Consolata

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Ano LXIII | Março 2017 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

CONSOLATA

JUVENTUDE, ALEGRIA E DEVOÇÃO NA PEREGRINAÇÃO ANUAL A FÁTIMA DESTAQUE

Relatório da ONU denuncia perseguições

Povo Rohingya continua sem direito à cidadania em Myanmar

MISSÃO HOJE

Paul Kariuki Njiru bispo de Embu, Quénia

É preciso investir nos africanos: de evangelizados a evangelizadores

DOSSIER

Novo Superior-Geral dos Jesuítas, Arturo Sosa “A Europa está mais ameaçada se não receber imigrantes”


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 03 Ano LXIII MARÇO I 2017 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

“ FÁTIMA É UMA EXPRESSÃO DESSA FÉ POPULAR QUE VÊ EM MARIA UM PRESENTE DE DEUS

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.200 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração, Ângela e Rui, Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, Ermanno Savarino, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Ramon Cazallas, Simão Pedro, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Ana Paula e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Cada pessoa é um dom

11 | VOZES DA RUA Com os pobres não se brinca

05 | PONTO DE VISTA Muros que já tinham caído

12 | A MISSÃO HOJE “Um exemplo luminoso que deve ser seguido”

06 | HORIZONTES A alegria apesar da dor 07 | DESTAQUE Rohingya: o povo mais perseguido 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Equador: Chineses e governo contra indígenas • Myanmar: Jovem democracia está em perigo • Somália: Desnutrição afeta 363 mil crianças

13 | FÁTIMA INFORMA Dez mil correm pela paz 14 | ATUALIDADE Jovens deixam-se contagiar pelo espírito missionário 22 | MÃOS À OBRA Máquinas de costura contra a desigualdade 23 | PEREGRINOS DE FÁTIMA

• Tanzânia: Seca opõe bispos ao governo

24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Metanoia precisa-se

• Indonésia: Trabalho para reabilitar mulheres

26 | TEMPO JOVEM O amor traz-nos fé e esperança

• Colômbia: Internet combate a pobreza

28 | SEMENTES DO REINO “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”

10 | A MISSÃO HOJE “A Igreja pode investir nos africanos para ajudarem a evangelizar na Europa”

30 | VIDA COM VIDA Simplicidade e contemplação 31 | LEITORES ATENTOS

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

CADA PESSOA É UM DOM As notícias falsas começam a fazer parte do quotidiano e estão a transformar-se numa autêntica pandemia, com impacto e efeito global. Nas redes sociais, que tratam a realidade à flor da pele, estas notícias proliferam e alastram mais rápido que ventos ciclónicos. A maioria das vezes sem que haja a mínima preocupação em averiguar da sua veracidade ou da falta dela. Alguma imprensa entrou mesmo acriticamente nesta vertigem perigosa e populista. Um caso clamoroso e assustador foi o que ocorreu no final do ano passado na Alemanha e que dava conta de múltiplos ataques sexuais feitos por “refugiados” a “mulheres” em Frankfurt. A notícia correu mundo, gerando indignação e um clamor popular tremendo. Pois bem, surge agora o desmentido. A polícia alemã confirmou não haver qualquer fundamento que sustentasse o então noticiado. Mas já vem tarde. O estrago estava feito. A falsidade, proclamada aos quatro ventos, serviu para ampliar o ódio ao refugiado, ao emigrante, ao estrangeiro. E com isto procurou-se esvaziar o discurso dos que lutam e se esforçam pelo seu acolhimento e integração. De resto, terá servido também para fazer crescer os partidos de extrema direita na Europa, com seus discursos xenófobos e racistas. Pior. Como era de esperar, o desmentido não mereceu mais que uma nota de rodapé em

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Fátima Missionária

alguns dos muitos jornais que, então, lhe deram voz. O jornal alemão Bild, que inventou e alimentou a farsa, continuará impune. Somos rápidos a alimentar a mentira e o preconceito, e lentos na hora de dizer a verdade e assumir responsabilidades. Esta falsa notícia foi um claro incentivo ao ódio, e isso é crime. Não é indiferente a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano, um tempo litúrgico e pastoral forte, quando nos convida a “abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom que merece aceitação, respeito, amor, seja ela um vizinho ou um pobre desconhecido”, e nele “reconhecer o rosto de Cristo”. E desafia à ação: “Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana”, conclui, apelando à compaixão: “saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa”. Não há portanto como excluir o outro, normalmente pobre, fragilizado, ferido nos direitos fundamentais e, sobretudo, na sua dignidade. Cada pessoa é um dom. Boa caminhada quaresmal. Albino Brás

O Papa Francisco convida a “abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom que merece aceitação, respeito, amor, seja ela um vizinho ou um pobre desconhecido”, e nele “reconhecer o rosto de Cristo”


PONTO DE VISTA

PEDRO VAZ PATTO . PRESIDENTE DA COMISSÃO NACIONAL JUSTIÇA E PAZ .

MUROS QUE JÁ TINHAM CAÍDO A História reserva-nos muitas surpresas. Não conhece evoluções lineares e automáticas. É o que revela a eleição de Donald Trump e as suas consequências, algumas já bem visíveis. Uma delas é a do fecho das fronteiras norte-americanas a refugiados e outros nacionais de alguns países de maioria muçulmana. Uma decisão cega, que atribui a pessoas de determinadas nacionalidades e à religião islâmica, de forma arbitrária e preconceituosa, a responsabilidade pelo terrorismo. Que os cristãos desses países do Médio Oriente sejam excluídos da medida não atenua a sua gravidade. Pelo contrário. A ética cristã e humanista não faz aceção de pessoas. E, como salientou o arcebispo iraquiano Dom Louis Sako, essa discriminação acabará por prejudicar os próprios cristãos do Médio Oriente, que nesses locais serão ainda mais acusados de serem aliados do Ocidente inimigo (acusação que tem servido de pretexto para as perseguições de que são vítimas). A globalização económica e os progressos dos meios de comunicação vêm tornando os povos mais próximos. É verdade que, como disse Bento XVI na encíclica “Caritas

in Veritate”, a globalização torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. Daí a urgência de regular a globalização económica e completá-la com a “globalização da solidariedade”. Mas aquilo a que agora se assiste é ao reerguer de muros que já tinham caído. Nos Estados Unidos da América, mas também na Europa e noutras zonas do globo, há quem queira reafirmar as nações e os seus interesses. Poderia ser uma reação saudável a uma uniformização cosmopolita sem alma. Mas, para que fosse saudável, deveria tratar-se de uma afirmação pela positiva, uma afirmação de valores que representam o contributo de cada nação para a civilização e a fraternidade universais. Aquilo a que assistimos é a uma afirmação pela negativa, pela exclusão e pela hostilidade para com os estrangeiros. No caso dos Estados Unidos, nação de imigrantes construída na base de ideais de respeito por direitos humanos universais (consagrados na primeira Constituição escrita do mundo), essa exclusão contraria frontalmente esses ideais. Como contraria os ideais cristãos e humanistas que estão na base da cultura europeia.

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horizontes

A ALEGRIA APESAR DA DOR

Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

– Susy, enviei-te o meu artigo para a revista deste mês. – Obrigada, Mara! Qual o tema? – Oh, é muito simples: “Ser pais: missão de crescer”. Também te enviei um link para uma revista de Educação que acaba de ser lançada e parece muito interessante. Mara era assim: tudo o que encontrava de interesse para alguém com quem pudesse partilhar, fazia-o. Antes de a sua doença lhe reduzir e lentificar os movimentos e a tornar dependente de uma cadeira de rodas elétrica que conduz com alguma dificuldade, percorria toda a região abrangida pelo serviço onde trabalhava. Possibilitava aos grupos de pais uma reflexão partilhada sobre a educação dos filhos e sobre as atitudes na relação em família.

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Fátima Missionária

O programa de intervenção precoce que ela criou, foi solicitado por diversas instituições que o aplicaram com sucesso. A este projeto, Mara dedicou todo o esforço, tempo, competências e formação continuada. Com ele, queria que o amor fosse mais visível, começando pelo lugar onde ele nasce: a família. Acredita que onde o amor existe e se faz notar, a alegria acontece e a vida renasce em cada acontecimento. Hoje, Mara já não percorre caminhos, não se desloca a nenhum grupo de pais. Agora, conversar cansa-a e a articulação das palavras é mais lenta. Mas não abandonou de forma alguma o seu projeto. Basta olhar para a secretária onde trabalha: os livros, revistas, artigos, estão

lidos, sublinhados, em uso, porque continua à procura de respostas e de soluções para os problemas reais que foi ouvindo. O e-mail é agora uma estrada de liberdade para Mara. Divulga tudo o que lhe parece que pode ser útil. Escreve artigos para a imprensa local e colabora com uma revista. Porque não pára? Porque não descansa e faz outras coisas? Talvez a resposta possa ser dada pela sua atitude de viver: quando olhamos para a Mara, podemos ver sinais de algum sofrimento, silenciado, de dor. Mas, ao cumprimentá-la, a sua expressão transforma-se em alegria, em risinhos, nascidos do prazer do encontro. Dela, não se ouve queixume ou qualquer referência à doença. Os momentos de felicidade são vividos de forma tão intensa, que envia a dor para segundo plano, diz ela. E para ela tudo pode ser motivo de felicidade: encontrar uma pessoa amiga, ter algo para partilhar, ver alguém feliz, ouvir música, tomar café com os amigos, mas sobretudo, ver como os seus filhos crescem e superam os obstáculos! Qual o lugar para a dor? Mara tem uma forma muito particular de ver a dor: – a dor, é a minha companheira mais fiel. Por causa dela aprendi a “andar devagar”. E como ando devagarinho, posso olhar melhor, ver melhor, sentir mais intenso, conhecer mais profundo. Como a dor veio acompanhada de tantas coisas boas, não consigo zangar-me com ela – mas ponho-a anestesiada tanto quanto posso. Gosto de vê-la a dormir! – remata Mara, rindo. Por tudo isto, quando estamos com a Mara, a sua slegria contagia-nos e sentimo-nos mais agradecidos à vida. Obrigada, Mara!


destaque Relatório das Nações Unidas denuncia Myanmar

Rohingya: o povo mais perseguido Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos publicou em fevereiro um documento onde denuncia o agravamento das perseguições contra o povo Rohingya, em Myanmar (antiga Birmânia),

Atualmente, cerca de um milhão de rohingyas procuraram refúgio na Arábia Saudita, no Bangladesh, na Malásia, na Índia ou no Paquistão, em consequência das perseguições que têm sofrido nas últimas décadas

considerado como um dos mais perseguidos, atualmente, no mundo. De religião muçulmana, à maioria dos rohingyas é negado o seu direito à cidadania, são sujeitos a trabalhos forçados, não se podem movimentar livremente no país, têm restrições para contrair casamento, para acederem à educação ou para possuírem propriedade. Assassinato de adultos e crianças, violações, incêndio de vilas e aldeias, deslocamento forçado de populações são algumas situações identificadas pelo relatório do Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. A situação agravou-se desde que, em outubro, o exército de Myanmar desencadeou uma ofensiva contra a guerrilha no Estado de Rakhine, na região oeste de Myanmar, onde vive a maioria dos rohingyas. Dos cerca de 1,3 milhões de pessoas que fazem parte desta minoria, centenas de pessoas foram mortas e mais de 80 mil foram deslocadas só nos últimos meses.

Atualmente, cerca de um milhão de rohingyas procuraram refúgio na Arábia Saudita, no Bangladesh, na Malásia, na Índia ou no Paquistão, em consequência das perseguições que têm sofrido nas últimas décadas.

Radicalismo budista

Leis de proteção da raça e da religião, de conversão religiosa, do casamento inter-religioso e do controlo da população têm sido instrumentos desta perseguição. Não obstante afetarem outras religiões minoritárias, considera-se que elas são feitas a pensar particularmente na minoria muçulmana. Com efeito, para além dos rohingyas, têm-se verificado casos de perseguição noutros grupos muçulmanos, a exemplo do que acontece com o povo Kaman e outras comunidades muçulmanas de cidades como Meiktila e Mandalay. Myanmar não reconhece os rohingyas entre as 135 etnias que fazem parte do país. São considerados como um grupo de emigrantes provenientes sobretudo do vizinho Bangladesh – muçulmanos bengalis –, razão pela qual os setores mais radicais tentam justificar a sua expulsão do país. Entre esses setores radicais, encontra-se o movimento 969 (números de referência do budismo) liderado por Ashin Wirathu, que desde 2012 é conhecido por semear o discurso de ódio contra a comunidade muçulmana. A presença dos rohingyas na região remonta ao século VII, altura em que foi identificada a chegada de comerciantes muçulmanos provenientes do mundo árabe, do antigo império mongol e de Bengala, uma região situada entre o Bangladesh e vários estados federados da Índia.

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mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Equador

Chineses e governo contra indígenas

Um megaprojeto de extração de recursos naturais liderado pela sociedade chinesa Exsa, no território da comunidade indígena Nankints, no Equador, está a provocar graves conflitos na região. O governo concedeu à empresa mineira 41 mil hectares de terrenos, na província de Morona Santiago, para exploração do cobre. Os indígenas, que vivem no território há centenas de anos, estão a ser expulsos das suas terras, devido à “política de exploração dos recursos naturais que foi imposta nesta região amazónica, concedendo direitos a grupos privados, com a grave violação dos direitos humanos e contra a proteção dos ecossistemas”, refere uma organização local. Perante o persistir dos conflitos, que já remontam a agosto de 2016, o Presidente Rafael Correa prorrogou o estado de emergência no território indígena. Segundo a imprensa equatoriana, está em curso a militarização da região com a proibição de realizar manifestações e encontros. “A extensão do estado de emergência por 30 dias é um sinal claro de provocação e da incapacidade do governo em resolver pacificamente os problemas”, denuncia a Confederação Nacional dos Indígenas do Equador (CONAIE).

MYANMAR

Jovem democracia está em perigo Nos últimos anos Myanmar assinalou muitas mudanças positivas e tornou-se um país moderno e aberto. As transformações registaram-se sobretudo na economia, nos meios de comunicação, nos mecanismos democráticos e na sociedade. Todavia

um relatório recente do Alto-Comissário da ONU para os direitos humanos é “muito inquietante”. Dá conta de brutalidades e outras violações muito graves dos direitos humanos pelas forças da ordem no estado de Rakhine. Descreve atos de “desumanidade e

SOMÁLIA

Desnutrição afeta 363 mil crianças

Metade da população da Somália, mais de seis milhões de habitantes, precisa de ajuda urgente para sobreviver à fome. O país ainda não conseguiu superar a carestia de 2011. E a situação poderá vir a agravar-se se as chuvas da primavera não forem suficientes para a agricultura. A desnutrição afeta 363 mil crianças, das quais 71 mil estão em risco de vida. Milhares de famílias estão em fuga para os países vizinhos, forçando as crianças a abandonar a escola, expondo-as à exploração e à morte. 08

Fátima Missionária

barbárie difíceis de ler e de acreditar”, denuncia o cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon. Myanmar estará a regressar a um dos períodos mais obscuros da sua história e necessita da atenção do mundo para reforçar a sua frágil democracia.


MUNDO MISSIONÁRIO TANZÂNIA

SECA OPÕE BISPOS AO GOVERNO

O governo não partilha a preocupação pela seca expressa pelos bispos da Tanzânia. O Presidente John Magufuli afirma que o alarmismo de uma possível carestia foi lançado por um grande comerciante para forçar o governo a isentá-lo do imposto de importação de 25 mil toneladas de milho. Ao mesmo tempo o governo afirma que dispõe de reservas alimentares suficientes para fazer frente a uma eventual produção agrícola diminuta. Por seu lado o presidente da Conferência Episcopal, Tarcisius Ngalalekumtwa, exprime preocupação pela seca que atinge o país. “É tempo das chuvas e das sementeiras, mas assistimos a um clima diferente daquele a que estamos habituados”. Outras confissões religiosas, incluindo os muçulmanos, manifestam igual preocupação e lançaram alarmes semelhantes sobre as consequências da seca.

INDONÉSIA

TRABALHO PARA REABILITAR MULHERES

Na Indonésia as mulheres vivem em condições muito precárias. Frequentemente estão arredadas do mundo do trabalho ou, se trabalham, são mal remuneradas ou nem sequer recebem qualquer salário. O fenómeno é mais gritante na província de Banten, onde elas vivem privadas de qualquer apoio ou modelo de trabalho sustentável. A organização “Pusat Pengembangan Sumberdaya Wanita” (PPSW), em parceria com a Cáritas australiana, propõe-se apoiar diretamente algumas centenas de mulheres para desenvolverem pequenas empresas rurais. A PPSW disponibiliza formação e assistência para o lançamento de iniciativas e de grupos de crédito para que as mulheres consigam iniciar e fazer crescer as suas atividades.

COLÔMBIA

INTERNET COMBATE A POBREZA

Cansada de ver os seus produtos agrícolas estragar-se ou a serem comprados a preços ridículos, uma família de Toca, em Boyacá, Colômbia, recorreu aos seus modestos conhecimentos informáticos para produzir uma aplicação para vender os produtos da terra na internet, sem necessidade de intermediários. Depois de três anos, a iniciativa Comproagro conseguiu afirmar-se e dois estudantes de Toca criaram um sítio na internet, possibilitando comercializar diretamente, sem intermediários, os produtos agrícolas. Apesar do acesso limitado à internet, Comproagro já demonstrou que “a tecnologia favorece toda a gente e, com a metodologia adequada, o grau de escolaridade não é uma barreira”.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

QUATRO ANOS DE PONTIFICADO Ainda hoje recordo com emoção aquele 13 de março de há quatro anos quando tive a alegria de estar presente na praça de São Pedro e para minha surpresa o nome de Jorge Mario Bergoglio foi anunciado da varanda central da basílica vaticana como o novo Papa chamado Francisco. Após a renúncia de Bento XVI e depois de um Papa polaco e outro alemão havia quem esperasse mais um Papa italiano, e eis que o conclave se tinha aberto de novo ao mundo e nos apresentava um Pontífice argentino. Agradável surpresa que ao longo destes anos foi seguida por tantas outras, qual delas a mais surpreendente. Um Papa que não vive no palácio apostólico, que não tira férias, que se define um pecador perdoado, e que espera ser recordado apenas como um homem bom que só quis espalhar o bem especialmente entre os mais desfavorecidos. Ao nível das coisas do espírito, foi-nos dado testemunhar durante estes quatro anos uma espécie de “regresso das caravelas”. A fé que outrora sulcou os mares a partir do continente europeu e que guiou o trabalho missionário da evangelização “entre gente remota” deu agora em Francisco um seu fruto muito precioso. Parabéns, e feliz aniversário!

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a missão hoje

“A Igreja pode investir nos africanos para ajudarem a evangelizar na Europa” Paul Kariuki Njiru, bispo de Embu, no Quénia, é um pastor que gosta de estar próximo das suas ‘ovelhas’. Faz questão de visitar cada um dos 442 núcleos que compõem a sua diocese, onde insiste sempre na importância do trabalho que deve ser feito pelas famílias, para uma verdadeira vivência da fé cristã Texto | FRANCISCO PEDRO | BERNARD OBIERO Foto | ANA PAULA

O mundo vive neste momento um movimento migratório sem precedentes, com milhares de pessoas a fugirem de África e do Médio Oriente em direção à Europa. Como encara este fenómeno? A primeira coisa a fazer é pensar na origem deste problema, que, de alguma forma, está relacionado com a instabilidade política. Como não há estabilidade, as pessoas estão a viajar para outros países onde possam encontrar segurança. Veja-se o caso da Líbia. Nos tempos de Kadafi, estava bem economicamente, mas depois do que aconteceu, sente-se a falta de estabilidade política. O mesmo está a acontecer, por exemplo, no Congo. Portanto, a melhor solução é tentar dar apoio a esses países e encontrar uma forma para que possam ser estáveis politicamente, resolvendo assim muitos dos problemas da imigração.

Uma das primeiras medidas do novo Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, foi proibir a entrada no país de imigrantes de sete países de maioria muçulmana. Embora o Quénia não seja um desses países, pode vir a ser afetado indiretamente com esta nova política migratória? O Quénia vai precisar sempre de manter uma boa relação com os Estados Unidos da América, especialmente na luta contra o terrorismo, pois é muito caro suportar os militares a combater contra o Al-Shabab. Quanto à questão dos migrantes, esperamos que a situação mude, pois os americanos também estão por todo lado. Então, se Trump insistir nestas políticas, os americanos que estão no Quénia e em outros países podem vir a sofrer.

Ainda há muita influência do Al-Shabab no Quénia? A situação continua difícil na relação do país com o 10

Fátima Missionária

grupo Al-Shabab, que tem grande apoio da Al-Qaeda. Já tivemos três momentos de ataques graves. O primeiro foi num supermercado, em Nairobi, depois em Garissa, onde morreram mais de 140 estudantes universitários. O terceiro está relacionado com os muitos soldados quenianos que estão a combater este grupo terrorista na Somália e que também morreram.

Como é a relação entre cristãos e muçulmanos na sua diocese? Há uma boa relação entre os cristãos e os muçulmanos que não são extremistas. O problema são os que são doutrinados pelo Al-Shabab ou outros grupos e que tentam demonstrar que não há uma boa relação entre cristãos e muçulmanos. Recordo, por exemplo, um caso que aconteceu quando um grupo armado mandou parar um autocarro e queria matar os cristãos. E foi um muçulmano que saiu e disse que todos eram irmãos, não havia cristãos nem muçulmanos.


VOZES DA RUA

COM OS POBRES NÃO SE BRINCA é preciso não esquecer que o trabalho deve começar nas famílias, porque se a família está bem fundada na fé cristã, as vocações podem nascer

A Europa enfrenta uma crise de vocações, ao contrário do que acontece em África. Depois da evangelização europeia em território africano, chegou o momento de uma evangelização africana em território europeu? A Igreja, por natureza, é missionária. E cada um tem que fazer o que lhe compete. Antes foi a primeira evangelização, agora pode ser uma nova evangelização. É verdade que muitos missionários foram evangelizar África. Neste momento, que há falta de vocações na Europa, a Igreja, que é universal, pode investir nos africanos que foram evangelizados para ajudarem a evangelizar na Europa. O importante é haver uma boa preparação. Porque antes, os missionários que iam para África preparavam-se bem para o que iam fazer. Agora, os que partem de lá, para virem para a Europa, também precisam de se preparar bem. E é preciso não esquecer que o trabalho deve começar nas famílias, porque se a família está bem fundada na fé cristã, as vocações podem nascer.

Jesus, nos seus contactos com os pobres, não brincava. Era correto, resolvia as situações imediatamente, dialogava e dedicava o tempo oportuno para conhecer. Quando estava com eles, demonstrava carinho. O pobre ou o doente sentia-se amado e querido. Voltava a casa feliz, era outra pessoa Texto | RAMON CAZALLAS

Hoje, a nossa sociedade está bem organizada burocraticamente para atender às necessidades sociais dos pobres, mas eles são sempre os últimos nas filas das entidades oficiais. É o caso de Wilson. Tem 44 anos mas parece um jovem de 25. Aos 20 anos contraiu o vírus da Sida. A sua família rejeitou-o e mandou-o para a rua, até hoje. “Graças a Deus – diz ele – consegui de novo a minha saúde”. Arranjou um emprego como jardineiro, mas teve a desgraça de cair de uma árvore e fraturar os pulsos. E aí começou uma nova “via-sacra”. O contrato de trabalho era falso, não tinha direito à segurança social nem a nenhuma indemnização. Agora vive na esperança de poder ser operado e retomar o seu trabalho de jardinagem. Wilson vive um contínuo “advento” na esperança que a cirurgia se realize o quanto antes. Ao mesmo tempo vive uma “quaresma” cheia de sofrimento, esperando a ressurreição que lhe permita um emprego para poder alugar um quarto para deixar a rua e comer todos os dias um prato de sopa e algo mais. Quantos “Wilsons” deambulam pelas nossas ruas numa eterna “quaresma” para conseguirem um direito que lhe corresponde como pessoa e cidadão?

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a missão hoje

“Um exemplo luminoso que deve ser seguido” Depois da atribuição do seu nome à Quinta do Castelo, no Cacém, os Missionários da Consolata criaram agora uma sala em memória do padre Paulino Ferreira, o sacerdote recordado por todos pela sua “alegria e disponibilidade” Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

se sentissem em casa e, ao mesmo tempo, partir do exemplo do padre Paulino para recordar que cada vida doada é um exemplo luminoso que deve ser seguido”, explicou o padre Ermanno Savarino, responsável pelo CMPP. Decorada de forma moderna, mas sóbria, a nova sala conta com uma série de fotografias do missionário natural de Leiria, um pequeno texto sobre as suas principais características, e um tecido artesanal (batik) que Paulino Ferreira tinha comprado na Tanzânia e enviado para Portugal, para ser entregue aos Jovens Missionários da Consolata (JMC), um dos grupos que ajudou a fundar.

Os familiares do padre Paulino Ferreira esperam que esta homenagem sirva para humanizar mais a Consolata

Criou pontes entre pessoas e culturas, partilhou ideias e projetos, tornou-se próximo de quem com ele teve oportunidade de se cruzar. Ousado no sonho que tinha para a missão, deixou sementes que acabaram por frutificar, mesmo não estando presente. Mas, acima de tudo, a avaliar pelos testemunhos deixados por familiares e amigos, deixou uma marca de acolhimento. E foi para perpetuar este cunho que o Instituto Missionário da Consolata (IMC) decidiu reformular uma das salas do Centro Missionário Padre Paulino (CMPP), no Cacém, concelho de Sintra, e dedicá-la à memória do padre Paulino Ferreira, o missionário que faleceu de acidente rodoviário na África do Sul, em 1999. “Quisemos criar um espaço que fosse familiar, onde os grupos e os convidados 12

Fátima Missionária

“Quisemos criar um espaço que fosse familiar, onde os grupos e os convidados se sentissem em casa e, ao mesmo tempo, partir do exemplo do padre Paulino para recordar que cada vida doada é um exemplo luminoso que deve ser seguido”

“Sinto uma gratidão enorme em pertencer a esta família e foi o padre Paulino que nos inseriu nela. Na Consolata encontrámos uma família que nunca tínhamos experimentado. Há uma identidade neste espírito e sentimo-nos acolhidos, como só acontece normalmente numa família. Não são laços de sangue, mas são laços de fé”, afirmou Ana Isabel, dos Leigos Missionários da Consolata (LMC). Adelina Ferreira, irmã do missionário, manifestou-se agradecida pela homenagem, em nome de toda a família: “É um orgulho para nós, pois sentimos que o Paulino teve um papel importante no Instituto. Esperamos que este gesto sirva de incentivo para os mais novos e para humanizar ainda mais a instituição”. Na sessão de inauguração, realizada em finais de janeiro, o padre José Matias destacou a disponibilidade, alegria e entrega de Paulino Ferreira. “Era um jovem muito disponível em tudo e rezava bastante. Encontrava-o muitas vezes na capela, à noite, sozinho, em oração. Temos um santo no céu, a olhar por nós”, recordou o sacerdote.


FÁTIMA INFORMA

O momento de oração pela paz no mundo, na Capelinha das Aparições, será um dos pontos altos da iniciativa

Dez mil correm pela paz Corrida e Caminhada pela Paz colocam milhares de pessoas a “conciliar a prática desportiva com a espiritual”, num ano “especial”

Texto | JULIANA BATISTA Foto | FERNANDO PEREIRA, 100ISO Fotografias

São esperadas “cerca de 10.000 pessoas” para a sexta Corrida e Caminhada pela Paz pelas ruas de Fátima. Organizada pelo Grupo de Atletismo de Fátima (GAF), a iniciativa vai realizar-se dia 26 de março. A partida terá lugar junto ao Posto de Turismo, pelas 10h30. Para Joel Reis, presidente do GAF, e Luís Pereira, diretor-geral do evento, o “crescimento constante” do número de participantes nas edições anteriores mostra que esta “é já uma marca conceituada de Fátima e que se está a expandir”. A edição deste ano assume uma importância “especial” por integrar o programa oficial de comemorações do Centenário das Aparições. “Foram feitos inúmeros convites para participações especiais”, que serão conhecidas “em

datas mais próximas da realização do evento”, disseram, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. O “momento alto” da iniciativa vai acontecer na Capelinha das Aparições com uma oração em que “todos se unem” pela paz no mundo. A prova é destinada a “todas as pessoas empenhadas em potenciar a entreajuda” e visa criar um “momento de atitude positiva e de promoção do espírito da paz”. Além disso, é uma forma de “conciliar a prática desportiva com a espiritual”. A verba reunida com as inscrições vai reverter para o GAF, que “integra algumas crianças institucionalizadas, que encontram no clube todas as condições para o desenvolvimento de uma atividade desportiva regular, que tanta importância faz no seu desenvolvimento”.

Concerto no santuário

Os peregrinos de Fátima vão poder escutar Tânia Ralha (soprano), Nélia Gonçalves (mezzo-soprano) e Júlio Dias (baixo contínuo/órgão), dia 12 de março, entre as 16h45 e as 17h15. O concerto “Tradições da Música Sacra do Barroco” terá lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Música para jovens

O Santuário de Fátima convida os jovens com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos a participarem no encontro “Fátima (En)contraste”, dia 17 de março, pelas 21h30. A iniciativa contempla momentos de oração, música e reflexão, e terá lugar na Casa do Jovem, na Cova da Iria.

Cultura da misericórdia

O fórum da União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses (UASP) vai realizar-se na Casa São Nuno, dias 1 e 2 de abril, sob o tema “Do Jubileu ao quotidiano, a Misericórdia como paradigma”. O encontro conta com as intervenções do padre Anselmo Borges, da professora Maria do Rosário Carneiro, e do bispo emérito de Beja, Vitalino Dantas.

Agenda

MARÇO

Dias 04 e 05

Retiro da Quaresma no Seminário da Consolata: “Nos pastorinhos de Fátima: Jacinta, Francisco e Lúcia”

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ATUALIDADE

centenas de jovens deslocaram-se de vários pontos do país para participarem na peregrinação anual da Família Missionária da Consolata a Fátima

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Peregrinação

Jovens deixam-se contagiar pelo espírito missionário A devoção, a alegria, o espírito familiar e a estima pelo trabalho missionário marcaram a 27ª Peregrinação da Família Missionária da Consolata a Fátima. Entre as muitas mensagens e apelos deixados nas celebrações, destaque para os testemunhos dos mais jovens, que cada vez mais se deixam entusiasmar pelo carisma da congregação Texto | FRANCISCO PEDRO | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA | ANA GONÇALVES

Acompanhado pelos avós, Pedro Figueira, 17 anos, residente na Figueira da Foz, não precisou de muito tempo para responder à interpelação relacionada com o tema da peregrinação ­­­­– que maravilhas fez em ti o Senhor? Parecia que tinha a resposta na ponta da língua: “A alimentação que todos os dias tenho no prato, os meus familiares e o meu grupo de amigos”. A simplicidade da

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afirmação, não lhe retira a convicção. A mesma fé com que centenas de jovens se deslocaram de vários pontos do país para integrar o grupo de milhares de peregrinos que participaram na peregrinação anual da Família Missionária da Consolata a Fátima, no passado dia 18 de fevereiro. O “entusiasmo” juvenil pelo “espírito allamaniano” começou a manifestar-se logo na noite anterior, com a realização de uma vigília, participada por mais de 150 jovens. “O que nos chama aqui é a alegria e os testemunhos dos missionários, que nos deixam o ‘bichinho’ do voluntariado e da missão. E isso faz-nos pessoas diferentes, pois leva-nos a não sermos tão fechados ao mundo e a sermos mais tolerantes”, afirmou Rita Férias, 23 anos, professora do ensino primário e residente em Águas Santas, na Maia. Esta abertura e atenção ao próximo serviu também de linha orientadora à mensagem de Elio Rama, bispo de Pinheiro, Maranhão, Brasil, que presidiu à Eucaristia de encerramento da peregrinação. Partindo do exemplo do beato José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata, o prelado apelou aos milhares de peregrinos que se concentraram na Basílica da Santíssima Trindade para que nunca desistam de “agir com zelo missionário”, dedicação que deve ter sempre presente a “caridade, o conhecimento e a persistência”. “Aqui estamos junto com Maria para assumirmos a missão que o Senhor nos confia. Unidos, levemos ao mundo o Evangelho de Jesus, que é caminho, verdade e vida”, sublinhou Elio Rama, recordando que nos dias de hoje são ainda muitos “os pobres e oprimidos” que necessitam “de um sorriso, de uma presença, de uma ajuda”.

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“Aqui estamos junto com Maria para assumirmos a missão que o Senhor nos confia. Unidos, levemos ao mundo o Evangelho de Jesus, que é caminho, verdade e vida”


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devoção

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DOSSIER

“Fátima é uma expressão dessa fé popular que vê em Maria um presente de Deus” O venezuelano Arturo Sosa, de 68 anos, é desde outubro do ano passado Superior-geral dos jesuítas. No Vaticano, na Cúria da Companhia de Jesus, falou de Francisco (jesuíta e latino-americano como ele), da laicização da sociedade, do papel de Portugal na expansão do catolicismo e, claro, do centenário das Aparições de Fátima Texto | Leonídio Paulo Ferreira* Foto | Ana paula e lusa

“A devoção a Maria é algo muito enraizado na tradição cristã. Não é um privilégio dos portugueses nem dos latino-americanos, que somos muito marianos e muito devotos de Maria. É que desde os começos da comunidade cristã o lugar de Maria sempre foi de grande relevo”, afirma o venezuelano Arturo Sosa, Superior-Geral dos Jesuítas desde outubro, questionado sobre a importância do Centenário das Aparições de Fátima. Estamos na Cúria dos Jesuítas, no Borgo Santo Spirito, nº 4, em pleno Vaticano, a uma centena de metros da Basílica de São Pedro e o homem que nos recebe é o primeiro não-europeu a liderar a maior ordem da Igreja Católica, fundada no século XVI por Inácio de Loyola e hoje com 16.700 membros espalhados pelo mundo. O padre Sosa é apresentado por Patrick Mulemi, jesuíta zambiano que encabeça o departamento de comunicação da Companhia de Jesus. A conversa com o Superior-Geral é em espanhol, numa sala moderna, com confortáveis sofás cor de café com leite claro. Para a entrevista formal, gravada, combinamos que as perguntas podem ser em português e as respostas em espanhol. Formado em Filosofia e doutorado em Ciência

Política, Arturo Sosa está habituado a ouvir o português ou não fosse a sua Venezuela natal país vizinho do Brasil. A conversa, que foi marcada com a ajuda dos jesuítas em Portugal, prossegue com o tema Fátima: “Maria é como a expressão de uma fé levada à sua maior radicalidade. Maria foi capaz de aceitar algo que era muito difícil de entender. A sua maternidade foi marcada por perder o seu filho. E por isso é que a comunidade cristã sempre viu Maria como a mãe da Igreja e que sempre esteve a apoiar esse processo tão difícil que é o caminho da fé”, explica o padre Sosa. Para logo acrescentar, que “também a devoção mariana é uma coisa muito popular, do povo, da gente simples, é uma coisa humanamente muito intuitiva, uma espécie quase de conexão automática como faz cada um com a sua mamã. Creio que o Papa Francisco também esteve na sua história pessoal muito em contacto com a fé do povo. Que também é um dos pontos importantes da renovação da Igreja Católica na América Latina. Foi exatamente conetar-se com essa fé simples, das pessoas, popular. E Fátima é isso. Fátima é uma expressão dessa fé popular que vê

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Sobre Portugal e outros países onde o catolicismo continua a ser a grande religião mas onde a laicização da sociedade avança a passos largos, o Superior-geral dos jesuítas, tem uma visão otimista: “Vejo-a como um sinal dos tempos. É um processo que não serve de nada condenar ou deixar de condenar – é uma realidade – e que nos impõe vários desafios em Maria um presente de Deus. E que vê em Maria a possibilidade de ser cristão, porque a própria Maria era uma pessoa do povo, uma pessoa simples, que foi capaz de compreender, e dar o que deu, às pessoas”. A referência ao Papa tem que ver com a visita marcada para maio a Portugal, para o centenário de Fátima. Arturo Sosa é amigo de 20

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ARTURO SOSA ‘filho’ do CONCÍ “Depois do Concílio Vaticano II, em toda a Igreja, em todas as Igrejas, houve um progresso muito grande. Mas em concreto a Igreja latino-americana levou muito a sério o Concílio Vaticano II e isso provocou um movimento eclesial muito importante de renovação, de levar a sério a religiosidade popular, de desenvolver uma

Francisco desde o tempo em que este, também jesuíta, usava ainda o nome de Jorge Mario Bergoglio. Desde que substituiu em 2013 Bento XVI, o Papa argentino tem procurado dar um estilo mais caloroso à Igreja, muito latino-americano até. E isso viu-se quando se dirigiu à Cúria jesuíta, durante a reunião em outubro para eleger o novo Superior-Geral, e ficou toda uma

atividade pastoral muito mais enraizada na realidade cultural e política. E de certa forma creio que o Papa Francisco e eu somos filhos desse processo.” “O fenómeno migratório não é novo e questiono que um continente, como a Europa, que recebeu tantos imigrantes e deu também tantos emigrantes

manhã a conversar com os jesuítas. “Certamente que o Papa se converteu numa figura não só para a Igreja como para o mundo. Seguramente, será das pessoas mais escutadas. E tem duas coisas muito boas na sua mensagem: a clareza – não é preciso estar a interpretar pois diz aquilo que quer dizer – e uma linguagem que toda a gente percebe, uma linguagem muito acessível”, elogia o


O Papa pôs na ordem do dia o drama da maior parte da humanidade, o drama da pobreza, da marginalização da periferia

ÍLIO vaticano II ao mundo, hoje procure como fechar-se a um novo fluxo de que, no entanto, necessita. Porque a Europa está mais ameaçada se não receber imigrantes do que se os receber. A própria Europa, pelo seu desenvolvimento social e pela sua situação demográfica, precisa de imigração.”

padre Sosa o outro latino-americano que chefia a Igreja Católica. Diz ainda sobre Francisco “que o Papa pôs na ordem do dia o drama da maior parte da humanidade, o drama da pobreza, da marginalização da periferia. Um drama que não se resolve com soluções simples, que é um problema estrutural, que tem tanto que ver com a sociedade

humana como com a natureza. Deu ao discurso sobre a transformação social uma profundidade enorme, de uma forma sensível, sendo muito sensível e muito evangélico. Ele não pretende ser economista nem especialista em transformação social, senão uma pessoa que fala da sua fé e do seu coração. Uma pessoa que viveu situações muito difíceis na sua história, no seu país, e que conhece outras e as vive a partir do Evangelho. E isso é um desafio para a Igreja. Que faça uma predicação que tenha essa característica, que nasça do Evangelho, que nasça da fé, que nasça da palavra e que nasça do encontro e do reconhecimento das pessoas mais pobres”. Sobre Portugal e outros países onde o catolicismo continua a ser a grande religião mas onde a laicização da sociedade avança a passos largos, o Superior-Geral dos jesuítas, nascido em 1948 em Caracas, tem uma visão otimista: “Vejo-a como um sinal dos tempos. É um processo que não serve de nada condenar ou deixar de condenar – é uma realidade – e que nos impõe vários desafios. E o primeiro é compreender o processo, no que é que consiste, quais são as suas raízes, quais são as suas desvantagens e vantagens, pois também tem vantagens. E o segundo é aquilo que João Paulo II chamou a nova evangelização. Há que encontrar a maneira de anunciar o Evangelho nesta sociedade. Entre as vantagens que eu vejo neste processo está que aquele que assume o seu cristianismo ou o seu catolicismo o faz com muito mais consciência e com muito mais liberdade. O facto é que a laicização levou a que já não se aceite ser religioso por pressão. Na sociedade, praticamente até ao século XIX, não era possível não ser religioso – fazê-lo era procurar

marginalizar-se socialmente. Faltava algo muito importante: a escolha livre da fé”. Interrompo para perguntar se então há hoje menos cristãos mas muito mais convictos? E a resposta do padre Sosa é imediata: “Sim, e aí estão os números. Porque antes toda a gente era cristã. Agora há um processo, uma decisão pessoal, um eu quero ser, e isso também é um desafio. Propor o cristianismo como uma escolha, uma fé que a pessoa aceita livremente. E esta laicização não acontece só nas sociedades tradicionalmente cristãs, acontece por todo o lado, nas sociedades muçulmanas também”. A conversa dura quase uma hora. Muitos outros temas são abordados, desde os refugiados e a importância da educação para os jesuítas passando pela crise política e social na Venezuela. Mas uma frase merece destaque aqui, pois tem que ver com Portugal e a própria origem da Companhia de Jesus: “Simão Rodrigues, famoso companheiro de Santo Inácio, foi quem mais ajudou a configurar esta Companhia. Portugal foi a primeira província da Companhia. E foram os portugueses que criaram a primeira estrutura de governo dentro da Companhia, pois tinha a sua autonomia. E depois os portugueses foram os grandes missionários, na Índia, na América Latina, no Brasil. E também a presença dos jesuítas no Japão. E isso teve que ver com o papel de Portugal no mundo. Também de outros mediterrânicos, de Espanha, Itália e França. Mas os portugueses eram os grandes navegadores. Presentes em todo o mundo. E, portanto, os jesuítas eram parte dessa cultura de um país que, embora pequeno, foi capaz de partir para todo o mundo”. * jornalista do DN

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mãos à obra

Máquinas de costura contra a desigualdade

Equipamento serve para qualificar as jovens não escolarizadas da paróquia de Mshindo, na Tanzânia. Além de aprenderem uma profissão que as torne autossustentáveis financeiramente, recebem também indicações de comO integrar-se na sociedade

Texto Francisco Pedro Foto dr

não escolarizadas, alto nível de criminalidade e um grande número de crianças de rua, devido a gravidezes indesejadas e partos não planeados”, explica um dos coordenadores da campanha.

“tentamos dar as ferramentas necessárias às jovens para uma integração plena na sociedade” É um problema quase incontornável, que está enraizado um pouco por toda a África, e neste caso na paróquia de Mshindo, diocese de Iringa, na Tanzânia. Quando chega o momento de enviar os filhos para a escola, os pais nem sequer vacilam. Entre um rapaz e uma rapariga, a prioridade recai invariavelmente sobre o filho varão. Resultado: cada vez há mais adolescentes que abandonam o ensino ou que nem sequer tiveram a oportunidade de entrar numa sala de aulas. Para minimizar esta desigualdade de 22

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género, os missionários da Consolata que trabalham em Mshindo criaram um projeto destinado à compra de máquinas de costura e computadores para o centro de qualificação profissional, por forma a reforçar a formação das jovens e capacitá-las para entrarem no mercado de trabalho ou assegurarem a sua independência financeira. “A nossa paróquia é caracterizada pela extrema pobreza, pela falta de água que compromete a agricultura, pela elevada taxa de desemprego, grande quantidade de raparigas

Com a criação deste programa no centro de qualificação profissional, os missionários procuram, em primeiro lugar, “garantir” que os estudantes se tornem “financeiramente autossuficientes” para melhorarem as suas vidas e as dos que dependem deles. Depois, esperam reduzir o índice de desemprego, contribuindo também para combater o problema da prostituição juvenil, das gestações involuntárias e da indigência nas ruas da paróquia. Por último, mas não menos importante, pretendem “reduzir o número de jovens analfabetos em Iringa”. “No nosso centro não ensinamos apenas a fazer roupas, mas tentamos dar as ferramentas necessárias às jovens para uma integração plena na sociedade”, adianta o missionário responsável pela infraestrutura. Até agora, os cerca de 5.000 euros doados por benfeitores já permitiram a compra de dois computadores e uma impressora, 10 máquinas de costura completas, sete cabeças para as máquinas, 30 rolos de tecido, um conjunto de ferramentas, agulhas e linhas.


PEREGRINOS DE FÁTIMA

“O peregrino responde ao apelo da mensagem de Fátima pela penitência e pela reconciliação. E a Confissão pode acontecer ao longo da caminhada, como aqui, ajoelhado diante do sacerdote, num banco dE jardim. É a graça da misericórdia sob o olhar de Maria”

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# gente nova em missão QUARESMA

METANOIA PRECISA-SE Olá amiguinhos! Estamos quase a chegar à primavera. Março é mês de mudança da estação do ano, mas não só; a mudança que este mês nos propõe é muito mais profunda. O primeiro dia de março assinala o início do percurso de arrependimento e conversão que cada um de nós é convidado a percorrer, indo ao encontro de Jesus na mais linda e importante noite que brilha mais do que o dia. É a Quaresma, o itinerário de transformação, da metanoia que o mundo tão urgentemente precisa Texto | Cláudia Feijão ilustração | DAVID OLIVEIRA

Dia 1 de março é quarta-feira de cinzas. Para os cristãos, é o início da Quaresma, tempo litúrgico de preparação para a Páscoa, preparação essa que implica uma reflexão sobre a vida de cada um, pois muitas vezes andamos distraídos com coisas que parecem fazer-nos felizes mas que, na verdade, não nos fazem assim tão felizes. É necessário converter o coração, deitarmos fora o que de menos bom aí habita, pelo que ao longo deste período de 40 dias somos chamados a pensar no que temos feito e dito: “Tenho obedecido aos meus pais?”, “tenho falado sempre com Jesus?”, “tenho sido verdadeiro amigo da Maria?”, “tenho ajudado o meu colega Francisco que percebe pouco de inglês?”, “tenho usado bem a minha semanada?” são algumas das perguntas que interiormente devemos fazer, e a resposta surge quando, na nossa oração, ouvimos a voz de Deus. Também nas nossas ações encontramos a resposta: em vez de estar uma tarde 24

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TEMPO DE DIVERSÃO

Encontra as palavras indicadas no quadro que estão relacionadas com este tempo litúrgico que agora se inicia.

MOMENTO DE ORAÇÃO Obrigado Pai pelo amor misericordioso com que me acolhes sempre. Que nesta Quaresma eu me liberte das coisas menos boas e viva de acordo com o que Jesus ensinou. Que o meu jejum, as minhas ações e a minha oração me fortaleçam e sejam fonte de amor e consolação para todos os que precisam, e que o mundo seja mais fraterno, onde todos encontrem a verdadeira felicidade no dar e no dar-se. Pai-Nosso, Glória

A M A R A S J I B I Z E M Ç G X E C M C U T I Q M U S E O O E S C U T A R N A R D G J A V H V D Ç A U E A R Q E I O A Ç J A U E R Z N O R A I H Q S J D E P O O F L A M O R I B F P A O Ç A D I V I V E V C O T R C Q U X U I A I R G E L A A M

inteira a jogar no computador, combina com o Francisco e ajuda-o no Inglês, ou coloca o dinheiro dos chocolates de parte e dá a quem saibas que precisa verdadeiramente – o que a Igreja chama jejum, isto é, não é deixar de comer, mas colocar de parte o valor dos gastos supérfluos e com ele ajudar alguém que está a precisar. A nossa felicidade está no dar e no dar-se, a exemplo de Jesus que deu a própria vida. Porém, o mundo parece ter esquecido a alegria do dar, mais do que receber. Por isso, é necessário que cada um e em comunhão com os irmãos, nesta Quaresma, reze ainda mais pelos outros e que ajude aqueles que mais precisam para que os corações se convertam ao amor a Deus e ao próximo. Metanoia é uma palavra grega que significa isso mesmo: transformação, mudança, conversão. Assim, porque o mundo está desesperado de esperança, tolerância e amor, metanoia precisa-se!

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tempo jovem

O amor traz-nos fé e esperança Texto | Geoffrey Menya

Foto | LUSA

A quem rezamos? Deus existe? Estas são questões que deixam as pessoas a pensar. Quer um crente, quer um não crente, fica sem palavras. Porém, a maioria das respostas apontam para Deus. Mas, quem é Deus? Perante a existência de várias religiões monoteístas, cada um venera o seu Deus. Logo, trata-se de uma pergunta que nunca obterá a mesma resposta, devido à diferença do Seu nome. As religiões primitivas e tradicionais têm dentro do culto uma entidade suprema, força vital, espíritos, figuras representativas, e fazem ritos adequados à volta dessas entidades. Mas em tudo isto, no ‘background’ do coração, ou na mente do homem, há uma entidade que ultrapassa os limites humanos: um super ser que sente à sua volta. Tentem imaginar o mundo sem ordem. Como seria? Tudo está em ordem. E a quem a atribuímos? Pois é, sem Deus não existiria nem ordem, nem justiça, nem amor. Os desígnios de Deus ultrapassam o entendimento humano. E eu testemunhei isso recentemente: o Senhor salvou-me a vida! Não tenho palavras para explicar o que se passou na autoestrada do norte, no passado dia 10 de janeiro, após a Assembleia Missionária da Consolata, em Fátima. Antes de regressar a Lisboa, diretamente para a Universidade Lusófona, onde estudo, senti necessidade de me dirigir ao santuário. Nunca tinha rezado como rezei naquele dia: não tinha pressa. Rezei pela minha família, pelos meus amigos, e finalmente por mim mesmo. As minhas últimas palavras foram de agradecimento, por me ter chamado a ser missionário da Consolata. Rezei com tal profundidade que parecia o meu último dia na terra. Iniciei a viagem tranquilo, sozinho, ao som da música. Após meia hora de viagem, sofri um grave acidente. Não 26

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me lembro se adormeci: sei apenas que bati na barreira da direita e que saltou um pneu, o que fez rolar o carro sobre si mesmo algumas vezes. Vi a morte diante dos meus olhos. Ao ser socorrido, houve dificuldades em tirar-me da viatura. Como podia explicar tudo isto? Terá sido Nossa Senhora a facilitar a minha saída? Para mim, alguém me protegeu fortemente. Dado o estado da viatura, ninguém acredita que estou vivo. Estou certo que foi Nossa Senhora, à qual pedi proteção, que me salvou. Por isso, estou eternamente grato por esta graça concedida. Sei que estou perante um milagre que se deve louvar e testemunhar, principalmente aos que não acreditam em Deus. É, portanto, com convicção que afirmo: Deus ama-me! Com este acidente, apercebi-me o quanto passageira é a vida. Atualmente, a imagem de Deus passa muitas vezes despercebida, sendo esquecida e ignorada. Sou uma exceção: eu testemunho que foi Deus que me protegeu, Ele existe e está sempre presente, apenas devemos saber como reconhecê-Lo. Apesar de sermos criados à sua imagem, não significa que sejamos deuses. Quem faz a vontade de Deus, diz Jesus: “São aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8:21). De facto, Deus existe na nossa vida quotidiana enquanto fazemos o bem e evitamos o mal. Então, ninguém pode negar a existência de Deus, porque Deus é amor. Dizia São Paulo aos Coríntios: “Agora, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor” (1Cor13:13). Assim, o amor traz-nos fé e esperança. Deus manifestou-se ao mundo com maior amor quando ofereceu o seu filho muito amado na cruz para resgatar o mundo da morte. Negar a existência de Deus é negar o amor e vice-versa.


Deus existe na nossa vida quotidiana enquanto fazemos o bem e evitamos o mal

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sementes do reino

“Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | LUSA

As tentações no deserto e a aceitação da cruz no Getsémani são dois momentos essenciais para Jesus, que, ao aceitar o plano do Pai sobre Ele e para os homens, torna-se a fonte da salvação. Deus é a fonte da vida, da nossa vida, o único que nos pode livrar da tentação de O abandonarmos e substituirmos.

Leio a Palavra

Jesus foi levado ao deserto para ser tentado por 40 dias, como outrora Israel durante 40 anos, (Dt 8: 2, 4; cf. Nu. 14 34). Há três tentações conhecidas, com destaque para três citações tiradas do Deuteronómio, com a finalidade de atentar contra o comandamento do amor. As três tentações, à primeira vista enigmáticas, podem ser entendidas à luz da tradição judaica interpretando (Dt 6,5) como as tentações contra o amor de Deus, valor supremo. Não amar a Deus “de todo o coração”, fazendo dos bens materiais a prioridade fundamental da vida; não amar a Deus “com toda a sua alma”, utilizando os dons de Deus para satisfazer projetos pessoais de êxito e de triunfo humano; não amar a Deus “com todas as suas forças”, fazendo do poder e do domínio humano a prioridade fundamental da vida. No final, Jesus aparece como aquele que, contrariamente ao que aconteceu com o povo de Israel, ama a Deus perfeitamente e tudo submete a esse amor verdadeiro e infinito.

Saboreio a Palavra

Podemos saborear a catequese sobre as opções de Jesus em três “dimensões”. A primeira (vers. 3-4) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho

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de realização material, de satisfação de necessidades materiais. A resposta que Ele dá citando Dt 8,3 ensina que o seu alimento é o cumprimento da Palavra (isto é, da vontade) do Pai. A segunda “dimensão” (vers. 5-7) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de “exibição”, mas Ele responde a esta tentação citando Dt 6,16, e sugere que não está interessado em utilizar os dons de Deus para a sua promoção e imposição pessoal. A terceira “dimensão” (vers. 8-10) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder. Citando Dt 6,13, contrapõe esta tentação diabólica ao absoluto do Pai. Só Ele deve ser adorado.

Rezo a Palavra

Para Jesus, ser “Filho de Deus” significa viver em comunhão com Ele. Escutar a voz, realizar os projetos e cumprir obedientemente os planos desse Deus que é Pai. Tal como Israel, ao longo da sua caminhada pelo deserto, também nós sucumbimos frequentemente à tentação de ignorar os caminhos e as propostas de Deus. Jesus é aquele, o único, que nos pode ajudar a vencer a tentação de prescindir de Deus e de escolher caminhos à margem dos seus projetos.

Vivo a Palavra

A imensa dificuldade com a qual frequentemente nos debatemos é de saber se estamos ou não em comunhão com Deus naquilo que somos, dizemos e fazemos. A resposta, só em nós mesmos a podemos encontrar quando nos perguntamos: onde está o meu coração? Quem o preenche? A quem o confio?


A palavra faz-se missão

MARÇO

05 Viver da Palavra

1º Domingo da Quaresma | Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Rom 5, 12-19; Mat 4, 1-11

“Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Vai certamente sair muita palavra da boca de Deus nesta Quaresma. Vão surgir muitos convites a mudar de vida, a procurar o essencial e a confiar novamente no Senhor.

Que este tempo sagrado me renove e faça crescer na comunhão com Deus e os irmãos.

12 Subir ao monte

2º Domingo da Quaresma | Gen 12, 1-4; 2Tim 1, 8-10; Mat 17, 1-9

Subamos ao monte com Jesus. Com Cristo andemos pelos caminhos da Páscoa: escutando a Palavra de Deus, despojando-nos daquilo que não serve, cumprindo a vontade do Pai e entrando na nuvem da nossa comunhão com Deus. Levemos ao mundo sementes de transfiguração pela luz das boas obras e com o coração renovado.

Que a luz da Tua Palavra, Senhor, inunde todo o meu ser e me faça, no mundo, reflexo da tua claridade.

19 Fonte de água viva

3º Domingo da Quaresma | Ex 17, 3-7; Rm 5, 1-8; Jo 4, 5-42

É tempo de ir à fonte. Com o nosso cântaro vazio a precisar de uma água viva que nos mate a sede. “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba”. Talvez andemos perdidos ou afogados noutras águas. Talvez bebamos águas sujas de cisternas rotas. Só Deus, fonte de água viva, te pode saciar. Quem é Deus? Como é Deus? Onde está Deus? Ter sede de Deus e procurar essa fonte é já encontrá-Lo e com Ele saciar a nossa sede.

Dá-me, Senhor, da Tua água que refresque toda a minha vida.

26 “O Senhor ungiu os meus olhos”

4º Domingo da Quaresma | 1 Sam 16, 1-13: Ef 5, 8-14; Jo 9, 1-41

Também nós nascemos cegos e tivemos que lavar os olhos. A luz é um dos símbolos mais belos da Sagrada Escritura. “O Senhor é minha luz e salvação, de quem hei de ter medo?” Pelo batismo, o Senhor ungiu os nossos olhos e deu-nos a graça de sermos seus discípulos, filhos da luz. Mais: entregou-nos a tarefa de rasgar as trevas do nosso mundo.

Abre, Senhor, os meus olhos, à beleza da Tua vida e torna-me consciente da grandeza da fé que pelo batismo nos concedeste. Darci Vilarinho

intenção pela evangelização MARÇO Pela Evangelização: Pelos cristãos perseguidos, para que experimentem o apoio de toda a Igreja na oração e através da ajuda material

Cristãos perseguidos Quantas notícias invadem as nossas casas através dos meios de comunicação social? Às vezes ficamos como que acostumados, outras vezes temos a sensação de não poder fazer nada. A oração pode ser uma solução para não cair na indiferença ou na resignação. Rezar por alguém é um compromisso sério. A oração é profundamente pessoal e não somos obrigados a rezar pelos outros; por isso, quando nos decidimos a fazê-lo, estamos a realizar um ato gratuito de autêntica caridade e estamos também a ligar a nossa vida à dos outros, numa comunhão que supera todas as distâncias e que nos faz ser Igreja. É esta comunhão que nasce na profundidade da oração que nos chama a fazer algo, a dar o nosso contributo. E quando não há maneira de fazer alguma coisa pessoalmente para aqueles que sofrem, a nossa oração sustém aqueles que em outras partes do mundo podem ajudar. Os cristãos perseguidos hoje em dia, em diferentes partes do mundo, lembram-nos que o Evangelho continua a ser uma mensagem contracorrente. Ermanno Savarino

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violações e injustiças; relações entre o norte e o sul do planeta, batendo-se por uma justa cooperação entre as nações; cultura, usos e costumes dos povos, sociedade, religiões e missão da Igreja; divulgação de notícias de todo o mundo, com prioridade para os países menos desenvolvidos; formação para a mundialidade, e apoio a campanhas de solidariedade para com as minorias e grupos humanos mais desfavorecidos, designadamente refugiados e povos ameaçados de extinção. Fátima Missionária é propriedade da Dele­gação Portuguesa do Instituto Missionário da Con­so­lata. Não tem fins lucrativos, não tem vínculos partidários, nem é órgão oficial de qualquer instituição ou religião. Dirigida pelo seu diretor, equipa de redação e administrador, propõe-se colaborar com os órgãos de comunicação afins e com associações cujos objetivos sejam a defesa dos seus interesses e finalidades. Fátima Missionária compromete-se a res­­pei­tar os princípios deontológicos e a ética pro­fis­sional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores. Fátima Missionária é mensal e é distribuída por assinatura, vivendo exclusivamente da con­tri­bui­­­ção generosa dos seus assinantes, leitores e ami­gos.

Fraternas saudações

As de votos solenes são sete angolanas, duas espanholas, uma moçambicana e uma portuguesa, uma comunidade internacional, unida na diversidade. Agradecemos a todos os que colaboram na publicação, como aos que contribuem e tornam possível que chegue às mãos dos leitores. Nós, como contemplativas, a todos queremos ajudar com a nossa oração-adoração-reparação nos turnos diurnos e noturnos. Unidos na oração, juntos na missão.

Fátima Missionária assume-se co­mo uma publicação de informação geral com a missão de promover os autênticos valores humanos e cristãos, tais como a paz, a solidariedade, a justiça, a fraternidade e a defesa do ambiente. Fátima Missionária tem como objetivo informar os leitores sobre os mais diversos temas que dizem respeito sobretudo a Fátima e aos povos do Terceiro Mundo, nomeadamente aos de língua portuguesa. Pretende ser um veículo de notícias e iniciativas que circulam em ambos os sentidos. Fátima Missionária pretende chegar às cidades e às aldeias, dentro e fora do país; dirige-se a um público muito variado: crianças, jovens e adultos sem distinção de raça nem credo – usando para isso mesmo um estilo simples e acessível a todos. Fátima Missionária nasceu e mantém a sua sede na cidade de Fátima, cada vez mais um ponto de encontro de povos e cul­tu­ras, a nível mundial. Como o seu nome in­­ dica, quer informar sobre a Missão em geral, desenvolvendo as potencialidades que o tema encerra: evangelização e promoção dos povos; di­­reitos humanos, incluindo a denúncia dos seus atropelos,

As Irmãs Clarissas de Chidenguele, Xai Xai, Moçambique, vêm muito reconhecidas agradecer o envio regular da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA e renovam o pedido de a continuarem a receber. A sua leitura é muito útil e necessária tanto para as irmãs que estão na formação como para todas as outras. Graças a Deus, nesta incipiente fundação já somos 16 – nove de votos solenes, duas juniores, uma postulante e duas aspirantes. As juniores, postulante e aspirantes são moçambicanas.

Irmãs Clarissas, Chidenguele


GESTOS DE PARTILHA

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE NOS A CONCRETIZÁ LOS PROJETO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

CAMPANHA

“COMPRESSA 2016

2017

AMIGA

Na Etiópia, todos os anos milhares de crianças são vítimas de queimaduras domésticas, por falta de condições de segurança nas habitações. Muitas não resistem aos ferimentos. Outras, ficam com marcas para o resto da vida. Na região de Oromia, os profissionais do Hospital Rural de Gambo, gerido pelos Missionários da Consolata, travam uma luta diária para salvar estes menores. E nem sempre têm à sua disposição os meios indispensáveis. 1,00€ = 2 tubos creme óxido de zinco 5,00€ = 5 caixas de gase gorda 10,00€ = 1 caixa de luvas hospitalares 25,00€ = 15 frascos de soro fisiológico 50,00€ = 30 embalagens de compressas Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Campanha “COMPRESSA AMIGA” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05

VAMOS AJUDAR?

CRIANÇAS DA ETIÓPIA Gabriela 10€; Judite 5€; Antonina Furtado 5€; Domingos Horta 5€; Bernardina Silva 5€; Ana Antunes 5€; Serafim e Graciosa 10€; Amália Moreira 20€; Maria Tomaz 5€; Rosário Varela 5€; Maria Horta 5€; Maria de Lurdes 40€; Isabel Swart 10€; Alberto Swart 5€; Fernanda da Cruz 5€; Anastácia Cunha 5€; Anónimo 5€; Sílvia Afonso 50€; Emília Ferreira 5€; Ângela Antunes 10€; Adélio Costa 10€; Anónimo X 25€; Carmo Tubarão 23€; Mário Carvalho 1€; Anónimo 21€; Sofia Vicente 43€; Anónimo 20€; Eugénia Jorge 50€; Olinda Araújo 53€; Idalina Lopes 10€; Adelaide Fernandes 10€; António Filipe 20€; Fátima Matias 10€; Conceição Lucas 53€; Alexandrina Gravito 30€; Gracinda Silva 24€; Carlos Fernandes 6,70€; Anónimo 30€; Laurinda Faria 20€; Dolores Dinis 10€; Anónimo 10€; Nuno Duarte 10€; Piedade Brazão 90€; Teresa Ferreira 85€; Ema Cardoso 85€; Maria Reis 85€; Manuela Pimenta 85€; Silvina Antunes 85€; Guilhermina Frazão 85€; Joaquim Silva 60€; José Castro 10€; Anónimo 5€; Francisco Júnior 5€; Anónimo 6€. Total geral = 6.273,70€ CRIANÇAS DE MKINDU – TANZÂNIA Isabel Catarino 73€. BOLSAS DE ESTUDO Rui Silva 250€; Alfredo António 500€. OFERTAS VÁRIAS Anónimo 40 €; Ludovina Oliveira 150€; Domingos Mendes 43€; José Gomes 30€; Ester Barbosa 31€; Isilda Gomes 179€; Helena Torres 36€; Manuela Gama 90€; Anónimo 25€; Maria Fernandes 138€; Adelina Neves 116€; Quitéria Paiva 80€; Elvira Martins 53€; Teresa Ramos 33€; Eugénia Talefe 1.000€; António Gabriel 33€; Jorge Campos 33€; Anónimo 263€; António Silva 193€; Anónimo 153€; Rui Faria 45,50€; Rosa Martins 36€; Manuela Carlos 56€; Isilda Reis 43€; Madalena Roquette 36€; António Mendes 43€; António Gomes 72€; Maria Magalhães 36€; Filomena Jorge 43€; Eugénia Vicente 73€; Ana Ventura 43€; Emídio Major 136€; Maria Barradas 43€; Maria Lourenço 43€; Fernando Pedrosa 100€; Armindo Coelho 43€; Fernando Zagalo 93€; Dominicanas do Rosário Perpétuo 33€; Luzia Pires 29€; José Silva 43€; Isabel Inácio 33€; Augusto Carvalho 50€

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º Dto - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Padre ROSANO STOFELLA

Simplicidade e contemplação Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Por vezes, ao escrever o resumo da vida de um dos nossos missionários, penso que quanto menos “jeitoso” o testemunho é, mais “jeito” tem. A palavra missionário lembra-me os meus tempos de garoto no seminário. Durante as reuniões da Cruzada Missionária cantavam-se hinos missionários que empolgavam a nossa visão da missão. Recordo dois maravilhosos: Pioneiros da Fé, e A Caravela. No Pioneiros da Fé, o ‘Quinzito’, do Arrabal, que tinha uma voz encantadora, fazia a parte de solista com uma perfeição comovente. O ‘Quinzito’, padre Joaquim Alves Ferreira, foi o primeiro missionário da Consolata português a partir para o céu, num desastre de moto em Moçambique (1967). Vem isto a propósito, ou despropósito, da vida do missionário que hoje vou resumir, o padre Rosano. É que a vida dele não teve aparentemente nenhuns arroubos de visões apostólicas extraordinárias. Nasceu em 21 de setembro de 1914, dois meses depois de começar a Grande Guerra. Entrou para os Missionários da Consolata e foi ordenado sacerdote em 23 de junho de 1940. Em 1946 foi enviado para as missões do Brasil. Lá trabalhou no silêncio e na humildade.

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Fátima Missionária

“O padre do amor assíduo aos doentes… O padre que ia a todos os velórios para encomendar ao Senhor os corpos dos falecidos… O padre das bênçãos... O padre do confessionário… O padre que na vida comunitária mostrava obediência, disponibilidade e alegria… O padre que tinha um coração transbordante de mistério, um coração sacerdotal repassado de sofrimento e alegria… O padre que alternadamente saboreava as visões do Tabor e do Getsémani… O padre que viveu uma vida de simplicidade, contemplação e sofrimento”, – eis algumas das expressões com que os seus confrades o descreveram. E quando os confrades o interrogavam sobre o seu sofrimento, respondia serenamente: “Não, não me dói nada, está tudo bem comigo. Graças a Deus!” O padre missionário da santidade sofrente e silenciosa partiu mansamente para a sua Senhora no dia de Nossa Senhora de Lurdes, 11 de fevereiro de 2003. E fez-se o seu velório na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Imirim, Brasil. Na homilia do seu funeral proclamou o celebrante: “O padre Rosano: sacramentino, consolatino, o tipo do bem bem feito”. E o povo a responder: “Sim, este padre era um santo”.


O QUE SE ESCREVE

NÃO COMECES A DESISTIR, NÃO DESISTAS DE COMEÇAR

Esta obra apresenta pensamentos para cada dia do ano. Todos, mesmo! Se dúvidas houvesse, o propósito fica claro antes mesmo de o abrirmos, no canto inferior direito da capa: “Para iniciar cada dia sob o signo da esperança”. São pensamentos que trazem em si a força da esperança e a ousadia da coragem e incentivam o leitor a fazer de cada manhã uma oportunidade para resistir à tentação de desistir. Porque cada dia é um (re)começo. Autor: João António Pinheiro Teixeira Páginas: 272 | Preço: 10,00€ Edições Salesianas

A SENHORA DE MAIO Todas as perguntas sobre Fátima

No Centenário das Aparições de Fátima, saudamos o lançamento de livros como este. O subtítulo é curioso: “Todas as perguntas sobre Fátima”. Ou seja, mais que trazer respostas, este livro lança perguntas. E não são poucas. O fenómeno de Fátima é complexo e controverso. Sempre foi. Há múltiplos olhares, uns mais críticos, outros menos. Mas todos necessários. A dúvida purifica a fé. A partir de vários e plurais depoimentos e documentos aqui recolhidos, este livro procura despertar uma visão o mais completa e abrangente possível do fenómeno de Fátima. Autor: António Marujo, Rui Paulo da Cruz Páginas: 400 | Preço: 17,70€ Temas e Debates – Círculo de Leitores

REZAR NA QUARESMA

Na Quaresma és convidado a trilhar os caminhos de Jesus, estando mais atento à sua Palavra e, sobretudo aos seus gestos. Este livro ajuda a fazer esse caminho de observação e mudança. Ajuda a rezar mais e melhor. Para tal, inspira-se na liturgia do dia, propondo um diálogo de oração entre a Palavra e a vida, a nossa vida. Cada dia da Quaresma é preenchido com um texto bíblico, uma imagem para contemplar, uma meditação para pensar e uma oração final. Autor: Rui Alberto Páginas: 96 | Preço: 1,50€ Edições Salesianas

ORAI ASSIM – VIA SACRA

A via-sacra está presente na quase totalidade das comunidades cristãs, especialmente durante a Quaresma. Por isso, são sempre bem-vindas novas propostas e novos textos para enriquecer esta manifestação de fé cristã. A originalidade deste esquema – a Via Sacra “Orai Assim” – reside na ponte que estabelece entre os textos bíblicos das estações e textos da Mensagem de Fátima. Sintoniza, portanto, com o ano em que celebramos o Centenário das Aparições. Autor: Marcelino Paulo Ferreira Páginas: 40 | Preço: 2,50€ Edições Salesianas

FÁTIMA – MILAGRE OU CONSTRUÇÃO

Desde que três crianças anunciaram ter visto Nossa Senhora na Cova da Iria, a 13 de maio de 1917, atraindo até hoje muitos milhões de fiéis a Fátima, e após muitas controvérsias políticas e eclesiais, o tema merece uma investigação aprofundada. É o que propõe Patrícia Carvalho, jornalista do Público. Com o subtítulo “A investigação que explica como tudo aconteceu”, este livro, com perfil essencialmente jornalístico, oferece ao leitor uma investigação baseada nos mais variados documentos da época das aparições. É interpelador. Autor: Patrícia Carvalho Páginas: 232 | Preço: 15,50€ Ideias de Ler

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MEGAFONE

por albino brás

“Sou convertido a Fátima. Eu era um cético” António Marto bispo de Leiria-Fátima

“Quero-te não exatamente por quem tu és, mas por quem eu sou quando estou contigo” Gabriel García Marquez (1927-2014) escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano

“Os terroristas são tão inimigos dos muçulmanos quanto dos ocidentais. Os terroristas não têm religião; são pura e simplesmente um processo violento de conquista de poder, de luta por um ideal”

“Sempre que eu falo de forma responsável de questões humanas eu estou a falar de Deus, porque Rui Marques Plataforma de Apoio aos Refugiados não há diferença. O ser humano é “O pobre não precisa de prólogo, a realidade mais introdução, nem de um índice do que é a sua sagrada que vida. Se a um pobre lhe perguntas «Quais são nós podemos os teus bens?», ele responde: «Eu»” experimentar. Uma religião que não Luna Tobar (1923-2017) arcebispo emérito de Cuenca, Equador me ensine a amar as questões humanas, “Não é porque as coisas são difíceis que aliena-me, não serve não nos arriscamos, é porque não nos para nada” arriscamos que elas se tornam difíceis” Lucius A. Séneca (4 a.c.-65) filósofo e escritor da Roma Antiga 34

Fátima Missionária

Fábio de Melo padre cantor e escritor brasileiro


OS ASSINANTES SÃO O NOSSO ORGULHO E A NOSSA FORÇA. AJUDE NOS A IR MAIS LONGE.

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NO ANO DO CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES

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Envie os dados do novo assinante (nome, morada, local, código postal, telefone) para: FÁTIMA MISSIONÁRIA | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 460 e-mail assinaturas@fatimamisionaria.pt Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€


Em sintonia Mãe de Jesus, faz com que sintamos o verdadeiro sentido da cruz e que este sentido brilhe no nosso coração, nas nossas dificuldades, no nosso contacto com o sofrimento dos outros e os coloque no lugar certo relativamente aos sofrimentos do mundo e a todos os seres humanos. Faz com que rezemos contigo. Mãe de Jesus, em união com os sofrimentos de toda a humanidade. Carlo Maria Martini

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Fátima Missionária


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