EVANGELIZAÇÃO

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Ano LX | OUTUBRO 2014 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤

Evangelização

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igreja é “um povo com muitos rostos”, diz o papa francisco

Missionário português regressa à amazónia Pág. 12 Ébola ganha na corrida Pág. 13 contra o tempo mundo reage aos Ataques do estado islâmico Pág. 14


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial Sé ao mundo inteiro, relevou problemas ainda maiores, e por isso Desafios são grandes as expectativas diante Sínodo. Não haverá respostas para o nosso deste imediatas a todos os desafios, mas pode criar-se um clima de maior tempo compreensão na misericórdia, apoiando uma pastoral corajosa. 1. O mundo ficou estupefacto 3. perante a barbárie que se “Não deixemos que nos desencadeou sobre as minorias roubem a alegria da evangelização”, religiosas do Médio Oriente. O que vem sendo praticado pelo autoproclamado Estado Islâmico tem a marca de uma enorme brutalidade e insensatez. Quando a religião se torna motivo de guerra, trai-se aquilo que é essencial na fé: o amor. O Papa Francisco exorta, por isso, a superar o fundamentalismo religioso com uma atitude de abertura, na verdade e no amor, que possa caracterizar o diálogo entre as pessoas de diferentes religiões: “o diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos e também para outras comunidades religiosas”. Lutar contra o pensamento único e a intolerância, aceitar os outros, na sua maneira diferente de ser, de pensar e de se exprimir, e servir juntos a justiça e a paz, será um critério básico de todo o intercâmbio, capaz de fechar este ciclo de violência e garantir um futuro menos incerto.

diz o Papa na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, 19 de outubro, convidando os fiéis «a mergulhar na alegria do Evangelho e a alimentar um amor capaz de iluminar a nossa vocação e missão». Os discípulos de Cristo são “chamados a alimentar a alegria da evangelização”, que se exprime tanto na preocupação de o anunciar nos lugares mais remotos como na saída constante para as periferias. A escassez das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada “fica-se a dever à falta de um fervor apostólico contagioso nas comunidades, que faz com que as mesmas sejam pobres de entusiasmo e não suscitem fascínio”. Para Francisco a solução é clara: “onde há alegria, fervor, ânsia de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas, nomeadamente as vocações laicais à missão”. Darci Vilarinho

2. O sínodo dos bispos sobre os desafios pastorais da família, que se realizará no Vaticano de 5 a 19 de outubro, vem numa hora oportuna, porque a família atravessa uma crise cultural profunda, como aliás todas as comunidades humanas, onde o individualismo pós-moderno propõe um estilo de vida que enfraquece o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas. Isso reveste-se de especial gravidade na família, “a célula básica da sociedade, o espaço onde se aprende a conviver na diferença e a pertencer aos outros” (Papa Francisco). O inquérito, enviado pela Santa

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº9 Ano LX – OUTUBRO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Álvaro Pa­­che­co, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa LUSA Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

18 A tarefa diária da missionação, segundo o Papa Francisco 03 EDITORIAL Desafios para o nosso tempo 05 PONTO DE VISTA O país bom e o país mau face à tolerância 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Convite matinal 08 MUNDO MISSIONÁRIO Marcas da guerra nas escolas da Palestina

Crianças da Costa Rica maus tratos e pobreza Califado avança no norte da Nigéria Guatemala combate a pobreza e a desnutrição 10 A MISSÃO HOJE “O desafio da missão é partir para a terra desconhecida” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Entusiasmo não lhe falta 12 A MISSÃO HOJE “Temos de aprender com os outros povos” 13 DESTAQUE Ébola ganha na corrida contra o tempo 14 atualidade 12 perguntas e respostas sobre o grupo que degola jornalistas e quer um califado até Portugal 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Os animais são nossos amigos 24 TEMPO JOVEM A vida sem Deus 26 SEMENTES DO REINO Parábola do “banquete”

28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Um homem alegre e espiritual 32 OUTROS SABERES Quando a velhice se torna um peso 33 2014 ano allamano Cumpriu-se o sonho 34 FÁTIMA INFORMA Catequistas reforçam alegria de anunciar

Jesus Cristo

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ponto de vista

O País Bom e o País Mau face à tolerância texto Carlos Liz*

Ao contrário do que se passa com um certo tipo de instituições, um país não pode ser dividido higienicamente em ‘bom’ e ‘mau’, por muito jeito que desse a uma gestão preocupada com a coisa pública, a sua eficiência e alinhamento com as melhores práticas de redução da dívida. Um país é feito de tudo e de todos e quando é muito antigo, com nove séculos de história, a divisão expedita em saudável e em aterro tóxico não resulta mesmo. Mas, mesmo assim, interroguemo-nos sobre o tema da tolerância. Como estamos de tolerância na sociedade portuguesa? Apetece logo pensar que deve haver uma parte do país, o país ‘bom’, que é muito tolerante, compreende e aceita tudo e todos. E, claro, do outro lado estará o país ‘mau’, muito intolerante que se recusa a olhar e a integrar tudo o que seja outros tipos de atitude ou de comportamento fora do habitual. Numa leitura mais tecnocrática poderíamos pensar ao contrário: no país ‘bom’ ficava a intolerância, ou seja, haveria que ser impiedoso perante o erro, os desvios, a incapacidade de cumprir metas e, está bem de ver, remeteríamos para o país ‘mau’ tudo o que fosse sentimentos piegas, fraquezas e solidões, inadequações de competências, inabilidade para focalização nas tarefas. Pois bem, por este caminho não vamos lá. O que os estudos sociológicos e de opinião nos vão dizendo é que a sociedade portuguesa tem vindo, no seu todo, a evoluir no plano das mentalidades, revelando capacidade de ler em tempo útil os sinais dos tempos, sendo capaz

de aprender com a experiência e de reformular formas de vida, em quase todos os domínios: do económico ao cultural, do comunitário ao familiar. As últimas décadas têm vindo a transformar o rosto e a alma de um país, tendo os sistemas educativos e de saúde sido os instrumentos centrais de uma significativa requalificação dos cidadãos, capacitando-os para uma forma aberta de estar e, sobretudo, para uma orientação para os outros, para uma nova centralidade da relação interpessoal na esfera privada, do trabalho, da cultura e, mesmo, da política. Tendo na vanguarda das dinâmicas sociais os jovens adultos e as mulheres, Portugal tem vindo a ganhar uma base de sabedoria contemporânea que nos faz chegar à ideia de uma sociedade tolerante. Esta é uma tolerância assente no conhecimento, na atitude positiva face a uma vida desafiante. É uma tolerância oposta à indiferença, ao “passar por entre a chuva”, ao “medo de existir”, como tão bem descobriu o filósofo José Gil. Estamos mais tolerantes porque temos vivido mais, temos aprendido mais, temos experimentado mais. À medida que aprofundamos, diversificamos caminhos, ensaiamos soluções, trocamos pontos de vista, vamos descobrindo o sabor único da complexidade, inscrito na fundação do tempo. E isto é ‘bom’. Somos todos o país ‘bom’ e o país ‘mau’, ao mesmo tempo, o que quer que seja que um e outro queiram dizer. *Especialista em estudos de mercado e opinião

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leitores atentos

Renove a sua assinatura Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Querida FÁTIMA MISSIONÁRIA, tirei dois dias de descanso para aliviar a cabeça e levei várias revistas, de que sou assinante. Lendo a revista de agosto/setembro, comecei pela 1ª página “A Missão no feminino”. É fantástico lembrar-nos do papel feminino, inalienável, de dedicação, de oblação e de transformação, e

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A lição da Joana

A nossa revista missionária é sempre para mim uma companhia. Sou viúva já vai para 16 anos, pois o meu marido faleceu com 60 anos e eu, fiquei sozinha com 58. Mas sempre com muito interesse em ler a revista. Leio e releio. Este mês comoveu-me bastante o texto de Teresa Carvalho: A canção do pirilampo. A Joana deu-nos uma grande lição. Com coisas pequenas fazem-se coisas tão grandes. Maria Germana

Até 2020

Saudações a todos. Mando um cheque para pagar as três assinaturas que vêm para minha casa todos os meses. Vai dinheiro a mais, mas é para ajudar a pagar as bolsas de estudo que fundei no tempo do nosso saudoso padre Carreira. Para vós, vou pagar até 2020. Já tenho bastante idade. Quando eu fechar os olhos, acabou, mas ficam pagas. E continuem a mandá-las. Pode ser que com o tempo comecem a gostar. Eu leio-as e levo-as para a igreja. Há sempre quem as leve e pode ser que algum goste e passe a assinar. Maria de Belém

Por Asia Bibi

de outra religião só porque tocou na água, que era bebida por mulheres professantes dessa doutrina. Na altura em que a Fátima Missionária noticiou este caso, ela estava presa, mas ainda vivia. Gostava de saber se ela conseguiu ser libertada ou se morreu. Tenho rezado por ela, mas não sei se vale a pena continuar a fazê-lo. Maria Adélia

Sim, à data do fecho desta edição, esta senhora paquistanesa estava viva e continuava presa. Continue a rezar.

Assinante nº 104

Costumo pagar a minha assinatura em outubro, pois é o mês mais adequado para o fazer. Mas este ano antecipo por dois motivos. Primeiro, porque muita gente gasta demais nas férias e depois não paga o pouco que é. Se dizem que é a “nossa” revista, mais um dever: se é nossa, temos que a sustentar. O segundo motivo é que a minha saúde não é muito boa e assim vou adiantando. Serei sempre o assinante nº 104, mesmo quando estiver ao pé do beato Allamano, porque um dos meus filhos continuará a ser o 104. António Lereno

Li algures, na revista de abril, o caso duma senhora católica que foi condenada à morte por membros

mergulhadas na oração. Lindo! O Pai Allamano acertou na formação das irmãs que, deixando tudo, ofereceram as suas vidas em prol dos pobres, doentes e frágeis. (…) Ao vê-las na foto até me senti feliz em ser mulher. Maria do Rosário – Chainça (Leiria)

Obrigado, Maria do Rosário, por toda a apreciação que faz da nossa revista. Cito apenas uma pequena parte do seu texto, mas vê-se que a

toma como algo do seu interesse. As considerações são muito oportunas. Quem dera que houvesse tantos leitores que apreciassem desse modo o nosso trabalho e nos apoiassem do mesmo modo. Que a saúde não lhe falte para continuar a recolher as assinaturas da revista. E bem-haja por tudo o que faz pela causa missionária.

DV


horizontes

CONVITE MATINAL

lutas; a mãe, já velhinha, estava protegida em família; e tinha na sua patroa uma amiga que lhe garantia um salário seguro.

texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI A corrida de Natália foi compensada: apanhou o metro das 7h30. Assim, podia ir sentada e ser pontual na chegada à casa da dona Luzia, como gostava. Observando-a, via-se uma senhora com expressão sorridente como se estivesse bem com a vida, indiferente ao cansaço físico acumulado. Natália era uma mulher feliz. Pousou as mãos sobre o regaço, descansando-as da atividade já realizada nessa manhã.

Lá em casa não havia muito tempo livre. Todos estavam comprometidos com algum grupo na comunidade próxima. Até a sua mãe fazia parte do clube das bonecas de trapos para angariar fundos para as famílias carenciadas. Natália era voluntária uma vez por semana na cozinha da cantina social. Quando preparava ou servia a refeição na cantina, sentia-se ainda mais viva, mais abençoada e agradecida. Era como se fizesse parte de uma família que abrangia todo o universo.

Fez o almoço para o marido levar para o trabalho, acordou os filhos e preparou-lhes o pequeno almoço, deu o banho à mãe e deixou-a preparada para o marido a levar para o centro de convívio, e ainda teve tempo de fazer as recomendações habituais aos filhos e os aconchegar com o beijo de “bom-dia”.

Alguém sentou-se ao seu lado. Natália ajeitou-se na cadeira e sorriu para a companheira de viagem. Percebeu nela um olhar cansado, entristecido, envolto em si mesma, quase como se não tivesse dado pela sua presença. Decidiu interromper aquele silêncio que parecia falar de algum tipo de sofrimento. Mas, com que justificação?

Este era o seu início habitual de dia. Sentia-se agradecida ao Deus em quem acreditava e por quem se sentia mimada. Dizia que tudo lhe corria bem: tinha uns filhos que eram o seu tesouro, um marido companheiro nos sonhos e nas

De repente, lembrou-se: – Desculpe incomodá-la, mas tenho a responsabilidade de arranjar voluntárias para ajudar na cantina social da minha zona. Por acaso não gostaria de dar-nos uma ajudinha? – Porque me faz a mim um convite

desses? Não me conhece! – Tem razão, mas ao olhar para si, senti que seria ótimo tê-la como colaboradora. Eu contribuo lá uma vez por semana. – Nunca ninguém achou que eu poderia ser útil para coisa nenhuma. Para dizer a verdade, nem eu mesma acho que possa valer para coisa alguma. O seu olhar sombrio não deixou dúvidas a Natália: quanto sofrimento! Insistiu: – Pois eu desafio-a a ver o contrário. Estamos mesmo a precisar de si, acredite! Seria excelente tê-la connosco. A senhora desconhecida vacilou com este convite invulgar logo pela manhã. – E que precisaria eu de fazer? – Poderei apresentá-la ao coordenador do projeto, que a esclarecerá. Depois, poderá decidir. – Vou pensar no seu convite. Mas, desde já, agradeço-lhe a sua confiança em mim. Natália reparou que os olhos da sua companheira de viagem tinham agora outra luz. Anotaram números de telefone, cumprimentaram-se cordialmente e Filipa saiu na paragem seguinte. Pareceu a Natália que o passo de Filipa era dançante, sustentado por um novo desafio que lhe enchia a vida de mais sonho e de mais cor. Outubro 2014

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mundo missionário texto E. AssunçãO fotos LUSA

Marcas da guerra nas escolas da Palestina

crianças da Costa Rica Maus tratos e pobreza

Cerca de 250 mil crianças da Faixa de Gaza voltam à escola, onde encontram o quadro preto furado por balas. A reabertura do ano escolar para refugiados palestinos, em muitas das escolas geridas pelas Nações Unidas, está a ser traumática: nas paredes são visíveis os sinais das armas de fogo e há bancos vazios de colegas que foram mortos. Muitas escolas foram utilizadas pelos deslocados que fugiram aos bombardeamentos durante os ataques contra a população. “Depois dos traumáticos 50 dias de brutais conflitos, de morte e destruição, de fugas em massa, estamos determinados em incutir nas crianças uma nova esperança e perspetivas melhores, reabrindo as escolas o mais rapidamente possível”, informa o comissário das Nações Unidas na região. Trabalha-se com afinco para garantir a segurança e a normalidade às crianças que regressam à escola.

Em 2013 foram registadas 40 mil denúncias de maus tratos contra crianças. Embora nem todos os casos tenham sido provados, a maior parte são reais. O Hospital de Crianças recebe diariamente cinco casos de menores que apresentam lesões causadas por agressões. Na Costa Rica, 34 por cento das crianças são vítimas da pobreza e da violência. São chagas que comprometem o seu desenvolvimento físico, emotivo e educativo. De acordo com os dados mais recentes, a percentagem de crianças em pobreza extrema tem vindo a aumentar. Ultimamente foi lançada a campanha “Gracias por Cuidarme”, para combater o abandono e a falta de atenção aos mais pequenos e mais vulneráveis. Segundo os promotores, “a criança não pode ficar sozinha nem sequer um minuto, sobretudo quando se trata de menores de 12 anos”.

Afeiçoar-se

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Durante parte do mês de setembro estive ausente de Roma e sucedeu-me o que já me tinha sucedido quando me tocou trocar a África pelo meu presente serviço na cidade eterna; descobri que me tinha afeiçoado a esta cidade, meta de tantos visitantes e peregrinos. Para nós missionários, chamados a estar disponíveis para ir onde quer que os superiores nos enviem não deveria ser normal este apego a um lugar particular, mas o facto é que nos afeiçoamos. O que eu vejo é que tanto a mim como aos leitores o que nos atrai não é o lugar mas sim as pessoas com quem aí convivemos, e isso pode acontecer seja onde for. O Papa Francisco


Califado avança no norte da Nigéria

Guatemala combate a pobreza e a desnutrição

Mais de 2.500 fiéis foram mortos em Maiduguri, no nordeste da Nigéria, pela seita Boko Haram, uma organização terrorista que pretende impor a lei islâmica “sharia”. A denúncia é do bispo da diocese que se encontra refugiado com milhares de fiéis, na paróquia de Santa Teresa, no estado de Adamawa. Não obstante o estado de emergência, proclamado pelo presidente Goodluck Jonathan, em 2013, a guerrilha islâmica continua a atuar e as suas ações concentram-se nos estados de Borno, Yobe e Adamawa. Recentemente conquistou mais algumas localidades, onde proclamou o “califado”. O bispo de Maiduguri, Oliver Dashe Doeme, afirma que a maior parte dos deslocados escapou por pouco ao massacre do Boko Haram. Muitas famílias ficaram divididas e há pais que procuram os filhos desaparecidos.

Metade da população da Guatemala permanece em condições precárias de crescimento, com dificuldade de aprendizagem, sujeita a todo o tipo de doenças. A luta contra a pobreza e desnutrição está longe de ser ganha. Os indicadores mostram claramente que os guatemaltecos não estão a conseguir vencer este flagelo. O país mantém-se num estado grave de subdesenvolvimento. O governo promoveu vários programas nos municípios de Santiago Sacatepéquez e Sumpango, cujos índices de desnutrição crónica atingem 70 e 80 por cento, respetivamente. O problema é grave e complexo devido a vários fatores como o baixo nível de educação, a resistência à mudança de hábitos culturais, ao pouco interesse pela saúde, à falta de medicamentos, à população desmotivada com salários em atraso, entre outros. A situação tende a agravar-se com o prolongar da seca que está a afetar o país.

afirma algo de semelhante quando diz que se sente melhor na hospedaria do Vaticano, a Casa de Santa Marta onde reside, do que no palácio apostólico. A proximidade e amizade das pessoas é que dá maior ou menor atração ao lugar onde se vive. Eu voltei para Roma, as crianças e jovens voltaram para a escola, quem foi de férias voltou a casa; o que a todos desejo é que onde quer que estejais continueis a afeiçoar-vos não tanto ao lugar quanto às pessoas. Jesus também proclamou essa prioridade quando disse “ama o teu próximo como a ti mesmo”.

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a missão hoje

Eugénio Cumpián está consciente que vai ter uma tarefa difícil na nova missão em Taiwan

“O desafio da missão é partir para a terra desconhecida” A decisão não foi fácil, mas o sentido de missão e o respeito pelo carisma do fundador falaram mais alto. Depois de 14 anos a trabalhar na Coreia do Sul, Eugénio Cumpián, aceitou liderar a equipa de missionários que vai abrir uma nova delegação dos Missionários da Consolata em Taiwan. E está preparado para começar tudo de novo texto e foto FRANCISCO PEDRO “Quando se tem 49 anos e se é confrontado com a necessidade de aprender um idioma difícil como o chinês e o mandarim, fica-se sempre com um pouco de receio, mas o desafio da missão é mesmo 10

esse: deixar a terra conhecida e partir para a terra desconhecida, que um dia será também a nossa terra”. Depois de 14 anos a evangelizar na Coreia do Sul, Eugénio Boatella Cumpián foi surpreendido com o convite para coordenar a abertura da nova missão do Instituto Missionário da Consolata, em Taiwan. Pensou muito antes de aceitar. Sentia-se bem junto dos sul-coreanos e eles nutriam grande carinho pelo seu trabalho, a tal ponto que na cerimónia de despedida, as lágrimas de saudade escorreram descontroladas pelo rosto dos fiéis. Porém, impunha-se responder positivamente a este “desafio de Deus”. “Se é o que Deus quer, tenho que me pôr nas suas mãos e confiar, sobretudo porque esta nova abertura na Ásia representa a essência, o espírito mais profundo do nosso Instituto, que é ir


palavra de colaborador A tarefa não se avizinha fácil. Com uma população estimada em 23 milhões de pessoas, Taiwan conta apenas com cerca de 300 mil cristãos e a maioria dos habitantes não parece muito recetiva ao Evangelho e ao cristianismo. As paróquias têm entre 40 a 50 fiéis e apesar do grande esforço dos missionários, o crescimento será sempre lento

até aos não cristãos. Por isso, não podia dizer que não, porque seria trair a mim mesmo e à minha vocação”, explica o missionário. A tarefa não se avizinha fácil. Com uma população estimada em 23 milhões de pessoas, Taiwan conta apenas com cerca de 300 mil cristãos e a maioria dos habitantes não parece muito recetiva ao Evangelho e ao cristianismo. As paróquias têm entre 40 a 50 fiéis e apesar do grande esforço dos missionários, o crescimento será sempre lento. Mas Eugénio Cumpián está confiante e preparado para não desanimar, mesmo que os frutos tardem em aparecer. “Vai ser necessária muita criatividade, muita paciência, para poder, pouco a pouco, chegar ao coração das pessoas, mas é esse o nosso carisma, a essência do que o nosso fundador nos deixou: anunciar o Evangelho aos não cristãos”, sublinha o sacerdote espanhol. Como o estudo do idioma local demora pelo menos dois anos, Eugénio Cumpián e os dois missionários que o acompanham – Piero Demaria (italiano) e Mathews Odhiambo (queniano) – preferiram não se comprometer, para já, com responsabilidades paroquiais ou diocesanas. “Enquanto estudamos, vamos aproveitando para ir conhecendo a realidade cultural e visitando as atividades pastorais. Só depois tomaremos a decisão onde queremos trabalhar e que tipo de trabalho queremos fazer”, explicou o missionário, pedindo a toda a família missionária que acompanhe esta nova aventura através da oração.

Entusiasmo não lhe falta texto DARCI VILARINHO Muito viva e expansiva, ela é Amélia Taveira, uma nossa colaboradora em Carvalhais (Lavos), Figueira da Foz. Mãe de dois filhos, já com a vida organizada, divide o seu tempo livre entre a formação pessoal, o convívio e o apoio a atividades de beneficência. É parte ativa da Associação “Viver em Alegria”, de quem depende a Universidade Sénior da Figueira da Foz. E por isso envolve-se sempre que pode na recolha de material para as crianças mais necessitadas e mães com dificuldades, apoiadas pela associação. Durante muitos anos esteve envolvida nos serviços de catequese da sua comunidade e por isso não esqueceu que a missão da Igreja é tão importante. É por isso que, em substituição de Maria Galhardo, outra dinâmica colaboradora, já falecida, trabalha de alma e coração na recolha das assinaturas da FÁTIMA MISSIONÁRIA. A tempo e horas não deixa de desempenhar este serviço tão necessário para a expansão da revista.

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a missão hoje

André Ribeiro regressa à Amazónia 17 anos depois, para trabalhar com os povos indígenas

“Temos de aprender com os outros povos” Aos 57 anos, André Ribeiro, missionário da Consolata, vai partir em missão para a floresta amazónica brasileira. O sacerdote português regressará à região onde já trabalhou com o povo indígena Yanomami texto JULIANA BATISTA foto ANA PAULA Dezassete anos depois, André Ribeiro, sacerdote missionário da Consolata, vai regressar à floresta da Amazónia para trabalhar com povos indígenas. A partida está agendada para o próximo dia 7 de outubro. O missionário deverá permanecer do outro lado do Atlântico pelo menos durante três anos. “Parto com entusiasmo e com o desejo de poder servir. Estou 12

consciente de que já não tenho 20 anos, mas conseguirei” fazer missão e “dar os meus anos” ao povo com quem trabalhar, disse o sacerdote, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Natural da Sertã, o missionário partiu pela primeira vez em missão aos 40 anos, para a Colômbia, onde esteve durante seis anos. Já passou por Roma e está em Portugal há 12 anos. “Não sou o mesmo de há vários anos, mas vou dar o melhor de mim”, afirmou. Durante o tempo em que esteve na floresta amazónica brasileira, André Ribeiro trabalhou com os índios Yanomami. O contacto com aquele povo indígena fez com que aprendesse “muitas lições”. “Eles vivem em união intrínseca com a natureza. Nada pode ser separado para destruir essa união”, explicou. “Apesar de já terem tido confrontos com madeireiros, os Yanomami não se chateiam facilmente. São um povo pacífico”, frisou. Tendo em conta o seu trabalho enquanto missionário, André Ribeiro alertou para a importância daquela que é a sua missão: evangelizar. “Evangelização não é impor. É propor valores”, advertiu.

Para o sacerdote, as diferenças culturais que se encontram na vida missionária são ocasiões de aprendizagem. “Nós temos de aprender com os outros povos e eles connosco. Assim as culturas podem crescer”, destacou. Para fazer missão “é preciso aprender muita coisa” para que seja possível “caminhar com o povo”, referiu o missionário, adiantando que a “Boa Nova pode variar de acordo com as necessidades de cada povo”. Por isso, na nova missão pretende estar de forma “serena” para “cheirar, viver e sentir, acompanhando a comunidade no processo de cristianização e evangelização”.


destaque Estratégia da OMS objeto de críticas

Ébola ganha na corrida contra o tempo texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA No início do mês de setembro, a associação Médicos Sem Fronteiras lançou um grito de alerta considerando que o mundo poderia estar à beira de perder a batalha contra aquela que é considerada a pior epidemia de Ébola de sempre. Alertas como este têm-se ouvido na comunicação social, mas no terreno os seus reflexos são considerados ainda muito diminutos, pondo em causa um dos principais trunfos no combate à epidemia: a rapidez. Decorridos cerca de dez meses após o aparecimento dos primeiros casos de Ébola, só nas últimas semanas a comunidade internacional começou a disponibilizar meios para o combate do vírus, o que explica, em grande medida, a gravidade que a situação está a assumir relativamente a anteriores surtos epidémicos, quer desta doença, nomeadamente no Zaire, em 1976, quer da gripe das aves na Ásia Oriental, em 2003. A passividade da comunidade internacional tem sido particularmente criticada neste caso. A acusação incide no facto de os países mais ricos se revelarem mais rápidos a decidir em intervenções militares, nomeadamente em África, do que num caso de saúde pública de consequências mundiais, apesar de disporem, no seio das suas forças armadas, de serviços especializados para enfrentar epidemias como o Ébola. Esses meios há muito que deveriam

Comunidade internacional reagiu tarde à pior epidemia de Ébola da história, na África Ocidental

ter sido enviados para as regiões afetadas, onde vivem cerca de 22 milhões de pessoas. Face à atual situação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a epidemia não estará controlada antes dos próximos seis a nove meses, sendo necessário 22 milhões de euros para o combate desta crise epidémica. Após os primeiros casos registados em dezembro, na Guiné Conacri, o vírus expandiu-se para países como a Serra Leoa, a Libéria, o Senegal e a Nigéria. Em meados de setembro, os números apontavam para a existência de 2.600 vítimas mortais e mais de cinco mil pessoas infetadas. Os dados mais preocupantes têm a ver com o facto de cerca de 40 por cento dos casos se terem registado num curto espaço de tempo, indicando uma forte progressão da doença. Segundo os últimos dados, calcula-se que cerca de 20 mil pessoas possam vir a ser atingidas pela doença, que tem uma taxa de mortalidade estimada em cerca de 90 por cento.

da OMS, com sede na Suíça. O jornal americano New York Times, por exemplo, denunciou o facto de a OMS estar a ser amputada dos meios necessários à sua ação, nomeadamente nos departamentos encarregues da vigilância e contenção de epidemias, quer por razões económicas quer por razões políticas. No primeiro caso, procura-se responder à crise financeira da instituição através de medidas que levaram ao encerramento de serviços, ao emagrecimento de recursos humanos e à redução das equipas que operam em África. No segundo caso, para além das poupanças pretendidas com estas medidas, questiona-se também a estratégia daquela organização que visa responsabilizar os Estados pela criação dos seus próprios meios de resposta em casos como o Ébola. Ora, neste caso, esta estratégia parece estar a revelar-se num princípio com grandes dificuldades em se aplicar nas regiões mais pobres do mundo. Poderão as questões de saúde mundial ser deixadas à responsabilidade dos Estados?

Poupar e/ou responsabilizar?

Esta epidemia levantou também um aceso debate acerca da ação Outubro 2014

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atualidade

estado islâmico Fundamentalismo ameaça estabilidade mundial

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12 perguntas e respostas sobre o grupo que degola jornalistas e quer um califado até Portugal São tão radicais que a própria Al-Qaeda cortou com eles. Mas os fanáticos do Estado Islâmico não só controlam vastos territórios na Síria e no Iraque, como atraem jovens europeus para as suas fileiras. O mundo começa agora a reagir a este grupo que chacina as minorias religiosas que recusam converter-se ao Islão e que mostra imagens de jornalistas a serem decapitados texto Leonídio Paulo Ferreira* foto Lusa 1. Um mapa que circula na internet mostra os territórios que o Estado Islâmico quer conquistar para o seu califado. Portugal está incluído. Faz sentido essa reivindicação?

Milhares de cristãos têm sido obrigados a deixar as suas casas para fugir à violência do movimento

Na cabeça megalómana do Estado Islâmico sim, como antes noutras organizações fundamentalistas islâmicas. Depois da conquista árabe da Península Ibérica em 711, houve sete séculos de presença muçulmana na Espanha e cinco em Outubro 2014

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Há mais de uma década que se sabe que algumas mesquitas europeias servem para atrair membros das comunidades muçulmanas para a guerra santa, ou jihad. São em regra jovens mal integrados na sociedade que de repente veem como projeto de vida vingar aquilo que consideram afrontas ao Islão, seja a opulência de alguns líderes, seja o conflito israelo-palestiniano, seja os ataques americanos ao Afeganistão e ao Iraque. Mas a novidade é que o recrutamento passou a ser feito pela internet, o que torna mais difícil aos serviços secretos identificarem terroristas. Além dos jovens muçulmanos imigrantes de segunda geração, há também casos de europeus convertidos ao Islão que querem ser jihadistas

Portugal. No imaginário islâmico, esses foram tempos de glória. É o mítico Al Andaluz (que deu nome à Andaluzia espanhola) que mesmo o atual líder da Al-Qaeda, o egípcio Ayman Al-Zawahiri, já por várias vezes reivindicou. Não admira, pois, que o Estado Islâmico, liderado pelo iraquiano Abu Bakr Al-Baghdadi, inclua Portugal num mapa que vai até ao Paquistão, engloba metade de África e todos os Balcãs. Agora que essa reivindicação tenha lógica hoje é outra questão. A comunidade muçulmana em Portugal é de apenas uns milhares e a matriz do país é cristã desde os tempos de Dom Afonso Henriques. 2. Fala-se muito de um califado. O que é? Depois da morte de Maomé, fundador do Islão em 622, os sucessores do profeta adotaram o título de califa. Nos primeiros tempos, esses califas governavam toda a comunidade muçulmana, mas depois passou a haver califas que só dominavam alguns territórios e mesmo situações em que chegou a haver mais de um califa. Desde 1924, não existe qualquer califa, pois nesse ano o sultão otomano, já deposto do trono, viu a república turca retirar-lhe o título religioso. Para muitos muçulmanos, a ausência de um califa surge como um vazio. E assim, os extremistas procuram ganhar adesões prometendo um califado como nos tempos áureos. O líder do Estado Islâmico proclamou-se califa, o que não significa que a esmagadora maioria dos 1.200 milhões de muçulmanos no mundo o reconheça. 3. Falemos um pouco do Estado Islâmico. É uma organização bem sucedida, e agora famosa, mas até há pouco tempo ninguém tinha ouvido falar dela, certo? Sim, é recente. Nasceu do ramo da Al-Qaeda criado no Iraque depois

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da invasão americana de 2003 que derrubou Saddam Hussein. E foi tendo altos e baixos até que a guerra civil na vizinha Síria lhe deu espaço para afirmar-se como o mais terrível, e eficaz, grupo armado na região. Foi cortando os laços com a Al-Qaeda e até mudando de nome, sendo que já este ano passou de Estado Islâmico no Iraque e no Levante para somente Estado Islâmico. Neste momento controla grandes porções dos territórios sírio e iraquiano (talvez uma área do tamanho de Portugal, onde vivem oito milhões de pessoas), mas o que lhe deu fama foi a conquista de Mossul, segunda cidade do Iraque, o massacre de minorias religiosas e a decapitação de jornalistas americanos. 4. Como ganhou tanta força de um momento para o outro? Desde 2011, há uma rebelião armada na Síria. Mas apesar de desejarem a queda de Bashar Al-Assad, os Estados Unidos da América e países europeus como o Reino Unido ou a França refrearam o envio de armas para os rebeldes, o que permitiu que as fações mais extremistas, financiadas a partir do Golfo Pérsico, conquistassem seguidores. Num primeiro momento, parecia ser a Frente Al-Nusra, obediente à Al-Qaeda, a tirar maior partido da fraqueza dos moderados, mas em 2013 o atual Estado Islâmico começou até a atrair desertores da Al-Nusra. E pouco a pouco foi também recrutando no mundo islâmico, como chechenos, tunisinos e líbios. Agora sabe-se que conta com combatentes oriundos da Europa entre os 30 mil homens que a CIA calcula que tenha. 5. Europeus a combater por um califado, porquê? Há mais de uma década que se sabe que algumas mesquitas europeias servem para atrair membros das comunidades muçulmanas para a


guerra santa, ou jihad. São em regra jovens mal integrados na sociedade que de repente veem como projeto de vida vingar aquilo que consideram afrontas ao Islão, seja a opulência de alguns líderes, seja o conflito israelo-palestiniano, seja os ataques americanos ao Afeganistão e ao Iraque. Mas a novidade é que o recrutamento passou a ser feito pela internet, o que torna mais difícil aos serviços secretos identificarem terroristas. Além dos jovens muçulmanos imigrantes de segunda geração, há também casos de europeus convertidos ao Islão que querem ser jihadistas. Os recrutas europeus do Estado Islâmico vêm sobretudo do Reino Unido e da França, o que causou alarme nesses países, que temem um regresso com intuito terrorista. 6. Há também portugueses a lutar pelo Estado Islâmico? Sim. Pensa-se que cerca de uma dezena. E a secreta portuguesa está a tentar identificá-los. 7. Como se explicam os sucessos do Estado Islâmico no Iraque, a ponto de ameaçar dividir o país? Pensa-se que há antigos oficiais do exército de Saddam na estrutura do Estado Islâmico. E isso percebe-se porque depois da invasão de 2003 a maioria muçulmana xiita tomou o poder via eleições e nada fez para reverter a decisão americana de purgar das forças armadas e da administração pública os antigos quadros da ditadura, quase todos sunitas. Ora, os sunitas iraquianos viram o Estado Islâmico como defensor contra o governo de Bagdad, que os despreza. 8. Fala-se de perseguição aos cristãos, mas a maior violência foi contra os yazidis. Quem são? Os yazidis são de língua curda e vivem essencialmente no norte do Iraque. A sua crença tem elementos

do zoroastrismo, antiga religião da Pérsia, e influências do cristianismo e do Islão. Os muçulmanos veem-nos como adoradores do diabo e ao longo dos séculos só o viverem nas montanhas e a proteção dos sultões e outros governantes tem evitado o seu massacre. Sabe-se de igrejas destruídas, de cristãos mortos e outros obrigados a converter-se para escapar à execução, mas as notícias mais horríveis têm que ver com os yazidis, com centenas de homens abatidos por não abjurarem, mulheres raptadas para serem vendidas, e milhares de famílias em fuga nas montanhas áridas. Quem veio em seu socorro foram os peshmergas, guerrilheiros curdos do norte do Iraque, e os aviões americanos, que largaram comida e água ao mesmo tempo que bombardeavam posições do Estado Islâmico para travar a sua progressão. 9. Também os xiitas são alvo? A divisão entre sunitas e xiitas vem dos primeiros tempos do Islão e tem que ver com a sucessão de Maomé, com os segundos a defenderem que a família do profeta tivesse prioridade. E mantém-se até hoje, pelo que o Estado Islâmico tenta derrubar os xiitas que governam a Síria (onde estão em minoria) e o Iraque. Adivinha-se mesmo que, apesar do massacre das minorias, o seu principal alvo são os xiitas, e de nada servem os apelos de Al-Zawahiri, sucessor de Bin Laden na Al-Qaeda, para evitar a morte de muçulmanos pois isso divide o Islão. Há imagens de soldados xiitas de mãos amarradas a serem abatidos.

Afeganistão nos anos 1980 mas que é célebre sobretudo pelos atentados em Nova Iorque, a 11 de setembro de 2001, que fizeram quase três mil mortos. É também um modo de guerra psicológica contra o Ocidente, tentando fazer repensar os governantes que recusam pagar resgates por reféns. 11. O dinheiro dos resgates é importante para o Estado Islâmico? Sim, mas existem outras fontes de financiamento, como os barris de petróleo vendidos a contrabandistas nos territórios que o grupo controla. 12. Existe algum plano global para combater o Estado Islâmico? Sim, começa a esboçar-se uma reação e o Presidente Barack Obama até aproveitou o 13.o aniversário dos atentados do 11 de setembro para anunciar que na Síria iria apoiar mais os rebeldes moderados, para estes tirarem influência ao Estado Islâmico, enquanto no Iraque serão dados novos meios ao exército governamental. Mas os Estados Unidos da América continuam a não querer enviar tropas para combater no solo. Vários países árabes comprometeram-se também a tudo fazer para acabar com a ameaça do Estado Islâmico. Ao mesmo tempo, os serviços secretos europeus estão a reforçar a vigilância sobre as fileiras de recrutamento dos jihadistas. *jornalista do DN

10. E porquê também as imagens de decapitação de jornalistas americanos? É uma forma de atrair publicidade para a causa do Estado Islâmico e ganhar a guerra de protagonismo à Al-Qaeda, a organização fundada para combater os soviéticos no Outubro 2014

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dossier

missão Pontífice quer cristãos intranquilos e desassossegados

A tarefa diária da missionação, segundo o Papa Francisco Na exortação pastoral sobre a Alegria do Evangelho, o Papa propõe uma “evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais” texto ANTÓNIO MARUJO* fotos LUSA

O modo mais fácil de falar das perspectivas missionárias do Papa Francisco seria recomendar a leitura integral da Evangelii Gaudium (EG), a exortação pastoral sobre a Alegria do Evangelho, publicada em Novembro passado. 18

Bastaria, aliás, percorrer os títulos ou excertos do texto (por exemplo, os capítulos III e IV), para entender a riqueza, vastidão e exigência do entendimento missionário do actual Papa. Não, não é assim que se deve

enunciar o tema. Recomece-se, então: Francisco só entende uma Igreja que seja missionária – a acção missionária é mesmo o “paradigma de toda a obra da Igreja” (EG 15). O que tem consequências em toda a vida


interna da comunidade cristã e em toda a acção dos cristãos. Diariamente, o Papa surpreende com afirmações, desafios e exigências que, de uma forma ou de outra, estão também referidos

na EG, como síntese plena do seu pensamento. É um Papa que quer cristãos intranquilos, desassossegados, que não se limitem a repetir o que sempre fizeram, antes ousem pensar de forma criativa. Por isso, não é difícil

descobrir no texto as exigências de uma perspectiva missionária. Desde logo, a ideia de que a missão diz respeito a todos e a cada um; e ela não se confina à ideia tradicional de serem os europeus a “evangelizar” os povos Outubro 2014

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A diversidade cultural deve ser respeitada e encarada como uma riqueza e não como limitação. O que tem consequências: não se pode confinar a fé “aos limites de compreensão e expressão duma cultura”, mesmo que seja a europeia

A “tarefa diária” é enunciada pelo Papa de forma simples: “cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos”

“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. (...) Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”

da Ásia, África ou das regiões mais recônditas da América Latina.

das doenças, da pobreza... Para o Papa, o papel dos cristãos é claro: Deus vive “entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada” (id.). Porque Deus não se esconde de quem o procura sinceramente, mesmo que o faça tacteando, acrescenta.

valores do Evangelho de Jesus – que coincidem com os valores humanos fundamentais, mesmo que vividos com diferentes expressões.

A “tarefa diária” é enunciada pelo Papa de forma simples: “cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos” (EG 127). Ou seja, o território de missão é, para um crente, aquele onde se vive – e aqueles com quem se vive. Há outros dois territórios para a missão: um cultural e um geográfico. O primeiro é o do profundo respeito por cada cultura, mesmo se esta “não esgota o mistério da redenção de Cristo” (EG 118). Isso pressupõe que a Igreja é “um povo com muitos rostos” e que cada ser humano vive situado numa história e numa experiência concreta. A diversidade cultural deve ser respeitada e encarada como uma riqueza e não como limitação. O que tem consequências: não se pode confinar a fé “aos limites de compreensão e expressão duma cultura”, mesmo que seja a europeia (EG 111-118). O território geográfico apontado pelo Papa constitui um dos grandes desafios à pastoral da Igreja: “Precisamos de identificar a cidade a partir dum olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças” (EG 71). Hoje, as cidades são o lugar de muitos medos contemporâneos – da insegurança, da solidão, 20

O Papa propõe, assim, uma “evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais” (EG 74). A esta proposta não deve ser alheia a valorização que o documento também faz da religiosidade popular, que tem uma grande “força evangelizadora” e é, mesmo, um “lugar teológico” (EG 122-126). O que fica dito tem duas implicações sérias: desde logo, uma profunda e fecunda atenção à realidade. Na linha do que o Papa tem proposto, a Igreja não deve, em primeiro lugar, condenar a realidade humana mas, antes, ser o “lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114). A atenção aos sinais dos tempos, aos indícios da presença de Deus no nosso mundo, é a primeira atitude missionária que permite, no passo seguinte, propor o aprofundamento dos

A segunda consequência relaciona-se com a religiosidade popular: não se trata de multiplicar procissões ou outras formas de devoção tradicional. Mas, antes, de descobrir e valorizar o potencial que as expressões dessa piedade popular têm, para colocar crentes e não-crentes (ou indiferentes, que constituem hoje o maior desafio e o maior número) à procura de valores humanos que coincidem com o Evangelho. Uma festa de santos populares onde se introduza um pequeno elemento sobre o gosto da festa e da fraternidade ou uma via-sacra que percorra lugares significativos da vida das pessoas meditando os problemas da cidade em cada estação, podem ser fortes experiências de encontro, solidariedade e desafio. Valores como a liberdade, a justiça, a paz, a solidariedade, a fraternidade e a beleza podem levar crentes e não-crentes a buscar uma sociedade mais justa – logo, são possibilidades de missão no território privilegiado que é a vida de cada um(a). Da exortação do Papa retira-se, ainda, o conteúdo social da evangelização: “No próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros”. Daqui surge o imperativo da inclusão social dos mais pobres e do urgente combate


O território geográfico apontado pelo Papa constitui um dos grandes desafios à pastoral da Igreja: “Precisamos de identificar a cidade a partir dum olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças”

às causas estruturais da pobreza e à desigualdade social, que é “a raiz dos males sociais” (EG 186-202). A denúncia do sistema económico dominante é, assim, um imperativo da missão em nome do Evangelho, porque esse modelo, tal como diz o Papa, mata (EG 53) – literalmente: aumenta enormemente o número de refugiados, cresce a taxa de suicídios, de desempregados ou de pobres, desenvolve-se o comércio de armas... O texto sugere ainda muitas das atitudes que um cristão deve ter, se imbuído de uma verdadeira adesão a Jesus – ou seja, de uma atitude missionária: deixar-se conduzir por Deus (EG 8), irradiar alegria (EG 9), propor a verdadeira revolução da ternura a que Deus nos convida (EG 88). No fim de um tal caminho poderemos dizer, como o Papa escreve no início: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. (...) Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1). (*) jornalista do religionline.blogspot.pt o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica texto conjunto MISSÃOPRESS

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gente nova em missão

vida animal Vamos ajudar a salvar as espécies em extinção

Os animais são nossos amigos

Olá amiguinhos missionários! Estamos no outono, uma estação bonita que nos faz apetecer andar pelas folhas caídas das árvores a brincar e chegar a casa com cheirinho de bolo acabado de fazer! É uma estação de recomeços e muitas vezes de mudança, na escola, na catequese e noutras atividades! Neste mês de outubro contamos com uma data de comemorações a que devemos estar atentos para aprendermos com elas a ser melhores cidadãos e por isso também melhores missionários texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO Desta vez escolhemos o dia 4, o Dia Mundial do Animal. E não pensem que este dia diz respeito apenas aos nossos animais domésticos; este dia é para todos os animais e sobretudo para nós, seres humanos, nos lembrarmos da sua importância e necessidade de salvaguarda.

Origem do dia

A data foi escolhida em 1931 durante uma convenção de ecologistas em Florença, Itália. A escolha teve em conta o facto de o dia 4 de outubro ser o dia de São Francisco de Assis, um amigo da natureza e padroeiro dos animais e do meio ambiente. Igrejas de todo o mundo reservam o domingo mais próximo da data para abençoar os animais. 22

com as estimativas da Aliança Internacional de Proteção de Animais, cerca de um quarto de todos os mamíferos está à beira da extinção. E tudo isto por ganância e irresponsabilidade do ser humano. É o terceiro maior negócio de contrabando do mundo, o tráfico de animais. Agora, sob a proteção da ONU, estão cerca de 800 espécies de animais, incluindo o gorila, o chimpanzé, o tigre, o leopardo e o jaguar. E há pouco tempo, a Rússia apresentou uma proposta para estender o sistema de proteção também ao urso branco. Em relação aos animais domésticos a realidade também desilude. Todos os anos, sobretudo nos

Importância do dia

A realidade sobre a vida animal no planeta não é positiva. Durante os últimos 500 anos extinguiram-se 844 espécies de animais, estando neste grupo o tigre de dentes de sabre, o lobo da Tasmânia e a vaca marinha de Steller. De acordo


os motivos económicos, pois a diminuição das espécies prejudica as atividades comerciais e a produção de medicamentos – estima-se que 40 por cento da economia mundial e 80 por cento das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos; e ainda os motivos funcionais da natureza: por perdas ambientais, as espécies estão interligadas por mecanismos naturais como a regulação do clima, purificação do ar, proteção dos solos e controlo de pragas.

Que pode fazer o ser humano?

grandes centros urbanos, são abandonados milhares de cães e gatos por variadíssimas razões, mas nenhuma justifica o ato cruel e incivilizado de o fazer, pois para além do seu sofrimento, estes animais perdidos nas ruas geram também problemas de segurança e saúde pública. Habitualmente neste dia é frequente assistirmos a campanhas de adoção levadas a cabo por voluntários.

Os animais são fundamentais no ecossistema Há quatro grandes motivos para preservarmos a vida animal: os motivos éticos, pois o ser humano como espécie dominante tem o dever moral de proteger outras formas de vida; os motivos estéticos, uma vez que as pessoas apreciam a natureza e gostam de ver animais e plantas no seu estado selvagem;

Para proteger os animais em vias de extinção devemos criar zonas protegidas onde os homens não podem incomodá-los, proteger os animais nos jardins zoológicos, não caçar os animais na altura em que eles estão a criar os filhos, e ainda não comprar nada que seja feito de animais. Em relação aos animais domésticos, se tomamos a decisão de ter um, então não o abandonar e tratá-lo bem, termos presente que é uma responsabilidade nossa e que não são objetos descartáveis. E contribuir para tirar das ruas os animais abandonados. Para além disto, já sabem: promover a importância deste dia junto das vossas famílias e, claro está, na escola e sobretudo na catequese, aproveitando a ocasião para falarem sobre São Francisco de Assis.

O meu momento de oração Amigo Jesus,

Obrigado pela natureza, pela biodiversidade É tudo tão belo e perfeito E o homem está sempre a destruir Mas eu como bom missionário que quero ser Vou ajudar a preservar a criação do Pai Tendo como exemplo o Santo que escolheste São Francisco de Assis Para que o mundo possa ser um lugar bom para viver Para mim e para o meu próximo. Pai-Nosso…

Sabias que:

O sapo é um controlador natural de pragas? Pode comer mais de 100 insetos por dia!

Outubro 2014

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tempo jovem

A vida sem Deus

de uma fórmula somatória entre matéria, tempo e sorte. Somos os únicos seres da criação capazes de fazer perguntas e sedentos de verdade. Isto significa que não estamos condenados a viver a vida regulada pelos instintos e as forças da natureza. Há um poço de água viva escondido nas profundezas do nosso ser com os códigos genéticos impressos pelo Criador e descobri-lo é o nosso desafio e a nossa vocação.

Nestes últimos tempos, enquanto procuro fazer uma leitura da vida a partir dos diversos encontros com pessoas de diferentes culturas, cores e línguas, tenho-me apercebido da grande tentativa “fracassada” de muita gente de Num mundo sem Deus não poderia querer viver a vida negando a existir o sentido objetivo de ‘bem’ e existência do seu Criador de ‘mal’; só haveria juízos subjetivos

texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA Custa-me compreender a atitude de alguns que preferem a “orfandade”, daqueles que vivem sem conhecer a origem e o sentido da sua existência, em detrimento da possibilidade de saber qual é o sentido dos seus passos neste mundo. Muitos pensaram e continuam a pensar que livrar-se de Deus consiste em libertar-se de repressões e de tudo aquilo que afoga, mas esta negação reducionista não responde às interrogações básicas que brotam das entranhas do ser humano: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Que fazemos neste mundo?

que partem da própria cultura e pontos de vista pessoais totalmente relativos. Isto significa que seria impossível condenar a guerra, a opressão ou a criminalidade como algo que é mau. Também não seria possível louvar a fraternidade, a igualdade e o amor como algo que

Nego-me a aceitar que sou um mero subproduto acidental de uma “explosão cósmica” da natureza ou simplesmente um resultado

Só a existência de Deus dá significado à vida e à nossa existência. Dito de outro modo, contando com a existência de Deus é possível viver de forma mais feliz e consistente

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é bom. Sabem porquê? Porque num mundo sem Deus, o ‘bem’ e o ‘mal’ não existem de forma objetiva. E não há ninguém que nos possa dizer algo com objetividade. Viver sem Deus “castra” a nossa possibilidade de experimentar a verdadeira liberdade e imortalidade. Num universo sem Deus é impossível avaliar o sentido da nossa existência, é inútil lutar para construir uma bela história, é insignificante o desejo profundo de felicidade que nos habita e que nasce do coração. Se Deus não existisse, a própria vida careceria de sentido, o homem e o universo perderiam o seu “significado” último. Se a vida acaba no cemitério, então vale o mesmo viver como Hitler ou como a Madre


Teresa de Calcutá. Sacrificar a vida em favor dos outros seria estúpido. Muitas vezes fico com a sensação que muitas pessoas, que dizem não acreditar em Deus, “contrabandeiam” um deus substituto segundo a própria medida, pela porta traseira do coração e da razão. Digo isto porque considero impossível para um ser humano viver num mundo em que tudo é resultado aleatório de forças impessoais. Com tudo isto não quero confrontar as pessoas que têm fé com aquelas que não a têm, pois há muitos que dizem tê-la e vivem como se assim não fosse. Quero simplesmente deixar uma reflexão a partir de uma experiência pessoal. Se Deus não existe a vida torna-se fútil. Só a existência de Deus dá significado pleno à nossa

existência. Dito de outro modo: contando com a existência de Deus é possível viver de forma mais feliz e consistente. Considero doentio e irracional preferir a morte, o fútil e a destruição, em detrimento da vida, do significado e da felicidade. Apoio-me com firmeza nas sábias palavras do célebre Pascal quando diz que acreditar em Deus não nos faz perder nada, mas dá-nos a possibilidade, se calhar, de ganhar o infinito.

Outubro 2014

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sementes do reino

Parábola do “banquete” texto PATRICK SILVA foto LUSA O mês de outubro, mês da missão, renova o apelo de Jesus aos discípulos: “Ide por todo o mundo”. A missão hoje parece perder o encanto de outros tempos, no entanto, a sua urgência continua com uma agravante: são muitos os que pouco ou nada sabem sobre Jesus.

Leio a Palavra Mt 22,1-14

O Evangelho faz parte de um grupo de parábolas usadas por Jesus para mostrar como as autoridades religiosas rejeitavam a sua proposta de vida. É nessa perspetiva que se deve entender

o texto. Na verdade, ele apresenta não uma, mas duas parábolas que foram unidas por Mateus pelo tema do “banquete”. O “banquete” era naquela cultura, um pouco como na nossa, lugar de encontro, mas era também local onde se “mostrava” o status da pessoa. A presença de gente importante dava maior importância ao encontro. A parábola fala de um rei que organizou um banquete, em que os convidados recusaram participar, chegando mesmo a matar os enviados do rei, que castigou os assassinos enviando-lhes o seu exército. No entanto, a festa acabou por acontecer com o convite a estender-se a todas as pessoas encontradas pela estrada.

Saboreio a Palavra

A parábola recorda como Deus convidou Israel para o “banquete”, mas as autoridades recusaram o

convite feito pelo Filho de Deus. Preferiram continuar com os seus programas e esquemas. Assim, Deus passou a convidar os “desclassificados”, os pecadores, aqueles que, segundo as autoridades, jamais poderiam estar em comunhão com Deus. Foram esses que se sentaram com Deus no banquete. A segunda parábola, a do convidado que vai ao “banquete” sem o traje de festa, quer ser um alerta para aqueles que já disseram sim ao convite, mas que se esqueceram de que estão participando do banquete do Rei. Ou seja, é um alerta para os cristãos que tendo aceite a proposta de Jesus perderam o entusiasmo inicial. O evangelista adverte que não basta ter aceite o convite, é preciso ir bem vestido para o banquete.

Rezo a Palavra

Na sua oração recorde todos os missionários que continuam a levar ao mundo o convite para participar do banquete da festa de Deus.

Vivo a Palavra

Na sua oração recorde todos os missionários que continuam a levar ao mundo o convite para participar do banquete da festa de Deus

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O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, afirma que muitas comunidades perderam o entusiasmo e por isso falta vitalidade e alegria. Ora esse entusiasmo só pode ser recuperado no encontro pessoal com Jesus, que convida para a festa do banquete. Hoje é necessário que todos participem da missão, seja com a oração, seja nas ajudas materiais, mas sobretudo com o testemunho de vida, que convida os outros a participar deste banquete de festa.


intenção pela evangelização

A Palavra faz-se missão alguém que a ajude a adquirir o 05 primitivo fulgor. Missão é também 27º Domingo Comum Is 5, 1-7; Filip 4, 6-9; Mt 21, 33-43 Somos o campo de Deus Todos fazemos parte da Igreja, a vinha do Senhor, que Jesus plantou com tanto esmero e que depois confiou a todos os homens para que nela produzissem frutos de salvação. Somos rendeiros de Deus. Cristo frutificou dando a vida por nós. E nós? Tudo o que recebemos: vida, batismo, fé, saúde, inteligência, tudo deve ser posto ao serviço do Reino de Deus. Sempre, mas sobretudo neste mês missionário. A vida que me concedeste, Senhor, coloco-a nas tuas mãos, como contributo pessoal para a redenção do mundo.

isso: revelar às pessoas a imagem divina que trazem por dentro e ajudá-las num caminho de purificação e de reconciliação com Deus. Dia Mundial das Missões: dar a Deus o que lhe pertence. Porque tudo é nosso, nós somos de Cristo e Cristo é de Deus, é em Deus que encontramos o fio de ouro da nossa vida. Imprime, Senhor, no nosso coração, a ânsia de levar a tua mensagem a todos os povos, para que todos reconheçam a sua dignidade de filhos de Deus.

12 28º Domingo Comum

Ex 22,21-27; 1Tes 1, 5-10; Mt 22, 34-40 Com todo o meu coração “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua inteligência e com todas as tuas forças. E o próximo como a ti mesmo”. É o programa de vida do cristão, quer dizer, do missionário. Cada pessoa, cada próximo, é o nosso caminho para Deus. O amor não se fica pelos desejos. Pede provas e sinais: na dedicação às tarefas do bem comum, na promoção do homem, na difusão do amor de Deus entre os homens. Foi esta a missão e paixão de Jesus e deverá ser também a nossa. Que eu encha, Senhor, cada dia da minha existência com gestos concretos de verdadeiro amor.

Is 25, 6-10; Filip 4, 2-14; Mt 22, 1-14 O banquete dos povos Foi no contexto de um banquete que o Senhor revelou a necessidade que Deus tem de entrar em comunhão connosco. “Vinde para o banquete”, repete-nos continuamente o nosso Deus. Indiferentes aos seus convites preferimos comer por nossa conta, escolher as nossas iguarias e embebedar-nos nos negócios e prazeres deste mundo. Temos à nossa frente um banquete preparado e andamos por aí às bolotas da nossa ilusão. Outros aceitarão o convite e tomarão parte nesse banquete preparado para todos os povos. Que eu não decline, Senhor, os teus incessantes convites, mas aceite sentar-me à tua mesa preparada para todos os povos.

19 29º Domingo Comum

26 30º Domingo Comum

DV

Para que o Dia Mundial das Missões desperte em cada cristão a paixão e o zelo por levar o Evangelho a todo o mundo

Despertar a paixão pela missão Há 88 anos que se celebra na

Igreja o Dia Mundial das Missões como um momento privilegiado para os fiéis dos vários continentes se empenharem, com a oração e gestos concretos de solidariedade, no apoio às Igrejas jovens dos territórios de missão. E para que sejam despertados, pela palavra da Igreja, a crescerem na paixão e no zelo de levar o Evangelho ao mundo inteiro. Nos últimos anos, na Igreja portuguesa, por iniciativa da Comissão Episcopal das Missões e dos Institutos Missionários, é todo o mês de outubro que é dedicado a esta causa. Com um guião, preparado para esse efeito, pretende-se oferecer material de reflexão, oração e ação para os encontros de grupos, movimentos ou comunidades. Com que finalidade? Dinamizar todo este mês com várias iniciativas, sensibilizar as comunidades eclesiais à cooperação entre as Igrejas, motivar o conhecimento da realidade missionária, propor atitudes e gestos que levem a um maior espírito de colaboração entre as pessoas, grupos e comunidades. Será este o modo melhor de celebrar o Dia Mundial das Missões, a 19 de outubro. DV

Is 45, 1.4-6; 1 Tes 1, 1-5; Mt 22, 15-21 Dai a Deus o que é de Deus Temos a imagem de Deus gravada no coração. Uma imagem porventura ofuscada, à espera de Outubro 2014

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o que se escreve

Lúcia de Fátima e os seus primos

João César das Neves apresenta aqui o perfil de uma grande testemunha da fé, que marcou o séc. XX, em Portugal e no mundo: Lúcia de Jesus. Apresenta igualmente alguns traços fundamentais de Jacinta e Francisco. Não têm faltado biografias tanto de Lúcia como dos outros pastorinhos. Abundam os livros sobre aquilo que há cerca de 100 anos se passou em Fátima. O autor cita-os todos, destacando particularmente os volumes da autoria do padre José Galamba de Oliveira, do missionário da Consolata João De Marchi e do padre jesuíta Fernando Leite. “Não só são das mais antigas e populares divulgações das aparições, mas mantêm uma frescura e rigor que as obras posteriores não ultrapassaram”. Mas, a caminho do centenário, “este pequeno livro é um verdadeiro botão de rosa oferecido a Nossa Senhora”. Autor: João César das Neves 167 páginas | preço: 10,00 € Paulus Editora

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Atividades para auxiliar a aprendizagem da linguagem oral e escrita

Viver no amor Amai-vos uns aos outros

O dado do amor que corre pelo mundo!

Orações de São João Paulo II

O Método DOLF (Desenvolvimento Oral, Linguístico e Fonológico) é um meio auxiliar na aprendizagem da fala, da linguagem, da leitura e da escrita, que permite à criança ver, ouvir, falar, fazer o gesto e escrever. Este livro de atividades é um ótimo instrumento de aprendizagem para apoio dos pais, educadores, professores, terapeutas da fala e outros técnicos. Autores: Ana Severino e Joana Rombert Ilustração: Cristina Malaquias, Ricardo Neto, Fátima Buço 56 páginas | preço: 12,50 € Papa-Letras

É um livrinho ilustrado por experiências sobre a arte de amar de Chiara Lubich explicada às crianças. Inclui uma folha de espuma vinílica acetinada que permite à criança construir o seu próprio dado para o lançar todos dias logo pela manhã com a arte de amar, escrita nas seis faces do cubo: Ser o primeiro a amar; Amar como Jesus; Amar o outro como a si mesmo; Amar-nos uns aos outros; Amar os inimigos; Amar a todos. A criança lança o dado, lê a frase que sair e vive-a durante o dia: é fácil e prático. Ilustrações: Christiane Heinsdorff 15 páginas | preço: 3,50 € Editora Cidade Nova

Mais um opúsculo do biblista Gianfranco Ravasi na descoberta de Jesus de Nazaré, o Mestre que com as suas palavras, as suas ações e a sua vida ensina a cada homem como ser seu discípulo. Apresenta-se aqui uma lista de perfis diferentes no amor ao próximo, mostrando como a Bíblia quis representar todas as manifestações desta experiência capital da vida humana: o amor eclesial, o amor social, o amor nupcial, o amor paterno e materno, o amor familiar, o amor de amizade, o amor pátrio. Autor: Gianfranco Ravasi 64 páginas | preço: 4,00 € Paulus Editora

Quando uma pessoa se sente esgotada ou esmagada pela dor e oprimida pelo peso de uma vida sem sentido, a oração pode ser um meio precioso para iluminar as vicissitudes da própria existência e tornar mais segura a caminhada nesta terra. As orações deste livro foram pronunciadas por João Paulo II nas circunstâncias mais diversas, nas suas viagens, encontros e celebrações litúrgicas especiais. Com as palavras deste santo dos nossos dias o leitor pode unir-se à Igreja na sua incessante súplica ao Deus da Vida. Autor: João Paulo II 256 páginas | preço: 9,50 € Paulus Editora


o que se diz As minhas pérolas

Já publicámos no passado ainda recente alguns poemas de Alzira Vairinho Borrêcho. Em boa hora esta poetisa dos nossos dias, decidiu, também estimulada pelo saudoso padre Manuel Carreira, arrumá-las num precioso livro que aqui se apresenta com o belo título de “As minhas pérolas”. São lindos poemas ora tecidos de lágrimas ora vestidos de luz e de esperança: a luz do Alentejo “que atravessa a sua obra com os seus hábitos e costumes, fazendo dele uma das suas pérolas”. Autor: Alzira Vairinho Borrêcho 62 páginas | preço: 10,00 € Chiado Editora

Nós acreditámos no amor Os pioneiros de uma grande descoberta

Trento (Itália), 7 de dezembro de 1943. Na aurora de um dia de inverno rigoroso, numa cidade ferida pela Segunda Guerra Mundial, a jovem Chiara Lubich “desposa” Deus numa cerimónia simples e secreta. Não podia imaginar que seria essa a data oficial do nascimento do Movimento dos Focolares, cuja existência desabrochou da experiência espiritual por ela iniciada com um pequeno grupo de pessoas à sua volta. Estas páginas recolhem testemunhos dos primeiros tempos, mostrando claramente a força propulsiva de uma descoberta que mudou a vida de muitas pessoas. Autor: Tanino Minuta 135 páginas | preço: 6,00 € Editora Cidade Nova

Nenhuma guerra é santa “O que se está a passar no Iraque não é caso único; há muitas

outras zonas do mundo em que os direitos humanos são espezinhados e, em vez do diálogo e do entendimento, se recorre à violência e às armas. Parece mesmo que o nosso mundo esteja à beira de um ataque de nervos e pronto para uma nova guerra global, apesar de acabarmos de comemorar 100 anos da 1ª e setenta da 2ª Guerra Mundial”. Frei Severino | Mensageiro de Santo António | setembro de 2014

Formação contínua “Para tudo hoje se exige conhecimentos e competências. Muitas

são as propostas formativas para corresponder a esta necessidade e procura. Também no que diz respeito à vida cristã, é necessário buscar e cuidar da formação pessoal, para se tornar adulto na fé e capaz de dar razões da própria esperança. Para além da vivência, leituras, estudos e reflexão de iniciativa pessoal, é também importante recorrer aos meios formativos oferecidos pela Igreja”. Jorge Guarda | Presente | 18 de setembro de 2014

Nem estudam nem trabalham “Segundo alguns especialistas na matéria, o crescimento da

população juvenil que não estuda nem trabalha tem duas explicações: temos uma geração mais desligada (na cidadania e na integração) do futuro e ainda revela uma falta de perspetivas sobre o mesmo futuro… O que torna a questão social e culturalmente preocupante, gerando um vazio de ocupação, de motivação e de compromisso de milhares de jovens”. António Sílvio Couto | Notícias de Beja | 18 de setembro de 2014

Consumismo: outro poder “O crescimento económico, sendo embora positivo e indispensável

em termos gerais, tem contribuído para acentuar as desigualdades entre ricos e pobres. Vivem-se atualmente tempos muito difíceis, sobretudo nas grandes zonas urbanas. É nestas que se situam as principais bolsas de pobreza”. Isabel Jonet | Além-Mar | setembro de 2014

Pastoral da catequese “Educar na fé torna-se dever primário na pastoral eclesial, onde a

dimensão da catequese sobressai na importância do crescimento espiritual de cada um e de toda a comunidade. Esta caminhada terá melhores resultados se soubermos ver em Jesus o verdadeiro pedagogo que devemos imitar para educar outros na fé…”. Francisco Rebelo | Família Cristã | setembro 2014

Outubro 2014

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gestos de partilha

Costa do Marfim Cândida Barros 100,00€; Fátima Matias 20,00€; Mariana Fernandes 20,00€; Conceição Policarpo 130,00€; Anónimo 12,00€; Paulo Jorge 25,00€; Anónimo 1.000,00€; Ivone Petrony 20,00€; Anónimo 50,00€; Anónimo 25,00€; Filomena Pereira 20,00€; Cristina Fernandes 5,00€; Paulo Ferreira 50,00€; Deolinda Pinto 0,15€. Total geral = 18.707,80€. Bolsa de estudo Conceição Gameiro 250,00€; AMC (Núcleo do Algarve) Anónimo 250,00€; Assinante (Nº 6151) 74,00€. Criança Yéo Issa – Costa do Marfim Anónimo (Mercês) 20,00€; Deonilde Silva 10,00€; António Martins 80,00€. Ofertas várias Margarida Soares 25,00€; Anónimo 100,00€; Artur Portela 36,00€; Alberta Couto 401,00€; Anónimo 150,00€; Pedro Reis 51,00€; Arminda Vasconcelos 36,00€; Manuela Reis 30,00€; Lisete Sousa 36,00€; José Palinhos 43,00€; Eugénio Lopes 43,00€; Joaquim Oliveira 43,00€; Ana Silva 43,00€; Amélia Moreira 43,00€; Anónimo 200,00€; Angelina Silva 36,00€; Antónia Borges 33,00€; António Crespo 43,00€; Céu Crespo 43,00€; Isabel Crespo 43,00€; Joana Carvalho 39,00€; Maria Santos 30,00€; Rosa Rocha 43,00€; Maria Ferreira 33,00€; Maria Baltazar 43,00€; Fernanda Pereira 59,00€; Alda Miranda 30,00€; Beatriz Oliveira 33,00€; Margarida Silva 43,00€; Júlia Mata 89,00€; Ângela Sousa 33,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida Padre JOÃO ZABOTTI

Um homem alegre e espiritual

texto Aventino Oliveira ilustração H. Mourato Nunca esqueci aquele sabor a alegria que se tinha quando se estava ao pé dele: fazia-nos sentir bem. Homem profundamente espiritual, intenso no que fazia, liturgista de valor e convicção, um consolatino dos quatro costados. Nasceu em 1922 no nordeste da Itália, entrou para o Instituto da Consolata aos 13 anos e foi ordenado sacerdote no dia 20 de junho de 1948. Dele disseram os formadores ao apresentá-lo para a ordenação sacerdotal: “Tem estofo de primeira em tudo: na piedade, na caridade, no sacrifício, no trabalho, no apego ao Instituto. Nele teremos um padre e um religioso virtuoso e santo”. Depois da ordenação foi enviado para o Canadá onde trabalhou muito na pastoral paroquial: na diocese de Montreal era considerado um liturgista de primeira classe. Franzino de estatura, teve problemas sérios de saúde. Aos 37 anos foi atacado por uma tuberculose pulmonar, e numa operação foram-lhe tiradas cinco costelas. Ao Superior Geral escrevia: “Vejo como a paciência é uma grande virtude, e que a salvação das almas exige a graça de Deus e um trabalho assíduo”. Quando era prior da nossa paróquia de São João Bosco, em Montreal, pintou o interior da igreja de tal maneira que quem lá entrava sentia-se profundamente atraído pela “presença sacramental do Senhor”, pois era para o altar e o sacrário que se dirigiam forçosamente os olhos e o coração. Em 1970 foi chamado a Roma para secretário pessoal do Superior

Geral do Instituto, trabalho que fez primorosamente. Quando em 2004 completou 60 anos de profissão religiosa, agradeceu-lhe o Superior Geral o “grande zelo com que trabalhou toda a vida”. Dele disse um dos nossos missionários que com ele trabalhou no Canadá: Zabotti é um “ser espiritual capaz de encher de céu tudo o que faz”. As suas homilias exortavam sempre os ouvintes a oferecer a vida a Deus, “e quanto mais difícil for a oferta – afirmava, mais digna d’Ele e meritória a oferta se torna”. A quem sentia dificuldades dizia: “Vais ver

que vais conseguir. O Senhor há de abençoar o teu esforço”. Em tudo o que fazia e dizia, ressaía sempre aquele ‘toque de céu’ que tudo transformava em luz. Nessa paz suave e nessa luz alegre entrou ele para sempre no dia 23 de janeiro de 2012.

Outubro 2014

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outros saberes

Como consequência, verifica-se um peso cada vez maior dos idosos na população, gerando-se um desequilíbrio com importantes repercussões sociais, económicas e culturais. Já dizia Chateaubriand:

“Outrora a velhice era uma dignidade, hoje é um peso”.

Infelizmente é assim que, grande parte da sociedade, familiares e os próprios idosos, erroneamente se consideram, gerando desânimo a rodos com efeitos devastadores. Balzac alertou que a velhice não é só idade avançada:

“O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo”.

Pode-se envelhecer precocemente. Que pena! A vida é tão bela! De facto, como acrescenta Schweitzer:

“Os anos enrugam a pele, mas, renunciar ao entusiasmo, enruga a alma”. A velhice depende também dum estado de espírito. Bem reza um provérbio chinês:

“O grande homem é aquele que não perde a candura da infância”.

E há tantos, felizmente. E vale a pena. Pois como diz um provérbio macua de Moçambique:

“Envelhecer, não é igual a morrer”.

Quando a velhice se torna um peso texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA O envelhecimento demográfico está na ordem do dia. Constata-se no mundo em geral e nos países ocidentais em particular um crescimento muito significativo do número de pessoas com sessenta e cinco e mais anos. 32

Portugal não é exceção. Este crescimento está a provocar alterações significativas na estrutura etária, na medida em que, em simultâneo, nos deparamos com uma baixa taxa de natalidade.

Quanto à sociedade, para não envelhecer ela também, diz um provérbio chinês:

“A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros”. Vamos a isso!


2014 ano Allamano

Cumpriu-se o sonho texto DARCI VILARINHO foto FM José Allamano convenceu-se de que canalizar pessoas e meios materiais para as missões era a melhor maneira de servir e renovar a Igreja na Europa, impelindo-a a descobrir plenamente a sua vocação missionária. Tudo fez, por isso, para sacudir o torpor em que viviam as Igrejas locais do seu tempo. Começou pela sua diocese de Turim, Itália. Não foi só o trabalho que realizou no contacto com o clero no centro de formação pastoral que ele próprio dirigia. Mas, por exemplo, fazia com que o envio das várias expedições missionárias não fosse um facto isolado do seu Instituto. Convocava para a celebração de despedida e envio o arcebispo e todos os fiéis. Procurava que a celebração fosse simples mas tocante. Alargou depois a animação missionária a todo o povo de Deus, utilizando diapositivos enviados pelos primeiros missionários, obtidos através das máquinas fotográficas com que ele tinha

munido os missionários que partiam. Coisa de grande relevo para a época. Por toda a parte pregava a urgência missionária, porque sentia que toda a Igreja precisava de um abanão. Era triste, e quase escandaloso, efetivamente, verificar que havia bispos que sabotavam certas iniciativas missionárias, só pelo temor de perder alguns dos seus padres ou seminaristas. E era confrangedor verificar que não se dava a mínima formação missionária nos seminários diocesanos. Allamano achava por isso que se tornava imperioso denunciar a situação e alertar o Santo Padre para esse estado de coisas. Como? Pegou em papel e tinta e escreveu uma carta aos superiores gerais dos Institutos missionários da Itália, alertando-os para os problemas que eles bem conheciam: ignorância da realidade missionária, apatia geral do clero e fiéis e escassez de vocações missionárias, às vezes desencorajadas pelos próprios bispos. Para atingir tais objetivos, Allamano propôs que todos juntos escrevessem uma carta ao Papa Pio X.

O pedido não teve logo resultados concretos. Quando o documento chegou às mãos de Pio X, já ele se encontrava com a saúde muito abalada e deveras preocupado com o conflito mundial que se desenhava no horizonte. Mas foi uma semente lançada à terra, que haveria de florescer em duas encíclicas missionárias, uma de Bento XV e outra de Pio XI. E seria este Papa, vulgarmente conhecido pelo Papa das missões, que em 1926 estabeleceria a celebração de um Dia Missionário Mundial. Era o sonho de Allamano. O documento foi publicado dois meses após a sua morte, mas o seu contributo e a sua intercessão surtiram efeito. E no paraíso terá exultado de alegria.

Outubro 2014

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fátima informa

Catequistas reforçam alegria de anunciar Jesus Cristo Centenas de catequistas são esperados na Cova da Iria para um encontro de âmbito nacional destinado a fortalecer a fé e aprimorar a forma de dar a conhecer o Evangelho texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA O desejo de aperfeiçoar métodos e reforçar a “alegria de anunciar Jesus Cristo” vai juntar catequistas de todo o país em Fátima, em mais umas Jornadas Nacionais, que decorrem no Centro Pastoral Paulo VI, entre 3 e 5 de outubro, com a realização de conferências e oficinas temáticas. A sessão de abertura estará a cargo do presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF), Manuel Pelino,

Turismo religioso em debate

O Museu de Arte Sacra e Etnologia, dos Missionários da Consolata, retoma o ciclo de jantaresconferência no Hotel Pax, no dia 10 de outubro, a partir das 20h00. A convidada desta sessão será a deputada à Assembleia da República, Carina João, que falará sobre “Turismo Religioso”.

Oração Internacional

As crianças e jovens são convidadas a participar num momento internacional de oração pelo Papa e pelas famílias, na tarde de 3 de outubro, no Santuário de 34

seguindo-se as intervenções do padre Paulo Malícia e de Cristina Sá Carvalho, diretora da Catequese no Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC). No segundo dia do encontro, depois de uma conferência dedicada ao tema “Uma Igreja em saída”, os catequistas poderão participar numa das várias atividades temáticas propostas pelos organizadores. As Jornadas terminam com uma palestra do padre Luís Miguel Rodrigues, sobre oração e espiritualidade, e uma

Fátima. A celebração é promovida pelo Apostolado Mundial de Fátima e será difundida para mais de 140 países.

Ação de formação

O Santuário de Fátima promove mais um curso sobre a Mensagem de Fátima, desta vez dedicado ao tema “O triunfo do amor nos dramas da História”. A ação decorre entre 17 e 19 de outubro.

intervenção da religiosa Isolinda Tavares, relacionada com a “Escola Paroquial de Pais”. Para Cristina Sá de Carvalho, o papel do Catequista “não é, antiquadamente, o de um professor, nem modernamente, um gestor da conta da fé alheia, mas um companheiro na descoberta da fé, um interlocutor para o seu reforço e aprofundamento, alguém que amadureceu no convívio de Cristo e não «resiste» a anunciá-lo: por vezes, com algumas palavras mas, sobretudo, com o testemunho da sua vida, tal como aprendemos da reflexão de São Francisco de Assis e do Papa Paulo VI”.

Outubro em agenda 4/5 Peregrinação Franciscana 17/19 Jornada Nacional da Pastoral da Família

26 Entrega do prémio “Faz o teu vídeo, mostra a tua missão”


8Novembro

Consolar na gratuidade

Há maior alegria em dar do que em receber: “... pessoas capazes de despertar o mundo” Papa Francisco Orienta Padre Mário Campos

6-7Dezembro (Advento)

Consolar em tempos de crise

O valor da esperança activa na vida quotidiana. Orienta Padre Domingos Forte

“Consolai, consolai o meu povo, diz o Senhor” (Is 40,1)

10Janeiro

Consolar para empreender

“Procurai transformar a sociedade e não apenas as pessoas” Beato Allamano Orienta Padre António Fernandes

21-22Fevereiro (1º Retiro da Quaresma)

Consolar, com a graça do perdão e da reconciliação

“Os teus pecados estão perdoados. (...) A tua fé te salvou. Vai em paz!” Lc 7,48-50 Orienta Padre Albino Brás e equipa ESPERE

28Fevereiro 1Março (2º Retiro da Quaresma) Consolar, recebendo e oferecendo perdão

“Deus não se cansa de perdoar, somos nós que muitas vezes nos cansamos de pedir perdão” Papa Francisco Orienta Padre Jorge Amaro

Este é o tema que está na base e inspira os vários retiros que propomos para o ano pastoral 2014-2015. Não perca a oportunidade deste itinerário espiritual que lhe sugerimos, fazendo um ou mais destes retiros, acolhendo a graça de uma presença mais fecunda de Deus na sua vida.

Inscreva-se! Participe!

18Abril

Consolar, sem dividir

“Orar com o corpo e orar com o espírito” Orienta Padre Elísio Assunção

23

Maio

Consolar na vida quotidiana

“Fazei o bem, bem feito e sem barulho” Beato Allamano Orienta Padre Darci Vilarinho

Inscrições

assinaturas@fatimamissionaria.pt

Telefone 249 539 460

FÁTIMA MISSIONÁRIA Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA

Os retiros começam sempre às 10h00 e terminam às 18h00 exceto os de dois dias que terminam com o almoço do domingo. Mínimo de 10 e máximo de 30 participantes por cada retiro.

Preços

Só inscrição 5,00 € Retiro de um dia 12,50 € (inscrição, almoço e materiais) Retiro de dois dias 35,00 € (inscrição, alojamento, refeições e materiais)


Vítimas inocentes Nas guerras, as maiores vítimas são as crianças inocentes. No meio daquele horror Morrem de fome e de frio Ou de um tiro certeiro. Quem pode dizer o que elas sentem No seu corpo cheio de nada Tratadas como cão rafeiro? Perguntava Augusto Gil: “Mas as crianças, Senhor, Porque lhes dais tanta dor?” Alzira Vairinho Borrêcho As minhas pérolas


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