Degusta a crucificada

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Matheus Carvalho

A Crucificada



A Crucificada



Matheus Carvalho

A Crucificada


Copyright © 2014 by Matheus Carvalho Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-101-1 Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Foto de capa: FrankieP Capa: Thiago Ribeiro

CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ C368c Carvalho, Matheus de, A Crucificada / Matheus de Carvalho. - 1. ed. - Rio de Janeiro : APED, 2013. 176 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-101-1 1. Ficção brasileira. I. Título. 13-07331 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 25/11/2013 27/11/2013

Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br


Dedico esse livro Ă toda minha famĂ­lia e a todos aqueles que chegarem, um dia, a ler essa obra.



Agradecimentos

Devo prestar meus devidos agradecimentos à minha família, que sempre me apoiou. Agradeço também aos meus amigos “recantistas”, que foram quem me incentivaram a continuar escrevendo. Também deixo meus devidos agradecimentos à poetisa, romancista e “recantista”, Sônia Maria Piologo, que prefaciou esse livro, e também me deu grande incentivo. Agradeço à Editora Aped, que confiou na minha obra, e me deu essa oportunidade de ter meu livro em mãos, devidamente passado para o papel. Obrigado à todos!

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Prefácio

Foi navegando pelas páginas do RL — Recanto das Letras, site para poetas e escritores, que conheci Matheus de Carvalho. Na época, ele escrevia os capítulos de um dos seus contos: “O Senhor da Discórdia”. Então passei a acompanhar suas postagens. Nos primeiros capítulos dessa história percebi que estava ali, sem sombra de dúvida, um escritor de suspense. Fiquei fascinada pela maneira singular como ele construía os diálogos e na sua maneira sutil de prender o leitor a cada final de capítulo, deixando no ar o desejo de saber o que iria acontecer no próximo episódio! Era muito fácil ver nas entrelinhas o “tino”, o talento desse jovem escritor se derramando pelas páginas dos contos policiais e do gênero suspense que, ele com uma facilidade incrível, descrevia com maestria impressionante! Tive certeza absoluta de que despontava ali um grande escritor! Hoje, Matheus de Carvalho está lançando o seu primeiro livro: A Crucificada, cuja construção também tive o prazer de acompanhar e pude constatar que eu não estava errada. Seu talento é indiscutível e ele prova isso neste livro repleto de emoções e suspense!

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Quero parabenizá-lo por esta obra que, sem dúvida nenhuma, será um sucesso! Outros livros de Matheus de Carvalho virão com certeza, e serão sucesso sem dúvida nenhuma! Pois o “dom de escrever” que possui, jamais lhe será tirado! Sonia Maria Piologo Poetisa

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Sumário

Agradecimentos • 7 Prefácio • 9 Capítulo 1 Segredos • 13 Capítulo 2 Primeiras informações • 23 Capítulo 3 Informações mais concretas • 45 Capítulo 4 Um pouco da vida social • 57 Capítulo 5 Ainda travado e leves revelações • 73 Capítulo 6 Um balde de água fria • 97 Capítulo 7 Uma revelação surpreendente • 121 11


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Capítulo 8 Agora tudo começa a fazer sentido • 131 Capítulo 9 Mais verdades aparecem • 145 Capítulo 10 O atentado • 159 Capítulo 11 A solução se apresenta • 165

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Capítulo 1 Segredos

Barretos, São Paulo Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013.

I

S

ilvana acordou com dores nos braços. Abriu a janela para deixar o ar frio da manhã entrar e respirou fundo. Observou o céu ganhando um tom azul claro e não deixou de conter um risinho. Seria um dia longo. “O dia tão esperado”. Passara tanto tempo agindo com cautela, esperando o momento crucial, e finalmente ele chegara. À noite tudo vai ser resolvido. Alguém batia na porta do quarto quando terminou de se trocar. — Está aberta! — Ela gritou. Cassiano espreitou o rosto para dentro do quarto e sorriu. Era o irmão mais novo de Silvana. Os dois eram viúvos e viviam juntos. Ambos haviam perdido respectivos marido e mulher, muito jovens, e nenhum deles tivera filhos. Cassiano ainda remoia a morte de sua mulher, e sempre buscava algum conforto 13


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em Silvana que, por sua vez, sendo a irmã mais velha, via-se na condição de confortá-lo nos momentos certos. Ele era um palmo mais alto que ela, tinha os olhos escuros, os cabelos negros e desgrenhados, e um sorriso agradável. Exalava o cheiro do perfume caro que tanto gostava. Via na irmã a figura materna, a qual não havia conhecido. Eles davam-se muito bem, e o café sempre estava na mesa quando Silvana acordava. — Veio trazer o café na cama hoje? — Perguntou Silvana sorrindo. Cassiano foi até ela e deu um beijo carinhoso em sua bochecha. — Isso não é mordomia demais? — Brincou. — Não. Desde que você tenha uma irmã que tanto ama e que cumpre o papel de mãe perfeitamente. Ele riu. — Eu sou melhor como filho do que você como mãe. Silvana achou graça. — Assim você me magoa, querido irmãozinho. E como andam as coisas? Está tudo certo para hoje à noite? — Mais certo do que nunca. Já recebi informações importantes. Hoje sai o veredicto tão esperado. Pelo menos o que nós tanto esperamos. Ela sorriu satisfeita. Então está tudo certo mesmo. Cassiano sempre trazia boas notícias. Ele continuou. — De hoje não passa, isso está garantido. — E como vai ser depois? — Ela perguntou curiosa. — Quem vai ficar responsável por nossas ações? Isso foi mantido em sigilo até agora, e esteve muito bem guardado. Mas quando se tornar público talvez não agrade a todos. — Isso não vai se tornar público. Pelo menos não em partes. Tudo deve ser feito na surdina. É um ato criminoso, irmã. Nós estamos envolvidos, não se esqueça. — Eu não enxergo isso como um ato criminoso. O que fizemos até agora é mais comum do que parece. O que o torna diferente é o modo como esperamos agir daqui pra frente. Cassiano pareceu preocupado. 14


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— Você me assusta às vezes. Saiba que dependendo do resultado, é bom esquecer que eu estou envolvido. Não quero ultrapassar limites. — Seus limites são sempre escassos. Se você entrou nessa, não tem porque continuar, já que conhece nosso verdadeiro objetivo. Mas não deve se preocupar, não sei se vai ser como esperamos. — Por quê? — Perguntou Cassiano com o semblante preocupado. — Sabe de alguma coisa que eu não sei? Silvana desviou o olhar e foi até a janela. Suspirou e tentou afastar aquilo que perturbava sua mente nos últimos dias. Investigara a respeito, mas nada conseguira encontrar. Parecia tudo normal, mas ela desconfiava de coisas normais. — O que você sabe que eu não sei? Tem a ver com a... — Não, não é nada demais. — Interrompeu Silvana. — Deixa pra lá. São apenas receios. Receios bobos. Cassiano a encarou, mas depois sorriu. — Então eu vou saindo. Só vim lhe dar bom dia. — Bom dia. — Ela murmurou. O irmão saiu do quarto e Silvana ficou sozinha. De hoje não passa.

II Ela acordou muito bem disposta aquele dia. Levantou-se devagar para não acordar o marido, e fez todo o seu ritual matutino. Espreguiçou-se, olhou-se no espelho e se achou gorda, trocou de roupa, penteou os cabelos, escovou os dentes e foi fazer o café. Seu marido gostava dele fraco, sem muito açúcar, pois desconfiava que tivesse diabetes. Sentia certo receio em fazer o exame, e Kátia o odiava por isso. Trocaram alianças ainda muito jovens, sem a tutela dos pais. Amavam-se, e isso fez com que se casassem às escondidas, sem que ninguém soubesse. Mudaram de cidade por algum tempo e quando voltaram, Kátia anunciou que estava grávida. Então, todo o ódio pelo casamento se desfez. A criança virou o centro 15


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das atenções, e mesmo estando na barriga da mãe, todos encontravam alguma forma de agradá-la. Meses depois, Kátia sofreu um aborto espontâneo ao escorregar no chão do banco que trabalhava. Foi uma desgraça para a família toda, mas que foi diminuída quando, um ano depois, ela descobriu-se novamente grávida. Todas as regalias e atos carinhosos voltaram, mas oito meses depois, o médico anunciou que a criança estava morta. O bebê foi retirado e o funeral causou uma grande comoção na cidade. Kátia não compareceu. Passou dias e dias deitada, sem se levantar, sem comer, nem ao menos falar. Ela se lembrava com muito pesar das crianças não nascidas. Já fazia quase três anos, e eles ainda não haviam conseguido outro bebê. Kátia tinha medo de que o próximo tivesse o mesmo destino dos outros dois. Quando terminou de fazer o café, seu marido apareceu. Abraçou Kátia por trás e deu um beijo em sua boca. Ela adorava o beijo delicado e sem pretensões do marido. Fora assim que ele a conquistara. — Dormiu bem, Marcelo? — Perguntou enquanto ele se sentava. — Mais ou menos. Você ronca demais. Ela riu enquanto colocava as xícaras na mesa. Pôs a garrafa de café, pegou o pão e buscou maionese na geladeira. Sentou-se em seguida. — Hoje você não trabalha, por isso fiquei à vontade para roncar. — Ela brincou. — Não trabalho, e odeio ficar em casa. Tava pensando em sair um pouco depois que você terminar seu expediente. Prometo que a gente volta antes do tão aguardado momento. — O tão aguardado momento. — Ela repetiu sonhadora. — Eu não o aguardo tanto assim. Não admito que foi burrice minha participar... — Você não participou... — Eu idealizei. — Ela completou. — Está certo. Continuando, não acho que foi uma babaquice total como você diz... 16


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— Eu não acho uma babaquice. Eu só penso diferente de vocês, sabe disso. O fato de eu não querer participar não faz de mim diferente de vocês. Kátia examinou Marcelo com indiferença. Ele sempre tentava recuar quando o assunto era esse. — Você é da mesma opinião que nós? — Ela perguntou cortando um pão, tentando parecer displicente. Ele demorou para responder, em vez disso deu uma golada no café. Fez uma careta em seguida. — Acho que você pôs menos açúcar do que eu pedi. Kátia não prestou atenção. Queria saber a resposta do marido. — Você é da mesma opinião, não é? Ele bufou, percebendo que era uma batalha perdida. — Sou, sabe que sou. Já disse isso. — Nunca disse com convicção. Ele pareceu nervoso. — Você limpa a casa quase todos os dias. Já encontrou alguma coisa que me desmente? Se eu discordasse de você, já teria dito há muito tempo. Somos casados há quatro anos e parece que não confia inteiramente em mim. — Claro que eu confio em você. — Kátia disse mansamente. Não gostava de irritar Marcelo. — Você sabe o quanto isso é importante pra mim. Ele assentiu. — Estou terminando uma coisa que ela começou e não teve tempo de terminar. — Ela não teve chance. — Não, não teve. Eu prometi a ela e não posso parar agora. Agora que fomos tão longe. Marcelo assentiu concordando e deu mais uma golada no café. Fez outra careta. — Amanhã eu ponho mais açúcar. — Kátia murmurou. Ele deu de ombros. — E como anda o banco? O gerente continua dando em cima de você? 17


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— Ele nunca deu em cima de mim. Marcelo suspirou. — Agora é você que está desconfiando de mim. — Ela disse impaciente. — Minha relação com ele é profissional. E ele é casado com uma amiga minha. Você me conhece, sabe que eu jamais faria isso com ela. Muito menos com você. — É que às vezes eu fico pensando... Eu não consegui lhe dar um filho... — Isso é bobeira. — Ela interrompeu com um sorriso. — Você conseguiu sim. Deu-me dois. — Mas você perdeu um e outro nasceu morto. Kátia odiava os ataques depressivos dele. — Isso não é hora para ficar lembrando-se dessas coisas. O que você disse àquela hora? Queria nos levar para sair? — Sim. Talvez um cinema, um jantar... — Acho que eu não posso. Vou ter que dar um pulinho na sede mais tarde. Fica para amanhã? — Amanhã eu vou estar cansado. Minha folga é hoje. — Mas amanhã eu vou estar livre. Marcelo a encarou choroso. — Não olhe assim pra mim. — Ela resmungou. — Vai ser amanhã. Não posso cancelar. — O que você vai fazer na sede? — Segredos e mais segredos. Ele a encarou em dúvidas. — Eu também não sei o que é. — Kátia continuou. — Então você vai levar isso até o fim mesmo? E depois, dependendo a decisão que tomarem hoje, como fica? Não quero ver você envolvida com... — Relaxa. Minha ideia é outra. Bem menos perigosa e nada criminosa. Ele sorriu e Kátia deu o assunto por encerrado. — Vou me arrumar. Deu um beijo no marido e foi se olhar no espelho novamente. Viu uma mulher de 26 anos, esbelta, com cabelos loiros escorrendo pelas costas. Olhar cativante e sorriso maroto. Ainda sou bonita. Vou dar muitos filhos para o meu marido. 18


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