FÁTIMA

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Ano LXII | Março 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

FÁTIMA

PEREGRINAÇÃO DA CONSOLATA DEIXA APELO À SOLIDARIEDADE

MISSÃO HOJE

Presença em Angola é história com futuro

Consolata prepara abertura de mais duas frentes de missão no país

DOSSIER

Cinco décadas de mudança na Polónia Amor à liberdade ainda resiste na Gdansk de Lech Walesa

MÃOS À OBRA

Centro de Formação afasta mulheres da prostituição Cursos profissionais ajudam jovens quenianas a ganhar independência


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM OS MISSIONÁRIOS

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 03 Ano LXII – MARÇO 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

À LIBERDADE RESISTE “ ONAAMOR GDANSK DE WALESA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.100 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Ana Paula Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL O bálsamo da misericórdia 05 | PONTO DE VISTA Jovens interessados no religioso 06 | HORIZONTES Surfando no sonho 07 | DESTAQUE E a Europa dos valores? 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Colômbia: Arcebispo de Tunja incita Forças Revolucionárias a depor armas • Malawi: Falta de alimentos e medicamentos põe em risco a vida dos malavianos • Filipinas: Pobres entre os pobres ensinam a misericórdia e a esperança • Sudão do Sul: Refugiados sudaneses pedem escola e alimentação em vez de bombas • Índia: Sobreviventes dos massacres de Orissa lutam pela justiça

10 | A MISSÃO HOJE Presença em Angola é história com futuro 11 | PERFIL SOLIDÁRIO Tratar da saúde aos sem-abrigo 12 | A MISSÃO HOJE Fraternidade, oração, trabalho, acolhimento 13 | FÁTIMA INFORMA Semana Santa vivida com “intensidade” 14 | ATUALIDADE Peregrinos chamados à solidariedade 18 | DOSSIER • O amor à liberdade resiste na Gdansk de Walesa • Cinco décadas de mudanças na Polónia 22 | MÃOS À OBRA Centro de formação profissional afasta mulheres da prostituição 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Cantinho para rezar 26 | TEMPO JOVEM Abraços grátis

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

28 | SEMENTES DO REINO No primeiro dia da semana 30 | VIDA COM VIDA Só é nosso aquilo que damos 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

O bálsamo da misericórdia Não tenho dúvidas. O Papa Francisco foi uma bênção para a Igreja e para o mundo. Pela maneira como entende o nosso tempo, pelo frescor das suas palavras, pela simplicidade com que se aproxima de todos, pela profundidade com que fala ao coração das pessoas. É por isso que não entendo as reticências de alguns, sobretudo dentro da Igreja, com medo não sei de quê. De ser demasiado liberal? De abrir demais a Igreja ao mundo? De querer uma Igreja mais próxima das pessoas? O Evangelho não aponta outro caminho. Vem isto a propósito da “misericórdia”. É a palavra, o conceito que mais nos elucida sobre o coração deste Papa, o seu testemunho, a sua vida. E que resume a sua missão de pároco, de arcebispo, de Pontífice. Diria mais: de homem sério, que analisa os problemas da humanidade em vista de soluções. É um presente para o nosso tempo, tão necessitado de misericórdia. Li de enfiada o livro “O nome de Deus é misericórdia” que confirma o que acabo de dizer. É um texto ágil e cativante onde Francisco, com simplicidade e preocupação consciente procura fazer compreender a todos que não há homem nem mulher sobre o qual não se pouse o olhar misericordioso de Cristo e não existe culpa que não possa ser perdoada. A partir daqui entende-se melhor o lema “Miserando atque eligendo”, isto é, “Por misericórdia o escolheu”, que ele colocou no seu brasão episcopal e que explica a sua própria vocação e o seu programa 04

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de vida, inclusive a consciência de ser também ele necessitado de misericórdia. E também se explica a proclamação do Jubileu da Misericórdia e a apresentação da Igreja como “um hospital de campo” e uma comunidade, chamada a aquecer o coração das pessoas com a proximidade e a vizinhança. Leio a mensagem do Papa para esta Quaresma e o acento é o mesmo. Por isso convida cada cristão a fazer pessoalmente experiência de misericórdia, porque é a misericórdia de Deus que transforma o coração do homem, que lhe faz experimentar o seu amor fiel e o torna, por sua vez, capaz de gerar misericórdia. Aquilo que a Igreja chama de “obras de misericórdia” são “os atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados”. São uma maneira de “acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida, perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”, conclui Francisco na sua mensagem. Não basta lê-la, é preciso praticá-la. Darci Vilarinho

Aquilo que a Igreja chama de “obras de misericórdia” são uma maneira de “acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida, perante o drama da pobreza”. Não basta lê-la, é preciso praticá-la


PONTO DE VISTA

JOVENS INTERESSADOS NO RELIGIOSO CARLOS LIZ . ESPECIALISTA EM ESTUDOS DE OPINIÃO .

De janeiro a dezembro de 2015 foram entrevistados cerca de 1.700 jovens adultos portugueses sobre a temática do religioso. O inquérito nasce de uma saudável necessidade da CIRP: é preciso conhecer mais de perto o que sentem e pensam os jovens acerca da religião, da Igreja Católica, que mensagens captam e como as avaliam. A iniciativa insere-se no Ano da Vida Consagrada e pretende contribuir para uma nova gramática de proximidade. Os resultados obtidos mostram-se surpreendentes quanto ao interesse pelos temas religiosos e espirituais: 72 por cento diz que interessam. A visita a templos em turismo, ver filmes, séries ou ler livros sobre estas temáticas são referidas como práticas frequentes. Menos surpreendente é, entretanto, a maioritária simpatia (70 por cento) e interesse, ou mesmo concordância, face ao Papa Francisco – sempre com percentagens superiores a 50 por cento em qualquer uma destas dimensões. A Igreja, enquanto instituição, bem como padres e freiras recebe entre 20 e 30 por cento das respostas favoráveis. A avaliação feita, entretanto, da prestação de ajuda da Igreja em Portugal às populações mais carenciadas divide a amostra ao meio: uma grande ou alguma ajuda recolhe 49 por cento de opiniões, ficando os 51 por cento distribuídos entre uma ajuda pequena ou nenhuma. Um terço dos jovens entrevistados confessa não fazer ideia nenhuma do que seja a vida consagrada. Para os

que tentam uma definição, ela surge sob uma forma mais institucional – parte da Igreja, clero – enquanto outro terço intui que se tratará de algo mais intenso na relação com o sagrado, trazendo consigo uma vida mais realizada, com paz interior. Numa leitura mais atenta, e juntando uma componente mais qualitativa deste estudo, observa-se que em torno da vida consagrada se juntam outros dois traços distintivos desta forma de vida: a convergência paritária do feminino e do masculino, das religiosas e religiosos, e a ideia da viagem, sobretudo das missões, que se interpretam como sinal de desprendimento. O estudo continha ainda um conjunto de 46 notícias, distribuídas ao longo dos 12 meses de inquérito, sendo pedido aos entrevistados que indicassem se já as conheciam, onde as tinham visto, qual a sua reação imediata e em que medida modificavam a imagem que já tinham da Igreja. As notícias com maior notoriedade e impacto são as relativas ao Papa, sendo muito valorizada a sua coragem em enfrentar situações complexas e em alinhar a Igreja com os grandes problemas contemporâneos como a pobreza, a corrupção e o ambiente. A figura de Francisco, enquanto pessoa concreta que fala para pessoas concretas em múltiplos cenários é vista como sinal de revitalização de uma instituição até há pouco tempo muito distante. Para a vida consagrada abre-se a oportunidade de contar as suas histórias, revelar os seus carismas.

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horizontes

Surfando no Sonho Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Uma prancha e vela de windsurf enfeitavam o palco do auditório. De pé ao lado da prancha, João, o atleta de vela sete vezes olímpico, parecia muito pequeno. Tinha uma pele marcada pelo sol, sorriso transparente, olhar vivo, tranquilo. Na assembleia, os alunos: jovens e adultos, cansados de um dia de trabalho, em busca de um sonho: concluir a escolaridade obrigatória. Todos conheciam o João pelos meios de comunicação social. Tê-lo na escola era um acontecimento importante. Os alunos eleitos para “conversar com o João” subiram ao palco. Cumprimentaram-se e… Surpresa! Que mãos tão calejadas, as do João! Eram calos de quem insiste, insiste e nunca desiste. A conversa começou. João era pessoa de poucas palavras. Era mais de riso. Mas quando falava, dizia certezas, num misto de simplicidade e felicidade que queria partilhar. – João, como é ser-se um atleta tão importante? João deu uma gargalhada: bem, eu só tento o meu melhor. Nelson Mandela disse na ONU que “se nos fazemos pequeninos, menores, não ajudamos ninguém, não ajudamos o mundo. Ao nos libertarmos dos nossos medos, a nossa conquista ajuda a libertar o medo dos outros”. A equipa com quem trabalho diariamente ajuda-me a ultrapassar os meus medos. As minhas vitórias são vitórias da equipa. – E quando não consegue bons resultados? Mais uma gargalhada, e com humor, brinca: – Isso aí, dói! E acontece muitas vezes. Nesses momentos, tento ver o resultado como uma lição, e aprender a lidar com os meus erros – com compaixão. Sei que não serei sempre vencedor. Aprendi que “todos os dias são dias para viver”, intensamente, com vitórias ou com derrotas. Essa descoberta deu-me muita tranquilidade. O que insisto é em preparar-me no

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meu melhor e fazer o meu máximo. O resultado? Aceito. Os interlocutores continuaram: – Ter uma profissão e simultaneamente ser atleta olímpico, obriga a fazer muitos sacrifícios? – Sacrifícios? Não! Ou melhor: sem dor e sem esforço, não há evolução, não há conquistas. Mas não sinto isso como sacrifício! É apenas persistência na luta pela perfeição. Esse esforço transforma-se em motivo de realização. João olhou a assembleia: olhares atentos, sonhadores. Sensibilizado, adiantou. – Vocês e eu, que diferenças veem? Eu vejo-nos a todos na mesma prancha, trabalhando pelos nossos objetivos. Definimos as conquistas que nos realizam e fazemo-las acontecer. Deixa de ser sacrifício, passa a ser “realização”. Alguém da assembleia quis saber: – Para chegar a este nível de realização, por onde começar? – O meu começo foi assim – e ainda é assim: parar, refletir, aprender! Se escolho viver uma vida com significado, preciso aprendê-la, conquistá-la e merecê-la. As derrotas, as vitórias, são apenas lições para a perfeição. E neste percurso, podemo-nos divertir a ser os melhores do mundo, sempre mais um pouco – em equipa! Eu não dispenso isso. Fez-se um silêncio como se ninguém quisesse perturbar o momento. Como se cada um se visse a velejar na sua prancha em busca dos seus sonhos – num mar cheio de velejadores, cruzando a meta, não importa em que lugar. E pelo caminho, a alegria de estarem em movimento, juntos, em equipa, contornando obstáculos e aproveitando ventos, em busca da perfeição.


destaque

na Europa. Ameaçámos a Grécia de a retirar dos acordos de Schengen, caso não proceda a um maior controlo sobre as suas fronteiras, mas é-se menos claro a definir como o fazer.

Dez vezes mais refugiados em janeiro

Fluxo de refugiados poderá aumentar em 2016

E a Europa dos valores? Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

Por certo, que os desafios que a Europa enfrenta face ao número de refugiados que a ela recorrem não são pequenos. Mas é nos momentos difíceis que temos de demonstrar que estamos à altura dos valores que defendemos em tempo de bonança

Refugiados a quem são confiscados os bens pessoais, para pagar as despesas da sua estadia na Dinamarca; medidas impeditivas do reagrupamento familiar; levantamento de vedações junto às fronteiras; suspensão dos acordos de Schengen, de livre circulação de pessoas no interior do espaço europeu; retirada da nacionalidade a pessoas acusadas de terrorismo… A Europa dos valores estará a ceder a uma Europa barricada no seu medo? Entusiasmámo-nos com a Primavera Árabe que percorreu desde o Norte de África ao Médio Oriente, na esperança de uma mudança. Apoiámos a queda dos regimes mais débeis e tentámos ignorar a guerra nos países mais poderosos. Fomos uma audiência comovida perante as imagens do corpo do pequeno Alan nas costas da ilha grega de Kos, mas assustámo-nos perante as golfadas de refugiados que procuravam entrar

Só em janeiro, chegaram à Grécia e a Itália cerca de 370 mil refugiados, um número dez vezes superior ao verificado no ano passado e estima-se que o fluxo, em 2016, será superior ao que se verificou no ano passado. Perante o agravamento do problema, a Europa não consegue definir uma política comum. Perante a incapacidade de impor o mitigado plano de acolhimento de refugiados, a Europa deixa-se enredar em medidas defensivas por cada um dos seus Estados membros, muitos deles a braços com o poder crescente dos partidos de extrema-direita, a ameaça do terrorismo e a crise económica. Países que inicialmente assumiram uma atitude mais proativa vão-se fechando, alegando serem incapazes de enfrentar o fluxo de emigrantes. A atitude da Europa não pode deixar de parecer mesquinha, perante os números registados no ano passado nos países vizinhos da Síria. Segundo dados da Comissão Europeia e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), referentes a 2015, nos últimos quatros anos a Turquia recebeu um milhão e 900 mil sírios, o Líbano um milhão e 100 mil, e a Jordânia, cerca de 700 mil. Por certo, que os desafios que a Europa enfrenta face ao número de refugiados que a ela recorrem não são pequenos. Mas é nos momentos difíceis que temos de demonstrar que estamos à altura dos valores que defendemos em tempo de bonança.

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mundo missionário

por E. assunção

Colômbia

ARCEBISPO DE TUNJA INCITA FORÇAS REVOLUCIONÁRIAS A DEPOR ARMAS O presidente da Conferência Episcopal da Colômbia avisa as Forças Armadas Revolucionárias (FARC) que devem depor ou destruir as armas “se querem verdadeiramente a paz”. Para fazer parte de um autêntico processo político, explicou o arcebispo Augusto Castro, que é missionário da Consolata, as FARC deverão entregar as armas. “É importante simplesmente porque não pode haver um movimento político armado, o que as FARC sempre foram, pelo que o sinal maior que devem dar é esse mesmo: dar um passo na direção oposta se querem verdadeiramente a paz”. De inspiração comunista, as FARC proclamam-se uma organização revolucionária marxista-leninista, que luta pela implantação do socialismo na Colômbia através da guerrilha. O governo colombiano considera-as uma organização terrorista que ocupa uma boa parte do território colombiano, principalmente nas selvas do sudeste e nas planícies localizadas na base da Cordilheira dos Andes. Controlam a maior parte do tráfico da cocaína dentro da Colômbia, alimentando o mercado mundial. Segundo informação da Rádio Vaticana, de meados de fevereiro, o Papa Francisco irá à Colômbia em 2017, com o objetivo de um acordo de paz entre o governo de Bogotá e as FARC. Em conferência de imprensa para anunciar a próxima viagem pastoral do Papa à Colômbia, o arcebispo Augusto Castro reiterou que não faz sentido as FARC continuarem com a posse de armas. O presidente da Conferência Episcopal afirmou que o Papa “quer encontrar o maior número possível de colombianos”, mas ainda “não está decidido onde irá”. E concluiu: “O Santo Padre segue o processo de paz, está interessado em evitar punições de prisão e apoia uma justiça de transição”.

Malawi

Falta de alimentos e medicamentos põe em risco a vida dos malavianos

“As pessoas estão a morrer de doenças facilmente curáveis; os pobres não conseguem comprar medicamentos nas farmácias”, denuncia a Comissão Nacional de Justiça e Paz. Este pequeno país, vizinho de Moçambique, está a atravessar uma crise económica gravíssima. As pessoas estão a comprar medicamentos no mercado negro, “o que representa uma grande ameaça para a saúde”. A situação é de tal maneira grave que é frequente o roubo de medicamentos. A Comissão Justiça e Paz lançou um apelo ao governo para “garantir o direito à alimentação e aos serviços de saúde essenciais a todos os cidadãos do Malawi, fornecendo milho” e fazendo que “as farmácias recebam stocks adequados de medicamentos”. Recomenda que sejam feitos todos os esforços “para que a vida das pessoas não seja posta em risco”. 08

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MUNDO MISSIONÁRIO FILIPINAS

POBRES ENTRE OS POBRES ENSINAM A MISERICÓRDIA E A ESPERANÇA

“Aqueles indígenas são os mais pobres entre os pobres; vivem na zona mais periférica do país; abandonados pelas instituições do governo”, relata o professor Karl Gaspar, depois de uma conferência em Cebu, nas Filipinas. Mas estes

pobres são mestres de esperança. “Sabem confiar em Deus, apesar dos males que os circundam; Deus escuta os seus lamentos e nutre a sua capacidade de recuperação, dotando-os de um sentido de humor e de serenidade face às preocupações”.

SUDÃO DO SUL

REFUGIADOS SUDANESES PEDEM ESCOLA E ALIMENTAÇÃO EM VEZ DE BOMBAS

Cerca de 60 por cento dos refugiados sudaneses são menores e a grande maioria anda à procura de uma escola. Fugindo à guerra, tentam chegar à cidade de Yida, na região do Kordofan meridional, a 20 quilómetros

da fronteira, que já acolhe mais de 70 mil refugiados. As autoridades locais procuram aliviar a pressão sobre a cidade, transferindo-os para o campo de Ajuong Thok, mais a sul, oferecendo-lhes aí melhores serviços com a ajuda de organizações humanitárias. Mas os refugiados preferem manter-se em Yida, um centro económico importante, com mercados, serviços de transporte, escolas primárias e indústria agrícola, com melhores condições. Embora continue a ser um dos países mais pobres do mundo, o Sudão do Sul acolhe 263 mil refugiados de vários países da região, podendo brevemente atingir os 300 mil. Um quarto da população local necessita urgentemente de ajuda alimentar.

ÍNDIA

SOBREVIVENTES DOS MASSACRES DE ORISSA LUTAM PELA JUSTIÇA

Durante quatro meses, em 2008, Kandhamal, na parte oriental de Orissa, foi palco da pior violência anticristã nunca antes vista na Índia moderna. Provocou mais de 90 mortos e 50 mil deslocados, expulsos de suas casas e aldeias. Cerca de 100 sobreviventes reuniram-se pela primeira vez no início de fevereiro. “O encontro propõe-se dar esperança e construir a solidariedade entre os sobreviventes que perderam os seus familiares”, explica o ativista dos

direitos humanos, o sacerdote Ajay Singh. “Há pais que perderam os filhos, crianças que perderam os pais, maridos que perderam as esposas, esposas que perderam os maridos, pessoas que perderam todos os bens e que ficaram com a vida toda transtornada”. Apesar do sistema de justiça falimentar, “os parentes das vítimas têm processos em tribunal com grande medo, uma vez que os acusados podem intimidar as testemunhas”.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

ROMA CIDADE BLINDADA Recordo que pouco tempo depois da revolução de abril de 1974 corriam em Portugal vozes de iminentes carnificinas e até houve quem tentasse dissuadir os peregrinos que se dirigiam para Fátima a pé falando-lhes de bombas e tiroteios. Recordo também que o número de peregrinos nem por isso diminuiu. Em Roma nestes dias passa-se algo de semelhante pois à volta dos grandes monumentos como é o caso da Praça e Basílica de São Pedro amontoam-se soldados, polícias, ambulâncias e até bombeiros, todos de prevenção contra um possível ato de terrorismo. A quem quiser visitar os lugares sagrados ou algum grande monumento como o Coliseu o espetáculo de todo este aparato militarizado só traz vontade de desistir. O Papa Francisco bem insiste na necessidade de abrir portas e criar pontes, ou seja, de favorecer o diálogo entre os povos, mas a política é mais propensa a fechar que a abrir. Em todo o caso também em Roma o número de turistas e peregrinos nem por isso tem diminuído. Bem sabemos que não é blindando que se consegue a paz mas sim amando e dialogando. Peçamos que a vitória de Jesus ressuscitado sobre o ódio e sobre a morte nos faça construtores de paz.

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a missão hoje

Presença em Angola é história com futuro Como ‘prémio’ pelo trabalho pastoral desenvolvido pelos três primeiros missionários da Consolata em Angola, o bispo da diocese de Viana convidou-os a fundar uma paróquia. Instituto estuda a abertura de duas novas missões no país africano Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

Grupo de cristãos angolanos participa em celebração ao ar livre na região de Kapalanga

A presença dos Missionários da Consolata em Angola ainda não completou dois anos, mas o Superior Regional de Moçambique, Diamantino Antunes, já antevê “uma história com futuro” para as missões em terras angolanas. Depois de uma visita ao país, o sacerdote constatou que a Igreja Católica está bem “viva e ativa, pastoral e socialmente”, o que oferece excelentes condições para a possível abertura de mais duas frentes de missão, ainda este ano. Para já, foram escolhidas duas dioceses como hipótese. 10

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“A diocese de Caxito, não muito distante de Luanda, e a diocese de Luena, na província de Moxico, a cerca de 1.250 quilómetros da capital. Luena encontra-se no extremo leste do país e faz fronteira com o Congo e a Zâmbia. Tem uma extensão de 223 mil quilómetros quadrados, duas vezes e meia maior que o território de Portugal, e apenas 750.000 habitantes. É a maior diocese de Angola e tem pouco mais de duas dezenas de sacerdotes”, revela Diamantino Antunes à FÁTIMA MISSIONÁRIA.


perfil solidário

Mas enquanto não se toma uma decisão definitiva, as atenções continuam centradas na paróquia de Santo Agostinho de Kapalanga, na periferia de Luanda, e no trabalho dos três jovens missionários – Silvestre Ogutu (queniano), Fredy Pérez (colombiano) e Dani Gonzalez (venezuelano). “Quando os missionários chegam a um novo país, a prioridade é ir trabalhar nos lugares mais isolados, num contexto rural, onde tudo falta e é necessário começar do nada. A nossa experiência em Angola é um pouco atípica. Optámos primeiro pela periferia urbana de uma grande cidade, Luanda, onde está concentrada cerca de metade da população angolana, devido à longa guerra civil que dilacerou o país”, explica o missionário português. A capital angolana e a sua grande periferia conta com uma população de aproximadamente 8,3 milhões de habitantes. Depois de 2002, a zona urbana sofreu uma grande transformação, com a construção de novos prédios e grandes infraestruturas. O novo passou a conviver com o antigo, o rico com o pobre, o luxo com o lixo. É neste ambiente de contrastes que vivem os três missionários da Consolata. Habitam uma casa alugada, como a maior parte das famílias, e percorrem o imenso bairro de Kapalanga, a pé ou de transportes públicos, para conhecerem os fiéis e prestarem assistência religiosa nas sete capelas existentes no território. Após um ano de trabalho pastoral, e como reconhecimento da maturidade da comunidade cristã que acompanham, o bispo da diocese de Viana, Joaquim Lopes, decidiu criar e entregar-lhes a nova paróquia de Santo Agostinho de Kapalanga. E a população não se tem poupado a esforços para os ajudar a fortalecer a obra. “Tudo quanto se tem realizado, tem-se feito com contribuições locais: a vedação do terreno da paróquia, a legalização dos terrenos das capelas e até a construção do salão-igreja que está concluído. O estado da paróquia é saudável e o seu crescimento é possível porque os fiéis sabem partilhar os seus bens”, sublinha Diamantino Antunes.

Tratar da saúde aos sem-abrigo Texto | FP

Começou a prestar cuidados de saúde a pessoas em situação de sem-abrigo há mais de oito anos, em várias zonas da capital, e acabou por fundar, com um grupo de amigos, a Associação Vox Lisboa, a que preside. Hugo Martins, 29 anos, médico de Medicina Interna no Hospital de São José, atribui à educação católica a sua visão de entrega ao outro e parte do princípio que “a palavra pode ser tão potente como qualquer medicamento”. E é com base nesta máxima que lidera uma equipa de 45 profissionais de saúde voluntários, e outros 60 especializados noutras áreas, que saem periodicamente à rua para assegurar o desenvolvimento sustentável de atividades de acompanhamento e de promoção da saúde física, mental e social das pessoas em situação vulnerável. Ao mesmo tempo, estes voluntários deslocam-se também às faculdades de medicina para ensinar competências relacionais aos estudantes e passar a mensagem de uma medicina mais humanizada. “Às vezes, temos de desligar do que aprendemos na faculdade porque nos livros não vêm pessoas, só doenças”, disse recentemente à revista Visão, de quem recebeu uma Menção Honrosa pelo trabalho solidário de auxílio às pessoas sem-abrigo.

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a missão hoje COMUNIDADE ECUMÉNICA DE BOSE

Fraternidade, Oração, Trabalho, Acolhimento

Enzo Bianchi fundou a Comunidade Ecuménica de Bose, nas periferias de Milão (Itália). Tem membros católicos, protestantes e ortodoxos. Homens e mulheres. Os Monges e as Monjas optam por um estilo de vida simples assente na oração, no trabalho, no acolhimento, na fraternidade

Entrevista | TONY NEVES Foto | João C. Fernandes

Qual o dia a dia da comunidade?

Vivemos do trabalho, temos o ofício de leitura, como os monges. Quanto à vida comunitária, o que é mais particular é que somos homens e mulheres que vivem lado a lado. Partilhamos a mesma oração, mas temos espaços de habitação diferentes. Fazemos apenas uma ou duas refeições em conjunto durante a semana. Existe pois uma estrutura paralela entre homens e mulheres, mas autónoma. E a comunidade é constituída de católicos, protestantes e ortodoxos. Penso que será a única comunidade monástica com estas características. Estamos sempre de portas abertas para acolher quem chega.

Como nasceu a comunidade ecuménica de Bose?

Este nascimento não tem nada de extraordinário. No final dos meus estudos universitários, eu tinha já traçado uma carreira política, assumindo responsabilidades de secretário num partido político italiano – a democracia cristã. Três meses com o Abbé Pierre e a leitura das regras de São Basílio foram acontecimentos que marcaram a grande viragem da minha vida, com o abandono da política ativa. Também foi importante o facto de, na universidade, reunir um grupo de jovens universitários protestantes, católicos e ortodoxos, o que me deu a oportunidade de ter uma atenção especial ao ecumenismo. Então eu senti que a minha vocação era a vida monástica mas, sinceramente, eu não tinha nenhuma experiência de vida monástica. Nunca tinha estado num 12

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mosteiro mas conhecia o suficiente da vida monástica especialmente de São Basílio e São Bento. Em Bose, fiquei três anos sozinho até que, no verão de 1968, um jovem italiano, um jovem suíço e uma jovem italiana vieram ter comigo e me disseram que podiam viver comigo e fazer comunidade. Levamos uma vida pobre, sem eletricidade (chegou em 1978). Em novembro de 68 começámos quatro e, pouco a pouco, foram chegando outros. Passados cinco anos, em 1973, fizemos os votos de profissão monástica baseados na regra que eu tinha escrito e tínhamos adotado como regra de comunidade. E a partir daí fomos crescendo extraordinariamente, pois outras pessoas foram chegando e integrando a comunidade. Atualmente, somos 95 membros. Além de Bose, temos quatro Fraternidades.

Que melhor vos caracteriza?

A nossa Regra assenta no celibato e na vida de comunhão, até morrer. Claro que na comunidade os bens são comuns e partilhados por todos e fazemos o voto de obediência à comunidade, à regra de vida, ao Prior. Por isso, fazemos uma vida em comum com a mesma regra, o mesmo envolvimento. Não temos iniciativas pastorais, fazemos a Lectio Divina, acolhemos quem chega. O que verdadeiramente é importante para nós é a humanidade simples partilhada pelo trabalho, trabalhando com os outros e acolhendo quem nos visita. O que ganhamos é o fruto do nosso trabalho manual. Quanto às Fraternidades fora de Bose, todas elas estão inseridas na diocese local, pois não queremos fazer nada que vá contra a hierarquia. Texto conjunto MissãoPress


FÁTIMA INFORMA

Rumo à misericórdia

A Peregrinação Diocesana de Leiria-Fátima vai realizar-se dia 13 de março. Este ano, a jornada decorre sob o tema “Peregrinação da Misericórdia”, para recordar que este valor é um objetivo a atingir e um longo caminho a percorrer.

Alegria em conferência

Semana Santa vivida com “intensidade” A paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo vão ser recordadas no Santuário de Fátima através de um conjunto de celebrações

O padre Luís Manuel Pereira da Silva, do Patriarcado de Lisboa, vai conduzir a conferência “Alegremo-nos e façamos festa”, dia 13 de março, às 16h00, no salão da Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.

Órgão restaurado

O Órgão de Tubos da Basílica de Nossa Senhora do Rosário será inaugurado com um concerto no próximo dia 20 de março, às 15h30. O instrumento, instalado em 1952, foi alvo de um restauro por uma empresa italiana especializada.

Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

A Semana Santa vai ser vivida no Santuário de Fátima “com especial intensidade”, assinala o padre Carlos Cabecinhas, reitor do local de culto da Cova da Iria. O Tríduo Pascal, assinalado entre os dias 24 e 26 de março, contempla “a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão e Morte de Jesus e a solene Vigília Pascal”, destaca o sacerdote.

Agenda

MARÇO

“A estes momentos, acrescentamos as horas de Laudes e Vésperas, mas igualmente a oração na agonia do Senhor, a via-sacra e as celebrações marianas de sábado santo que nos ajudam a esperar a ressurreição de Jesus com Maria e como Maria”, adianta o reitor.

DIA 5 e 6 Retiro no Seminário da Consolata: "Contemplar o mistério da misericórdia"

Nestes dias o resultado dos ofertórios reverterá para os pobres e para os lugares santos de Jerusalém. Carlos Cabecinhas recorda que a “história cristã nasce na Páscoa” e destaca que o Tríduo Pascal “constitui o verdadeiro centro de todo o Ano litúrgico da Igreja”. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, o reitor do Santuário de Fátima deixa ainda “votos de Santa Páscoa” a todos os fiéis.

DIAS 4 e 11

Cinema Con|vida – Auditório do Consolata Hotel (ex-Hotel Pax)

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Padre Albino Brás durante a consagração a Nossa Senhora da Consolata, no final da 26ª Peregrinação da Família Missionária da Consolata a Fátima, a sul do país. A Peregrinação esteve integrada nas celebrações do encerramento oficial do Ano da Vida Consagrada

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Fátima Missionária


atualidade

Peregrinos chamados à solidariedade O exemplo dos consagrados e a aproximação dos fiéis a Nossa Senhora marcaram a Peregrinação da Família Missionária da Consolata, que deixou um convite aos participantes: fazerem-se próximos dos que mais precisam

Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA GONÇALVES / ANA PAULA

em que participaram milhares de peregrinos de norte

Alegria, fé, encontro e convívio deram vida à 26ª Peregrinação Anual da Família Missionária da Consolata a Fátima, com um programa que contemplou a recitação do terço na Capelinha das Aparições, uma Eucaristia, uma passagem pela Aldeia Missionária e a consagração a Nossa Senhora. Este ano, as atividades da peregrinação, que decorreu a 7 de fevereiro, integraram-se nas celebrações do encerramento do Ano da Vida Consagrada, organizadas pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), à qual pertence o Instituto Missionário da Consolata (IMC). A Missa na Basílica da Santíssima Trindade (Santuário de Fátima) foi presidida por Manuel Quintas, bispo do Algarve, em representação do cardeal-patriarca de Lisboa. Durante a celebração que marcou o encerramento do Ano da Vida Consagrada, o prelado agradeceu em nome da Igreja portuguesa aos consagrados e consagradas pelo seu testemunho, e convidou-os a renovarem as suas vocações. Para o bispo, o ano que agora chegou ao fim, não deve ser visto como o desfecho de um trajeto, mas o início

de uma nova caminhada, mais apaixonada e reforçada na fé. “Fomos todos convidados a acolher e a escutar a Palavra de forma diferente”, disse o prelado, acrescentando, que agora os consagrados e consagradas devem recomeçar a missão “com mais energia, entusiasmo e paixão”. Por sua vez, António Fernandes, Superior Provincial dos Missionários da Consolata em Portugal, pediu aos membros da Família Missionária da Consolata que se façam próximos dos que mais precisam e lhes manifestem “o amor e carinho de Deus”. O sacerdote recordou o padre Carlos Domingos, o missionário da Consolata português que faleceu de acidente, no início do ano, na Etiópia, para pedir a todos que se unam em oração pelos missionários espalhados pelos quatro continentes. Foi precisamente o trabalho dos missionários e missionárias da Consolata no mundo que esteve em destaque na Aldeia Missionária, instalada no pavilhão multiusos da Consolata. Nesse espaço, os peregrinos tiveram oportunidade para conhecer as missões no continente europeu, americano, africano e asiático, através do vestuário tradicional coreano ou da réplica de uma

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Aldeia missionária deu a conhecer o trabalho dos missionários nos quatro continentes através de imagens, vídeos e trajes tradicionais

Peregrinos recordam a história do Instituto Missionário da Consolata em Portugal, enquanto os mais pequenos eram desafiados a preencher com desenhos o mapa de África

Um momento de descontração após o testemunho missionário sobre a presença da Consolata na Coreia do Sul, na Ásia

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Fátima Missionária


Peregrinos dirigem-se em procissão para a Basílica da Santíssima Trindade onde decorreu a Eucaristia de encerramento do Ano da Vida Consagrada

No dia que marcou o encerramento do Ano da Vida Consagrada, o testemunho de vida de religiosos e religiosas esteve bem presente no pensamento dos milhares de peregrinos de todo o país que rumaram à Cova da Iria

maloca (espaço de habitação de indígenas da América Latina), bem como de testemunhos missionários, fotografias, vídeos, mapas e vários objetos. Coube a um grupo de jovens encerrar esta atividade com uma dramatização que convidou os presentes a levar a paz pelo mundo. No dia que marcou o encerramento do Ano da Vida Consagrada, o testemunho de vida de religiosos e religiosas esteve bem presente no pensamento dos milhares de peregrinos de todo o país que rumaram à Cova da Iria. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, os fiéis identificaram características dos consagrados que tanto admiram, como a capacidade para apoiarem, escutarem, acolherem e transmitirem esperança, sempre com um sorriso no rosto. “Os sacerdotes são muito amigos de nos ajudar. Se estamos tristes, eles colocam-nos um sorriso no rosto e conseguem fazer-nos rir”, disse Arminda Marçal, 88 anos, de Cardigos, Mação.

Manuel Quintas, bispo do Algarve, agradeceu o testemunho dos consagrados e consagradas em nome da Igreja

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POLร NIA 18

Fรกtima Missionรกria


DOSSIER

O amor à liberdade resiste na Gdansk de Walesa Junto aos estaleiros onde em 1980 o Solidariedade desafiou o regime comunista acumulam-se os monumentos a essa luta pela democracia que mudou a Europa. Polacos já ouvem pouco Walesa, o homem, mas admiram a lenda

Texto e fotos | LEONÍDIO PAULO FERREIRA em Gdansk*

De repente, ouvem-se palavras em espanhol. “Mira, mira, es Juan Pablo II”, aponta uma jovem às amigas, surpreendida por a fotografia do falecido Papa estar afixada no portão azul que dá acesso aos estaleiros navais de Gdansk. São oito as espanholas e, apesar do frio que se sente no Báltico, vieram conhecer a antiga Dantzig, cuja traça arquitetónica alemã dá-lhe fama como uma das cidades mais belas da Polónia. Contudo, foi o que se passou nas décadas de 1970 e 1980 mesmo aqui nos então Estaleiros Lenine que pôs Gdansk, desde a Segunda Guerra Mundial 100 por cento polaca, no mapa mundial. Liderados por um eletricista chamado Lech Walesa, os trabalhadores lutaram pelo direito à greve, desafiaram a ditadura comunista e no final acabaram por impor ao regime as cedências que trouxeram a democracia. Karol Wojtyla, o cardeal de Cracóvia eleito Papa em 1978, foi sempre uma referência para Walesa e para o seu sindicato, o Solidariedade. Não admira pois a foto no portão, ainda hoje, de João Paulo II, Jana Pawla II em polaco.

“Tenho memória do dia em que decretaram a lei marcial. Tinha 11 anos. Vínhamos da igreja e estava muita neve. Não paravam de prender pessoas”, conta Katarzyna Bartkiewicz, referindo-se a esse 13 de dezembro de 1981 em que o regime comunista decidiu esmagar o Solidariedade. Hoje com 45 anos, Bartkiewicz é responsável pelo Departamento Internacional do Solidariedade, que há muito deixou de ser um movimento político, mas persiste como central sindical, “a maior da Polónia”. A sede da central sindical em Gdansk, um edifício em cujo topo se pode ler Solidarnosc, fica mesmo junto aos estaleiros onde Walesa impressionou com o seu carisma. “Hoje não há grande química entre o Solidariedade e Walesa”, confessa Bartkiewicz, pois o antigo eletricista fez carreira política, foi mesmo eleito Presidente da Polónia em 1990, e com as suas ideias foi-se afastando pouco a pouco das origens, mesmo continuando a viver em Gdansk. Há quem diga que à medida que foi perdendo os seus conselheiros, Walesa começou a falar do que não sabia e a afastar-se do povo. Certo

é que perdeu a reeleição em 1995 e em 2000, quando voltou a concorrer, obteve 1,4 por cento dos votos. Há, pois, a lenda e o homem. “Para mim Walesa é sobretudo a lenda, um homem que fez um grande trabalho”, afirma Anna Fedas, que trabalha no gabinete de ações cívicas do Europejskie Centrum Solidarnosc – ECS, o Centro Europeu Solidariedade, cuja sede é um bloco enorme cor de ferrugem que surge à esquerda assim que se ultrapassa o portão de entrada nos estaleiros. Além de uma completa exposição dedicada a Walesa e ao Solidariedade, mostrando como o desafio aos comunistas na Polónia acabou por trazer a democracia a toda a Europa de Leste (1989, o ano da vitória do Solidariedade nas eleições foi também o da queda do Muro de Berlim), o ECS tem uma série de projetos que visam promover os direitos humanos e não apenas no país. Dão formação a ativistas de países como a Rússia, a Bielorrússia e a Ucrânia e ainda, acrescenta Fedas, “fazemos uma ação sistemática junto das escolas e da população de Gdansk em geral, de modo a manter viva

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São muitos os monumentos em Gdansk à luta pela democracia, como as três cruzes gigantes que lembram as vítimas da repressão policial de 1970. Mas para os jovens, como Joanna Wisniowska, jornalista do Gazeta Wyborcza, passa-se junto a eles quase sem os notar, pois contam episódios já distantes

a ideia do Solidariedade”. Um dos projetos visa arranjar pessoas que queiram ser patronos de refugiados, confirmando Gdansk como cidade liberal, uma tradição que vem de ser um porto comercial. Walesa tem direito a um gabinete do ECS, mas não dirige o centro, explica Fedas. Mesmo assim, é comum os visitantes perguntarem se o sindicalista, agora com 72 anos, está e se é possível tirar uma foto. Hoje, o fundador do Solidariedade não está, é possível que tenha viajado, pois a popularidade no estrangeiro continua enorme para o vencedor do Nobel da Paz de 1983. São muitos os monumentos em Gdansk à luta pela democracia, como as três cruzes gigantes que lembram as vítimas da repressão policial de 1970. Mas para os jovens, como Joanna Wisniowska, jornalista do Gazeta Wyborcza, passa-se junto a eles quase sem os notar, pois contam episódios já distantes. Mas como sublinha a jornalista de 28 anos, “para os nossos pais e avós é uma época que estão sempre a recordar. Para aqueles que estiveram do lado certo foram os melhores anos da vida deles, apesar da repressão”. Walesa, pai de oito filhos, tinha um carisma único, capaz de motivar os trabalhadores. Mas o sucesso da sua luta só foi possível graças ao apoio dos bispos polacos, defensores da alma da nação mesmo quando o Estado desapareceu entre 1795 e 1918, e dos conselhos de intelectuais como Andrzej Celinsky. Para este académico de Varsóvia, que em 1980 veio para Gdansk para ajudar o Solidariedade, é grande o orgulho

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Fátima Missionária

no conseguido, mas nota-se alguma apreensão com o futuro, pois desde o ano passado o partido Direito e Justiça (PiS) controla a presidência, o governo e até o parlamento com maioria absoluta. “Mas estou certo de que o povo polaco acabará por correr com Kaczynski e o seu partido”, diz Celisnsky, que chegou a ser ministro da Cultura, referindo-se a Jaroslaw Kaczynski, que é tido como o verdadeiro poder por trás do Presidente Andrzej Duda e da primeira-ministra Beata Szydlo. Tem havido protestos contra o PiS, acusado de querer controlar a televisão pública e de se preparar para governar com mão de ferro. A própria União Europeia já se mostrou preocupada com o desrespeito pelos valores europeus e até Walesa criticou o estilo autoritário dos novos governantes. Mas há também muito apoio ao PiS, um partido que é à direita do ponto de vista moral, mas à esquerda quando se trata de questões sociais. Por exemplo, quer mais taxas aos bancos, como o português Millenium muito presente na Polónia, para poder oferecer um subsídio às famílias com dois ou mais filhos. A dúvida é se a economia polaca, apesar de ter crescido 3,9 por cento no ano passado, pode pagar essa generosidade. A jornalista Wisniowska, por seu lado, agradece a Walesa a democracia onde cresceu. E diz gostar de viver numa cidade marítima, “de mente aberta”, mas lembra que “a democracia no nosso país é jovem e tem de ser regada, todos os dias, como uma planta bela mas frágil”. * jornalista do Diário de Notícias


CINCO DÉCADAS DE MUDANÇAS NA POLÓNIA 1970

Aumento dos preços gera protestos em Gdansk. Repressão faz dezenas de mortes

1976

Nova vaga de protestos pelo aumento dos preços, com destaque para Ursus, um bairro periférico de Varsóvia. Surgem os Comités de Defesa dos Trabalhadores, resposta da sociedade civil às detenções pelo regime

1978

O polaco Karol Wojtyla, cardeal de Cracóvia, torna-se o Papa João Paulo II

1980

Criação do sindicato Solidariedade nos estaleiros navais de Gdansk, com o eletricista Lech Walesa como líder

1981

Regime comunista impõe a lei marcial e prende dirigentes do Solidariedade

1982

Walesa é libertado e apesar da vigilância pode regressar aos estaleiros

1983

Lei marcial é levantada. Walesa recebe o Nobel da Paz

1989

Aconselhado há vários anos por intelectuais como Tadeus Mazowiecki e Bronislaw Geremek, Walesa negoceia com o regime comunista liderado pelo general Wojciech Jaruzelski um acordo para eleições livres destinadas a escolher um terço dos deputados. Transformado em partido político, o Solidariedade obtém uma vitória esmagadora e no novo governo de coligação Mazowiecki assume o cargo de primeiro-ministro

1990

Já com o muro de Berlim derrubado, e com Mikhail Gorbachev no poder em Moscovo, a transição acelera-se na Polónia, com os comunistas a cederem o poder. Walesa é eleito Presidente da Polónia

1991

Eleições legislativas, com duas dezenas de partidos a entrarem no parlamento. União Soviética extinta no final desse ano

2001

Coligação de esquerda vence eleições

Grande alargamento da União Europeia, com entrada da Polónia

2005

2015

2004

Eleições presidenciais ganhas por Lech Kaczynski, do partido Direito e Justiça. No ano seguinte, o gémeo Jaroslaw torna-se primeiro-ministro

1995

Walesa é derrotado na segunda volta das presidenciais por Aleksander Kwasniewski

2007

Partido liberal Plataforma Cívica de Donald Tusk ganha eleições

1997

Aliança de vários partidos como Ação Solidariedade ganha legislativas

1999

Polónia adere à NATO

2014

Primeiro-ministro Tusk considera ilegal anexação da Crimeia pela Rússia e pede instalação de dez mil militares da NATO em território polaco para mostrar sinal a Moscovo. Tusk assume presidência do Conselho Europeu

2010

Acidente de avião mata Presidente Lech Kaczynski. Bronislaw Komorowski da Plataforma Cívica eleito Presidente

Andrzej Duda do Direito e Justiça eleito Presidente. Partido ganha também legislativas. Beata Szydlo é primeira-ministra do governo eurocético mas Jaroslaw Kaczynski, líder do partido, é visto como o verdadeiro poder

2016

Comissão Europeia entra em choque com Polónia por causa das medidas do governo para nomear os chefes das estações públicas de televisão e rádio. Fala de “ameaça aos valores da União Europeia”. Varsóvia recebe cimeira da NATO

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mãos à obra

Centro de formação profissional afasta mulheres da prostituição O Centro de Formação Irene Girls, no Quénia, criado em 1991 pelas Irmãs Missionárias da Consolata, tem ajudado centenas de jovens a preservar a sua dignidade e a ganhar independência económica, através de cursos profissionais que as preparam para o mercado de trabalho Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

No distrito do Samburu vivem diferentes comunidades indígenas nómadas – Sumburu, Turkana, Pokot e Rendile – e a taxa de analfabetismo é muito elevada

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Fátima Missionária

Isolada do resto do país, por falta de estradas minimamente circuláveis, a cidade de Maralal, distrito de Samburu, no Quénia, tem empurrado milhares de raparigas para o desemprego, para a pobreza e, em alguns casos, para a prostituição. Para combater os efeitos e as consequências deste isolamento, há 25 anos, com a ajuda da diocese local, as Irmãs Missionárias da Consolata abriram o Centro de Formação Irene Girls, para darem uma nova oportunidade às jovens que nunca estudaram porque foram obrigadas a trabalhar desde tenra idade, ou às que terminaram o ensino secundário e não puderam prosseguir os estudos por falta de capacidade financeira da família. Recentemente ampliada ao abrigo de um projeto financiado pela Conferência Episcopal Italiana, que permitiu a criação de mais salas de aula e a aquisição de computadores e máquinas de costura, a escola acolhe agora mais de 120 alunas, que se distribuem pelos seis cursos disponíveis, nas áreas do setor alimentar, artesanato, alfaiataria, serviços administrativos e informática.

Através das ações de formação, as missionárias procuram capacitar as adolescentes para se tornarem economicamente autossuficientes, ajudarem a reforçar os magros orçamentos familiares, e a manterem-se afastadas de “atividades que possam prejudicar a sua dignidade, como a prostituição”. No distrito do Samburu vivem diferentes comunidades indígenas nómadas – Sumburu, Turkana, Pokot e Rendile – e a taxa de analfabetismo é muito elevada. Por outro lado, as raparigas são pressionadas pelas famílias a abandonarem a escola e a casarem muito novas, pois o casamento pode render várias cabeças de gado para os pais da noiva. Conhecida como destino turístico, por causa da vida selvagem existente na Reserva Nacional de Samburu e por ser um ponto de acesso privilegiado ao Lago Turkana, a região tem acolhido vários empreendimentos hoteleiros, mas apenas uma ínfima parte da população consegue retirar proveitos económicos dessas atividades.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | Arquivo

Com as obras de misericórdia corporais tocamos a carne de Cristo nas irmãs e irmãos necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados. Com as obras de misericórdia espirituais promovemos o ser humano: aconselhando, ensinando, perdoando, admoestando, rezando. A escola de ciências e de humanidades, mas também de artes e ofícios, é instrumento privilegiado de promoção humana. Aqui é a arte musical que liberta e enobrece, eleva e enriquece

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# gente nova em missão QUARESMA

Cantinho para rezar Olá amiguinhos missionários! Estamos no tempo da Quaresma, o tempo apropriado ao recolhimento e à reflexão. Mas a vida de hoje é vivida a correr; será que conseguimos encontrar na nossa rotina um horário que nos permita o encontro com Jesus? É mesmo isso que vos propomos este mês, um local onde vocês possam, juntamente com a vossa família, diariamente, recolher-se em Jesus e unidos, crescerem mais na fé

Texto | ÂNGELA E RUI ilustração | david oliveira

“E Jesus lhe respondeu, dizendo: está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lc 14,4). Hoje em dia não nos falta na lista dos desejos um sem número de coisas indispensáveis para ser feliz. Mas à medida que as vamos adquirindo, a nossa felicidade não aumenta, às vezes até diminui. Quando no Evangelho de São Lucas lemos o que Jesus diz ao Diabo no deserto, percebemos imediatamente que o alimento da alma não são os bens materiais.

Cantinho de oração familiar

Então o que vos propomos é o seguinte: organizar, na vossa sala, um lugar onde possam colocar uma pequena mesa que deverá ter uma Bíblia, uma imagem de Jesus e de Maria e eventualmente de algum Santo que vos seja querido, e uma vela para acenderem no momento da oração. Poderão talvez enfeitar com flores, que poderão ser desenhadas por vocês, ou até usar um vasinho. Poderão também decorar o vosso cantinho de acordo com o tempo litúrgico. O importante é que todos os dias, antes ou depois do jantar, numa hora em que a família possa estar toda presente, reunir-se para fazerem a vossa oração. Se tiverem dificuldades, deixamos a seguinte sugestão:

Leitura do dia

Meditar sobre a relação entre a passagem bíblica e a vossa vida Oração, diálogo com Deus

Cântico

O Evangelho do dia 1 de março é Mateus 18, 21-35, por isso força!

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SABIAS QUE

“Queridos jovens, possam vocês aprender a rezar todos os dias: esse é o modo de conhecer Jesus e fazê-Lo entrar na própria vida… Ele ouve sempre e conhece tudo acerca de nós, com amor… Aprendamos a ser dóceis à Palavra de Deus, prontos para as surpresas do Senhor que nos fala” (Papa Francisco).

MOMENTO DE ORAÇÃO Amigo Jesus: Gosto de falar conTigo Posso dizer o que sinto Pedir desculpa, pedir que me ajudes a ser melhor Quando estou triste, zangado ou sem esperança E também quando estou feliz Posso dizer o quanto gosto de Ti E no silêncio, ouvir no meu coração Tu dizeres que ninguém me ama mais do que Tu Que me conheces desde sempre E o que tenho de fazer para ser um bom missionário A minha vida faz mais sentido Quando falo conTigo todos os dias. Ámen. Pai-Nosso… Ave-Maria… Glória…

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tempo jovem

Abraços grátis Também hoje a Amizade permanece como um dos elementos fundamentais na procura e construção da felicidade. Por isso, o cristão em geral e o missionário em particular é chamado a ser Amigo de todos, tal como Jesus nos ama e nos trata como amigos

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Texto | ÁLVARO PACHECO Fotos | ANA PAULA

Quando estava a trabalhar na Coreia do Sul, houve um ano em que virou moda uma campanha de “Free Hugs”, ou seja, “Abraços grátis”. Num país obcecado com a imagem com o colectivo, onde quem é diferente é automaticamente excluído do grupo, a campanha foi inicialmente recebida com estranheza e uma certa relutância, por ser estrangeira e… por envolver contacto físico entre estranhos. Isto porque na Ásia Oriental o contacto físico não é usado como forma de saudação, mas sim a tradicional vénia solene. E aos poucos a moda foi ganhando adesão, até que desapareceu. A missão de Jesus foi marcada por atos e palavras que chocaram muitos, espantaram muitos mais e converteram alguns. Entre os atos que mais escândalo e oposição causaram estão os que implicam o tocar alguém que, segundo a lei judaica, era considerado amaldiçoado por Deus por ter uma doença, por seguir um estilo de vida contrário aos milhares de normas da Lei judaica, ou por ser de um grupo étnico, social ou religioso contrário ao dos Judeus. Com este “tocar”, Jesus tornava-se um “amaldiçoado” porque precisamente ficava contagiado através do toque. Sabemos quão profundo e até necessário é sentirmos o toque de alguém, sobretudo nós que temos como fase inicial da nossa vida a infância, na qual o toque entre mãe e bebé é de fundamental importância para o desenvolvimento pessoal. Jesus tocava as pessoas para que sentissem precisamente este amor materno de Deus, um amor que vai para além de regras e tradições humanas, as quais muitas vezes são contraditórias na sua natureza porque não promovem a dignidade do ser humano, porque o condenam à infelicidade causada pela discriminação e intolerância. Jesus também tocava as pessoas (ou deixava-se tocar por elas) para lhes fazer ver que tinham valor e eram amadas por Deus, pelo autor da vida e do amor. E para amar é necessário também o toque. Porém, há outras formas de “tocar”, de “abraçar” o outro. Os missionários estão habituados a estas formas, que se chamam entrar numa cultura diferente, aprendendo a língua, tradições e costumes de um povo e partilhando,

ao mesmo tempo, o “toque especial de Cristo” através da partilha da mensagem do Evangelho. O nosso mundo está cada vez mais necessitado deste toque, desta proximidade e ternura divinas. Este verdadeiro “encontro de culturas” tem de ser feito na base da reciprocidade e humildade, dando assim espaço ao Evangelho para que este penetre lentamente no coração da cultura e das pessoas que o passam a conhecer. No caso das que já o conhecem mas se vão esquecendo, o missionário é chamado a recriar as formas de anúncio, porque as formas de viver em sociedade e os valores vão mudando conforme mudam os tempos. Há outras formas de “tocar” que são comuns a todos, formas que são naturais a todos nós, independentemente da nossa raça, cultura, religião ou outras formas de estar na vida. A mais comum delas é a amizade. De facto, o mesmo Jesus usou esta forma de modo muito concreto com todos, sobretudo com quem era em teoria diferente dele; recordemos Nicodemos, Zaqueu, Maria Madalena, o centurião romano e muitos outros que certamente ficaram “tocados” por este amor grande. Também hoje a amizade permanece como um dos elementos fundamentais na procura e construção da felicidade. Por isso, o cristão em geral e o missionário em particular é chamado a ser amigo de todos, tal como Jesus nos ama e nos trata como amigos. Como batizados e como cristãos, somos convidados a tocar o mais profundo da vida e do coração das pessoas, através de gestos de proximidade, de atenção, de dedicação, de sacrifício próprio em favor de quem sente falta deste toque de Deus. O missionário é aquele que se coloca ao serviço de Deus e da humanidade de uma forma mais concreta, livre e disponível. Muitos são os que ainda não conhecem este nosso Deus amor, nem sentiram o seu toque maternal e misericordioso, toque que renova e recria a humanidade e divindade que existe dentro de cada ser humano. Infelizmente, são poucos os que se entregam a esta causa. Continuemos, por isso, a pedir ao dono da messe que envie mais operários dispostos a tocar o coração do mundo com amor e os “free hugs” de Deus.

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sementes do reino

Neste tempo de Páscoa reze com as palavras de Tomé: “Meu Senhor e Meu Deus!” Peça que o Senhor o ajude a ultrapassar a incredulidade

No primeiro dia da semana Texto | PATRICK SILVA Foto | LUSA

Ainda estamos a viver a Quaresma, mas este caminho não faz sentido se os olhos não estiverem apontados para aquele primeiro dia da semana. O dia em que tudo mudou, onde a vida alcançou a grande vitória. Já não há que temer, pois em tudo somos mais que vencedores, dirá São Paulo. A ressurreição de Jesus é a festa maior, aquela que deve “aquecer” o coração de todo o cristão.

Leio a Palavra Jo 20, 1-9

A nota cronológica com que começa o texto tem também um sentido teológico: quer recordar um novo momento da “criação”. Uma criação que não será mais marcada pelas dores de Adão e Eva, mas pela alegria de um túmulo vazio. Maria Madalena, que cedo encontra o túmulo vazio, representa todos nós, incapazes de entender o que acontecera. Quantas vezes, perante as dificuldades da vida, procuramos respostas, mas permanecemos sem entender. O importante é saber ir ao encontro de quem pode ajudar.

Saboreio a Palavra

O grande evento do Evangelho é o túmulo vazio. Perante tal acontecimento existem duas atitudes: de um lado temos Pedro, do outro João. Pedro corre ao túmulo, vê mas não entende, ou talvez 28

Fátima Missionária

não queira entender. Provavelmente ainda sofre pela “derrota” do seu Mestre na cruz; para ele era impossível aceitar esta humilhação. Ao contrário, João corre, vê e acredita, e assim torna-se o modelo do discípulo. Os discípulos são os que veem e acreditam e assim aderem ao Senhor.

Rezo a Palavra

Neste tempo de Páscoa reze com as palavras de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” Peça que o Senhor o ajude a ultrapassar a incredulidade.

Vivo a Palavra

A corrida dos dois discípulos, segundo o Evangelho, é diferente. Pedro parece ter mais dificuldade, mas João é rápido. Nota o Evangelho que ele, apesar de ter chegado mais rápido, aceita que seja Pedro a entrar primeiro. Uma sensibilidade que tantas vezes falta às nossas comunidades: o saber respeitar os ritmos diferentes de cada membro. É provável que a “agilidade” da corrida de João seja devida à experiência de amor. Quem ama é capaz de ver aquilo que outros são incapazes de entender. A experiência de João com Jesus fá-lo correr velozmente, e sobretudo torna-o capaz de sorrir, pois sabe que o seu Mestre não está entre os mortos, mas continua vivo. Não só, Ele está vivo e vive entre nós.


A palavra faz-se missão

MARÇO

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4º Domingo da Quaresma Jos 5, 9-12; 2Cor 5, 17-21; Lc 15, 1-32

Uma história que se repete

O filho que voltou à casa do Pai, após desvarios sem fim. Estragou tudo, mas salvou-o o pensamento de que tinha alguém a quem se agarrar: o Pai misericordioso, que sempre esperou pelo seu regresso. É uma história que se repete, porque é a história da humanidade inteira e de cada um de nós. Esbanjamos tanta coisa em liberdades mal interpretadas. Para quando o regresso à casa do amor misericordioso, onde o Pai nos espera para fazer festa?

Ensina-me, Senhor, o caminho da tua casa, onde possa encontrar o calor da tua amizade e do teu perdão.

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5º Domingo da Quaresma Is 43, 16-21; Fil 3, 8-14; Jo 8, 1-11

“Não voltes a pecar”

A mulher do Evangelho é libertada. Salva da lapidação e redimida da sua fragilidade: “Vai e não voltes a pecar”. É o mesmo rosto de Deus que já nos é familiar. E é o rosto da nossa Igreja, feita, não de justos, mas de pessoas amadas e perdoadas. Uma Igreja formada por gente que, na mesma medida de Jesus, não julga, mas perdoa com amor, sem ferir nem magoar. Quando vivermos deste perdão que nos enche o coração, seremos a transparência de Deus.

Que eu seja, Senhor, transparência do teu perdão junto de todos aqueles que porventura falhem na sua vida.

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Domingo de Ramos Is 50, 4-7; Fil 2, 6-11; Lc 22, 14-56

Sigo os passos de Jesus

Sigo atrás do Senhor, a caminho do Calvário, cantando e sofrendo nos passos de cada dia. Quem quiser ser seu discípulo, há de carregar a sua cruz para o seguir. Tenho que me fazer cireneu. Os outros são a minha paixão que comungo todos os dias. Entro com Cristo na Semana Santa da minha vida para que Ele me ensine o valor da sua cruz e da minha.

Que eu viva, Senhor, estes dias de Paixão, na certeza de que a minha cruz adquire valor se for unida à tua Cruz redentora.

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Domingo de Páscoa Act 10, 34-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9

Anúncio pascal

Páscoa é a festa do amor crucificado, de quem dá a vida por amor. É a festa da alegria, que nasce da cruz e faz comunhão com todos os povos. “Vai dizer aos meus irmãos”, pede-nos o Senhor Ressuscitado. Quando partilhamos a boa nova da ressurreição, há sempre túmulos que se abrem, há corações que revivem. Passa por aqui a graça pascal: proclamar a consolação que nasce do ressuscitado.

Que eu saiba proclamar, Senhor, a força da tua ressurreição, que abre os nossos túmulos e nos faz reviver. DV

intenção pela evangelização Para que os cristãos discriminados ou perseguidos por causa da sua fé permaneçam fortes e fiéis ao Evangelho, graças à oração incessante de toda a Igreja

Cristãos perseguidos “Tenho uma pergunta a fazer-vos: Quem de vós reza pelos cristãos que estão a ser perseguidos? Quantos de vós rezam? Cada um responda no seu coração. Eu rezo pelo meu irmão, pela minha irmã que está em dificuldade, para que ele confesse e defenda a sua fé? É muito importante olhar para além das nossas próprias fronteiras, para sentir que nós somos uma só Igreja, uma só família em Deus!” (Papa Francisco). O convite do Papa Francisco exige de todos os cristãos uma maior consciência do corpo a que pertencem. “Perseguiram a Mim, perseguirão também a vós”, alertou Jesus há mais de dois mil anos. E a perseguição não diminuiu. No Médio Oriente, na Síria, no Iraque, no Paquistão, no meio de tanta violência e no caos, crescem os ataques contra os cristãos. Daí a necessidade de uma oração incessante ao Deus da tolerância e da misericórdia para que os irmãos perseguidos permaneçam fortes e firmes na fé. DV

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Fátima Missionária

De vez em quando vou confessar-me aqui na minha cidade. Mas devo dizer que me custa muito. E pergunto: porque é que não posso confessar-me diretamente a Deus? Se é Deus quem perdoa, por que tenho que contar os meus pecados a um padre? Nelson Coelho - Viseu

É uma questão que muita gente levanta, mas vem a propósito, porque o período quaresmal que estamos a viver é propício para a celebração deste sacramento. De facto, alguns dizem: entendo-me diretamente com Deus, não preciso de padres. No entanto, a linha que Deus nos propõe é outra. Ele conhece-nos. Naquilo que diz respeito ao pecado, costumamos fazer batota, varrendo o assunto para debaixo do tapete. Ele deu à sua Igreja o poder de perdoar os pecados: “Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 23). Para isso servem os sacerdotes: para perdoar em nome de Jesus. No

Presença consoladora Caríssimos amigos, já devia ter vindo ao vosso encontro para vos dar conta da surpresa que tive quando recebi o pequeno diploma que me enviaram e que interpretei como um pedido da Senhora da Consolata com o seu pequenino ao colo, para que não esqueça de que Ela conta comigo para, convosco, ser presença consoladora junto dos mais frágeis que se cruzarem na minha vida. A Consolata é uma grande família. A família de um

sacramento da Reconciliação, o Senhor, por meio de seu ministro, liberta-nos do pecado e restaura a nossa comunhão com Ele e com toda a Igreja; trata e cura as nossas feridas mais profundas, traz-nos a paz, abre-nos o caminho para nos perdoar a nós mesmos e dá-nos a real possibilidade de começar de novo. É curioso que, há bem pouco tempo, o Papa Francisco (que com frequência se abeira deste sacramento), disse na Praça de São Pedro: “Alguém poderá dizer: ‘Eu confesso-me diretamente a Deus’. Sim, tu podes dizer a Deus: ‘Perdoa-me’, dizendo-lhe os teus pecados. Mas os nossos pecados são também contra os nossos irmãos, contra a Igreja, e por isso é necessário pedir o perdão à Igreja e aos irmãos, na pessoa do sacerdote. Mas, padre, tenho vergonha!’ Também a vergonha é boa, é ‘saudável’ ter um pouco de vergonha”. Confessar os próprios pecados é um ato de coragem e de amor a Cristo e uma grande escola de humildade. E é profundamente salutar. DV

Deus amor que nos criou para si, que cuida de todos e nos quer colaboradores no projeto que desenhou para cada um. Obrigado por terem vindo até mim deste modo que tanto me sensibilizou. Pareceu-me sentir um daqueles gestos simples, espontâneos do nosso querido padre Manuel Carreira que Deus fez passar por mim e que deixou marcas de saudade imensa que guardo com muita ternura no meu coração. Maria Carlota


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vida com vida

Padre David Manca

Só é nosso aquilo que damos Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

“Deus de misericórdia e de ternura, olhai com doçura para o padre David. Vós decidistes firmar a sua alegria sobre a sua fraqueza, e lhe destes a força da vossa bondade. Obrigado, Senhor, porque assim foi do vosso agrado” (Da celebração do seu funeral). Raramente a vida dum missionário de fronteira é um torrão de açúcar – graças a Deus! Assim foi para o padre David. Viveu uma infância normal e teve licença dos pais para entrar para o seminário diocesano de Cagliari, Sardenha, Itália. Quando decidiu ser missionário, os pais opuseram-se. Valeu-lhe a bênção do seu diretor espiritual e do bispo da diocese. Entrou para os Missionários da Consolata e foi ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1965. Para aperitivo, foi prefeito dos noviços e animador vocacional, nunca deixando de parte o seu dom de maestro de música e o seu génio de pintor, e trabalhou bastante com jovens. Pedia aos superiores a graça do envio para as missões da Colômbia. Em junho de 1972 concretizou-se esse desejo. Foi para a maior zona de fronteira da Colômbia, repleta de dificuldades, onde é necessário encarar realidades difíceis e arriscadas e harmonizar impossíveis tais como uma vida sã com o exército, a polícia, a guerrilha e o tráfego da cocaína. Assim viveu o padre David dez anos de sonho missionário concreto em terras onde a saúde física definha em ritmo veloz. Em 1983 diminuiu o encanto ao ser destinado para a Itália. Apenas chegado, diz ao superior que “qualquer trabalho que lhe der o encherá de alegria”. Nomeado animador missionário, vive cinco anos de grande entusiasmo em serviços pastorais e relacionamento com benfeitores das missões. Ei-lo de novo na América do Sul, no Equador, onde 32

Fátima Missionária

com os mais pobres e necessitados vive a missão com dedicação, empenho e sacrifício. Aos índios dá tudo o que é e tem. As aventuras e a doença minam-no neste período doloroso da sua vida missionária. Tem de voltar para a Itália. E em 26 de fevereiro de 2012 parte para a sua última missão na Casa do Pai, o Céu. Viveu arriscando muito, sempre com dignidade e esperança, como manda a chamada recebida de Cristo e da Virgem Santa.


O QUE SE ESCREVE

As Obras de Mapas de Fé Dez exploradores Misericórdia Jubileu 2016 religiosos, de Newman a Diz o Papa Francisco que as Obras de Joseph Ratzinger

Quando Ele nos abre as Escrituras Domingo após domingo Uma leitura bíblica do Lecionário Ano C

Um teólogo brilhante, com grande sensibilidade para as tendências espirituais do nosso tempo, ‘traduz’ neste livro as vozes de pensadores de primeiro plano numa série de reflexões sobre a fé na cultura contemporânea. São páginas de introdução à teologia úteis para estudantes e uma “tentativa de recolher as minhas leituras e o pensamento por elas provocado, tornando-o acessível a quem anda à procura de Deus”, diz o autor. Autor: Michael Paul Gallagher, sj 238 páginas | preço: 14,00 € Editorial Frente e Verso

Misericórdia “são sempre válidas e atuais; estão na base do exame de consciência e ajudam a abrir-se à misericórdia de Deus”. Fazem parte da exortação de Jesus a servi-lo em cada marginalizado, excluído, faminto, sedento, nu, prisioneiro, doente, desempregado, perseguido, refugiado. É nisso que se joga “a credibilidade dos cristãos”. Autor: Pedrosa Ferreira 80 páginas | preço: 6,00 € Edições Salesianas

Crónicas com Missão 2 Os Santos e a Misericórdia É um livro recente

Este livro apresenta as reflexões de António Couto – biblista e bispo de Lamego – sobre os textos litúrgicos de todos os domingos do Ano C. A reconhecida competência deste biblista fazem do volume um excelente roteiro para os fiéis acompanharem a liturgia de todo o ano e um bom recurso para os sacerdotes poderem dar profundidade às suas homilias dominicais. É o que nos diz o autor sobre o texto: “O estilo é o de sempre. A substância é bíblica e litúrgica, com tempero teológico, literário, simbólico, cultural, histórico, arqueológico. Fui-o escrevendo com gosto, pensando naqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a liturgia nos oferece”. O leitor pode ser um deles.

do padre Tony Neves, provincial dos Missionários do Espírito Santo. Diz o bispo do Porto, António Francisco Santos, na apresentação: “Em Crónicas com Missão, a missão é palavra e conceito; tempo e espaço; sonho e projeto; desígnio de vocação e campo de trabalho; bênção de Deus e consagração de vida; mandato da Igreja e serviço à humanidade”. É isso e muito mais que o leitor aí pode descobrir.

Autor: D. António Couto 460 páginas | preço: 18,90 € Paulus Editora

Autor: Tony Neves 266 páginas | preço: 5,00 € Edição: LIAM

É mais um meio pastoral para viver o Jubileu da Misericórdia: dedicado aos santos e a todos aqueles homens e mulheres que em cada tempo e lugar encarnaram na sua existência o rosto da misericórdia. Não se limitaram a praticar as obras de misericórdia, mas como escreveu o Papa Francisco, “entraram nas profundezas da misericórdia”, exprimindo-a na sua vida de santidade. Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 128 páginas | preço: 8,90€ Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Temos a mania de que a inteligência é a maior virtude, mas a bondade é maior”

António Lobo Antunes escritor português

“A felicidade é como uma borboleta. Quanto mais a persegues, mais ela te foge. Porém, se diriges a atenção para outras coisas, ela vem e pousa suavemente no teu ombro. A felicidade não é uma pousada no caminho, mas sim uma forma de caminhar pela vida” Viktor Frankl (1905-1997), médico psiquiatra austríaco

“Geralmente aqueles que sabem pouco falam muito e aqueles que sabem muito falam pouco”

Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e escritor francês

“A compreensão é a substância com a qual fabricamos a compaixão”

Thich Nhat Nanh monge budista, pacifista e escritor

“Há uma só maneira de evitar as críticas: não fazer nada, não dizer nada, não Ser nada”

Aristóteles (384 a.c. – 322 a.c.) 34

Fátima Missionária

“O ambiente do Santuário da Cova da Iria não é exclusivo de um local, mas de uma pessoa, Maria, e de uma experiência, Deus que é Mãe. Fátima é mais do que um lugar, é uma luz!”

Paulo Rocha jornalista na Agência ECCLESIA


ROMA

PEREGRINAÇÃO ACOMPANHADA POR PADRE DARCI VILARINHO

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dias 10 13

junho 2016

PARA MAIS INFORMAÇÕES DEVERÁ CONTACTAR: INSTITUTO MISSIONÁRIO DA CONSOLATA

917 513 575

Um abraço entre a fé e a vida

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LUGARES LIMITADOS

ASSIS


Pão sagrado Pão como tu és simples e profundo Conjunção de gérmen e de fogo Tu és a ação do homem Milagre repetido, vontade da vida. Semearemos de trigo A terra e os planetas, O pão de cada boca, de cada homem. O pão, o pão para todos os povos, Tudo o que tem forma e gosto de pão: A terra, a beleza e o amor. Tudo nasceu para ser partilhado, Para ser dado, Para se multiplicar... A vida terá também a forma de pão, Será simples e profunda, Inumerável e pura. Todos os seres terão direito À terra e à vida, E assim será o pão de amanhã, O pão de cada boca, sagrado, consagrado, Porque será o produto da mais longa E da mais dura luta humana. José Augusto Mourão

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Fátima Missionária


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