Degusta 400 anos

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Grande do Norte, no ano de 1968. Estudou na instituição de ensino Escola Municipal José de Carvalho e Silva. Mudou-se para São Paulo no ano de 1987, onde vive e trabalha atualmente. É casado e tem dois filhos. Tem como passatempo, ler e

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de Canguaretama, Rio

Osvaldo Lopes Cavalcante

Nasceu na cidade

“Fico me perguntando qual crime cometi, para pagar com a vida? É claro que não fico me culpando, nem buscando resposta do “por quê comigo?”. Tenho ciência das palavras que eu tinha costume de citar às pessoas a respeito da vida: “Somos pontos luminosos no Universo, que acendem e apagam num constante pisca-pisca. Apaga um aqui, outro acolá, outro ali. Até que chega a nossa vez. Aqueles pontos luminosos que apagam em lugares variados, são pessoas que morrem. Os pontos luminosos que acendem, são vidas novas que nascem dos ventres maternos. Minha luminosidade por enquanto mostrou-se com falta de energia, motivado por falha na fiação elétrica, e por pouco não fui mais um ponto a apagar-se no infinito Universo: é assim que me sinto, por esses dias que estou passando. Vivo à espera da sentença do juiz (junta médica), confirmando a data para o procedimento cirúrgico. A trama está montada, o destino quis que desta vez o ator principal fosse eu (réu condenado), a família (os soldados), os estranhos (a plateia). Tirando o réu, o que os outros têm em comum é o olhar. Olham-me com um olhar de quem poderão estar olhando para o ponto luminoso pela última vez. Uns, com olhar piedoso; e outros, de despedida. Até as visitas parecem ser feitas com os mesmos significados.”

Osvaldo Lopes Cavalcante 400 ANOS é uma história real, que fala sobre um homem que

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sonhava viver por todo esse tempo, e viu esse sonho ser abalado por um infarto que “bateu em sua porta”. Desde primeiras dores, passando pela cirurgia à recuperação, e todas as emoções e medos. Fala sobre a esperança de uma vida melhor… O sonho não acabou!

escrever.

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Copyright © 2013 by Osvaldo Lopes Cavalcante Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-082-3 Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Thiago Ribeiro

CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ C366q Cavalcante, Osvaldo Lopes, 1968400 anos infarto: a vida antes, durante e depois / Osvaldo Lopes Cavalcante. - 1. ed. Rio de Janeiro : Aped, 2013. 208 p. : il ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-082-3 1. Romance brasileiro. 2. Esperança. I. Título. II. Título: Quatrocentos anos infarto: a vida antes, durante e depois. 13-06023.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

10/10/2013 11/10/2013 Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br

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Viver é aprender com o coração, como devemos tratar o nosso melhor amigo. Deixe que ele mostre o caminho. Caminho este que só fui capaz de entender depois que ele me reclamou por meio de um infarto...

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Agradecimentos

do sol.

Em especial a Deus, por me permitir continuar vendo o brilho

Aos médicos que cuidaram de mim, mesmo sem eu os conhecer. À minha família; sem ela seria impossível uma recuperação satisfatória. Àqueles parentes que, mesmo de longe, torceram por minha melhora e pelo meu bem-estar. Aos amigos, que de uma maneira ou de outra me trouxeram conforto. Aos colegas que se importaram comigo, mesmo apenas dando-me um telefonema, me desejando saúde e torcendo por minha recuperação.

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Sumário

“400 Anos” • 13 Corredor da Morte • 25 Exemplos de Enfermos • 29 Sonho – Sonhos • 37 Realidade • 43 A Grande Dor • 49 Os Números • 55 Educação • 61 Aprendizado • 69 Pequeno Susto • 75 Contagem Regressiva • 81 31 de Março • 89 5 de Abril • 95 Arrependimento • 99 Retrato do País • 109 Luto • 113 9

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Eu e a Família dos Meus Pais • 115 Eu, Minha Mãe e Meu Pai • 117 Eu e Meu Pai • 119 Eu e Meu Irmão Hugo • 121 Eu e Olga, Minha Irmã • 123 Eu e Meu Irmão, Ubaldo • 125 Eu e Meu Irmão Willami • 127 Eu e Minha Irmã Hortência • 129 Eu e Minha Irmã Maria Antônia • 131 Eu e Meu Irmão Edson • 133 Eu e Meu Irmão Washington • 135 Eu e Minha Irmã Paizinha • 139 Do Medo • 145 400 Anos e o Dia “C” • 151 De Volta ao Lar • 159 A Vida Pós-cirurgia - I • 167 A Vida Pós-cirurgia - II • 177 Poesias e Frases • 185 Viver te Amando... Meu Sonho • 187 Amizade (Soneto) • 189 Texto – (A lei da lei) • 191 Frases • 195 Dois Meses Depois... • 197 Timão, Campeão da Libertadores 2012 • 201 Epílogo • 203

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Quem disse que viver é simplesmente deixar a vida nos levar? É bom tomar cuidado, porque junto com a vida anda a morte. Ela está dentro de cada um, ela está dentro do coração. A máquina não perdoa quem não cuida dele. Ele é um dos órgãos mais bonitos do ser humano, é o símbolo do amor. Contudo, ele é superexigente, tratamento de rei. Caso contrário, sua gula e a falta de respeito pode forçar seu rei a lhe abandonar; e aí, meu amigo, você será feliz se ele te avisar que está sendo mal tratado e desrespeitado..? Cuidado!!!

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“400 Anos”

Por que devo ler esta obra...?

P

erguntaram-me: que interesse alguém teria em ler um livro com a história de vida de um desconhecido ? Contudo, eu pergunto, qual a diferença entre ambos? Tenho certeza apenas que este livro ajudará todo aquele que passou, passará ou está passando por um infortúnio pelo qual passei. Só quem vive ou viveu, terá noção e saberá do que falo. Por exemplo — contar passagens minhas com a família, que são engraçadas, diga-se antecipadamente — É como se eu me colocasse no lugar de todo aquele que sempre teve vontade de escrever, em algum lugar, um pouco de sua trajetória, e de alguma maneira isso não foi possível. Acredito que, ao ler todos os relatos traga à tona lembranças de momentos agradáveis da infância. Isso de certa forma dará forças para prosseguir na luta pela recuperação. Porque, não temos apenas momentos tristes em nossas vidas. Se pararmos pra pensar, vamos perceber que a felicidade sempre esteve presente no nosso cotidiano, muito mais vezes que a amargura. Sei da importância de se ter um verdadeiro amigo ao nosso lado, e um bom livro pode ser este amigo. Além de encorajamento, este livro tem como objetivo mostrar para o amigo 13

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que ele é capaz de suportar as adversidades com muito menos sofrimentos... Você sabe a diferença entre ENFARTE E INFARTO? Pois bem, enfarte é “ação de enfartar: obstrução do sangue nas veias coronárias.” Infarto é “morte do tecido por carência de oxigênio, causado pela obstrução da veia.” Acredite, sou obrigado a agradecer a Deus, por ter tido apenas enfarte, ou seja, apenas o aviso que meu coração estava precisando de uma irrigação melhor. À medida que a veia era obstruída, ela ia diminuindo o fluxo de sangue para a máquina, até causar-me um infarto. Infeliz aquele que não tem tempo de agradecer a Deus pelo aviso do coração. Obrigado, pai de Cristo! Sim, este livro não é nenhum livro de autoajuda, tampouco de conselhos, mas quero acreditar que tudo que nele está escrito talvez seja um pouco do que muitos também quisessem escrever. Quem sabe, até por temer a morte. Não sabemos de maneira nenhuma o que pode nos acontecer, antes ou após a cirurgia. O pior: não sabemos nem que o que estamos sentindo, se é um início de enfarte, infarto ou algum mal-estar. Espero sinceramente que, ao ler este livro, dê-se conta de que nunca mais você será o mesmo, e que em primeiro lugar você está contando história, como eu. E agradeça ao Deus Todo Poderoso por ter tido apenas o aviso do coração. Até mesmo àqueles que sofreram o infarto e milagrosamente estão lendo este livro, não se esqueça de agradecer todos os dias ao nosso Pai Celestial, junto comigo; estamos vivos. Você está com medo? Continue tendo, o medo é bom sinal de que você lutará e não perderá a esperança de ficar bom. Você está com coragem? Também é um bom sinal, pois você precisará muito, não para o momento da cirurgia, e sim para quando tiver que encarar o próprio corpo cicatrizado com uma costura de trinta centímetros. Ou você não é vaidoso? Bem, se não for, a dor sentimental é menor. Nós somos divididos em quatro sujeitos: o que está passando pelo momento difícil de sentir o aviso do enfarte, e está fazendo tratamento para uma breve cirurgia (1); o que está encaminhado para o leito cirúrgico e que a qualquer minuto estará sendo submetido à cirurgia (2); o que já 14

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passou pelo procedimento e se encontra na enfermaria, para uma recuperação de cinco dias (3); e por fim o que já se encontra em casa, a recuperar-se ao lado da família (4). Não importa em qual estágio você esteja, tenha certeza de que a possibilidade de um falecimento não é descartada; contudo, a chance de sobreviver é muito maior. O problema é a danada da mínima possibilidade de a morte existir. Pois qual a diferença, se tivermos 99 por cento de chance de viver, e morrermos exatamente neste 1 por cento? O importante é que você está lendo esse livro e, até quem sabe, escrevendo algo muito parecido com o que escrevi. Minha cabeça está a mil. Na sua cabeça, não será diferente, está a mil, e quem sabe até a mais de mil. Não importa; você acredita em Deus? Leia o livro 400 Anos e vamos viver juntos e sorrir depois, mesmo que lamentemos o fato de nossos corpos estarem mutilados... Contudo, salvos! Aqui, verás que não é só você que está pensando no que está pensando. Muitos como nós estamos sentindo os mesmos sentimentos. Só sabe do que estou falando, quem faz parte de um dos quatros sujeitos que mencionei à cima. Afinal, o desconhecido, que vamos encontrar e aprender a viver com ele, não é bem o que estamos desejando ou querendo. Mas, infelizmente, estamos dentro do infortúnio, e nada melhor do que encarar esta terrível passagem em nossa vida com o coração cheio de esperança. Passagem sim, porque logo em breve — espero — estejamos comemorando toda essa tribulação, com muito vinho seco. Este livro vai não deixar morrer a esperanças de vivermos os 400 anos que nos restam. Nestes escritos é muito possível que alguns dos tópicos tenham passagens de vida que se assemelhem com a vida de alguns de vocês; falo, por exemplo, de um sonho que são de todos: quem não sonha em viver 400 anos, mesmo que seja um sonho utópico? Cito a angústia de se viver sem saber o que nos vai acontecer no amanhã, se vamos ter um infarto a qualquer momento. Falo de uma vida real regada às grandes dores que nos perseguem. Refiro-me às coincidências dos números e das superstições desse tema, também comento sobre como gostaríamos que nossos filhos fossem educados, se acaso venhamos a faltar. Relembro passagem que tive com familiares quando ainda 15

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criança, minhas travessuras, algo que muitos gostariam de narrar sobre suas vidas também. Enfim, todos os momentos que antecederam e até os dias que precederam os grandes sustos que levei... São os mesmo sustos que vocês levaram. Quem nunca pensou em escrever alguma poesia? Então, escrevi alguma coisa nesse sentido. Talvez não seja das melhores, mas as nossas poesias nunca são as melhores, porque infelizmente não somos poetas... Tudo bem! Este livro não deixa de ser uma viagem ao nosso mundo interior e em busca da vida, da alegria, da solução, em busca do amor, principalmente do amor de quem queremos que nos ame. Uma viagem em busca da verdadeira família, aquela que talvez pensássemos que tínhamos perdido. Leia... E desejo que quando estiveres lendo, suas melhoras estejam ocorrendo de forma acelerada... Boa leitura, e muita... Muita... Muita saúde! *** 400 anos... Muita saúde, muitas felicidades, muita vida. Um sol para cada um. Divertimentos de sobra, saúde pra dar e vender. Churrascada, festa, trabalho e diversão; finais de semanas felizes, datas comemorativas; viver, ver, e viver muito. 400 anos... Uma vontade enorme de morrer só aos 400 anos. Lógico, só uma brincadeira; mas, que no fundo de cada ser, esse desejo, mesmo sendo brincadeira, não deixa de ser sincero; um sonho pra todos os seres humanos, mostrando, desta maneira, o desejo de se ter uma vida eterna. São com essas frases “400 anos” que eu costumava brincar. “Só daqui a 400 anos vou morrer, tá duvidando? É que você não vai chegar a essa idade, senão eu ia te mostrar.” — Dizia eu — aí todo mundo ria e brincava com minha brincadeira. As pessoas mais achegadas (amigos e colegas) brincavam comigo sempre comentando: “Aí vem o homem dos 400 anos!” Tudo que fiz na vida, tenho absoluta certeza que faria tudo de novo; mesmos os erros, como os acertos. Porque aprendi que foram os erros que me deram a condição de felicidade em que hoje me encontro. 16

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Aos poucos, as festanças foram ficando para trás, a idade foi chegando, e hoje, aos 43 anos, a vontade de chegar aos 400 não mudou. Essa vontade é infinita, a vontade de viver as festanças é renovada a cada dia, apesar de saber que gradativamente ela diminui, mas nunca chega a zero. A ironia do destino prega peça em qualquer um, e eu fui a bola da vez. 400 anos era minha conta, era minha meta. Com um zero a menos... O destino resolve me derrubar. Aos quarenta, um susto toma conta do meu coração (literalmente). Brincadeiras, quantas brincadeiras fazemos com as palavras. Brincamos com frases do tipo: “Cuidado com o coração, de repente dá um piripaque, e lá vamos nós pro beleléu.” O corpo cheio de saúde está, mas falamos disso, de exemplos dos que conhecemos; sempre de alguém distante, ou às vezes de parentes que tiveram mal súbito. Infelizmente, uns morrem e, felizmente, outros contam histórias. Na verdade, passa longe da gente pensar que esse piripaque seja no nosso próprio peito. As dores no meu peito eram sinais de que a máquina ia parar. A pergunta era: quais os motivos das dores? Dificuldades financeiras nunca foram uma preocupação, isto era uma constante — eu já estava acostumado. A derrota ou vitória do time de coração não emociona a ponto de causar dano à máquina bombeadora; quem sabe, talvez, um acerto na loteria federal emocionasse a ponto de mexer na estrutura do tum-tum-tum? No dia 24 de janeiro de 2012 (terça-feira), fui surpreendido, às 22h, com fortes dores no peito, no meio do peito, bem na boca do estômago. Uma dor, como se eu estivesse empanturrado, e a comida me fazendo mal, aquela dor da má-digestão. Uma agonia que, achava eu, no momento do vômito, a dor passaria; era acompanhada de um forte e intenso suor; a palidez tomou conta do rosto e do restante do corpo. “É só vomitar e jogar a comida fora, e logo essa dor na boca do estômago vai embora.” — Pensava eu, no sofrimento. As horas passando, e a dor incomodando, até que consegui vomitar, mas a comida não veio junto, apenas água. À meia–noi17

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te, a dor diminuiu, e com muito cansaço consegui dormir um pouco. Às quatro horas da manhã, a dor voltou a importunar, dessa vez com menos intensidade, porém não dormi mais. Acordado até as seis horas, quando resolvi passar no médico. Às sete horas e quarenta minutos, dei entrada na UBS (Unidade Básica de Saúde). Ao contar o ocorrido, a médica me pediu uns exames (eletrocardiograma e de sangue) Pra quê? Pensava eu! Se o problema era estomacal. “Seu eletro deu normal, Sr. Osvaldo, vou lhe encaminhar para fazer uns exames mais detalhados.” — Disse ela. Mesmo sendo muito próxima, a UBS do hospital, a transferência foi feita de ambulância. — “Logo estarei em casa, alguns remédios, a dor vai embora, e descanso o resto do feriado com a família.” — Pensava eu, já que era data do aniversário da cidade de São Paulo (25/01/2012). Na UBS, já haviam me ministrado três injeções e um litro de soro. As horas passando, era quase meio-dia, quando passei por outros médicos que estavam de posse dos resultados dos novos exames, recebi a notícia de que o mal-estar era um enfarto do miocárdio. A partir de então, fiquei internado por dois dias na emergência. Haja injeção e comprimidos, a todo o momento, e tubo de oxigênio nas narinas. A internação já estava feita, e aos cuidados médicos eu era um enfartado à espera de novos exames, para ver o tamanho do estrago que havia sofrido o coração, como também, a causa do enfarto. A dor não deixava de me incomodar, o relógio marcava 19h, já estava há quase doze horas no hospital, o cansaço, a dor junto com as medicações teimava em machucar o peito. Quando, não sei quantos minutos depois, ela se foi de maneira lenta... Mas não totalmente. Poderia dizer que eu estava bem, em comparação a horas atrás. Antes da notícia da internação, o pensamento era um só: “a volta pra casa”. Agora, resta avisar à família o que houve e que eu ficaria alguns dias preso no hospital. A esperança era uma dor que eu sentia na clavícula, devido ao excesso de força bruta no trabalho. Em meu pensamento, tudo seria possível, menos que seria a dor de um infarto; a comida que não me fez bem, a dor do trabalho forçado, gastrite etc. Logo, logo estaria em casa. Mesmo com a afirmação dos médicos de que se trata18

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va de um enfarto, dentro de mim, sabia que eles estavam enganados — mero engano. Em seguida, foi marcado para que fosse feito um cateterismo (cate)... Uma longa espera. A ENTRADA NO HOSPITAL no dia 25 de janeiro era o começo de uma espera angustiante, até o dia 13 de fevereiro, mas, com um pouco de sorte, esta data foi antecipada para três de fevereiro (data do cate); mesmo assim, eram bastantes dias de espera. Enquanto a data não chegava, a internação era complementada com bastante dose de remédios e injeções. O alívio amenizante desses dias era a visita da família, cuja esposa fazia questão de ficar horas comigo. Aos poucos, ia inconformado me acostumando em ter que permanecer no hospital. Mas, o que era esse tal de cateterismo, cate? Era um procedimento para ver como estava o coração e suas veias. É uma microcirurgia, com anestesia local. O resultado? Só no dia três de fevereiro ficaria sabendo. Demorou... Mas, chegou. A remoção foi feita de ambulância até o Hospital São Paulo — centro — às 7h em ponto, estava eu preparado para fazer o tal CATE. Ocorreu tudo bem. Fui deslocado para outra sala, onde seria feito o procedimento. Começaram com um furo na virilha e, não sei como, dava pra ver as artérias e o coração batendo tudo através de um monitor pequeno. Lembro-me da cara de poucos amigos do médico, ao analisar as imagens. Senti que, apesar de não entender nada do que via, pela cara do médico, a notícia não era boa. Neste momento, a esperança que eu tinha, de que não fosse algo grave, já tinha morrido. Percebi que meu estado era mais grave do que apenas uma dor causada por comida estragada ou por esforço físico. Ao sair da sala de cirurgia, o médico deu a notícia, que no íntimo, eu já esperava: “Sr. Osvaldo, você tem duas artérias obstruídas, e pelo estado em que se encontram, o melhor a fazer é OPERÁ-LAS. Existe outro procedimento, mas no seu caso o melhor a fazer é o ato cirúrgico... Não se preocupe, porque hoje em dia tudo está mais fácil e não haverá complicação, não há o que temer.” — Dizia o doutor, num tom tranquilizador. “Você terá uma vida normal após a cirurgia, não se preocupe.” Com essas palavras, o médico se despediu e foi dar continuidade à sua rotina. Outro paciente, com o mesmo problema em que eu 19

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me encontrava, estava à espera do mesmo. E pela cara do enfermo, a notícia que ele recebia era também desanimadora. Não demorou muito, e eu já estava de volta, sendo removido de ambulância ao HOSPITAL SAPOPEMBA. Agora, com a notícia de que uma PONTE DE SAFENA seria instalada dentro do meu peito. O silêncio tomou conta de mim, palavras fugiram; só os pensamentos falavam dentro do meu eu. A tristeza apoderou-se de todo meu corpo. Era nítido em meu semblante o abatimento, uma união de tristeza e medo. A certeza agora era outra: “A morte bate à minha porta, a ficha caiu!!!” A fortaleza de um homem, que nunca teve uma dor de cabeça e raramente destilava uma lágrima, que quase nunca sentia câimbra... Dor de dente... Dor muscular. O rosto sempre sereno e às vezes seco... Quase sempre feliz e sorridente; porém, essa fortaleza abriu espaço para a depressão. Como se já estivesse preparado, sabia que tinha uma luta contra esse sintoma também. Falava pra mim mesmo da consciência do problema. Se eu sabia, por que então ficar triste e deixar a depressão me dominar?Dia 10 de fevereiro foi o dia em que a avalanche de tudo de ruim caiu sobre mim. Foi como se todas as dores que nunca senti e todas as lágrimas que rolaram, resolvessem vir todas de uma vez; aos poucos, os olhos iam lagrimando, o soluço se apresentando, e o corpo se desmilinguindo. Se o coração não parou no enfarto, deveria ter parado neste momento, porque a dor e a vontade de chorar foram tamanhas, que não consegui segurar. Como um carro descendo ladeira abaixo sem freio, as lágrimas rolaram pelo rosto – chorei! Como chorei!Creio que o pior do homem é saber da impotência do seu próprio ser. Cada vez que olhava nos olhos e no rosto da minha amada, aumentava minha vontade de chorar, quão triste ela também ficou ao receber a notícia de que eu seria submetido a uma cirurgia de coração. E agora, o que vou fazer pra cuidar dela e dos meus filhos? Meu trabalho... Como vou fazer? Eu, deitado ali, tomando injeções e mais injeções, enquanto segurava as mãos de minha esposa, tentava expulsar de mim a dor que teimava em fincar-se no meu ser. A impotência e a tristeza eram muito maiores do que eu... Venciam-me de minuto a minuto. Ali, 20

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o único sentimento que eu conseguia discernir é que eu já não era nada. Foi neste momento, descobri que “Quando temos saúde, não temos problemas nenhum; é dentro de um hospital que descobrimos nossos problemas verdadeiros.”O cateterismo já havia sido feito, e a notícia anunciada. O que me alegrava era a vontade de receber alta do hospital. Porque, pobre como sou, a cirurgia não ia ser feita de imediato. O próprio hospital se encarregaria de marcar, através do SUS, a provável data. Quando? Só Deus sabe! Era preciso um encaminhamento para outro hospital e aguardar vaga para o procedimento cirúrgico. Sem motivo algum, aparente, me apareceu uma chata dor de cabeça. Dor essa que teimava em atormentar o lado esquerdo do crânio. Vinha e ia. Sempre que me perguntavam como eu estava, respondia que estava bem, ou que a dor estava passando. O que também não deixava de ser verdade. Mas ela estava ali, suave ou forte, rápida ou lenta. Perguntava-me porque ela tanto me incomodava. Quando me era oferecido remédio para dor de cabeça, eu dizia que estava melhor. Após o cateterismo, a ansiedade agora era a consulta com o cardiologista, o homem que ia dar a palavra final, da necessidade de uma cirurgia ou não, e se seria necessário fazer o que tinha que ser feito. A consulta ficou marcada para o dia nove de fevereiro, às 11h. O problema era certo; a consulta com o cardiologista era apenas para confirmar... Entre outras coisas, a marcação da data de internação para a cirurgia. Então, lá fui eu, com dores no peito e falta de ar, ao HOSPITAL BENEFICÊNCIA PORTUGUESA, SP — CENTRO — que, segundo alguns, se trata de um dos melhores do país em se tratando de cirurgia cardíaca. Minha ida foi acompanhada de esperança nenhuma, era certa a cirurgia. Cravadas no meu rosto a tristeza e a desilusão, entraríamos juntos no consultório médico. Quando foi anunciada minha vez, recebi o chamado, como se estivesse indo para ser abatido, o abate da alma. O cardiologista era um senhor de seus setenta anos, olhava um vídeo com as imagens das veias e do coração. Ao me ver, ele (médico) foi direto: chamou-me para mostrar onde estava o problema, pois o 21

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vídeo que ele assistia era o do meu cateterismo. “Esta é sua máquina, e estes são os canos dela que estão entupidos.” — Disse ele, apontando para o monitor. “Pois é, Sr. Osvaldo Cavalcante, são estes dois canos que você tem entupido.” — continuou, se referindo às veias coronárias. Em outras palavras ele estava dizendo que aquelas veias obstruídas, eram meu problema. A solução? Ele arrematou: “Só cortando, se você quiser continuar vivendo.” Mostrou-me também quanto o coração batia de maneira lenta, por motivo da falta do sangue que não chegava. Vamos fazer aí duas pontes de safenas, e o senhor vai ficar novinho. Após a cirurgia, vai poder jogar bola, correr, brincar etc. Menos se esforçar. Lembre-se: esforço físico é diferente de exercício físico. Enfim, ele foi categórico em me animar, para que eu saísse daquele consultório cheio de esperança; apesar do risco, era mais arriscado não fazer a cirurgia. Passou-me receita de mais dois medicamentos, para tomá-los diariamente; e outro para tomar, no caso de ser pego de surpresa, por alguma dor inesperada (emergência). Para me deixar mais animado, citou-se como exemplo: segundo ele mesmo, carregava consigo, dentro do peito, três pontes de safena. Cirurgia essa que fez ainda quando jovem, e só não jogava bola porque a idade e o tempo não lhe permitiam. Nesta hora eu o via mais com admiração do que como exemplo de esperança. Também não podia negar que aquele exemplo vivo não fosse um alento. Pra mim, este alento era como um grão de areia na imensidão da orla marítima. Lembro-me dos dias em que me encontrava internado, onde não havia mais apetite, cedendo lugar para o abatimento; este sim, se apossou de mim. Estaria eu já com depressão? Visitantes de outros pacientes repararam quanto eu estava deprimido... Os enfermeiros notaram minha depressão. Todos me traziam palavras de apoio, para que a depressão não fosse mais uma doença a me habitar. Respondia-lhes que eu não estava deprimido e que não estava com sintomas de depressão, e sim apenas triste — assim pensava. Era um risco pensar assim? Não sabia. Sabia apenas que outras perguntas surgiriam. Como ter esperança e sentir-se feliz, sabendo que, de uma hora para outra, 22

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400 Anos — Infarto: a vida antes, durante e depois

posso estar saindo da vida para morte? Que dos 400 anos o resumo deu-se apenas para quarenta anos? Saber que, de tanta saúde e vida, só me resta uma migalha alimentada por uma incerteza tênue da vida e da morte? Como sorrir, sabendo que terei o peito aberto para conserto, sem saber se acordarei para ver os mecânicos que nele trabalharam? A palavra de quem está de fora, proferida com a mais pura sinceridade, é: “Força, amigo, fé em Deus, que tudo vai dar certo.” Feliz é aquele que dormiu na mesa de cirurgia e acordou. O trio “força, fé e esperança” só passa a existir quando estivermos vendo o semblante dos que estiverem ao seu redor após o despertar de uma anestesia. De início, acreditava que era apenas uma obstrução, ledo engano! Agora, são duas. Tudo bem que existem pessoas com mais de duas obstruções. Porém, isso não serve de alento para ninguém. Como ter esperança ou fé, quando se sabe que outra pessoa está mais grave que você? Se outro escapou ou foi a óbito? Acredite, nada disso faz sentido, enquanto os médicos estão lhe cutucando, cortando, emendando e costurando. É bem verdade que ainda não morri, senão não estaria escrevendo. Mas o sentimento de estar no corredor da morte é tão vivo quanto os olhos dos que enxergam. Outra certeza informada pelo cardiologista foi a data da cirurgia: tinha que ser o mais rápido possível, não menos que dois meses. Que certeza, não!? Eu não sabia se ficava alegre ou se ficava triste. Na turbulência do liquidificador, uma incerteza a mais ou a menos não faria diferença; uma tristeza a mais ou uma alegria a menos, a essa altura, também não faria a menor diferença. O que me alegrava neste momento era o fato de a dor de cabeça ter-se ido. Pelo menos, no corredor da morte eu tinha uma dor a menos. Há uma coisa que desde o dia nove ficou sem resposta: serão quase dois ou mais meses para cirurgia? Será que não terei um piripaque nesse ínterim? Dará tempo de ser socorrido? Bem, os remédios, estou os tomando religiosamente nos horários marcados: (07h30min — monocordil; 09h30min — atenolol; 23

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Osvaldo Lopes Cavalcante

11h30min — enalapril; 13hn — monocordil; 14h30min — AAS; 18h — clopidogrel; 20h — monocordil; 21h30min — atenolol; 23h30min — enalapril). Tento ser rigoroso nos horários; é verdade que às vezes falho, mas, no cotidiano em geral, sigo direitinho. Hoje a dor no meio do peito continua firme definitivamente, apesar da bateria de doses. É a sensação de ferida aberta; e é como se algo tivesse arranhado esta ferida no seu núcleo. Sim, é uma dor até que suportável. Durmo e acordo com ela. Que é chato, não tenha dúvida! Se me esforço andando, ou se sou contrariado, a dor fica mais constante; quando estou cansado, sinto que a respiração é afetada. Conversando sobre os remédios e/ou lendo as bulas, descobri que tais serviam para: afinar o sangue, dilatar os vasos, controlar a pressão e evitar a angina (dor no peito). Mesmo sabendo de tudo isso, não se dar a certeza de que o coração aguentará até o dia da cirurgia. O que posso afirmar é que, até hoje, dia 21 de fevereiro de 2012, às 16h45min, ainda não me ocorreu nada de mais grave... Graças a Deus! *Nunca tome remédio sem orientação médica. Não se automedique. Tomar por conta própria pode levar à morte.

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