24 minute read

Denilson Alves Tourinho

Artigos Livres

UMA BREVE CENA DE MOVIMENTOS CULTURAIS NEGROS EM BELO HORIZONTE (1995-2019)

Advertisement

A brief scene of black cultural movements in Belo Horizonte (1995-2019)

Denilson Alves Tourinho1*

Resumo: Este texto é resultante do capítulo “Negro ‘Afro-Horizonte’: eventos culturais de Belo Horizonte em Movimento Negro Educador”, da dissertação de mestrado Artes Cênicas Negras e a Educação das Relações Étnico/Raciais em Belo Horizonte, concebida na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, concluída em fevereiro de 2020. Os eventos culturais negros apontados na predita pesquisa são brevemente abordados neste artigo, como parte do passado, presente e futuro da capital mineira, um recorte historiográfico sócio-político-cultural do Tricentenário de Zumbi dos Palmares (1995) ao Fórum Taculas (2019), assim como enaltecimento das produções negras belo-horizontinas em trajetórias emancipatórias.

Palavras-chave: Eventos Culturais Negros. Movimento Negro. Belo Horizonte Negro.

Abstract: This text is a result of the chapter “Black 'Afro-Horizonte': cultural events in Belo Horizonte in Black Movement Educator”, from the master’s thesis “Black Performing Arts and the Education of the Ethnic/Racial Relations in Belo Horizonte”, conceived at the Faculty of Education at the Federal University of Minas Gerais, completed in February 2020. The black cultural events identified in the predicted research are briefly discussed, in this article, as part of the past, present and future of the capital of Minas Gerais, a socio-political-cultural historiographical profile from the Tercentenary of Zumbi of Palmares (1995) to the Taculas Forum (2019), thus as an exaltation of black productions from Belo Horizonte in emancipatory trajectories.

Keywords: Black Cultural Events. Black Movement. Black Belo Horizonte.

Introdução

Em 1995, celebrou-se 300 anos da imortal luta de Zumbi dos Palmares com o propósito coletivo de resistência e emancipação da população negra brasileira. Em Belo Horizonte, as atividades culturais pautadas nesse tricentenário marcaram a história da cidade, tal como a criação do Festival de Arte Negra (FAN), idealizado por agentes culturais negros e realizado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. O FAN tem

1*Ator e mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaEPromestre/UFMG). Idealizador e curador do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte. Também curador do 8º Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN). Atua em espetáculos teatrais com circulação no Brasil e exterior. E-mail: denilsontourinho@gmail.com

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 119

Artigos Livres

abrangência internacional e, desde 2016, faz parte do calendário oficial da cidade, instituído por lei. Marcos Antônio Cardoso, escritor, filósofo, historiador, mobilizador cultural, pesquisador, professor, cientista político e representante do Movimento Negro, em sua obra O Movimento Negro em Belo Horizonte: 1978-1998, no capítulo “O significado do tricentenário de Zumbi dos Palmares em Belo Horizonte”, destaca que:

as comemorações dos 300 anos da imortalidade de Zumbi dos Palmares ensejaram também a articulação e execução de projetos institucionais referentes à importância do patrimônio cultural da população negra na cidade de Belo Horizonte e iniciando um novo, conflituoso e rico, processo de relação política entre o Movimento Negro e o Poder Público Municipal. (CARDOSO, 2002, p. 206-207).

Cardoso registra que a articulação da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte com organizações da sociedade civil, para o projeto Tricentenário de Zumbi dos Palmares, suscitou ações de reconhecimento e promoção de patrimônios culturais negros da cidade; realização de exposições e mostras artísticas cênicas, visuais, audiovisuais e literatura; ciclos de debates; oficinas; seminários; publicação do jornal Áfricas Gerais: organização do afoxé 300 Filhos de Zumbi, com o cortejo Afro-horizonte; e a criação do sobredito FAN. O autor também destaca que uma das prioridades do Movimento Negro nesse Tricentenário era a criação do Centro de Referência da Cultura Negra (CRCN), como um espaço de reconhecimento e fomento do patrimônio cultural negro da capital mineira, compreendendo, nesse projeto, perspectivas estruturantes de combate ao racismo e valorização da historicidade negra belo-horizontina. Mas esse empreendimento não teve encaminhamento por parte do Poder Público. Diante desses atos sociais, vale destacar a proposição “Movimento Negro Educador” da pesquisadora Nilma de Lino Gomes (2017), ideia que negrita o vigor pragmático e epistemológico do movimento negro em perspectivas sociais educadoras, também no campo das artes e culturas. Desde o marco histórico Tricentenário de Zumbi dos Palmares em Belo Horizonte, temos um profícuo cenário de movimentos culturais negros belo-horizontinos para lançarmos luzes. Neste artigo, entram em cena o supracitado Festival de Arte Negra, assim como o Aldeia Kilombo Século XXI, Rede Terreiro Contemporâneo, Mostra Benjamim de Oliveira, Solo Negro, Polifônica Negra,

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 120

Artigos Livres

Mostra Puxadinho, Teatro na Quebrada, Encontro EnegreSer, Segunda Preta, Aquilombô, Prêmio Leda Maria Martins, Mostra Negras Autoras e Fórum Taculas.

Festival de Arte Negra (FAN) – 1995

O Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN) estreou em 1995, teve a segunda edição em 2003 e, em seguida, passou a ser realizado bienalmente. Inovador e longevo, o FAN destaca-se no cenário artístico nacional e mundial. Na 4ª Conferência Municipal de Cultura de Belo Horizonte, em agosto de 2015, agentes representativos do movimento social negro propuseram a institucionalização do FAN no calendário oficial da cidade, legítima proposta em reconhecimento artístico cultural e manutenção do festival. O texto foi aceito e enviado para tramitação na Câmara Municipal, paralelamente, representantes de movimentos sociais organizados lançaram uma petição virtual em apoio ao projeto e, em março do ano seguinte, 2016, o festival foi oficializado com a lei municipal nº 10.919. Ter um festival de arte negra no calendário oficial de Belo Horizonte não figura privilégio cultural negro, pois representa reparações de desigualdades sociais históricas, promoção e valorização da diversidade cultural e étnico/racial, como direitos instituídos por políticas culturais e educacionais, do âmbito municipal ao nacional. Cardoso (2002) foi um dos fomentadores do Festival de Arte Negra, sua dissertação de mestrado resultou no livro que vem sendo citado, o autor traz aos nossos conhecimentos, ou restaura em nossas memórias, notáveis entidades, associações e grupos culturais com trajetórias atreladas ao Tricentenário de Zumbi dos Palmares e ao FAN, tais como representações das artes cênicas negras: Cia Danç’Arte, dirigida por Marlene Silva, pioneira da dança afro-brasileira, em Belo Horizonte; Cia Bataka, dirigida por Evandro Passos; Cia Primitiva de Arte Negra, dirigida por Mestre João. Esses movimentos culturais belo-horizontinos negros figuram lugar de encruzilhadas (MARTINS, 2002), local em que se entrelaçam fés, artes, epistemes, tecnologias, resistências, estéticas, denúncias e políticas se engendraram como ações emancipatórias e educadoras para implementação de uma cidade pluricultural.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 121

Artigos Livres Aldeia Kilombo Século XXI - 20052

Desde o Tricentenário de Zumbi dos Palmares, as produções culturais negras belohorizontinas se tornaram redes incessantes criações que dialogam com projetos, programas e políticas do campo das artes e educação, resultando em realizações institucionais e independentes. Multifacetada, essa rede negrita a diversidade das artes e culturas negras. O Aldeia Kilombo Século XXI é uma produção dessa rede de eventos, realizada desde 2005, pela Associação Cultural Eu Sou Angoleiro (ACESA), entidade fundada por Mestre João Angoleiro, em 1993. O evento contempla expressões culturais negras como os reinados, candombes, candomblé, capoeira angola, dança afro, reggae, hip hop e samba.

Assim, o Aldeia fomenta as identidades culturais locais, os saberes populares e as produções dos mestres de cultura popular do Estado de Minas Gerais. Na edição de 2012, o referido evento teve na programação uma atividade que reuniu referências culturais locais como o percussionista Carlinhos de Oxóssi com os grupos culturais, Fala Tambor e Filhas da Mãe, Companhia Primitiva, Companhia Baobá, Grupo Carlos Afro e Capoeira, Grupo Odum Orixás, Grupo Couro e Cabaça, Banda Black Sonora e os/as artistas das danças negras Evandro Passos, Haroldo Alves, Rô Fatawa, Marlene Silva, Marilene Rodrigues, Marilda Cordeiro, Benjamim Abras, Patrícia Alencar e Rui Moreira.

Rede Terreiro Contemporâneo de Dança - 20093

Já em 2009, Belo Horizonte foi contemplada com a primeira edição da REDE Terreiro Contemporâneo de Dança, arquitetada como uma rede de encontro que se propõe local de difusão de estudos e produções do campo cultural e artístico das danças negras. A REDE foi idealizada pelo bailarino, coreógrafo e pesquisador Rui Moreira e promovida pela Associação SeráQuê? Cultural, entidade da qual Moreira também foi

2 Disponível em: http://centroculturalvirtual.com.br/conteudo/aldeia-kilombo-seculo-xxi. Acesso em: 27 de out. de 2019. 3 Disponível em: http://centroculturalvirtual.com.br/conteudo/1o-encontro-rede-terreiro-contemporaneode-danca-2009. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 122

Artigos Livres

fundador. O evento, nacional e internacional, reúne professores das artes cênicas, dançarinos, bailarinos, pesquisadores, músicos, artistas de outras áreas e demais interessados nas artes e culturas negras. O Ilê Wopo Olojukan, terreiro de candomblé, fundado em 08 de dezembro de 1964 pelo Babalorisa Carlos Olojukan, e tombado em 09 de novembro de 1995 como patrimônio cultural de Belo Horizonte pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte4 , acolheu a primeira edição da REDE. A relevância simbólica e cultural desse lugar, Ilê, patrimônio cultural negro da cidade, ensejou as discussões estéticas, sociais e políticas ligadas ao fazer artístico. Na programação da edição inaugural da REDE Terreiro, aconteceram oficinas, apresentações de danças, performances, vivências, trocas e conversas, com as/os artistas e grupos: Evandro Passos (Cia. Bataka - Belo Horizonte/MG); Luli Ramos (Abieié Cia de Dança - São Paulo/SP); Cia Rubens Barbot Teatro de Dança (Rio de Janeiro/RJ); Babalorisà Sidney Ti Odè, Iyakekerê Izabel e Ekede Denísia Martins (Ilê Wopo Olojukan - Belo Horizonte/MG); Evandro Nunes (Negraria Coletivo de Artistas Negros (as) - Belo Horizonte/MG); Elísio Pitta (Companhia C - Salvador/BA); Carmen Luz (Cia Étnica - Rio de Janeiro/RJ); Mestre João Bosco (Cia Primitiva - Belo Horizonte/MG); Renato Negrão (Belo Horizonte/MG); Cia Enki de Dança Primitiva Contemporânea (Vitória/ES). Já em quinta edição, ano 2017, o encontro REDE Terreiro Contemporâneo realizou ciclos de discussão e mostra de espetáculos, que aconteceram no Teatro Espanca, Teatro João Seschiatti, Parque Municipal Américo René Gianetti, Sesc Palladium e Tambor Mineiro.

Essa REDE configura, por meio de atividades e convidadas/os, uma representação das diversidades das produções de artes e culturas negras. Nesse Terreiro Contemporâneo, conduzido por perspectivas do Movimento Negro na área da dança, congregam-se companhias de dança, artistas, professores mestres, doutores, pesquisadores, Babalorisà, Iyakekerê, Ekede, entidades do Movimento Negro e público.

4 Disponível em: https://www.facebook.com/pg/EgbeOlojukan/about/?ref=page_internal. Acesso em: 19 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 123

Artigos Livres Mostra Benjamin de Oliveira - 20125

Entre 2012/2013, surgiu a primeira Mostra Benjamin de Oliveira, criada pela Cia Burlantins e Maurício Tizumba. O nome do evento é homenagem ao celebrado primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamin de Oliveira. A mostra tem programação nacional e visa contemplar e valorizar a cultura negra brasileira, via protagonismo de corpos negros em produções artísticas e culturais com elencos, predominantemente, formados por

negros e negras. A primeira edição da Mostra Benjamin teve como programação de Teatro: Besouro Cordão-de-Ouro (Rio de Janeiro/RJ); O Alabê de Jerusalém (Rio de Janeiro/RJ); Carolina, o luxo do lixo (Rio de Janeiro/RJ); Parem de falar mal da rotina (Rio de Janeiro/RJ); O cheiro da feijoada (Rio de Janeiro/RJ); O Negro, a Flor e o Rosário (Belo Horizonte/MG); Zumbi (Belo Horizonte/MG); Galanga, Chico Rei (Belo Horizonte/MG); Oratório – A Saga de Dom Quixote e Sancho Pança (Cia. Burlantins –Belo Horizonte); Clara Negra (Cia Burlantins – Belo Horizonte); Munheca (Cia Burlantins – Belo Horizonte); Abolição, um novo olhar (Grupo de Teatro Filhos de Zambi, Comunidade dos Arturos – Contagem). E na área da dança os espetáculos: Masemba (Benjamin Abras – Belo Horizonte); Aula-espetáculo de dança-afro (Evandro Passos – Belo Horizonte); Faça algum barulho (Rui Moreira Cia. de Danças – Belo Horizonte); Afrikar (Código Movimento – Belo Horizonte); Mulheres de Baobá (Companhia Baobá de Dança – Belo Horizonte). Destacar a programação da primeira Mostra Benjamin de Oliveira enriquece a análise crítica e o reconhecimento de produções cênicas negras em cartaz na época, em Belo Horizonte e no Brasil. Em 2018, a mesma equipe de criação e realização da Benjamin criou o projeto intitulado Solo Negro, como o próprio nome indica, nesse evento são pautados trabalhos em versão solo de cênicas negras.

5 Disponível em: http://burlantins.com.br/benjamin/a-mostra-2/. Acesso em 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 124

Polifônica Negra - 20136

Artigos Livres

Ainda em 2013, estreou em Belo Horizonte a mostra Polifônica Negra, idealizada por Aline Vila Real e Anderson Feliciano. O evento é um espaço artístico e cultural de compartilhamento de criações e investigações embasadas nas questões raciais negras, reflexões em torno de elaborações estéticas e poéticas, palco para apresentação e ensaio de produções dramatúrgicas.

A mostra recebe artistas da capital mineira e de outras localidades do Brasil. O evento foi pensado como um quilombo, na acepção de congregação de pessoas, predominantemente negras, e tem como um dos pilares o engendramento de estéticas e epistemes negras, subvertendo representações, muitas vezes, negativas acerca das negritudes.

A primeira edição da Polifônica foi realizada no espaço cultural CentoeQuatro, na região central de Belo Horizonte, articulada à programação do 7º Festival de Arte Negra, essa composição indica a possibilidade e efetivação de parceria entre eventos. A edição 2017, da referida mostra, teve atividades no espaço cultural Tambor Mineiro, Teatro Espanca, Espaço Lira, quintal da casa da família do curador Anderson Feliciano e na Praça Sete, percorrendo avenidas do centro da cidade, onde ocorreu a apresentação da performance Panfleto Itinerante, do Selo Homens de Cor reunindo artistas de três capitais (o ator Sidney Santiago - São Paulo/SP, a atriz Sol Miranda - Rio de Janeiro/RJ e o ator e autor deste texto, Denilson Tourinho – Belo Horizonte/MG). Faz parte da cultura negra cultuar, conceituar, ressignificar e perpassar o lugar das encruzilhadas, tal qual é a Praça Sete de Setembro, onde se cruzam as avenidas Amazonas e Afonso Pena com as ruas Rio de Janeiro e Carijós.

6 Disponível em: http://polifonicanegra.com/2017/polifonica-negra/. Acesso em: 08 de ago. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 125

Artigos Livres

Mostra Puxadinho - 20147

Em 2014, houve o lançamento da Mostra Puxadinho, sendo essa a primeira produção do Coletivo Mutirão, criado pelo Grupo Teatro Negro e Atitude e a Cóccix Companhia Teatral, com objetivo de estabelecer uma rede de artistas, grupos e parceiros, em movimentos de atuação cultural em regiões periféricas de Belo Horizonte, no caso dessa rede, na região de Venda Nova. A Puxadinho afirma-se na diversidade cultural com foco em territórios periféricos de aglomerados, ocupações, vilas, conjuntos habitacionais, escolas e espaços culturais. A 3ª edição da Mostra Puxadinho, ano 2019, teve o Centro de Vivência Agroecológica (CEVAE) da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – unidade Serra Verde – como palco para atividades como o Café Cultural, apresentação musical com SOMDI2, oficinas abertas com o Programa Fica Vivo, espetáculo de dança Nada Mais É (Laia Cia Produções), espetáculo teatral À Sombra da Goiabeira (Grupo Teatro Negro e Atitude). E, nas ruas, avenida e Comunidade da Baixada o Cortejo Cultural, atividade artística que percorreu a região com apresentações de dança, teatro, bloco musical e produção de grafite.

Teatro na Quebrada - 20148

A mostra Teatro na Quebrada, também artística e periférica como a Puxadinho, estreou em 2014, sendo um projeto educacional artístico e social. A Teatro na Quebrada tem programação teatral como sustentáculo e atende, principalmente, ao Programa ProJovem Adolescente.

O espetáculo E se todas se chamassem Carmem? (Belo Horizonte/MG), da Breve Cia, foi apresentado na Teatro na Quebrada no dia 25 de julho, reverenciando o “Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha”. O espetáculo aborda questões representativas, afetivas e de opressões geralmente vivenciadas por mulheres

7 Disponível em: https://www.facebook.com/MostraPuxainhoVendaNova2019/. Acesso em: 27 de out. de 2019. 8 Disponível em: http://picdeer.com/tarolandopj. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 126

Artigos Livres

negras brasileiras. No elenco dessa peça teatral consta a atriz Renata Paz, também arteeducadora do ProJovem Adolescente. A peça Xabisa (BH/MG) também já foi apresentada na referida mostra, mais de uma vez, nessa encenação atua Michelle Sá, arte-educadora do ProJovem Adolescente, criadora e curadora do Teatro na Quebrada. Teatro na Quebrada é uma mostra periférica e, assim como a Mostra Puxadinho, levanta parcerias para a realização e manutenção das atividades. Nesse sentido, a realização da mostra Teatro na Quebrada tem sido desenvolvida com apoio do Programa ProJovem Urbano Belo Horizonte e suas/seus educadoras/es.

Projeto EnegreSer - 20169

Em 2016, o Projeto EnegreSer foi criado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, por alunas e alunos do curso de Licenciatura em Dança, que inauguram um espaço de ações, diálogos e estudos pautados nas questões étnico/raciais negras em perspectivas artísticas de afirmação de epistemes e estéticas, a partir do campo universitário.

O EnegreSer abre espaço para as artes e culturas negras, dentro e fora do espaço acadêmico, promove produções e estudos por meio de encontro entre artistas, coletivos artísticos e culturais, educadores, estudantes e agentes de movimentos sociais. A primeira edição foi intitulada Projeto EnegreSer: Corporeidade Negras em Cena, realizada com apoio institucional da UFMG, teve na programação: a intervenção Belas Artes Negras; o espetáculo Não Conte Comigo para Proliferar Mentiras, com Igor Leal e Will Soares (Belo Horizonte/MG); a cena curta Refém Solar, com Elisa Nunes (Belo Horizonte/MG); as rodas de conversa Corporeidades Negras em Cena, com Rainy Campos, Will Soares e Gil Amâncio (todos de Belo Horizonte/MG), e Corpo em Diáspora, com Luciane Ramos (São Paulo/SP), a qual ofereceu uma oficina de dança homônima.

Luciane Ramos é bailarina, intérprete/criadora, antropóloga, pesquisadora, doutora em Artes da Cena e mestre em antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em 2012, a artista participou da 2ª edição da Rede Terreiro

9 Disponível em: https://www.facebook.com/pg/EnegreSer/about/?ref=page_internal. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 127

Artigos Livres

Contemporâneo de Dança, ministrando a oficina Corpo Atento: África do Oeste, Diáspora Negra e os Dilemas Contemporâneos na Dança. E em 2018, Ramos fez parte da equipe de curadores do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), evento integrante do calendário cultural oficial do município.

SegundaPRETA - 2017 10

Laroyê, Exú! Segunda-feira é dia de Exú. Com referências como o dia e a saudação a Exú, nasce a SegundaPRETA, em janeiro de 2017. O evento surge empretecendo o cenário belo-horizontino com apresentações cênicas, bate-papos, exibições de filmes, homenagem, feira e festa. Na proposta da Segunda, artistas e agentes culturais pretas, pretes e pretos se reúnem dentro e fora do Teatro Espanca em movimentos de produção artística e combate às opressões sociais. Diante das situações de engajamento para realização do evento, a equipe de organização da PRETA descreve o projeto como ação de reunir para “bater laje”.

A cada temporada a SegundaPRETA elege uma mulher negra, em vida, para prestar homenagem. Na primeira edição, realizada de janeiro a fevereiro de 2017, a atriz carioca Ruth de Souza foi homenageada por sua atuação artística e social. As homenageadas das temporadas subsequentes da PRETA: Zora Santos (maio a junho de 2017), Leda Maria Martins (setembro a outubro de 2017), Ana Maria Gonçalves (março a abril de 2018), Conceição Evaristo (maio a julho de 2018), Capitã Pedrina de Lourdes (outubro a novembro de 2018), Mazza Rodrigues (março a abril de 2019), Nilma Lino Gomes, na 8ª temporada (setembro a outubro de 2019) e na 9ª temporada, interrompida pelo isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus, a artista Rosana Paulino (março de 2020 e retornou, em formato online, de maio a julho de 2021). SegundaPRETINHA é a programação da SegundaPRETA atenta ao público infantojuvenil e escolar. As escolas da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte têm acessado a PRETINHA por meio de projetos e programas educacionais da prefeitura,

10 Disponível em: http://segundapreta.com/. Acesso em: 07 de set. de 2021.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 128

Artigos Livres

representados pela Secretaria de Educação, Secretária Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura.

Fórum Permanente Aquilombô - 201711

Ainda em 2017, estreou o Aquilombô – Um Arquipélago, primeiro, como mostra de artes negras e, em edição posterior, como Fórum Permanente das Artes Negras. O encontro reúne produções artísticas e manifestações culturais de Belo Horizonte e do Brasil que dialogam com as questões étnico/raciais negras. Na programação constam apresentações de trabalhos musicais, artes cênicas, obras das artes visuais e literatura, além de realização de residência artística. O projeto tem estabelecido parcerias institucionais como a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e Governo do Estado de Minas Gerais.

Em 2019, o Aquilombô levou para o palco e arredores do Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal Américo Renné Giannetti) uma diversificada programação estética e temática das artes. Como o espetáculo Mata Rasteira, solo do artista Rodrigo Negão, a peça tem como fundamento a corporeidade e musicalidade da capoeira, além de contação de histórias.

Esse Fórum tem se desdobrado em movimentos permanentes, exemplar pela criação da Série Editorial Aquilombô, publica obras literárias de autoria negra. Nesses movimentos culturais negros belo-horizontinos foram negritados, em 2017, a SegundaPRETA, o Aquilombô e, já no último mês do ano, o Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte.

Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras - 201712

O Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte surgiu levantando reconhecimento e valorização das produções cênicas negras da capital mineira. Premiação conceitual, reverencia a pesquisadora, artista e rainha de Nossa

11 Disponível em: https://www.facebook.com/Aquilombô-Um-Arquipélago-2751510208225036/. Acesso em: 27 de out. de 2019. 12 Disponível em: http://premioledamariamartins.com/. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 129

Artigos Livres

Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá Leda Maria

Martins, e tem em estudos de Martins as referências para elaboração das categorias do projeto cultural de honrarias. O Prêmio Leda apresenta um tema para cada edição e desenvolve uma catalogação com montagens cênicas negras de Belo Horizonte e região metropolitana, de todos os tempos e estilos variados. Esses trabalhos cênicos são analisados por uma comissão júri especializada em artes e culturas negras, as/os juradas/os fazem apreciação das montagens cênicas de acordo com o tema e as 10 categorias: Encruzilhada – área, Direção; Muriquinho – área, Infantojuvenil; Oralitura – área, Texto | Trilha Sonora; Corpo Adereço – área, Dança; Performance do Tempo Espiralar – área, Performance; Lugar da Memória – área, Cena Curta; Afrografia – área, Atuação; Cena em Sombras – área, Cenário | Figurino | Luz; Palco em Negro – área, Espetáculo Longa Duração; Ancestralidade – área, Personalidade | Homenagem | revelação. Em 2017, o Prêmio Leda teve o tema Afeto Emancipatório de Nilma Lino Gomes; em 2018, Escrevivência: escrever, viver, se ver de Conceição Evaristo; em 2019, Exuzilhar de Cidinha da Silva; e em 2020, edição especial online, Quilombismo inspirado no livro O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista, de Abdias Nascimento.

O Prêmio Leda Maria Martins, idealizado e coordenado pelo artista e autor deste artigo Denilson Tourinho, figura originalidade ao se desvencilhar do padrão de premiação estruturada em categorias adjetivadas como “melhor”, e por provocar leituras e interpretações conceituais ampliadas acerca das obras premiadas.

Mostra Negras Autoras - 201813

2018 foi o ano de estreia da Mostra Negras Autoras, realizada pelo Negras Autoras, coletivo formado pelas artistas Elisa de Sena, Júlia Tizumba, Manu Ranilha, Nath Rodrigues, Vi Coelho e, originalmente, com Eneida Baraúna. Esse evento se estrutura nas questões negras étnico/raciais e de gênero, acolhendo produções artísticas e culturais de mulheres negras de Belo Horizonte e região metropolitana.

13 Disponível em: http://polifonicanegra.com/2017/polifonica-negra/. Acesso em: 08 de ago. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 130

Artigos Livres

A 1ª edição da referida mostra aconteceu no e com apoio do Teatro Espanca, em três terças-feiras de novembro, culminando no Dia Nacional da Consciência Negra, dia 20. Nesse dia foram apresentados os shows de Priscila Magela, Juliana Floriano e Carolina Andrade, a dança de Aryane Soares e Laura Alves, e também a performance Crisálidas, de Scheilla Sol. A Mostra Negras Autoras negritou o dia da consciência negra com produções e visibilidade das questões negras étnico/raciais e de gênero, negras mulheres em cena, na idealização, produção, programação e, majoritariamente, no público.

Fórum Taculas - 201914

Já em 2019, foi criado o Fórum Taculas – Performances de Mulheres Negras BH e Região Metropolitana, idealizado pela atriz, Danielle Anatólio, o evento aconteceu em dois dias, na periferia de Belo Horizonte, também com foco nas questões negras étnico/raciais e de gênero. Em cena, negras produções de artes cênicas, vídeo-performance e bate-papos pautados em políticas públicas culturais, periferia, feminicídio, afetos, feminilidade, transexualidade, violência de raça e gênero, transfobia e ancestralidade. Cenas de um negro belo horizonte que exaltam as negritudes e combatem opressões sociais. O Taculas estreou prestando homenagem à artista Madu Santos, mentora da Associação Cultural Odum Orixás, tradicional grupo de Dança Afro-brasileira, de Belo Horizonte. Os passos da Mostra Taculas remetem aos propósitos das celebrações e reivindicações do tricentenário da memorável resistência de Zumbi dos Palmares. Nesse sentido, Belo Horizonte tem sido palco de realizações que contemplam as artes e culturas negras, sendo ações que remetem às mais variadas configurações de ativismo social.

14 Disponível em:https://www.facebook.com/pages/category/Art/Fórum-Taculas-Performances-MulheresNegras-MG-2124562310965998/. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 131

Artigos Livres

Considerações finais - 1995 a 2019

Os movimentos sócio-político-culturais apresentados neste artigo figuram engendramentos culturais negros belo-horizontinos que seguem em perene realização, como meios de ação afirmativa, instrumentos de resistência às opressões sociais e em atualizações interseccionais. O Tricentenário de Zumbi dos Palmares pode ser lido como ponto inaugural de amplas produções culturais negras na capital mineira, assim como exemplar transladar de organização sociocultural “quilombo” como método de arte, tal qual uma vertente do Movimento Negro: “ator coletivo e político, constituído por um conjunto variado de grupos e entidades políticas (e também culturais) distribuídos nas cinco regiões do país” (GOMES, 2017, p.27). Este texto pode contribuir para restauração de feitos e memórias que fazem parte da historicidade de Belo Horizonte. A forma textual, estrategicamente, inspira-se em aquilombamento cultural, tange movimentos culturais negros belo-horizontinos reunidos num agrupamento que figura disparador para abordagens merecidamente mais aprofundadas, em cada supracitada produção.

Referências

BURLANTINS. Mostra Benjamin de Oliveira. Burlantins. Disponível em: <http://burlantins.com.br/benjamin/amostra-2>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

CARDOSO, Marcos Antônio. O movimento negro em Belo Horizonte: 1978-1998. Belo Horizonte: Mazza Edições. 2002.

CENTRO CULTURAL VIRTUAL. Aldeia Kilombo Século XXI. Centro Cultural Virtual. 2012. Disponível em: <http://centroculturalvirtual.com.br/conteudo/aldeia-kilombo-seculo-xxi>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

______. REDE Terreiro Contemporâneo de Dança. Centro Cultural Virtual. 2009. Disponível em: <http://centroculturalvirtual.com.br/conteudo/1o-encontro-rede-terreiro-contemporaneo-de-danca-2009>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

ENCONTRO ENEGRESER. Formas africanizadas de escritas de si. Encontro Enegrecer. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/EnegreSer/about/?ref=page_internal>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 132

Artigos Livres

FÓRUM PERMANENTE DAS ARTES NEGRAS. Aquilombô, um arquipélago. Fórum Permanente das Artes Negras. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/Aquilombô-Um-Arquipélago-2751510208225036> . Acesso em: 27 de out. de 2019.

FÓRUM TACULAS. Fórum-Taculas-Performances-Mulheres-Negra. Fórum Taculas. 2019. Disponível em:<https://www.facebook.com/pages/category/Art/Fórum-Taculas-Performances-Mulheres-Negras-MG2124562310965998>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador. v. 1. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.

MARTINS, L.M. Performance do tempo espiralar. In: RAVETTI, Graciela e ARBEX, Márcia. Performance, exílio, fronteiras: errâncias, territoriais e textuais. v. 1. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2002. p. 69-91.

MOSTRA PUXADINHO. Mostra puxadinho – Venda Nova. Mostra Puxadinho. 2019. Disponível em: https://www.facebook.com/MostraPuxainhoVendaNova2019/. Acesso em: 27 de out. de 2019.

NEGRAS AUTORAS. Mostra Negras Autoras. Negras Autoras. 2018. Disponível em: <https://www.facebook.com/events/1227786884028627>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

POLIFÔNICA NEGRA. Mostra Polifônica Negra. Polifônica Negra. Disponível em: <http://polifonicanegra.com/2017/polifonica-negra>. Acesso em: 08 de ago. de 2019.

PRÊMIO LEDA MARIA MARTINS. Prêmio Leda Maria Martins. Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte. 2018. Disponível em: <http://premioledamariamartins.com>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

SEGUNDA PRETA. Segunda preta. SegundaPRETA. 2017. Disponível em: <http://segundapreta.com>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

TA ROLANDO PJ. Teatro na Quebrada. Tá Rolando. Disponível em: <http://picdeer.com/tarolandopj>. Acesso em: 27 de out. de 2019.

TOURINHO, Denilson Alves. Artes Cênicas Negras e a Educação das Relações Étnico/Raciais em Belo Horizonte. 2020. 132f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. Belo Horizonte. 2020.

____.; GAYE, Ibrahima; DIOGO, Rosália. Festival de Arte Negra, 20 anos: encontros. v. 1. Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura, 2015.

REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 8, n. 8, dezembro de 2021 - ISSN: 2357-8513

Página 133

This article is from: