Guiné-Bissau

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Ano LX | NOVEMBRO 2014 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤

guiné-bissau

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voluntários levam esperança a jovens do interior do país

missões só vivem com apoio da comunidade Pág. 10 mudanças na geopolítica energética mundial Pág. 13 alemanha celebra queda do muro de berlim Pág. 14


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial Respondem com a sua vida centenas de milhar de pessoas que, É possível fiéis aos seus carismas, procuram responder diariamente aos desafios viver de do nosso tempo, acentuando a de Deus, na vivência dos outro modo primazia conselhos evangélicos e na vida de De facto, a capacidade neste mundo fraternidade. de resposta às urgências do mundo Vezes sem conta o Papa Francisco tem apontado o caminho da atração e do contágio como caminho da nova evangelização e do crescimento da Igreja: “A Igreja deve atrair. Despertai o mundo! Sede testemunhas de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver de outro modo neste mundo. […] Eu espero de vós um tal testemunho”, disse ele aos superiores maiores dos institutos de vida consagrada. Confiando aos consagrados a tarefa de despertar o mundo, Francisco dá-lhes um verdadeiro programa para o Ano da Vida Consagrada que terá início no próximo dia 30 de novembro. É uma enorme missão colocada em mãos e corações frágeis. Não se podem efetivamente esconder as dificuldades com que hoje se debatem os institutos de vida consagrada. As estatísticas alertam para uma diminuição das vocações, especialmente nos países mais secularizados da Europa e da América, embora seja diversa a situação de alguns países da África ou mesmo da Ásia. Sem falar das situações de envelhecimento ou de abandono da vida religiosa por problemas afetivos, insatisfação ou cansaço, imaturidade pessoal, conflitos com os superiores ou crises de fé: problemas aliás que afetam outras instituições.

de hoje passa pela adesão radical a Cristo. Foi d’Ele que partiram os primeiros discípulos na Galileia e ao longo da história da Igreja, partiram homens e mulheres de todas as condições e culturas os quais, deixando família e pátria, seguiram-no incondicionalmente, tornando-se disponíveis para o anúncio do Reino e para fazer o bem a todos.

É evidente que os serviços da vida consagrada, a solidariedade para com os pobres, a assistência aos marginalizados e doentes, o trabalho educativo e a missão nas periferias são obras e atitudes que a sociedade mais valoriza e são de facto uma manifestação credível do amor evangélico. Mas, atenção. Não se garante que quem aceita esse testemunho de serviço aceite também as convicções que estão por trás. Porque será que se admira o serviço social, mas não se quer viver como eles? O desafio de hoje na vida consagrada é o de oferecer com o serviço também aquilo que o explica e que motiva a consagração destas pessoas a Deus. Darci Vilarinho

Perante tudo isto, podemos perguntar-nos se a vida consagrada é ainda um testemunho visível e credível para o nosso tempo. Se o terceiro milénio é o tempo dos leigos, das associações e dos movimentos eclesiais, qual será o lugar reservado às formas tradicionais de vida consagrada? Novembro 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº10 Ano LX – NOVEMBRO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Álvaro Pa­­che­co, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Francisco Pedro Contracapa Lusa Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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Voluntários partilham conhecimento com guineenses do setor de Empada 03 EDITORIAL É possível viver de outro modo neste mundo 05 PONTO DE VISTA Peregrina por um dia 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Que faço agora? 08 MUNDO MISSIONÁRIO Depois do ébola surge uma nova epidemia na Libéria

Prémio a favor do ambiente e contra o desperdício na Coreia do Sul Retiradas da rua 1.400 crianças das Honduras e Nicarágua Um milhão de pessoas em risco de fome no Sudão do Sul 10 A MISSÃO HOJE “O missionário não consegue fazer nada sozinho” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Em espírito de serviço 12 A MISSÃO HOJE “Saber escutar é o mais importante” 13 DESTAQUE Nova geopolítica energética mundial 14 atualidade Alemanha celebra 25 anos da queda do Muro 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Quem ama não discrimina 24 TEMPO JOVEM Vencer ou convencer 26 SEMENTES DO REINO Prontos para acolher 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Semeava alegria 32 OUTROS SABERES Conflito de gerações 33 2014 ano allamano O verdadeiro milagre 34 FÁTIMA INFORMA Comunicar a fé em ambiente digital


ponto de vista

peregrina por um dia texto CARINA JoÃO oliveira*

Fui peregrina por um dia. Nunca deixei a minha fé à porta de lado nenhum, mas confesso que me faltava a experiência do desafio e da superação, do caminho de uma peregrinação. A instituição do Dia Nacional do Peregrino pela Assembleia da República trouxe-me a motivação, e sem mais desculpas, o ímpeto que faltava a isso. Aqui deixo um relato pessoal, assim me foi pedido, daquilo que apenas um dia significou para mim. Percebi aquilo que já sabia, mas vivi-o na primeira pessoa. Sabia que quem vem a Fátima procura, e encontra, e por isso volta sempre. No rosto lágrimas, sorrisos e olhos de gente de fé, de gente que tem muita e de muita gente que a procura. Nos pés, o caminho de quem fez dos quilómetros percorridos uma prova de superação de si mesmo, na caminhada em busca do (im)possível. A maior parte das vezes em silêncio. Ser maior que o caminho. Ser maior do que o corpo, a dor, a provação acompanhada da oração. Ou simplesmente da companhia dos demais. Aqueles que aprendemos a conhecer, mesmo já conhecendo, e aqueles que nos fazem conhecer a nós mesmos, aquilo que nunca pensámos ver exposto, ou que pensávamos ter e ser por certezas próprias… nada mais errado… a cada passo abriam-se as portas e vendavais de um coração que no final transbordou de alegria.

se cura pelo silêncio de uma prece. E então, o desassossego vira calma, porque nada suaviza o sentir como o aconchego de uma Mãe. É isto que eu vejo nos olhos que encontro pelas ruas da minha cidade. Foi assim que também eu me senti peregrina por um dia. E é assim que sei que o voltarei a fazer novamente, sozinha ou em grupo, encontrando-me a mim mesma, transportando na alma poesias que nos elevam a gritar sem ruído. Como quem arde sem se ver. E aos cânticos da noite, ou do adeus de lenço nos olhos, oiço quem canta a uma Mãe maior que o tempo, maior que os homens e a eternidade... e a quem também elevo meus olhos: “Uma prece final, ao deixar-Vos Mãe de Deus. Viva sempre em minh’alma este grito imortal”. * deputada à Assembleia da República

Ser peregrino não se explica. O amor de Mãe como símbolo de felicidade na chegada a este lugar. Aqui não há povo, nem patrões nem empregados, nem homens nem mulheres, não há ordens, nem sequer nações, não há sociedade em código de barras, não há nada que não sejam corações em oração. Ou, de como ter o peito em gritos Novembro 2014

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leitores atentos

Renove a sua assinatura Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Pertenço à associação das Mulheres Missionárias da Consolata, e sou angariadora de assinantes da FÁTIMA MISSIONÁRIA. Sinto que é um trabalho importante, que faço com muito gosto, mas de alguns anos para cá tenho-me dedicado também à distribuição dos calendários dos missionários da Consolata. A última edição de 2015, com o Papa Francisco na capa, foi um êxito. Consegui 6

Fruto da ganância

Sou assinante da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA há bastantes anos. A última que recebi comoveu-me bastante com o que se passa lá fora. Enquanto os homens que podiam pôr fim a essas situações se deixarem levar pela ganância do poder e do dinheiro, dificilmente essas situações de pobreza tendem a acabar. Para o caso do menino marfinense, abordado na revista, envio um cheque. Aproveito para enviar um abraço ao padre Marçal, meu pároco em Campolide, onde foi também pároco o saudoso padre Carreira. António Manuel

Leitora de 109 anos

Tanta coisa boa

A revista está cada vez melhor. Felicito todos aqueles que a fazem por tanta coisa boa que nos ensinam e transmitem. Além das notícias espantosas dos nossos missionários em terras longínquas (…), há artigos sobre o nosso querido Papa Francisco e as realidades do mundo a nível nacional e internacional. Estou a lembrar-me daquele artigo sobre a troika, tão atual e tão verdadeiro, e sobre esta Europa que só pensa em dinheiro e esquece as pessoas. Como tem razão o Santo Padre quando diz que tudo é descartável: velhos, novos, crianças… Usa-se enquanto serve, depois deita-se fora. Maria Emília

Apoio na formação

Renovo a minha assinatura. E afirmo que é com muito gosto que leio a nossa querida revista, que nos dá a conhecer tanto do que se passa no mundo… E o heroísmo dos nossos missionários. Regressei há meses de Angola onde fui visitar a minha mãezinha que fez no dia 24 de dezembro de 2013 cento e nove anos. Isso mesmo: 109 anos. Graças a Deus está lúcida e ainda há um ano atrás lia a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA. É para dar graças a Deus.

Peço desculpa pelo não pagamento a horas desta excelente revista que tem sido para mim. Tem-me feito bastante bem saber como vivem os missionários, sempre prontos a dar exemplos de vida que tanto aprecio. Já apoiei a formação de jovens missionários quando a minha filha acabou o curso. Tenho pena de não poder fazê-lo novamente. Fica o meu agradecimento e amizade por tudo o que nos transmitem.

distribuir 200 calendários. Fico grata a todas as pessoas que os adquiriram e deram deste modo um apoio à missão da Igreja. Juntos fazemos muito. São ações que contribuem para dar entusiasmo ao nosso trabalho e sacrifício. É tudo pelo Reino de Deus e um modo muito concreto de colaborar com as Missões.

revista. Ah! Quanto precisamos deste serviço para fazê-la crescer! Só com novos assinantes. Depois, distribuir os calendários, como apoio à revista e às missões. Bem haja, Conceição, pelo tempo que dedica em favor da causa missionária. E aqui fica o convite a outras pessoas para fazerem outro tanto.

Natália

Conceição Azóia – Pousos (Leiria)

Ora aqui está um modo simples e direto de apoio à nossa missão. Primeiro, angariar novos assinantes para a nossa

Olga

DV


horizontes

QUE FAÇO AGORA? texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Manuel entrou no consultório da doutora Helena. A mão tremia-lhe ao entregar o envelope fechado. A alegria da médica desapareceu à medida que via o resultado das análises. Tinha Sida. Nesse instante, o mundo de Manuel desabou. Mas Manuel nem sentia nada. Ao sair do consultório disparava dentro de si um sentimento destruidor: revolta! Só revolta. De repente, quem conhecia o simpático Manuel falava do seu “virar de casaca” e viravam-lhe a cara. Era como se ele não tivesse uma história anterior e a sua vida tivesse começado ali, agora, num filme de mal-querer. Manuel ficou só. Muito só naquela vontade de destruir a si mesmo e a tudo o que o rodeava: se destruísse a alegria que voava à sua volta, talvez não notasse o tamanho da sua infelicidade. No hospital ofendia os doentes e os profissionais. Tornou-se até perigoso. A expulsão era uma possibilidade.

– Como evitar isto? – perguntava-se a doutora Helena. Apesar de não escapar à agressividade de Manuel, sabia que era a única em que ele confiava. Decidiu chamá-lo e propôs-lhe uma alternativa que aliviaria a todos: – Senhor Manuel, parece-me que vir ao hospital é muito difícil para si. Quer ser consultado na clínica onde eu trabalho? Penso que lá seria mais confortável. Resmungando, Manuel aceitou. Contudo, logo no primeiro dia foi tão ofensivo que a médica teve vontade de desistir. Não conseguia ajudá-lo. E porque haveria de ajudá-lo se ele próprio recusava ajuda e desistira de viver? As queixas na clínica eram constantes e Helena era culpabilizada pelos colegas por ter trazido Manuel para a clínica. Cheia de dúvidas, mas recusando-se a desistir, falou mais uma vez com ele: – Senhor Manuel, se quer destruir os anos que pode viver feliz apesar da sua doença, não o posso impedir. Eu não sei ajudá-lo a resolver o medo que poderá estar a sentir, mas conheço quem sabe. – Cale-se, sua convencida! Não sabe nada de mim! – Tem razão. Há muito que se disfarça nessa armadura violenta.

Mas você contou-me a sua história. Sei que é um homem admirável. Você não é o vírus da sua doença. É o Manuel! Pode decidir quem comanda a sua vida: você, ou um vírus. Pela primeira vez desde o diagnóstico, Manuel não foi ofensivo. Ficou em silêncio. E depois, chorou – e esse choro resgatou o Manuel de sempre, aquele de quando não sentia revolta e medo da morte e da dor. Helena não se mexeu. Do outro lado da secretária, chorou também. Estendeu o braço e aconchegou a mão caída de Manuel. Deixou-se em silêncio, no respeito pelo homem dorido. A sua presença era o único consolo que ela sabia dar naquele momento. Por isso, aquele momento durou todo o tempo que Manuel precisou.

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mundo missionário texto E. AssunçãO fotos LUSA

Depois do ébola surge uma nova epidemia na Libéria

Prémio a favor do ambiente e contra o desperdício na Coreia DO SUL

O vírus Ébola está a causar uma nova epidemia: a marginalização de milhares de crianças na Libéria e outros países da África Ocidental. Tendo sobrevivido ao vírus, estas crianças não conseguem reintegrar-se nas famílias e nas comunidades. Consideradas perigosas, e privadas de meios de subsistência, são afastadas do convívio social. Muitas definham e morrem abandonadas ao longo das estradas. A UNICEF – organismo das Nações Unidas para a infância – está à procura de adultos que tenham sobrevivido ao vírus para tomar conta de crianças na mesma situação. Na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri, o medo de contágio levou a encerrar diversos centros de saúde e muitos agentes sanitários recusam-se a trabalhar devido à falta de meios e às más condições de trabalho. Com o medo do contágio as crianças não se submetem ao controlo médico, aumentando o risco de difusão da malária e outras epidemias

O “Prémio para Ecologia”, dos bispos da Coreia, foi atribuído à “Comissão pela Vida e pela Paz”. Formada por várias congregações religiosas femininas, esta comissão coreana viu reconhecido o seu esforço para “conservar e tutelar a ordem divina da criação, assim como um autêntico humanismo e uma ecologia da vida, não obstante a destruição contínua do ambiente e a violação dos direitos humanos”. A diocese de Incheon, por seu lado, recebeu uma menção honrosa pelo trabalho a favor da renovação da Igreja e de evangelização desenvolvido pelo Instituto Católico de Investigação sobre o Ambiente. Igualmente, a “Casa para as Mulheres” de Changwon, que acolhe mulheres e mães em dificuldade, teve a mesma distinção pela sua campanha para reduzir o desperdício alimentar, que envolveu ativamente as crianças.

Igreja e família

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Para quem vive à sombra do Vaticano é habitual ver bispos e cardeais que se dirigem para um ou outro encontro visto que há tantos assuntos a tratar: é a salvaguarda da fé e da sã doutrina, são os escândalos entre o clero, é a má administração dos bens eclesiásticos, e assim por diante. Durante duas semanas em outubro, porém, 253 convocados, entre eclesiásticos e leigos, reuniram-se no Vaticano não para discutir assuntos internos da Igreja mas sim a situação em que se encontram as famílias. Falou-se de “fardos pesados” impostos às famílias e falou-se de sinais de santidade visíveis até mesmo lá onde a Igreja diz que se


Retiradas da rua 1.400 crianças das Honduras e Nicarágua

Um milhão de pessoas em risco de fome no Sudão do Sul

A União Europeia (UE) promoveu um projeto que visa a progressiva erradicação do trabalho infantil. Mais de 1.400 crianças hondurenhas e nicaraguenses foram reintegradas no sistema educativo dos seus países. O programa agora concluído durou cerca de três anos e foi realizado por várias organizações civis com o apoio da UE. As crianças abrangidas pelo projeto dedicavam-se à recolha de lixo reciclável nas estradas e nas lixeiras de Manágua, Tegucigalpa e São Pedro Sula. Está previsto que a sua reintegração no sistema educativo seja agora completada com a criação de cooperativas e outros meios para evitar que elas voltem à situação anterior. O projeto beneficia a economia de 500 famílias, 300 da Nicarágua e 200 das Honduras.

Uma catástrofe alimentar, que ameaça um milhão de pessoas, poderá rebentar entre janeiro e março do próximo ano, se não se resolver a crise política no Sudão do Sul. Segundo o relatório “Da crise à catástrofe”, apresentado por diversas organizações humanitárias, a vida da jovem nação está a ficar paralisada. A comunidade internacional tem sido lenta a pressionar as negociações de paz para “garantir um cessar-fogo significativo”. Os frágeis acordos conseguidos deixam margem ao recomeço dos combates em larga escala, adivinhado no rearmamento de ambas as partes. A guerra civil iniciada em dezembro de 2013 já provocou a fuga de um milhão e meio de civis, com base nas diferenças étnicas e tribais.

vive “em pecado”. Como mãe carinhosa ela deve mostrar especial ternura para com os filhos mais fracos sem no entanto chamar saúde à doença ou vice-versa. Até mesmo as “uniões de facto” têm o direito de encontrar na Igreja uma atitude de acolhimento e não de rejeição. Para já este Sínodo Extraordinário aprovou um relatório que será estudado nos próximos meses como base para o Sínodo Ordinário sobre o mesmo tema que terá lugar no outono do próximo ano e do qual se esperam as grandes linhas para uma renovada pastoral familiar.

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a missão hoje

“O missionário não consegue fazer nada sozinho” Casimiro Torres, 48 anos, chegou à Tanzânia em janeiro de 2003. Passou grande parte do tempo numa paróquia do interior do país e, recentemente, foi transferido para Ubungo, nos arredores de Dar-es-Salaam. Nesta entrevista, destaca a importância da ligação entre os missionários e as comunidades de origem texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA FÁTIMA MISSIONÁRIA Está há 11 anos na Tanzânia. Primeiro no interior e agora numa zona mais urbana. Como tem acompanhado a evolução do país?

Casimiro Torres O país, como praticamente não tem recursos naturais, é pacífico, mesmo a nível tribal, ao contrário de outros países como o Quénia, o Sudão ou o Congo, onde há muitos interesses internacionais em jogo. Está a desenvolver-se lentamente, mas no interior ainda há muitas dificuldades. Na missão onde estive, em Sanza, tínhamos de fazer 70 quilómetros para encontrarmos a primeira estrada

Mesmo que tenha muitos projetos, ideias e boa vontade, o missionário não consegue fazer nada sozinho. E é esta ligação, entre o missionário que vai e a comunidade que fica, que torna possível o nosso trabalho. Por isso é tão importante para nós que a comunidade conheça, que sinta e apoie

Casimiro Torres, natural de São Mamede de Coronado, Trofa, está na Tanzânia há 11 anos

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asfaltada. Havia muitos problemas no acesso à saúde e como o povo tanzaniano só pede ajuda em situações limite, chegaram a morrer-nos duas pessoas no carro, quando as tentávamos levar ao hospital mais próximo. FM Uma das doenças mais complicadas, comum a toda a África, é a malária. Há boas medidas de prevenção? CT Há as redes, que se devem usar sobretudo à noite, mas a grande maioria não usa, e por isso muitos foram infetados, até eu apanhei a malária lá. Já se manifestou duas vezes, mas se for controlada não há problema.


palavra de colaborador O povo tanzaniano quando acredita tem uma fé profunda e verdadeira. No entanto, fruto da sua cultura, mistura muito a fé com as tradições pagãs e continua muito ligado à bruxaria e à feitiçaria

O problema é quando deixamos passar o tempo e ela avança, tornando o organismo mais vulnerável. Se ataca o cérebro é que não há nada a fazer. FM Que dificuldades tem sentido enquanto evangelizador missionário da Consolata e da Igreja Católica? CT O povo tanzaniano quando acredita tem uma fé profunda e verdadeira. No entanto, fruto da sua cultura, mistura muito a fé com as tradições pagãs e continua muito ligado à bruxaria e à feitiçaria. Se uma pessoa tem uma doença, é capaz de ir ao hospital, mas não deixa de ir também ao bruxo ou ao curandeiro. E isso é transversal a qualquer religião. É algo que lhes está no sangue. Por vezes, até acreditam mais nisso que em Deus e em Jesus Cristo.

FM O ano passado um grupo de voluntários portugueses foi em missão à Tanzânia. O que significa para os missionários, e sobretudo para os locais, a presença destes jovens? CT É um sinal de que a Igreja é universal e também de que o trabalho missionário é válido e reconhecido. Para mim, em particular, demonstra que não estamos lá sozinhos. Mostra que há pessoas interessadas no nosso trabalho e que há alguém na retaguarda a colaborar e a ajudar. Mesmo que tenha muitos projetos, ideias e boa vontade, o missionário não consegue fazer nada sozinho. E é esta ligação, entre o missionário que vai e a comunidade que fica, que torna possível o nosso trabalho. Por isso é tão importante para nós que a comunidade conheça, que sinta e apoie.

Em espírito de serviço texto DARCI VILARINHO “Mas tu ainda não és assinante da FÁTIMA MISSIONÁRIA? Quem passa por aqui tem necessariamente que se tornar assinante! São palavras que um dia o padre Carreira me dirigiu numa das visitas que lhe fiz no seu escritório”. Quem o diz é Célia Carreira, casada, mãe de um filho de nome Francisco. A partir desse encontro, Célia ficou ligada à revista. Hoje não só é assinante, mas colaboradora na recolha das 36 assinaturas que lhe foram confiadas, todas de Souto de Cima, sua terra, na freguesia da Caranguejeira, Leiria. Na impossibilidade de Ana Marques poder continuar este trabalho, dispôs-se a aceitá-lo “com muito gosto e em espírito de serviço”. Também em homenagem ao padre Manuel Carreira, que celebrou o seu casamento, e em recordação do padre José Bottacin, que conheceu e tanto estimou. Catequista na sua comunidade durante vários anos, diz que tantas vezes ia buscar à rubrica “Gente Nova em Missão” inspiração para os seus encontros com as crianças e adolescentes. Reconhece, aliás, que a revista é rica de testemunhos que abrem os horizontes e podem ser utilizados na formação da juventude. O sorriso do filho, Francisco, já com 11 anos, que assistiu à conversa, garante-lhe que pode contar com a sua ajuda nesta tarefa tão importante.

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a missão hoje

Bernard Obiero cumpriu um sonho antigo ao ser ordenado sacerdote missionário da Consolata

“Saber escutar é o mais importante”

e danças. “A alegria é muito importante e, em África, o mais valorizado, é a participação ativa dos fiéis”, explica.

O novo missionário da Consolata em Portugal, Bernard Obiero, partilha os seus dias com a população de um bairro social de Lisboa, afetada pela pobreza e pelo desemprego. “Saber escutar” estas pessoas é o “mais importante” para o jovem sacerdote

Tornar-se padre foi o resultado de um “longo” percurso que, além do Quénia, implicou passagens por Moçambique, Itália e Portugal. Deste trajeto, o missionário recorda as pessoas com quem contactou, as diferenças culturais, os desafios com os quais se deparou e um recomeço constante. “Foi difícil sair de um país para outro e recomeçar. Tinha de criar novas amizades, aprender a língua, a cultura e enfrentar novos desafios”, aponta.

texto JULIANA BATISTA foto Geoffrey Omondi Depois da ordenação sacerdotal no Quénia, Bernard Obiero, missionário da Consolata, retomou as suas atividades no Centro Consolação e Vida, no bairro do Zambujal, na Amadora. Só que agora, com um “compromisso como sacerdote”. Cumprido o “sonho” de ser padre, o que lhe deu “muita alegria”, o queniano, de 31 anos, deseja agora “viver a vida como missionário com autenticidade”. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, disse notar que as pessoas procuram o seu “apoio”. Do contacto com a população que reside no bairro do Zambujal, onde a pobreza e o desemprego são problemas muito presentes, o sacerdote consegue descobrir a 12

atitude necessária para quem lida com aquelas pessoas: “Saber escutar esta gente é o mais importante. Elas sofrem e precisam do nosso tempo”. A ordenação sacerdotal de Bernard aconteceu a 30 de agosto, no Quénia. O dia seguinte ficou marcado pela missa nova. As celebrações levaram-no até ao seu país natal e reuniram a sua família alargada, possibilitando o encontro destas pessoas, “depois de muitos anos sem se verem”. A presença de alguns portugueses foi também uma “alegria” para o novo sacerdote. As cerimónias foram dominadas pelo estilo africano, com uma liturgia marcada pela alegria, com música, ritmos

Em Portugal, além das atividades no Zambujal, o missionário encontra-se a tirar uma licenciatura em Comunicação Social. “Nós, sacerdotes, precisamos de transmitir aquilo que temos”, refere, destacando que esta formação poderá ser uma mais valia para “chegar às pessoas de uma forma mais fácil”.


destaque Consumir menos, desenvolver melhor

Nova geopolítica energética mundial texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA A exploração de combustíveis a partir de rochas betuminosas e o acesso de certas regiões do mundo a mais altos níveis de desenvolvimento estão a alterar a geopolítica energética mundial. O regresso dos Estados Unidos da América (EUA) ao grupo dos maiores produtores de combustíveis, a possibilidade de a Arábia Saudita poder deixar de ser autossuficiente em petróleo e o facto de a China ser já o maior importador, eis apenas alguns dados desta geopolítica.

foi agora ocupado pela China, tendo em conta as necessidades resultantes do seu rápido crescimento, e calcula-se que o mesmo venha a acontecer com a Índia e os países do sudoeste asiático, só para citar alguns exemplos.

Mais energia, menos ambiente Situação idêntica verifica-se com alguns países produtores de petróleo. Um relatório do Banco Americano Citigroup, citado pela edição de agosto da revista francesa La Revue, refere que a Arábia Saudita poderá tornar-se num importador de petróleo em 2022, tendo em conta o rápido crescimento populacional e as suas crescentes necessidades energéticas destinadas a assegurar o funcionamento de ar condicionado e de centrais de dessalinização para obtenção de água potável. Esta situação pode ser tanto mais grave quanto se pensa que as reservas de petróleo

da Arábia Saudita podem estar sobreavaliadas face às suas reais capacidades. A exploração das rochas betuminosas deu alguma tranquilidade aos mercados energéticos fósseis. Calcula-se, por exemplo, que as reservas existentes no Canadá sejam suficientes para alimentar o país, aos níveis de consumo atuais, durante cerca de dois séculos. Porém, estas novas fontes energéticas não deixam de representar novos problemas: trata-se de recursos que implicam uma exploração cara e que levantam problemas acrescidos no domínio ambiental. Nesse sentido, não são uma alternativa às energias renováveis e, sobretudo, às necessidades de diminuição do consumo energético e à aposta no desenvolvimento sustentável.

O relevo que os EUA assumiram entre os principais produtores de carburantes tem a ver com as explorações de rochas betuminosas, através de uma forma de produção mais cara, mas economicamente viável sempre que o preço do petróleo ultrapassa a barreira dos 100 dólares o barril. Este facto fez com que os EUA se posicionassem entre os principais produtores de combustíveis, à frente de países como a Arábia Saudita e a Rússia, estimando-se que possa estar em condições de se tornar um exportador mundial, nos próximos anos, situação que poderá ocorrer, pelos mesmos motivos, com o seu vizinho do norte, o Canadá. Desde 1949 que os EUA importam petróleo, ao ponto de se transformarem no principal importador mundial, situação frequentemente apontada como a principal razão do seu envolvimento em vários conflitos regionais no mundo. Esse lugar

A China transformou-se no principal importador de petróleo devido ao seu rápido crescimento

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atualidade

reunificação Comemorações juntam alemães em Berlim

Alemanha celebra 25 anos da queda do Muro Berlim, capital de uma Alemanha que é a locomotiva da Europa, não esquece os tempos em que esteve dividida ao meio, tal como o próprio país. Mas a 9 de novembro de 1989, o milagre aconteceu: os guardas da RDA recusaram disparar sobre a multidão que se aproximava do Muro e de repente havia gente em cima dele com martelos a partir aquele cimento velho de 28 anos texto Leonídio Paulo Ferreira* foto Lusa Ninguém dormiu em Berlim na noite de 9 de novembro de 1989, quando a frase equívoca de um governante da Alemanha comunista fez a multidão aproximar-se do muro que dividia a cidade desde 1961 e os guardas, confusos com tantas mudanças políticas e tanta gente a chegar, optaram por não disparar. Passados 25 anos, Berlim

Exposição ao ar livre evoca as pinturas que eram feitas no Muro de Berlim

volta a desafiar os seus habitantes a não dormir, com celebrações que preveem desde concertos de música pop, como o de Peter Gabriel, até o lançamento de milhares de balões ao som da nona sinfonia de Ludwig van Beethoven. E a chanceler Angela Merkel inaugurará uma exposição no Memorial do Muro de Berlim, para que as novas gerações não

esqueçam quando a Alemanha e também Berlim estavam divididas por causa da Guerra Fria entre americanos e soviéticos que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Desde a queda do Muro foram precisos apenas 11 meses para a República Democrática Alemã (RDA) acabar e a República Federal da Alemanha (RFA) perpetuar-se como Alemanha reunificada. Aconteceu a 3 de outubro de 1990 e também não tardou a que Berlim recuperasse o seu estatuto de capital nacional, depois de décadas com Bona como capital da RFA e Berlim Leste como capital da Alemanha comunista. Mas se agora se pode celebrar sem complexos, a verdade é que depois da euforia da reconquista da unidade se seguiram tempos difíceis, com as regiões da antiga RDA a entrarem em crise económica (apesar da ajuda governamental) e


muita população a mudar-se para Ocidente, o tal movimento que os dirigentes da RDA tinham impedido quando decidiram construir o Muro de forma a travar a sangria de gente nova e qualificada.

com o antigo patrono, fez-se eleger chanceler em 2005. Desde então foi reeleita duas vezes, sempre com mais votos, resultado de uma vasta popularidade, que vai além do seu partido democrata-cristão.

Em Berlim quase não existem vestígios do traçado do Muro chamado “da vergonha”. Na antiga terra de ninguém surgiram novos edifícios, praças reconstruídas, e as feridas físicas da antiga divisão tornaram-se invisíveis. Mas as psicológicas não, pois existe ainda saudosismo em algumas camadas da população da ex-RDA, a famosa ‘Ostalgie’, palavra nascida da junção de leste (ost) e nostalgia (nostalgie). Por isso o Partido da Esquerda, com remota ligação ao antigo partido comunista, consegue hoje boas votações em Berlim e no resto do leste, com os seus eleitores a terem uma memória seletiva, preferindo recordar a igualdade e o acesso fácil aos serviços públicos e a minimizarem o Estado policial, com a Stasi, que era a extinta RDA.

Há quem veja o sucesso de Merkel como uma pequena vingança da RDA. Se assim fosse, seria uma vingança dupla, pois o próprio Presidente da Alemanha, Joachim Gauck, vem do leste. Outra figura austera, este ex-pastor protestante criticou sempre o autoritarismo do regime comunista e para os alemães, apesar do seu cargo ser sobretudo protocolar, surge como referência moral.

Quem não esquece a Alemanha comunista e o que ela era é Merkel. Nem podia. Durante boa parte da vida foi aquele o seu país. Apesar de ter nascido em Hamburgo, a pequena Angela Dorothea mudou-se com a família para a RDA e cresceu em Templin, uma vila a norte de Berlim onde o seu pai, pastor protestante, se instalou. A chanceler guarda desse tempo, além do domínio da língua russa, um sentido austero da vida, que tanto pode ter que ver com a filosofia comunista como com a tradição prussiana dessa parte da Alemanha. Aluna brilhante, ligou-se aos meios da oposição e foi identificada pelo chanceler da reunificação, Helmut Kohl, como um valor para o futuro. Doutorada em química, chegou a ministra e depois de uma rutura

Também não deve surpreender que tanto Merkel como Gauck tenham forte envolvência com o luteranismo. Maioritário a leste, enquanto o catolicismo é forte na metade ocidental da Alemanha, o protestantismo teve um papel de destaque na oposição aos líderes da RDA, procurando sempre conquistar espaços de liberdade individual. E quando

O muro em números

1961 foi o ano da construção 45 quilómetros era a sua

extensão 136 pessoas, pelo menos, morreram a tentar saltá-lo 5.000 pessoas tiveram sucesso na fuga para Ocidente 1989 foi o ano do seu derrube

o regime começou a fraquejar, fruto das próprias mudanças na União Soviética, foi das igrejas protestantes que surgiram as principais figuras políticas, como esse Lothar de Maizière destinado a ser o último chanceler da RDA. Se houvesse que elaborar uma sequência de acontecimentos que levaram ao fim da Guerra Fria e trouxeram a democracia à Europa oriental, a queda do Muro de Berlim teria de estar lá, precedida pelo nascimento do sindicato Solidariedade na Polónia e pela Perestroika de Gorbachev na União Soviética, e sucedida pela própria unificação alemã e em finais de 1991 a desagregação soviética, que deu origem à Rússia e a mais 14 repúblicas independentes. Quem visitar Berlim vai poder ver um museu da RDA. E passear num Trabant, os pequenos carros que eram o sonho dos alemães de leste apesar da fraca figura que faziam perante os BMW, Mercedes ou Audis que circulavam do outro lado do Muro de Berlim. Mas o mais evidente é o cosmopolitismo reencontrado desta grande cidade, capital da primeira potência económica europeia e quarta a nível mundial. Este ano, também para celebrar, a Alemanha conseguiu voltar a ser campeã do mundo de futebol. A última vez tinha acontecido em 1990, meses antes da reunificação. Parece que foi noutra época, tão remota é hoje essa realidade. * jornalista do DN

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dossier

Testemunho Um mĂŞs a viver missĂŁo

VoluntĂĄrios partilham conhecimento com guineenses do setor de Empada 16


Abdicaram de um mês de férias na praia, do convívio com os amigos e a família, e aventuraram-se nas esburacadas e sinuosas estradas em terra batida da Guiné-Bissau, para darem o melhor de si ao povo do setor de Empada. Apesar da pobreza estrutural e social que encontraram, os oito voluntários da Consolata ficaram enternecidos com a simpatia, espontaneidade e humildade dos anfitriões texto e fotos FRANCISCO PEDRO

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“Entre conversas e silêncios” Mariana Rosa, 26 anos, farmacêutica, natural da Covilhã

Empada está integrada na região de Quinara, no sul da Guiné-Bissau. A aldeia, a que localmente chamam ‘tabanca’, tinha cerca de 2.500 habitantes, na última recolha oficial de dados. Hoje, não se sabe ao certo o número de moradores, devido à entrada de migrantes dos países vizinhos e à saída de locais para a capital, Bissau, ou para a Europa

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Onde está o senhor Pascoal? Explicava que estava de férias e lá me davam a receita rabiscada no centro de saúde. A farmácia da missão de Empada é um espaço pequeno: uma janela para a rua (onde se atende quem chega), uma mesa, um lavatório e um armário com os medicamentos. É aqui que chega todo o tipo de pessoas: desde as que têm mais possibilidades, às que vêm de longe, a pé e à chuva, para comprarem o remédio que precisam. A mãe preocupada com a filha doente, o filho aflito com o pai que se magoou, as crianças curiosas com a nova presença. Ouvir, “descodificar”, cuidar, assim se passaram os dias entre conversas e silêncios onde nos pudemos conhecer melhor.

“Qualquer mudança requer superação” Tive a possibilidade de experienciar a rotina no Centro de Saúde de Empada. No dia que chegámos à comunidade todo o grupo foi visitá-lo e a opinião foi unânime, as condições em que se apresentava eram de extrema sujidade, desorganização e desleixo se tivermos em conta que as instalações tinham sido remodeladas há um par de anos. Mas qualquer mudança requer adaptação e superação pessoal. E foi convivendo, conhecendo, ouvindo e apreciando as coisas e as pessoas que me adaptei e foi extraordinariamente gratificante para mim.

Maria Piteira, 23 anos, estudante de medicina, natural de Évora


Teresa Wemans, 19 anos, estudante de ciências farmacêuticas, natural de Sintra

“Há mais vida à minha volta” Abandonei a missão de Empada com tanta coisa boa cravada no coração. E com a certeza de que me dei por inteiro a todos os momentos. A cada menino que me deu a mão, a cada copo de água e a cada palavra que não entendi. Vivi tudo isso intensamente, com uma alegria que só se alcança com as coisas pequenas. Aprendi, sobretudo, que o voluntariado não é mais do que dar-me assim de rompante, toda ao mesmo tempo. Que é viver sabendo que há mais vida à minha volta, e que ela deve ser cuidada.

Os oito jovens portugueses estiveram um mês com as irmãs missionárias da Consolata, em Empada, onde deram aulas de português e informática, apoiaram o Centro de Nutrição, o Centro de Saúde e a farmácia da missão. Dinamizaram ainda treinos diários de futebol, uma das atividades mais concorridas

“O verdadeiro futebol de rua” Depois de uma longa e cansativa viagem e um par de horas mal dormidas, acordei com uns gritos de fundo que me pareceram familiares. Levantei-me na expectativa de perceber o motivo de tamanho entusiasmo e ainda encandeado pelo lindíssimo último dia do mês de julho, deparei-me com um pelado de dimensões disformes, repleto de jovens, que equipados a rigor, jogavam o verdadeiro futebol de rua. Foi o melhor presságio para um mês inesquecível em Guiné-Bissau, um país único que vive o futebol da forma mais apaixonada e genuína que alguma vez conhecera.

Luís Ramos, 27 anos, professor de desporto, natural da Amadora

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Ângelo Fernandes, 22 anos, estudante de engenharia civil, natural de Loures

“Povo muito hospitaleiro” Como apenas tinha realizado pequenas ações pontuais de voluntariado, não sabia muito bem o que esperar desta experiência. No entanto, a população de Empada mostrou-se muito recetiva à nossa presença. O povo é muito hospitaleiro e tem uma alegria contagiante. Eu e o João ficámos responsáveis pelas aulas de informática, a alunos que tinham acabado recentemente o 12º ano e a animadores de um campo de férias para crianças. Muitos deles nunca tinham usado um computador. Foi engraçado ver a maneira acanhada como mexiam no rato e gratificante registar a sua evolução com o decorrer das aulas.

A missão de Empada foi criada há mais de duas décadas, em território dominado pela religião muçulmana, mas onde havia, na altura, um casal católico. Atualmente, o trabalho das missionárias da Consolata é uma referência nas áreas do ensino, da saúde e da pastoral social. A abertura de uma farmácia é um desses exemplos. Antes, morria gente por falta de medicamentos

“Experiência verdadeiramente compensadora” Posso dizer, com toda a honestidade, que este mês de voluntariado na Guiné-Bissau foi das experiências mais ricas da minha vida. A minha função foi a de dar aulas de introdução à informática a alunos do liceu. Foi uma experiência verdadeiramente compensadora, que me deixa algum orgulho. Acho importante mencionar o quão ansiosos os nossos alunos estavam por aprender, e como percebiam a importância do conhecimento para uma vida profissional de sucesso.

João Louro, 18 anos, estudante de engenharia aeroespacial, natural de Mação

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André Santos, 28 anos, técnico de som, natural de Loures

“Um caminho com dois sentidos” Cuidado com os clichés. Esquece os chavões. Cuidar não é substituir. Ajudar não é impor. A missão não é previsível e os modelos não se devem repetir porque se desgastam. Partilhar é um caminho com dois sentidos: é aprender crioulo a ensinar português; é ser convidado a entrar antes de

bater à porta; é andar à chuva e ter companhia; é mergulhar da canoa num mar proibido. A pobreza está na televisão porque em Empada as pessoas são ricas e a terra é forte. Cuidado! O chão está molhado. M’Pada! Aguenta e resiste.

As missionárias são muito acarinhadas pela população, mesmo a muçulmana, e encaradas muitas vezes como “o pronto-socorro” das famílias locais

“Projeto importante para a comunidade” A minha missão decorreu no Centro de Nutrição de Empada. Ali ajudei a avaliar o grau de nutrição de crianças com idades entre os dois meses e os cinco anos, e também, de grávidas e lactantes. Dependendo do grau de nutrição de cada um, eram fornecidos alimentos, desde papas, óleo, açúcar e feijão. Também se dá formação às mães sobre os direitos das crianças, hábitos de higiene e cuidados de saúde. Este centro é um projeto muito importante para toda a comunidade, tendo sido gratificante colaborar com o mesmo.

Lígia Freire, 23 anos, estudante de medicina, natural de Ansião

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gente nova em missão

tolerância Vamos aprender a aceitar as diferenças do outro

QUEM AMA NÃO DISCRIMINA

Olá amiguinhos! Eis que entramos em novembro. No dia 16 deste mês, celebra-se o Dia Internacional da Tolerância. Nestes últimos meses temos ouvido falar de conflitos e perseguições “justificadas” pelas diferenças de origem religiosa. Nunca a tolerância foi tão necessária como nos dias de hoje. Parece que os homens se esqueceram do verdadeiro motor da vida: o amor! texto ClÁUdia Feijão ilustrações RICARDO NETO “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 39), seja ele o teu vizinho que vive só, as senhoras que limpam a tua escola ou até mesmo aqueles colegas com quem não simpatizas e que muitas vezes te chateiam nos intervalos. Todos eles são diferentes, mas não será essa diversidade que torna o (teu) mundo mais rico? Que seria do arco-íris se não fossem as diferentes cores? É a diversidade e complementaridade das cores que o torna tão especial e único. Amar cada pessoa, respeitando e aceitando as suas ideias, etnia ou religião é amar a Deus. E isso, pequeno missionário, é a essência da vida. Acolher, respeitar, aceitar, compreender, dialogar, perdoar, sorrir, ouvir, consolar, cuidar, ser gentil com todas as pessoas, isso é testemunhar o amor de Jesus. Esse amor que Jesus anunciou e ensinou, pela prática, a todos os que 22


se cruzaram com Ele. Sem nunca discriminar porque quem ama não discrimina, acolhe. Sem ofender porque quem ama não ofende, respeita. Sem nunca impor esse amor porque quem ama não impõe, aceita as diferenças. No entanto, há quem ainda não tenha descoberto este verdadeiro amor, mas que o invoca para justificar atos de intolerância para com os irmãos, porque professam uma fé diferente. São grupos que deturpam e distorcem o sentido religioso e transformam as diferenças entre as diversas religiões em motivos de conflito. Lembra-te nas tuas orações diárias de pedir a Deus que acalme esses corações atormentados, e que console os perseguidos e os mantenha firmes no Seu amor.

DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA

A tolerância é a base da paz e da reconciliação. A Declaração de Princípios sobre a Tolerância foi adotada pelos países membros da UNESCO em 16 de novembro de 1995, e todos os Estados-membros foram convidados a celebrar, todos os anos e nesta data, o Dia Internacional para a Tolerância (Resolução 51/95). A humanidade deve compreender que pode amar o que é sem odiar o que não é, e celebrar a diversidade aprendendo com as diferenças para fortalecer os laços que unem todos os seres humanos (mensagem do secretário-geral da ONU de 16/11/2005). Exemplo disso é a Albânia. Na sua visita ao país em setembro passado, o Papa Francisco considerou a Albânia como um modelo de convivência entre religiões, onde reina um clima de respeito e confiança entre católicos, ortodoxos e muçulmanos.

MOMENTO DE ORAÇÃO

Senhor, Tu que és Esperança, consola todos aqueles que sofrem perseguição e violência e são discriminados por causa da sua origem, cultura ou religião. Pai misericordioso, infunde o Teu amor no coração de todos os homens para que, através do diálogo, respeito e compreensão, possam viver em paz e mais próximos de Ti. Pai-Nosso e Glória…

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tempo jovem

Vencer ou convencer

texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA Tempos atrás, depois de ter passado nove dias a confessar e a partilhar a fé numa aldeia com mais de 10 mil cristãos na minha arquidiocese de Salta, na Argentina, fiquei com uma leve sensação de que até nos lugares mais remotos do planeta, a globalização tem levado o espírito voraz da competitividade, até às pessoas mais simples. É impressionante ver como os reflexos de um mundo centrado na economia têm influenciado os valores humanos e cristãos a desvirtuarem o sentido de alteridade na construção do bem comum. Tenho a sensação de que nós, seres humanos, temos desenvolvido a praxis de procurar a todo preço “vencer” o outro, como se a vida fosse uma guerra de marcas. Queremos ser os donos da verdade, 24

os que têm a última palavra e a última moda, e tudo isto sem nos importar com a humilhação e o desdém que provocamos à nossa volta. Confundimos facilmente “vencer” com “convencer”. Convencer consiste em respeitar o ponto de vista do outro, evitando procurar o controle, a manipulação ou a submissão. Quem percebe e vive a dinâmica do “convencer” sabe que a verdade não depende do status de quem pronuncia a palavra. Quem tem razão, seja no mundo familiar, educacional ou laboral, não é o mais forte, nem quem grita mais alto, nem muito menos quem desenvolveu o vício de “pressionar”, procurando vencer ou até anular o outro, se for possível.

No mundo das relações interpessoais, por vezes dá-se o caso em que uma das partes conhece e sabe mais coisas do que a outra. Isto acontece sobretudo no mundo do ensino ou na relação pais-filhos. O que resulta errado nesta postura é a pessoa que se sente portadora do saber tentar, na maioria das vezes, romper a resistência que encontra no outro durante o processo de transmissão do seu saber. Para tal utiliza a “sedução” ou a “força”, mas isso não serve, porque é querer “vencer”. Não se cansar de interpelar a consciência, o sentido comum, a compreensão e a inteligência do outro é condição necessária para exercer a arte de ser mais convincentes nas nossas relações e formas de comunicar. É evidente que optar por este caminho


No fundo, “convencer” nada tem a ver com o desejo de impor-se ao outro através de mil e uma artimanhas ou estratégias psicológicas de mercado, nem com atitudes falsas. Convencer tem a ver com o processo de conhecer o outro tal como ele é e dar-se a conhecer tal como nós somos

não é fácil. Mas só isto nos dá a possibilidade de viver uma vida mais sã e construir um mundo melhor e mais equilibrado. Sem cair no pessimismo, considero que vivemos o nosso dia a dia segundo as estratégias do mercado que, na maior parte das vezes, procura explorar o lado “mais doente” do ser humano. O “neuromarketing” hoje tem a finalidade de revelar as nossas fraquezas mais escondidas para depois vendê-las ao depravado mercado do consumismo. Esta via desumana apresenta-se como mais fácil e eficaz, em detrimento do caminho que procura, com humildade e liberdade, interpelar, questionar, compreender os nossos gostos e desencantos para fazer escolhas mais acertadas na nossa vida. O mesmo acontece no plano das nossas relações quotidianas.

Procuramos com frequência tocar o lado “doente” ou “fraco” do outro para o fazer sentir inferior, pecador, incompetente e deste modo poder exercer domínio sobre ele. Não será isso o desejo de querer vencer? Uma pessoa normal não tem só o seu lado débil, tem também o seu lado saudável, inteligente e sábio. É com este lado que devemos dialogar se queremos “convencer” alguém de alguma coisa. É com o nosso lado mais objetivo e equilibrado que estamos chamados a desenvolver a capacidade de saber escutar e saber entender. É o brilho nos olhos do outro, quando dialogamos e partilhamos com ele, que vai determinar se estamos ou não a convencê-lo.

No fundo, “convencer” nada tem a ver com o desejo de impor-se ao outro através de mil e uma artimanhas ou estratégias psicológicas de mercado, nem com atitudes falsas. Convencer tem a ver com o processo de conhecer o outro tal como ele é e dar-nos a conhecer tal como nós somos.

“Só conhecemos aquilo que cativamos” diz Saint-Éxupery no seu clássico livro “O principezinho”. Novembro 2014

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sementes do reino

Prontos para acolher

texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

A liturgia do início deste mês é um convite a recordar os irmãos e irmãs que antes de nós caminharam nesta terra, alguns deles tornando-se modelos desta caminhada. Todos devem ser recordados. Porque é a recordar que continuamos nesta caminhada rumo ao encontro com o Senhor.

Leio a Palavra Mt 25,1-13

O texto proposto faz parte do último grande discurso que Mateus apresenta. Dedicado “às coisas últimas”, lembra aos cristãos que a vinda última do Senhor está sempre no horizonte e por isso devem viver numa constante expectativa dessa chegada. É neste contexto que se insere a parábola, onde Jesus compara o Reino de Deus a dez virgens que, pelas suas atitudes, se distinguem em dois grupos: o das previdentes e o das insensatas. O primeiro vai ao encontro do esposo, mas prepara-se para eventuais demoras; o segundo vai ao encontro do esposo, mas denota falta de preparação. A parábola precisa de ser entendida no contexto social da época, onde o noivo antes de ir ao encontro da noiva, deveria ir a casa dos pais da noiva para discutir os detalhes do casamento. Tratando-se de uma longa negociação, o noivo acabava por demorar-se muito e a noiva ficava à espera com as amigas com as lâmpadas acesas.

Saboreio a Palavra

A parábola é um convite à comunidade cristã para estar preparada para ir ao encontro do Senhor, que pode chegar a qualquer momento, pois não nos é dado a conhecer nem o dia nem a hora da sua chegada. Será um momento de 26

festa, que aqui é representado pelo banquete. As virgens representam a comunidade cristã, de que fazem parte pessoas “previdentes”, prontas para acolher, mas também pessoas “insensatas” que parecem viver distraídas e despreocupadas com essa chegada. Ser previdente significa escutar a palavra de Jesus e colocá-la em prática no dia a dia.

Rezo a Palavra

Recolhido num momento de silêncio questiono-me: a qual dos grupos pertenço, dos previdentes ou dos insensatos? A qual desejo pertencer? O que é que preciso fazer?

Vivo a Palavra

A parábola é um convite aos cristãos a estarem prontos para

acolher o Senhor. Não posso afrouxar o compromisso com os valores propostos por Jesus. O Papa Francisco tem alertado para a situação de muitas das nossas comunidades, que parecem adormecidas, porque se instalaram num comodismo que esquece as exigências da vida cristã. Para ser discípulo de Jesus é necessário ser coerente e vigilante, até ao dia da Sua chegada.


intenção pela evangelização

A Palavra faz-se missão 01 16 Festa de Todos os Santos 33º Domingo Comum Ap 7, 2-14; 1Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12 O sonho de Deus Cada um de nós nasce para realizar um sonho de Deus. O santo realizou esse sonho. Não se fechou em si mesmo, irradiou alegria, entusiasmo e solidariedade. Cumprindo com amor tudo o que nos for pedido, também nós realizaremos esse sonho de Deus. Santifica-me, Senhor, em cada momento da minha vida, para cumprir neste mundo a missão que me confiaste.

Prov 31, 10-31; 1Tes 5, 1.6; Mt 25, 14-30 Os talentos de Deus Couberam-nos em herança dons da natureza e da graça. Talentos que o Senhor nos confiou. São depósitos sagrados para pormos a render. O fruto será a plenitude do amor de Deus em nós, sem proporção alguma com o nosso trabalho. Tudo o que me deste, Senhor, que eu o ponha a render no serviço missionário a favor da humanidade.

02 Comemoração dos Fiéis Defuntos

Ez 34, 11-17; 1Cor 15, 20-28; Mt 25, 31-46 O exame final “Vinde, benditos do meu Pai, porque tive fome e me destes de comer, tive sede...”. É a síntese da mensagem que Jesus pregou. É a página pela qual faremos o nosso exame final. Estudemo-la bem, treinemo-nos com respostas quotidianas, porque no dizer de São João da Cruz “no entardecer da vida seremos julgados pelo amor”. “Eis que estou à porta e bato, se alguém me abrir, entrarei e cearei com ele e ele comigo”.

Job 19,1.23-27; Rm 5, 5-11; Jo 6, 37-40 Flores perfumadas Em procissão a caminho dos cemitérios, levando flores aos nossos parentes e amigos e com elas uma pequena oração, chave de comunhão com Deus e com eles, não esqueçamos os missionários que gastaram as suas vidas pela difusão do reino de Deus. Eles agradecem e intercedem por nós. A todos os que adormeceram em Cristo dá, Senhor, a plenitude da tua alegria.

09 Dedicação da Basílica de Latrão

1 Re 8, 22-30; 1 Ped 2, 4-9; Jo 4, 19-24 Somos templo de Deus A Basílica de São João de Latrão é a mãe de todas as Igrejas da terra. Continua a ser a Igreja própria do Bispo de Roma. Celebrar esta festa é celebrar a unidade da Igreja. É olhar com respeito para todos os templos, presença de Deus. E olhar para cada pessoa, casa onde Deus habita, com o mesmo respeito e dignidade. Derrama, Senhor, sobre a Igreja os dons do teu Espírito para que o teu povo cresça na fé e na caridade.

23 Festa de Cristo Rei

30 1º Domingo de Advento (Ano B)

Is 63, 16-19; 64, 1-7; 1Cor 1, 3-9; Mc 13, 33-37 Deixar-se moldar Guiados por São Marcos, iniciamos mais um ano litúrgico. Jesus, por meio da sua Igreja, irá colocar tantas suas palavras no nosso coração. Disponhamo-nos, desde já, a acolhê-las para que não caiam em vão. Deixemo-nos moldar pelas mãos do nosso Pai amoroso, que quer fazer de nós uma obraprima do seu amor. Com a liturgia, rezemos: “Tu, Senhor, és o nosso Pai; nós somos a argila e Tu aquele que lhe dá forma, porque todos somos obra das tuas mãos”. DV

Para que os seminaristas, os religiosos e as religiosas jovens tenham formadores sábios e bem preparados

Formar para o futuro Ser padre ou um consagrado no nosso tempo não é nada fácil. Como aliás nunca o foi. Mas hoje, em particular, os problemas são tantos e de tal complexidade que exigem pessoas altamente preparadas para essa missão. É por isso que o Papa pede, como tem pedido sempre, que essa seja uma intenção forte da nossa oração. A “nova evangelização” requer que os sacerdotes e consagrados se preparem convenientemente para serem os evangelizadores dos próximos tempos. Do ponto de vista humano, antes de mais, através de um profundo amor à sua vida e à dos outros, cultivando os valores que dão sentido à sua existência, na capacidade de relações profundas e autênticas, de diálogo, de acolhimento e de amor oblativo. Do ponto de vista espiritual, precisam de cultivar um profundo relacionamento com Cristo na oração pessoal e comunitária e agir continuamente com motivações de fé. A sua formação intelectual (humanística, filosófica e teológica) deve levar os jovens a compreender a realidade humana em todas as suas dimensões em vista da transformação do mundo à luz do Evangelho. Para tal são precisos formadores sábios e bem preparados. DV

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o que se escreve

Maria Silêncios e Palavras Reflexões acerca das relações interpessoais

Diálogos com Deus em fundo

“Há um problema velho de décadas no catolicismo português: a quase ausência de uma reflexão, e de uma reflexão pertinente, sobre sociedade, a experiência cristã e a própria questão de Deus”. Quem o diz é o jornalista António Marujo que teve a feliz e bem sucedida ideia de suprir essa lacuna através de um conjunto de 24 entrevistas com as quais consegue dar expressão de cidadania precisamente à teologia, a uma reflexão sobre Deus, ao debate sobre a vida a partir da experiência crente ou sobre a reflexão de não-crentes acerca da dimensão religiosa. Um livro aliciante onde vozes diferentes e importantes da cultura portuguesa exprimem um pensamento profundo muito atual. Autor: António Marujo 338 páginas | preço: 15,50 € Gradiva Publicações

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Lengalengando 2 Lengalengas, trava-línguas e cantilenas

Não se trata de um estudo teológico ou exegético, mas apenas de singelas reflexões acerca das relações pessoais de Maria: ou seja, como é que nos relatos evangélicos, ela fala, permanece em silêncio ou age em relação às outras pessoas. É um convite à escuta dessas palavras e silêncios profundos e eloquentes. E é um convite a ler com outros olhos as passagens do Evangelho que falam sobre a Virgem. Autor: Giovanni Lajolo 206 páginas | preço: 10,00 € Editorial A.O.

A “Papa-Letras” apresenta-nos o segundo volume de um livro já aqui recenseado. As lengalengas e as cantilenas são ricas em rimas, repetições e musicalidade. Os trava-línguas trazem frases difíceis de enunciar ao tentarmos dizê-las com rapidez. Mas são preciosos, porque aperfeiçoam a dicção e a fala, e ajudam a ler e a falar bem. São textos da cultura popular com muitos jogos e gestos para ler, dizer, brincar, repetir, animar e divertir. Recolha: Marta Cancela Ilustração: Ricardo Neto 48 páginas | preço: 7,50 € Papa-Letras

Etty Hillesum

Alegrai-vos

Um itinerário espiritual

A partir de 1941, Etty Hillesum, uma jovem judia residente em Amesterdão, confiava ao seu “Diário” a intensa transformação espiritual que vinha experimentando e faria dela um caso raro de serenidade e coragem no caos que, em breve, se abateria sobre a comunidade judaica da Holanda, durante a ocupação nazi. Este belíssimo livro, com citações abundantes do seu diário e das suas cartas, é um meio excelente para entender melhor o caminho interior desta jovem. Autor: Paul Lebeau 284 páginas | preço: 14,00 € Editorial A.O.

Carta circular aos consagrados e consagradas, a partir do magistério do Papa Francisco

Para apoio do ano dedicado à Vida Consagrada, que começa no fim de novembro, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada publicou uma carta endereçada a todos os consagrados e consagradas, fundamentada na palavra do Papa que exorta os religiosos a “despertar o mundo”, convencido de que “a alegria, aquela verdadeira, é contagiosa”. Aos religiosos é confiada a tarefa de “testemunhar a alegria que provém da certeza de se sentirem amados por Deus”. Autor: CIVCSVA 40 páginas | preço: 2,50 € Paulinas Editora


o que se diz

Falar com o coração

O cardeal Maria Martini manifesta de modo eloquente neste livro a sua capacidade de dialogar com quantos se lhe dirigem. Durante três anos, já no final da sua vida, encontrou-se com os leitores do jornal “Corriere della Sera”, respondendo às suas cartas. As respostas revelam-no profundamente atento aos outros, disponível para escutar e responder, mesmo quando o interlocutor é impertinente, provocador ou até desagradável. Páginas repassadas de grande sabedoria. Autor: Carlo Maria Martini 136 páginas | preço: 10,00 € Editorial A.O.

Manuel Clemente Uma Casa Aberta a Todos

Paulo Rocha, diretor da Ecclesia, a agência católica de informação, é um nome autorizado do jornalismo religioso que nos últimos anos tem contactado frequentemente, e em programas diversos, com o atual patriarca de Lisboa. Profundo conhecedor da sua visão e do seu estilo, oferece-nos neste livro um conjunto de entrevistas muito significativas e conduz-nos numa bela viagem através dos seus escritos, aqui organizados por temas elencados de A a Z. Um livro que vale a pena conhecer por dentro. Autor: Paulo Rocha 248 páginas | preço: 15,50 € Paulinas Editora

A loucura da guerra “Ninguém pode invocar Deus para fazer a guerra! É indispensável encontrar caminhos seguros que permitam respeitar a dignidade humana de todos. Os episódios do Iraque e da Síria dos últimos anos corresponderam a uma acumulação de erros geradores do descontrolo, da violência quotidiana, do genocídio e da pior das tiranias, a da violência e do ódio”. Guilherme de Oliveira Martins | Presente | 16 de outubro de 2014

A única alternativa “Educar para a relação com as pessoas por meio de Cristo entre

nós torna-se uma promoção da ‘solidariedade’ na coletividade, em todos os sentidos, religioso, político, social, económico, profissional. Esta ‘solidariedade’ é vista, também por estudiosos, como a única alternativa ao estado de conflito e rivalidade que existe atualmente”. Igino Giodani | Cidade Nova | outubro 2014

Um olhar para o interior “Na celebração dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de

Ávila é bom considerar que num tempo em que as pessoas correm de um lado para o outro, sem consciência de si mesmos e dos outros, mergulhamos no vazio, sem capacidade de um olhar para o nosso interior”. Maria de Fátima Magalhães | A Defesa | 15 de outubro de 2014

Mentores da facilidade “Já se perfilam na linha de partida mentores de gastar sem olhar a recursos… Já se adivinham mentores da facilidade, pois o futuro será mais risonho com ‘pão e jogos’ com que, desde a antiguidade romana, se entretinham os incautos e manipulados”. António Sílvio Couto | Notícias de Beja | 16 de outubro de 2014

Por uma Igreja “em saída” Passando os olhos pela imprensa de inspiração cristã facilmente

se nota o afunilamento do ‘sair’ na estabilidade geográfica e na evangelização à porta do vizinho ou de tal movimento ou pessoa afastada da Igreja, mas sempre e ainda ‘dentro da aldeia’ ou paróquia. Onde transparece, com generosidade e audácia, por exemplo no que diz respeito à dimensão missionária do clero português, um movimento significativo de ‘saída’ missionária para África, Ásia, América, Oceânia?” Artur de Matos | Boa Nova | outubro 2014

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gestos de partilha

Costa do Marfim Anónimo 2,00€; Jacinta Órfão 30,00€; Anónimo 12,00€; Bárbara Silva 10,00€; Amélia Oliveira 5,00€; Anónimo 75,00€; Glória Neto 10,00€; Miquelina Abreu 10,00€; Anónimo (Fiães) 125,00€; Fátima Matias 10,00€; Domingos Ferreira 12,00€; Manuel Oliveira 13,00€. Total geral = 19.021,80€. Bolsa de estudo Ludovina Morais 400,00€; Raquel Oliveira 250,00€; José Soares 100,00€; Noémia Canavarro 10,00€. Criança Yéo Issa – Costa do Marfim Isaura Virgílio 20,00€; Anónimo (Alqueidão – Figueira da Foz) 5,00€. Gurué – Moçambique António Ribeiro 50,00€. Padre António Fernandes AMC (Núcleo do Algarve) Anónimo 13,00€. Ofertas várias Anónimo 224,82€; Abel Pinto 25,00€; Elisabete Carreira 50,00€; Manuela Sottomayor 50,00€; Tomás Rebelo 250,00€; Padre Weber Pereira 400,00€; Manuel Castelão 40,00€; Lar da Terceira Idade de Fiães 180,00€; Anónimo 100,00€; Anónimo 200,00€; Anónimo 60,00€; Ana Bernardes 25,00€; Maria Pereira 100,00€; Serafim e Lucinda Branco 50,00€; Maria Laranjeiro 50,00€; Alfredo António 43,00€; Alfredo Nunes 93,00€; Estrela Amaro 37,00€; Fernando Pedrosa 53,00€; Armindo Pacheco 33,00€; Céu Gomes 40,00€; Manuel Santos e Lurdes Vieira 250,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida Padre JOÃO GAUDISSARD

Semeava alegria texto Aventino Oliveira ilustração H. Mourato João Gaudissard nasceu em 9 de julho de 1905 no Piemonte, Itália, e foi batizado no dia seguinte. Aos 18 anos entrou para os Missionários da Consolata, e recebeu o hábito religioso das mãos do fundador, o cónego José Allamano. Ainda estudante, foi enviado pelos superiores para a Somália, na África. Aí continuou os estudos filosóficos, tendo como professores dois dos nossos missionários, ao mesmo tempo que ele próprio ensinava em escolas primárias. Depois da ordenação do diaconado, foi enviado para as missões do Quénia. De volta à Itália, foi ordenado sacerdote no dia 1 de novembro de 1932. Durante a 2ª Guerra Mundial foi capelão militar. Depois da guerra, em 1947, foi diretor espiritual dos alunos no Seminário da Consolata, em Fátima. Em 1948 foi destinado ao Canadá onde trabalhou 22 anos: como pároco na província de Manitoba; como capelão do hospital da cidade de Chicoutimi; encarregado da animação missionária com residência na comunidade de Montreal; conselheiro da Delegação do Canadá de 1954 a 1970; e de novo animador missionário com residência na paróquia da Consolata em Montreal. O padre Gaudissard adaptava-se a trabalhos aparentemente de menor importância. Ajudava párocos em várias terras, segundo as necessidades. Durante esses tempos, ia de vez em quando passar uns dias na comunidade de Montreal para gozar da companhia dos seus confrades missionários.

Era um conversador entusiasta e sabia semear alegria, especialmente em conversações a dois. Recordo que uma vez estávamos ele e eu a conversar. A um certo momento, disse: “Até logo” e partiu. Depois de três passos, voltou para trás, apontou-me um dedo à cara e afirmou: “E nunca te esqueças que a oração tem também um valor psicológico muito grande!” Uma frase cheia de valor humano e divino. Acabou a sua missão na terra no dia 7 de fevereiro de 1989. Do seu testamento espiritual: “Sinto a necessidade de pedir

perdão à minha família, aos meus superiores e a todos os meus confrades, por todo o mau exemplo que eu possa ter dado, e pelas minhas muitas faltas de caridade. Às suas orações me recomendo. Confio na Divina Misericórdia e na bondade maternal da Santíssima Consolata”.

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outros saberes

conflito de gerações texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA O conflito de gerações entre pessoas de diversas idades é uma realidade que persiste ainda hoje. Ainda é comum atribuir as culpas ao elo mais fraco (que muitas vezes já não é): os jovens. Pelo que diz respeito ao seu modo de comportamento, a acusação que peca por generalizar (como sempre) vem de longe. “Os jovens de hoje, (dizia Sócrates há cerca de 2.500 anos) gostam do luxo, são mal comportados, desprezam a autoridade, não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar, em vez de trabalhar. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com

“A juventude é um defeito que se corrige no dia a dia” 32

enfeites estranhos”. Será por defeito dos jovens? Por feitio? Por defeito de idade ou por preconceito? Os pareceres ajudam-se mutuamente:

Pretextos não são razões, mas desculpas.

“A juventude é um defeito que se corrige no dia a dia”

Brito, escritor). Viveu muito, experimentou muito, errou porventura muito, arrepiou caminho, saboreou a alegria da vitória.

(desconhecido). Ao beato José Allamano que argumentava que era muito novo para ser reitor do Seminário Maior de Turim, o seu bispo retorquiu:

“O jovem diz o que pensa, o velho pensa o que diz” (Mário

“Com um bom conselho, “Não se preocupe! A juventude antigamente ganhava-se um é uma doença que passa com o camelo, hoje a inimizade” tempo”. E crescendo, muitas coisas (Provérbio árabe) amadurecem. “Se o velho pudesse e o moço quisesse, nada haveria “O jovem tem todos os que se não fizesse” (Autor desconhecido). defeitos do adulto, mais um: Até eliminar ou, pelo menos a inexperiência!” (Wilson Rodrigues, pedagogo). E como a natureza não dá saltos, o tempo também não. A experiência não se ganha querendo queimar etapas, mas experimentando, vendo, aprendendo, ousando e perseverando.

“O jovem precisa de razões mas recorre a pretextos” (Ortega y

Gasset).

amortecer os conflitos de gerações e, todos juntos, completando-se, construir uma sociedade nova.


2014 ano Allamano

O verdadeiro milagre texto DARCI VILARINHO foto FM “A santidade que eu quero em vós não é uma santidade que faz milagres, mas a santidade de quem faz tudo bem”, repetiu vezes sem conta Allamano aos seus missionários. E dava como exemplo o próprio Jesus de quem se diz no Evangelho que “fazia bem todas as coisas” ou o seu tio José Cafasso, o irmão de sua mãe, de quem citava a expressão muito recorrente no instituto: “o bem tem de ser bem feito e sem alarido”. Quantos e quantos missionários esculpiram na cabeça e no coração esta norma tão simples e tão profunda. É a dinâmica da vivência do tempo presente e dos pequenos gestos, comum a tantos santos e a espiritualidades de outras religiões. Dizia ele com suma sabedoria que “não temos muitas ocasiões de fazer coisas extraordinárias, mas as coisas ordinárias – as coisas simples e normais – acontecem todos os dias e mesmo durante o dia inteiro”.

superlativos em tudo. Nada de fazer coisas extraordinárias, mas ser extraordinários nas coisas ordinárias”. Era assim este homem que, apesar de super ocupado com a vida do instituto, do santuário e da diocese, não esquecia o que para ele era mais importante: fazer bem as coisas e preservar o bom nome do instituto. É sintomática a este respeito a sua decisão de renunciar a uma herança só para que não dissessem que ele tinha prestado os

“A santidade que eu quero em vós não é uma santidade que faz milagres, mas a santidade de quem faz tudo bem”, repetiu vezes sem conta Allamano aos seus missionários

seus serviços por interesse, porque, dizia: “As missões necessitam mais do bom nome do que de dinheiro”. Surpreendido ficou o arcebispo de Turim, e o notário, interpelado para redigir o auto de renúncia, nem queria acreditar: “Esta é boa! Nunca me aconteceu uma coisas destas!” Ao que Allamano respondeu: “Bem, da próxima vez já não poderá dizer o mesmo”. São assim os santos. Fortes nos princípios e extraordinários nas coisas normais de cada dia.

Não é uma santidade da mediocridade, até porque Allamano exigia a máxima perfeição aos seus missionários, mas é a santidade da normalidade, acessível a todos, dado que “não é importante fazer muitas coisas, mas fazer bem tudo o que se faz”. E acrescentava: “Não quero que esta casa se torne uma casa de milagres. O milagre a que deveis aspirar é o de fazer tudo com perfeição, desde que o dia começa até que se acaba”. Aplicando isto à vida apostólica e concreta dos seus missionários, sobretudo daqueles que, super ativos em projetos e construções, tinham aquilo que se chamava a “doença da pedra”, escrevia-lhes o fundador: “A mim não me importa se administrastes dez mil batismos; interessa-me que sejais ótimos missionários, cheios de fervor, fiéis e exatos em tudo o que fazeis. Deveis ser Novembro 2014

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fátima informa

Comunicar a fé em ambiente digital Jornadas práticas sobre comunicação serão aproveitadas para a apresentação pública de uma nova aplicação que tem como principal objetivo promover a oração diária, através de equipamentos móveis e informáticos texto FRANCISCO PEDRO foto DR Um painel recheado de especialistas em comunicação digital vai reunir-se no dia 21 de novembro, no Carmelo de São José e Domus Carmeli, em Fátima, para transmitir conhecimentos e partilhar experiências sobre o

Renovação pastoral

A Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização promove, a 4 de novembro, na Casa Nossa Senhora das Dores, uma reunião com os bispos portugueses e os coordenadores diocesanos para, em conjunto, definirem uma linha comum de renovação da pastoral da Igreja Católica em Portugal.

Beatificação de Lúcia

A irmã Ângela de Fátima Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto, foi nomeada vice-postuladora da causa de 34

uso atual dos meios digitais na comunicação da fé.

concebido para promover a oração diária em rede.

Na sessão, estão previstas comunicações sobre conselhos e modos práticos de fazer, por forma a tornar mais eficaz o trabalho de quem se dedica à comunicação religiosa, através da utilização de todas as potencialidades dos meios digitais. A iniciativa, organizada em conjunto pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ); Agência La Machi e Apostolado da Oração, será aproveitada para a apresentação pública da aplicação informática “Click to pray”, um programa

São oradores no encontro o padre António Valério, do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, padre Eduardo Novo, diretor do DNPJ, padre Manuel Morujão, ex-porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Juan Della Torre, da La Machi, Jorge Mujica, especialista em comunicação eclesial, Juan Pablo Cannata, diretor de comunicação da Opus Dei Argentina, e Silvia Costantini, diretora de comunicação do portal Aleteia.

beatificação da Irmã Lúcia. Passou a integrar o grupo de trabalho responsável pela promoção da causa para a beatificação da mais velha dos três videntes de Fátima.

Morte na cultura cristã

O Museu de Arte Sacra e Etnologia (MASE) promove, de 4 a 25 de novembro, o Curso Livre “Representações da enfermidade e da morte na arte e na cultura cristã”. A ação será orientada por Marco Daniel Duarte, doutorado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Novembro em agenda

08 Retiro Missionários da Consolata – Consolar na gratuidade 14/16 Congresso sobre a vida e obra do beato José Allamano – Seminário da Consolata 21/23 Encontro das Equipas de Nossa Senhora


A SANTIDADE DE ALLAMANO TESTEMUNHADA NOS FRUTOS DA MISSÃO

Fátima

14 / 16 Novembro

2014

Seminário dos Missionários da Consolata

Informações www.consolata.pt | seminariofatima@consolata.pt | Telefone 249 539 430


No ventre da terra Corpo oferecido na dor, hóstia viva em traços de cruz, como o Teu, uma vez, Senhor, para dar ao mundo vida e luz. Mistério da morte e da vida no ventre da terra sepultada, esperança apenas escondida, que a promessa vai ser realizada. No corpo que surge triunfante desfazendo as cadeias da morte, para que agora a Igreja cante a vida que é sempre mais forte! Teófilo Minga, Bilhetes para Deus


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