Degusta a lenda do boneco milagreiro

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A lenda do

Boneco Milagreiro Uma saga de amor e lágrimas

Aldenir Florentino dos Santos

APED - Apoio e Produção Editora Ltda.


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A lenda do

Boneco Milagreiro Uma saga de amor e lรกgrimas



A lenda do

Boneco Milagreiro Uma saga de amor e lรกgrimas

Aldenir Florentino dos Santos


Copyright © 2013 by Aldenir Florentino dos Santos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-053-3 Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Thiago Ribeiro

CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ S233L Santos, Aldenir Florentino dos, A lenda do boneco milagreiro : uma saga de amor e lágrimas / Aldenir Florentino dos Santos. - 1. ed. - Rio de Janeiro : APED, 2013. 168 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-053-3 1. Literatura infantojuvenil brasileira. I. Título. 13-01811

CDD: 028.5 CDU: 087.5

05/06/2013 05/06/2013

Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br

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“Ali estavam os sussurros de amor, tão sutis que roubavam a razão dos sábios, por prudente que fossem”. Homero

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A meu querido filho(a) que um dia haverรก de nascer. Aos pais, familiares e amigos dele(a).

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Agradecimentos

Ao Senhor, Criador e Rei do universo, que ĂŠ tudo em todos. Aos editores.

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Sumário

Parte i - Uma lenda Vira Amor................................................. 13 Capítulo i - Um Menino, um Boneco e uma Lenda................. 15 Capítulo ii - Nasce um Desejo............................................ 31 Capítulo iii - A Subida....................................................... 41 Capítulo IV - Surpresas Espreitam à Espera............................. 47 Capítulo v - De Volta e Feliz ............................................. 57 Capítulo vi - Levanta-se um Rival Perigoso............................ 67 Capítulo vii - Na Praça: Premonições, Peraltices, Premonições.73 Capítulo viii - Prínspio: Inteleficiência A Serviço Do Mal........ 91 Capítulo ix - Primeiros Preparativos e Mais Traquinagem.......... 97 Parte ii - Um Amor Vira Lenda............................................... 107 Capítulo x - Chegando a Hora........................................ 109 Capítulo xi - Chegou a Hora........................................... 117 Capítulo xii - má Morte, má Sorte!.................................... 135 Capítulo xiii - Lamentável: Contagem Regressiva................... 139 Acredite se.................................................................... 165

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Parte i Uma lenda Vira Amor



Capítulo i Um Menino, um Boneco e uma Lenda...

“O

lá, como vai? Tudo bem? Seja bem-vindo. Espero que você goste da história contada neste livro. Boa leitura!” Desejou a professora de literatura ao abandonar uma cópia de um antigo manuscrito de autoria anônima intitulado Nossas Origens sobre a carteira de Nick Sandiego, uma das crianças mais peraltas daquela pacata vilazinha medieval. Era o primeiro dia de aula; ele tinha apenas seis aninhos. Esperto, desaforado, curioso como poucos, nem Dona Elma havia entregado a cada aluno um exemplar e o danado já havia revirado o seu de cima para baixo, de frente e verso e vice-versa. — Bom dia! Crianças, sejam muito bem-vindas à nossa escola! Como todos nós já somos velhos conhecidos, dispensemos aquele nosso tradicional protocolo de apresentação individual. Iniciemos nosso ano letivo de maneira diferente, qual seja, conhecendo um pouco de nós mesmos. E faremos isso a partir da leitura silenciosa do texto-base que compõe esse livrinho que acabei de entregá-los. Nele alguém nos narra uma remotíssima lenda que provavelmente deu origem ao nome da nossa localidade. Após a leitura, discutiremos os traços gerais da obra. Pois bem, que comecem. Tenham uma boa leitura! 15


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Ela sentou-se à mesa, passando a fiscalizar o cumprimento da tarefa sugerida com olhar policialesco. Nick pegou o livro. Sem qualquer apetite voraz o revisitou. E já não suportando mais tantas páginas insossas, bocejou preguiçosamente, jogando-o de lado como um brinquedo quebrado. Tamanha displicência não pôde escapar ao olhar da sexagenária educadora, que vindo de lá... — Nick, o senhor poderia me explicar por que ainda não está lendo o bendito livro? (Não, ele não era analfabeto. É que, naquela região, todas as crianças curiosamente já entravam na escola sabendo ler). Ele justificou-se assim, pra lá de manhoso: — É que eu já vi todas as páginas e não encontrei nenhuma figura! Bem que ele poderia trazer imagens de um jardim atordoado por borboletas de todas as cores, duma noite de lua cheia sem nuvens ou dum riacho com peixes de todos os tipos... Essas que são coisas muito lindas! — Desculpinha esfarrapada! Vamos lá, rapazinho, não quero saber. Pode ir lendo!... Como essa reprimenda pública veio a lhe fervilhar as ideias, Nick reagiu como costumeiramente fazia em situações que demandassem tensão psicológica: surrou a superfície da carteira, reclamando: — Eta porra! A pessoa leva grito desse tamanho e ainda é obrigado a ler um livro tão ruim como esse; que não sabe admirar o que há de bonito no céu, na terra ou nas águas?!... Como vou gostar dele se não fala das coisas que no mundo eu gosto? Qual foi o cara que escreveu ele mesmo, hein? Só pode ter sido um sujeitinho de péssimo gosto mesmo: olhem só que coisa velha desorganizada! — Não me importa o seu gosto refinado, sua crítica cítrica ou a imperícia do escritor! Quero apenas que o leia, só. Não quer ler?... Ótimo! De castigo aqui na frente! Nick sapecou seu maior confidente — um bonequinho que carregava debaixo do braço aonde quer que fosse —, e saiu em direção do quadro negro. Um vulcãozinho em erupção, fumaçava de tanta raiva! 16


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— Agora que tudo foi resolvido — disse ela encarando Nick com autoafirmação —, os demais podem prosseguir a leitura! Recomeçaram. De início, tudo bem. Entretanto, do meio pro fim, a visão do garotinho de braços cruzados e com a cara amarrada como um jumento, fez pipocar aos poucos uma crescente onda de risadinhas isoladas. Essas só eram abafadas temporariamente quando os olhares carrascos da professora vasculhavam os quatro recantos da sala. Mesmo assim, houve certo momento em que a situação tornou-se insustentável para a pobre anciã. E uma chuva de gargalhadas nasceu, fermentou e se espalhou como um enxame. Com isso, sua paciência finalmente ruiu: — Tenho a leitura como uma questão de honra, corja de bestas selvagens! Não querem ler por bem, sem palhaçada?... Pois ouvirão por mal! Lerei a narrativa na íntegra e bem devagarzinho... E ai de quem tapar os ouvidos: arranco-os fora! Aproximou-se deles, salivou a ponta dos dedos, ajustou os óculos à base do torto e enrugado nariz, e (re) recomeçou... “Num período muito afastado dentro da História Universal dos povos, nosso vilarejo era formado por um pequeno e desorganizado conjunto de vinte casebres. Uma igreja, um convento, uma padaria e mais dezessete residências. Assentava-se sobre uma estreita e sólida faixa de terra, sendo que esta era cercada por uma extensa, fechada e pantanosa floresta tropical. A floresta era terrivelmente conhecida como Satíria, a “Sepultura do Macabro”. Aquele verdadeiro labirinto de armadilhas naturais, tão traiçoeiro durante o dia quanto à noite, fora batizado assim porque, além de ser horrendo em sua estética florestal, era infestado de criaturas demoníacas que saíam de inúmeras crateras secretas que davam direto nas profundezas. Tais monstruosidades adoravam deixar o mato durante a noite, algumas mesmo de dia, para atacar pobres cidadãos indefesos. Entre eles, o mais temido era o Saborá: um louva-deus gigante cujas “mãos” eram enormes serras metálicas cortantes. Ao atacar uma pessoa, esfolando-a, abandonava toda a carne na porta da igreja, levando consigo exclusivamente a ossada com a qual amolaria as suas lâminas para as futuras vítimas. 17


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Outro bastante conhecido era o Barbario. Aquele sapo-lagarta oleoso de chifres móveis preferia atacar as crianças. E tinha uma especial atração pelas mais levadas. Ao sequestrar alguma desavisada, insuflava-lhe no estômago uma enorme variedade de vermes. Na verdade, era como se estivesse recheando um pastel humano para seus filhotes de ninho se banquetearem. Eles adoravam esse delicioso petisco! Para completar o “trio do terror” havia também o impiedoso Wórtex. Esse era perigosíssimo! Podia apresentar-se a alguém de repente na forma de um minúsculo, atraente, meigo e inofensivo redemoinho reluzente. Bailando em volta da presa com leveza, o envolvia numa paralisante névoa azul-clara. Depois, do nada, aplicava-lhe uma descarga elétrica fatal, forte o bastante para sobrar somente uma poça de gordura fervente. Então, se alguém topasse com algo do tipo podia estar certo: o Wórtex havia passado por ali... Esses eram os mais famosos, porém, a população total era imensa, podendo facilmente ultrapassar a cifra dos milhares, e cada um mais bizarro e cruel do que o outro. Havia bicho feio pra todo gosto! Desse modo era regra: bastava o sol amarelar no poente para o pânico tomar conta de todos visto que era certa a aparição dos sombrios. Dentre todos, a única exceção era João Rufos, um destemido cavaleiro autônomo. Inicialmente era tão covarde e medroso quanto os demais. Porém, após ter sua esposa e sua filha primogênita eliminadas pelo Saborá e Barbaril, respectivamente, tomou a audaz decisão de proteger seus concidadãos e, sobremaneira, a sua caçula, a adolescente mais formosa de toda aquela região. Toda meia-hora antes do anoitecer juntava seus instrumentos de caça num grande alforje, deixava Stefany seguramente trancada em casa e embrenhava-se floresta adentro. Com uma sede de vingança incalculável, só costumava retornar trazendo atrás dos ombros o clarão do dia. Quando conseguia eliminar alguma fera, isso quase sempre acontecia, trazia o corpo triunfalmente até a praça central do vilarejo. Depois, junto à população, levava-o em procissão festiva até 18


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o cume da Montanha do Anil, um penhasco de três mil metros de altura conhecido assim por apontar para um céu muito raramente encoberto. Naquele lugar ermo realizavam um ritual fúnebre dando sepultura à fera numa enorme caverna. Faziam isso em meio a preces de paz na crença de que o espírito do morto, estando agora junto ao corpo nas alturas, finalmente deixaria a localidade sossegada; que esqueceria o rancor pelos seus algozes devido sua proximidade com as belezas do paraíso celeste. Criam nesse tipo de conversão e apostavam que esses “novos santos” os auxiliariam na luta contra os poderes maléficos. João Rufos sentia-se muito realizado com o ofício que abraçara. Através dele, tanto podia aliviar a dor da saudade ao sabor da vingança, quanto via sua fama de “estandarte da bravura” correr longe até países estrangeiros. Pai e filha viviam assim, felicíssimos! Houve uma manhã em que o pai retornou da caça radiante. Cumprimentando a filha com um devotado beijo na testa, sentou-se para tomar o café da manhã. Stefany frigia alguns ovos de pica-pau gigante. Ele puxou conversa: — Ontem à noite por pouco não dei fim ao cretino do Saborá! Ainda cheguei a acertar-lhe uma flecha bem no meio do largo traseiro! Ele é dentre todos o mais escorregadio, mas chego lá... Mas Stefany trazia enterrada sob o peito outra preocupação. E ardia tão fortemente que, mesmo acanhada, não conseguiu segurá-la a tempo de o pai sair. No berço da adolescência, seus hormônios a fervilharem nas veias, disse: — Papai, ontem à noite sonhei com um rapaz de bigode muito bonito me beijando... Eu gostava muito, mas depois que acordei até agora minha alma não descansa. O que isso quer dizer, papai? A tímida interrogação caiu-lhe aos pés feito um raio homicida. Se as mais horrendas manifestações do maligno que se escondem nos antros noite não lhe causavam uma só gota de terror, aquilo atirou nosso valentão num turbilhão de desespero sem precedentes. É que sua amada filha era a última joia do seu riquíssimo tesouro familiar; “perdê-la” tão cedo para outro homem seria como um tipo de morte espiritual antecipada. 19


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“Na solidão, o que seria de mim?... Eu seria até capaz de abandonar minha casa indo conviver amigavelmente na floresta com o Saborá. Só assim ele seria nosso elo mais próximo; alguém que me traria lembranças das minhas amadas!”— Pensava. — Papai, o que arrasta olhar do senhor para tão longe? Aguardo a resposta... O que quer dizer? — Insistiu a menina. Ele bem que poderia ter dado uma resposta mais delicada, menos desastrosa... — Quer que eu diga mesmo?... Quer dizer besteira! Se o beijo do canalha deixou teu espírito tão perturbado é porque algo de ruim se esconde por trás dele! O que se vê em sonhos é tudo bobagem. Pois vá arrumar mais o que fazer... As consequências dessa grosseria foram trágicas. Daquela manhã em diante, a boca da menina calou. Sobre nada perguntava, sobre tudo quase nada respondia. Mas seu coração, insatisfeito, continuava gemendo por respostas. João Rufos percebia isso, mas achava melhor não voltar a tocar no assunto. Com persistência e alguma dose de sorte o tempo daria um jeito; tudo acabaria bem. Enganava-se, pois não seria tão fácil assim. Sabe por quê?... Porque Stefany desde cedo sentia a ausência de alguém mais próximo — a mãe ou a irmã — com quem se sentisse mais à vontade para conversar sobre certos assuntos de mulher. Por isso mesmo escondera do pai alguns detalhes mais íntimos do sonho; por isso mesmo não estava totalmente satisfeita. Foi aí que, numa daquelas noites bastante estreladas, esperou o pai entrar fundo na mata para ir ter com a mulher mais experiente da redondeza: Chicória, a feiticeira. Vestiu-se com uma capa, calçou a sapatilha, deslizou pelas ruelas... Eram vinte e duas horas e meia. Chegando à frente do “consultório” da bruxa, procurou estabelecer contato visual pondo a cabeça na porta que, entreaberta, deixava escapar uma faixa luminosa. Não obtendo sucesso, tentou doutra forma: — Boa de casa! Bateu palmas. Nada. Repetiu a dose, mais alto. 20


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