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Ele deu um miado e um urro e prometeu: – Pode deixar, de hoje em diante só vou miar, só que o senhor precisa me arrumar uns ratinhos para eu me divertir. Na verdade, ele foi muito honesto e passou a se comportar como um gatinho amoroso e brincalhão. Às vezes ele brincava e dava alguns urros para me assustar, mas logo em seguida miava gostosamente.
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rona no Paulistinha (carro com dois lugares), deixando-o no Campo de Marte, aeroporto perto da Coroa e de seu bairro, a Ponte Grande. Neste período, Renato “xeretava” a fábrica para observar a fabricação dos motores e de outras peças. Até que um dia, por motivos particulares, saiu do emprego e foi morar em Curitiba. Quando voltou para São Paulo, trabalhou como vendedor de imóveis e construtor de casas. Segundo Renato, ergueu 240 casas em Itaquera, no Jardim Adelaide. Mas acabou sendo seduzido novamente pelo jornalismo. Fundou o jornal O Ringue, junto com dois jornalistas famosos: Henrique Matteucci e Benedito Rui Barbosa. Sua grande virada foi a sua passagem pelo jornal Última Hora, que lhe deu material para escrever o seu primeiro livro: Faculdade de Jornalismo Última Hora, lançado em 2004 no Sindicato dos Jornalistas em São Paulo. Trabalhou ainda no Diário Popular, na Folha da Tarde, no Meio e Mensagem, e na Editora Referência (caderno de Propaganda e Marketing, revistas Propaganda e Marketing)
Aos 85 anos, a ideia de Renato Pires era escrever um livro com o título “Os primeiros cem anos são os mais difíceis”. Mas, influenciado pelo seu vizinho, que com quase cem anos, fez a seguinte observação: “É... mas aí começa tudo de novo”, o autor partiu para um novo projeto. Resolveu escrever 2062 – Bimborro. Foi uma ideia que o deixou empolgado. No computador, aos poucos, foi se lembrando de detalhes da sua vida, e concluindo que tudo o que lhe acontecera deveu-se ao fato de ser do signo de Gêmeos. Seu pai consertava navio em Santos, enquanto Renato sonhava em ser engenheiro. Mas seu sonho não foi possível de se concretizar. O dinheiro era escasso. Foi levado a escrever. Começando pelo Meia Sola, um folhetim escrito à mão e colocado na parede da sorveteria do Pedro. Neste folhetim, escrevia sobre os namorados, os projetos, os amigos e algumas fofoquinhas. Foi então trabalhar na Fábrica de Aviões Paulistinha onde se divertia conversando com os engenheiros franceses e italianos. Era tempo da Segunda Guerra Mundial. Ao final do expediente, o piloto Joaquim, que morava na Coroa, bairro próximo a sua casa, dava-lhe ca-
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Copyright © 2011 by Renato Pires Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. CAPA | PROJETO GRÁFICO | DIAGRAMAÇÃO Aped - Apoio e Produção REVISÃO Jocilane Divito Medezani Aped - Apoio e Produção - Daniele Ferreira CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P747v Pires, Renato, 19252062, bimborro / Renato Pires. - 1.ed. - Rio de Janeiro : APED, 2011. Inclui bibliografia ISBN 978-85-98792-18-7 1. Incubadoras de empresas - Ficção. 2. Empreendedorismo - Ficção. 3. Ficção brasileira. I. Título. 11-1835.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
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SUMÁRIO Apresentação • 7 Prefácio • 11 Começou numa Manhã... • 15 Tv e Namorada • 27 Zana Está Esperando • 35 Ela Ligou • 45 Jantar Moskovês • 49 Animais no Quarto • 61 Reencontro • 65 Marketing e... • 69 Esqueci a TRI... • 79 Palavras Cruzadas TRI. LIN. GUE • 83 Meu Bimborro • 89 Ah, e o Tiririca? • 93 São Paulo: 32 Milhões de Habitantes • 97 Cadê a Praia? • 107 Bebê à Vista • 113 O Sonho Acabou • 117 Dicionário Japonês da TRI. LIN. GUE • 123 Dicionário Moskovês da TRI. LIN. GUE • 127
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uando escrevi o meu primeiro livro (Faculdade de Jornalismo Última Hora) em 2004, encomendei 1000 exemplares e fiz o lançamento na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em seguida, coloquei o livro à venda na Livraria Saraiva. Eu esperava vender toda a tiragem, mas isso não aconteceu. No lançamento vendi 30 livros, e na livraria 22. Foi uma decepção, mas isso não me impediu de escrever mais um livro. Sei que pelo menos uns 50 leitores, amigos meus, vão adorar. E eu fico com o meu ego satisfeito por mais este livro. Ainda com respeito ao meu primeiro livro, gostaria de informar que levei um ano para escrevê-lo e a grande satisfação é que desde o lançamento até hoje ainda recebo telefonemas de amigos leitores, elogiando o livro e dizendo que já o leram cinco ou dez vezes. Aliás, eu também, de vez em quando releio o livro. E não é que tem muita coisa lá que ainda me comove!? Bem, este, “2062 – Bimborro”, é mais modesto. Pelo menos uma coisa eu garanto: ele é super original, e eu já sei que pelo menos meus 50 amigos leitores vão gostar dele. Renato Pires |9|
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epois de publicar meu primeiro livro (Faculdade de Jornalismo Última Hora), eu sonhava em escrever um outro livro contando todas as minhas experiências vividas em 85 anos. O título estava na minha cabeça: Os Primeiro Cem Anos são os Mais Difíceis, influenciado por um vizinho meu, que disse-me: “depois começa tudo outra vez”. Bem, o projeto ainda está na cabeça. Vamos ver. Só que de repente comecei a escrever um livro de brincadeira. Sem nenhum estilo ou meta. Fui digitando tudo que vinha na minha cabeça. E o mais curioso é que quando eu relia o que já estava escrito, ficava todo feliz. O entusiasmo foi aumentando e aí eu já comecei a pensar em outro livro e bolei o título: Rua Porto Seguro. Isso porque, relembrando minha vida nessa rua (de 1932 a 1949) e sempre conversando com os amigos de infância, tenho a certeza de que vai ser um livro gostoso de ler.
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Quando eu digo: gostoso de ler, é que na minha cabeça, as histórias de tudo que vivi nessa rua são, acima de tudo, humanas e cheias de amor. Bem, mas deixemos os dois livros imaginados e vamos a este. Na minha opinião, este livro é um sonho. Pode até um dia acontecer o que visualizei no ano de 2062. Pode acontecer coisas mais incríveis, mas o que eu pude imaginar dá para ficar otimista. Confira. E boa leitura.
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udo começou numa manhã fria. Eu me levantei às 7h 30min, meu horário habitual, e quando entrei no banheiro, ouvi uma voz estranha me cumprimentando: “Tudo pronto. Vamos embora!” Aí comecei a ver coisas estranhas e senti que estava voando. Só me dei conta da situação quando vi que estava entre quatro paredes vermelhas, e mais uma vez ouvi a mesma voz: “Seus amigos virão já para cumprimentá-lo e ajudá-lo a viver em Moskovo.” – Moskovo? O que é isso? Preparei-me para ouvir a resposta, mas em vez disso apareceram três pessoas e quase morri de medo. Eram três amigos que tinham morrido há muito tempo: Mário, Paquito e Vigelis. Antes que eu me refizesse, Vigelis se aproximou me abraçou e começou a falar: – Renato, está tudo bem. Nós decidimos trazê-lo para Moskovo porque você não estava mais vivendo depois da morte da sua esposa. | 17 |
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– Espera aí, Vigelis. Você morreu em 2001. Eu fui ao seu enterro. Afinal que palhaçada é esta? Você morreu ou não morreu? – Calma, Renato. Quem morreu foi meu corpo terrestre... – Mas você está igualzinho de corpo! Exatamente como estava no caixão! – Espera aí. É verdade, mas isso você vai aprender depois. E temos uma novidade para você. – Que novidade? – Vamos levá-lo para sua casa. – Graças a Deus! Ainda bem. Pensei que não ia voltar mais para o lugar de onde vocês me tiraram. – Não, você não vai voltar. É uma casa em Moskovo E tem mais uma coisa. Se você quiser podemos trazer a sua esposa, a sua mãe, o seu irmão a sua avó... Antes que ele prosseguisse, tentei confundi-lo: – Você pode trazer qualquer um de todos meus parentes que morreram? – Claro! O que mais você deseja? – Que tal trazer o meu cachorro, o Negrinho, tentei brincar. O Negrinho era um cachorro vira-lata, que eu trouxera no colo quando mudei de Santos para São | 18 |
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Paulo, em l930. Coitado do Negrinho, se apaixonou pela Patuska e morreu atropelado. Vigelis respondeu rápido: – Claro, não só o Negrinho, se você quiser também aquele gatinho que você criou junto com o Negrinho. O Paquito e o Mário também se aproximaram e me abraçaram. Eu, a essa altura já não sabia o que pensar ou o que dizer, mas resolvi perguntar: – Afinal de contas, vocês todos morreram e eu, estou morto também? Paquito deu uma gargalhada e me abraçando fortemente, disse que eu não estava morto. – Você vai viver muito mais anos do que imagina. Assim, vamos propor que você estabeleça quantos anos quer viver aqui e depois retornar à Terra. Diante da minha cara espantada, completou: – Muito cuidado com a resposta. Aqui em Moskovo um ano da Terra vale cinco anos, dependendo da decisão das Forszap, que controlam o tempo. Assim, pode ser cinco anos dos anos comuns, ou cinco anos de 50 dias. Fiquei mais zonzo ainda, mas resolvi perguntar sobre a roupa que eles estavam usando. Era uma espécie de tanga central com alças. E o Paquito se apressou em explicar: | 19 |
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