e a simplicidade. A missão contagia, e acredito que também tenha contagiado o Bruno com este espírito. Quando experimentamos algo bom, sentimos esta necessidade de repetir.” O casamento religioso acontecerá a 13 outubro, dando ao casal, família e amigos, um motivo para “festejar duas vezes”, conforme destaca a jovem.


FÁTIMA INFORMA

A música também marcará o evento, através do 12.º Festival Nacional da Canção Mensagem

Missões “extraordinárias” contadas aos jovens Iniciativa “Fátima Jovem” vai levar junto dos mais novos histórias de serviço aos desprotegidos, incentivando-os a enveredar por um caminho de felicidade Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

Diversos oradores vão estar Fátima para falar aos jovens das missões “extraordinárias” que realizam: umas em “países desfavorecidos”, outras em campos de refugiados, e outras em contacto com aqueles que se encontram no dia a dia, mostrando que de “um jeito simples se pode ir trilhando o caminho da felicidade”, refere Filipe Diniz, sacerdote e diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, organismo que promove a iniciativa “Fátima Jovem”, na qual se inserem estes testemunhos. O encontro vai realizar-se dias 4 e 5 de maio, sob o tema “Eis a Serva”, e irá mostrar aos mais novos que a missão também está em trabalhos “corriqueiros, mas que levam alegria e felicidade aos que deles beneficiam”, e que se

Paz e solidariedade

Digressão internacional do grupo ‘Gen Verde’ passa pelo Centro Paulo VI, em Fátima, dia 10 de maio. O grupo é formado por 20 artistas de 15 países, e conta com 69 discos editados em nove línguas. Através da música, o grupo apela à união, fraternidade, diálogo e paz, entre todos os povos do mundo.

Peregrinação aniversária

Luis Antonio Tagle, cardeal de Manila (Filipinas) e presidente da Cáritas Internacional, vai presidir à Peregrinação Internacional

pode dar o caso de se viver numa “busca incessante de algo”, que afinal já se tem. É nesta linha que irá decorrer um ‘peddy papper’, onde os participantes poderão conhecer aqueles que dedicam a vida ao serviço de “crianças, idosos, pessoas com deficiência e pobres”. A música também marcará o evento, através do 12.º Festival Nacional da Canção Mensagem, que contará com a participação de 12 dioceses de todo o país. Filipe Diniz destaca que a música é “algo que contagia e que aproxima todas as gerações”. O “Fátima Jovem” deverá reunir mais de 1.200 participantes e serão “mais de 25” os voluntários a colaborar com os organizadores do evento, realçou o sacerdote, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

Aniversária ao Santuário de Fátima, dias 12 e 13 de maio. No último dia das celebrações, o carrilhão da torre sineira da Basílica de Nossa Senhora do Rosário soará às 15h15.

Retiro missionário

José Matias, sacerdote missionário da Consolata, vai orientar um retiro a 25 de maio. O momento de reflexão e oração será dedicado ao tema “Com Maria Consolata”. A iniciativa terá lugar nas instalações dos Missionários da Consolata, em Fátima, e será uma ocasião para “refletir sobre a própria vida”.

Agenda

MAIO

Dias 08, 09 e 10

Encontro de espiritualidade para aposentados no Santuário de Fátima

Dia 26 Recital de órgão no Santuário de Fátima

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ENTREVISTA

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Fรกtima Missionรกria


“Nunca pedi nada, apenas quis ser missionário” O primeiro sacerdote português do Instituto Missionário da Consolata nomeado para bispo foi apanhado de surpresa quando soube que o Papa Francisco o tinha escolhido para assumir os destinos da diocese de Tete, em Moçambique. Pediu umas horas para rezar e aceitou. Diamantino Antunes toma posse a 12 de maio e já está a ‘arregaçar’ as mangas para abraçar esta nova missão

É uma feliz coincidência que tenha sido escolhido para bispo de Tete no ano em que os Missionários da Consolata celebram 75 anos de presença em Portugal. É uma graça ter podido trabalhar com o povo moçambicano ao longo de toda a minha vida de missionário e poder continuar a abraçar novos rumos neste país

Texto | ALBINO BRÁS | FRANCISCO PEDRO Foto | JOÃO NASCIMENTO

Disse encarar esta nomeação do Papa Francisco com confiança e humildade. Sente-se preparado para continuar a desenvolver este novo trabalho missionário?

Não me sinto totalmente preparado. Um sacerdote não se prepara para ser bispo. Pessoalmente não o desejava e também não o esperava. Apenas queria continuar a ser missionário em Moçambique. Por isso, quando no dia 23 de fevereiro, em nome do Papa Francisco, me foi perguntado se aceitava a nomeação para bispo de Tete, fui apanhado de surpresa. Estou confiante pois sei que Deus não chama as pessoas habilitadas, Ele habilita-as. Por outro lado, na minha vida, nunca pedi nada, apenas quis ser missionário. Mas também nunca me esquivei aos desafios e nunca recusei nada quando entendi que era esse o meu dever. Por esta razão aceito com confiança mais esta missão. Sei que não me faltarão dificuldades, mas tenho a felicidade de ser otimista e de Deus me dar força e

vontade para trabalhar. Conto com a minha experiência missionária, que é a essência do que deve ser um pastor, e com a ajuda, o exemplo e a experiência de todos os agentes pastorais que trabalham na diocese de Tete.

Quando soube que tinha sido nomeado bispo, quem foi a primeira pessoa a quem deu a notícia?

Quando me foi comunicada a decisão do Papa Francisco não pude consultar nem informar ninguém pois estava sobre segredo pontifício. Apenas pedi que me deixassem rezar para poder responder no dia seguinte. Durante essas horas procurei encontrar as razões para a escolha e as forças para a aceitar. Recordei-me da devoção do Papa Francisco a “Nossa Senhora Desatadora dos Nós”, e pedi-lhe que, com a ajuda das suas mãos, me ajudasse a desatar os obstáculos, de modo a tomar a decisão certa. O anúncio público da minha nomeação foi feito pelo bispo de Inhambane, no dia 22 de março –

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aniversário da morte dos catequistas mártires de Guiúa – no Centro Catequético de Guiúa.

O facto de ter sido o primeiro missionário da Consolata português a ser nomeado bispo tem algum significado especial para si?

Certamente que sim, mas só na medida em que os caminhos da Igreja não conhecem fronteiras. A nossa presença em Portugal está intimamente ligada a Moçambique. Neste país os missionários da Consolata estão presentes desde 1925, há já quase 100 anos. Logo desde o início sentiu-se a necessidade de incentivar a presença da Consolata em Portugal para favorecer a cooperação missionária e a formação de missionários da Consolata portugueses. Esta necessidade, porém, só chegou em 1944. Mas, desde então, os dois países têm já 75 anos de comunhão e colaboração em prol da missão, uma história vivida por várias gerações de missionários da Consolata, num total de 225 religiosos, dos quais 46 são de nacionalidade portuguesa. É uma feliz coincidência que tenha sido escolhido para bispo de Tete no ano em que os Missionários da Consolata celebram 75 anos de presença em Portugal. É uma graça ter podido trabalhar com o povo moçambicano ao longo de toda a minha vida de missionário e poder continuar a abraçar novos rumos neste país.

Encara esta escolha como o reconhecimento do trabalho que tem desenvolvido, ou como um fruto das sementes lançadas, durante décadas, pelos Missionários da Consolata? Nesta decisão, estou certo de que a Santa Sé não olhou apenas às 16

Fátima Missionária

minhas qualidades mas também ao serviço qualificado, persistente e desinteressado dos Missionários da Consolata em Moçambique. Não é um prémio, é uma responsabilidade. É continuar a amar e a servir esta igreja local e o povo moçambicano dos quais somos parte.

A diocese de Tete, que tem uma área maior do que Portugal, foi uma das zonas afetadas pelo ciclone Idai. Tem ideia dos estragos e do esforço necessário para devolver a normalidade à região?

A província de Tete foi a primeira província a ser afetada pelas inundações deste ano, em consequência das fortes chuvas que caíram no início de março. Alguns bairros da periferia da cidade de Tete, na margem esquerda do rio Zambeze, foram inundados pelas águas do rio Ruvubwe, nas proximidades de

Moatize, nos dias 7 e 8 de março, antes do ciclone Idai. O ciclone propriamente dito atingiu a zona sul da diocese, nos distritos de Doa e Mutarara, nos limites das dioceses de Quelimane, Beira e Chimoio. Houve famílias que perderam as suas casas e os campos de cultivo. O trabalho dos agentes de pastoral e das populações é muito importante para avaliar a dimensão e a duração dos esforços a desenvolver. O administrador apostólico de Tete, padre Sandro Faedi, muito se tem preocupado por ajudar as vítimas das inundações em Tete.

Neste momento particularmente difícil para os moçambicanos, que mensagem lhes vai deixar como novo bispo de Tete?

A minha mensagem não pode deixar de ser de comunhão e solidariedade


PERFIL

NOME Diamantino Guapo Antunes IDADE 52 anos NATURALIDADE Albergaria dos Doze, Pombal PERCURSO Entrou no Seminário da Consolata, em Fátima, em 1978. Foi ordenado padre em julho de 1994. Doutorado em Teologia Dogmática pela Universidade Gregoriana, em Roma, foi pároco em várias comunidades moçambicanas. Em 2007 foi nomeado diretor do Centro Catequético do Guiúa e vigário pastoral da diocese de Inhambane. Era Superior Regional dos Missionários da Consolata em Moçambique e Angola desde julho de 2014

com todos os afetados por esta enorme catástrofe que se abateu sobre a zona centro de Moçambique. Tive a oportunidade de sobrevoar a região da Beira alguns dias depois do ciclone e das cheias. Uma grande devastação. Muitas pessoas ainda hoje vivem uma situação de sofrimento. Por força das circunstâncias o povo moçambicano é resiliente e está a erguer-se com as suas forças. Naturalmente, também graças à ajuda da comunidade internacional que nesta fase tão difícil tem sido fundamental. O momento que atravessamos tem convocado todos à união, à oração e à ação. A Igreja Católica, que saiu profundamente afetada nas suas comunidades e estruturas, reagiu indo ao encontro dos que estão numa situação de maior sofrimento. As dioceses, através da Cáritas, paróquias, congregações religiosas, organizações locais, estão a trabalhar

no sentido de dar assistência aos afetados pelas cheias, sendo canal que faz chegar o que recebe a quem mais precisa, sem fazer publicidade ou distinção de pessoas.

Que ações pretende desenvolver, enquanto bispo, para a promoção da paz, da liberdade religiosa e do diálogo inter-religioso em Moçambique?

Não levo para a diocese de Tete um plano pastoral definido. Darei continuidade ao trabalho que já está em curso e os primeiros tempos serão de escuta e de conhecimento da realidade e dos agentes de pastoral. No que diz respeito à promoção da paz procurarei acompanhar e apoiar o excelente trabalho realizado pela Conferência Episcopal de Moçambique em favor da reconciliação e da consolidação da paz. Felizmente, em Moçambique,

a liberdade religiosa existe e é respeitada pelo Estado e pelas suas instituições. Existe uma grande pluralidade religiosa que é uma riqueza. Existe também respeito e relacionamento construtivo entre cristãos e muçulmanos e outras religiões. Há um importante trabalho a continuar a nível do diálogo inter-religioso e ecuménico que é benéfico para todos. O que preocupa mais é a proliferação de igrejas e seitas, algumas delas usando o proselitismo para alcançar os seus objetivos.

Foi ordenado padre no Santuário de Fátima, em 1994. Vai ser ordenado bispo a 12 de maio. É coincidência? A minha vocação missionária está estreitamente ligada a Fátima. Leiria-Fátima é a minha diocese de origem. Aí ingressei no Seminário dos Missionários da Consolata em outubro de 1978, ainda adolescente. Os primeiros anos de formação foram vividos à sombra de Nossa Senhora. Aí fui ordenado há precisamente 25 anos. Daí parti para a missão e aí regresso sempre com muito gosto e saudade.

É o postulador da causa para a beatificação dos catequistas mártires do Guiúa, que poderão vir a ser os primeiros beatos do país. Vai manter-se como postulador?

Sim, vou continuar como postulador. No passado dia 23 de março, em Guiúa, houve a sessão de encerramento do processo diocesano para a causa de beatificação dos Servos de Deus Luísa Mafo e Companheiros, catequistas mártires. Foi a conclusão de um longo trabalho de investigação sobre as causas da morte dos catequistas e da fama de martírio. A documentação recolhida já foi enviada para Roma para a avaliação da Igreja.

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Sete desafios para a União Europeia em tempo de eleições 18

Fátima Missionária


DOSSIER

Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Foto | LUSA

Os portugueses votam para os seus representantes no Parlamento Europeu a 26 de maio, os cidadãos dos outros 27 países membros também nesse dia ou nos dias próximos. E se são ainda outros 27, assim fazendo 28 ao todo, é porque o atraso no Brexit pode obrigar os britânicos a participar ainda nestas europeias. Ora, a saída do Reino Unido surge como o maior desafio à União Europeia, mas está longe de ser o único: há que pensar também na crise migratória, na segurança, no futuro do euro, no Estado Social, na emergência dos populismos e na relação com a Rússia, tudo problemas complexos e muitas vezes interligados. BREXIT A data de saída do Reino Unido da União Europeia esteve marcada para 29 de março de 2019. Seria o fim de 46 anos como membro de um projeto europeu do qual não foi fundador e sobre o qual sempre manteve resistências, ao ponto de recusar o euro como moeda única e também a livre circulação do Espaço Shengen. Agora o divórcio ocorrerá a 22 de maio, como deseja a primeira-ministra Theresa May para evitar a ida às urnas, ou num dia qualquer até 31 de outubro, o prazo concedido pelos 27, exemplarmente unidos e também exemplarmente compreensivos com as hesitações dos britânicos. Vale a pena recordar que o referendo de junho de 2016 sobre a eventual saída do Reino Unido foi convocado por David Cameron, um primeiro-ministro defensor do Remain (Permanência nos 28), mas com necessidade de calar de vez a ala

eurocética do Partido Conservador. Os 52 por cento do Brexit foram assim uma surpresa para o próprio Cameron que se demitiu, entregando o governo à também conservadora May. Com um passado de hostilidade ao Brexit, a nova primeira-ministra passou a ter a missão de o concretizar, preferindo uma saída negociada do que a ruptura pura e simples. Uma boa parte da sua bancada parlamentar decidiu no entanto obstaculizar o acordo negociado entre Londres e Bruxelas, forçando o adiantamento da data de saída. Dizem que a ausência no futuro de uma fronteira entre a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido, e a Irlanda é inaceitável, mesmo que seja o melhor para os habitantes da ilha dividida e em tempos muito violenta. Um Brexit sem acordo é um pesadelo que todos tentam evitar, mas mesmo um Brexit negociado e aceite por todos traz sérios problemas, primeiro que tudo ao Reino Unido, que verá a sua economia ser abalada e a sua coesão ameaçada por uma Escócia com tentações independentistas e que votou claramente contra o Brexit. Mas os 27 também vão ver as suas economias afetadas, sobretudo países como Portugal que têm relações muito estreitas com o Reino Unido, sejam comerciais, sejam de fluxos turísticos. Os planos de contingência já adotados e as negociações em curso vão minorar esse impacto negativo do Brexit, mas só em parte. A União Europeia como projeto político perde também força com a

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concretização do Brexit. É certo que sai um país apenas e ficam 27, mas a importância do Reino Unido no continente é enorme não só simbólica como na realidade: saem mais de 10 por cento dos atuais 500 milhões de habitantes e também desaparece mais de 10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Perde-se um dos dois assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU (e logo muita da influência diplomática) e do ponto de vista militar, passa-se a ter metade dos porta/aviões (de dois para um, com o navio francês Charles de Gaulle a ficar como único). MIGRAÇÕES Na campanha pelo Brexit, o discurso contra a entrada de migrantes no Reino Unido foi decisivo para a vitória do campo separatista. Como se a União Europeia fosse demasiado permissiva na defesa das suas fronteiras externas. Ora, se algum receio de a Europa estar a acolher demasiados migrantes é antigo, tudo se agravou com a entrada de um milhão de pessoas em 2015, muitas delas em fuga da guerra na Síria e dispostas a arriscar a vida na travessia do Egeu para chegarem à Grécia e depois, a partir daí, ao resto do Espaço Shenghen. A resposta mais solidária veio da chanceler Angela Merkel, que abriu as portas da Alemanha a centenas de milhares de famílias. Por contraponto, países como a Polónia ou a Hungria ergueram muros e preferiram ver as migrações como problema exclusivo dos países do sul da Europa, mostrando escassa compreensão por Grécia, Itália ou Espanha. De momento, graças a um acordo entre a Turquia e a União Europeia, os fluxos migratórios para a Grécia 20

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reduziram-se e muito. Também em Itália, onde foi eleito um governo populista antimigração, se procura dissuadir a chegada de migrantes, neste caso muito mais imigrantes económicos do que refugiados. Espanha é agora o alvo preferencial das redes de tráfico humano, com sucessivos grupos de africanos a tentar cruzar o Estreito de Gibraltar, naufrágios diários e corpos a dar à costa nas praias da Andaluzia. O fluxo migratório não terminará tão cedo pois a União Europeia é vista como o “Eldorado”. E a crise demográfica europeia até aconselha a aceitar imigrantes, sobretudo os mais qualificados. Mas a defesa dos valores europeus exige que os migrantes sejam integrados na sociedade e não remetidos a guetos, seja por vontade própria ou por falhanço governamental. SEGURANÇA Os grandes atentados terroristas em França em 2015, depois na Bélgica, na França e na Alemanha em 2016, a seguir no Reino Unido e na Espanha

em 2017 assustaram a Europa. Explosivos ou atropelamentos, tudo parece valer para quem quer matar em nome do Estado Islâmico, hoje derrotado na Síria e no Iraque. Além dos grandes ataques, multiplicam-se os atos isolados, impossíveis de se prevenir a 100 por cento. Só a colaboração entre os vários serviços secretos e polícias permitirá eficácia no combate ao terrorismo islâmico, em alguns sectores confundido com os migrantes. Integrar as minorias religiosas é absolutamente prioritário. EURO A moeda única deixou de ser um problema à medida que Irlanda, Portugal e Grécia foram saindo dos programas de assistência financeira. Hoje já não há grandes defensores do fim do euro e, na realidade, com a prevista saída do Reino Unido, fiel à libra, só a Polónia, entre os países de grande porte, mantém moeda própria. Da crise do euro há uma lição a tirar: um movimento político inspirado pela falta de solidariedade com a


Grécia e defensor do fim do euro, a alemã AFD, evoluiu a passos largos para partido xenófobo e passou a ser parte importante do sistema alemão. ESTADO SOCIAL Zona de grande prosperidade económica, a União Europeia é marcada pela defesa do Estado Social, que combate as desigualdades. Precisa de mais crescimento económico para defender o modelo social, pois a demografia não ajuda, com cada vez menos crianças e uma sociedade envelhecida. POPULISMOS Criticar Bruxelas como se fosse uma ditadura burocrática e apontar as migrações como uma ameaça civilizacional tem trazido votos a inúmeros partidos de direita populistas por toda a Europa, dos Verdadeiros Finlandeses ao novíssimo Vox em Espanha (que também apela ao nacionalismo espanhol contra o separatismo catalão). Também em Portugal há forças a tentar usar essa fórmula

O fluxo migratório não terminará tão cedo pois a União Europeia é vista como o “Eldorado”. E a crise demográfica europeia até aconselha a aceitar imigrantes, sobretudo os mais qualificados. Mas a defesa dos valores europeus exige que os migrantes sejam integrados na sociedade e não remetidos a guetos, seja por vontade própria ou por falhanço governamental

populista, mas até agora sem grande sucesso, mesmo que recorrendo à mesma estratégia de falsas notícias e de tentativa de descredibilização do sistema político tradicional. Contra os populismos na sua lógica de ataque a Bruxelas tem servido o caos em volta do Brexit. Afinal, se um país tão poderoso como o Reino Unido sofre tanto com a rutura, imaginemos uma pequena nação? Assim, ameaça de abandono da União Europeia não é algo que hoje seja muito usado pelos políticos, mesmo os mais populistas entre eles, como a coligação que governa a Itália. RÚSSIA Metade da União Europeia precisa do abastecimento de gás natural russo para se aquecer no inverno. Isso dá uma enorme vantagem geopolítica a Moscovo, que usa todos os mecanismos para falar com os Estados um a um, evitando submeter-se ao diálogo direto com a Comissão Europeia. Quatro tipos principais de relação existem hoje entre os países da União Europeia: os com receio de Moscovo (Roménia e Estónia), os conciliadores (caso da Hungria, de Viktor Orban), os desafiadores (como o Reino Unido) e os pragmáticos (como é o caso de Portugal). Com sanções ainda em vigor à Rússia por causa da anexação da Crimeia em 2014 e do apoio aos rebeldes russófonos no leste da Ucrânia, a União Europeia mantém um braço de ferro complicado com Moscovo, que só pode triunfar se os Estados Unidos de Donald Trump o apoiarem, o que não é nada certo hoje em dia. * jornalista do DN

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mãos à obra

Jovens aprendem a pescar para sobreviver à crise na Venezuela Missionários tentam travar os fluxos migratórios através da aquisição de equipamento de pesca e ensino das técnicas para explorar os recursos naturais da região do Delta Amacuro de forma rentável e sustentável

Texto | Francisco Pedro Foto | dr

aos jovens das comunidades warao do Delta inferior, que prevê um investimento total de 4.000 euros, contempla a aquisição de equipamentos e a realização de ações de formação onde os formandos podem aprender diferentes formas de auto-gestão alimentar através da pesca. A iniciativa é orientada, numa primeira fase, para 75 jovens. Como os ensinamentos irão beneficiar indiretamente os seus familiares, estima-se que esta ação possa vir a ajudar quase 400 pessoas.

Logo que o financiamento estiver assegurado, os missionários pretendem adquirir redes e acessórios para a pesca comunitária ou em grupo, e anzóis e fio de nylon para a pesca individual ou familiar

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Há um ditado antigo que diz que dar um peixe a um homem faminto, permite alimentá-lo por um dia, mas que se esse mesmo homem for ensinado a pescar, ele próprio pode alimentar-se toda a vida. Em Tucupita, capital do estado Delta Amacuro, considerada a zona mais pobre da Venezuela, os missionários da Consolata pretendem não só pôr em prática esta velha máxima, como também contribuir para minimizar os efeitos das migrações das comunidades indígenas, quer para os centros urbanos, quer para os países vizinhos, como o Brasil. Para alcançar este objetivo, está em marcha uma campanha de angariação de fundos para avançar com um projeto de pesca dirigido

“Os warao estão localizados nos estratos mais baixos da sociedade com altos níveis de pobreza. E a crise que atravessa o país não deixou muitas alternativas para esta população, que tem como principal atividade de subsistência a pesca. É por isso que encaramos este projeto como necessário e urgente para estes jovens, para fornecer alimentação através da pesca e favorecer a criação de espaços de fraternidade e ajuda mútua. Assim, não haverá necessidade de migrar ou roubar para sobreviver”, explica o padre Juan Carlos Greco, coordenador da campanha. Logo que o financiamento estiver assegurado, os missionários pretendem adquirir redes e acessórios para a pesca comunitária ou em grupo, e anzóis e fio de nylon para a pesca individual ou familiar. Depois, terão de fazer chegar o material através de longos percursos fluviais às comunidades piloto de Janabasaida, Barranquilla Nabasanuka, Burojosanuka e Manacal, para darem início às ações de formação.


OBJETIVA

Um incêndio que fica para a história e que consumiu parte de uma história com mais de oito séculos. A recuperação total da Catedral de Notre-Dame, edificada em 1163, em Paris, França, pode demorar 20 anos

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# gente nova em missão diferenças

COMO É BOM SER...

Olá amiguinhos! Neste mês em que até a natureza já nos presenteia com a diversidade das suas cores, quero partilhar convosco uma experiência que vivi recentemente com os meus alunos e tudo, vejam só, por causa da cor de um lápis Texto | Claúdia feijão Ilustração | DAVID OLIVEIRA

“Podes emprestar-me o teu lápis cor de pele?”. Ainda que para mim esta seja uma pergunta um pouco estranha, para os mais pequenos é muito natural; mas a colega respondeu: “Qual lápis cor de pele? É que há tantas cores de pele que tens de me dizer qual queres!”. Este pequeno diálogo transportou-me de imediato para a história “Meninos de todas as cores” da escritora Luísa Ducla Soares. “Era uma vez um menino branco chamado Miguel, que vivia numa terra de meninos brancos e dizia: é bom ser branco porque é branco o açúcar, tão doce, porque é branco o leite, tão saboroso, porque é branca a neve, tão linda. Mas certo dia o menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde todos os meninos eram amarelos. Arranjou uma amiga chamada Flor de Lótus, que, como todos os meninos amarelos, dizia: é bom ser amarelo porque é amarelo o

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Sol e amarelo o girassol mais a areia da praia. O menino branco meteu-se num barco para continuar a sua viagem e parou numa terra onde todos os meninos são pretos. Fez-se amigo de um pequeno caçador chamado Lumumba que, como os outros meninos pretos, dizia: é bom ser preto como a noite, preto como as azeitonas, preto como as estradas que nos levam para toda a parte. O menino branco entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos os meninos são vermelhos. Escolheu para brincar aos índios um menino chamado Pena de Águia. E o menino vermelho dizia: é bom ser vermelho da cor das fogueiras, da cor das cerejas e da cor do sangue bem encarnado. O menino branco foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são castanhos. Aí fazia corridas de camelo com um menino chamado Ali-Babá, que


MOMENTO DE ORAÇÃO

dizia: é bom ser castanho, como a terra do chão, os troncos das árvores, é tão bom ser castanho como um chocolate. Quando o menino voltou à sua terra de meninos brancos, dizia: é bom ser branco como o açúcar, amarelo como o Sol, preto como as estradas, vermelho como as fogueiras, castanho da cor do chocolate. Enquanto, na escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos de meninos brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as cores”. Pequenos missionários, encontrar a beleza que está na diferença é viver mais rico e feliz, pelo que cabe a cada um pintar cada instante da vida com essa diversidade de cores. E, como o Miguel da história, compreender como é bom ser... de qualquer cor! (só para saberem, a maior parte dos desenhos dos meus alunos estavam semelhantes ao do Miguel).

Senhor, obrigado por me dares a possibilidade de viver o verdadeiro amor no encontro com os outros. Dá sabedoria a todas as pessoas para que encontrem a alegria e a riqueza na diferença que habita em cada um de nós de modo a viverem a Tua paz e o Teu amor. Pai Nosso, Glória

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TEMPO JOVEM

“QUANDO FOR GRANDE, QUERO SER COMO TU, MARIA”

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Texto | CARLA SEMEDO Foto | DR

O que Maria representa para os jovens nos dias de hoje é uma questão que dá muito que pensar, pois é necessário ter em conta o meio em que atualmente vivemos, visto que a mentalidade e conhecimento de um jovem dos nossos dias não são as mesmas do jovem de há uns anos atrás. Enquanto jovens, somos pessoas cuja personalidade e pensamento se encontram em constante formação e mudança. Tendo em conta a quantidade de informação com que somos confrontados diariamente, torna-se crucial sermos seletivos. As primeiras fontes de informação que temos sobre Maria vêm do nosso seio familiar. Desde cedo, somos influenciados pelos nossos avós, pais, tios e padrinhos a ter uma imagem de Maria quase inatingível: uma menina pura, virgem, ternurenta, porém, recatada. Mas será que Maria representa só isto para nós? É só isto que nos faz querer dizer: “Quando for grande, quero ser como tu, Maria”? Antes de tudo, Maria era uma jovem como nós. Não era uma mulher já completamente formada e com uma sabedoria sem igual. Não! Ela era humana, feita de carne e osso, assim como todos os que vivem neste mundo. Outra das coisas que tanto a distinguiu e ainda distingue, é o facto de ser virgem. Sabemos que este termo é, muitas vezes, conotado unicamente em termos sexuais. Mas mais importante do que isso, deveria ser associado a uma vida sem pecados o que, para nós, jovens, e até adultos, já mais maduros e sábios, é um grande desafio. Tendo em conta este repto, tentamo-nos aproximar desta parte mais humana e também tão bonita de Maria. Uma

mulher serena, calma e pachorrenta. Ela deve ter passado por tantas pessoas más, que falaram tão mal dela. Afinal, quem, no seu perfeito juízo acreditaria que ela estava grávida do Messias. Esta sim, era uma jovem mansa e, sem dúvida alguma, altamente pachorrenta. Quem nos dera poder lidar com a intolerância e as más-línguas de algumas pessoas tal como só ela soube fazer. Depois, Maria era mãe. Uma mãe como qualquer outra. Era preocupada e protetora, mas com a leve diferença de que ela era, também, serva de Deus. Nas Bodas de Caná demonstra-nos toda esta preocupação e vontade de serviço. A falta de vinho não era um problema dela, mas ela predispôs-se a ajudar. Algo tão simples, mas que nos é tão difícil de fazer. Por exemplo, uma situação agora próxima de nós: a tragédia em Moçambique. É o dispormo-nos a ajudar, mesmo que isso não traga benefícios para o nosso dia a dia. É o imitar Maria no seu lado mais puro e belo. Amparar e proteger sem esperar nada em troca. A mãe de Jesus mostra-nos, ainda, outra incrível e, ainda mais impactante, característica. Revela-nos o que é ser corajosa. Uma menina tão jovem, (ainda em idade de brincar como uma criança nos dias de hoje) conseguiu dizer sim à grande missão que Deus tinha para ela, carregar um filho Dele: o Salvador. Como é possível ela não ter vacilado e ter confiado tão cegamente em Deus a ponto de dar um sim tão grande? Às vezes, temos só de cumprir a “grande” missão de ir à Missa e o “não” já vem na ponta da língua. Só o exemplo desta grande mãe nos pode fazer querer dizer: “Quando for grande, quero ser como tu, Maria».

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sementes do reino

“As minhas ovelhas escutam a minha voz” Texto | OSÓRIO AFONSO Foto | DR

Na História da Salvação, Deus apresentou-se como Pastor do seu povo: aquele que conduz o povo à terra prometida e coloca à frente desse povo um Bom Pastor – o Messias. De facto, todo o capítulo 10 do 4° Evangelho é uma catequese sobre o Bom Pastor que é Jesus.

Leio a Palavra (Jo 10,27-30) O contexto narrativo em que vem inserida a catequese sobre o Bom

Ajuda-me a criar silêncio para escutá-Lo e coragem para segui-Lo

Pastor, tem como pano de fundo o conflito que Jesus teve com os fariseus, no episódio do cego de nascença (Jo. 9). No final deste relato, Jesus condena os fariseus, pois são como falsos pastores que veem o cego como um pecador e não alguém que precisa de ajuda. Para Jesus, eles são “ladrões” e “assaltantes”. Ao invés, Jesus é o Bom Pastor: “Ele chama cada uma das suas ovelhas pelo nome”; conduz as suas ovelhas às pastagens verdejantes e protege-as contra predadores e ladrões. Entrega até a própria vida em favor das suas ovelhas; “Elas nunca seguirão um estranho”, porque “escutam a voz do Bom Pastor e seguem-no”. Eis as duas ações características das ovelhas: escutar e seguir.

Saboreio a Palavra

A primeira atitude das ovelhas é escutar. Este verbo, em hebraico –

shema – significa escutar, entender, que é muito mais amplo que apenas ouvir. Trata-se de “prestar atenção” ao seu pastor. Jesus, ao dizer que as suas ovelhas “escutam a sua voz”, está a excluir os chefes dos judeus da lista das ovelhas, pois eles não escutam a voz de Jesus. Eles têm ouvidos e não ouvem. São religiosos que tinham por missão dar a conhecer a voz de Deus, mas eles não escutam o Filho de Deus que se fez homem, que se tornou Palavra e continua a falar até aos nossos dias. A segunda atitude é seguir. Jesus diz que as suas ovelhas O seguem. Nos evangelhos, o convite de Jesus: “segue-me”, aparece muitas vezes significando tornar-se seu discípulo. As ovelhas que escutam a sua voz, seguem-no. Mas a escuta é indispensável para o seguimento. Na nossa sociedade, onde reina o barulho, não conseguimos escutar a voz do nosso pastor e, em consequência, temos muitas dificuldades em segui-Lo, em ser discípulos de Jesus.

Rezo a Palavra

Mestre, tu és Senhor: faz que eu escute o teu Filho que é a Palavra, feita carne, que está sempre viva e presente na nossa vida. Ajuda-me a criar silêncio para escutá-Lo e coragem para segui-Lo.

Vivo a Palavra

Prestar mais atenção à Palavra de Deus e saber arranjar tempo durante a semana para ler os textos da Sagrada Escritura, meditá-los e pô-los em prática.

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A palavra faz-se missão

MAIO

05 “Apascenta as minhas ovelhas”

3º Domingo da Páscoa | Act 5, 27-41; Ap 5, 11-14; Jo 21, 1-19

“Pedro, amas-me mais do que estes”? Só Deus sabe o que se passa no coração de cada pastor que Ele chamou. Só Ele é capaz de medir a intensidade do seu amor e dedicação. Apesar das limitações e fraquezas daqueles que chama, o Senhor não desdenha de lhes confiar a enorme missão de pastorear e fazer conhecer os caminhos de Deus.

Pela tua infinita misericórdia, perdoa, Senhor, os nossos erros, e recebe os frutos do nosso amor.

12 A vocação de Pastor

4º Domingo da Páscoa | Act 13, 14-52; Ap 7, 9-17; Jo 10, 27-30

Hoje é Dia Mundial das Vocações de especial consagração. O Cordeiro pascal transformou-se em Pastor. Pela sua morte e ressurreição conquistou para si um rebanho, que Ele conduz para as pastagens eternas. De ovelhas desgarradas tornou-nos comunidade de pessoas, que conhecem e seguem a sua voz. Que sorte a nossa, poder ouvir a sua voz, sermos chamados pelo nosso nome e experimentarmos a sua predileção.

Suscita no mundo, Senhor, pastores segundo o teu coração, que nos ajudem a ouvir a tua voz.

19 O nosso distintivo

5º Domingo da Páscoa | Act 14, 21-27; Ap 21, 1-5; Jo 13, 31-35

“Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Basta essa marca para identificar os seguidores de Jesus. Amar é a nossa vocação e o nosso ofício. Criados à imagem e semelhança de Deus, é no amor que encontramos a nossa identidade mais profunda de filhos de Deus e irmãos de Cristo. “Como Eu vos amei”, acrescenta Jesus. Esse “como” dá-nos a medida, o modelo e a perfeição desse amor. Não há melhor forma de fazer missão.

Ensina-me, Senhor, a tua divina arte de amar, e dá-me força para te imitar.

26 Arrumar a casa

6º Domingo da Páscoa | Act 15, 1-2.22-29; Ap 21, 10-23; Jo 14, 23-29

“Não se perturbe o vosso coração”. Anda por aí muita gente inquieta e perturbada. Demasiado projetados para fora, não nos apercebemos que temos uma vida interior capaz de arrumar a nossa casa e dar solidez ao nosso caminho. “Quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele”. É a fonte da paz e da alegria interior. Corações destes são construtores de paz.

intenção missionária MAIO Para que, através dos próprios membros, a Igreja em África seja fermento de unidade entre os povos, sinal de esperança para este continente Na África a Igreja tem ainda muito de recém-chegada, com o dinamismo próprio da missão, virada para a sua implantação gradual no terreno. Ao mesmo tempo tem já suficiente presença e visibilidade, influência e poder de persuasão para assumir um papel agregador da sociedade. No meio dos tribalismos exacerbados ou adormecidos, na presença de conflitos locais e regionais, tocada até no seu seio por ondas desagregadoras que não raro desaguam em acesas paixões, a Igreja como veículo e expressão da consciência cristã, portadora e proclamadora dos seus valores, é chamada a dar voz, apoio ativo, aos agentes pacificadores. Não é raro nem estranho que bispos ou uma inteira Conferência Episcopal se eleve ao de cima das partes para ser a voz do entendimento e da conciliação. Já o fez em Angola e Moçambique. O exemplo mais recente é o das eleições no Congo. Luís Tomás

Console-nos a certeza de que Deus vive no coração da humanidade e dentro de cada um de nós Darci Vilarinho

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Sou mulher, solteira, e vivo com a minha mãe, viúva, idosa e doente. Coloco a seguinte questão. Normalmente fala-se da vocação ao matrimónio ou à vida consagrada. Mas não se fala da vocação, digamos, à solteiria, que é o meu caso e o de tantas outras pessoas na socieDade? O que tem a dizer sobre isso? M. L. Gondomar

Nunca me tinha perguntado sobre isso. Julgo que não é suposto ouvir alguém, quando jovem, dizer que se sente “chamado pelo Senhor a permanecer solteiro”. Penso que nem na Sagrada Escritura nem na tradição da Igreja haja alguma referência a um suposto chamamento de Deus à solteiria, como estado de vida. Acredito que a solteiria não é fruto de um chamamento direto, de uma vocação. Por norma, não é resultado de uma escolha pessoal, mas uma realidade que se acolhe, que se aceita. Por vezes não vivemos o que idealizamos, mas o que Deus tem reservado para cada um de nós. Sim, fazemos os nossos planos, mas as circunstâncias também influenciam as realidades que cada um acaba por viver. E podem ser geradoras de felicidade. Constituem

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um estado vital e, porque não dizê-lo, uma vocação que vem de Deus. Conheço pessoas solteiras que vivem a tempo pleno para os outros, no voluntariado, abraçando realidades humanas e causas sociais, cuidando de pessoas vulneráveis, portadores de deficiência, na família ou em instituições várias. Uma vida doada, entregada. Eu diria que a vocação de um solteiro está a meio caminho entre a vocação de um casado e a de um consagrado. Equipara-se ao consagrado pela vocação e espiritualidade que lhe advém da consagração batismal a Jesus Cristo. E, tal como o casado, e como leigo, o solteiro está chamado a uma inserção no mundo, a cristificar o mundo. Claro que o solteiro pode não ter aquela estrutura que o faça sentir-se seguro (a estrutura familiar do casado e a comunidade religiosa do consagrado). Mas o despojamento das estruturas – que leva a confiar e confiar-se mais no Senhor, pode ser, talvez, o ponto mais forte da espiritualidade do solteiro. Por tudo isto, senhora M.L., não se sinta diminuída na sua vocação. Não é filha de um deus menor! Deus não se esquece de si. Albino Brás

É sempre com muito gosto que leio todos os artigos desta revista. Pago a minha assinatura e envio um pequeno donativo para as vossas muitas obras. É pena não poder ajudar mais, mas cada vez tudo está mais difícil. Só o Senhor, na sua infinita misericórdia, nos pode valer. Que Deus vos abençoe. Maria Odete Vargues, Moncarapacho

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aprender em segurança em Mgongo na TANZÂNIA

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2019 PROJETO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

Aprender em Segurança Lucas e Miguel Soares 100€; José Dias 86€; Ana Seabra 20€; Luciano Silva 18€; Céu Alves 10€; Francelina Santos 30€; Angelina Lopes 500€; Alice Eusébio 120€; Maria Pereia 10€; Anónimo 20€; Maria Ferreira 20€; Anónimo 75€; Conceição Almeida 10€; Acácio Ventura 10€; Maria Duarte 10€. Total geral = 13.176,50€. Moçambique precisa de nós! Paróquias de Válega e São Pedro de Ovar (Padre Fernando Carneiro) 3.000€; António Costa 30€; Paróquia de Mafra (Padre Luís Barros) 1.556€; Carlos Farinha 250€; Madalena Ferreira 50€; Etelvina Vieira 10€; Deonilde Silva 5€. Total geral = 4.901€. Bolsa de Estudos Salete Silva 250€; Madalena Pereira 10€; Lúcia Antunes 15€. Crianças saudáveis – Angola Maria Fernandes 5€. Crianças da Etiópia Anónimo 30€.Crianças de Irã – Guiné-Bissau Martinho Roxo 40€. Crianças de Moçambique Lourdes Dias 73€. Ofertas várias Domingos Dias 93€; Amélia Bastos 77€; Antónia Sampaio 93€; Filipa Ferreira 41€; Leontina Cordeiro 43€; Carlos Silva 25€; José Candeias 41€; Carmo Tubarão 55€; Paraíso do Sonho Lar, Lda 40€; António Fontes 58€; Anónimo 59€; Carlos Antunes 29€; Fernando Pedrosa 93€; Ana Silva 43€; Cândido Cosme 29€; Generosa Beja 70€; Joana Carvalho 57€; Helena Mata 108€; Octávio Carreto 43€; Emília Silva 243€; Lurdes Maurício 51€; Assinantes que pertencem à lista de Alice Pais 113€; Fernanda Domingues 18€; Maria Vieira 45€; Emídio Major 136€; Gabriela Santos 200€; Neves Fernandes 43€; Conceição Ferreira 43€; Fernando Manata 30€; Ana Teixeira 38€; Carmo Matias 36€; Isabel Rocha 93€; Natividade Silva 43€; Carlos Prazeres 43€; Áurea Simplício 30€; José Lopes 43€; Maria Lourenço 36€; Margarida Silva 43€; Maria Sousa 25€; Manuela Reis 33€; Carolina Castelo 36€; António Ferreira 36€; Anabela Pinheiro 43€; Arminda Vasconcelos 36€; Lurdes Diogo 27€; Domingos de Sousa & Filhos, S.A. 94€; Conceição Silva 29€; Lisete Ribeiro Sousa 33€; José Faustino 59€; José Castro 103€; Albertina Silva 72€; Rosário Duarte 113€; Odete Vargues 43€; Maria Góis 43€; Arnaldo Lopes 36€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: IBAN: PT50.0033.0000.45519115214.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º Dto - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

PADRE OCTÁVIO OCCELLI

RICO EM CALOR HUMANO E CRISTÃO Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

O padre Octávio teve a ‘distinção’ de ser prisioneiro durante duas guerras mundiais: 1914-1918 e 1939-1945. Nasceu em 21 de setembro de 1895, perto de Cúneo, Itália, e quando acabou a escola primária pediu ao beato Allamano para entrar para os Missionários da Consolata, instituto religioso por ele fundado. Durante o seu noviciado foi de repente mobilizado e enviado para a zona de guerra em 1915, combatendo em batalhas perigosas de que, graças a Deus, saiu incólume. Em junho de 1917 foi feito prisioneiro e enviado para a Áustria, sendo libertado e voltando para a Itália em novembro de 1918. Foi ordenado sacerdote em março de 1921. Menos de um ano depois já se encontrava nas missões do Kafa, na Etiópia. Depois de trabalho missionário meritório durante 14 anos, de novo a guerra ataca a sua vida, desta vez o conflito armado Itália-Abissínia, sendo obrigado a deixar a sua querida missão e a voltar para a Itália. Volta para a Etiópia em 1936, mas de novo a guerra destrói o seu sonho missionário, desta vez a IIª Guerra Mundial: é feito prisioneiro em 6 de abril de 1941 e enviado para um campo de prisioneiros no Quénia, donde é finalmente libertado em dezembro de 1945. Em 1946 o seu sonho reaviva-se ao ser enviado para as missões do Brasil. Durante 12 anos foi mestre dos noviços e ocupou com honra outros cargos missionários. Os seus colegas de trabalho avaliaram-no sempre como um ótimo colega, cortês, de índole serena e dócil, alta piedade, fiel e aplicado aos seus deveres de homem, sacerdote e missionário. Amava o Instituto Missionário da Consolata e tinha uma devoção total ao seu fundador. Mesmo durante os internamentos em campos de prisioneiros, nunca deixou as práticas de piedade. Prisioneiro na Áustria, escreveu: “Quero que a vontade de Deus controle todos os meus pensamentos e os meus desejos. Ah, se esta avezinha tivesse asas, voaria irresistivelmente para o nosso Instituto, ninho tão desejado de oração e de paz” (carta). Do seu trabalho como mestre de noviços foi dito: “Era um verdadeiro papá no meio dos seus noviços, sempre muito compreensivo”. Sacerdote cheio de vida 32

Fátima Missionária

interior e de oração, tinha uma devoção profunda para com a Virgem Maria, e um amor extremoso ao beato Allamano. No dia 15 de julho de 1968 sentiu-se mal devido a um pico de diabetes, de que sofria. Seis dias depois, adormeceu placidamente no Senhor, chorado por tanta gente com quem partilhara a Boa Nova da salvação.


O QUE SE ESCREVE

SÃO PAULO A BIOGRAFIA

CRISTO VIVE

“Cristo Vive” é a quarta exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, em forma de carta dirigida aos jovens e a todo o povo de Deus. “A todos os jovens cristãos escrevo com carinho esta exortação apostólica, isto é, uma carta que recorda al­gumas convições da nossa fé e que, ao mesmo tempo, alenta a crescer na santidade e no compromisso para com a própria vocação”, escreve o Papa. O texto reflete o diálogo entre os jovens e os participantes no Sínodo dos Bispos que teve lugar no Vaticano em outubro de 2018, com o tema “Juventude, fé e discernimento vocacional. Esta exortação foi publicada no passado dia 2 de abril, aniversário do falecimento do Papa São João Paulo II, conhecido como o “Papa da juventude”. Autor: Papa Francisco Páginas: 144 | Preço: 5,00€ Editora: Paulus

BOM CAMINHO

Considerado um dos maiores especialistas mundiais em Estudos Bíblicos, com mais de 40 livros publicados, o autor propõe uma nova abordagem a São Paulo, figura central do cristianismo. Celebra a sua humanidade e explica que é ela que melhor permite contextualizá-lo e compreendê-lo e, assim, apreciar os novos paradigmas que criou para entendermos Jesus. Para ele, Paulo é uma personagem complexa, multifacetada, e pode ser considerado um dos maiores líderes da humanidade.

Este livro é um relato sobre a experiência transformadora do Caminho de Santiago. Aos que são peregrinos fará reviver muitos momentos transformadores, e aos que não o são ficarão com vontade de tentar esta experiência única. “O autor – escreve Jorge Coutinho no prefácio da obra – transporta-nos numa narrativa fluída, divertida, introspetiva e questionadora, não apenas pelos caminhos que o guiaram até Santiago, mas acima de tudo pelos caminhos da vida”.

Autor: N.T. Wright Páginas: 480 | Preço: 24,40€ Editora: D.Quixote

Autor: Josepe García Miguel Páginas: 352 | Preço: 15,00€ Editora: Oficina do Livro

PROIBIDO LAMENTAR-SE COMO FALAR ÀS Este livro conquistou CRIANÇAS SOBRE o Papa Francisco, que BOAS ESCOLHAS até colocou na porta

do seu gabinete um letreiro com o título. “Nesta obra – escreve o Papa – o Dr. Salvo Noè apresenta várias abordagens com vista a enfrentar as dificuldades e os imprevistos, evitando cair nas armadilhas da vitimização e vislumbrando, em cada adversidade, as possibilidades de ressurgirmos mais confiantes e fortes. É algo de útil no nosso tempo caraterizado pela velocidade e pela muita fragilidade dentro de nós”. Autor: Salvo Noè Páginas: 160 | Preço: 14,39€ Editora: Nascente

“Como é que eu falo às crianças sobre…?” Esta é uma pergunta muito comum dos pais, mas também dos professores e catequistas. Os conceitos abstratos, as temáticas difíceis de abordar e os assuntos sensíveis requerem um tipo de linguagem particular que dê à criança informação suficiente sem ser demasiado complexa ou confusa. O mesmo se aplica aos aspetos da nossa fé. Como é que abordamos os aspetos da moralidade ou de boas escolhas? Autor: Connie Clark Páginas: 44 | Preço: 3,50€ Edições Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Chegam as eleições europeias e a maioria dos jovens afetados pelas alterações climáticas não podem votar. Escutai-nos. Votai por nós. Pelos vossos filhos e netos. Salvem o planeta como salvaram Notre-Dame” Greta Thunberg ativista “School Strike For Climate”

“Não julgues cada dia pela colheita que fazes, mas pelas sementes que plantas” Robert Louis Stevenson (1850-1894) escritor

“Quando te deres conta que tens mais do que aquilo que necessitas faz uma mesa mais comprida, não um muro mais alto”

“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja”

“O amor de Deus não nos protege do sofrimento. O amor de Deus protege-nos no sofrimento”

Jennifer Bloomer artista

Cervantes (1547-1616) escritor

Hans Küng teólogo e filósofo

“Dizer que estou feito à imagem e semelhança de Deus é dizer que o amor é a razão da minha existência; Deus é amor. O amor é a minha verdadeira identidade, o meu verdadeiro carácter” Thomas Merton (1915-1968) monge trapista, poeta, escritor 34

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Durante o mês de maio, mediante a apresentação deste número da FÁTIMA MISSIONÁRIA, usufrua de um desconto em todas as suas compras


Mãe Abraço que ensina e acalma Único, desde a luz da vida Pois Deus permitiu que a alma Por outra fosse envolvida Palavras que nunca se calam O entendimento perfeito E por toda estrada se instala Sem amarras, sem preconceito Olhar e derrames d’alma De gente que sabe ser mundo Sem vestes, sem máscaras, sem trauma Tem no olhar o sentido de tudo Rayme Soares


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