ANO LVIII | OUTUBRO 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤
EXEMPLOS DE FÉ
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CARMELITAS NA INTIMIDADE COM DEUS HENRI TEISSIER ACREDITA NO DIÁLOGO ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS
BISPOS PREPARAM NOVA EVANGELIZAÇÃO Pág. 12 CRISTÃOS DA SÍRIA COM MEDO DO FUTURO Pág. 14 FILME DO CONCÍLIO NA PEREGRINAÇÃO Pág. 34
CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS
Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.
MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
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editorial
REVIGORAMENTO NECESSÁRIO
Na sua mensagem para o dia Mundial das Missões, Bento XVI afirma que este ano essa celebração “se reveste dum significado muito particular. A ocorrência do início do Concílio, a abertura do Ano da Fé e o Sínodo dos Bispos cujo tema é a nova evangelização concorrem para reafirmar a vontade da Igreja se empenhar, com maior coragem e ardor, na missão ad gentes, para que o Evangelho chegue até aos últimos confins da terra”. O arcebispo de Mainz, cardeal Lehmann, numa carta pastoral de 2004, intitulada “Testemunho missionário”, declarava: “Tornámo-nos um mundo velho. Deixámo-nos vencer pelo cansaço (…). É necessário um radical revigoramento missionário da nossa Igreja. Não se trata apenas de reformar as estruturas. É preciso começar por cada um de nós. Se não estivermos entusiasmados pela profundidade e pela beleza da nossa fé, não podemos verdadeiramente transmiti-la nem aos vizinhos nem aos filhos nem às gerações futuras”. Há bem pouco tempo ainda afirmaram os nossos bispos que “hoje Portugal faz parte daqueles espaços tradicionalmente cristãos, onde, para além de uma nova evangelização, se requer, em determinados casos, a primeira evangelização”. É neste contexto de um mundo em profunda mudança, marcado pelo pluralismo cultural e religioso, mas também por uma grande crise de fé, que Bento XVI reafirma que “é preciso reavivar o entusiasmo da comunicação da fé, para se promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão a perder a referência a Deus, e deste modo voltarem a descobrir a alegria de crer”. FÁTIMA MISSIONÁRIA vai acompanhar ao longo do ano este esforço de revitalização da fé através do tema de fundo “Fé, Missão e Martírio” com o qual pretendemos comunicar aos nossos leitores, e à Igreja portuguesa em geral, experiências religiosas de martírio e de fé de outras comunidades espalhadas pelo mundo.
Passagem de testemunho FÁTIMA MISSIONÁRIA vai ter uma nova direção. Garantimos, porém, que vai continuar a linha editorial aberta e dialogante com os leitores, a sociedade e as instituições que a revista assumiu nos últimos anos. Porque assenta sobre o conceito de uma “nova visão” da Missão, da Igreja e do mundo, permanece o rumo traçado. Ao padre Elísio Assunção, diretor cessante, queremos exprimir um enorme agradecimento por tudo o que nestes anos soube dar à revista. Estamos certos de que o seu apoio, o seu interesse e a sua colaboração vão continuar a fazer parte do nosso caminho. Não se pode perder toda a sua experiência adquirida ao longo destes anos. Em nome da nova equipa de redação e em nome de todos os leitores, manifestamos ao padre Elísio a nossa mais profunda gratidão. DARCI VILARINHO
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA
Nº 9 Ano LVIII – OUTUBRO 2012 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.800 exemplares Diretor Elísio Assunção Chefe de Redação Francisco Pedro Redação Elísio Assunção, Manuel Carreira Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Darci Vilarinho, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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“DEVEMOS SAUDAR A CORAGEM DOS CATÓLICOS CHINESES”
03 EDITORIAL Revigoramento necessário 05 PONTO DE VISTA Os jovens e a crise 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Bela faz a diferença 08 MUNDO MISSIONÁRIO Indígenas em risco de extinção
na Colômbia 300 mil crianças sem direitos nas Honduras Às Igrejas da Europa falta solidariedade Duas vidas marcadas pela paixão missionária 10 A MISSÃO HOJE Aspirações e propostas do continente africano 11 FIO DA HISTÓRIA Perfil do reitor 12 A MISSÃO HOJE O Sínodo e a Nova Evangelização 13 DESTAQUE Amazónia a sonhada e a cobiçada 14 ATUALIDADE Cristãos da Síria com medo do futuro 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Outono 24 TEMPO JOVEM Crescer dói 26 SEMENTES DO REINO O dom da fé e da missão 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Companheiros batiam palmas 32 OUTROS SABERES Do chão nos vem o sustento 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Viveu envolvida e mergulhada
ATUALIZE A SUA ASSINATURA 4
na oração 34 FÁTIMA INFORMA Peregrinação de outubro mostra documentário aos peregrinos
ponto de vista
OS JOVENS E A CRISE texto JOÃO CÉSAR DAS NEVES
Portugal sofre a crise mais séria da sua economia moderna. A razão está num desequilíbrio crescente de quase 15 anos. Enquanto as recessões anteriores tinham sido efeito de perturbações fortes e súbitas (choques do petróleo, revolução de 1974, etc.), desta vez enfrentamos um desajustamento estrutural que durou muito tempo. Esse desfasamento pode resumir-se num elemento: o acesso a crédito barato. Desde o início da década de 1990, com a entrada no processo de construção do euro, Portugal foi aceite no grupo de países credíveis, a quem se emprestava a custos módicos. Isso era grande novidade para um país habituado a ser marginal. Infelizmente a oportunidade foi acompanhada, não de prudência e moderação, mas de um deslumbramento que fez explodir o crédito recebido. A dívida externa bruta, que era 28 por cento do produto nacional em 1992, passou para quase 250 por cento hoje. Quando a crise internacional levou os nossos credores a deixar de acreditar na capacidade de cumprirmos as nossas obrigações, fechando-nos o acesso a novos empréstimos, tivemos de inverter de repente hábitos gastadores que acumuláramos durante muito tempo. Felizmente que os parceiros comunitários vieram em nossa ajuda, fornecendo créditos que supriam as necessidades imediatas. Mas só o fazem com condições fortes de austeridade, aliás indispensáveis para reganhar a credibilidade e equilíbrio que nos permita regressar à normalidade económica. Este é o momento mais difícil do ajustamento. Os sacrifícios já foram muitos mas ainda falta um bom bocado. Erros de 15 anos não se resolvem em 15 meses, e há ainda muita coisa a mudar e reformar. Por outro lado o sofrimento já foi
grande, e as consequências começam a sentir-se em múltiplas áreas. O elemento mais sensível e preocupante é, sem dúvida, o desemprego. Portugal, habituado a taxas muito inferiores às dos seus parceiros europeus, encontra-se agora com níveis acima dos 15 por cento, que manifestam graves consequências a todos os níveis. No que toca aos jovens entre os 15 e 24 anos, as taxas são superiores a 35 por cento, o que constitui um dos sinais mais preocupantes da situação. É preciso dizer que o desemprego jovem é sempre mais elevado que a média nacional, e a atual relação, pouco acima do dobro, não está longe do padrão habitual. Há mais de 30 anos que a taxa do desemprego jovem flutua entre as duas e duas vezes e meia do valor global, tendo nos anos 1970 atingido níveis acima dos três. No entanto, estes valores revelam um problema mais sério. Está a ser difícil eliminar muitos «direitos adquiridos», que a sociedade não consegue sustentar, mas que foram facultados durante o período de endividamento. Os grupos instalados defendem juridicamente essas benesses, o que dificulta o ajustamento. Isso vê-se bem precisamente no campo do emprego jovem, porque os trabalhadores mais velhos têm capacidade para acautelar a sua posição, desviando a carga para aqueles que acabam de entrar no mercado de trabalho. A presente crise está a ser bastante traumática, em particular para os jovens. Mas é importante também lembrar que são exatamente as gerações que defrontam dificuldades nos primeiros tempos da sua atividade que, em geral, depois conseguem grandes feitos com impacto duradouro no progresso e civilização. Os bloqueios atuais vêm precisamente de gerações instaladas, hoje idosas, que na juventude viveram épocas fáceis.
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leitores atentos
RENOVE A SUA ASSINATURA
Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2012. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Meus amigos, Os meus cumprimentos a todos. É sempre com muito carinho e amor quando posso fazer algo pelos outros. Para que os nossos missionários possam levar alimento para o corpo e para a alma de tantos que sofrem. Todos nós temos de ajudar de qualquer maneira. Só o Senhor da messe nos pode dar força para combatermos tantos males por todo o universo. Vou enviar por vale o pagamento dos
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É UM PRAZER LER A REVISTA
Queridos irmãos em Cristo, Junto envio um cheque com o valor de 280,00€, para uma bolsa de estudos e para o pagamento da assinatura do ano 2011-2012 e 2013. Penso assim ficar em dia. Obrigado pelo prazer que nos concedem com o vosso trabalho. Oxalá que sejam iluminados pelo Espírito Santo e continuem essa missão. Fernando
TRABALHO MISSIONÁRIO
Caros amigos, Desculpem por só agora renovar a minha assinatura. Obrigada por continuarem a enviar-me a revista de que gosto muito e através da qual me vou apercebendo do grande trabalho missionário da Consolata. Despeço-me, por hoje, muito grata pela atenção. Gabriela
COMPROMISSO
Junto a esta missiva remeto um cheque para pagar mais um ano a FÁTIMA MISSIONÁRIA. Queria ainda aproveitar para felicitar toda a equipa que trabalha para o produto final que é a nossa revista, que chega a nossas casas todos
calendários. É pouco, mas sempre vão a mais umas moedas que as pessoas fazem esse favor de dar para as missões. Natália
Não tenho a honra de conhecer pessoalmente a dona Natália, mas, como se costuma dizer: “Pelo andar da carruagem, logo se adivinha quem lá vai dentro”. Fazendo as contas e lendo os nossos registos, ficamos a saber que esta senhora se identifica muito bem com a Consolata e com a revista: É assinante com tudo pago a tempo e horas; é colaboradora e recolhe
os meses. Os textos são muito lindos e muito acessíveis, além de que tratam de temas muito interessantes, quer religiosos, quer sociais. Mês a mês, não permitem que o chamamento de Deus esbarre com uma porta fechada; pelo contrário, mês após mês, fazem-nos recordar o nosso compromisso de batizados. Bem hajam! Helena
PARABÉNS
Ex.mo Senhor Diretor, Venho por este meio, enviar-lhe os meus cumprimentos e desejar que na vossa honrosa, mas também espinhosa missão, especialmente para os missionários, que tudo vos corra bem, com a graça de Deus e com os vossos esforços. Continuo a dar-vos os meus sinceros parabéns pela vossa revista, a qual leio sempre que a recebo, pois é maravilhosa. Junto envio um cheque para pagar a revista e o restante para o que quiserem aplicar. Rosa
o pagamento de 30 assinantes que fazem parte da sua lista; e, em terceiro lugar, vende 50 calendários todos os anos. E não se esquece de agradecer, em nome da Consolata, algumas moedas que as pessoas dão a mais, para as obras dos missionários. Estes pormenores mostram o seu jeito de ser missionária e o grande amor que ela tem à causa em que se empenha. MC
horizontes
BELA FAZ A DIFERENÇA TEXTO TERESA CARVALHO ILUSTRAÇÃO FILIPE LEAL DE FARIA O pai não sabia ler mas era um pedagogo nato e isso refletiu-se na forma como Bela foi educada. Possuía uma energia que a punha em constante atividade, decidida nos seus objetivos. Para a ocupar nas primeiras horas do dia enquanto os irmãos dormiam, o pai ofereceu-lhe um espaço da horta, propondo-lhe que aí plantasse e cuidasse de alfaces. Em pouco tempo as alfaces de Bela eram vendidas no mercado criando nela um respeito e paixão pelo esforço no trabalho realizado. Aprendeu que era “capaz” e os desafios que sonhava em atropelo transformaram-se em projetos de futuro. A determinação de Bela e a alegria descoberta no trabalho, a criatividade fácil, a descoberta do encanto da vida nas coisas e
acontecimentos mais simples foram moldando o seu crescimento e impelindo-a a partilhar a alegria de viver com quem a rodeava. Hoje é professora, apaixonada pelas crianças que educa e ensina. Porque acredita no poder que cada criança tem em si, cria situações onde o potencial de cada uma se expressa e permite-lhes conhecerem-se nas forças que possuem e que lhes devolve uma estima e confiança que as torna capazes de galgar precipícios. Nem sempre é bem entendida e aceite por outros colegas, mas isso não a demove dos seus princípios. Foi o que aconteceu ao longo de 20 anos e também no ano passado com os seus 22 alunos do 3º ano: Foi-lhe confiada uma turma de adolescentes experimentados no fracasso, desencantados consigo mesmos e com a certeza de que seria mais um ano “do mesmo”: desafiando normas, contestando autoridade; alarmando colegas e professores, sentindo o poder da rebeldia. Bela tratou-os como pessoas inteligentes e responsáveis que acreditava serem. Desenvolveu
com eles projetos de grupo, criaram atividades para angariar fundos para uma viagem no final do ano, ensaiaram músicas e teatro para as festas da escola, fizeram visitas de estudo, debateram, fizeram-se ouvir, escutaram, riram, brincaram, aprenderam, envolveram-se, uniram-se, ajudaram-se, partilharam, encontraram-se enquanto pessoas, encontraram o respeito por si mesmos e pelos outros, cresceram. Ontem, Pedro, de 14 anos, que aprendera a ler durante este ano, enviou um e-mail à professora Bela e a todos os colegas. O e-mail dizia: «‘pa’ fazer o trabalho que a professora mandou, pesquisei um site onde explicam bem a importância da amizade. Bué da fixe. Mando ‘pa’ vocês verem». Bela leu o e-mail. Sorriu. Via em Pedro e na turma a confirmação de que a sua opção pela Pessoa, no seu valor, na sua sede e capacidade de realização é o caminho que quer continuar a percorrer.
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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA
INDÍGENAS EM RISCO DE EXTINÇÃO NA COLÔMBIA Muitos dos 102 povos indígenas colombianos estão
ameaçados de extinção devido aos conflitos e à fome na Colômbia. São povos atingidos por várias chagas, como a baixa taxa de natalidade, conflitos armados, pobreza, narcotráfico, exploração das florestas e extração de minerais. Os dados disponíveis mostram que mais de 60 por cento destes povos vivem em condições de pobreza estrutural e cerca de metade encontra-se em níveis baixos de verdadeira miséria. A taxa de desnutrição afeta mais de 70 por cento das crianças. A taxa de mortalidade é superior à média nacional, 61 contra 41 sobre cada mil habitantes. A situação mais extrema regista-se entre as populações das florestas remotas da bacia do Amazonas e do Orinoco, onde vivem 32 povos colombianos em perigo de extinção.
300 MIL CRIANÇAS SEM DIREITOS NAS HONDURAS O orçamento de muitas famílias das Honduras é
arredondado com trabalho infantil. Mais de 300 mil crianças pobres veem-se obrigadas a trabalhar para ajudar as suas famílias. Estão sujeitas a violências, maus tratos e violação dos próprios direitos de seres humanos. As crianças nascidas em zonas rurais têm menores possibilidades, devido à pobreza e miséria, que atingem várias regiões do país. Mais de 6.000 menores foram mortos nos últimos 10 anos, segundo dados da organização humanitária «Casa Alianza». Centenas e centenas de crianças são vítimas da violência, da exploração sexual e do consumo de drogas. A pobreza no país já atinge mais de 60 por cento dos 8,2 milhões de hondurenhos. As desigualdades económicas, a insegurança e a falta de um sistema educativo geram violência e pobreza.
Lugares Santos
TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata português
em Roma
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Entre março e setembro deste ano, para além de Fátima, foi-me dado poder visitar vários lugares sagrados entre os quais Jerusalém, Roma e Compostela, e até mesmo grande parte daquela a que com razão chamamos TERRA SANTA, a terra onde Jesus por nós viveu, morreu e ressuscitou. Nem por isso deixei de acreditar que Deus está presente em toda a parte e não só em certos “lugares santos”, pouco se ganhando portanto em pisar solo sagrado se o nosso coração estiver endurecido. Já nos meus tempos de jovem seminarista quando diariamente nos era lido um trecho da Imitação de
António Mota Pereira
Georgina Duarte
ÀS IGREJAS DA EUROPA FALTA DUAS VIDAS MARCADAS PELA SOLIDARIEDADE PAIXÃO MISSIONÁRIA “A crise europeia não é apenas económica, mas No mesmo dia, 24 de agosto, a Família da Consolata sobretudo antropológica”, afirma o colóquio sobre questões sociais das Igrejas da Europa, reunidas em Nicósia, no princípio de setembro. O comunicado final dos bispos europeus manifestaram-se preocupados com “a falta de uma visão antropológica e social centrada na solidariedade e na subsidiariedade”. Os critérios centrados apenas no lucro e no rendimento não podem condicionar o agir humano. A Igreja tem o dever de iluminar esta realidade de crise e precariedade “com os princípios da sua doutrina social, renovando o seu compromisso no âmbito social e cultural com a luz e a força da fé”. A Europa precisa do cristianismo e os cristãos “têm uma responsabilidade especial para o futuro da Europa”. É importante o diálogo da fé e das ciências para que “os intercâmbios culturais, sobretudo entre jovens europeus, consigam projetos de longo alcance”. Cristo me tinha ficado gravado na memória o aviso do autor: “Aqueles que andam em muitas peregrinações raramente se santificam”. Estou especialmente grato pelos três meses vividos na terra de Jesus e pelos próximos tempos que passarei em Roma, onde São Pedro e São Paulo e tantos outros santos deram o supremo testemunho do martírio. Aqui e não no Quénia sou agora chamado a viver a minha vocação missionária e sei que não é fácil ser missionário em Roma. Rezai por mim que eu também vos não esquecerei especialmente durante outubro o mês missionário.
perdeu a presença terrena de dois destacados membros: Georgina Duarte e António Mota Pereira. Ambos foram tocados pelo fogo da missão que transformou as suas vidas. Georgina Duarte, conhecida por Gina, foi marcada pelo espírito do fundador dos Missionários da Consolata, beato José Allamano, em Turim, Itália, quando passou longas horas da noite em oração diante do seu túmulo. Regressou a Portugal fortificada na certeza de que Deus a chamava. Reuniu algumas colegas e amigas, e com elas partilhou o seu ideal. Nasceu assim na sua paróquia da Portela, em Lisboa, o movimento das Mulheres Missionárias da Consolata, que ela sempre acompanhou, guiada pelo ideal de ser missionária-eucarística-mariana-consoladora. Já António Mota Pereira ficou profundamente marcado por uma ação de voluntariado na Guiné-Bissau. Dirigida pelas Missionárias da Consolata, a missão de Empada necessitava de um técnico para fazer a instalação elétrica nas salas de aula da escola secundária. Apetrechado com o saber e a experiência profissional, que adquirira no Metro de Lisboa, Mota Pereira partiu para Empada. Além de atender de maneira competente ao trabalho que lhe era pedido, ainda lhe sobrou tempo para contactar comunidades, tecer relações e criar amizades que se mantiveram bem vivas ao longo de 18 anos. Apesar da doença que o vitimou, ainda sonhava voltar à missão para poder servir e, sobretudo, alimentar a sua paixão missionária. O laicado missionário da Consolata perdeu dois grandes faróis, mas tem neles um modelo e um estímulo para a sua vocação.
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a missão hoje
O tema da adaptação litúrgica foi o que reuniu o maior consenso em África
NOS BASTIDORES DO CONCÍLIO VATICANO II
ASPIRAÇÕES E PROPOSTAS DO CONTINENTE AFRICANO O contributo da Igreja de África para o Concílio Vaticano II foi determinante para a discussão de vários temas. No ano em que se comemora o cinquentenário de uma das iniciativas históricas para a renovação da Igreja, a FÁTIMA MISSIONÁRIA foi aos arquivos e preparou uma série de textos que publica a partir desta edição para dar a conhecer as posições do episcopado africano texto DIAMANTINO ANTUNES foto ANA PAULA 10
O anúncio da convocação do Concílio teve um forte impacto em África. No dia 25 de janeiro de 1959, o Papa João XXIII deu a conhecer o seu projeto de convocar um Concílio. Alguns meses depois, confiou a sua preparação a uma comissão que foi incumbida de entrar em contacto com os bispos para obter propostas e temas para debate, a serem inseridos nos documentos de trabalho do encontro. A consulta envolveu 259 bispos de África, dos quais na altura apenas 36 eram africanos. A análise das propostas enviadas permite-nos constatar que a convocação da assembleia foi acolhida com entusiasmo. Pela primeira vez, a África subsariana estaria presente num Concílio e ainda por cima representada por alguns bispos autóctones. Vista a situação do continente e das suas Igrejas locais, um Concílio com características pastorais e ecuménicas era oportuno e representava uma ocasião histórica para a renovação da Igreja.
Adaptação litúrgica
As propostas do episcopado africano oferecem uma amostra das preocupações sentidas pela Igreja Católica em África naquela altura. Os temas emergentes nas suas propostas foram os seguintes: a adaptação litúrgica, o papel dos leigos na Igreja e a
fio da história colegialidade episcopal. O tema da adaptação litúrgica foi o que reuniu maior consenso e recolheu maior número de propostas concretas. A adaptação, o respeito pela cultura dos povos a evangelizar e a sua incorporação no cristianismo, foi um tema omnipresente nas propostas feitas pelo episcopado africano. Num contexto de grandes
O tema da adaptação litúrgica foi o que reuniu maior consenso e recolheu maior número de propostas concretas transformações sociopolíticas – estávamos no início da independência de muitos países africanos – sentia-se a necessidade de uma adaptação imediata e o mais ampla possível. Tornava-se por isso urgente despojar o cristianismo do seu revestimento ocidental através de uma efetiva adaptação à realidade africana. A maioria das propostas de adaptação solicitava um maior uso das línguas locais e a introdução de símbolos, gestos e músicas africanas na missa.
Estimular a africanização
Além das propostas dos bispos, a Igreja africana preparou-se para o Concílio Vaticano II também através de algumas iniciativas de carácter teológico-pastoral protagonizadas por sacerdotes e leigos africanos empenhados em congressos e publicações. O Concílio era sentido como uma excelente oportunidade para estimular a africanização da Igreja. Concluindo, podemos afirmar que a Igreja Católica em África, através da atividade dos seus pastores e do empenho dos seus fiéis, acolheu com agrado a convocação do encontro eclesial, encarou com redobrado interesse este importante acontecimento e esforçou-se por fazer ouvir as suas propostas, sinal de uma Igreja viva e participativa.
A adaptação, o respeito pela cultura dos povos a evangelizar e a sua incorporação no cristianismo, foi um tema omnipresente nas propostas feitas pelo episcopado africano
PERFIL DO REITOR texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO O padre Amílcar Martins Fontes, ao tempo reitor do santuário, era um homem bom. Sorridente, simples, de trato afável e acolhedor. O padre De Marchi, não teve a mínima dificuldade em travar amizade com ele. Ambos tinham boas credenciais. O padre Amílcar era reitor de um grande santuário e acolhia todos os anos muitos milhares de peregrinos. Além disso tinha uma basílica em construção e várias outras obras em curso. Por sua vez o padre De Marchi trazia de Turim (Itália) ordem para fazer em Portugal, neste caso em Fátima, uma fundação nova do Instituto a que pertencia. Era o seminário para a formação de missionários portugueses. Ora se entre estes dois homens havia algumas semelhanças havia também muitas diferenças. Para já, o padre Amílcar lidava com milhões de escudos e o padre De Marchi tinha obras para fazer, alunos para sustentar e não tinha sequer um centavo para gastar. O padre Amílcar encostava-se às ofertas dos peregrinos e o De Marchi encostava-se à providência divina e à proteção de Nossa Senhora. Deste primeiro encontro surgiu entre os dois uma profunda amizade que durou toda a vida. Outubro 2012
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a missão hoje
O SÍNODO E A NOVA EVANGELIZAÇÃO Encontro de bispos em Roma é um tempo de graça, uma reunião de reunidos. Não é uma assembleia para um círculo fechado, para nos deleitarmos, envaidecermos e vangloriarmos por termos sido escolhidos texto ANTÓNIO COUTO* foto ANA PAULA
deleitarmos e, porventura, até nos envaidecermos e vangloriarmos por termos sido escolhidos, mas para percebermos bem que a nossa vocação de reunidos por graça, abre necessária e gozosamente para a nossa missão de irmos pelo mundo inteiro chamando todos os irmãos para esta reunião gozosa. Só quando estivermos todos reunidos, poderemos compreender o alcance desta reunião, e celebrar excessivamente esta Alegria. Salta à vista que viver «em sínodo» é a vocação e a missão da Igreja peregrina e paroquial (Ef 2,19), sendo que pároikoi traduz no grego dos LXX o termo tôshabîm (hóspedes) do Texto Hebraico.
Reunirá em Roma, de 7 a 28 de outubro próximo, a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, para estudar o tema candente que é «A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã». Sínodo (sýnodos) significa fazer juntos o caminho. Mas não é «juntos», porque de algum modo nos juntamos ou somamos, e muito menos o «individualmente juntos», uma das expressões fortes usadas por Zygmunt Bauman para retratar a nossa sociedade de hoje. É um «juntos» novo, porque sabemos e sentimos que foi Deus quem nos chamou, nos escolheu e nos reuniu. É, portanto, uma reunião de «reunidos» (êthroisménoi: part. perf. pass. de athroízô), bem documentada no Evangelho de Lucas 24,33; é um «juntos», que não é obra nossa ou do acaso, mas de Deus, que nos escolheu, chamou, e reuniu. Mas será então que Deus ama, chama, escolhe, reúne alguns, e não todos? Não nos é acessível e permitida senão uma resposta: aqueles que são amados, chamados, escolhidos e reunidos por graça, são-no para se porem ao serviço dos outros.
Impõe-se dizer, no entanto, que aquilo que me parece estar mais em causa na expressão «Nova
Um sínodo é, portanto, um tempo de graça, uma reunião de reunidos, não para em círculo fechado nos
António Couto, presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização
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Evangelização» não é tanto a novidade de métodos e expressões, mas a fidelidade ao Senhor Jesus, ao seu estilo, ao seu modo de viver, de fazer e de dizer: Dom total de si mesmo num estilo pobre, despojado, apaixonado, feliz, ousado, próximo e dedicado. Passa por aqui sempre o caminho e o rosto da Igreja, que tem de fazer a memória do seu Senhor, configurando-se com o seu Senhor e transfigurando-se no seu Senhor. Passa por aqui o nosso verdadeiro exame. *bispo de Lamego texto conjunto MISSÃOPRESS
destaque
BELO MONTE: A TERCEIRA MAIOR BARRAGEM DO MUNDO
AMAZÓNIA A SONHADA E A COBIÇADA texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA O Supremo Tribunal do Brasil autorizou, no final do mês de agosto, o retomar dos trabalhos da Barragem de Belo Monte, no rio Xingu, na Amazónia. Este é o mais recente culminar de mais de trinta anos de avanços e recuos na decisão de construir a terceira maior barragem do mundo. Mais do que as indecisões de um Brasil moderno, ela representa um conflito do mundo contemporâneo, entre a busca de recursos para o desenvolvimento, o respeito pela natureza e pelos direitos dos povos à sua cultura, tecida no lugar que habitam desde tempos imemoriais. O Brasil vive hoje um dos melhores momentos da sua história: possui a paz interna e externa, conseguiu a estabilidade das instituições políticas, é um exemplo no mundo de uma cultura multicultural forte, tem uma economia em franco crescimento, garantiu a autossuficiência em termos alimentares e energéticos, detém uma das maiores reservas florestais e de água em estado líquido do mundo.
A barragem no Rio Xingu vai afetar várias comunidades indígenas
A construção da Barragem de Belo Monte faz parte deste Brasil contemporâneo em crescimento, mas também cada vez mais a necessitar de recursos. Em causa está a construção da terceira maior barragem do mundo a seguir a Três Gargantas, na China, e a Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai. A barragem, que ficará concluída em 2014, orçará em 6,9 mil milhões de euros e produzirá cerca de 11 por cento de toda a potência instalada no Brasil. Considerada fundamental pelas autoridades federais para garantir a energia elétrica de que o Brasil
pondo em perigo o sustento de populações indígenas, como a sua cultura, intimamente ligados à vida do rio. Embora a Constituição brasileira garanta o uso das terras indígenas às tribos que nela vivem e a lei exija que a exploração dos recursos deva ser objeto de uma consulta aos povos envolvidos, estes queixam-se que não apenas não foram escutados, como as capacidades energéticas da barragem serão utilizadas para intensificar mais a exploração da rica região da Amazónia e consolidar modos de vida que nada têm a ver com o seu bem-estar. Durante cerca de trinta anos, as
... [a barragem] representa um conflito do mundo contemporâneo, entre a busca de recursos para o desenvolvimento, o respeito pela natureza e pelos direitos dos povos à sua cultura, tecida no lugar que habitam desde tempos imemoriais necessita para se desenvolver, a barragem, com cerca de 35 metros de altura e quatro quilómetros de extensão, inundará uma área de cerca de 440 quilómetros quadrados, afetando 66 municípios e 11 regiões indígenas. O Xingu, com mais de dois mil quilómetros de extensão, é um afluente do rio Amazonas e nas suas margens vivem mais de 350 mil pessoas, 15 mil das quais são povos indígenas.
discussões entre o Estado e os promotores da barragem, por um lado, e os ambientalistas, universitários e representantes dos povos indígenas por outro, obrigaram à revisão do projeto, mas nunca conseguiram travar aquele que poderá ser o ponto de viragem de um modelo de desenvolvimento, que não se compraz com a riqueza tranquila da Amazónia e dos povos que nela vivem.
Inundando a montante, a barragem secará também o rio a jusante, Outubro 2012
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atualidade
CONFLITO Minorias temem ataques dos rebeldes
CRISTÃOS DA SÍRIA COM MEDO DO FUTURO Divididos numa dúzia de igrejas e contando com apenas um em cada dez habitantes do país, os cristãos sentem-se ameaçados numa terra que há dois mil anos é a sua. Suspeitos de apoiarem o regime de Assad, tal como as outras minorias, olham com receio para os rebeldes, onde sobressaem grupos salafitas defensores de um Islão rigoroso. Assusta-os que a derrocada de um ditador laico se transforme numa tragédia para a comunidade, numa repetição possível do caos que se seguiu à queda de Saddam, no Iraque texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA Os combates na Síria chegaram em agosto às imediações de Bab Touma e Bab Charqi, dois bairros cristãos de Damasco. Entretanto, também em áreas de Alepo habitadas por
Cristãos ortodoxos da Síria rezam pela paz numa igreja em Damasco
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membros da comunidade cristã, como o bairro de Jdéidé, o conflito entre os rebeldes e o regime de Bashar al-Assad já se fez sentir, mostrando que ninguém consegue
passar ao lado da guerra civil síria, por maior que seja o seu desejo de neutralidade. Sendo apenas um décimo dos 22 milhões de habitantes do país árabe, os cristãos habituaram-se a manter-se à margem das grandes lutas pelo poder, como esta agora que começou em março de 2011 como mais uma exigência de democracia inspirada pela Primavera Árabe e se transformou, em grande medida, num desafio da maioria muçulmana sunita aos alauitas, corrente do xiismo que fornece o essencial da liderança política e militar do atual regime, incluindo o presidente Assad. “As revoluções nunca nos trazem vantagens”, alertava há poucas semanas o metropolita siríaco de Alepo, monsenhor Yohana Ibrahim.
Em declarações ao jornal francês ‘Le Figaro’, este responsável de uma dúzia de igrejas do país explicava que “a situação dos cristãos da Síria é um paradoxo. A nossa história
O cristianismo na Síria remonta ao século I. Foi na estrada de Damasco que o futuro São Paulo se converteu e quando os conquistadores muçulmanos chegaram no século VII a região estava pejada de igrejas é a de uma constante adaptação a situações perigosas, sobre as quais não temos qualquer poder[...]. O peso dos cristãos da Síria é tão fraco que sofremos há séculos a lei do mais forte[...]. A cada mudança de regime, perdemos tudo o que a geração anterior construiu”. É este medo do futuro que tem marcado toda a comunidade nestes 18 meses de conflito, e apesar de haver alguns cristãos nas fileiras da oposição, a comunidade é tida como pró-regime, agarrada até ao desespero à proteção que os Assad (Bashar e também o seu antecessor e pai Hafez) sempre deram às minorias. Em situação semelhante estão os drusos, mais uma corrente minoritária do Islão. Mas ao contrário das outras minorias, os cristãos não possuem um reduto onde se sintam protegidos. Muitos são citadinos, os restantes vivem em zonas rurais como o Vale dos Cristãos, perto de Homs, onde se situa o Crac des Chevaliers, castelo que relembra a passagem dos Cruzados pela Terra Santa. O cristianismo na Síria remonta ao século I. Foi na estrada de Damasco que o futuro São Paulo se converteu
e quando os conquistadores muçulmanos chegaram no século VII a região estava pejada de igrejas. Sob o califado dos Omíadas, Damasco tornou-se um dos centros do Islão e desde então a Síria teve sempre uma maioria de muçulmanos. Libertada do Império Otomano em 1918, a Síria esteve sob domínio francês até 1946. No novo país independente, muitos cristãos se destacaram, como Michel Aflak, campeão do panarabismo e fundador do Partido Baas, que é ainda o de Assad. E se Aflak acabou por morrer exilado no Iraque, onde Saddam Hussein liderava outro ramo do Baas, outros cristãos continuaram em lugares de destaque, como o ministro da Defesa nomeado pouco depois do início da insurreição, o general Dawoud Rahja. Apresentado pelo regime como exemplo da diversidade cultural, Rahja foi morto num atentado à bomba em julho. Não se conhecem massacres de cristãos na guerra civil síria, apesar de relatos de expulsões, sobretudo em Homs, por parte de grupos salafitas que integram o chamado Exército Livre Sírio. Mas o passado recente do Médio Oriente assusta uma comunidade que viu como no vizinho Iraque a queda de Saddam, um ditador laico, trouxe violência contra os cristãos, com atentados até a igrejas. E que olha assustada também para o cerco no Egito aos coptas, que se sentem cada vez mais discriminados.
comunidades. Mas há também quem não esqueça que certas figuras cristãs, como o primaz da Igreja Siríaca Ortodoxa, Ignace Zakka Ier Iwas, tomou claramente o partido do regime ao declarar em fevereiro à agência russa Novosti que a revolta era “fomentada do exterior e não por membros da sociedade síria”. A realidade da relação com Assad é mais complexa. A imprensa francesa denunciou situações em que o regime queria distribuir armas aos cristãos para formarem uma milícia, com os jovens a recusarem. E há também relatos de repressão acrescida sempre que um rebelde se revela pertencer a uma das igrejas. Em vésperas da chegada de Bento XVI ao Líbano, vizinho da Síria e com 40% de cristãos, o patriarca da Igreja Maronita dizia ao jornal de Beirute ‘L’Orient- Le Jour’ que os cristãos da Síria não eram apegados ao poder mas sim à estabilidade. “Eles não estão ligados ao poder, mas têm medo do que possa vir a seguir”, disse monsenhor Béchara Rai. No Líbano, entre 14 e 16 de setembro, o Papa apelou à paz na Síria e à proteção dos cristãos árabes. *Jornalista do Diário de Notícias
Tanto os líderes rebeldes como os Irmãos Muçulmanos, que se adivinha virem a liderar o país num pós-Assad, têm assegurado aos cristãos que a Síria continuará a ser pátria de todas as suas Outubro 2012
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dossier
ANO DA FÉ Testemunhos de encontro e convicção
“DEVEMOS SAUDAR A CORAGEM DOS CATÓLICOS CHINESES” Homem fraterno, de coração aberto a todos os povos e culturas, Henri Tessier, arcebispo emérito de Argel, esteve em Portugal, a convite dos Missionários da Consolata para várias conferências, no âmbito do tema da congregação para o próximo ano pastoral: «Fé, Missão e Martírio». Em entrevista à FÁTIMA MISSIONÁRIA, manifestou-se esperançado no reforço do diálogo entre a Igreja católica e as outras religiões. E alertou para o facto do extremismo nos países africanos nem sempre partir de fundamentalistas islâmicos, mas também de certas correntes católicas texto FRANCISCO PEDRO | DARCI VILARINHO | JULIANA BATISTA fotos ANA PAULA
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A longa experiência como arcebispo coadjutor e titular em Argel, associada aos estudos que fez sobre o mundo árabe e islâmico, fizeram de Henri Teissier um dos maiores especialistas da atualidade nas relações entre cristãos e muçulmanos. Na sua opinião, o diálogo inter-religioso passa muito pela criação de encontros de partilha, dirigidos sobretudo aos jovens FÁTIMA MISSIONÁRIA Na apresentação em Portugal do seu livro baseado no diário do monge Cristophe Lebreton, realçou a amizade e a partilha da oração como elementos essenciais ao diálogo inter-religioso. Isso quer dizer que o trabalho fundamental deve ser feito nas bases? Henri Teissier Penso que devemos procurar estabelecer o diálogo entre cristãos e as pessoas de outras religiões a todos os níveis. Naturalmente é preciso poder estabelecer o diálogo ao nível dos responsáveis das comunidades, porque poderão encorajar os seus fiéis a entrar neste diálogo, mas é também importante fazê-lo na base, entre as pessoas simples, através dos encontros de todos os dias. Às vezes há maior sinceridade nos diálogos feitos na base, com pessoas mais simples, do que com os responsáveis, que por vezes entram no diálogo por razões de política geral ou de aproximação interessada. Por isso, é necessário encorajar este diálogo a todos os níveis. É preciso encontrar pontos em comum e ocasiões de encontro que proporcionem esta partilha, Outubro 2012
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sobretudo entre os jovens, porque os jovens estão desejosos de encontrar culturas e outras convicções, através da ação e da proclamação do reino de Deus. FM Como encara o crescimento do movimento islâmico nos países africanos? HT Até hoje o Islão Africano tinha conhecido uma evolução distinta dos países árabes. As sociedades africanas tinham a sua vitalidade própria, mesmo nos países onde os cristãos eram mais numerosos. As igrejas locais eram respeitadas, tinham uma palavra a dizer na sociedade. Acontece que, há 50 anos, vários jovens partiram para universidades árabes e voltaram para os seus países com uma ideia da evolução da religião muçulmana, que é a ideia da sociedade árabe. É pena porque os países árabes têm uma identidade na qual o Islão e a cultura se misturam, uma vez que o Islão foi revelado em árabe, o Alcorão foi escrito em árabe e, por conseguinte, a distinção entre a sociedade, a cultura e a
E não devemos considerar apenas o extremismo de certas correntes do islamismo, mas também, infelizmente, o de certas correntes católicas
Henri Teissier tem 83 anos. Nasceu em França e foi para a Argélia com a família aos 16 anos. Hoje, considera-se cidadão argelino. Enquanto arcebispo de Argel, acompanhou o drama dos monges trapistas do Mosteiro de Tibhirine, que acabaram por ser raptados e mortos, em 1996. Para dar a conhecer melhor este exemplo de martírio, publicou um livro – traduzido para português pela Consolata Editora – baseado no diário de Christophe Lebreton, um dos religiosos assassinados. O drama deu origem ao filme «Dos homens e dos deuses» 18
religião nos países árabes não é a mesma que nos países africanos. Estamos muito preocupados com esta evolução sobretudo na Nigéria onde há cerca de 160 milhões de habitantes e os cristãos são tão numerosos como os muçulmanos. Os cristãos estão mais presentes no centro e no sul e os muçulmanos no norte. Mas o grupo de extremistas, que se desenvolve principalmente no norte e que acolheu as ideias fundamentalistas do mundo árabe, não representa o Islão da Nigéria. Vamos esperar que a maioria dos muçulmanos da Nigéria possa fazer compreender aos extremistas que eles prejudicam o país. E não
devemos considerar apenas o extremismo de certas correntes do islamismo, mas também, infelizmente, o de certas correntes católicas. FM Que análise faz ao clima de tensão entre as autoridades chinesas e a Igreja católica? HT A relação entre a China e a Igreja católica é um processo longo e a Santa Sé está muito atenta a esta evolução. Porque a relação entre a China e o resto do mundo continua a desenvolver-se. Podemos portanto esperar que os responsáveis da sociedade chinesa acabarão por compreender que a liberdade da Igreja não é um atentado contra a soberania do Estado chinês. Mas é preciso recordar que as dificuldades que existem entre o Estado chinês e
a Igreja não são exclusivas das relações entre a China e Igreja católica. Há problemas que tocam toda a sociedade chinesa. Existem as mesmas dificuldades entre o Estado chinês e as associações de defesa dos direitos humanos, e entre o Estado chinês e os muçulmanos. Devemos, por isso, saudar a coragem dos nossos irmãos católicos chineses e contar com a sabedoria da Santa Sé para que a Igreja possa trabalhar segundo a sua tradição, particularmente na questão da
escolha dos bispos, para que a rutura não seja consumada entre o Estado chinês e a Igreja católica. E o futuro será certamente a liberdade de consciência. É uma evolução mundial que acabará por atingir o Estado chinês como atingiu um dia os países de Leste da Europa, o mundo comunista soviético. Toda a entrevista em www.fatimamissionaria.pt
Devemos, por isso, saudar a coragem dos nossos irmãos católicos chineses e contar com a sabedoria da Santa Sé para que a Igreja possa trabalhar segundo a sua tradição, particularmente na questão da escolha dos bispos, para que a rutura não seja consumada entre o Estado chinês e a Igreja católica
Em cada livro, o arcebispo fez uma dedicatória personalizada
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Irmã Margarida Maria do Menino Jesus, madre superiora do Carmelo de São José
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“A ETERNIDADE COMEÇA AQUI” Vivem em clausura e completamente entregues ao ‘diálogo’ com Deus. As Irmãs Carmelitas Descalças, do Carmelo de Fátima, são cada vez mais solicitadas pelos fiéis para rezarem por eles. Os crentes acham que estão mais perto do Céu O jornalismo tem destas coisas! Em reportagem, pede-se que se recolham testemunhos, perscrutem convicções, observem comportamentos, descrevam espaços, pressintam sentimentos. O pior é quando encontramos um manancial tão grande de convicção, de entrega e felicidade, que nos deixam desconcertados. Que nos deixam como que comprometidos, perante a força da mensagem transmitida e a falta de espaço para deixar fluir na plenitude tudo o que escutámos, vimos e sentimos. Feita esta introdução, entremos então no mundo de clausura das Irmãs Carmelitas Descalças, do Carmelo de São José, em Fátima. Se está a imaginar um convento banhado pela penumbra, com meia dúzia de irmãs envelhecidas, recolhidas atrás de gradões com pesadas barras de ferro fundido, esqueça. Os espaços são modernos, bem iluminados, com gradeamentos largos em alumínio, mais de metade da comunidade (21 irmãs) tem menos de 48 anos e a alegria transmitida por quem nos recebe faz-nos sentir de imediato noutro reino: o reino da fé, da oração e da entrega total
“Claro que a nossa vida pode interrogar as pessoas, por parecer tão extrema, tão radicalizada. Mas ela só se compreende por um amor muito grande que nos encheu a vida e nos preencheu o coração. Exatamente porque valorizamos o mundo e tudo o que ele tem, também nos entregamos por este mundo”
quem nós não conhecemos. A eternidade começa aqui”, sintetiza, com um sorriso contagiante, a irmã Margarida Maria do Menino Jesus, 35 anos, madre superiora do Carmelo. Os mais céticos podem ser levados a pensar que se trata de uma vida de martírio. A irmã Margarida tem outra opinião: “Claro que a nossa vida pode interrogar as pessoas, por parecer tão extrema, tão radicalizada. Mas ela só se compreende por um amor muito grande que nos encheu a vida e nos preencheu o coração. Exatamente porque valorizamos o mundo e tudo o que ele tem, também nos entregamos por
“É impressionante a quantidade de pedidos [de oração] que nos chegam todos os dias”, pessoalmente, por telefone, ou por correio electrónico, revela a religiosa este mundo”. E é precisamente esta entrega, esta ‘proximidade’ com o divino, que leva cada vez mais crentes a dirigirem-se ao convento com pedidos de oração. “É impressionante a quantidade de pedidos que nos chegam todos os dias”, pessoalmente, por telefone, ou por correio eletrónico, revela a religiosa. Tal como o bispo da diocese Leiria-Fátima, António Marto, disse um dia que as irmãs carmelitas estavam “mais perto das portas do Céu”, pela sua dedicação a Jesus Cristo, também os fiéis acreditam que as suas preces chegam de forma mais rápida a Deus. Sempre que isso acontece, Margarida do Menino Jesus aproveita para os alertar: “Só Deus sabe quem está mais perto. Se calhar, pela vocação deveríamos estar mais perto, mas nunca poderemos afirmar uma coisa dessas. Isso depende da resposta de amor que cada pessoa, no seu estado próprio de vida, dá a Deus. Ele tem um desígnio, um projeto de felicidade para cada um de nós”.
a Deus, sem querer nada em troca. “Acreditamos que nesta união e intimidade com Jesus Cristo, se pode amar, se pode fazer bem, se pode tocar até Outubro 2012
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gente nova em missão
REGRESSO ÀS AULAS Vamos aproveitar para rezar Olá pequenos missionários! Depois do stress do regresso em setembro, eis que chega o bonito e comprido mês de outubro, o mês das missões, o mês dos missionários. E como estamos todos (ou quase todos) com as pilhas carregadas das férias, decidimos aproveitar para fazer uma reflexão para contrariar esta crise económica de que os vossos pais tanto falam e que também se vê na televisão. Aqui ficam algumas ideias para ser um missionário a sério nesta altura texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO
BASES FUNDAMENTAIS PARA A FELICIDADE DE UM PEQUENO MISSIONÁRIO Saber que Deus nos ama incondicionalmente e tentar amá-Lo na mesma medida. Amar e respeitar a nossa família.
Ser amigo dos outros, não guardar rancor, não semear a violência. Respeitar os professores e os catequistas.
O QUE UM PEQUENO MISSIONÁRIO PRECISA PARA AS ALCANÇAR Oração. Família. Amigos. Escola com condições estruturais e logísticas e uma comunidade catequética forte em Cristo. Educação rica em valores sólidos no respeito sincero e fraterno para com o próximo.
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Ter condições e tempo para estudar e brincar. O que só o dinheiro compra: comida, roupa, livros, medicamentos, alguns brinquedos.
Cumprir as obrigações, ser honesto para com os outros e para com nós mesmos, por muito que nos custe. Estudar muito. Brincar muito.
COMO FAZER PARA QUE TODOS POSSAM SER FELIZES Um cantinho em casa para ter uma Bíblia e uma imagem de Jesus para a oração. Fazer o que os pais e/ou educadores nos pedem e participar em atividades em família. Ter sempre no pensamento que quando nos esforçamos para ser imagem de Jesus para os outros, a amizade é contagiante. Participar nas atividades da escola e da comunidade catequética para promover a unidade das mesmas. Contribuir com o que é possível
para os peditórios das entidades religiosas, para que todos possam ter o mesmo, doar as roupas e os livros para os “Bancos de Usados” que foram criados. É nestas iniciativas que se aprende a não desperdiçar, reaproveitar e reciclar. Fazer catequese. Todos são chamados a fazer catequese pois é a partilha da experiência de fé de cada um que enriquece a comunidade.
O POVO DE DEUS NÃO TEME AS DIFICULDADES
felizes quando o próximo não o é. O dinheiro é necessário, mas o Amor é mais importante, pois se ele estiver presente, o dinheiro não faltará a quem dele precisar. Sabemos que gostariam de ter umas calças de marca ou uma mochila da moda ou ainda um telemóvel de última geração, mas na proximidade com Deus percebemos que isso não é assim tão importante. Deus é Amor e o Amor é o que faz feliz um verdadeiro missionário.
Na História do Povo de Deus, inúmeras dificuldades interpelaram a sua caminhada. Esta crise económica é apenas mais uma. O Amor em Cristo é o melhor tónico para ultrapassar as dificuldades, pois conseguimos encontrar as soluções para os problemas. Unam-se nas vossas comunidades, mostrem iniciativa, não fechem os olhos quando o vosso coleguinha tem fome, ou não tem o que precisa para ser feliz. Nós não podemos ser
O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO
Amigo Jesus, Ajuda-me a ser um verdadeiro missionário, Não ser materialista, Fazer os outros felizes, Para que a conta mais importante seja Cortar nos bens supérfluos, Aumentar os gastos com gestos de caridade, E poupar, mas para ajudar aquele que mais necessita, E todos podemos ser felizes, Pois tu és Amor, E o Amor não está em crise. Pai Nosso...
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tempo jovem
CRESCER DÓI texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Durante o verão apercebi-me que no mundo maravilhoso das relações humanas não há ninguém que tenha direito à última palavra. Apesar de gostarmos muito de algumas pessoas, pela simpatia ou pela amizade que nos une a elas, o outro permanece sempre um mistério por conhecer. Basta ter a oportunidade de passar apenas uns dias de convívio junto das pessoas de quem gostamos. Rapidamente nos apercebemos que as costumadas horas de café, de trabalho ou de jantares não são suficientes para revelar tanto as virtudes como as poucas limitações que cada um de nós leva consigo.
A amizade quando é verdadeira deita raízes no coração e permite-nos reconhecer o amigo a partir de um simples olhar. Pelo contrário, um coração endurecido pelo frio da «pura razão» impele-nos a desviar o olhar, tornando impossível identificar o brilho dos olhos da pessoa a quem amamos «Nunca pensei que ele era assim», «faça como quiser», «não acredito, como é possível», são algumas expressões ou pensamentos que nos assaltam, quando damos conta que a pessoa que admiramos começa a revelar-se diferente.
Cabeça quente, coração frio
Quando, de repente, nos encontramos no meio de opiniões 24
desencontradas é incrível como a nossa cabeça começa a acelerar e a tirar conclusões pouco fundamentadas. A nossa fantasia e o sentimento de raiva, que brotam do nosso eu profundo, invadem-nos e acabamos por alimentar o nosso modo de pensar com juízos temerários sobre o outro. É surpreendente como um grande amigo pode tornar-se, na nossa cabeça, de um momento para o outro, um perfeito desconhecido. Uma cabeça quente pela não aceitação de que o outro é diferente, no seu modo de pensar e de agir, consegue definitivamente arrefecer qualquer coração. A amizade quando é verdadeira deita raízes no coração e permite-nos reconhecer o amigo a partir de um simples olhar. Pelo contrário, um coração endurecido pelo frio da «pura razão» impele-nos a desviar o olhar, tornando impossível identificar o brilho dos olhos da pessoa a quem amamos. Grande artimanha de uma cabeça agitada pela pura fantasia, onde o real se torna irreal e vice-versa.
Cabeça fria, coração quente
Quem está disponível a aventurar-se na arte de escutar o outro, necessita de uma cabeça fria, ou seja, livre de preconceitos mórbidos e gélidos, livre de juízos com pouco ou nenhum sentido, acelerados e esquentados. A beleza do caminho da maturidade humana é descobrir, aceitar e amar o outro como ele é na «realidade»
“Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece porque menos depende da minha subjetividade”
Aceitar o outro com virtudes e defeitos não é tarefa fácil e muitas vezes dói. Mas é importante mergulharmos nesta aventura para ultrapassar o infantilismo das nossas relações
e não como eu imagino que é ou deveria ser. Faço minhas as palavras do célebre Fernando Pessoa quando disse: “Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece porque menos depende da minha subjetividade”. O Principezinho de Saint-Exupéry ensina-nos que «só se vê com o coração». Um coração aquecido pela alegria e a dor que provoca o verdadeiro amor. Aceitar o outro com virtudes e defeitos não é tarefa fácil e muitas vezes dói. Mas é importante mergulharmos nesta aventura para ultrapassar o infantilismo das nossas relações. É importante não deixar arrefecer o coração para continuarmos a ver no outro o brilho dos olhos que refletem o verdadeiro amor e a verdadeira amizade. “Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém”. (Fernando Pessoa)
É IMPORTANTE NÃO DEIXAR ARREFECER O CORAÇÃO PARA CONTINUARMOS A VER NO OUTRO O BRILHO DOS OLHOS QUE REFLETEM O VERDADEIRO AMOR E A VERDADEIRA AMIZADE
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sementes do reino
O DOM DA FÉ E DA MISSÃO Abre-se o mês de outubro com um forte apelo à vivência da fé. “Ao proclamar o Ano da Fé, escrevi que Cristo «hoje, como outrora, envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra», lembra-nos Bento XVI na sua mensagem para o Dia Missionário Mundial texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA Fé e missão: um binómio inseparável. A fé não é uma realidade que se possa medir quantitativamente. É uma força prodigiosa de transformação e irradiação que nos vem de Deus. É uma escolha total de Deus. É o reino de Deus dentro de nós. Leva-nos a apoiar-nos exclusivamente nele e a fiar-nos inteiramente dele. Mas é também dinamismo, é ação. Convoca-nos sempre para fora de nós. É radicalmente missionária. Nunca nos agrilhoa a nada. Se a conservo só para mim, ela desaparece. Se a difundo, ela cresce dentro de mim e à minha volta. Exprime-o bem o Santo Padre na sua mensagem para o Dia Missionário Mundial, quando 26
A fé é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa afirma que “a fé em Deus, neste desígnio de amor realizado em Cristo é, antes de mais, um dom e um mistério que se há de acolher no coração e na vida e pelo qual se deve agradecer sempre ao Senhor. Mas é um dom que nos foi concedido para ser partilhado; é um talento recebido para que dê fruto; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom mais importante que recebemos na nossa vida e que não podemos guardar para nós mesmos”, porque o “encontro com Cristo como Pessoa viva que sacia a sede do coração só pode levar ao desejo de partilhar com os outros a alegria desta presença e de a dar a conhecer para que todos a possam experimentar”. Daí a necessidade de “reavivar o entusiasmo da comunicação da fé, para se promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão a perder a referência a Deus, e deste modo voltarem a descobrir a alegria de crer”. Assim entendida e vivida, a fé gera dentro de nós coisas humanamente inexplicáveis. Produz corações enamorados de Deus e apaixonados pela humanidade. Leia-se com os olhos da fé a vida de São Francisco de Assis. Entender-se-á a revolução que ele operou na Igreja e na sociedade.
Leia-se com os olhos da fé a vida da Madre Teresa de Calcutá feita de inúmeros gestos de caridade que contagiavam os mais pobres. Uma fé – soube-se mais tarde – sofrida até aos últimos dias, que se manifestava no amor concreto aos mais abandonados: “Deus tornou-se o faminto, o nu e o sem-abrigo. A fome de Jesus é aquilo que temos de encontrar e aliviar”. Leia-se aos olhos da fé a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus que neste mês recordamos como a grande padroeira das missões. Essa alma cândida, toda ardente de amor por Cristo, mas provada também ela por uma grande escuridão. Leia-se à luz da fé a vida dos mártires de ontem e de hoje. Uma fé provada e comprovada no testemunho de fidelidade a Cristo, não obstante os cruéis sofrimentos por que passaram. O seu sangue derramado fecunda ainda o terreno da nossa missão. É uma interrogação, também esta, para o mundo que se esqueceu de Deus.
intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 07
27º Domingo Comum
21 29º Domingo Comum
FIDELIDADE
SERVIR OU SER SERVIDO?
Gen 2, 18-24; Heb 2, 9-11; Mc 10, 2-16 Amor que não seja fiel e total não é reflexo do amor de Deus, não é amor autêntico. Acerca do homem e da mulher, criados por Deus à sua imagem e semelhança, Jesus afirma que os dois estão em profunda relação um com o outro, são dádiva e acolhimento mútuo, e formam juntos uma só vida no único amor. O matrimónio é assim imagem da Santíssima Trindade, companhia perfeita, vitória sobre qualquer solidão. Mistério de unidade, mas também de fragilidade. Abençoa, Senhor, as famílias humanas e cristãs de todo o mundo para que cresçam no amor e na unidade que geram vida.
14 28º Domingo Comum
Sab 7, 7-11; Heb 4, 12-13; Mc 10, 17-30
NÓS E AS COISAS
Qual é a nossa relação com as coisas? Tudo foi criado para nós, para que tudo seja usado para amar a Deus e os nossos irmãos. Amamos a Deus, reconhecendo-o e louvando-o pelos seus dons. Amamos os nossos irmãos doando e partilhando. É esta a nossa missão, porque tudo se resume nisto. A economia da posse mata a economia da dádiva. Confunde o fim com os meios transformando o homem de senhor em escravo das criaturas. A avidez da riqueza é verdadeira idolatria e o apego ao dinheiro é raiz de todos os males. Desapega, Senhor, o nosso coração dos bens deste mundo e livra-nos de toda a avidez que cega os nossos olhos.
Is 53, 2.10-11; Heb 4, 14-16; Mc 10, 35-45 Que quereis que eu faça por vós? Pergunta Jesus a Tiago e João. Há coisas que Jesus quer e outras que não quer. E deseja que nós saibamos distinguir, para que peçamos aquilo que lhe agrada a Ele, não a nós. Todo o Evangelho é uma educação dos nossos desejos e pedidos. Pedimos por vezes coisas erradas, que não são nem para o nosso bem nem para a glória de Deus. Neste Dia Missionário Mundial o que é que Ele deseja que lhe peçamos? Um coração missionário como o Seu, capaz de servir e amar como Ele serviu e amou. Concede, Senhor, pessoas deste calibre à Igreja missionária, para que a Tua palavra de salvação toque os nossos corações e chegue até aos confins da terra.
28 30º Domingo Comum
Jer 31, 7-9; Heb 5, 1-6; Mc 10, 46-52
MESTRE, QUE EU VEJA!
Jesus, o nosso Salvador, destruiu as nossas trevas e fez brilhar a vida por meio do Evangelho. “Eu sou a luz do mundo”, garantiu-nos. Esse cego à beira do caminho é a imagem da humanidade que não consegue descortinar a saída para a resolução dos seus problemas. Caminharemos sempre às apalpadelas se não nos valer a luz que vem do alto. A fé é esse dom que vem do alto e ilumina a nossa vida. Que a tua luz, Senhor, nos invada totalmente, para podermos também nós, iluminar e guiar.
Para que a celebração do Dia Missionário Mundial seja ocasião para um empenho renovado na evangelização
Uma ideia feliz Em boa hora o beato Allamano, fundador dos missionários e das missionárias da Consolata, teve a ideia de pedir ao Papa que instituísse na Igreja o Dia Mundial das Missões como acontece todos os anos em outubro. Foi uma ideia, certamente inspirada por Deus, porque até 1913 nunca ninguém tinha pensado nisso. Os resultados foram de tal maneira positivos que, de um momento para o outro, toda a Igreja começou a falar «missão». Os fiéis começaram a rezar por esta intenção e, no penúltimo domingo de outubro, nas igrejas e nas ruas abrem as bolsas e partilham os seus bens com os povos que vivem em territórios ainda não evangelizados onde, geralmente, a pobreza está aliada à falta de catequese. Hoje fala-se muito dos cristãos que, pelo facto de serem batizados, são automaticamente evangelizadores. É uma maneira de afirmar que a missão é um campo de apostolado não só para bispos, padres e freiras, mas também para leigos. Daqui surgiu, e bem, o voluntariado que leva homens e mulheres, jovens e adultos, para os campos da missão. Dá para tirar a seguinte conclusão: bendita a ideia do beato Allamano! MC
DV
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o que se escreve GUIA PRÁTICO DO CRISTIANISMO
Grande parte dos cristãos, mesmo entre os que se dizem praticantes, em termos de catequese, contenta-se com o que aprendeu em criança ou em alguma aula de moral e religião na escola ou no liceu. Ora este livro vem preencher um espaço que estará meio perdido no fundo dos conhecimentos de doutrina cristã e prática religiosa de muita gente. Autor: Paulo Costa 216 páginas | preço: 9,00€ Edições Salesianas
NA FORÇA DO DIÁLOGO
Christophe Lebreton “Este é um livro precioso. Escrito por uma das vozes proféticas da Igreja contemporânea, a de Henri Teissier, arcebispo emérito de Argel, debruça-se sobre o percurso espiritual de Christophe Lebreton, um dos monges mártires de Tibhirine. Três anos antes do sequestro e martírio, Christophe havia recebido um caderno de presente e há de utilizá-lo para redigir um diário espiritual. Uma obra desta natureza é uma espécie de mapa interior: dá-nos acesso à vida mais profunda, às suas questões e procuras, aos seus impasses e aos seus encontros. É uma forma de exposição discreta da própria alma. (…) A mão sábia de Henri Tessier ajuda-nos a folhear o diário de Christophe como quem aprofunda dimensões do nosso próprio coração” (Tolentino Mendonça). Autor: Henri Teissier 80 páginas | preço: 7,00€ Consolata Editora
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Depois da trilogia do autor: Na força da Palavra; Na força da Vida; Na força da Missão, vem agora na força do Diálogo. Era o livro que faltava. O diálogo é indispensável para se poder viver em sociedade e em paz. Tantos conflitos e tantas guerras se evitariam se houvesse diálogo, quer dizer se houvesse pontes em vez de barreiras. O autor explica tudo em pormenor em leitura fácil e agradável. Autor: Armando Soares 150 páginas | preço: 10,00€ Editorial Missões
AMOR DE MÃE
São reflexões da autora sobre as palavras da mensagem de Fátima, pronunciadas pela Virgem Maria ao longo das seis aparições. A autora põe Nossa Senhora a «explicar» o sentido literal e espiritual das suas próprias palavras e tira as suas conclusões. Autora: Maria Stella Salvador 264 páginas | preço: 12,95€ Paulus Editora
ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO
O livro divide-se em três grandes partes: Da comunicação à comunicação social; A arte da memória e a comunicação; Ritos, mitos e mitologias. “A obra foi concebida para um público curioso e culto, mas torna-se útil também como manual de consulta para alunos e professores em domínios como ciências da comunicação, etnografia, história e outros”. Daqui se depreende que existem várias maneiras de comunicar e todas elas servem para aproximar aqueles que comunicam. Autor: Alexandre Parafíta 160 páginas | preço: 16,00€ Âncora Editora
O IMPACTO DA SOCIEDADE EM REDE SOBRE A IGREJA CATÓLICA
O título diz quase tudo. Quer queira, quer não, a Igreja tem de se adaptar aos novos sistemas que lhe são propostos através da internet e formam o que se pode chamar a sociedade em rede. O autor desenvolve estes conceitos em quatro capítulos: A sociedade em rede; Os cristãos e a sociedade em rede; A Igreja católica e a sociedade em rede; Um novo modelo de Igreja e a sua função na sociedade em rede. Autor: Darlei Zanon 132 páginas | preço: 13,00€ Paulus Editora
o que se diz VATICANO II
Sim, senhores! Bem dito e bem feito! Não se poderia fazer melhor. Até mesmo a ideia de escolher os 50 olhares entre a melhor nata do mundo português foi bem acertada. Está aqui um pouco de tudo: bispos, teólogos, homens da ciência e também mulheres casadas e irmãs religiosas. E, além de tudo, o que para mim é um valor acrescentado, é que os textos são originais, escritos em português e não em traduções requentadas. Parabéns! Haja quem leia! Autores: Muitos 238 páginas | preço: 12,50€ Paulus Editora
VIRTUDES HUMANAS
O autor espraia-se ao longo de 520 páginas, para descrever e exaltar 24 virtudes que ele achou indispensáveis para a formação das crianças e dos jovens. Todas estas são direcionadas à educação e formação dos mais novos. Pretende-se com esta obra dar um instrumento valioso para ajudar os pais, professores e outros educadores na sua nobre missão de ensinar. Autor: David Isaacs 520 páginas | preço: 26,25€ Edição Diel
Cortar amarras “Para a Igreja ser Igreja, para os cristãos serem cristãos, temos todos de cortar as amarras e sair para o mar. Contentarmo-nos com uma pastoral caseirinha, circunscrita a um pequeno território (diocese ou paróquia), sem tentar o alto mar de tantos milhões e milhões de irmãos que podem entrar no barco da Igreja e, aí partilharem connosco a beleza da fé, é deixar apagar a nossa”. Artur de Matos | Boa Nova | agosto/setembro 2012
Ano letivo “Com o começo de mais um ano letivo, a sociedade enceta uma
caminhada coletiva, a que podemos chamar a grande maratona da educação. Nela participam não apenas professores e alunos, mas também os pais e todas as pessoas com as quais os educandos podem partilhar os seus problemas, sonhos e aspirações. Assim sendo, a educação torna-se um processo com histórias de relações, de caminhada com e ao lado dos educandos, numa dinâmica que envolve toda a sociedade, nos seus mais diversificados setores”. Agostinho França | Família Cristã | setembro 2012
Amado e odiado “O padre, esse desconhecido, marca de forma singular o andar
da história dos homens. Amado por uns, odiado por outros, ele atravessa a história e marca a vida e o rumo de muita gente. É este homem que precisa reencontrar-se consigo mesmo para melhor encontrar os outros. Homem do mistério ele precisa de uma contínua centralização do ministério para ser mais e melhor do que a um dia foi chamado a ser”. Rui Ribeiro | O Mensageiro | 06 de setembro 2012
No meio está a virtude “É ilusório e vão o afã de tudo querer encerrar na origem das coisas,
da vida ou do tempo. A verdade de tudo está no meio, pois que tanto o passado como o futuro, quando tomados em absoluto, não são mais que cristalização e projeção do presente. Mas é no entretempo, que é o tempo do caminhante, o tempo autêntico ou kairótico, que está a vida, pois é aí que é oportuno viver”. José Pedro Angélico | Mensageiro de Santo António | setembro 2012
Aqui e agora “Para reduzir as desigualdades e melhorar a qualidade de vida
das pessoas que vivem hoje – e para as gerações seguintes –, será necessário adotar novas formas de pensar e trazer uma cooperação global sem precedentes. A hora de agir é agora. Juntos, podemos construir o futuro com as jovens e os jovens, promover os direitos das meninas e das mulheres e proteger os recursos naturais dos quais todos nós dependemos”. VN | Vida Nova | julho 2012
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gestos de partilha António Couto – 10,00€; Anónimo – 50,00€; Olívia Tomás – 10,00€; Risete Monteiro – 50,00€; Clara Silva – 20,00€; Anónimo – 10,00€; Royeentan Patel – 20,00€; Anónimo – 20,00€; Artele Patel – 20,00€; Conceição Ribeiro – 30,00€; Cármen Ferreira – 30,00€; Anónimo – 30,00€; Anónimo – 250,00€; Anónimo (Batalha) – 20,00€; Anónimo – 20,00€; Isabel Figueiredos – 500,00€; Anónimo – 5,00€; Irene Ferreira – 35,00€; Julieta Pereira – 50,00€; Fátima Matias – 25,00€; Helena Barros – 60,00€; Anónimo – 9,00€; Dulce Marques – 18,00€; Anónimo (Lisboa) – 125,00€; Luísa Dias – 10,00€; Celeste Santos – 8,00€; Anónimo – 40,00€; Elisa Mendes – 10,00€; João Cação – 20,00€; Maria Busch – 50,00€; Teresa Rosa – 20,00€; Maria José Barbosa – 40,00€; Susana Martins – 2.500,00€. Total geral = 24.992,19€.
SOLIDARIEDADE VÁRIOS PROJETOS BOLSAS DE ESTUDO Fernando Jesus – 250,00€; Faustino Antunes – 250,00€; Irene Peredo – 100,00€; Jorge Correia – 50,00€; Esmeralda Torres – 50,00€. GURUÉ – MOÇAMBIQUE António Ribeiro – 50,00€; Anónimo – 25,00€. OFERTAS VÁRIAS Grupo de Ferreira do Zêzere – 60,00€; Isabel Pacheco – 25,00€; Tomás Rebelo – 43,00€; Conceição Monteiro – 53,00€; Adelaide Barroso – 29,00€; Rosa Costa – 50,00€; Nuno Belo –
Contactos
43,00€; Henrique Macedo – 43,00€; Joaquim Nunes – 79,00€; José Lopes – 36,00€; Laurinda Fontes – 50,00€; Elisabete Afonso – 38,00€; João Brito – 30,00€; Deolinda Santos – 33,00€; Maria Amaral – 31,00€; Conceição Policarpo – 40,00€; Manuel Inácio – 100,00€; António Ribeiro – 50,00€; António Lereno – 25,00€; Guiomar Marona – 36,00€; Deolinda Marau – 43,00€; Agostinho Gameiro – 50,00€; Luís Martins – 29,00€; Manuel Nogueira – 80,00€; Joaquim Duarte – 93,00€; Conceição Pedrosa – 29,00€; Emília Fernandes – 43,00€; Tomás Rebelo – 250,00€; Manuel Oliveira – 60,00€; Anónimo – 50,00€; Emília Sequeira
– 250,00€; Gracinda Vicente – 40,00€; Manuela Sottomayor – 60,00€; Padre Weber Pereira – 750,00€; Anónimo – 100,00€; Anónimo – 20,00€; Anónimo – 32,25€; Anónimo – 10,00€; Assunção Rei – 40,00€; Anónimo – 150,00€; Joana Barreiros – 50,00€; Clara Silva – 20,00€; Tília Raimundo – 20,00€; Teresa Aguincha – 33,00€; Amélia Lebre – 100,00€; Anónimo – 30,00€. LEPROSOS DE LICHINGA – MOÇAMBIQUE APARF Projeto número 14/2011 – 5.000,00€
Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt 30
vida com vida
COMPANHEIROS BATIAM PALMAS O padre Henrique Arnéodo nasceu em Valgrana, norte de Itália, a 16 de outubro de 1901. Aos 20 anos entrou nos missionários da Consolata e aos 25 foi ordenado sacerdote. Em 1926 partiu para as missões da Etiópia. Regressou a Itália em 1946 e, logo a seguir, partiu para a Argentina. Faleceu em 1961 texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO Quem olha para este retrato e para esta barba mal cuidada, não terá dificuldade em crer que se trata de um homem radical, um rústico, habituado a toda a espécie de trabalho e talvez também a toda a espécie de comida. Era assim mesmo que o descreviam os seus companheiros de estudo. Mas a missão não olha a estes pormenores. A missão serve-se de tudo e para todos encontra sempre o lugar certo. Além disso o padre Henrique Arnéodo não era apenas aquilo que aparentava por fora. Por dentro, era totalmente diferente. Juntando os dois aspetos e tirando a média veio a dar um grande missionário. Estudou no seminário diocesano de Cúneo até aos 20 anos, altura em que entrou na Consolata. “Nós os mais novos, referem os colegas, admirávamos muito a sua habilidade no jogo da bola e olhávamos para ele com um bocadinho de inveja. Ele, ao ver-nos assim de boca aberta a bater palmas, retribuía com um aperto de mão como se fosse um autógrafo”. Mas o Henrique não sabia só jogar bola; também se agarrava a trabalhos duros e o padre Dolza, encarregado dos despachos de caixotes para as missões, servia-se
dele para manusear os mais pesados. Entretanto chegou o dia da sua ordenação sacerdotal, 8 de fevereiro de 1925. Terminava aqui a primeira grande etapa da sua formação. A seguir viria o trabalho missionário propriamente dito. A 14 de janeiro de 1926 partiu para a Etiópia. Esperava-o uma missão difícil. O superior nomeou-o para a missão de Umbi, que ficava a 750 quilómetros da capital. Uma caravana infinda para chegar até lá. Dava para esticar as pernas e desgastar a sola de uns sapatos! Ao olhar para isto nós hoje dizemos: “Aquilo é que eram tempos! Aqueles é que eram missionários! Nós hoje, comparados com aquilo, pouco mais somos que pigmeus”. Mas enfim, cada época tem os
missionários que precisa e em cada época ser missionário é sempre uma aventura divina. Bem-hajam aqueles e bem-hajam estes. Terminada a missão em África, o padre Henrique ainda foi fazer outra comissão de serviço na Argentina com bom sucesso. Até que a doença o mandou para Itália e a morte ali o foi buscar em 1961. Ele só disse: “Missão cumprida!”.
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outros saberes
DO CHÃO NOS VEM O SUSTENTO Allamano dizia, e é verdade: “o próprio bem, para ser mesmo bom, tem de ser bem feito; se não já perdeu metade do seu valor”. O ser bem feito é como a cereja no bolo, é a perfeição texto MANUEL CARREIRA foto ANA PAULA
O espinho não pica se não for pisado
Apoio à compreensão Uma boa lição para não provocarmos os outros. O provérbio popular diz: “Deus nos livre dos maus vizinhos de ao pé da porta”. Por vezes é mesmo difícil conviver com certas pessoas. Aqui põe-se o problema: “Andar sempre em guerra, fazer
A agricultura tradicional ainda continua a ser o principal sustento de muitas famílias
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muros e fechar portas, ou andar com cuidado, sem provocar, sem retribuir algum ditarote menos conveniente? É que, o espinho mais agudo, só pica se for pisado. Macua
sai-lhes da boca, pesada e medida e põe as pessoas a refletir, a tirar conclusões e, se for o caso, a tirar apontamentos para o que lhe vier a ser necessário. F. Quevedo
Não custa nada ser bom; mas ainda custa menos ser mau
O remédio contra a fome está no chão
Apoio à compreensão Uma frase curta que diz tudo: o ótimo e o péssimo. Ser bom é fácil quando se levam as coisas a sério e se procura adequá-las a cada circunstância e momento do nosso dia. Quem quer ser reto aprende a dar uma olhadela repentina ao modo como irá fazer determinada ação. Quem não se importar com aquilo que faz, seja bom ou seja mau, isso então ainda é mais fácil. Arménio Silva
As palavras são como moedas: uma vale por muitas e muitas não valem por uma Apoio à compreensão Há os que falam barato e não dizem nada e há os que falam pouco mas dizem muito. Cada palavra
Apoio à compreensão Para os que trabalham com a enxada o único horizonte que vislumbram é o chão, a terra que pisam com os seus próprios pés. É do chão que arrancam o sustento para si próprios e para os seus: cavar, semear, capinar, mondar… O sol, a chuva, o tempo farão o resto. Por isso chama-se mandrião à pessoa que vive de costas direitas em vez de dobrar a coluna a amanhar o campo. Macua
a missão é simpática
VIVEU ENVOLVIDA E MERGULHADA NA ORAÇÃO texto NORBERTO LOURO ilustração FILIPE LEAL DE FARIA Conheci uma mulher a quem, pela assiduidade evangelizadora que imprimia à sua vida, me parece pouco defini-la como missionária. Explico-me: missionários, somos todos, todo o homem enviado por Deus sobre a terra com um projeto que o envolve e o ultrapassa: o “projeto-homem” querido por Deus. Crescer segundo esse projeto e ajudar outros a fazerem o mesmo, é reconhecer que Deus é a origem da missão (vocação), que a missão é de Deus. Pois bem, esta mulher que conheci, descobriu isso mesmo. Viveu envolvida e mergulhada na oração, donde tudo o que intuía, e o que queria fazer, nascia. Envolvia-se ela e envolvia outros. Depois “partia” e não havia nada que a parasse. Em caso de insucesso ou demora, diagnosticava logo a causa: era porque se tinha rezado pouco! Para ela, a oração era o primeiro serviço a prestar à missão.
Apaixonou-se pela missão, segundo o estilo dos missionários da Consolata. Tudo começou com um cruzamento fortuito de linhas telefónicas. Um dos seus filhos sofrera graves queimaduras com ácidos corrosivos. Na aflição quis telefonar a alguém como primeiro socorro. Mas, do outro lado da linha, responderamlhe os missionários da Consolata a quem exprimiu a sua dor, em busca de consolação. E sentiu-se consolada com este cruzamento “teleguiado” de linhas. Pela maneira como a apresentei até aqui, poderá dar a impressão de uma pessoa votada à inatividade, à passividade. Puro engano. Desta fonte inesgotável do Deus protagonista da Missão, prorrompeu uma abundância incrível de atividades e iniciativas que a transformaram de
missionária, em missão: Sempre, com tudo e com todos. Sempre, porque a missão não lhe saía da mente, da boca, nem do coração. Com tudo, porque das coisas mais insignificantes, folhas, flores e frutos da natureza, de retalhos avulsos de tecidos, tranformados por mãos de fada, dela e das companheiras, iam nascer agradáveis licores para fornecer feiras em prol da evangelização e adornar altares de todo o mundo. Com todos, porque a todos contagiava e levava a darem e a darem-se pelos outros. No seu bairro – a Portela – foi agraciada pelo impulso que deu a iniciativas sem conta a favor da missão. Essa mulher que eu conheci e jamais poderei esquecer, chamava-se familiarmente Gina (Georgina). Faleceu a 24 de agosto, no silêncio da noite. Fez-se missão na simpatia, na simplicidade e na alegria no dar. Obrigado, Gina. Tens agora o Céu e a visão de Deus para repousar, pois não quiseste ter tempo para o fazer na terra.
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fátima informa
José Policarpo, cardeal patriarca de Lisboa, preside às celebrações no santuário
PEREGRINAÇÃO DE OUTUBRO MOSTRA DOCUMENTÁRIO AOS PEREGRINOS texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA O cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, preside às celebrações da 95ª Peregrinação Internacional Aniversária, que lembram o “Milagre do Sol”, e serão subordinadas ao tema “Recebestes de graça, dai de graça”. Nesta peregrinação, haverá um momento especial que recordará aos fiéis
o cinquentenário da abertura do Concílio ecuménico Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII. A evocação ocorrerá no final da eucaristia de 13 de outubro e inclui a visualização de um documentário sobre o encontro eclesial que abriu a Igreja ao mundo. A Rádio Renascença (RR), que
MASE promove cursos
paroquial, na casa de NossaSenhora das Dores, Santuário de Fátima, de 30 de novembro a 2 de dezembro. O programa destinado também a jovens será orientado pelo padre Dário Pedroso, jesuíta e diretor do Apostolado de Oração.
O Museu de Arte Sacra e Etnologia (MASE) promove duas iniciativas de formação neste mês de outubro. “O mundo dos ícones” é o tema do curso livre de iniciação teórica e decorre das 10h às 17h30, sendo a formadora Helena Langrouva. A 27 de outubro decorre o workshop “Como utilizar as ferramentas de comunicação gratuitas”, cujo formador é Óscar Casaleiro. Os trabalhos decorrerão entre as 10h e as 17h30.
Oração e reflexão
O Movimento da Mensagem de Fátima promove um encontro de espiritualidade para responsáveis a nível nacional, diocesano e 34
Fé e Nova Evangelização
As primeiras Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil decorrem a 19 e 20 de outubro, em Fátima, no Centro Pastoral Paulo VI. O sociólogo Alfredo Teixeira e o sacerdote salesiano italiano Riccardo Tonelli são os oradores convidados dos trabalhos, cujo tema é “Fé e Nova Evangelização – ide e fazei discípulos”.
comemora as bodas de diamante (75 anos) em 2012, irá ter uma participação especial nestes dois dias. No dia 12, na abertura da peregrinação, aos pés de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, funcionários e amigos da rádio vão fazer a consagração à Virgem de Fátima. Na Eucaristia de 13, anunciarão as suas intenções, durante a Oração dos fiéis. A Igreja portuguesa assinala ainda, nesta peregrinação, a abertura do Ano da fé, decretado pelo Papa, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013.
Outubro em agenda 01 a 31 Continua aberta todo o mês a exposição missionária no Santuário 06/07 Peregrinação da Família Franciscana 09/10 Peregrinação de idosos do Movimento da Mensagem de Fátima 18/21 Encontro das Comunidades Neocatecumenais 21 Dia Mundial das Missões 27/28 Peregrinação da Legião de Maria
Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt
OUTRA VISÃO
DO MUNDO
| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관
APENAS
7 EUROS
POR ANO
É PRECISO AMAR No combate quotidiano o dia compromete. É a última guerra: é preciso aguentar até ao extremo, guardar o testemunho e vencer pelo olhar; até ao extremo é preciso abençoar, dar graças e vencer louvando, até ao extremo é preciso servir, praticar a verdade e conquistar pela amizade: para cativar o coração do homem é preciso amar. Christophe Lebreton, Aime