ANO LVIII | NOVEMBRO 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤
ESCRAVIDÃO
TRÁFICO DE SERES HUMANOS MOVIMENTA MILHÕES EM TODO O MUNDO
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ESCOLAS DE PERDÃO EM PORTUGAL Pág. 10 TUDO SOBRE AS ELEIÇÕES AMERICANAS Pág. 14 ESCUTEIROS EM FÁTIMA Pág. 34 HÁ 30 ANOS
editorial
“PARA VINHO NOVO, ODRES NOVOS!”
Terminou o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã. Foi a décima terceira edição do Sínodo Ordinário, desde que foi restaurado pelo Papa Paulo VI, após o Concílio Vaticano II. Os temas, escolhidos pessoalmente pelo Santo Padre, tiveram sempre grande relevância para a ação pastoral da Igreja. De particular interesse foi o terceiro Sínodo, em 1974, o último de Paulo VI, que resultou na Exortação Apostólica, “Evangelii Nuntiandi”, um precioso documento que deu novo impulso evangelizador à Igreja. Também este último Sínodo foi convocado para infundir vitalidade às comunidades cristãs e para dar respostas concretas às muitas perguntas que surgem hoje na Igreja, no que diz respeito à sua capacidade de evangelizar. Provavelmente só no próximo ano é que vamos ter uma Exortação Apostólica de Bento XVI com a sua leitura das conclusões dos padres sinodais. E agora, o que é que vai mudar? Perguntam as pessoas. As expectativas são sempre altas, mas a mudança é sempre difícil. Mais do que nunca se sente a necessidade de novos instrumentos e novas expressões para tornar compreensível a Palavra de Deus nos ambientes da vida do homem contemporâneo. Sabemos, porém, que se não houver a renovação das estruturas pastorais e sobretudo se não houver mudanças na mente e no coração das pessoas, de pouco servirá tal documento. “Para vinho novo, odres novos!”, diz-nos o Evangelho. É compreensível o interesse que o Sínodo despertou. Há templos vazios que questionam a Igreja. Há necessidade de falar uma linguagem que tenha em conta as novas gerações. Há que propor uma evangelização que ajude as pessoas a encontrarem-se pessoalmente com Jesus, fonte de toda a novidade. A fé cristã não é um tratado filosófico, é um seguimento de Jesus, é um tornar-se discípulos do único Mestre. Citando o pensamento do bispo António Couto, precisamos todos, a começar pelos evangelizadores, de “uma grandíssima reforma de vida, uma grandíssima conversão ao estilo de Jesus. Jesus era um homem feliz, pobre, despojado, ousado, próximo e dedicado. Esse tem de ser o estilo do evangelizador. Se nós tivermos evangelizadores assim, audazes, testemunhas verdadeiras, pura transparência de Jesus Cristo, não tenho dúvidas que a mensagem passará. Se formos desfigurados e o nosso rosto não for o de testemunhas verdadeiras, se não for claro que seguimos a mensagem que Ele nos deixou, o Evangelho não passa e continuará a não passar”. Mais do que as ideias é o testemunho que convence. Esperamos pois que o Sínodo ajude a Igreja a abrir-se cada vez mais à sociedade. Que não caia na tentação de entrar em proselitismos ou condenações absurdas, mas que se apresente ao mundo desarmada, acolhedora e dialogante. Que saiba construir pontes para poder passar para o outro lado do rio. Que adote uma linguagem que desperte no mundo otimismo e esperança, promova um novo ardor missionário como resposta aos novos desafios da história e suscite novas atitudes, sobretudo para com os mais desfavorecidos da sociedade. DARCI VILARINHO
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA
Nº 10 Ano LVIII – NOVEMBRO 2012 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.800 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista, Manuel Carreira Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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TRÁFICO HUMANO UMA REALIDADE AGRAVADA PELA CRISE
03 EDITORIAL “Para vinho novo, odres novos!” 05 PONTO DE VISTA Construir pontes, hoje 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES É primavera, afinal! 08 MUNDO MISSIONÁRIO Europa está a envelhecer cada vez mais
Desnutrição destrói milhões de crianças Lamento e desejo de um bispo chinês África deve combater a fome com apoio ao trigo 10 A MISSÃO HOJE “Tema do perdão é o mais desconhecido na Igreja católica” 11 FIO DA HISTÓRIA Dona Soledade a mãe 12 A MISSÃO HOJE Nova visão missionária do Concílio Vaticano II 13 DESTAQUE Os desafios do chavismo 14 ATUALIDADE Nove perguntas e respostas sobre as presidenciais americanas 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Festa dos fiéis defuntos 24 TEMPO JOVEM Reinventar a mudança 26 SEMENTES DO REINO A cultura da solidariedade 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Na retaguarda também há missão 32 OUTROS SABERES O bom e o belo 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Nas horas más todos dizem “Ai Jesus” 34 FÁTIMA INFORMA Escuteiros de Fátima 30 anos
a deixar pegadas
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ponto de vista
CONSTRUIR PONTES, HOJE O mundo da Igreja é o mundo das pessoas. As sociedades, ao longo da história, evoluíram conforme a sua capacidade de aquisição de conhecimento, funcionando este motor do desenvolvimento. texto ARNALDO AFONSO DA FONTE* como O conhecimento tornou o homem mais poderoso, mas não o terá tornado melhor. O poder do dinheiro gera disputas. E vêm as guerras, para aniquilar o Outro. As guerras são pessoais, familiares, interclassistas, nacionais e internacionais. O inimigo do homem é sempre outro homem. A luta diária tem como fim aumentar
onde a vida é mais difícil, onde o sofrimento humano é maior. Têm ajudado a fazer a paz entre os homens, como na Colômbia, Perú, Venezuela, Brasil. O caso da Colômbia será o mais visível, pela violência atingida pelas partes beligerantes ao longo de décadas. As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aceitam depor as armas, integrar a vida civil segundo normas de conduta que dispensam o confronto armado. E os missionários tiveram um desempenho único para que este cessar de hostilidades venha a ter as consequências que todos os colombianos desejam. Não avançaram com armas, não recriminaram, não condenaram, não tomaram partido. Não. Foram ao encontro das partes que têm
A Igreja, hoje com particular evidência, tem-se mostrado construtora de pontes, por estar menos fechada à sociedade a que pertence. Os apóstolos missionários não andam pelo mundo a impor pontos de vista, a subjugar populações, a ditar condutas de vida. Dão-se a conhecer, deixando ler, no seu trabalho, a mensagem de que são portadores a posse de bens materiais, garantir a sobrevivência própria e dos seus. Os problemas das sociedades contemporâneas são, mais do que nunca, problemas do ser. A Igreja, hoje com particular evidência, tem-se mostrado construtora de pontes, por estar menos fechada à sociedade a que pertence. Os apóstolos missionários não andam pelo mundo a impor pontos de vista, a subjugar populações, a ditar condutas de vida. Dão-se a conhecer, deixando ler, no seu trabalho, a mensagem de que são portadores. Não se apresentam nos salões do poder, nos quartéis onde se guardam as armas mais letais, nos escritórios das grandes multinacionais. Penetram nos lugares mais desprotegidos, seja na selva amazónica ou em África,
armas e dialogaram. Foram aceites por todos. Fizeram-no porque se tornaram fiéis mensageiros da Verdade, da Igualdade e do Amor. Jesus foi assim que viveu o seu amor por nós. Este é o cálice servido aos missionários. É esse o cálice que dão a beber. Na Argélia, Líbano, Líbia, Egito e Síria, casos muito atuais, são missionários os facilitadores chamados por quem tem o poder, para lutar pela paz. À Igreja cumpre-lhe assumir esta luta, por ser um porto de abrigo seguro – o garante da paz. Deve ser uma casa de perdão. É o meu ponto de vista. * Advogado
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leitores atentos
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Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Estimado Diretor, Primeiramente saúdo-vos com votos de boa saúde. Quanto a mim estou presentemente bem, graças a Deus. Agradeço-vos por continuarem a mandar as duas assinaturas da revista, as quais são muito apreciadas entre nós emigrantes. Principalmente os doentes e idosos. Obrigadíssimo, em nome de todos. Peço-vos desculpa por não 6
A REVISTA MERECE
Aqui vos envio este cheque, com esta importância. O que vai aqui é aquilo que os nossos colaboradores me ofereceram para eu vos enviar, uns mais outros menos, mas o que é essencial é que é dado com carinho. Pois a nossa revista merece e todos os que a tornam mais agradável também merecem. Gosto muito da maneira como ela agora está. Marcolina
MISSÕES ACIMA DE TUDO
Ex.mo senhor padre, Por vale de correio mandei 25,00€ para pagamento da revista de 2013. É necessário que os assinantes percebam que só tem valor o que nos faz falta, e que não se desculpem com a crise, para o não cumprimento das suas obrigações. As missões estão acima de todas as crises. António
TEM QUALIDADE
Ex.mos missionários da Consolata, A paz e o amor de Deus estejam com todos vós. Sou assinante da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA há bastante tempo e dou-vos os parabéns porque têm sempre melhorado a sua qualidade, tanto no aspeto como no conteúdo. Parabéns!
ter atualizado o pagamento das mesmas para 2012, junto agora a respetiva importância. E agradeço-vos por tudo. Desejo-vos votos da continuação de bom trabalho na sua missão. Filomeno
Senhor Filomeno, pego na sua carta para fazer alguns comentários e para dar a conhecer a outros leitores que a FÁTIMA MISSIONÁRIA é lida não só em Portugal, mas também na Europa e no mundo. Onde houver um português ou uma portuguesa aí está ela. Tenho
Mando esta importância para ajudar algum projeto mais urgente; é pouco mas é dado com amor aos que mais precisam. A vida não está fácil para nós pensionistas. Mas dou graças a Deus que me tem dado força para fazer algum trabalho e para orientar o que Deus me dá. Julieta
SOBREVIVÊNCIA
Ex.mos Senhores, Obrigado pelo envio da FÁTIMA MISSIONÁRIA em cujos artigos eu encontro tantos motivos para superar situações tristes e também básicas dos que lutam «neste vale de lágrimas» pela luz e sobrevivência dos nossos semelhantes. Bem hajam missionários de todas as ordens que dão, a quem tudo falta, o conforto da grande força que é o imenso amor do nosso Pai do Céu. E a nós o conhecimento destas situações. Para pagamento da minha assinatura e para as obras em que vos empenhais, envio este cheque no valor de 60,00€ pedindo o respetivo recibo para efeitos de IRS. Amélia
por certo que a revista, lida pelos emigrantes, que por obrigação têm de falar a língua do país onde se encontram, os ajuda a manter o contato com Portugal, e também a manter viva neles a sua língua materna. Oxalá que todos façam como o senhor Filomeno que a dá a conhecer a outros emigrantes e todos possam partilhar a sua boa leitura. MC
horizontes
demonstrações de alegria que a enchiam de calor? Será que quem a substituísse adaptar-se-ia aos seus gostos e aos seus jeitos particulares de ser? Sentir-se-iam abandonados? E os encontros das quartas-feiras à tarde com as colegas de trabalho para tomar o “chazinho das amigas” e contarem anedotas que construíam nas desventuras do dia a dia? E a sua sensação de estar a realizar algo de grandioso quando a brisa da manhã a ajudava a despertar e a fazia agradecer mais um dia?
É PRIMAVERA, AFINAL! TEXTO TERESA CARVALHO ILUSTRAÇÃO VICENTE SARDINHA Leonor entra em casa eufórica, com ar de vencedora, ostentando na mão uma carta aberta. – Oi! Onde estão todos? Vejam, chegou! Maria correu da sala para agarrar-se às pernas da avó como fazia sempre que a via, e José e Micaela num salto estavam junto à mãe para saber qual o motivo daquela alegria: Com emoção, Leonor leu pausadamente: “deferido o seu pedido de reforma com efeitos a partir do dia 2 de outubro”. Num ímpeto de felicidade, abraçou e beijou os filhos e a netinha como se tivesse atingido um momento há muito sonhado. E era-o de facto! Não queria admitir mas sentia-se cansada. – A partir de agora, a avó já vai
poder ficar com a Maria! Vamos passear, brincar, fazer panquecas, vai ser uma festa! – Leonor rodopiava com a Maria ao colo como se fosse uma bailarina sem qualquer desgaste que os 67 anos de vida exigente lhe trouxeram. Leonor sempre fora assim, entusiasta e ativa, desafiando sozinha as dificuldades que ser mãe de duas crianças acarreta. Os filhos conheciam-lhe a alegria e a sua célebre frase: “tudo se há de resolver!”. Sempre se sentiram protegidos por esta mulher que parecia nunca estar cansada, apesar do seu trabalho exigente de ajudante domiciliária, levando apaixonadamente aos “seus” idosos, o apoio e aconchego que Leonor fazia questão de cultivar. Ainda fazia part-time numa casa particular para garantir que os filhos tivessem o necessário. Agora que ambos estão desempregados, precisa de garantir que nada falta também à Maria.
Por momentos a antevisão de uma vida sem estes preenchimentos trouxe-lhe uma angústia que não tinha previsto. Era como se estivesse a entrar num outono que obriga a andar mais devagar. Sentiu o cinzento do frio. Mas, rapidamente Leonor venceu a tristeza, atuando: estabeleceu um dia de visita aos velhinhos como amigos que se tornaram, “mantém o chá das amigas”, aprecia, agora sem pressas as pessoas com quem se cruza nas ruas, delicia-se com as cores e os cheiros dos jardins que encontra nos seus percursos, e tem aquele prazer imenso de chegar ao fim do dia colocando na mesa posta a alegria de ter pão e muito amor para oferecer e receber. Aos pouquinhos, Leonor descobre que esta não é senão a primavera da vida, quando se dá ao direito de apreciar tudo quanto nasce dentro de si e tudo o que ela recebe e faz acontecer em cada dia.
Que iria fazer com tanto tempo livre? E os “seus” velhinhos? Como passaria sem aquelas Novembro 2012
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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA
EUROPA ESTÁ A ENVELHECER DESNUTRIÇÃO DESTRÓI MILHÕES DE CRIANÇAS CADA VEZ MAIS O crescimento e o desenvolvimento de milhões e “A alteração demográfica e o envelhecimento da população europeia implicam não apenas desafios, mas também novas oportunidades para os cidadãos, para os sistemas sociais e de saúde, e até para a indústria e o mercado”. No âmbito do programa comum de 2014 a 2020, o Parlamento Europeu estudou e refletiu sobre o modo como “gerir o envelhecimento da sociedade, promovendo empresas inteligentes”. Existe a preocupação de abordar a mudança demográfica que “está a transformar o modo como as nossas sociedades estão organizadas”. A utilização das novas tecnologias da informação e comunicação é importante e deve envolver as pequenas e médias empresas, assim como outras organizações. O crescimento económico deverá caminhar com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos europeus, mediante “uma estratégia europeia de crescimento sustentável e inclusivo”.
milhões de crianças asiáticas, com menos de cinco anos, está irremediavelmente comprometido. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 100 milhões de crianças do continente asiático registam atrasos significativos no crescimento, devido à desnutrição. Daí resulta uma elevada probabilidade de morrerem antes dos cinco anos, não poderem frequentar a escola ou não conseguirem atingir um peso normal. Apesar dos esforços e das melhorias alcançadas, o organismo das Nações Unidas para a infância, a UNICEF, revela que um terço das crianças asiáticas, abaixo dos cinco anos, tem peso e altura a menos devido à desnutrição aguda. Mais de metade das crianças da Índia e do Nepal encontram-se nesta situação, ao passo que na Indonésia e Camboja são cerca de 40 por cento as crianças afetadas.
Evangelização e nova evangelização Nos primeiros dias de outubro acolhemos na nossa
TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata português
em Roma
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casa de Roma o cardeal arcebispo de Nairobi João Njue e o arcebispo de Nyeri Pedro Kairo, e a minha primeira reação foi pensar que vinham talvez pedir mais missionários lá para o Quénia. Acabei por descobrir que o que os trazia a Roma era o Sínodo dos Bispos sobre uma nova evangelização para a transmissão da fé que aqui decorreu de 7 a 27 desse mês. A presença de bispos vindos das Igrejas de recente evangelização entre os 260
LAMENTO E DESEJO ÁFRICA DEVE COMBATER A DE UM BISPO CHINÊS FOME COM APOIO AO TRIGO Lucas Ly Jingfeng, 90 anos, bispo chinês de Fengxiang, em Shaanxi, enviou uma carta em latim aos Bispos do Sínodo, que decorreu em Roma. Referindo-se à ausência de bispos do seu país naquela assembleia, confessa: “Dói-me muitíssimo que não possais escutar uma voz da Igreja chinesa”. E acrescenta: “A nossa Igreja, sobretudo os leigos, conservou sempre até agora a piedade, a fidelidade, a sinceridade e a devoção dos primeiros cristãos, apesar de terem suportado 50 anos de perseguição”. O prelado refere-se em seguida às dificuldades que a fé enfrenta nos países de antiga cristianização: “Nas Igrejas fora da China, a tibieza, a infidelidade e a secularização dos fiéis contagiaram muitos clérigos. Na Igreja chinesa os leigos são mais piedosos que os clérigos”. E interroga se a fidelidade dos cristãos chineses não poderá sacudir a fé dos clérigos de fora da China. E conclui: “Penso que a fé dos cristãos chineses possa consolar o Papa”. O bispo Lucas Ly Jingfeng foi libertado pelas autoridades após 20 anos de prisão por causa da fé. participantes deste Sínodo em que se estudou como atrair de novo ao redil as ovelhas perdidas foi para mim um sinal profético. Aqueles que durante séculos levaram a fé aos quatro cantos da terra, nestas últimas décadas acabaram por arrefecer até ao ponto de muitos deles abandonarem essa fé que outrora transmitiam e necessitarem de um novo impulso. Bem-vinda seja a nova evangelização, mas não pensemos que o facto de sermos agora um país aberto a receber de novo a fé nos dispensa de continuarmos a ser um país missionário. A fé quando não se dá, perde-se.
Os produtores africanos só poderão aumentar a produção de trigo com o apoio dos governos locais. Para responder ao aumento da procura são necessários subsídios que favoreçam uma maior produção e melhor qualidade. Numa reunião recente em Addis Abeba, Etiópia, os peritos mostraram que o apoio à importação do cereal é nefasto, embora possa proporcionar, no momento presente, melhores preços aos consumidores, sobretudo urbanos. “Geralmente os responsáveis dão prioridade às necessidades dos consumidores, o que é compreensível, mas a longo prazo é nefasto para a agricultura e para o país”. De facto, o trigo produzido localmente é geralmente de menor qualidade e insuficiente para satisfazer a procura. Além disso, o custo do transporte torna-o mais caro que o trigo importado. Mas os produtores locais não têm meios nem “podem concorrer com os subsídios que beneficiam os produtores dos países exportadores”. Sem uma intervenção que permita aos produtores locais competir com os produtos importados, torna-se muito difícil desenvolver a produção local. Ainda há meses a Nigéria, que é o maior importador de trigo da África a sul do Sara, foi obrigada a aumentar as taxas alfandegárias aplicadas às importações do trigo. Ao mesmo tempo anunciou uma taxa de 65 por cento sobre a importação de farinha de trigo, para favorecer o comércio interno destes produtos.
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a missão hoje
Leonel Narváez, missionário da Consolata, criou as Escolas do Perdão e Reconciliação
PROJETO DE SUCESSO NA AMÉRICA LATINA CHEGA A PORTUGAL
“TEMA DO PERDÃO É O MAIS DESCONHECIDO NA IGREJA CATÓLICA” É possível perdoar ao nosso maior inimigo? E aceitar a reconciliação com quem um dia nos magoou? O padre colombiano Leonel Narváez acredita que sim. E tem provas disso. As Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), que fundou há 12 anos, já ajudaram a resolver milhares de conflitos pessoais na América Latina. O projeto chega agora a Portugal, por iniciativa dos Missionários da Consolata, e a ideia é expandi-lo pela Europa texto e foto FRANCISCO PEDRO
disse-lhe sempre que não. Até que um dia, quando passeava o filho, de três anos, o homem voltou a abordá-la na rua, com nova proposta de namoro. Mais uma vez, disse que não. E prosseguiu a marcha. Minutos depois, ouviu três tiros de revólver. E o menino caiu inanimado no chão. O seu pretendente acabara de o matar, enraivecido pela rejeição. O homem foi preso e condenado a pena de prisão. A jovem, ferida nos sentimentos, acabou por ir parar a um curso de perdão e reconciliação. Depois das primeiras aulas, ganhou coragem e foi visitar o assassino. Após várias visitas, apaixonou-se, perdoou-lhe e casou com ele. Hoje, têm um filho em comum.
A história é dramática, mas tem um final feliz. Há uns anos, numa pequena cidade da Colômbia, a beleza de uma jovem com pouco mais de 20 anos, atraiu a atenção de um homem. Levado pela cegueira da paixão, perseguiu-a, tentou seduzi-la e pediu-a em namoro. Sem resultado. A rapariga, mãe solteira,
Este é apenas um dos muitos exemplos que Leonel Narváez, missionário da Consolata, recolheu ao longo dos últimos 12 anos, a trabalhar com as Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), que fundou na Colômbia, a partir da sua experiência como sacerdote, teólogo, filósofo e sociólogo, na reintegração de
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fio da história
“O tema do perdão e reconciliação, primeiro que tudo é um exercício pessoal. De experimentar o amor e a presença de Deus que nos habita. No fundo, é a essência da mensagem de Jesus”. Porém, “é escandalosamente o mais desconhecido na Igreja católica, possivelmente porque se converteu num monopólio dos sacerdotes e dos bispos”. Neste sentido, o projeto procura também recuperar uma certa “ignorância” da Igreja em relação “à teoria e metodologia do perdão e da reconciliação” ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O projeto já lhe valeu o Prémio Unesco para a Paz, em 2006, e conquistou a adesão de mais de 40 mil pessoas na América Latina. Agora, chegou a vez da implantação em Portugal, como porta de entrada para a Europa. Narváez deu duas conferências, em Lisboa e Porto, em outubro, e deixou construídos os alicerces para a constituição das primeiras turmas de candidatos ao exercício do perdão e reconciliação. Numa altura em que se agrava o clima de tensão económica e social e se antevê o aumento da violência, esta proposta surge como um oásis de esperança no nosso país e, no futuro, também noutras nações no velho continente.
DONA SOLEDADE A MÃE texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO Já aludimos a esta senhora há uns meses. Mas foi muito de fugida. A senhora dona Soledade, de seu nome completo Maria da Soledade Mourão de Freitas, merecia muito mais. Ela foi um bocadinho de tudo nos inícios de fundação do Instituto da Consolata em Portugal. Foi ela que acolheu e deu guarida ao padre De Marchi. Foi ela que lhe deu à mão muitos benfeitores os quais com suas posses, subsidiaram e tornaram possível a sua obra. Foi ela que lhe ensinou as primeiras letras traduzidas do italiano para português. Foi ela, exímia escritora de livros e artigos, que ensinou ao padre De Marchi a arte de escrever romances e novelas. E foi ela, sobretudo, que lhe abriu o apetite para desvendar os segredos das aparições de Fátima e escrever um dos melhores livros sobre este tema: “Era uma Senhora mais brilhante que o sol”. Natural de Lisboa, a dona Soledade, como vulgarmente lhe chamávamos, fixou-se em Fátima para dar apoio a uma sua irmã, a dona Rosinha, doente crónica de uma doença que a reteve imóvel no leito, durante muitos anos. Tanto a Rosinha como a Soledade eram pessoas cultas e de fino trato. Para os primeiros seminaristas foram autênticas mães.
“O tema do perdão e reconciliação, primeiro que tudo é um exercício pessoal. De experimentar o amor e a presença de Deus que nos habita. No fundo, é a essência da mensagem de Jesus”. Porém, “é escandalosamente o mais desconhecido na Igreja católica, possivelmente porque se converteu num monopólio dos sacerdotes e dos bispos”. Neste sentido, o projeto procura também recuperar uma certa “ignorância” da Igreja em relação “à teoria e metodologia do perdão e da reconciliação”, disse Leonel Narváez à FÁTIMA MISSIONÁRIA. “Um pobre com raiva é pobre duas vezes. Ao contrário, quem consegue entender as tragédias da vida com otimismo e alegria, consegue sair com mais facilidade dos maus momentos. O convite que faço a Portugal e à Europa, que estão nesta fatalidade económica, é que criem saídas otimistas e solidárias para superar a pobreza e o desastre financeiro”, sublinhou o sacerdote.
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a missão hoje
NOVA VISÃO MISSIONÁRIA DO CONCÍLIO VATICANO II
fundamental do Povo de Deus”, a tarefa de evangelizar, para além dos pastores ordenados, compete a todos os cristãos.
Escrevo esta reflexão no dia em que há 50 anos foi aberto o Concílio Vaticano II. O jovem padre alemão que há 50 anos participou como teólogo naquela Assembleia conciliar, hoje mesmo preside, em Roma, como Papa, a uma soleníssima liturgia, abrindo o Ano da Fé
A “divina Providência não nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus” (LG, 16). Por isso, “o sagrado Concílio exorta todos a uma profunda renovação interior, para que tomem viva consciência das próprias responsabilidades na difusão do Evangelho” (AG, 35). O Concílio Vaticano II colocou no centro da sua eclesiologia a dimensão missionária e reafirmou a missão de evangelizar como paradigma de toda a atividade eclesial.
texto MANUEL RITO DIAS* foto ANA PAULA O Concílio foi o grande evento que deu ao povo de Deus a oportunidade de tomar consciência da sua condição missionária, e à própria “Igreja peregrina de considerar a missão como parte da sua natureza” (AG, 2). Tratou-se de uma grandiosa manifestação de catolicidade e “um sinal luminoso da universalidade da Igreja” não só pela numerosa participação de bispos, mas também pela sua diversidade geográfica, já que, pela primeira vez na história, uma assembleia de bispos congregou representantes da Ásia, da África, da América Latina e da Oceania. A nova visão missionária saída do Concílio Vaticano II é refletida e depois transmitida através da sua própria dimensão quanto à quantidade de padres conciliares,
quanto à universalidade das suas procedências e sobretudo quanto à natureza dos próprios conteúdos conciliares ali tratados. Três grandes documentos marcaram o Vaticano II e iluminaram a Igreja para esta nova visão missionária: Ad Gentes, Gaudium et Spes e Lumen Gentium. Através deles, foram dilatados os horizontes não só dos limites da Igreja como Reino de Deus, mas também do mundo a evangelizar e ainda dos agentes evangelizadores. A atividade missionária da Igreja não é outra coisa senão a “manifestação ou epifania dos desígnios de Deus e a sua realização no mundo e na sua história” (AG, 9). Já que “a Igreja é toda ela missionária, e a obra da evangelização é um dever
A Nova Evangelização, refletida no Sínodo de 2012, não nos vai trazer um novo Evangelho nem nos vai levar a uma nova Igreja; quer apenas dizer-nos que o Evangelho é todos os dias uma Boa Nova e que esta Igreja peregrina está encarregada por Cristo de a levar a toda a gente
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A Nova Evangelização, refletida no Sínodo de 2012, não nos vai trazer um novo Evangelho nem nos vai levar a uma nova Igreja; quer apenas dizer-nos que o Evangelho é todos os dias uma Boa Nova e que esta Igreja peregrina está encarregada por Cristo de a levar a toda a gente. É uma nova evangelização para fortalecer e dar razões da nossa fé. Levar esta mensagem aos outros é o sentido da nossa missão. *Frei capuchinho
destaque
Metade da população da Venezuela não tem emprego ou trabalha de forma precária
HUGO CHÁVEZ VENCE TERCEIRA ELEIÇÃO
OS DESAFIOS DO CHAVISMO As eleições de 7 de outubro deram a terceira reeleição consecutiva ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. Apesar de ter conseguido uma importante estabilidade em termos do número de votos expressos, o presidente venezuelano baixou de 63 para 54 por cento a sua representação eleitoral, numa expressão de que o chavismo tem vindo a mobilizar cada vez mais descontentes texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Henrique Capriles, líder da coligação anti-Chávez reunida na Mesa de Unidade Nacional (MUD), foi o principal obreiro da mobilização da oposição, ao ponto de, na última semana das eleições, ter lançado a dúvida sobre o resultado final que, inicialmente, parecia claramente favorável ao atual presidente. Embora Chávez tentasse apresentá-lo como um neoliberal, Capriles assumiu um discurso conciliador e de centro esquerda, na linha das lideranças de países como o Brasil e o Chile, facto que lhe granjeou o apoio dos setores mais descontentes com a atual linha política.
Redistribuição da riqueza
Uma das razões do desgaste político de Chávez tem a ver com a crise económica. Apesar do seu crescimento, a Venezuela
riqueza. Entre 1999 e 2010, os índices de pobreza desceram de 47 por cento para 27,8 por cento da população, e a pobreza extrema passou de 21,7 para 10,7 por cento. O analfabetismo também caiu, de 9,1 para 4,9 por cento, assim como a taxa de desemprego e a taxa de emprego informal, embora, neste caso, em 2009 ainda se estimasse que cerca de 50 por cento da população não tinha trabalho ou realizava-o de forma extremamente precária.
O problema da sucessão tem visto os valores económicos serem revistos em baixa, comparativamente aos seus vizinhos latino-americanos, sem conseguir evitar que a classe trabalhadora tivesse de suportar uma grande parte das consequências da forte desvalorização da moeda e da inflação. Para além disso, a criminalidade continua a registar índices extremamente elevados e, segundo o Observatório Venezuelano da Violência, a Venezuela é o único país em que, nos últimos 12 anos, triplicou a taxa de homicídios num contexto de paz. Esta situação é considerada uma das consequências do desemprego e do emprego informal que atinge cerca de metade da população venezuelana e parece persistir, apesar dos claros avanços conseguidos na redistribuição da
Um dos temas que permanece obscuro é a preocupante situação de saúde do presidente e o futuro político do chavismo. Após três operações a um cancro, cuja natureza foi considerada uma questão de segredo de Estado, a saúde de Chávez não pode deixar de alimentar especulações sobre o futuro do «socialismo do século 21», na Venezuela. Mesmo aquando dos seus tratamentos em Cuba, o presidente venezuelano demonstrou manter uma forte centralização do poder. Depois de ter alterado a constituição com vista a permitir a sua reeleição, Chávez continua a dar mostras de algum conforto no poder, sem, aparentemente, se preocupar com quem poderá continuar com as suas políticas.
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atualidade
ELEIÇÕES Propostas e características dos candidatos
NOVE PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE AS PRESIDENCIAIS AMERICANAS
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A 6 de novembro, os americanos decidem se querem o democrata Barack Obama mais quatro anos na Casa Branca ou se preferem dar uma oportunidade ao republicano Mitt Romney. O favoritismo como é tradicional pertence ao presidente cessante, cujo legado no caso de Obama ficou, porém, aquém das enormes expectativas de quem saudou a sua eleição como primeiro líder negro da América e grande arauto da mudança. O resto do mundo não vota, mas não fica indiferente ao que acontece na primeira potência económica e militar do planeta texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA 1. É provável a reeleição de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos? Sim, tendo em conta as sondagens que ao longo do ano mostraram sempre o atual inquilino da Casa Branca com dois a três pontos percentuais de vantagem sobre o republicano Mitt Romney. Além disso, e tendo em conta o sistema eleitoral americano, a vantagem de Obama, um democrata, num estado-chave como o Ohio, também indicia que seja ele o vencedor das eleições marcadas para 6 de novembro. Contudo, Romney ainda pode surpreender, até porque no primeiro debate televisivo com Obama, a 3 de outubro, emergiu como vencedor e deu nova dinâmica à sua campanha, começando mesmo a surgir à frente em alguns inquéritos de intenção de voto. 2. Que legado tem Obama para mostrar ao eleitorado? A vitória de Obama em 2008 gerou muitas esperanças, não só na América como mundo fora. Mas o brilhantismo intelectual do primeiro negro a tornar-se Presidente dos Estados Unidos não foi suficiente para impor toda a sua agenda política. Do ponto de vista interno, a recuperação económica foi demasiado lenta, enquanto a oposição extremada do Partido
Republicano no Congresso impediu que se concretizassem em pleno projetos como a reforma do sistema de saúde, uma ideia de Obama que visa aproximar os Estados Unidos do serviço universal de saúde que existe na maioria dos países desenvolvidos. Já em termos de diplomacia, a ação presidencial tem também alguns pontos fracos, pois se cumpriu a promessa de retirar as tropas do Iraque, continua por encerrar o campo de prisioneiros de Guantanamo, onde suspeitos de terrorismo estão detidos desde 2001. 3. Até que ponto são diferentes as propostas de Obama e Romney? Em teoria, ambos são políticos moderados, das alas centristas
dos respetivos partidos. Por exemplo, a reforma do sistema de saúde idealizada por Obama para todos os Estados Unidos, inspira-se muito naquilo que Romney fez quando foi governador do Massachusetts. Mas para se impor nas primárias do Partido Republicano, onde se escolhia o candidato presidencial, Romney foi adotando um discurso mais à direita e acaba por encarnar agora um projeto conservador que se opõe a Obama em quase tudo, incluindo as transformações na saúde, que promete revogar assim que chegar à Casa Branca. 4. Que exemplos de diferenças se podem destacar entre os dois candidatos? Do ponto de vista da economia, Obama defende que o Estado deve estimular as empresas em crise, enquanto Romney defende que os setores débeis devem ter o destino que merecem. O democrata defende ainda que os ricos paguem mais impostos, enquanto Romney defende menos pressão fiscal de modo a dinamizar as forças do mercado. Já em questões morais, nenhum se opõe à pena de morte nem quer controlar a posse de armas, mas Obama defende que o aborto deve manter-se legal, enquanto Romney é favorável à
Do ponto de vista interno, a recuperação económica foi demasiado lenta, enquanto a oposição extremada do Partido Republicano no Congresso impediu que se concretizassem em pleno projetos como a reforma do sistema de saúde, uma ideia de Obama que visa aproximar os Estados Unidos do serviço universal de saúde que existe na maioria dos países desenvolvidos
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Os candidatos têm pontos de vista diferentes no plano económico
sua ilegalização exceto nos casos de problemas graves de saúde ou de violação. 5. A religião dos candidatos conta muito para o eleitorado? Os Estados Unidos são um país onde a religião está muito presente nos discursos políticos e a verdade é que a matriz protestante se tem sempre imposto nas escolhas para a Casa Branca, com a exceção do católico John Kennedy em 1960. Obama que tem nome islâmico devido às origens quenianas chegou a ser acusado de praticar o islão de forma encoberta, mas na realidade é visto pela maioria dos americanos como membro de uma das igrejas protestantes e isso não o favorece nem prejudica. Já Romney é um mórmon, seguidor de um 16
grupo religioso que chegou a ser perseguido, mas hoje é dominante no estado do Utah e conta com seis milhões de crentes no país. O mormonismo nasceu nos Estados Unidos no século XIX mas é visto por certos setores religiosos como uma seita e isso pode afetar a popularidade de Romney junto da chamada direita cristã republicana. Contudo, nada é definitivo na América e a liberdade religiosa faz parte da tradição. E note-se que
num país com mais de 50 por cento de protestantes, a maioria dos juízes do Supremo Tribunal, que interpreta a Constituição, é católica. 6. É surpreendente que os dois candidatos a vice-presidente sejam católicos? Não, até porque a escolha do vice tem por regra mostrar alguma complementaridade com o candidato à Casa Branca, seja
Os Estados Unidos são um país onde a religião está muito presente nos discursos políticos e a verdade é que a matriz protestante se tem sempre imposto nas escolhas para a Casa Branca, com a exceção do católico John Kennedy em 1960
Como os Estados Unidos são uma federação (foi esse o seu projeto desde a Declaração de Independência em 1776) toda a organização política visa dar peso aos 50 estados. Assim, no Congresso, existe o Senado, onde cada estado tem dois eleitos seja qual for a sua dimensão, e a Câmara dos Representantes, que reflete o peso populacional
regional, etária ou política. No caso, trata-se também de uma complementaridade religiosa, pois tanto o democrata Joe Biden como o republicano Paul Ryan são católicos. O facto de 25 por cento dos 310 milhões de americanos serem católicos é muito valorizado na campanha e além disso a minoria em crescimento acelerado, os hispânicos, também tem o catolicismo como fé. No caso de Ryan, o seu conservadorismo político também serve para equilibrar o centrismo de Romney. 7. Que particularidade tem o sistema eleitoral americano que possa influenciar o vencedor? Como os Estados Unidos são uma federação (foi esse o seu projeto desde a Declaração de Independência
em 1776) toda a organização política visa dar peso aos 50 estados. Assim, no Congresso, existe o Senado, onde cada estado tem dois eleitos seja qual for a sua dimensão, e a Câmara dos Representantes, que reflete o peso populacional. Nas presidenciais existe um colégio eleitoral de 538 membros, igual à soma dos cem senadores e dos 435 representantes, a que se juntam três delegados de Washington D.C. Em regra, o candidato mais votado num estado leva todos os grandes eleitores e o vencedor será quem conseguir pelo menos 270 a nível nacional. Ora, por duas vezes no século XIX e também em 2000 (quando George W. Bush ganhou a Casa Branca a Al Gore) o mais votado em termos populares não foi o vencedor formal. 8. Para o resto do mundo fará muita diferença quem ganhe? Obama gera mais expectativa. Aliás, logo em 2009, até recebeu o Prémio Nobel da Paz. Mas em termos de política externa, costuma haver coerência na Casa Branca, seja um democrata ou um republicano a governar. Obama, que sempre criticou a invasão do Iraque, apoiou uma intervenção militar na Líbia. Romney mostra-se mais falcão em certas situações, como o projeto nuclear iraniano ou a guerra civil na Síria, mas é preciso não esquecer que foi a pomba Obama a mandar abater Ossama
Bin Laden, o inspirador dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gémeas de Nova Iorque. 9. Há algum elemento curioso na biografia de Obama e Romney? Bem, Obama, de 51 anos, é filho de um queniano e viveu com a mãe na Indonésia. Ajuda-o a perceber melhor o mundo, de certeza. Romney, de 65 anos, que como mórmon foi missionário na juventude em França, também tem certo cosmopolitismo e até conta nos antepassados com um bisavô que fugiu para o México para escapar à lei que proibia a poligamia nos Estados Unidos. Vale ainda notar que Obama fez uma pequena fortuna com os seus livros autobiográficos e tem duas filhas com Michelle, enquanto Romney, filho de um antigo governador do Michigan, é milionário e tem cinco filhos de Ann.
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dossier
ESCRAVIDÃO Um dos negócios mais lucrativos do mundo
TRÁFICO HUMANO UMA REALIDADE AGRAVADA PELA CRISE Associado normalmente à exploração sexual, o tráfico de seres humanos está a crescer de forma “assustadora” no mercado laboral, sobretudo desde que estalou a crise económica na Europa. Portugal não escapa aos tentáculos das redes mafiosas que se aproveitam da fragilidade humana para fazer negócio e, em surdina, são comentados cada vez mais casos de sem abrigo raptados ou de raparigas ‘compradas’ às famílias para casamentos de conveniência texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA
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Há quatro anos, preencheram páginas de jornais, apareceram em revistas e tiveram honras de destaque nos principais programas informativos das televisões portuguesas. Hoje, vivem no silêncio da pobreza, no limiar da miséria, sem que ninguém lhes dê a mão, na região do litoral Alentejano. Apesar dos alertas e denúncias de vários quadrantes da sociedade civil e religiosa, centenas de imigrantes asiáticos (sobretudo tailandeses) que vieram trabalhar para as explorações agrícolas nacionais foram abandonados à sua sorte, alguns sem dinheiro para sobreviver, ou para regressar
“As pessoas são traficadas por uma panóplia de razões”, mas crescentemente para “trabalho forçado, serviço doméstico ou práticas de escravidão”, tendência sustentada pela crise económica global, “com as empresas a quererem cortar despesas e maximizar lucros” a casa. Quando despertaram a curiosidade da generalidade da imprensa portuguesa, em 2009, já se suspeitava que eram vítimas de exploração laboral. Agora, que alguns dos empregadores fecharam portas e se veio a saber que muito do dinheiro que esperavam receber nunca chegou ao país de origem, parecem ter caído no esquecimento. Como têm caído no esquecimento
muitos dos portugueses e estrangeiros apanhados pelas redes de tráfico de seres humanos. A identificação, proteção e assistência às vítimas de tráfico tem sido “um falhanço enorme”, da responsabilidade de todos, admitiu recentemente Joy Ngozi Ezeilo, relatora especial do gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas. Unanimemente considerado um crime “deplorável, vergonhoso e abominável”, o tráfico humano é um dos negócios ilícitos mais lucrativos do mundo. Os dados mais recentes indicam que todos os anos são traficados perto de 12 milhões de pessoas. E na Europa, só com a exploração sexual das vítimas, estima-se que os grupos criminosos lucrem anualmente 2,5 mil milhões de euros. “As pessoas são traficadas por uma panóplia de razões”, mas crescentemente para “trabalho forçado, serviço doméstico ou práticas de escravidão”, tendência sustentada pela crise económica global, “com as empresas a quererem cortar despesas e maximizar lucros”, adianta a relatora da ONU. Se o problema está identificado, se existe um protocolo internacional sobre esta matéria e se, tal como noutros países, também em Portugal existe um Plano Nacional Contra o Tráfico de Seres Humanos (desde 2007), porque são quase residuais os processos e as condenações por este tipo de crime? “Porque não há vontade Novembro 2012
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política, uma vez que o tráfico pode trazer um benefício grande para a economia do país”, responde o sociólogo e ex-funcionário da Organização Mundial das Migrações, Stefano Volpicelli, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Só assim se compreende porque continuam impunes os elementos de supostas redes de tráfico internacional, que têm atuado na zona de Lisboa, raptando pessoas sem abrigo “para as levar para trabalhar em explorações agrícolas em Espanha”. Dadas as características das vítimas, poucos se apercebem do seu
desaparecimento, denuncia Miguel Neves, do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais. Também na capital são cada vez mais os casos de raparigas portuguesas e africanas que “são ‘compradas’ aos pais e enviadas para a Inglaterra” com o intuito de serem usadas em casamentos de conveniência. A maioria “nunca mais dá notícias”, segundo uma religiosa dedicada a ações de apoio social. Perante este cenário, o diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), o franciscano Francisco Sales, condensa em poucas palavras o sentimento
Francisco Sales, diretor da Obra Católica portuguesa de Migrações
IGREJA NA LINHA DA FRENTE A Conferência dos Institutos Religiosos criou, em 2007, uma Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), com a finalidade de “conhecer e enfrentar as causas estruturais deste fenómeno no mundo e, em particular, no nosso país”. Através de um grupo de religiosas, este organismo tem procurado, na medida do possível, sensibilizar
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a sociedade para o problema do tráfico humano, combater este tipo de crime, proteger e acolher as vítimas. O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Francisco Sales, propõe que se dê mais um passo nesta área, envolvendo a Ação Católica Rural no processo, para que seja criada uma rede de observadores, que posteriormente pode ser alargada a outros grupos e movimentos da Igreja.
da maioria dos profissionais e religiosos ligados à problemática do tráfico de pessoas. “É necessária legislação agravada para este tipo de crime, que combata não só quem explora mas, sobretudo, os angariadores porque são eles que aliciam as pessoas e as transformam em vítimas”. A própria relatora especial das Nações Unidas reconhece que é preciso outro tipo de atitude neste campo. “Os governos têm de fazer mais. Não podemos criminalizar as pessoas traficadas, porque elas são vítimas. Precisamos de garantir que têm acesso a serviços apropriados, de abrigo, assistência psicológica e social, saúde e até uma oportunidade para trabalhar”, frisa Joy Ngozy Ezeilo. Mas não é só aos governos que se exige mais envolvimento na resolução deste tipo de crime. Além do reforço da cooperação entre organismos estatais, autoridades policiais, entidades religiosas e a sociedade civil, reclamada pela maioria dos responsáveis, Francisco Sales realça também a necessidade de “um despertar da sociedade e da Igreja para esta realidade”. Embora exista já um trabalho feito no campo da prevenção, informação e sensibilização, “seria importante que a Igreja, que tem a melhor rede em todo o território, que são as paróquias, visse o tráfico como algo abominável que vai contra os próprios fundamentos da fé, e ajudasse a criar uma mentalidade de autêntica rejeição desse mal”. Só assim se fomentaria “uma cultura de indignação e de denúncia de tantos casos flagrantes que existem e coexistem nos territórios das paróquias e que, por vezes, até são perpetrados por cristãos que se dizem praticantes”, sugere o sacerdote.
CENTRO DE ACOLHIMENTO SÓ PARA MULHERES
Estado, está ligada às forças de segurança e a sua localização é do conhecimento público.
do ponto de vista do acolhimento, seja criada “uma resposta específica para vítimas do sexo masculino, cujo número tem vindo a aumentar, assim como para as situações de retorno assistido, sobretudo no que concerne a países da União Europeia”. Este aumento, de resto, fez com que o nosso país voltasse a ocupar a lista dos países incumpridores dos padrões contra “a escravatura moderna”, elaborada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA). No último relatório, divulgado em junho, Portugal surgia como “país de destino, trânsito e fonte de adultos e crianças sujeitos a exploração sexual e trabalhos forçados”.
Em Portugal só existe um centro de acolhimento para vítimas de tráfico humano, com capacidade para 10 pessoas e é limitado unicamente a mulheres. Mesmo assim, “a casa está praticamente vazia, porque a generalidade das polícias não conhece a sua existência”, lamenta Miguel Neves, do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais. Por outro lado, reforça o diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), esta resposta, além de estar dependente do
Na opinião de Francisco Sales, “os centros de acolhimento, acompanhamento e tratamento das vítimas de tráfico devem ter uma localização de tal forma reservada que não possam ser identificados nem pelo público em geral nem pela comunicação social e, de forma particular, não possam nunca ser localizados pelas redes mafiosas que exploram as vítimas”. O ideal é que sejam todos de pequena dimensão, “para passarem despercebidos”, e estejam ligados apenas a instituições da sociedade civil, defende o sacerdote. No relatório publicado este ano sobre os casos de tráfico em 2011, o Observatório do Tráfico de Seres Humanos (OTSH) recomenda que,
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FOI O NÚMERO DE VÍTIMAS PORTUGUESAS E ESTRANGEIRAS SINALIZADAS EM 2011 PELO SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO DO OBSERVATÓRIO DO TRÁFICO DE SERES HUMANOS
MIL MILHÕES DE EUROS É A ESTIMATIVA DE LUCRO ANUAL DAS REDES DE TRÁFICO DE PESSOAS, A NÍVEL MUNDIAL
MILHÕES DE PESSOAS TERÃO SIDO VÍTIMAS DE TRÁFICO HUMANO, EM 2010, SEGUNDO DADOS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA A MIGRAÇÃO
LEI INTERNACIONAL COM PECADO ORIGINAL
“crime transnacional”, em vez de dar orientações precisas sobre o que cada nação deve fazer. Resultado: “cada Estado arranjou uma lei personalizada e se o processo já era confuso, o Protocolo veio confundi-lo ainda mais”, refere o especialista em migrações. A nível interno, reclamam-se mudanças no Código Penal português, pois “raramente alguém é condenado” por tráfico de pessoas e muitos dos processos “arrastam-se até prescreverem”, pela dificuldade em assegurar a matéria probatória, afirma o diretor da Obra Católica Portuguesa
de Migrações, Francisco Sales. “Precisávamos de legislação clara e agravada, independente da lei de imigração, para não haver confusão entre tráfico de pessoas e imigração irregular, porque o fenómeno não é algo confinado ao campo das migrações, mas também existe a nível de tráfico interno”, afirma o padre franciscano.
O Protocolo das Nações Unidas contra o Tráfico Humano – mais conhecido por Protocolo de Palermo - foi ratificado em 2000, por mais de 140 países, entre os quais Portugal. Mas para o sociólogo italiano Stefano Volpicelli, esta medida contém “um pecado original”, ao colocar a tónica no
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gente nova em missão
NOVEMBRO Festa dos fiéis defuntos Olá queridos missionários! Então como vai a escola? E a catequese? Têm aprendido muitas coisas novas? Esperamos que estejam a gostar e a divertir-se muito. Agora estamos em novembro e já cheira a castanhas assadas, as vossas mães andam a guardar as roupas do verão e a pôr a uso as do inverno. A hora já mudou, os dias estão mais curtos e as noites mais longas. E logo no início do mês, os cristãos festejam duas datas importantes: no dia 1, a Festa de Todos os Santos e no dia 2 a Festa dos Fiéis Defuntos. E é sobre esta última que vamos falar este mês texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO
A FESTA DOS FIÉIS DEFUNTOS CELEBRA-SE A 2 DE NOVEMBRO Todos vós decerto sabeis o que é um cemitério. Um cemitério é um lugar sossegado, normalmente com árvores, para onde vão os nossos familiares e amigos quando morrem e para onde iremos também nós um dia. Como é tradição, manda-se fazer uma campa, habitualmente em mármore com uma fotografia, o nome e as datas de nascimento e falecimento e com uma mensagem da família para lembrar o quanto aquela pessoa foi importante. É tradição enfeitar a campa com flores e colocar velas, com o propósito da alma da pessoa chegar ao caminho da Luz mais depressa. Nesta festa dedicada aos que já partiram para junto de Deus, as pessoas têm a preocupação de usar flores mais bonitas e todos vão visitar a campa dos entes queridos. 22
Decerto que quase todos vocês já viram como é que isto acontece, assim como também já devem ter ido a um cemitério neste dia. Na Eucaristia deste dia, a liturgia é dedicada à morte e à ressurreição. É certo que em todas as eucaristias do ano litúrgico são lembrados os que já partiram, mas neste dia a
recordação é mais profunda e viva. Não é um dia para luto ou tristeza, antes para celebrarmos que não perdemos estas pessoas, elas simplesmente foram primeiro para junto do Pai e devemos rezar para que elas cheguem lá depressa.
A MORTE ENCARADA PELO PEQUENO MISSIONÁRIO Falar de morte não fácil para os vossos pais, professores e até mesmo catequistas. Os adultos ficam com medo de vos fazer sofrer e que vocês fiquem confusos. Mas um pequeno missionário é capaz de perceber perfeitamente. Compete-nos a nós adultos e educadores sermos capazes de o fazer com o coração aberto e com a nossa fé bem à vista. A morte faz parte deste ciclo que é a vida. O facto é que nos últimos anos e com o materialismo que grassa na sociedade, cada vez mais as pessoas se revoltam contra esta realidade. Mas sempre foi assim e sempre será. Um verdadeiro missionário conhece a morte e sabe que esta é uma porta para algo grandioso. É natural que tenhamos saudades e que choremos, a isso chama-se
fazer o luto. Mas sabemos no nosso coração, pois ele é sapiente e Jesus lá colocou a sua Palavra, que as pessoas que morrem partem deste mundo para aquele onde habita Jesus, todos os Santos e todos aqueles que já morreram também. Também nós um dia havemos de partir. O que devemos fazer é rezar por elas e confortar os que choram de saudade. Assim é o pequeno missionário, aberto à Palavra e consolador na tristeza. A morte é uma passagem
SABIAS QUE
Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava. Também o abade de Cluny, Santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII esse dia anual passou a ser comemorado em 2 de novembro até à atualidade. No México, neste dia, é comemorada a festa do dia dos mortos, uma festa bem característica da cultura mexicana e que atrai muitos turistas.
O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO
para a vida eterna, é a Páscoa para nós, os cristãos. E, nesta festa que a Igreja celebra, devemos ir à Eucaristia e rezar pelos nossos entes queridos e pela sua Páscoa e sentirmo-nos felizes porque Jesus nos chamou mais uma vez e nos deu a conhecer estas coisas.
Eu mesmo fico triste quando penso nisso e tenho medo. Mas sei que Tu estás à nossa espera. E sei que queres que eu seja um missionário a sério e console quem sofre. Porque a morte é uma porta, quando se abre, és Tu quem está do outro lado. E nesse lado existe Vida, Amor, para sempre. Agora enquanto vivemos esta vida e esta missão que nos confiaste, peço-Te Ajuda-me a ser sapiente, generoso, corajoso e consolador. E nada mais temerei Pai Nosso
Querido Jesus: Eu sei que é difícil enfrentar a morte. Sei porque já vi pessoas muito tristes e a chorar. Novembro 2012
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tempo jovem
REINVENTAR A MUDANÇA
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Há já algum tempo que ando a perceber que o mundo em que vivemos está a passar por intensas transformações, onde o denominador comum é “a mudança”. No mundo da economia vê-se claramente que já não é só o fator competitivo que conta para o êxito; “sobreviver” tem sido a grande preocupação no meio de tanta instabilidade, e para isso, “reinventar paradigmas de mudança” tem sido a chave para continuar invicto nesta aventura de viver e fazer história texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA “Tudo bem, mas...”, ou “já tentámos isso antes”, ou ainda “o nosso caso é diferente”, são as célebres frases para justificar o nosso medo de mudança. Mesmo se nos apresentam uma proposta politicamente correta em todas as suas dimensões, o certo é que não tardaremos em duvidar e em encontrar os maiores defeitos possíveis. Esta atitude até nem está mal, pois devemos ter sempre um olhar crítico sobre as coisas que se nos apresentam como novidade. Mas esta postura, tantas vezes praticada, e que com frequência nos faz sentir pessoas de “ciência ou profunda reflexão”, esconde um dos grandes problemas do nosso olhar: o “status quo” que adquirimos no ambiente em que estamos inseridos e que de certo modo revela um marcado “acomodamento”.
Resistir
Tentar compreender o porquê da nossa resistência à mudança é um “negócio complicado”, porque o ato de resistir engloba inúmeros fatores e processos onde estão envolvidas pessoas com objetivos individuais, culturas diferentes, sentimentos e interesses diversos, que em maior ou menor escala vão afetar diretamente a aceitação do processo de mudança. “Mudar não é fácil” é o primeiro suspiro que a nossa boca verbaliza depois do sabor “muitas vezes amargo” que a ideia de mudança provoca em nós. Quando não aceitamos integralmente uma nova mudança com a mente e o coração,
a nossa mente tentará, e muitas vezes com ansiedade e desespero, restaurar o padrão ou situações anteriores, que eram porventura mais cómodas e confortáveis. Esta experiência da resistência dentro de nós faz-me lembrar tantas vezes a afirmação feita pelo célebre escritor Dostoiévski que diz que as pessoas
Quando não aceitamos integralmente uma nova mudança com a mente e o coração, a nossa mente tentará, e muitas vezes com ansiedade e desespero, restaurar o padrão ou situações anteriores, que eram porventura mais cómodas e confortáveis se acostumam a tudo, até mesmo a viver mal. Mais do que isso, o escritor diz que as pessoas muitas vezes até defendem esse “viver mal”.
Avançar
Quando tudo estava a correr mais ou menos bem, veio este indivíduo com ideias de mudança. Ao vinho novo, odres novos; chegou o tempo de recomeçar e traçar as linhas para o futuro. É bom acordar, é muito bom sentir que estamos a avançar e a desenvolver uma visão de futuro, moldando estratégias para tornar realidade essa visão; depois, toca-nos a
nós gerir ao longo do caminho as consequências boas e menos boas das escolhas feitas; o que importa é avançar. Finalizo esta reflexão contando um episódio que me aconteceu numa sessão de formação com professores. Depois de um dia quase inteiro de “workshops” sobre liderança cristã, uma professora diz-me respeitosamente: “acho que a teoria sobre a necessidade de mudança é boa e verdadeira, mas numa escola de 120 professores, onde só dois querem mudar, tudo o que foi dito fica reduzido a utopia e impossibilidade”. Grande verdade aos olhos dos homens que vivem ancorados entre a rotina e o insosso tédio da vida. Mas, para aqueles que avançam pelo caminho d’Aquele que não teve medo de ser fator de mudança na história da humanidade, ter a coragem de mudar e desinstalar-se faz sentido, apesar da grande maioria ser contra. Teresa de Calcutá, a pequena e grande mulher que nos deixou uma grande lição de vida, disse-nos: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse essa gota.” Devemos estar atentos: muitos sentimentos de impotência e pequenez guardam em si mesmos uma grandeza e uma maturidade interior. O poeta americano Thoreau dizia que “qualquer homem mais justo que os seus semelhantes já constitui uma maioria de um”, e Paulo de Tarso garante-nos que quando nos reconhecemos pequenos é aí que reside a nossa grandeza. Portanto, avançar e não ter medo de mudar é fundamental para o nosso crescimento.
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sementes do reino
A CULTURA DA SOLIDARIEDADE No Evangelho do segundo domingo de novembro, Jesus orienta o nosso olhar para o gesto da viúva pobre que, na sua oferta para o Templo, deitou na caixa duas pequenas moedas, declarando: “Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver”. É um gesto que nos alerta para a importância de multiplicar os nossos pequenos atos, deitando-os no cofre de Deus a favor os mais necessitados. Ninguém ignora os tempos que estamos a viver. Para tanta gente são tempos de desespero, que requerem uma nova fantasia da caridade e da solidariedade texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA É curioso notar quantas vezes, no Evangelho, Jesus nos convida a dar: Dar aos pobres, dar a quem nos pedir emprestado, dar de 26
comer a quem tem fome, dar o manto a quem pede a túnica, dar de beber um simples copo de água, dar gratuitamente... Ele próprio nos deu o exemplo, porque toda a sua vida se resume num dar: dar saúde aos enfermos, dar o perdão aos pecadores, dar a vista aos cegos, dar de comer às multidões, dar a vida por todos. A cultura do dar tem, verdadeiramente, toda a importância para Jesus. No mundo, e no nosso país, o fosso entre ricos e pobres tende a aumentar. Isto preocupa a Igreja, que se tem desdobrado ultimamente em gestos concretos de solidariedade. Através dos seus agentes pastorais ela vai continuando a ajudar as populações em todos os continentes com o apoio das suas comunidades locais e de todos os homens de boa vontade, em particular nos campos da educação, da saúde e dos bens fundamentais. A Igreja acha que este modo de agir entra na nova evangelização. O instrumento de trabalho do Sínodo dos Bispos realça a caridade como instrumento de nova evangelização: “a dedicação e a solidariedade para com os mais pobres vividas por muitas
Porque a terra tem capacidade para alimentar todos os seus habitantes, “seria suficiente que os países ricos não guardassem para si mesmos o que pertence a todos” comunidades, a sua caridade, o seu estilo de vida sóbrio num mundo que, contrariamente, exalta o consumo e o ter, são verdadeiramente um válido instrumento para anunciar o Evangelho e testemunhar a nossa fé”. Disse há bem pouco tempo Bento XVI que a solidariedade é neste momento o primeiro desafio da família humana. Porque a terra tem capacidade para alimentar todos os seus habitantes, “seria suficiente que os países ricos não guardassem para si mesmos o que pertence a todos”. Para responder à situação do nosso planeta “temos de enfrentar o primeiro desafio: a solidariedade entre gerações, a solidariedade entre países e entre continentes, para uma distribuição cada vez mais justa das riquezas do planeta entre todos os homens”. Este “é um dos serviços essenciais que os homens de boa vontade têm de oferecer à humanidade”.
intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 01 Festa de Todos os Santos
Ap 7, 2-14; 1 Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12
HARMONIA DE RELAÇÃO
A missão da Igreja é gerar santos para esta terra e para o Reino de Deus que já aqui começa. Santidade quer dizer harmonia de relação com Deus e uns com os outros para criar felicidade. Santidade é encher cada instante da nossa vida com aquilo que agrada ao Senhor. Somos um povo de Santos que nasce do Evangelho e o propõe como carta de princípios para o entendimento entre os povos. Disse alguém que “o melhor do mundo são os santos”. E eu dou-lhe razão. Ensina-nos, Senhor, o caminho da santidade verdadeira, que nos torna felizes neste e no outro mundo.
04 31º Domingo Comum
Dt 6, 2-6; Hebr 7, 23-28; Mc 12, 28-34
SÓ O AMOR CONTA
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é o verdadeiro culto que podemos prestar ao Senhor. É a novidade que Jesus veio trazer para renovar o homem na profundidade do seu ser. No fim da nossa vida seremos julgados pelo amor. Só isso importa. Só isso vale perante o nosso Deus. Que eu entenda, Senhor, este “culto” novo que reclama da minha vida um coração renovado segundo o Evangelho
11 32º Domingo Comum
1 Re 17, 10-16; Hebr 9, 24-28; Mc 12, 38-44
UM DOM TOTAL
A viúva do Evangelho deu da sua indigência em contraposição com os ricos que deram da sua potência e dos seus privilégios com a ostentação da própria glória. O gesto humilde da viúva pobre é um gesto de oração, de fé e de amor. O óbolo é insignificante, mas o dom é total. O nosso Deus não mede os nossos gestos com base em
NOVEMBRO cifrões, mas pelo amor e intensidade com que os vivemos. Aceita, Senhor, o óbolo de cada uma das minhas ações e transforma-as com o teu amor.
18 33º Domingo Comum
Dan 12, 1-3; Hebr 10, 11-18; Mc 13, 24-32
A VIVENDA ETERNA
“Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo”. À porta do nosso “último dia” estará o Senhor que nos acolherá e transformará em glória o tempo que agora vivemos. O fim do mundo a que se refere a Palavra de Deus não é uma catástrofe, mas a instauração da cidade santa que desde já estamos a construir. Senhor, que eu persevere na escuta da tua Palavra com olhar atento e vigilante sobre a minha vida e a vida dos meus irmãos.
25 Festa de Cristo Rei
Dan 7, 13-14; Ap 1, 5-8; Jo 18, 33-37
PARA QUE ELE REINE
Neste Domingo que encerra o ano litúrgico, a Igreja fala-nos da conclusão da história humana: Jesus triunfa sobre o mal e instaura o seu Reino de amor. A verdadeira grandeza, a verdadeira realeza, o verdadeiro poder está em deixar-se conquistar pela verdade de Deus, isto é, pelo seu amor sem medida, até dar a vida pela humanidade. É deste amor feito de misericórdia e de mansidão que o nosso mundo precisa para derrotar o mal que o aflige. Senhor, Rei do universo, governa os nossos corações para entendermos que a terra não é dos violentos, mas dos mansos e humildes de coração. DV
Luz das nações Para que a Igreja, peregrina na terra, resplandeça como luz das nações Está no Evangelho de São Mateus, capítulo 16, versículo 18: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja; as forças do mal não conseguirão vencê-la”. Se Pedro é a rocha e o construtor é Cristo não há que temer, embora aqui ou ali a perseguição leve a vantagem e os cristãos sejam martirizados. Verifica-se então o dito de Tertuliano: “Sangue de mártires, semente de cristãos”. E a Igreja logo ressuscita e surge mais vigorosa. Mas, à Igreja não basta defender-se dos inimigos. É preciso que ela própria avance afoitadamente e leve a sua mensagem, que é em suma a Boa Nova de Jesus Cristo, a todos os povos. Uma das coisas que mais preocupa a Igreja não são tanto as perseguições, embora continue a havê-las, e bem fortes, mas são os cristãos que estão a entrar num marasmo e não são quentes nem frios: são mornos. Para os despertar, a Igreja tem de experimentar novos métodos, talvez mesmo começar de novo naquilo que hoje se chama a nova evangelização. Para que isto aconteça tem de haver apóstolos ousados, homens e mulheres, que se lancem à conquista dos irmãos que andam esquecidos da fé que receberam no batismo. MC
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o que se escreve SANTA RITA DE CÁSSIA
Pouco mais do que um livro de bolso onde se relata, muito sumariamente, a vida de Santa Rita. Foi casada e teve dois filhos. Passou os últimos 40 anos da sua vida num convento onde fez grandes progressos na via da santidade. É um livro que apetece ler. Autor: Aligi Fiore Pisapia 88 páginas | preço: 8,90€ Paulus Editora
Ano da Fé O livro está dividido em três
grandes partes, todas elas relacionadas umas com as outras. A primeira contém o documento com o qual o Papa lança o Ano da Fé, que vai de outubro de 2012 até novembro de 2013. A segunda parte dá indicações pastorais para celebrar bem este ano. A terceira, bastante mais longa, fala da nova evangelização e explica com dados teológicos e doutrinais o significado e a atualidade deste tema. Um pormenor interessante é a numeração que vai de um até 169. Facilita muito a leitura e a memorização dos textos. Autor: Vários 175 páginas | preço: 8,80€ Difusora Bíblica
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OS MESTRES, PADRES E ESCRITORES DA IDADE MÉDIA
Obra de pequenas dimensões em que o Papa Bento XVI relata a vida e a obra de grandes escritores da Igreja da Idade Média. Foi uma época em que a Igreja teve altos e baixos e precisou de alguém que lhe segurasse o leme. Leitura fácil, agradável. Autor: Bento XVI 99 páginas | preço: 7,00€ Editorial Franciscana
CELEBRAÇÕES PARA O ANO DA FÉ
Opúsculo de 30 páginas em que são propostas várias celebrações litúrgicas para viver as várias etapas do Ano da Fé. Autoria: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. 32 páginas | preço: 2,00€ Paulus Editora
SANTAS E BEATAS
O livro “condensa as catequeses de Bento XVI referentes às grandes figuras femininas da Idade Média. Escrito de uma forma dinâmica e atraente, destaca elementos essenciais da vida e obra destas personagens fundamentais para se entender a tradição e a espiritualidade cristã”. Por aqui passam 17 mulheres, umas eruditas, outras nem tanto. Todas beneficiadas por dons e graças especiais, entre elas o dom do conselho e o carisma da fundação de ordens e institutos religiosos. Autor: Bento XVI 119 páginas | preço: 9,90€ Paulus Editora
QUEREIS OFERECER-VOS A DEUS?
É uma obra de grande fôlego que exigiu ao autor imenso trabalho de estudo e recolha de dados. Está dividida em três partes. Começa por apresentar a mensagem de Fátima tal como ela chegou até nós através dos pastorinhos, para nos mostrar, numa segunda parte, como eles próprios a viveram heroicamente. Por fim, na terceira parte, oferece-nos uma reflexão teológica sobre a exigência da reparação numa perspetiva cristocêntrica do mundo e da salvação. Autor: Luís Kondor, SVD 254 páginas | preço: 8,00€ Edição: Secretariado dos Pastorinhos
o que se diz FIGURAS FRANCISCANAS
Nesta obra apresentam-se as catequeses de Bento XVI sobre algumas (10) das figuras mais importantes dos primeiros séculos do franciscanismo. De entre todas, destacam-se logo as duas primeiras: São Francisco como fundador e Santo António que por diversos títulos nos é, a nós portugueses, mais querido. Para quem não dispõe de muito tempo para ler este livro tem a vantagem de dizer muito em poucas palavras. Autor: Bento XVI 112 páginas | preço: 7,00€ Editorial Franciscana
GETSEMANI, EM ORAÇÃO COM JESUS CRISTO
Getsemani é o chamado Horto ou Jardim das Oliveiras, para onde Jesus se retirava de vez em quando com os seus discípulos. Desta vez, a última, Jesus passa momentos de grande angústia, quer orando, quer vigiando os seus discípulos que, em vez de rezarem, dormiam. O autor escalpeliza cada um dos momentos do Getsemani como o prelúdio da paixão do Senhor, conduz-nos a uma reflexão sobre estes acontecimentos e leva-nos a agradecer o que Jesus fez por nós. Autor: Javier Echevarría 228 páginas | preço: 17,00€ Diel
Mulheres rurais As mulheres rurais são um elemento-chave na luta contra a fome.
Chegam a representar dois terços da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento e são responsáveis pela produção da maior parte dos alimentos básicos que aí são consumidos. Fatores como as migrações dos homens e a Sida têm dado às mulheres um papel cada vez mais relevante na produção de víveres. Ana Glória Lucas | Além-Mar | outubro 2012
Papel da Igreja É impossível olhar para Timor-Leste, quer no período da ocupação,
quer nesta década de independência, sem nos determos no papel da Igreja católica antes da independência, mas a citação do preâmbulo da Constituição timorense evidencia a importância que se lhe reconhece. Rui Marques | Brotéria | agosto/setembro 2012
Missão essencial A missão faz parte da essência da Igreja e confere à mesma um
dinamismo que envolve a todos os seus membros. Se a Igreja é missionária, tal tarefa estende-se aos homens e mulheres que são a imagem visível da mesma. A Igreja no mundo tem a missão de continuar e atualizar os desejos e sonhos de Jesus Cristo. Assis Lucas | Boa Nova | outubro 2012
Conhecer a doutrina Somos um povo bom e piedoso, amante de romarias e
peregrinações, mas somos um povo pouco culto, pouco conhecedor da doutrina, dos conteúdos da fé, dos ensinamentos da Igreja conciliar e da riqueza do Catecismo. São, hoje, os nossos dois grandes textos, o caminho do nosso estudo e do nosso crescimento espiritual e cristão. E precisamos de nos comprometer a lê-los e a estudá-los com encanto e paixão. Dário Pedroso | Mensageiro do coração de Jesus | outubro 2012
Tempo de mudança Se estamos em tempos de mudança para uma nova forma de vida
religiosa, não é porque tenhamos falhado no passado e, por isso, devamos fazer um grande esforço para realizar o que não fomos capazes de levar a cabo no passado. Não! Estamos num momento de transição para uma nova forma de vida religiosa, precisamente porque no passado as coisas nos saíram bem. Joan Chitttister | Vida Consagrada | agosto/setembro 2012
O dever de ensinar Quando se fala em “educação cristã”, lembramo-nos logo de
catequese. E não nos lembramos mal. Efetivamente, estamos perante um serviço (uma ação) essencial da Igreja, ajudando as crianças e os adolescentes a inserirem-se na comunidade crente. Jorge Cotovio | Correio de Coimbra | 4 de outubro de 2012
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gestos de partilha Mulheres Missionárias da Consolata (Fátima) – 148,71€; Mariana Fernandes – 20,00€; Adolfina Barata – 13,00€; Anónimo (Fiães) – 125,00€; Anónimo – 20,00€; Fátima Matias – 10,00€; José Joaquim Neves – 60,00€. Total geral = 25.388,90€.
SOLIDARIEDADE VÁRIOS PROJETOS BOLSAS DE ESTUDO Isabel Pacheco – 250,00€; Noémia Canavarro – 10,00€; Anónimo – 250,00€; Raquel Oliveira – 250,00€; Conceição Ascensão – 250,00€; Esmeralda Torres – 50,00€. OFERTAS VÁRIAS Anónimo (Fiães) – 200,00€; João Monteiro – 71,50€; Maria Pinto – 36,00€; Maria José Pacheco – 30,00€; Noémia Laureano – 25,00€; Manuel Paulo Silva – 40,50€; Helena Medeiros – 43,00€; Anónimo – 170,00€; Zélia Sêco – 43,00€; Artur Portela – 43,00€; Anónimo – 143,00€; Maria Luz Albuquerque – 33,00€.
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vida com vida
NA RETAGUARDA TAMBÉM HÁ MISSÃO O padre Pedro Cravero nasceu em 1903 em Mortara, Itália. Entrou na Consolata em 1924 e foi ordenado sacerdote em 1928. Exerceu sempre o seu apostolado na Itália prevalentemente no sul, sem nunca ter saído do seu país. Faleceu em 21 de maio de 1962 texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO O beato Allamano costumava dizer que a vocação missionária era a melhor de todas porque foi essa a vocação do próprio Jesus Cristo, o enviado do Pai. Talvez por esta frase ou por outra parecida, o padre Pedro Cravero deixou-se cativar pelas missões e em 1924, com 21 anos de idade, deixou o seminário diocesano de Brá e entrou no Instituto da Consolata. Foi acolhido pelo fundador, o padre José Allamano, e foi ele próprio quem lhe vestiu o hábito religioso. Não custa a crer que o padre Allamano tenha abraçado o jovem Pedro Cravero com grande efusão, tanto mais que ele vinha de um seminário diocesano e já trazia os estudos teológicos meio feitos. Era uma ótima aquisição para o Instituto. Fez o noviciado com bom aproveitamento e terminou-o com a profissão religiosa. Foi ordenado em 1928 e iniciou o seu apostolado sacerdotal e missionário em vários seminários do Instituto, ora como superior, ora como formador e diretor espiritual. Em 1937 desceu para o sul da Itália, primeiro como diretor da casa de Parábita e, depois de mais algumas voltas, foi nomeado reitor
de um santuário dedicado a Nossa Senhora da Saúde, em Martina Franca. Ali permaneceu até à sua morte, em 1962. A sua fraca saúde nunca lhe consentiu atravessar os mares e sentir o perfume dos territórios africanos ou sul-americanos. Mas o seu zelo apostólico, o seu amor a Nossa Senhora e ao fundador, fizeram dele um verdadeiro missionário; sim, porque na retaguarda também há missão.
esforços para suportar as dores e para não se tornar pesado aos outros. Nos momentos de maior crise, ia buscar força à fé e dizia: “Paciência! Seja tudo por amor de Deus!”. Tinha uma certa propensão para trabalhos manuais e para um determinado tipo de arte, como denotam, por exemplo, as pinturas que mandou executar no santuário que ele dirigia, as quais ainda hoje dão grande beleza ao templo.
Quanto à personalidade do padre Cravero, dizem as crónicas que ele era piedoso, reto e obediente; era silencioso e tímido, mas de convívio fácil com todos. Sofria de enxaqueca forte que, por vezes, o impedia de realizar determinados compromissos. Fazia grandes Novembro 2012
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outros saberes
O BOM E O BELO Allamano, falando aos seus seminaristas dizia: Há pessoas propensas à tristeza; nós porém devemos moldar o nosso carácter tornando-o jovial e alegre texto MANUEL CARREIRA foto LUSA
macua dá muito valor ao trabalho, porque o trabalho produz riqueza sobretudo pelo amanho das terras. Onde há trabalho não há fome. Sabemos que hoje em dia, mesmo entre os macuas, a riqueza da família não depende só do produto que lhe vem da terra. Há outras fontes de receita que lhe advêm do exercício de qualquer profissão: pedreiro, carpinteiro, caçador e outros. Macua – Moçambique
Se queres ser bom chega-te Não digas a Deus o tamanho do para cá; se queres ser mau teu problema; diz ao problema o arreda-te para lá tamanho do teu Deus Apoio à compreensão ApeteceApoio à compreensão É preciso ter fé para acreditar no significado desta frase. Qualquer problema que tenhamos, por maior que seja, nunca supera a grandeza de Deus. E, por isso, se nós acreditarmos verdadeiramente que Deus tem poder para resolver os nossos problemas, podemos estar descansados. Basta a fé. Autor desconhecido
Nenhuma pessoa é feia se souber trabalhar
Apoio à compreensão O povo
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-nos ter ao nosso lado pessoas que nos deem bons exemplos, para as podermos imitar. Não nos interessa nada ter perto de nós pessoas más, para não sermos tentados a seguir-lhes os maus exemplos. Popular
O carácter de uma pessoa é como a pele; não se muda facilmente
Apoio à compreensão É uma sorte nascer com um bom carácter. Há pessoas que por mais que se esforcem, não conseguem sorrir,
mostrar cara alegre. Os mestres do espírito inventaram maneiras de vencer o mau carácter através de atos de virtude continuados, através de um esforço pessoal e o domínio de si próprio. Tanzânia
Um diamante, mesmo com defeito, vale sempre mais do que uma pedra sem defeito
Apoio à compreensão Trata-se da essência das coisas. O valor intrínseco do diamante está em ele ser, uma pedra preciosa diferente de outra pedra qualquer; o diamante, se for trabalhado, mostra o seu valor não como pedra, mas como diamante. Por sua vez, a pedra por mais que seja limada ou brunida, nunca passa de uma pedra igual a milhões de outras. Índia
a missão é simpática codificadas, como noutras línguas. Pode existir, isso sim, uma grande distância e incoerência entre aquilo que se diz, se proclama ou se exclama e se atribui a Deus falando, e o que se é ou se faz na vida de todos os dias.
NAS HORAS MÁS TODOS DIZEM “AI JESUS” texto NORBERTO LOURO ilustração VICENTE SARDINHA Na linguagem portuguesa, sobretudo se falada, abundam expressões de carácter religioso que, à primeira vista, podem erroneamente levar quem as ouve, a descortinar por detrás de quem as profere, pessoas crentes. É que, estão de tal maneira entranhadas que até os “ateus e agnósticos” confessos as usam. Estou a lembrar-me daquele ministro da Educação “ateu” que, apresentando-se uma vez ao cardeal Cerejeira dizia: “Graças a Deus” não sou batizado! “Graças a Deus” é uma dessas expressões que sai muitas vezes. Teologicamente exata, pois tudo o que temos e de que usufruímos é dom de Deus.
“Se Deus quiser”, “queira Deus”, “a Deus prazendo”, “praza a Deus”, indicam que a vontade de Deus se sobrepõe a qualquer vontade humana e a ela deixamos o último veredicto. Esta expressão está tão enraizada na nossa língua, que até a sabemos em língua árabe. Quando dizemos “oxalá”, é ao árabe que vamos pedir ajuda, pois “oxalá” vem de “inch Alá” que quer dizer “Queira Deus”. E quem é que nunca disse “Ai Jesus”, ou como admiração, ou como exclamação de alegria ou de dor, ou de reconhecimento de uma má ação ou de uma escolha errada e até de desespero? Aqui há uma certa diferença entre homens e mulheres. Os homens em vez de “Ai Jesus” utilizam mais “Oh diabo”, sabe-se lá porquê?
Muito comum é, por exemplo, atribuir a Deus a responsabilidade das nossas desgraças ou simplesmente das nossas dificuldades. Atribuir a Deus males que nos advêm, mormente doenças, pode levar-nos a esquivar a nossa responsabilidade e a cruzar os braços dizendo: “Se é vontade de Deus, não vale a pena lutar!” Ou então, pedir contas a Deus! Deus não quer a doença e a resignação não é uma virtude cristã. A doença é um mal e Deus não é origem dele, nem quer o mal. Sendo assim, quer que se faça tudo para ajudar a superar a provação. E assim, todos os males. Nem sempre é fácil não culpar Deus. No último dia de férias, caí por umas escadas abaixo e tive sorte em não bater com a cabeça onde podia ter batido. Foi alarme na povoação inteira. De comiseração pelo sucedido, de ter sucedido a mim padre, “merecedor” de mais atenção e privilégios de Deus, e, por ser 24 de agosto, dia de São Bartolomeu, alguém alvitrou que eram horas de Deus não permitir tanta liberdade ao diabo que continua a andar aberto, desde sempre, naquele dia. Não obstante tão diversas interpretações, a simpatia de todos levou-me a tornar simpático o que podia ter sido fatal. A missão é sempre simpática!
Poderíamos continuar esta análise mas, fiquemos por aqui. Podemos no entanto dar graças a Deus, ao bom senso, e ao respeito pelo sagrado que, a par destas expressões de religiosidade, genuína ou herdada sem saber, não existem, em português, expressões blasfemas pelo menos descaradas e Novembro 2012
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fátima informa
ESCUTEIROS DE FÁTIMA 30 ANOS A DEIXAR PEGADAS texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA Deixar uma pegada na comunidade é o objetivo do Agrupamento de escuteiros 682 de Fátima, a comemorar 30 anos. Ao longo do ano escutista (a data oficial de fundação é 12 de novembro de 1982), os escuteiros vão “deixar pegadas e trabalhar para ir ao ACAREG (acampamento da região de Leiria) em agosto de 2013”, salienta o chefe de Agrupamento, Marco Nuno Gomes. O tema deste ano é “Pegadas no caminho da verdade”. A primeira pegada que já deixaram foi o restauro do chão de uma sala do centro de catequese da paróquia de Fátima. Todos os escuteiros frequentam as aulas de catequese, mas é também uma forma de ligação dos discípulos de
Obras do mestre Herculano Elias
A partir de 12 de novembro e até 6 de janeiro de 2013, o mestre Herculano Elias expõe as suas obras no Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima (MASE), dos missionários da Consolata. A mostra dedicada à Natividade inclui escultura e pintura do artista das Caldas da Rainha. A exposição pode ser visitada de terça feira a domingo das 10h00 às 17h00.
Abertura Ano pastoral
O Santuário de Fátima vai apresentar o tema do novo ano pastoral a 24 de novembro. Durante a tarde será apresentado o tema: “Não tenhais medo”, pelo professor Borges de Pinho da Universidade Católica; bem como a atitude crente 34
Falta de chefes tem impedido a entrada de mais escuteiros no Agrupamento de Fátima
Baden Powell à comunidade. “Há muita gente que não sabe o que fazemos aqui”, realça o chefe de Agrupamento. Margarida Antunes, 7 anos, está a dar os primeiros passos no escutismo. Já Augusto Reis, 17 anos, escuteiro desde 2002, não tem dúvidas que ser escuteiro é “um modo de vida”. O jovem que se vai propor a Caminheiro (lenço vermelho) quer ser arquiteto e “disponibilizar tempo para ajudar os outros”. Na história do agrupamento há um “Confiança”, uma apresentação de Juan Ambrósio, também docente da Universidade Católica. A jornada será presidida pelo bispo de Leiria-Fátima e conta ainda com momentos musicais, além da inauguração de uma exposição.
Avenida transitável
Já é possível, desde 12 de outubro, transitar na avenida Dom José Alves Correia da Silva, que tem estado em obras de requalificação. Faltam ainda acabamentos como mobiliário urbano e candeeiros, bem como a abertura à circulação no túnel.
período de interregno (1990 -2003), tendo depois voltado à atividade. Atualmente, o 682 de Fátima possui 11 Lobitos, 22 Exploradores, 18 Pioneiros, 11 Caminheiros e 10 Chefes. A falta de chefes impede de receber mais jovens, havendo uma lista de espera de interessados para nortear a sua vida pelo lema “Sempre alerta para servir”. Mais informação em www.fatimamissionaria.pt
Novembro em agenda 03/04 Encontro Nacional do Movimento Juventude Nova 03/04 Curso de iniciação de catequistas (Centro Catequético) 16/18 Encontro Nacional do Renovamento Carismático 23/25 Encontro Nacional das Equipas de Nossa Senhora
Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt
OUTRA VISÃO
DO MUNDO
| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관
APENAS
7 EUROS
POR ANO
O TEMPO
Não minga nem cresce, Não tem princípio nem fim. Sempre novo não envelhece: É eterno porque é assim. O tempo Não é leve nem pesado, Ninguém ousa dividir. É presente e é passado, Existe para recordar. O tempo É história certa, É agridoce prazer, Não dorme, está sempre alerta, Não tem tempo para morrer Joaquim Brandão «Poetas e Trovadores»