1967, na cidade de Poá, estado de São Paulo, Maurício Ramos é formado em Marketing, casado e pai de dois filhos. Tendo como hábito a leitura de boas obras, dedicasobre diversos assuntos do cotidiano, como forma de expressar e compartilhar com os demais suas ideias e convicções. “O hábito de ler e escrever, herdei através do D.N.A de minha querida mãe, que como ninguém, é leitora assídua de livros desde garotinha”. Ler é um exercício para a mente e escrever certamente é um bálsamo para a alma.
A Menina e o Violino
-se a escrita de textos e reflexões
S
entada com seu violino nas mãos, Dirce sentia um arrepio percorrer por toda a sua espinha, e a ansiedade tomava conta de seus pensamentos. Sua vida descortinava-se a sua frente como um filme e cada momento vivenciado com intensidade era agora recordado em detalhes. Sua primeira infância vivida em meio às costuras de sua mãe em um pequeno cômodo daquele cortiço onde vivia as voltas com suas fantasias, apesar de todas as dificuldades pelas quais sua família passava, era agora recordada. Momentos de magia misturados com extrema preocupação e privações de todas as espécies. A lembrança de seu querido pai caminhando rua acima após desembarcar do bonde que o trazia de retorno do trabalho, sempre sorridente e solícito apesar do cansaço e dos problemas que havia enfrentado. Doces momentos de prazer e distração ao sentarem todos reunidos naquele pequeno quarto para apreciarem a bela melodia executada no velho violino sob a luz fraca e trêmula de um pequeno lampião a querosene.
Maurício Ramos
Nascido em 07 de Outubro de
A Menina e o Violino
A vida humilde e sofrida de uma garotinha em meados dos anos 30, suas dificuldades e seu amor por sua família e pela música do violino de seu pai, um humilde operário, as vicissitudes de uma época e a força de uma grande amizade.
As dificuldades financeiras de seus pais não impediam a pequena Dirce de sonhar com um futuro melhor, conduzidos pelas veredas da vida. A mudança necessária deu início a uma grande amizade que marcaria sua vida para sempre.
A dor e a incerteza eram companhias constantes desta família, que com muito amor e dedicação, buscavam a superação de suas adversidades, na união e na esperança.
A certeza de que sempre haverá uma luz
Maurício Ramos
a nos amparar em todos os momentos de nossas vidas, por mais improvável que pareça. O sofrimento por mais penoso que seja é sempre passageiro e uma nova alvorada se descortinará permitindo novas oportunidades e a realidade de uma vida plena de paz e reencontros benfazejos.
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A Menina e o Violino
A Menina e o Violino
MaurĂcio Ramos
Copyright © 2012 by Maurício Ramos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-98792-xx-xx Projeto gráfico e editoração eletrônica: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Zélia de Oliveira Imagem: Google
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“Nossas ideias e convicções são frutos de nossa evolução moral, expô-las por meio da escrita, reflete de forma clara a essência de nossa alma” Maurício Ramos
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Este livro é dedicado a minha amada esposa e filhos, que com muito amor e paciência sempre incentivaram e contribuíram sobremaneira para a realização deste sonho. À minha querida mãe, por nutrir em mim o gosto pela boa leitura e o prazer pela escrita, incentivando o aprimoramento por meio do conhecimento.
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Agradecimentos
A todos os meus familiares que me incentivaram na realização desta obra, em especial a minha querida esposa e filhos que compartilharam de todos os momentos de criação. À vida, por permitir que nesta jornada fosse eu agraciado com a possibilidade de poder expor minhas ideias através da escrita, dividindo com o próximo meus sentimentos e sensações. E a todos os que ao lerem esta obra possam apreciar a narrativa e envolver-se com a história apresentada.
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Sumário
Capítulo 1 – Doce Despertar................................................................... 13 Capítulo 2 – A Pequena Dirce................................................................ 17 Capítulo 3 – Um Dia de Agonia...........................................................23 Capítulo 4 – Desespero.............................................................................29 Capítulo 5 – Encontro Inesperado........................................................35 Capítulo 6 – A Casa do Porão Habitável..........................................43 Capítulo 7 – Garimpando a Rua..........................................................49 Capítulo 8 – Sonhos Reparadores........................................................55 Capítulo 9 – A Construção de um Sonho............................................ 61 Capítulo 10 – Imprevistos no Trabalho.............................................67 Capítulo 11 – Natal em Família............................................................73 Capítulo 12 – Helena................................................................................ 81 Capítulo 13 – A preocupação de Toninho...........................................89 Capítulo 14 – A Despedida.....................................................................97 Capítulo 15 – A Busca de Helena.......................................................105 Capítulo 16 – Retorno às Origens........................................................ 113 Capítulo 17 – Manhã de Angústia...................................................... 119 Capítulo 18 – Dor e Aconchego.............................................................127 Capítulo 19 – Novas Possibilidades...................................................135 Capítulo 20 – A Passagem.....................................................................143 Capítulo 21 – Novos Rumos..................................................................149 Capítulo 22 – Reencontro de Amor.....................................................157 11
Capítulo 1 – Doce Despertar
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azia frio naquela manhã de outono, quando pouco a pouco o despertar acontecia embalado por suave melodia. Ainda com seus olhinhos preguiçosos, a pequena menina frágil e delicada ia se desvencilhando das cobertas que a protegiam do frio da manhã. Era sábado, e seus aguçados ouvidos captavam a doce melodia que vinha da extremidade do quarto em que dormira. Sentado em uma cadeira, empunhando de forma majestosa, seu velho violino, ela podia observar a sombra esguia de seu pai, tocando aquele instrumento como se sua própria alma se esvaísse pelas finas cordas, emanando uma mistura de alegria e angústia, através de sua música, algumas vezes entrecortada pelo som incômodo de uma tosse insistente e perturbadora que lhe acometia já fazia algum tempo. Como era bom escutar seu pai tocar, pensava ela, ainda relutante em levantar-se para evitar que ele parasse seu pequeno concerto, afinal, este só acontecia apenas nos fins de semana, quando seu pai não estava no trabalho e dispunha de maior tempo para realizar uma das poucas coisas que realmente tinha prazer em fazer: tocar seu violino, além de ficar com a família. 13
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Com o instrumento apoiado em seu ombro, bem próximo ao queixo, deixava o arco deslizar de forma suave, produzindo belas melodias, não que ele tivesse se preparado com aulas de música ou coisa semelhante, mas a habilidade de aprender apenas ouvindo era um dom que ele sabia muito bem desfrutar, “tocar de ouvido”, era assim que ele, em sua simplicidade, justificava a qualidade musical que possuía. Ao perceber que sua pequena filha havia acordado, Mário parou de tocar por um instante, levantou-se e caminhou até próximo de sua cama. — Bom dia, querida — disse ele carinhosamente à pequena Dirce, que acabrunhada em meio às cobertas, abriu-lhe um sorriso terno e meigo. — Bom dia, papai — Respondeu. — Não pare de tocar, estava gostando muito desta música. — Pediu, então. — Desculpe querida, não queria acordá-la, esta música que estava tocando, chama-se “Primavera de Vivaldi”. — Ela é linda! Toque mais um pouco papai, adoro ouvi-lo. Com um sorriso no rosto, seu pai aconchegou-se ao seu lado na cama, afastou um travesseiro e ajeitou-se para melhor empunhar seu precioso violino para continuar sua exibição a um público muito especial, sua querida filhinha. *** O ano era 1932, marcado por grandes dificuldades financeiras e clima de revolta e ameaças de todas as espécies. A pequena Dirce tinha apenas seis anos de idade, e morava com seus pais Mário e Ana Maria, em uma pequena vila de casas, na verdade mais parecia um cortiço, pois era um quintal com um único portãozinho de acesso para um terreno onde havia construídos, ao lado esquerdo, três tanques coletivos para lavar roupas, seguidos de duas cozinhas externas e dois banheiros. No fundo do quintal, dois modestos quartos concluíam a obra, e em um destes quartos é que morava sua família, dividindo o terreno com uma família de descendentes portugueses. 14
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A cidade de São Paulo nos meados dos anos 30 era uma cidade acolhedora, porém repleta de dificuldades para se conseguir um emprego, ou até mesmo uma moradia mais digna para as famílias menos afortunadas. A opção encontrada por Mário, um humilde descendente de italianos, foi o aluguel deste pequeno quarto para aconchegar sua esposa e sua pequena filhinha, afinal os parcos recursos que possuía com seu trabalho como serralheiro artístico em uma pequena empresa da capital, não lhe possibilitariam aspirar por algo mais adequado à acomodação de sua família. A insegurança apresentada na época para os moradores da capital paulista era enorme, o período era marcado por grandes manifestações de estudantes e conflitos com a polícia. Neste clima hostil e inseguro é que Mário buscava através de seu trabalho o sustento de sua família. Ele era de constituição física fragilizada, muito magro e aparentando bem mais que seus trinta e poucos anos de idade, muito em parte pela calvície avançada que lhe cobria boa parte da cabeça, e pela fisionomia quase sempre cansada. Estava sempre vestido com seus dois únicos ternos de cor azul-marinho, por cima de uma camiseta branca e suspensórios, na saída para o trabalho o seu chapéu panamá marrom-escuro era de uso obrigatório. Filho de italianos, mudou-se para o Brasil ainda muito jovem, e admirador da arte em todas as suas expressões, iniciou seu trabalho como serralheiro artístico, onde sua atividade consistia em moldar belas luminárias e artigos em metal para enfeitarem os prédios suntuosos da época, entre eles, um em que participara ativamente, e particularmente lhe enchia de orgulho: uma estátua de um dragão totalmente feita em metal, que adornaria de maneira única, o prédio do Palácio das Indústrias, localizado na região do Parque Dom Pedro, em São Paulo. Apesar de seu grande talento, e de seu imenso esforço diário, para conseguir angariar horas extras de trabalho, buscando aumentar sua renda no final do mês, Mário enfrentava grandes dificuldades financeiras, e a labuta diária lhe cansava de forma atroz, tanto física como mentalmente. 15
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Sua saúde já não era mais a mesma de outrora, e sua preocupação aumentava a cada dia. — Como poderei suprir as necessidades de minha casa, cuidar de minha esposa e de minha filhinha querida, se me sinto cada vez mais exausto? — Este era um pensamento que lhe ocorria diariamente, pois se com ele trabalhando a vida não era nada fácil para aquela pobre família, como poderiam sobreviver caso até isto um dia fosse-lhes negado? Ele sabia muito bem o que era isso, afinal estava cada dia mais difícil encontrar e manter um emprego, havia sentido na pele, recentemente, a dificuldade de estar desempregado, com uma família a sustentar e tão poucas oportunidades de recomeçar. Pai extremamente devotado e carinhoso, marido amável e atencioso, Mário carregava em sua alma a essência da arte, arte esta que a vida privou-lhe de poder desfrutar como gostaria, mas que sua dedicação e amor, jamais permitiram que lhe afastassem de sua presença. Seu bem mais valioso era seu velho companheiro nas horas de alegria e nos momentos de angústia, seu inestimável violino, com o qual extravasava seus sentimentos mais íntimos. Este bem tão valioso foi herdado de seu querido pai, que como amante da boa música, era exímio violinista e, após sua morte, deixou como herança a seu único filho o bem maior que possuíra, seu inestimável violino. Por quantas vezes, em meio às aflições de sua existência, não foi por intermédio deste querido amigo, que sua mágoa foi desfeita, e sua alegria, embora tênue como o fio de uma navalha, voltava a preencher sua vida. Era com maestria ímpar, que com seus dedos finos e calejados, suas mãos por vezes trêmulas pelo cansaço, dominavam de forma angelical tão sublime instrumento, e dele era capaz de extrair melodias dignas de grandes mestres como Vivaldi e Paganini.
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