Sida

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ANO LVII – N.º 11 DEZEMBRO 2011 ASSINATURA ANUAL | Nacional 7,00 € l Estrangeiro 9,50 €

1 de Dezembro

Luta pela dignidade humana

Largar amarras e partir

Somália invadida pela segunda vez

Comprometer-se para toda a vida

Presépio inca ajuda a descobrir o Natal


www.fatimamissionaria.pt www.consolata.pt

PROJECTO 2012 MALOCA PARA TODOS

ELE PRECISA DE SI PARA TER UM TECTO

Em plena selva amazónica peruana, onde não há estradas e o único meio de transporte é o barco ou o hidroavião, uma equipa missionária da Consolata, composta por um casal de leigos portugueses e por um sacerdote coreano, está a tentar lançar as bases da nova comunidade paroquial de Soplin Vargas. Ali, os povos índios locais esperam pela nossa ajuda para concretizar o seu sonho: ter uma “Maloca para Todos” – um lugar de encontro e acolhimento, onde, sob um mesmo tecto a que chamam Maloca e que é o coração da vida destes povos, todos se possam reunir para privilegiar valores como a partilha, o convívio intercultural, a sensibilização e a formação humana e religiosa. Cabe-nos a nós, amigos da Consolata, ajudar a realizar o sonho de erguer nesta comunidade uma “Maloca para Todos”.

O seu contributo é uma dádiva e a sua ajuda fundamental! Pode ajudar a erguer uma “Maloca para Todos” e a tornar realidade o sonho desta comunidade de uma das seguintes formas: 1) Através de transferência bancária, fazendo a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA:

NIB: 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL

2) Se preferir, envie directamente a sua oferta para uma das seguintes moradas dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: FÁTIMA MISSIONÁRIA - Apartado 5 • 2496-908 Fátima • Tel.: 249 539 460 FÁTIMA - Rua Francisco Marto, 52 • Apartado 5 • 2496-908 Fátima ÁGUAS SANTAS - Rua Dª Maria Faria, 138 • Apartado 2009 • 4429-909 Águas Santas CACÉM - Quinta do Castelo • 2735-206 Cacém LISBOA - Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 • 1800-048 Lisboa BRAGA - Rua da Marginal, 138 • 4700-713 Palmeira BRG

Ao ajudar está também a contribuir com 30% da sua oferta para o apoio solidário a estudantes dos PALOPS residentes em Portugal e em dificuldades.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA


Esperança para além do “apagão”

Uma após outra, as nossas cidades anunciam cortes nos gastos tradicionais das festas natalícias. As poupanças tornam-se inevitáveis no momento actual e são poucos os municípios que escapam à tirania da crise. Mais dramáticos e dolorosos são os cortes a que as famílias são forçadas a recorrer. A supressão de metade do subsídio de Natal, com o qual contavam para o equilíbrio do orçamento familiar, as prestações vencidas à espera de cumprimento, o desemprego e demais problemas sociais atingem, sem dó nem piedade, a mesa das famílias. É um “apagão” geral prenunciado. Do mesmo modo, na redacção e administração, sentimos os efeitos devastadores da crise: assinantes que, ao reverem os seus orçamentos, são obrigados a cortar no que julgam menos essencial para a vida de cada dia. As obras e actividades missionárias encolhem-se com as limitações penalizadoras.

Mas o tempo não é de baixar os braços. É nas dificuldades

As boas festas que desejamos aos nossos leitores [...] passam pela capacidade de nos levantarmos e nos dirigirmos “apressadamente” até às casas dos nossos irmãos em dificuldade

que se forjam as vontades e se conseguem êxitos impensados. Quando os constrangimentos são maiores, compreendemos mais facilmente aqueles a quem, muitas vezes, falta o essencial no dia-a-dia. Com esta esperança, os missionários da Consolata têm a ousadia de apresentar um novo projecto para 2012: “Uma maloca para todos”. É a mesma ousadia que levou um casal de Leigos da Consolata portugueses corajosos, juntamente com um jovem missionário coreano também da Consolata, a plantarem a sua tenda no meio dos indígenas de Soplin Vargas, no Peru, para caminharem de mãos dadas e ajudarem a sair do isolamento e abandono em que se encontram. Como a união faz a força, convidamos os amigos a juntarem-se a nós, a esta equipa missionária, para apoiarmos os índios da floresta amazónica peruana na construção da “maloca”, casa do encontro e da comunhão.

O tempo de Advento e Natal é, para os cristãos, tempo de “visitação”. Deus visita o seu povo, enviando o seu Filho, sobretudo, aos pobres e famintos, aos mais pequenos e aos humildes. Maria encarna este espírito de visitação, colocando-se em movimento e dirigindo-se a toda a pressa para a região montanhosa da Judeia, para visitar a prima que estava para ser mãe, trilhando os futuros passos da missão de Jesus. Torna-se assim modelo da Igreja, convidada a pôr-se a caminho para visitar os homens e mulheres de hoje e a levar-lhes a esperança num mundo diferente. Somos todos convidados a viver em contínua visitação, como a viveram Maria e Isabel. As dificuldades do tempo presente requerem uma presença mais próxima e solidária. Ninguém pode fechar-se no aconchego da sua casa, indiferente aos sofrimentos e angústias do próximo. As boas festas que desejamos aos nossos leitores em tempos de crise, como estes que vivemos, passam pela capacidade de nos levantarmos e nos dirigirmos “apressadamente” até às casas dos nossos irmãos em dificuldade para os socorrer e partilhar com eles o pão da esperança. É condição para experimentarmos a alegria e o gáudio de Maria e Isabel neste mundo atribulado. EA DEZEMBRO 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA


1 de Dezembro Dia Mundial de Luta contra a Sida

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 11 Ano LVII – DEZEMBRO 2011 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Pro­vin­cial Norberto Ribeiro Louro Redac­ção Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 27.800 exemplares Director Elísio Assunção Redacção Elísio Assun­ção, Manuel Carreira Conselho de Re­dac­ção António Marujo, Elísio Assunção, Manuel Carreira Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Cristina Santos, Darci Vila­ri­nho, Leonídio Ferreira, Luís Mau­rício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; ­Diaman­tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Quénia, Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Contra-capa Ana Paula Ilustração H. Mourato, Mário José Teixeira e Ri­car­do Neto Com­po­sição e Design Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Consolação sustenta luta contra a sida Povo das três fronteiras constrói “Maloca para todos”

Assinatura Anual

Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal)

Pagamento da assinatura

multibanco (ver dados na folha de endereço),

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Crescimento populacional quadruplicou no século XX O século dos idosos

Somália invadida pela segunda vez em cinco anos

03 EDITORIAL 805 PONTO DE VISTA Um Natal diferente 806 LEITORES ATENTOS HORIZONTES Da janela808 MUNDO MISSIONÁRIO IGREJA João Aguiar é o

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Actualize

a sua assinatura

FÁTIMA MISSIONÁRIA

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novo director das Comunicações Sociais | PORTUGAL Família da Consolata vai cele­brar «Ano Allamaniano» | GUATEMALA Mulheres indígenas as mais pobres entre os pobres | VIETNAME Futuro da Igreja apoia-se em 80 mil catequistas | CHINA Menos 67 milhões de pobres | 811 AVENTURAS 812 APÓSTOLOS MODERNOS Largar amarras e partir 822 GENTE NOVA EM MISSÃO O Natal vivido com simplicidade e alegria 824 TEMPO JOVEM Comprometer-se para toda a vida 826 SEMENTES DO REINO Recobrar a esperança 828 O QUE SE ESCREVE 830 O QUE SE DIZ 831 VIDA COM VIDA Vigilante de serviço 832 OUTROS SABERES Onde todos ajudam nada custa 833 A MISSÃO É SIMPÁTICA Netos surpreendem avó 834 FÁTIMA INFORMA Presépio inca ajuda a descobrir o Natal do mundo

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FRANCISCO SARSFIELD CABRAL*

Um Natal diferente Este Natal vai ser ocasião de inúmeras lamentações, provocadas pela crise em que Portugal mergulhou. O alto desemprego, que ainda não parou de aumentar, e as medidas de austeridade que já entraram em vigor (como o corte do equivalente a metade ao subsídio de Natal) retiram poder de compra às famílias. E muitas delas já vivem abaixo do nível de pobreza. Às queixas das pessoas irão somar-se as queixas dos comerciantes. A época de Natal costuma ser de elevado consumo, compensando a falta de vendas no resto do ano. Desta vez, a compensação será certamente bem menor do que em anos passados. Dito isto, importa recordar as críticas que muitos de nós (nos quais me incluo) fizemos ao consumismo natalício. Em larga medida, o Natal cristão transformou-se numa festa pagã e materialista. Pois bem, as dificuldades do próximo Natal podem e devem ajudar-nos a situá-lo de novo numa perspectiva mais cristã. Decerto que tal fará pouco sentido para quem não é crente. Mas é obrigação dos católicos fazer esse esforço. Não como consolação para a austeridade a que estamos obrigados. Mas enquanto opção consciente e responsável de deixar a superficialidade em que se tornou a época natalícia e aprofundar a extraordinária mensagem

Não esqueçamos aquilo que o menino cujo nascimento vamos celebrar disse há dois mil anos: o que fizeres ao mais pequeno de entre vós a Mim o fareis de esperança que o Natal representa. Um Deus que se faz homem, partilhando a fragilidade da nossa condição, é algo que ultrapassa todos os condicionalismos negativos do presente. Este poderá ser um Natal diferente, pela positiva, se os cristãos forem capazes de transmitir a uma sociedade egoísta e com horizontes meramente materiais um pouco do verdadeiro espírito natalício. Não iremos assim mudar o mundo. Mas, pelo menos, apontaremos uma luz de esperança. E concentraremos atenções naquilo que é verdadeiramente importante na vida. As dificuldades deste Natal criam uma oportunidade

que não podemos desperdiçar. O que será reforçado pela maior exigência de solidariedade com aqueles que mais vulneráveis estão às carências económicas. Mesmo para os não cristãos, o Natal ainda envolve um apelo a dar atenção aos que sofrem. É uma atitude que, graças a Deus, ainda não foi varrida pelo consumismo desenfreado. Ora sabemos como a pobreza tem vindo a aumentar entre nós com a subida do desemprego e o “apertar do cinto”. O Estado está sem dinheiro e as instituições privadas de solidariedade social deparam-se com uma enorme subida dos pedidos de ajuda. Muitas já não conseguem responder a todos esses pedidos. O que impõe aos católicos uma redobrada responsabilidade de apoiar mais aquelas instituições, pertençam elas à Igreja católica ou não. Não é fácil em tempo de crise, mas é indispensável nesta emergência. Não esqueçamos aquilo que o menino cujo nascimento vamos celebrar disse há dois mil anos: o que fizeres ao mais pequeno de entre vós a Mim o fareis. Esta é a base da moral cristã: Deus está no pobre, no doente, no preso, etc. Oxalá o Natal diferente deste ano nos faça perceber – e viver – melhor esta dimensão essencial do mistério da Encarnação. *Jornalista

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Outra gracinha de Allamano

Renove a sua assinatura

AGRADECEMOS que os nossos es­­ti­ mados assinantes renovem a assina­ tura para 2012. SÓ AS ASSINATURAS actualizadas poderão usufruir do pequeno apoio do estado ao porte dos correios. NA FOLHA on­de vai escrita a sua direcção, do lado esquerdo, poderá verificar o ano pago e o seu núme­ ro de assinante. O PAGAMENTO da assinatura pode­ rá ser feito através dos colaborado­ res, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multiban­ co, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05 IMPORTANTE Refira sempre o nú­­ me­ro ou nome do assinante. OS DO­­NA­TIVOS para as missões são de­dutíveis no IRS. SE DESEJAR RECIBO, deverá enviar­ -nos o seu número de contribuinte. MUITOS LEITORES chamam à FÁTI­ MA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim pro­ cedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assi­ nantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Fiz duas novenas ao Beato José Allamano por um sobrinho numa questão de herança. São passados oito anos e não está ainda tudo arrumado, mas com a ajuda do Beato Allamano a quem rezo todos os dias, o meu sobrinho está o que era, enfrentando sem sofrimento com clarividência e verdade toda a situação. Só eu vi o que se passou e quanto sofrimento existiu nele e na família; mas que o Beato Allamano deitou a mão e ajudou, disso não tenho dúvidas. Junto uma pequena oferta para a causa do Beato José Allamano. (Excerto de carta) Nantília

NR Extraímos este breve texto de uma longa carta onde a senhora Nantília mostra a sua amizade ao Beato Allamano e manda uma oferta para a sua canonização.

Do fundo do coração

Caros amigos missionários, Aqui vos envio este cheque, para o projecto 2011 – Urgência Gurué. É pouco, mas é do fundo do coração. Eu gosto muito de ler a revista. Acho tudo muito interessante, ­sobretudo para mim, as leituras litúrgicas. E também gosto de saber o que se passa no mundo. Fernanda

Palavra faz-se missão

Ex.mo Senhor Director, Venho pela presente remeter à FÁTIMA MISSIONÁRIA a importância para pagamento da assinatura para o ano 2012. Junto mais 10,00€ destinados à paróquia de Gurué – Moçambique. Quanto ao valor da nossa revista, quando a recebo, leio atentamente todos os artigos, todos eles são de grande importância, não

só o trabalho missionário em África, bem como outros temas para reflexão. Chamo a especial atenção para a rubrica a “A palavra faz-se missão”, ­ porque me ajuda muito na reflexão que tenho de fazer à leitura dominical. José

Revista e projecto

Ex.mos Senhores, Envio 30,00€ para renovação da assinatura da nossa revista, FÁTIMA MISSIONÁRIA. O que sobra fica para o projecto 2011 Gurué – Moçambique. Desejo-vos um bom trabalho, com muito apreço, muitas novas assinaturas e muitos donativos. Que Nossa Senhora de Fátima vos ajude a conseguir os vossos objectivos. Cidália

Ao serviço da catequese

Ex.mos Senhores, Quero felicitar-vos pela revista, pelos temas que aborda, pois sou catequista na minha aldeia natal, na região do Baixo Mondego, concelho de Montemor-o-Velho. Apesar de já vivermos, eu e o meu marido, há 22 anos em Leiria, nunca perdemos os laços com a nossa aldeia, onde vamos todos os finais de semana e onde voltei a dar catequese. A FÁTIMA MISSIONÁRIA dá-me muito alento para determinados temas e os meninos gostam muito que eu a leve para a sala da catequese. Gostam do espaço infantil e de ver as imagens dos missionários. (Excerto de carta) Licínia

NR Fazemos votos para que estes meninos e meninas da catequese se tornem assinantes quando forem grandes.

DIÁLOGO ABERTO Reforma pequena

À administração, Na verdade os recibos não me servem para nada, por isso não vale a pena gastar dinheiro no seu envio. Os meus rendimentos são tão baixos que nem preciso de incluir na declaração do IRS as despesas de saúde. Normalmente acabo por ser reembolsado dos descontos que me vão fazendo nas pensões de reforma (minha e de minha mulher) que são pequenas, mas que por graça de Deus vão dando para viver modestamente. Graças a Deus a saúde também não tem faltado, apesar da idade avançada (75 e 74 anos) e essa vale muito mais do que uma grande reforma. Lourenço

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O senhor Lourenço contenta-se com coisa pouca. A pequena reforma vai dando para ele e a esposa viverem «modestamente». Não diz a quantia; isso é segredo, mas adivinha-se que não será grande. Aconselha-nos a não gastarmos dinheiro no correio para lhe mandar recibo das ofertas que faz. Vê-se que é um homem acomodado. Aceita a ­crise ­cortando de um lado e do outro, conquanto que dê para ­viver modestamente. O resto confia-o à divina providência e dá graças a Deus pela saúde que tem pois a considera como o bem maior que pode haver. MC


Da janela texto TERESA CARVALHO ilustração MIGUEL CARVALHO

A senhora Maria estava sozinha, senta­ da na cadeira à frente da janela. Gos­ tava de sentar-se ali para ver o vaivém da rua. Dava-lhe a ilusão de participar naquele movimento e não se sentia tão só. Às vezes, até lhe parecia ver pessoas conhecidas e o coração batia-lhe mais forte, esperando que entrassem na sua porta. Mas não entravam. No primeiro dia de trabalho na As­ sociação, Rita foi enviada a visitar a ­senhora da porta 43, 2º direito. O seu entusiasmo em poder levar algum aconchego sobrepunha-se a uma certa apreensão pelo desconhecido. Tocou à campainha. Passado algum tempo, a porta abriu-se e Rita olhava de frente uma senhora de cabelo branco, curva­ da sobre uma bengala. – É a senhora Maria! Eu sou a Rita, da Associação Encontro. Tenho algum tempo livre e gostava de aproveitá-lo para conhecer pessoas interessantes. A senhora Maria abriu muito os olhos e respondeu incrédula e com voz tímida: – Aceitar eu aceito, minha querida! Mas deve estar enganada na porta. Eu sou apenas uma pessoa normal, já com 83 anos. Não tenho nada de interessante. O bom está lá fora, mas há muito que não é para mim. Canso-me muito a andar.

– Disseram-me que a dona Maria era uma pessoa que eu iria gostar de conhe­ cer. Porque acha que me recomenda­ ram que a visitasse? – Não sei! Será por eu gostar de rece­ ber visitas. Sabe, dona Rita, quando era nova, sempre gostei de participar nas ac­ tividades da minha terra. Aprendi muito e conheci pessoas boas. Cantámos, dan­ çámos, ajudámos os que necessitavam. Foi um tempo em que até nos esque­cíamos de nós! Mas foi o tempo em que mais tínhamos. Aquilo é que era alegria! – E de passear, gosta? – Se gosto! Tenho saudades de ver a ser­ ra, de sentir o cheiro da terra. Eu nasci no campo, sabe? Com esta idade lem­ bro-me dos tempos de criança, as coisas que tinha em criança e fico com desejo de as sentir de novo. – E se eu lhe pedisse para vestir um fato bonito e vir comigo dar um passeio? – Ó minha querida, isso seria muito difícil para si. Eu ando muito mal, de­ pois que parti a perna. – Vamos experimentar? Eu ajudo! Os olhinhos da senhora Maria ganha­ ram um brilho renovado. Nem se atre­ veu a contrariar para não estragar a possibilidade de realizar um sonho que julgava inacessível. Levou Rita ao

guarda-fato e confiou-lhe a escolha da roupa de passeio. Os passos tornaram­ -se apressados, lembrando a menina enérgica que corria pelos campos. Pouco depois, já as duas saíam de bra­ ço dado em direcção ao carro de Rita. Maria estava a viver um momento ir­ real. Olhava as pessoas de perto na estrada e, com gozo, percebeu que era uma delas. Voltara a fazer parte daque­ le movimento que admirava da janela. Hoje, sentia-se muito viva! Entrou no carro de Rita e pôde pela primeira vez, desde há três anos, ver o verde da serra, cheirar a terra, tocar nos musgos, olhar o azul do céu mais azul e ouvir a canção do vento. E eles levaram-na em voo até ao mundo onde ela era leve, tão leve que corria pelos campos e experimentava a liberdade. Ali, as pernas não eram pesadas nem a sua idade eram 83 anos. Rita tinha conseguido construir esta magia: devolver a Maria as imagens que ela agora podia guardar, de fresco, para reviver da sua janela. Contudo, pelos encontros que se seguiram, nunca mais aquela janela voltou a ser o único lugar para Maria observar o mundo. E Rita encontrou em Maria uma forma de ser construtora do mundo que ela defende. DEZEMBRO 2011

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A campanha de 2011 «10 milhões de estrelas» conta com apoio de dioceses, escolas, estabelecimentos comerciais e ligas de futebol. O produto da venda das velas de «10 milhões de estrelas – um gesto pela paz» vai reverter a favor de projectos para apoiar famílias portuguesas em situação de carência. A Cáritas realça que a nona edição do evento pretende “motivar os cidadãos para os valores da Paz, da Justiça e da Solidariedade”, num ano em que os pedidos de ajuda aumentaram consideravelmente. A campanha é “uma excelente oportunidade” para manifestar o “sentido de solidariedade que sempre caracterizou o povo português”. A campanha também pretende apoiar o povo da Somália. Vítima de grave crise alimentar, devido ao conflito armado e à pior seca dos últimos 60 anos no Corno de África, vai receber 35 por cento das verbas recolhidas pela campanha.

IGREJA João Aguiar é o novo director das Comunicações Sociais

O presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença possui uma grande “experiência na comunicação escrita, rádio e também imagem”, no dizer do bispo auxiliar do Porto, Pio Alves. João Aguiar sucede a António Rego, que ao longo de 40 anos, em várias comissões da Igreja, deu ao sector o melhor do seu saber e entusiasmo, tendo criado “um movimento progressivo de interesse pela temática da Igreja na informação e no comentário, em todo o país”. Em declarações à «Ecclesia», o sacerdote açoriano afirma que “é tempo de revitalizar, de nova inspiração, nova juventude”. Mas a paixão pela comunicação não larga António Rego: “Não me sinto demitido nem interiormente dispensado de continuar nesta área em que apostei a minha vida como sacerdote e continuo a apostar”.

PORTUGAL Família da Consolata vai cele­brar «Ano Allamaniano» O superior provincial da Consolata, António Fernandes, vai propor o «Ano Allamaniano e Vocacional», que decorre entre a peregrinação da Consolata a Fátima de Fevereiro de 2012 e a de 2013. Missionários e missionárias, leigos e consagrados, são convidados a reflectir sobre a sua vocação e a dos diferentes grupos, para fortalecer a própria identidade à luz do carisma do beato José Allamano. O superior eleito em Setembro passado para um mandato de três anos, pretende deste modo renovar grupos e comunidades com um novo dinamismo e entusiasmo apostólicos. FÁTIMA MISSIONÁRIA

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GUATEMALA Mulheres indígenas as mais pobres entre os pobres Apenas 26 por cento das meninas indígenas da Guatemala completam a escola elementar. Marginalizadas e discriminadas, as mulheres indígenas são as mais pobres entre os 14 milhões de pobres da Guatemala, onde metade da população é indígena. Matrimónios precoces de meninas sujeitas a gravidezes frequentes, marginalização social e pobreza crónica, agravam cada vez mais a situação.

TOBIAS OLIVEIRA, NAIROBI, Quénia

Quénia invade Somália

VIETNAME Futuro da Igreja apoia-se em 80 mil catequistas

Mais de 1.500 seminaristas e 80 mil catequistas garantem um futuro róseo à martirizada Igreja do Vietname, depois dos anos de perseguição, quando em 1975 os seminários foram fechados. Os jovens procuram “novas respostas para a sua sede de verdade e de novos modelos de vida”, afirma o vice-reitor do seminário maior de Ho Chi Minh. O Vietname tem 87 milhões de habitantes, com apenas sete milhões de católicos.

CHINA Menos 67 milhões de pobres O número de chineses que vive abaixo do limiar da pobreza, isto é, com menos de 150 euros por ano, diminuiu na última década, para 26,8 milhões, segundo o governo chinês. Neste período, os pobres entre a população rural chinesa baixaram na proporção de cinco para um. Metade dos cerca de 1.340 milhões de chineses vive ainda nas zonas rurais do país.

O jornal Daily Nation de Nairobi no dia 14 de Novembro proclamava em primeira página que nove membros do Al Shabaab foram mortos num feroz encontro com o exército do Quénia. Em resposta a algumas incursões lançadas a partir da Somália pelo grupo fundamentalista islâmico, Al Shabaab, o governo queniano decidiu invadir a zona fronteiriça e parte do sul do país vizinho e o Quénia encontra-se agora em estado de guerra. Não é uma guerra contra a Somália mas sim contra extremistas armados que o próprio governo da Somália está tentando erradicar. Nos jornais locais a informação sobre este conflito vem diluída entre tantas outras notícias como se este fosse apenas um pequeno e lamentável episódio da vida nacional. Um país que em 48 anos de independência viveu em paz com todos os vizinhos está agora em luta aberta além fronteiras. Por enquanto há poucas vítimas a lamentar mas como bem sabemos uma guerra deste tipo começa sempre bem mas não se sabe como e quando vai terminar, dado que a guerrilha é um inimigo muito perigoso e quase invisível. Hoje em dia, quem em Nairobi se desloca aos supermercados tem que se submeter a um rigoroso controlo electrónico imposto para detectar possíveis engenhos explosivos e na cidade de Garissa uma granada foi lançada contra uma Igreja tendo daí resultado um morto e vários feridos. O povo vive agora num clima de incerteza e de temor. Que a mensagem de Natal “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens” não seja só um canto de anjos mas também fruto do nosso esforço. DEZEMBRO 2011

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Peru

Povo das três fronteiras

constrói “Maloca para todos” “Más allá de las Fronteras” – Mais além das Fronteiras – reuniu povos indígenas do Peru, Equador e Colômbia que partilham a mesma fronteira e o mesmo rio. Os laços que os unem saíram reforçados do sexto encontro tri-fronteiriço, em Leguízamo, Colômbia, de 10 a 14 de Novembro Casal Copi e Vivi e o missionário coereano Moonjung Kim

texto E. ASSUNÇÃO foto FM

úsica, danças, trajes típicos, desfiles temáticos e outras manifestações culturais e desportivas animaram a festa durante cinco dias. Os povos do Peru apresentaram o tema da luta pela defesa do ambiente, como uma responsabilidade repartida pe­ los presentes, num desfile temático. A festa terminou com a limpeza da cidade, o desmontar das tendas e

dos negócios, para regressar a casa e à vida quotidiana, com a certeza de que, cada vez mais, a fronteira não divide, mas une povos e culturas.

Soplin Vargas celebra 30 anos

O povo de Soplin Vargas, Peru, é um dos povos da mesma fronteira e do mesmo rio. Capital do distrito Tenente Manuel Clavero, há 29 anos, não era mais do

Projecto 2012

“Maloca para todos” De mãos dadas com a população de Soplin Vargas, os Leigos da Consolata portugueses, Copi e Vivi, fazem apelo à generosidade dos amigos da Consolata, para ajudarem a construir a “Maloca para todos”: Aquisição de madeira, cimento, pregos e outros; Compra de móveis para a “Maloca para todos”; Compra de um barco para a visita às 34 comunidades; Material de formação para jovens e crianças, além do gasóleo para o barco. Quem ajudar está também a contribuir com 30 por cento da sua oferta para o apoio solidário a estudantes dos PALOPS residentes em Portugal e que vivem em dificuldades. FÁTIMA MISSIONÁRIA

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que um lugarejo de seis famílias. Hoje conta com 600 habitantes e 34 comunidades localizadas ao longo do rio Putumayo. A jovem cidade de Soplin Vargas prepara-se para celebrar 30 anos de fundação, em 2012. Lado a lado com este povo, caminha uma equipa missionária, constituída por um casal de Leigos da Consolata português e um missionário da Consolata coreano, Moon­ jung Kim, recém-ordena­ do sacerdote. Estão a lançar as bases de uma nova missão em terras do Peru. Viviana Nunes e Rui Sousa acompanham as comunidades de Soplin Vargas na sua caminhada de desenvolvimento humano, social e cristão.

ao longo do rio Putumayo. A maloca representa o coração da vida da comunidade. É à volta deste centro que se desen­rola o crescimento humano e social das famílias e das 34 comunidades que dependem de Soplin Vargas. A maloca desempenha ainda um papel religioso, como espaço de purificação do coração e onde o espírito se liberta do mal. A «Maloca para todos» pretende ser

Coração da vida da comunidade

Vivi e Copi, como é conhecido o casal, estão envolvidos na construção da “Maloca para todos”, em Soplin Vargas. Com este projecto pretendem fortalecer os laços entre as 34 comunidades situadas numa linha de 450 quilómetros,

Sem megafones ou tecnologias, o po


uma espécie de igreja, onde para além de reuniões e encontros, se exprime e cresce o espírito comunitário cristão e missionário.

Paróquia viaja de barco

Obra da comunidade, a construção da maloca será muito simples. Além do piso de cimento, terá paredes em madeira e o tecto de palha, segundo os costumes locais. Necessita de mobiliário e de meios para desenvolver as suas finalidades. As actividades que se realizarão na «Maloca para todos» dirigem-se não apenas aos habitantes de Soplin Vargas, mas também deverão estar ao alcance das 34 aldeias que fazem parte da paróquia. A maloca terá, portanto, uma vertente itinerante, através de visitas da equipa missionária. Viajando de barco, ficarão alojados durante vários dias para realizar as acti­vidades mais urgentes e requeridas, como por exemplo, a celebração da eucaristia, catequese e formação. Privada de estradas, a região só pode ser percorrida de barco para visitar as 34 comunidades. Com o projecto da “Maloca

para todos”, que inclui o barco para transporte, a equipa missionária espera criar os meios para desenvolver a comunhão entre as diversas comunidades. Qual espaço privilegiado de partilha e convívio intercultural, a maloca favorece o diálogo e a evangelização, principalmente nestes lugares onde a mulher nem sempre tem voz.

Pipo despede-se

Projecto para quebrar o isolamento

O projecto pretende ainda promover a formação e o artesanato local, como fonte de rendimento das comunidades, assim como actividades lúdicas e outras que respondam às necessidades locais. A “Maloca para todos” quer quebrar o isolamento e o abandono, de modo especial na educação, saúde e religião, em que vivem estas famílias indígenas, através do desenvolvimento de uma comunidade católica mais unida e mais missionária. Para a realização do projecto, Vivi e Copi contam com a colaboração dos amigos da Consolata e de quantos queiram apoiar a construção da nova missão de Soplin Vargas.

ovo percorre a via-sacra de casa em casa por caminhos lamacentos

texto CARREIRA JÚNIOR ilustração H. MOURATO

Caros amigos! Hoje trago notícias frescas, não sei se são boas ou más, isso depende do ponto de vista de cada um. Para mim deixam-me saudades. É o seguinte: custa-me dizê-lo, mas tenho de deixar-vos. Esta secção do Pipo vai terminar este mês. Há quatro anos que andamos aqui de braço dado: eu a escrever, o meu tio padre a aconselhar, o senhor Mourato – Ai o senhor Mourato! – a fazer a minha caricatura, pondo-me nas mais variadas situações, sabendo acompanhar o meu crescimento: o garoto, o menino e o rapaz. Enfim, as voltas que isto levou! E os leitores? Esses foram-se afeiçoando ao Pipo e agora vão chorar por mais. Mas não há mais. O Pipo acabou. Estamos todos muito gratos ao senhor H. Mourato, mestre de muitos saberes, pelo carinho que demonstrou, em fazer todos os meses a ilustração do texto fazendo passar a mensagem que nele se encontrava. E quando lhe perguntávamos pela factura respondia sempre: já está paga. Sabemos que em Agosto passado recebeu mais uma condecoração. Pelo facto damos parabéns.

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Largar amarras e partir Partir é a marca da missão. Ir além das fronteiras pessoais e geográficas, estar aberto à mudança e à novidade. “O meu primeiro campo de missão, onde passei sete anos, após os quais regressei a Portugal” foi Moçambique, conta o irmão Carlos Margato, de 44 anos, natural de Santiago de Litém, Pombal texto CARLOS MARGATO fotos E. ASSUNÇÃO

em sempre é fácil largar um país, um povo e cultura, que se aprendeu a amar e a sentir como próprios”, explica o missionário da Consolata. Chegou a hora de partir de novo. A missão abriu-me as portas do Brasil. É aqui que me encontro há três anos. Salvador da Baía, no nordeste brasileiro, foi a primeira proposta. A missão é fértil em surpresas e fui desviado para Cascavel, no Paraná. Gente nova, cultura diferente, tudo diverso! A novidade gera receios e algum isolamento. Tive a sensação

de estar deslocado. O centro de animação missionária, antigo seminário de Cascavel, é uma referência para quantos nutrem amizade e carinho pelos missionários da Consolata. Bem depressa me dei conta do quanto somos queridos por aquela gente, quão generosos são e quanto anseiam por ver aquela casa povoada de seminaristas. Para alimentar este desejo, um grupo de sete teólogos estrangeiros, provenientes do seminário da Consolata de São Paulo, passou ali um tempo de aprendizagem e aperfeiçoa­ mento da língua portuguesa. Ainda saboreava eu esta

bela experiência, em terras do Paraná, já me chamavam para o Centro de Animação Missionária de São Paulo. Depois de experimentar, em Cascavel, o que significa ser acolhido, fui desafiado a acolher. Neste centro de referência para os jovens, experimentamos que, apesar de muito numerosos em São Paulo, nem sempre é fácil contactá-los e motivá-los. Bem se lançam as redes, mas muitas vezes voltam vazias. Enfrentamos o desafio de não desanimar e confiar no dono da Messe. Em São Paulo, não tenho a oportunidade de correr o

país, de conhecer outras paragens e outras formas culturais que o Brasil oferece. Como casa de hospedagem, sector em que estou mais empenhado, tenho a possibilidade de contactar com variadas expressões da Igreja brasileira. A todos procuro acolher com o máximo de simpatia e, ao mesmo tempo, dar-lhes a conhecer a missão. É uma maneira de ser missionário na própria casa, de forma simples e um pouco silenciosa. Torna-se expressão de fraternidade e de testemunho para as diferentes pessoas que me procuram, trabalhando para a auto-sustentação. Três anos de Brasil, não permitiram envolver-me na missão de fronteira, nem experimentar situações precárias, nem tão pouco aventuras dignas de grandes relatos. Vivo a missão na medida em que me abro ao mundo e com ele partilho a minha fé e o modo de estar na Igreja. Sinto-me realizado como irmão religioso missionário. Posso “gritar aos sete ventos” que a missão sempre vale a pena. Mais do que nun­ca ela é urgente.

Favela da paróquia da Penha, São Paulo, campo de apostolado dos missionários e missionárias da Consolata FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Crescimento populacional quadruplicou no século XX

O século dos idosos texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

Um violento terramoto no Japão forçou Sekishia Kio a abandonar a sua casa, aos 86 anos

Organização das Nações Unidas fe­licitou, no passado dia 31 de Outubro, o nascimento de Danica May Camacho, nascida em Manila, nas Filipinas, considerada a bebé sete milhões, que marca o culminar de uma fase de grande crescimento populacional que caracterizou o século passado. Com efeito, a bebé sete milhões representa a desaceleração do crescimento e o envelhecimento da população e, com isso, a necessidade de um novo pacto geracional. O século XX ficou marcado por um crescimento sem precedentes da população mundial. O seu número quadruplicou em cem anos, passando de 1,6 para 6,1 mil

milhões de pessoas. Três razões fundamentais contribuíram para este processo: os excepcionais avanços médicos e farmacêuticos, a melhoria das condições sanitárias, bem como novos comportamentos de higiene, e a revolução agrícola.

2050: 1,4 mil milhões de idosos

Estes aspectos, aos quais poderíamos associar ainda a melhoria das condições de trabalho que permitiram aumentar a esperança de vida da população, têm assegurado o crescimento populacional, apesar das taxas de fecundidade registarem uma tendência para diminuírem. Deste modo, estima-se que dos 9 mil milhões de habitantes que o planeta terá em 2050, ou

dos 10 mil milhões em 2150, uma parte cada vez maior será constituída por idosos. Em 2050, as pessoas com mais de 65 anos constituirão cerca de 16 por cento da população mundial, duas vezes mais do que eram em 1950 (5,2 por cento) e mais do dobro da percentagem actual (7,2 por cento). Entre 1950 e 2050, a idade média da população mundial passará dos 24 para os 38 anos, e prevê-se que a população idosa será constituída por 1,4 mil milhões de pessoas.

Reinventar um novo pacto social

Estas estimativas colocam um novo desafio à humanidade. O crescimento da população, suportada por altos índices de fecundidade, e um elevado

número de jovens estruturaram a organização social e política dos estados. De uma forma geral, temos tendência para esquecer que a constituição etária das sociedades explica parte da nossa história contemporânea. A vida no século XX estruturou-se, em grande medida, em torno do poder da sua juventude, ao nível político, económico, social e cultural. Esquecemo-nos, por exemplo, que o crescimento económico assentou, em grande parte, numa população activa jovem e que várias revoluções sociais, políticas e culturais que conhecemos talvez não tivessem tido lugar se não fosse o seu peso social. A denominada Primavera Árabe é disso um dos exemplos mais recentes. A Tunísia, o Egipto, a Síria, o Iémen, a Líbia são expressões de explosões sociais, onde os jovens assumem um papel determinante. Por isso, é natural que se avizinhem importantes mudanças sociais à medida que a população se vai tornando mais idosa. Sabemos o que isso significa quando falamos da crise que se verifica nos sistemas de saúde e de segurança social. Mas o maior desafio que se nos coloca não será apenas gerir os recursos, mas reinventar um novo projecto e um novo pacto social que permita a continuidade de um projecto solidário de sociedade.

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Somália invadida

pela segunda vez em cinco anos Nestas duas décadas passadas sobre a queda da ditadura de Siad Barre, a Somália tem vivido entregue aos senhores da guerra e aos chefes de clãs. Mergulhada na violência, boa parte da população tem apostado na pirataria no Oceano Índico, mas também na adesão a milícias islamitas ligadas à Al-Qaeda. E como a relação de forças não interessa aos vizinhos, em 2006 o país foi invadido pela Etiópia e agora, em 2011, pelo Quénia. Mas o mais estranho é que, nesse país do Corno de África sem Estado, os negócios floresçam e os telemóveis funcionem às mil maravilhas. Mesmo assim, as más colheitas ameaçam de fome milhões de somalis texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA

m meados de Novembro, um mês depois de terem en­trado na Somália, as tropas quenianas ainda mal tinham ex­ perimentado o combate. Tirando uma ou outra embosca­

da feita pelos Chabab, uma milícia islamita, o grande inimigo das forças invasoras tem sido a chuva, com as lamas a atrasarem a progressão dos soldados quenianos. Ao mesmo tempo, ataques esporádicos da força aérea do Quénia

a posições dos islamitas servem sobretudo para deixar as populações no drama de escolher entre ficar à mercê das bombas ou aventurar-se numa terra sem lei, onde o conflito entre as várias facções somalis persiste desde há duas

décadas, quando caiu a ditadura de Mohamed Siad Barre. Como pano de fundo, apesar da contradição destas chuvadas das últimas semanas, um cenário de seca ameaça de morte boa parte dos somalis.

Os pretextos para a invasão lançada a 14 de Outubro foram dois ataques somalis a complexos turísticos no litoral do Quénia. Com boa parte das suas divisas a provirem da indústria turística, as auto­ ridades de Nairobi ficaram assustadas com a audácia dos bandos somalis, muitos deles já celebrizados pelos actos de pirataria em alto mar. Mesmo fazendo papel de potência regional e com dois a quatro mil militares no terreno, o Quénia está a correr sérios riscos de ser mais um país a deixar-se prender no atoleiro somali. Não por acaso, os

Caos depois da queda da ditadura de Siad 1991 Derrube de Mohamed Siad Barre, ditador desde 1969, antes, aliado dos soviéticos e, depois, dos americanos em retaliação por Moscovo ter apoiado a Etiópia no conflito entre os dois vizinhos do Corno de África. Somaliland, ex-colónia britânica, proclama a independência. 1993 Um ano depois de terem antecedido em Mogadíscio uma força de paz da ONU, os marines americanos são atacados por milícias somalis e forçados à retirada. FÁTIMA MISSIONÁRIA

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1995 Força de paz das Nações Unidas retira-se, admitindo ter falhado a missão. 1996 Um ex-marine americano sucede ao pai, Mohamed Aidid, senhor da guerra. 1998 Região da Puntland declara a autonomia. 2000 Líderes de vários clãs reúnem-se no Djibuti e elegem Abdulkassim Salat Hassan presidente da Somália. O novo líder instala-se em Mogadíscio. 2001 Senhores da guerra somalis, apoiados pela Etiópia,

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prometem formar o seu próprio governo nacional. No Sul, meio milhão de pessoas passa fome. 2004 Nova tentativa de criar governo de unidade nacional cria um parlamento reunido no Quénia que elege Abdullahi Yusuf como presidente. 2006 Parlamento somali reúne-se em Baidoa, no centro do país. Um confronto entre clãs em Mogadíscio abre caminho à tomada da capital pela União dos Tribunais Islâmicos. Etiópia invade a

Somália para combater islamitas, apoiados pela Eritreia. 2007 Islamitas abandonam Mogadíscio após ofensiva conjunta etíope e das forças governamentais somalis. Presidente Yusuf entra na capital. União Africana envia tropas de paz ugandesas. 2008 Estados Unidos atacam bases da Al-Qaeda na Somália e matam um líder do Chabab. ONU autoriza envio de navios de guerra para combater pirataria. 2009 Retirada das tropas etío­


Cenário da seca ameaça os somalis que engrossam cada vez mais as filas de refugiados no campo de Dadaab, no norte do Quénia

Estados Unidos, que vêem nos Chabab uma extensão da Al-Qaeda, preferem incentivar os seus aliados no Corno de África do que envolver-se directamente. Em Washington ainda estão na memória as imagens de marines mortos a serem arrastados pelas ruas de Mogadíscio, um episódio de uma intervenção

Barre pes. Parlamento somali, no Djibuti, elege presidente Sharif Sheik Ahmed, islamita moderado. Milícia Chabab jura lealdade à Al-Qaeda. 2010 Chabab reivindica dois atentados bombistas no Uganda. Programa Alimentar Mundial retira-se das zonas sul sob controlo islamita depois de ser ameaçado. 2011 ONU declara fome em três regiões da Somália. Chabab retira todas as suas tropas de Mogadíscio. Invasão queniana.

humanitária em 1993, que até deu origem a um filme de Hollywood. E a Etiópia que em 2006, com apoio americano, entrou na Somália para pôr fim aos islamitas, também sofreu na pele sucessivos ataques até que teve de retirar sem terminar a tarefa.

Sob a tutela americana, quenianos e etíopes parecem coordenados no esforço de esmagar os Chabab, palavra que significa “Juventude”. Contudo, existem mal-entendidos: por exemplo, a Etiópia não viu com bons olhos que o Quénia treinasse uma milícia somali aliada composta sobretudo por membros da etnia ogaden. É que essa mesma etnia, com ramificações nas regiões desérticas da Etió­pia, há muito que desafia o regime de Adis Abeba sob o nome de Frente de Libertação Nacional do Ogaden. É, porém, do interesse mútuo de etíopes e quenianos, o esmagamento das milícias islamitas no Sul da Somália. Na incapacidade de normali-

zar toda a Somália, a aposta de Adis Abeba e Nairobi é repetir no extremo Sul uma espécie de zona semi-indepen­ dente, como a Somaliland ou o Puntland no Norte, onde reina certa paz e onde até há eleições. Conseguindo pacificar o Sul somali abaixo de Kismayo, actual bastião do Chabab, os quenianos poderiam investir na transformação do seu próprio porto de Lamu num terminal petrolífero que servisse tantos os seus campos do Norte, como o recém-independente Sudão do Sul. Ao mesmo tempo, Lamu serviria de porta para o mar, graças a uma linha ferroviária transnacional, a uma Etiópia encravada desde que, em 1993, reconheceu a independência da sua antiga província da Eritreia.

Alheado destas movimentações político-militares, parece estar o Governo Federal de Transição, em Mogadíscio, há vários anos, uma tentativa somali com apoio internacional para se reconstituir um

aparelho de Estado no país. Mas mesmo tendo escolhido para presidente um antigo chefe islamita, o governo oficio­so não foi capaz de convencer o Chabab a juntar-se ao projecto nacional. Para já sem fim previsto, a ofensiva queniana arrisca-se a dificultar a acção das organizações humanitárias na Somália, onde além da fome imperam várias doen­ças. Ao mesmo tempo, as ameaças dos Chabab de atacar alvos quenianos podem gerar retaliações contra as populações somalis no próprio Quénia, seja as que vivem em campos de refugiados, seja aquelas que, como minoria étnica, são cidadãs do país. Independente desde 1960, a moderna Somália (com dez milhões de habitantes, na sua esmagadora maioria muçulmanos) soma as antigas colónias somalis, italiana e britânica. A dita Somália francesa é hoje um país à parte sob a designação de Djibuti. *jornalista do DN

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Missionário da Consolata em São Paulo, Brasil

Consolação

sustenta luta contra a sida texto e fotos ELÍSIO ASSUNÇÃO FÁTIMA MISSIONÁRIA

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“A sida não é apenas uma doença; é sobretudo uma questão social, de humanidade que tem de ser resolvida também através da fé cristã”

Controverso e afável, Valeriano Paitoni dedica a sua vida, há cerca de 30 anos, aos doentes infectados pelo vírus da sida. “Acima de tudo, sou missionário da Consolata que tenta viver a dimensão da consolação do nosso carisma”, identifica este lutador de origem italiana de 63 anos, que trava um combate renhido contra os preconceitos sociais. No Brasil desde 1978

s melhores anos da minha vida missionária passei-os na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Imirim”, São Paulo. Anos abençoados em que “aprendi a ser mais homem, mais cristão e mais missionário da Consolata”. Foram igualmente anos de “muitas dificuldades, sobretudo muitos preconceitos, até mesmo contra nós que trabalhávamos com estes doentes”. Muito criticado, lembra um colega que lhe atirou: “Tu não devias ser missionário da Consolata; deverias ter sido camiliano”. É a partir desse momento que Valeriano Paitoni lança a sua cruzada: “A sida não é apenas uma doença; é sobretudo

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uma questão social, que tem de ser en­ frentada também através da fé cristã”. Na favela, começaram a aparecer casos de “jovens que eram jogados fora pela família, rejeitados pelos amigos e pela sociedade: a sida é peste; a sida mata”. As primeiras campanhas de publicida­ de tiveram como efeito aumentar ainda mais os preconceitos. A família sentia­ -se mal: “o meu filho é homossexual e contraiu a sida”. Era a vergonha da fa­ mília. “A maioria dos infectados perdia tudo: a casa e, sobretudo, a dignidade”. FÁTIMA MISSIONÁRIA (FM): Como é que pensou enfrentar esta calamidade? VALERIANO PAITONI (VP): Naquele tempo, tínhamos uma casa que estava desocupada. Comecei a recolher aí jo­ vens e adultos que viviam na rua. Desde o começo, entendi que se tratava de uma situação missionária, na linha do nosso carisma. Foi nos anos 80, quando apa­ receu a pandemia no Brasil. O problema da sida não era apenas uma doença, mas um verdadeiro problema social: de rejei­ ção, de exclusão, de verdadeiro sofri­ mento. O nosso carisma de consolação tinha de prevalecer. Como missionário da Consolata, não podia ficar de braços cruzados. Reuni alguns voluntários e come­çámos a acolher os doentes. O passo seguinte foi brigar com as auto­ ridades, pelos direitos destes pacientes. A maioria dos hospitais não os aceitava. Iam parar ao hospital de doenças infec­ ciosas, Emílio Ribas. Em pouco tempo ­ficou superlotado. Permaneciam aban­ donados nos corredores cheios de camas e macas, e de colchões no chão. Entretan­ to surgiram outros grupos e começámos a reunir-nos para exigir um tratamento digno e humano para estes doentes.

As escolas começaram a perceber a necessidade de esclarecimento. No começo era terrível. Pensava-se que a sida se transmitia com uma picada de insecto, que era arriscado jantar ou conviver com um paciente. Para derrubar estas barreiras e preconceitos, começámos um trabalho enorme, de formiguinha, de escola em escola, a esclarecer os jovens

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FM: Iniciado o movimento de apoio, era necessário dar outros passos? VP: Passámos, em seguida ao trabalho de prevenção: ir às escolas, aos grupos de jovens das paróquias. Foi um traba­ lho louco, a correr de um lado para o ou­ tro, para chegar ao maior número pos­ sível. As escolas começaram a perceber a necessidade de esclarecimento. No co­ meço era terrível. Pensava-se que a sida se transmitia com uma picada de insec­ to, que era arriscado jantar ou conviver


com um paciente. Para derrubar estas barreiras e preconceitos, começámos um traba­lho enorme, de formiguinha, de escola em escola, a esclarecer os jovens. Quando me nomearam administrador do Instituto da Consolata, aceitei o encar­­go com a condição de me deixarem continuar o trabalho pastoral que vinha fazendo. Então interroguei-me: Porque é que não abrimos uma casa? Nasceu assim o Lar Betânia, para adultos, que ainda hoje está a funcionar. FM: Como é que começou o trabalho com as crianças infectadas? VP: Quando, mais tarde, fui para a pa­ róquia de Nossa Senhora de Fátima, Imirim, começaram a aparecer crianças infectadas em linha vertical, isto é, de mãe para filho. Os médicos que já conheciam o nosso trabalho, suplicaram que abríssemos uma casa para crianças. Não sabiam e não tinham onde as colocar. Fiz uma proposta ao conselho pastoral e, depois de muita reflexão, votaram a favor da abertura da Casa Siloé. Seguiram-se o Lar Suzana e a Vila Vitória. Esta acolhe jovens com 18 anos, que não tiveram a sorte de serem adoptados ou ter um tio que os recebesse. É a última etapa para que esses jovens possam ingressar na vida activa da sociedade. FM: Qual é o método de trabalho para lidar com os utentes das vossas casas? VP: Sempre pensei, desde o início, numa

Desde o início, sempre pensei, numa casa inspirada pelo espírito de família, que o nosso fundador, beato José Allamano, nos deu casa inspirada pelo espírito de família, que o nosso fundador, beato José Allamano, nos deu. Não pode ser um depósito de doentes que estão à espera de morrer, mas a casa familiar que eles perderam. As nossas são casas de família, não têm nada dos antigos orfanatos ou hospitais. Em cada casa, não temos mais de 12 crianças, para podermos acompanhar cada uma individualmente, como pessoa e não como um simples número. Procuramos que vivam em família: meninos, meninas, crianças de poucos meses, adolescentes e os mais crescidos, como acontece nas famílias normais. Estão inseridas na escola pública, têm a

liberdade de sair, de fazer amizades, festas com colegas da escola em casa deles ou em nossa casa. Vivem inseridos na comunidade paroquial como qualquer outra criança. Esta prática desenvolveu amizades e fez cair muitos preconceitos. Esta grande característica tornou as nossas casas uma referência não apenas nacional, mas também internacional. FM: Depois dos preconceitos, que outras dificuldades encontram? VP: Hoje os preconceitos são muito mais velados. Existem ainda muitos. As nossas crianças hoje estão a enfrentar a questão da afectividade e da sexualidade. Começam os namoricos e as primeiras rejeições. Surge o grande conflito: “Padre, vou dizer que sou portador do vírus?”. Respondo com clareza: “Não tens o dever de falar para ninguém. Porém, quando começares um relacionamento afectivo, é bom falar da tua situação. Não escondas”. Se a relação afectiva cresce, vira namoro e se passam a amar-se de verdade, o choque vai ser ainda maior. Orientamos os nossos adolescentes: “Escolham o momento oportuno para falar que são portadores do vírus”. É claro que nem sempre a pessoa entende. Tivemos um caso muito bonito. Quando a nossa primeira menina se apaixonou por um colega da escola, que não era portador do vírus, disse-lhe que queria conhecer o seu namorado. Filho único, de descendência alemã, um rapaz

Dia Mundial da Luta Contra a Sida Celebra-se a 1 de Dezembro, data em que foi diagnosticado, em 1981, o primeiro caso de sida. De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, existem cerca de 33,4 milhões de pessoas infectadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), em todo o mundo, e todos os anos morrem dois milhões de infectados. A sida (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma doença não hereditária, causada por este vírus, que enfraquece o sistema imunitário do nosso organismo, destruindo a capacidade de defesa em relação a muitas doenças. O vírus pode manter-se incubado no corpo humano por tempo indeterminado, sem que manifeste quaisquer sintomas. Uma

pessoa positiva ao HIV pode não ter sinais da doença, aparentando mesmo um estado saudável durante um perío­do que pode durar vários anos. No entanto, essa pessoa está infectada e, porque o vírus está presente no seu organismo, pode, durante esse tempo, transmiti-lo a outra pessoa. A sida caracteriza-se por uma quebra do sistema imunitário do organismo. Por este motivo, as infecções de ordem geral não podem ser combatidas eficazmente. Actualmente, a cura do vírus não é possível, embora possa ser controlado com medicamentos. O Dia Mundial da Sida de 2011 tem por tema: “Zero novas infecções, Zero pessoas discriminadas e Zero mortes relacionadas com a infecção HIV”.

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Quem faz o tratamento como deve ser, pode viver uma vida normal. Os médicos afirmam que podem chegar à idade adulta de 40 ou 50 anos

bonito, falei com ele: “Você está consciente da situação?”. E ele respondeu-me: “Sim, ela já me falou e eu sei como nos devemos proteger, sei o risco que posso correr, mas nós queremo-nos bem, amamo-nos”. Perguntei-lhe: “Os teus pais sabem?”. “Já falei com o meu pai e ele quer falar consigo”. Nem consegui dormir bem nessa noite. O que é que lhe vou dizer? O pai veio e disse-me: “O senhor deve estar preocupado; não se inquiete. Sei o risco que o meu filho está a correr. Já falei com ele: se este amor é verdadeiro, nós não temos nada a opor”. Este facto tem o significado de uma grande vitória. Percebemos que o nosso esforço para inserir estas crianças na comunidade, a todos os níveis, está a produzir frutos, derrubando barreiras. É o problema maior que as nossas crianças têm de enfrentar.

FM: Hoje, os medicamentos já controlam o vírus. Quais os novos desafios? VP: Quem faz o tratamento como deve ser, pode viver uma vida normal. Os médicos afirmam que pode chegar à idade adulta de 40 ou 50 anos. Evidentemente que têm de tomar os medicamentos todos os dias. O vírus já não é o problema maior, mas os efeitos colaterais destes remédios. São eles que fazem aumentar muito o colesterol, os triglicémios, podendo provocar derrames cerebrais ou outros problemas. A grande dificuldade para os portadores do HIV é serem acolhidos no mundo do trabalho. De três em três meses têm uma consulta, por vezes apanham uma constipação e têm de correr para o médico para ver se há risco de pneumonia ou outras doenças. É claro que o empregador destes jovens fica preocupado.

Há ainda os problemas de acolhimento nas próprias famílias. É uma das grandes lutas que estamos a travar: convencer as famílias que o jovem tem uma vida praticamente normal, que pode conviver com todos

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Há ainda os problemas de acolhimento nas próprias famílias. Estamos atentos às relações com os pais ou familiares e temos tido algum sucesso. Mas é difícil convencê-los a reassumir o jovem ou a criança no seio da própria família. É uma das grandes lutas que estamos a travar: convencer as famílias que o jovem tem uma vida praticamente normal, que pode conviver com todos. FM: Como é que a sociedade e a Igreja olham para este missão? VP: Actualmente a Igreja no Brasil admira quem se dedica a este trabalho. É significativo que grande parte da assistência aos portadores de HIV está nas mãos da nossa Igreja. Está na primeira linha. Eis porque o governo quer estar de bem com a Igreja. Sabe muito bem o trabalho que ela desenvolve não tanto na prevenção, mas sobretudo na assistência a estes doentes. Pessoalmente penso que a Igreja no Brasil peca ainda no campo da prevenção, devido à questão do preservativo. Um dia, gostaria de fazer um inquérito para saber quem é que fala mais dos valores evangélicos que favorecem a prevenção: como a fidelidade, a castidade e assim por diante. Não sei se haverá na cidade de São Paulo um padre que fale tanto destes valores quanto eu. Há quem me


Os doentes vêm de famílias que não têm as condições mínimas para cuidar delas próprias, muito menos dos próprios filhos infectados. Mais uma vez estamos perante uma questão social, de recuperar a dignidade humana. Como dizia o beato José Allamano, é preciso primeiro fazê-los homens e depois cristãos

condene por ser a favor do preservativo. Quando dou uma palestra, coloco em primeiro lugar os valores evangélicos, mas não posso não falar do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) me apresenta para enfrentar esta pandemia, que é o uso do preservativo. Não é que esteja a propagandear o seu uso, para favorecer uma vida sexual desregulada. Logo de entrada, apresento os valores evangélicos e, em seguida, sinto o dever, como cidadão, de informar o que diz a OMS sobre os métodos mais apropriados para travar a pandemia da sida. Afirmo sempre que a consciência é de cada um que me ouve. Refiro sempre este exemplo. Quando alguém vem ter comigo para se confessar e declara que traiu a esposa, pergunto sempre: Você usou o preservativo? Se não o usou, cometeu dois pecados: da infidelidade e correu o risco grave de levar para dentro de sua casa uma doença que ainda não tem cura. Neste caso, o uso do preservativo é uma bênção. Pelo menos, não leva para dentro de casa um mal maior. FM: Esta pandemia está cada vez mais controlada. Até quando este trabalho? VP: Actualmente mudou o perfil do doen­te do HIV. Quando aparecer uma cura definitiva, estas obras provavelmente já não serão precisas. Mas esta meta ainda está muito longe. Quando

É significativo que grande parte do trabalho de assistência aos portadores de HIV está nas mãos da nossa Igreja abrimos a primeira casa, acolhemos crianças recém-nascidas. Então os médicos diziam-nos que uma criança que nascia infectada com o vírus, poderia chegar aos seis ou sete anos, quando bem cuidada. Apareceu então o “cocktail” que conseguiu prolongar a vida das crianças infectadas. Hoje, há novos medicamentos que prolongam a sua vida até aos 40 ou 50 anos. Evidentemente que tivemos que adaptar o nosso trabalho com estas crianças às novas realidades. Não sabe-

mos o que nos reserva o futuro. Temos de aprender a viver de acordo com o progresso da ciência e de acordo com a situação que o país irá enfrentar. O apoio ao problema do HIV é mais necessário hoje do que no passado. Os adultos estão a enfrentar o grave problema da ineficácia do “cocktail”, com a consequência de não conseguirem emprego. As nossas crianças enfrentam a problemática da afectividade. Além disso, temos mais pedidos de adolescentes, entre os 13 e 15 anos, que procuram as nossas casas de apoio, do que recém-nascidos. Muitos deles ficaram com os familiares e não puderam beneficiar dos cuidados que os nossos têm, quando chegam aos 13 e mais anos, já não dispõem de nenhum “cocktail” que lhes valha. Os últimos óbitos registados nas nossas casas foram destes adolescentes. Chegaram às nossas mãos de tal forma debilitados que já não havia meio de os recuperar. Em geral, vêm de famílias que não têm as condições mínimas para cuidar delas próprias, muito menos dos próprios filhos infectados. Mais uma vez estamos perante uma questão social, de recuperar a dignidade humana. Como dizia o beato José Allamano, nosso Fundador, é preciso primeiro fazê-los homens e depois cristãos. É claro que os dois aspectos são, naturalmente, inseparáveis.

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O Natal vivido com Padre Peixoto

sacerdote diocesano português

A festa do nascimento Olá amiguinho! Estamos num mês tão especial e tão festivo! Vamos juntos viver e celebrar a festa do nascimento do Menino Jesus! Queremos que não seja a festa do consumismo, mas da simplicidade. O Menino nasceu no meio do silêncio e da simplicidade. Alguns sacerdotes e uma irmã missionária vão dizer-te como festejavam o Natal quando eram meninos como tu. Repara como Jesus entrou nas suas vidas texto CARLOS E MAGDA ilustrações RICARDO NETO FÁTIMA MISSIONÁRIA

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O Natal da minha infância era vivido como um acontecimento de fé. O seu grande símbolo era o presépio. Um ramo de sobreiro, colocado num ângulo da sala, servia de árvore de Natal. Musgo, folhas secas, papel colorido ou tecidos compunham o espaço onde se alinhavam cordeirinhos, pastores, gente do povo e reis. Uma estrela maior, em papel colorido, dava uma luz misteriosa à modesta choupana, que abrigava a Sagrada Família, à espera das visitas de pastores e magos. Neste cenário fascinante de um mundo de singeleza, que acolhia e adorava o Deus Menino, rezava-se o terço em família, depois da ceia da consoada. O Menino Jesus dava-nos as prendas: alguma peça de vestuário que a mãe confeccionava com as suas próprias mãos, bombons, guloseimas simples, conforme

a modéstia geral do tempo. Mas reinava a alegria! Afinal, a prenda maior e garantida era mesmo o Menino Jesus! Depois da ceia, os mais novos jogavam o seu capital de pinhões ao «par ou pernão», ou fazendo girar o «rapa». Os mais velhos jogavam as cartas. Nessa noite, o pai afinava o banjo e deliciava-nos com melodias de Natal tocadas de ouvido. Por vezes, até se ensaiavam janeiras para cantar a vizinhos e parentes. A missa de Natal tinha lugar na manhã do dia 25. Era então que os mais pequenos se encantavam na visão do presépio da Igreja, bem mais artístico e monumental que o das suas casas. E todos iam jubilosos beijar a imagem do Menino. A festa continuava no aconchego da família, onde um braseiro fazia esquecer o frio que enregelava.


simplicidade e alegria Irmã Luísa

missionária portuguesa em Angola Quando eu era menina, tudo começava a 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição. Lá em casa, primos, irmãos e eu, montávamos o presépio com musgo. No colégio, durante as quatro semanas do Advento, traçávamos metas para chegar ao Natal: preparar os caminhos do Senhor, ir mudando o nosso coração para sermos mais parecidos com o Menino Jesus. Deste modo, pensávamos poder ganhar algum presente na noite de Natal, algo que magicamente caía dentro do sapato, colocado no fim do

jantar na chaminé da cozinha. A noite de Natal era uma festa. A família reunia-se toda e a mesa enchia-se de especialidades da avó e da mãe, desde as rabanadas, ao leite-creme, à aletria, aos bolinhos de bolina. Muitos anos depois, passei estas festas em terras de África. Confesso que me senti muito estranha ao ir à missa do Galo em manga curta. Lá, Dezembro é o mês mais quente do ano. Impressionou-me muito ouvir alguns angolanos dizerem que o Natal era o dia em que comiam arroz e não a “fuba” de todos os dias.

O meu cantinho da oração… A Ti, Maria, Mãe de Jesus, quero-Te agradecer por nos teres dado Jesus na maior simplicidade, maior beleza e maior alegria! Ajuda-me a viver este novo NASCIMENTO com mais calma, ternura e naturalidade sem pressas nem exigências, mas aceitando tudo como vindo de Ti e do Pai do Céu. Liga os corações do 1 ao 14, seguindo as linhas tracejadas. Passando de coração em coração, poderás ler a frase de Maria; transcreve-a, palavra por palavra, para os espaços correspondentes aos números de cada coração LOUVAR 2

Padre Maurício Na minha aldeia, Metán, na província de Salta, Argentina, o Natal é muito significativo sobretudo para as crianças. Quase todas as casas preparam um grande presépio à entrada. Fazem-se umas grandes montanhas de cartão, cascatas de água, colocando um sem-número de imagens que se possam encontrar. Em frente da manjedoura, reserva-se um espaço amplo, onde se coloca o menino Jesus na «noche buena» ou noite de Natal. Também se colocam aí as caixas das prendas que devem ser abertas nessa noite, quase mágica para o imaginá-

rio das crianças. No dia seguinte, as crianças vão em grupo pelas casas, com instrumentos musicais improvisados, para cantar, dançar e adorar o menino Jesus. Quando as crianças acabam de cantar, as pessoas costumam oferecer alguma bebida fresca ou gelados. Se nessa casa há crianças, elas juntam-se ao cortejo, para ir cantar a outra casa. Tudo gira à volta do presépio. A árvore de Natal não nos diz nada, porque o pinheiro com neve lembra o inverno da Europa. Na minha terra, na noite de Natal, a temperatura anda pelos 30 a 35 graus.

QUERO 1

o 3

missionário argentino

SALVADOR 9

MEU 8

o 7

DEUS 5 SENHOR 4

EU 10

ESTOU 11

CHEIA 12 DE 13

É 6

ALEGRIA 14

1__________ 2__________3_________ 4__________ 5__________ 6__________7__________ 8__________ 9__________ 10_________11_________ 12_________ 13_________ 14_________

David Kuzenza

missionário tanzaniano Na minha paróquia, na Tanzânia, é costume fazer o presépio ao vivo, com pessoas e animais de carne e osso a representarem as figuras principais. A celebração do nascimento de Jesus acontece durante uma missa drama-

tizada. Começa com a representação da criação do mundo, passando pela queda do homem, com o pecado, até ao nascimento do Menino Salvador, em Belém. Terminada a longa celebração, cada um regressa a sua casa. DEZEMBRO 2011

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Comprometer-se para toda

texto JOÃO BAPTISTA foto LUSA

a vida

Ide e descobri vós mesmos estas realidades. Não existe nada que substitua o risco e a experiência pessoal

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Certo homem emigrara

para a Amazónia. Depois de ter explorado os segredos e riquezas da floresta amazónica, regressou à sua terra natal. Os seus conterrâneos estavam curiosos de ouvir as histórias e peripécias da sua aventura. Mas como poderia ele exprimir as sensações que invadiram o seu coração ao explorar a floresta, contemplando as flores carregadas de beleza, escutando os sons nocturnos da selva? Como comunicar os sentimentos que experimentou quando se deu conta do perigo das feras ou quando conduzia o seu barco pelas águas incertas do rio? Aconselhou as pessoas a tentaram fazer a sua própria experiência: Ide e descobri vós mesmos estas realidades. Não existe nada que substitua o risco e a experiência pessoal. Para lhes facilitar a aventura, até lhes preparou um mapa da floresta, oferecendo um exemplar a cada um.

Do mesmo modo, tendo sido ordenado sacerdote missionário muito recentemente, não tenho a pretensão de de me apresentar como um grande explorador da vocação sacerdotal e missionária. Quando o assunto é “escolher um caminho e um estilo de vida que se estenderá pela vida inteira”, a resposta nem sempre é fácil. Quando falamos de vocação, falamos sempre de uma história pessoal de vida e do modo como essa mesma pessoa consegue entrar na grande história, que é a história de amor de Deus por cada um de nós. Lembro-me que, no período em que estava a descobrir a minha vocação, andei às apalpadelas para tentar decifrar o papel que Deus me queria

É necessário pegar na mochila e fazer a experiência. Partir! confiar. Só consegui encontrar sinais e testemunhos de vida, que me levaram a compreender que o mundo precisava sempre mais de Deus e que Ele precisava de mim. Na interpretação desses sinais saídos do meio do povo, fui tendo, cada vez mais, cons­ ciência que Deus me chamava para um projecto maior, para uma missão mais desafiadora, que é ser missionário. E este chamamento não era por um breve período de tempo, mas por toda a vida. Agora dou-me conta que não poderia ser feliz, se não tivesse aceite esse convite de Deus.

Se me perguntassem

porque é que Deus me chama, a que me chama e porquê por toda a vida, diria que a vocação é mais que um

experiência da “loucura” positiva de ser colaborador e instrumento de Deus na vida das pessoas.

chamamento. É um convite a realizar-me e a ser feliz. Deus convida-nos para entrarmos na grande roda da vida, da qual ninguém deveria ficar de fora. Deus lança-nos um grande e emocionante apelo para sermos melhores, para colaborarmos com Ele no seu projecto maior, que é a salvação e a libertação para todas as pessoas. É um projecto de felicidade. Ele chama-me para ser feliz. Está em jogo a minha realização pessoal de vida. É a mim que Ele chama para esta missão e não o meu vizinho. Com o meu amigo contará para outra missão. Cada um tem a sua história de vida, com o seu chamamento pessoal. Cada um deverá fazer a sua própria experiência de chamamento e entrega. É a

Na história da minha vida,

fui descobrindo, aos poucos, o convite de Deus para ser missionário. Nesta descoberta, tenho consciência de que Deus contou com a ajuda de pessoas, de variadas circunstâncias, de acontecimentos normais da minha vida. Pouco a pouco, fui estudando e reflectindo, rezando e deixando-me interpelar por Deus. Fui percebendo que o meu caminho ia lentamente tomando forma e definição. Assim, cada um deve pegar na sua mochila e caminhar. Não posso não desejar-vos que descubrais o vosso próprio caminho. Não há nada que substitua o risco, a experiência pessoal e comunitária de quem se entrega totalmente e para sempre à missão. É necessário pegar na mochila e fazer a experiência. Partir!

Conhecer, admirar e amar Um sacerdote, com mais de 70 anos, explicou-me que a vocação tem três etapas fundamentais: conhecer, admirar e amar. A pessoa começa por conhecer o estilo de vida a que se sente chamado. Em seguida, terá que admirar e apreciar esse estilo de vida, para aprender a amá-lo. Amando, vai-se entregando e deixando-se levar pelo grande amor de Deus. Um jovem seminarista, que acabou de concluir o curso de teologia, confidenciou-me alguns segredos da sua escolha, que durará para toda a vida. O jovem seminarista está convencido que a vida deve ser vivida com empenho sério,

doutra forma não faz sentido viver por viver. A alegria de viver passa pela entrega total da nossa pessoa ao projecto de Deus e ao serviço dos irmãos. Confessa que ainda existem espaços no seu coração para serem preenchidos de amor aos outros. A palavra de Deus tem razão quando afirma que há mais alegria em dar do que em receber. Na sua opinião, a vocação missionária é falar de um Deus que nos chama à vida, a sermos felizes, a sermos santos. É, acima de tudo, ajudar as pessoas a trilhar os caminhos que as levam a realizarem-se como pessoas e a encontrarem a sua própria felicidade.

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Para tocar bem sobre a terra temos que olhar a partitura que está no Céu

Recobrar a esperança texto DARCI VILARINHO foto LUSA

Vem aí o Natal! Volta o presépio na doce recordação da nossa infância! São dias de poesia e de ternura, que curam egoís­mos e rompem barreiras. São mensagens de bondade e de humanidade. É um retorno à inocência, espelhada no Menino encantador, deitado sobre palhas, a sorrir ou a chorar. Mas, será só isso? Não será antes o acontecimento mais sério e prodigioso da história dos homens? Sim! É Deus que se revela em carne humana, para salvar o nosso mundo, tantas vezes desesperado e desorientado. Com o Deus feito Menino, nasce o homem novo. Ele esvaziou-se dos divinos atributos para ligar o seu destino à nossa liberdade. Meteu-se na nossa carne, como fermento na massa, para nos renovar e divinizar. Precisamos todos de retornar à gruta de Belém para entendermos o amor de Deus infinito e recuperarmos a esperança.

Uma orquestra divina

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Foi há cerca de dois mil anos que o Verbo de Deus montou a sua tenda no meio de nós. Trouxe como missão recompor a família humana à imagem da vida de Deus. Unir todos os homens numa só família. Trouxe-nos a boa notícia do amor eterno de Deus por cada um de nós. Ensinou-nos a criar relações novas à imagem do que se vive no Céu. Ensinou-nos a dialogar com o Pai através do Filho e em comunhão com o Espírito Santo, para sabermos discernir em cada momento a vontade de Deus. Ensinou-nos a dar a vida uns pelos outros. Implantou neste mundo um pedaço de Céu. A nossa terra é uma orquestra, infelizmente tantas vezes desafinada, onde DEZEMBRO 2011

cada um toca para seu lado sem ouvir os sons do outro. Teimamos em seguir a nossa própria partitura. Para tocar bem sobre a terra, temos que olhar a partitura que está no Céu. Só então seremos capazes de tocar a harmonia que, desde sempre, Deus sonhou para nós. Bastaria tão pouco! Uma boa afinação quotidiana pelo diapasão da Palavra de Deus seria suficiente para tocarmos e cantarmos em harmonia. Diminuiriam as crises. O bem dos outros seria o meu próprio bem; as dificuldades dos outros seriam as minhas dificuldades. As guerras, as violências físicas e morais, os individualismos, os ódios e as vinganças são desafinações que depressa acabariam.

Assim na terra como no Céu

Neste Natal de 2011, podemos colaborar para organizar uma orquestra diferente. Ao contemplarmos a doce criança que revolucionou o mundo, vamos acolher o seu pedido de olhar mais para o alto. Vamos ler essa divina partitura que nos ensina a verdadeira melodia. Talvez, nem seja preciso olhar para o alto. Podemos descobrir o Céu dentro de nós, essa morada íntima que Deus escolheu. Ou basta que cada um descubra em cada irmão um pedaço de Céu e leia, momento a momento, as notas que deve tocar. Oferecer um sorriso ou um perdão, lavar pratos ou cozinhar, prestar um serviço ou aliviar uma dor, resolver um problema ou partilhar uma alegria, esclarecer uma dúvida ou enxugar uma lágrima, são notas de uma partitura divina que, bem combinadas, fazem as delícias de Deus e dos homens. Como Cristo pediu! Assim na terra como no Céu!


A palavra faz-se missão EM DEZEMBRO 2º Domingo de Advento Is 40, 1-5.9-11; 2 Pedr 3, 8-14; Mc 1, 1-8

CAMINHOS NOVOS

“Preparai o caminho do Senhor”, proclama João no deserto. Vai chegar a divina misericórdia, incarnada em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Já chegou, e se calhar ainda não nos apercebemos da sua presença no meio de nós. Vamos abrir os olhos, vamos desbravar o nosso terreno para que uma vida nova possa nascer em nós. Que este Advento, Senhor, ponha harmonia na minha vida e me ajude a limpar do meu caminho tudo aquilo que impede a tua passagem. Imaculada Conceição Gen 3, 9-15.20; Ef 3, 6.11-12; Lc 1, 26-38

O ENCANTO DO SENHOR

No caminho do Advento temos Maria como companheira de viagem e ­modelo de vida cristã. Ela, a cheia de graça, a alegria do seu Senhor. Nela e por ela Deus encontra-se com a humanidade para a restaurar segundo o modelo que saiu das suas mãos. Maria é essa criatura nova perante a qual Deus se extasia. Não há nela mancha de pecado. É puro sim ao plano de Deus, imagem do sim que todos devemos pronunciar. Ó Maria, cheia de graça e encanto do Senhor, ensina-me a viver de coração limpo e disponível à vontade de Deus. 3º Domingo de Advento Is 61, 1-2.10-11; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8.19-28

PREPARAR O SEU NATAL

Vamos preparar o Natal do Senhor. Daquele que “os Profetas anunciaram, a Virgem Mãe esperou com inefável amor, João Baptista proclamou estar para vir e mostrou já presente no meio dos homens. É Ele que nos dá a graça

de nos prepararmos com alegria para o mistério do seu nascimento, a fim de nos encontrar vigilantes na oração e celebrando os seus louvores”. Oração e louvor! Que outras preocupações não nos desviem, Senhor, da verdadeira prenda que de Ti um dia recebemos. 4º Domingo de Advento 2 Sam 7, 1-5.8-16; Rom 16, 25-27; Lc 1, 26-38

A PRENDA DA MÃE

“Nós te louvamos, bendizemos e glorificamos, Senhor, pelo admirável mistério da Virgem Mãe. A graça que em Eva nos foi tirada, foi-nos restituí­da em Maria. Nela, Mãe de todos os homens, a humanidade, resgatada do pecado e da morte recebe o dom da vida nova: onde abundou a culpa, super­ abundou a misericórdia, por Cristo, nosso Salvador”. Obrigado, ó Mãe, pelo mistério bendito do teu Sim ao plano de Deus em nosso favor! Natal do Senhor Is 9, 1-6; Tit 2, 11-14; Lc 2, 1-14

HABITOU ENTRE NÓS

“A luz olhou para baixo e viu trevas: é lá que eu quero ir – disse a luz. A paz olhou para baixo e viu guerras: é lá que eu quero ir – disse a paz. O amor olhou para baixo e viu ódios: é lá que eu quero ir – disse o amor. Foi assim que apareceu a luz e inundou a terra; foi assim que apareceu a paz e ofereceu harmonia; foi assim que apareceu o amor e trouxe a vida. E o Verbo de Deus incarnou e veio morar no meio de nós” (Paulo Guerra). Que a nossa humanidade, Senhor, tome consciência dos valores que adquiriu com a tua vinda sobre a terra.

DV

Para que as crianças e os jovens sejam mensageiros do Evangelho e para que a sua dignidade seja respeitada e preservada de qualquer violência e exploração

Crianças no apostolado Tratando-se de crianças no apostolado como mensageiras do Evangelho temos aqui perto de nós, em Fátima, o exemplo dos três pastorinhos que foram catequizados pela própria Mãe do Céu em seis lições, uma vez por mês, de Maio a Outubro de 1917. Elas ouviram a mensagem que a Virgem lhes transmitiu, aprenderam-na de cor, rezaram-na e transmitiram-na, palavra por palavra, aos primeiros peregrinos que vinham a Fátima, depois aos jornalistas e escritores que procuravam por todos os meios apanhá-los em contradição ou obrigá-los a desdizerem-se. Mas elas, as crianças, nada de complicações. A Senhora mais brilhante que o sol tinha dito assim e assim é que era. Nem a força das pancadas, nem as ameaças de morte do administrador do concelho, nada conseguia demovê-las. Belo testemunho para os missionários, que vão anunciar a Cristo, para que não caiam na tentação de se anunciarem a si mesmos. Cristo é Cristo e é a Ele e a mais ninguém que se deve anunciar. Quanto às crianças, é pena que, nem sempre lhes seja dado o respeito e o carinho que merecem. MC DEZEMBRO 2011

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Carta aos cristãos do século XXI

João Paulo II «Santo já!»

Esta mulher, pois de uma mulher se trata, teve muita coragem ao colocar este título no opúsculo que aqui apresentamos. Não é nem por sombras, uma carta vulgar que ela escreve para os cristãos de hoje. É antes um apanhado de algumas frases de São Paulo, extraídas das suas cartas e às quais faz alguns comentários para melhor enquadramento do texto. Ao fim e ao cabo surge este livrinho de centena e meia de páginas com títulos bastantes sugestivos em cada capítulo. Exige conhecimentos bíblicos.

Por muito que se tenha dito e escrito a respeito de João Paulo II, ainda se não disse tudo. Vão aparecendo sempre motivos novos para recomeçar por outra ponta. O povo é quem mais ordena e, por isso, logo que se anunciou na Praça de São Pedro em Roma que o Papa tinha morrido, estalou logo um coro de vozes gritando: «Santo já!», como quem diz: “Queremo-lo declarado Santo imediatamente”. À sombra desta frase, o autor compilou uma historiazinha bonita que dá gosto ler.

Autora: Maria Stella Salvador 160 páginas | preço: 9,90€ Paulus Editora

Três longos capítulos distribuídos por 228 páginas formam o conteúdo desta obra de Jean Guitton que foi escrita quando o autor tinha 95 anos de idade. A

A família que reza no dia-a-dia

característica mais significativa

O título e o conteúdo deste livro fazem ecoar aos nossos ouvidos aquilo em que muito se insistiu: que a família era uma pequena igreja doméstica onde tudo decorria ao ritmo do bater das horas e das badaladas do sino. Um pouco ao jeito da vida monástica. Hoje, as coisas estão muito mudadas o que não tira mérito ao livro e a quem o escreveu. Tem um esquema para cada dia do ano: tem Bíblia, oração, reflexão e bênção.

do texto é ser ele o produto de

Autor: Pietro Fiordelli 376 páginas | preço: 21,30€ Paulus Editora

uma entrevista que o autor dá a uma jornalista italiana que o provoca a responder a mil e uma interrogações sobre mil e um aspectos da sua própria vida, da Igreja, do Papa e da sociedade em geral. Sendo em forma dialogante torna-se acessível e mais apetecível a todos. Autor: Jean Guitton 228 páginas | preço: 16,00€ Editora Âncora

Autor: Januário dos Santos 72 páginas | preço: 3,00€ Editorial Missões

Actividades da Bíblia Vê-se pela capa que se trata de um livro próprio para crianças, mesmo para as que ainda não sabem ler. Claro, estas precisam da ajuda dos pais, catequistas ou outros educadores. O livro abrange cenas do antigo e do novo testamento. São ao todo 15 histórias cheias de ilustrações coloridas, puzzles para completar e imagens para colorir. Vai ser uma festa para as crianças ter nas mãos um livro de formato grande com 33 páginas coloridas. Autora: Bethan James 32 páginas | preço: 4,50€ Paulus Editora

Relatório 2010 liberdade religiosa no mundo

Preparemo-nos para o Natal com Bento XVI

O livro retrata uma situação crítica, a nível mundial, da liberdade (ou não) de culto. Os conflitos militares, o terrorismo e as ditaduras, entre outras causas, contribuíram para as situações mais alarmantes. Neste relatório analisa-se a situação referente a 2010 no que respeita ao estado religioso de 194 países, com base nos documentos oficiais e outras informações fidedignas fornecidas por organizações de direitos humanos.

É um opusculozinho de 48 páginas contendo leituras, orações e outros textos de meditação colhidas pelo autor nas homílias e discursos do Papa e em outras fontes. Por isso se diz em subtítulo: “Preparemo-nos para o Natal com Bento XVI”. Em prática é uma novena que nos ajuda a viver espiritualmente os últimos nove dias antes do Menino nascer.

Autores: Vários | 508 páginas | preço: 15,00€ | Fundação AIS

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Organização: Lucio Coco | 48 páginas preço: 2,75€ | Paulus Editora


Fosso entre Norte e Sul Acompanhamento espiritual Queixamo-nos da falta de vocações. Em muitas dioceses do chamado mundo ocidental e também nos institutos e ordens religiosas elas escasseiam mesmo. Quais os motivos? Que fazer para os resolver? Este pequeno volume, oferece preciosos contributos a quem quiser formar-se na arte do acompanhamento espiritual para ajudar os jovens, e não só, a descobrirem a sua verdadeira vocação.

Autores: Vários 152 páginas | preço: 11,00€ Paulus Editora

O bispo, servidor da esperança José Manuel Cordeiro é o bispo mais novo entre os seus pares portugueses. Escreve este livro onde se retrata como bispo e dá pistas para que outros sigam a mesma linha. Privilegia a palavra servidor aplicada a qualquer bispo como servidor do único Evangelho da Esperança que é Cristo. Claro, o autor não se limita a esta palavra; toca e explica outros aspectos que dizem respeito ao serviço eclesial do bispo. O livro é acessível e agrada a qualquer leitor. Autor: José Manuel Cordeiro 128 páginas | preço: 8,00€ Paulinas Editora

Passagem entre as margens da vida Um livro estranho: É prosa, é poesia, é sentimento, é reflexão, é tudo. Com um pendorzinho para o que é uma especialidade do autor: a vida, a morte e o espaço de tempo entre estas duas realidades. O autor explora sobretudo a interrogação: Quanto dura a vida? Como é o além? Isto porque há umas coisas que todos sabemos e outras que todos ignoramos. Leitura difícil, conceitos elevados, não acessíveis a todos. Autor: Abílio Oliveira | 128 páginas preço: 10,50€ | Editora Âncora

“A União Europeia vive um dos momentos mais críticos da sua história. A crise financeira que afecta alguns dos seus membros está a pôr à prova a solidariedade que devia existir entre todos. Um fosso entre Norte e Sul, entre ricos e pobres ameaça destruir aquilo que levou mais de 50 anos a construir”. Rolando Santos | Família Cristã | Outubro 2011

Contra o facilitismo

“A luta contra o facilitismo, o parasitismo, a passividade, o consumismo e toda a espécie de drogas, exige uma colaboração leal de todos os intervenientes no processo educativo, os quais terão sempre presentes estas questões: Quais os objectivos a atingir? Quais os destinatários? Com que meios? Qual o tempo disponível? Com que cooperantes?”. Bernardo Domingues Rosário de Maria | Outubro 2011

Compromisso com a verdade

“Não sendo estática, a fé cristã também não é um seguro de vida estático. Implica o compromisso da pessoa em viver como Jesus, no risco da fidelidade e com todas as consequências. É suplemento de sentido que põe em andamento. Não põe ao serviço de uma ideia ou de um partido, mas de uma pessoa que se identificou como «a Verdade»”. Armindo Vaz Equipas de Nossa Senhora Maio/Junho/Julho 2011

Ditaduras caíram

“Há mais de 50 anos que o mundo árabe não vivia algo assim. Em poucos meses, sem que ninguém o previsse, o panorama político alterou-se de forma radical. Ditaduras aparentemente sólidas, que duravam há décadas, caíram com grande estrépito. Algo novo está a emergir. Só não se sabe se será para melhor”. Rolando Santos Família Cristã | Novembro 2011

Igreja humana

“Nunca deixei de sonhar com uma Igreja que me trate como ser humano, uma Igreja que esteja

sempre a meu lado mesmo quando sentir alguma dificuldade; onde, sempre que entrarmos, trocaremos dois beijos e, se alguém está a passar mal, nos juntamos para ver o que podemos fazer”.

Padre Rafael O Gaiato | 05/11/2011

Valorizar a catequese

“Se não queremos uma catequese falhada, olhemos para ela de outro modo e com um novo olhar. Não subestimemos, como, por vezes acontece, na linguagem que usamos. A catequese não é uma treta, como alguns pais, acredito que inconscientemente, se exprimem junto dos filhos. Valorizemos o acto catequético e a catequese no seu todo”. Catequista Notícias da Caranguejeira Outubro 2011

Idolatria do dinheiro

“Estamos a viver a nível mundial um fenómeno enorme de globalização e de complexidade: um mundo submetido à especulação financeira. É evidente que esta submissão vai obrigar que todas as instituições idolatrem a economia (competitividade, produção, consumo, compra e venda)”. Adérito Barbosa Valentes | Set./Out. 2011

Atenção aos jovens

“Necessitamos de transmitir afectividade, acolhimento, atenção – os jovens precisam de se sentirem bem, especiais, únicos, acolhidos, ao jeito de Jesus Cristo. Todas as oportunidades em que damos protagonismo e responsabilizamos os jovens, são meios de promover o testemunho”. Ondina Matos Agência Ecclesia | 01/11/2011

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Solidariedade vários projectos PARÓQUIA DO GURUÉ, MOÇAMBIQUE Mariana Ferreira – 50,00€; Fátima Matias – 10,00€; José Jorge – 10,00€; Fernanda Paninho – 50,00€; Manuela Pinto – 13,00€; Belmira Carvalho – 17,00€; Teresa Silva – 11,00€; Manuel Neto – 25,00€; António Costa – 20,00€; Waldemar Baptista – 120,00€; Anónimo – 5,00€; Anónimo – 5,00€; Celeste Oliveira – 15,00€; Anónimo – 50,00€; Ilídia Santos – 15,00€; Anónimo – 50,00€; Terezinha Matos – 10,00€; Dulce Silva – 10,00€; Anónimo – 20,00€; Alice Marques – 15,00€; Anónimo – 20,00€; António Seixas – 100,00€. Total geral = 38.661,08€. BOLSAS DE ESTUDO Anónimo – 296,00€; Isilda Cardoso – 500,00€; António Ribeiro – 250,00€; Antero Inácio – 250,00€; Emília Almeida – 250,00€; Maria Rosário Anselmo – 250,00€; Anónimo – 250,00€; Deolinda Gonçalves – 250,00€; Beatriz Barros – 250,00€; Joaquina Lourenço – 250,00€; Cidolina Dias – 250,00€; Teresa Mata – 250,00€; Lúcia Moura – 250,00€; Lucinda Costa – 250,00€; Adozinda Almeida – 250,00€; Emília Sequeira – 250,00€; Marieta – 500,00€; Anónimo – 250,00€; Gracinda Jesus – 250,00€; Família Afonso Isabel e família Barros – 250,00€; Aventino Alves – 250,00€; Maria José Alves – 250,00€; Maria Carmo Marques – 250,00€. PADRE JOÃO MONTEIRO FELÍCIA (BRASIL) Luís Ferraz – 310,00€. CRIANÇAS YANOMAMI Anónimo (Figueira da Foz) – 30,00€. LEPROSOS Ofertas recolhidas na loja dos artigos religiosos da Consolata – 124,83€. OFERTAS VÁRIAS Anónimo – 296,00€; Padre Weber Pereira – 500,00€; Ana Bernardes – 25,00€; Lúcio Ferreira – 20,00€; Maria Santos – 100,00€; Assunção Reis – 50,00€; Agostinho Rocha – 26,00€; Luísa Barbosa – 37,00€; Jorge Salvador – 86,00€; José Pereira – 62,00€; Conceição Policarpo – 40,00€; Grupo de Ferreira do Zêzere – 40,00€; António Sousa – 73,00€; Rosa Martins – 43,00€; José Lourenço – 25,00€; Amélia Bastos – 54,00€; Ausenda Carvalho – 110,00€; Agostinho Gameiro – 50,00€; Fernanda Ferreira – 31,00€; Isabel Pacheco – 25,00€; José Bernardes – 100,00€; Trindade Pereira – 96,00€; Rosa Gonçalves – 50,00€; Ofertas dos assinantes da freguesia do Alqueidão (Figueira da Foz) – 47,00€. Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 – SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes mortadas: 8 Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt 8 Rua D.a Maria Faria, 138 Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguas-santas@consolata.pt 8 Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt 8 Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt 8 Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Irmã Gualberta Balboni nasceu em Ferrara, Itália, a 26 de Janeiro de 1913. Entrou no instituto das irmãs da Consolata em Dezembro de 1939. Especializou-se em enfermagem e obstetrícia em Turim e na Inglaterra. Em 1954 partiu para as missões do Quénia onde trabalhou vários anos na área da sua especialidade. Faleceu em 20 de Outubro de 1997 texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Vigilante de serviço

A maior parte dos seus 43 anos de missão, foram passados a trabalhar nos hospitais: Nyeri – Mathari, Wamba e Nazareth Hospital falam dela com grata recordação. Era uma mulher que não deixava morrer o trabalho nas suas mãos. A bata branca de enfermeira qualificada. e até de directora e professora nunca foi obstáculo para que ela fizesse qualquer tipo de tarefas por mais humildes que fossem. Cumpria à risca a máxima do fundador, Beato Allamano, que exortava: “Ninguém diga, isto não é comigo!”. Nos tempos da irmã Gualberta o Quénia dava passos de gigante na caminhada da independência, mas havia carências grandes em muitos sectores. E o sector da saúde, era um dos mais afectados. A irmã Gualberta vivia estes problemas com grande ansiedade e, por vezes, tinha de fazer das tripas coração para os resolver. Outro tanto se diga dos horários: faltavam as pessoas qualificadas e a irmã é que tinha de as substituir. Era assim durante o dia e durante a noite. A toda a hora soavam campainhas dos doentes e não havendo enfermeiras ou auxiliares que atendessem à chamada, lá tinha de ir a irmã Gualberta. Como boa religiosa e com espírito missionário, soube enfrentar todas as tarefas que sobre ela impendiam sobretudo no campo da obstetrícia. Para o efeito tinha ela tirado um curso na Inglaterra. O que sabia transmitia-o às suas alunas e exigia que elas pusessem em prática o que lhes ensinava. Quando o trabalho parecia excessivo, ela puxava pelo seu sentido de humor e lá vinha uma piada ou uma anedota que desbloqueavam a situação. Era exigente consigo mesma, mas compreensiva e magnânima com os outros. Ainda hoje as suas alunas e as mães de família que ela assistira, a recordam com afecto e reconhecimento. Os últimos quatro meses da sua vida foram de sacrifício e oferecimento a Deus até que a morte a levou em Outubro de 1997. DEZEMBRO 2011

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Os provérbios que apresentamos hoje voltam a falar-nos dos valores da família, dos benefícios da união fraterna e da entreajuda, onde cada um faz a sua parte. Advertem-nos contra certos perigos aos quais podemos ser tentados e que, se cairmos, muito dificilmente nos conseguiremos levantar. Por isso haja tento!

Onde todos ajudam nada custa texto MANUEL CARREIRA foto ANA PAULA

Facilmente cai a mosca no mel, mas muito dificilmente sai dele Apoio à compreensão Refere-se à facilidade com que nós caímos na ratoeira que nos é armada com aparência de ser coisa boa, coisa doce, mas, depois de termos caído, com muita FÁTIMA MISSIONÁRIA

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dificuldade, ou quase nunca, nos conseguimos desenvencilhar. O provérbio faz apelo ao cuidado que devemos ter para não cairmos em certas armadilhas que nos são tecidas e que aparentam ter cem por cento de verdade e, afinal, não passam de autênticas tramóias.

Persa

Marido que não cava a terra come os restos do prato

Apoio à compreensão Entre os macuas, os trabalhos do campo estão divididos meio por meio entre o marido e a mulher. A ele compete-lhe desbravar o terreno e cavar a terra para ficar pronta para semear ou plantar. Ora se o marido não faz a sua parte, a mulher também não pode fazer a

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parte dela. Conclusão: À mesa, pertencia ao marido ser o primeiro a servir-se; mas como não cavou, resta-lhe apenas o fundo do prato.

Macua — Moçambique

Volta a tomar banho no teu charco; limpo ou não limpo, o charco da tua casa é sempre o melhor para ti Apoio à compreensão É um conselho que se dá a quem sai de casa e abandona a família pensando que vai encontrar melhores condições de vida noutro lugar. Puro engano. A família, a casa paterna é sempre o local onde podemos encontrar o apoio e o carinho de que precisamos. No Evangelho conta-se a história do filho pródigo que vende tudo,

sai de casa e vai à procura de algo melhor. Mas o que encontrou foi uma grande desilusão. Vietname

O teu irmão, por pior que seja, é sempre o teu melhor amigo

Apoio à compreensão Os laços de sangue são mais fortes do que qualquer outra amizade. Podemos ser enganados por um amigo, mas nunca por um irmão. É possível haver guerrilhas entre irmãos, mas ódio verdadeiro, ou vingança, isso não. No fundo, os laços de sangue reclamam sempre os seus direitos. Podem ter-se zangas, dissidências, por vezes fortes, mas em igualdade de circunstâncias, pugnamos sempre pelos nossos familiares. África Ocidental


Netos surpreendem avó texto NORBERTO LOURO ilustração MÁRIO JOSÉ TEIXEIRA

Em Outubro passado, por esse Portugal fora, ressoou em cada paróquia a palavra catequese. Ressonância é o que quer dizer essa palavra, velha como a Igreja. Aprontaram-se os catequistas, através dos quais ressoa a palavra, a mensagem e a vida de Jesus que é o coração da catequese. A Ele, votaram o desejo irreprimível de O anunciarem. Foi isso que vi nos olhos e li nas palavras da Patrícia, uma acólita, que, antes de subirmos ao altar, não se conteve que me não dissesse: Primo padre, já sou catequista! Estes pregoeiros da Boa Nova aplicam a si a misteriosa palavra de Jesus “a minha doutrina não é minha mas é d’Aque­ le que me enviou” (João 7, 16). Em domingo aprazado, foram apresenta­dos aos catequizandos, a que irão acompanhar a encon­ trar-se com Cristo e a conformarem com Ele as suas vidas. Momentos altos eiva­dos de fé e seguidos com profunda esperança e amor, pelos pais e avós que foram os primeiros catequistas e continuarão a sê-lo como pontos de referência da fé vivida diariamente em família. Das famílias depende, aliás, a maior parte do sucesso ou insucesso da transformação dos conhecimentos adquiridos na catequese em vivência cristã concreta. Contava-me uma avó, há dias, como dava catequese, lá em casa, a dois netos incomparáveis, marcados por atitudes distintas e um pouco complicadas. Entre o menino e a menina, por tudo e por nada, era guerra pegada. Dois temperamentos con-

trastantes, originavam conflitos permanentes. Por outro lado, ai de quem, tentasse molestar um deles. O outro reagia de imediato a defender a parte lesada como se a ele tivesse sido feita a injúria. Com muito jeitinho, a avó lá lhes foi incutindo num modo muito simples, mas o mais adequado que há: apresentar-lhes uma meta a atingir. Mostrava-lhes Jesus como peso e medida de todas as suas opções, decisões e acções para aprenderem a conformar-se com Ele. Incitava-os a trocar toda e qualquer ameaça como se viesse de um Deus que castiga e pune, por gestos de um Deus que ama e mostra em Jesus como se ama, perdoando até mesmo aos inimigos. Dado

que a causa principal das quezílias era a incapacidade de se perdoarem e de se aceitarem mutuamente, esta fórmula caiu como uma luva. Não é fácil nem rápido, nem regular mudar, para perseverar neste caminho, sempre sujeito a avanços e recuos. É preciso aliar às palavras e aos apelos de correcção o exem­ plo e a paciência do catequista e da família que já vive e pratica o que diz. Se a tudo isto se partilha com eles a oração, então é ouro sobre azul. Um dia, dizia aquela avó, sentia-me de tal maneira cansada e frustrada com tantos avanços e recuos que estava para pôr de parte o anúncio de Jesus como essencial. Dizia-me ela: Tive a tentação de passar à promessa de bom-

bons e chocolates, que eles reclamavam como prémio. Mas não cedi. Embirraram comigo e a pequena fugiu para o quarto amuada, batendo com a porta. Acalmei-me, dando tempo para passar o que eu pensava ser amuo e abri a porta devagarinho. Mas que vejo eu!? A minha neta ajoelhada à frente do quadro de Nossa Senhora a balbuciar uma oração que eu não entendi. Levantou-se e abraçou-me dizendo: “Estava a falar com Ela que me fizesse em tudo como o seu Jesus!”. E tudo passou. Correu a abraçar o irmão. Missão nobre e simpática a desta avó e a de qualquer catequista que anuncia Jesus com a paixão com que se dedicou a Jesus.

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Presépio inca ajuda a descobrir o Natal do mundo Presépio de oito peças em terracota,retratando fisionomias dos índios dos Andes, Peru

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto Ana Paula

É um presépio inca, do artista peruano Luís Jeri e pode ser visto durante esta quadra natalícia, no Museu de Arte Sa­ cra­­e Etnologia de Fátima, que assinala 20 anos de exis­tência. Em terracota, é cons­tituído por oito peças com “fisio­ nomias e trajes do povo índio dos An­ des”, explica o director do museu dos Missionários da Consolata. Tem ainda a particularidade dos animais tradi­ cionais do presépio, o burro e a vaca, serem­substituídos por dois veados.

Além disso, “o autor representou os reis magos como sendo, simultanea­ mente, Anjos”, realça Gonçalo Cardoso. Adquirido em 1996, o presépio tem estado na reserva do Museu de Arte e Etnologia “por falta de espaço e opor­ tunidade”, excepto quando fez parte da exposição temporária “Presépios do mundo”, em 2002. Neste tempo de Advento e Natal, poderá ser apre­ ciado junto de outra peça do mesmo autor, a “Natividade”, que representa o

Missão e Nova Evangelização

­ omento­do nascimento do Salvador m e que “muito tem sensibilizado os visi­ tantes”, salienta o responsável. O visitante poderá desfrutar da colec­ ção de presépios e Meninos Jesus, de António Rosado Belo, constituída por peças eruditas e populares, do século XVI aos nossos dias. O director lembra que este é “um dos maiores conjuntos patri­moniais que, nas colecções museo­ lógicas portuguesas, representa o tema de Jesus Cristo na infância”.

O bispo auxiliar de Braga, António Couto, foi reconduzido como presidente da Comissão Episcopal da Missão e da Nova Evangelização, nova designação assumida com a redução do número de organismos da Conferência Epis­ copal Portuguesa. A reeleição ocorreu durante a assembleia plenária dos bispos que decorreu em Fátima, a meados de Novembro.

piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade. O reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabe­ cinhas, usará da palavra, seguindo-se a apre­ sentação do tema do ano, por Isabel Va­randa. Após um momento musical e intervalo, o por­ ta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, proferirá a confe­rência “En­ trega de si a Deus. Viver em oferecimento pela salvação do mundo”.

Centenário das Aparições — 2º ano

Conferência de Dezembro

O Santuário de Fátima apresenta, a 1 de De­ zembro, os temas, e principais iniciativas e celebrações do segundo ano de preparação do Centenário das Aparições. A sessão terá início às 14h30, com a abertura da exposição “No trilho da Luz, as aparições de Fátima”, no Convivium de Santo Agostinho. Os traba­lhos continuam na capela da Morte de Jesus, no FÁTIMA MISSIONÁRIA

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“Desejo de Deus – o chamamento do amor” é o tema da conferência de Dezembro, do ciclo de Inverno, promovido pelo Santuário de Fá­ tima. Victor Gomes, da diocese do Funchal, é o orador, dia 11, às 16h, na basílica de Nossa Senhora do Rosário, com entrada livre. O coro Anima Coralis, da Maceira, Leiria, encerra o encontro com um apontamento musical.

Dezembro em agenda

01 Jornada nacional dos diáconos permanentes 11 Peregrinação nacional da Cáritas Portuguesa 14 Peregrinação do colégio de São Miguel – Fátima 24/25 Vigília e solenidade do Natal 30 Festa das Famílias 31 Passagem de Ano e Acção de graças


Nossa Senhora da Consolata Consolata é cheia de graça, por Deus agraciada para levar ao mundo a consolação de Jesus Consolados são os evangelizados, porque amados de Deus Consolar é levar a toda a parte a consolação de Deus salvador Como Maria tornamo-nos solidários com todos. Solidariedade é o outro nome da consolação Como Ela somos presença consoladora em situações de aflição Por seu amor colocamos a nossa vida ao serviço do homem todo e de todos os homens Allamano deu-nos Maria por mãe e modelo. Por isso chamamo-nos Missionários da Consolata

Apoie a formação de jovens missionários Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250€ e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: 8 fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; 8 participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; 8beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

Rua Francisco Marto, 52 – Ap. 5 – 2496-908 FÁTIMA | T. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.a Maria Faria, 138 – Ap. 2009 – 4429-909 Águas Santas MAI | T. 229 732 047 | aguas-santas@consolata.pt Quinta do Castelo – 2735-206 CACÉM | T. 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 – 1800-048 LISBOA | T. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 – 4700-713 PALMEIRA BRG | T. 253 691 307 | braga@consolata.pt


Natal

faz festa e faz lembrança, é sinal de promessa e de esperança. Afinal é chave de segurança! Oxalá no ano novo, desejamos, haja pão pra todo o povo. E rezamos contra toda a violência, toda a espécie de mal. Vamos fazer penitência para que haja Natal. Também gozo espiritual. Amen. Serafim Ferreira e Silva


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