Sérgio Felici Costa
Afterlife
Sérgio Felici Costa nasceu na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, em 11 de outubro de 1993. Sempre gostou de ler, sem fazer distinção entre histórias infantis a gibis. Costumava parar para ler outdoors e placas com nomes de ruas. Na quinta série, escrevia textos para apresentar diante da classe, e foi reconhecido por sua escrita séria e, ao mesmo tempo, divertida. Em 2009, escreveu seu primeiro romance destinado ao público jovem, já que o autor, na época, tinha 15 anos. Em 2010, veio seu segundo romance, um pouco mais sério, por se tratar de uma trama policial. Já em 2011, no início do mês de dezembro, deu o pontapé inicial à série Afterlife, destinada ao público adulto. A série continua sendo escrita, e o autor a considera sua maior realização, por planejá-la em cinco livros. Sérgio Felici Costa atualmente está cursando Letras pela Faculdade Asmec de Ouro Fino, Minas Gerais. APED - Apoio e Produção Editora Ltda.
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Afterlife Sérgio Felici Costa
Melanie Hank tem vinte anos, mas passou a maior parte de sua vida trancada em um quarto de uma clínica psiquiátrica. Seus pais, os únicos que poderiam protegêla de todo o mal que a cerca, estão mortos, e ela vive sem esperar algo do futuro. As constantes visões e sonhos que tem com os estranhos espectros deixam-na paranoica, com desejos que não são dela, mas o que fazer para se livrar disso? Afterlife é o romance de estreia da série de drama assinada por Sérgio Felici Costa. Aborda amor, suspense, ação e espiritismo. Melanie Hank, a protagonista, é uma pessoa frágil, mas ao mesmo tempo corajosa e persistente. Ao longo das páginas deste livro você encontrará segredos, muitas vezes ocultos, e não se cansará até descobrir cada um deles. Porque a morte é apenas o começo.
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Copyright © 2013 by Sérgio Felici Costa Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-085- 4 Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Thiago Ribeiro
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ C875a Costa, Sérgio Felici, 1993Afterlife / Sérgio Felici Costa. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Aped, 2013. 120 p. : il ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-085-4 1. Ficção brasileira. I. Título. 13-05775.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
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Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br
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Para Juciléia, com carinho. *** Corre nas veias, No brilho de um olhar, Apenas no som de um respirar Deslumbra num simples passo... Num simples conjunto de passos, Que formam o caminhar... Num toque, Num gesto, Num movimento... Num batimento ritmado, De um coração que manifesta sua existência Tudo isso desapercebidamente Se passa quando ela existe... E também não se faz atentar Mas quando se vai Tudo fica inanimado Não há mais o que se vislumbrar O brilho se vai, A alegria, o amor, a esperança... Ficam apenas memórias Ficam apenas lembranças Entre a vida e a morte... Autor desconhecido ***
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Sumário
Capítulo 1— Incertezas • 9 Capítulo 2 — Saída • 15 Capítulo 3 — Planos • 23 Capítulo 4 — Fantasmas • 33 Capítulo 5 — Cumplicidade • 43 Capítulo 6 — Histórias • 51 Capítulo 7 — Armadilha • 59 Capítulo 8 — Descoberta • 69 Capítulo 9 — Pacto • 77 Capítulo 10 — Fuga • 85 Capítulo 11 — Notícias • 93 Capítulo 12 — Morte • 107
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Capítulo 1 Incertezas
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udo na vida tem um porquê. Não sei qual é a regra para que todas as coisas ruins aconteçam a pessoas como eu, mas seja lá qual for, sempre tem uma explicação. Vendo por esse lado, no entanto, nunca consegui explicar os motivos para estar neste lugar agora, trancada em um quarto, longe de qualquer pessoa, recebendo uma vez ou outra a visita de alguém, que trazia comida ou tentava falar comigo. Mas todos sabiam que não iriam obter sucesso em me pressionar a falar, porque há dez anos vivo em silêncio, sem dizer uma palavra sequer, desde que meus pais morreram, e eu presenciei tudo... A porta do quarto abriu-se e um homem entrou, caminhou lentamente até ela e a observou silenciosamente. Ela levantou os olhos, sonâmbulos, e seus olhos fixaram-se nos do homem. — Acho que está na hora de você sair um pouco, tomar um ar, voltar a se acostumar com a luz ambiente. Não é bom ficar trancada aqui sempre. — Disse ele, um pouco rispidamente. — Venha. Ela balançou a cabeça, em sinal de negação, e baixou os olhos para os pés, descalços e machucados.
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— Se você continuar assim, nunca vai sair daqui, não se esqueça de que desde os dez anos de idade está trancada neste quarto, vai enlouquecer desse jeito. É isso o que quer? Ficar realmente louca, como os outros pacientes? Ela não respondeu, nenhum gesto, nenhum ruído. O homem suspirou e voltou para a porta, mas parou antes de abri-la. — Estou tentando te ajudar. Se mudar de ideia, aperte o botão aqui perto da porta, não hesite se preferir voltar a viver como uma pessoa de verdade. Quando ele finalmente saiu, ela se levantou, sentindo algumas dores nos braços e pernas. Não era sua intenção sair do quarto, nunca foi, tinha consciência das coisas horríveis que eles faziam com os outros pacientes, e não queria ser mais uma vítima. Para ela, a vida isolada que levava era melhor do que ter pessoas ao seu redor gritando, implorando para ir embora, ou até mesmo enfermeiras tentando convencer senhoras de idade a permanecer na cama, quando o que elas querem é apenas ir ao banheiro. Aos dez anos, quando foi mandada para a clínica, sabia exatamente o que esperava para o seu futuro: ser uma bióloga, como sua mãe sempre a aconselhara. Mas agora o dia de amanhã parecia um ponto escuro, incerto. Lembrava-se um pouco de como chegara ali. A irmã mais velha de sua mãe, quando soube do acidente, veio rapidamente para tratar dos assuntos funerários. Por mais que achasse que a tia fosse uma pessoa totalmente dedicada à família, era óbvio que não ia pedir a tutela dela, o que se confirmou no dia anterior ao enterro de seus pais. — Você. — Olhou para ela com um ar de repulsa. — Sei que perdeu os pais, a minha irmã era boa demais, não posso negar, mas não posso ficar com você, tenho muitas coisas a resolver, e não seria nada gentil da minha parte se a deixasse de lado. Ela não respondeu, não porque estava abalada com a morte dos pais ou que estivesse com mágoa de sua tia, mas tinha um motivo para isso. Um motivo que ninguém entenderia se dissesse. E foi por esse motivo que provavelmente a levaram para lá. 10
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Estava chovendo, e ela estava em pé, próximo à árvore que costumava subir para pegar frutas com os antigos vizinhos. Seus pés descalços e o cabelo desarrumado davam a estranha impressão de que não pertencia àquele lugar, poderia ser simplesmente uma andante. Mas não era. Seus pais estavam mortos, a irmã de sua mãe foi embora sem ao menos se despedir, e os sonhos e as visões que tinha desde antes do acidente não paravam de atormentá-la. Não conseguia mais dormir, tinha olheiras profundas debaixo dos olhos, não era mais a mesma, podia sentir isso. Eles estavam ganhando força sobre ela. Um homem que morava perto de sua casa observava pela janela, imaginando o que ela estaria pensando em ficar na chuva, sem nenhuma proteção. Talvez fosse melhor ir ajudá-la, não poderia deixar a garota daquele jeito. Ao ver a aproximação do homem, ela caiu de joelhos no chão lamacento e olhou para ele com uma expressão aflita. — O que você está fazendo aqui, garota? Vai pegar um resfriado que te dará boas razões para não sair mais da cama. Vamos, levante-se, vou levá-la para casa. Os olhos aflitos dela agora ficaram inexpressivos. Levantou-se devagar, virou-se para o caminho que levava ao lago, e começou a andar, sem dar atenção ao homem. — Onde você está indo? Volte aqui! — O homem a seguiu. O vento e a chuva pareceram se intensificar, e ela não desistia de sua caminhada. Já não estava mais consciente de seus atos, mas o homem não sabia disso, não podia saber. — Pare! Não vê que o caminho vai dar em um lago? —Sem o casaco, o homem estava tremendo, mas não ia desistir de ajudar a menina. Sabia o que tinha acontecido aos pais dela, e mesmo que ele não os conhecia, sentia-se na obrigação de pelo menos abrigá-la em segurança. Às margens do lago, ela parou, observando o gelo que consumia parte dele. O que deveria fazer agora? Mas antes que tomasse qualquer decisão, uma coisa quente tomou conta de seu corpo, fazendo-a cair de joelhos e gritar desesperadamente. 11
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— Meu Deus... — Sussurrou o homem, aproximando-se. Suas mãos tentavam chegar a seus cabelos, mas outra força maior ainda a impedia de fazer isso. O grito que saía de sua boca era de dor, de desespero, de raiva, ódio... Seu corpo tombou para o lado, e começou a se contorcer, dando espasmos, e uma espuma branca saiu de sua boca... — Calma, calma, vou te ajudar... — O homem se ajoelhou quando conseguiu chegar até ela e envolveu-a em um abraço. Sentiu pena daquela pobre garota órfã. Seu corpo não parava de dar espasmos, e a espuma molhou sua roupa. — O que eu posso fazer para isso parar? E de repente, ela ficou imóvel. Poderia ter desmaiado ou morrido, pensou o homem, pegando-a em seus braços e levantando-se com dificuldade. Tudo o que tinha que fazer agora era procurar um médico, a garota obviamente estava com problemas. Depois desse incidente, não se lembrava de mais nada, apenas sabia que acordara naquele quarto e ninguém deu nenhuma informação, nenhuma explicação, e ela também não falara nada sobre o que tinha acontecido, era uma questão que até hoje não tinha respostas concretas. Durante os dez anos que estava na clínica, sempre alguém, homem ou mulher, tentava uma comunicação verbal com ela, perguntavam coisas, convidavam-na para ir ao refeitório, mostravam-se interessados no caso dela. Claro, nunca foram violentos a ponto de torturá-la para dizer alguma coisa, mas sempre procuravam ser cautelosos e calmos com ela. Talvez um dia chegasse finalmente a viver como uma pessoa normal, como disse o homem que entrara há poucos minutos no quarto. Mas esse dia era incerto, como todas as outras coisas de sua vida. Haveria um meio de sair daquela isolação? A felicidade existiria ainda? Ela começou a andar de um lado a outro da sala, olhando para as paredes, o teto, a porta... Depois de tanto tempo trancada não tinha a mínima ideia de como estavam as coisas lá fora, sentia falta de tantas coisas, de tantas pessoas, mas por que não conseguia se livrar desse peso e falar eu quero sair daqui? 12
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Um ruído chamou sua atenção. Parou no mesmo instante, alerta. A luz do quarto começou a piscar, e de repente apagou. Na total escuridão, ela sentiu suas pernas tremerem, e um calafrio invadi-la por dentro. Até que ela ouviu vozes. — Você tem que ficar aqui. — Vai apodrecer neste lugar. — A morte está próxima. — Não vai conseguir sair. E uma mão descomunal atravessou a parede atrás dela, agarrando-a e a puxando... Desesperada, tentou se livrar, mas cada vez mais sabia que perdia suas forças. Agora, além da mão, uma figura encapuzada com uma foice estava na sua frente, observando-a, sussurrando coisas que aos seus ouvidos pareciam gritos. — Renda-se agora, não pode fugir para sempre, o seu futuro não é entre os humanos, se entregue de corpo e alma. O grito que saiu de sua boca era mais forte do que há dez anos. Não importava que tivesse passado tanto tempo sem falar, a sua única comunicação de ajuda era o grito, e agora mais do que nunca precisava de alguém que a tirasse daquele pesadelo, que afastasse aquela mão e aquele espectro, ela não queria se entregar... A última coisa que viu antes de desmaiar foi quando a porta abriu-se novamente e o mesmo homem entrou correndo no quarto. Estava a salvo. *** Richard olhou para o diretor da clínica e balançou a cabeça. Estava muito preocupado com a situação da paciente do quarto número 65, e precisava de respostas sobre como tratá-la. — Uma crise que, segundo informação de um morador que a conhecia, não se repetia desde o dia que ela chegou aqui. — Disse o diretor, franzindo as sobrancelhas. — É muito estranho, Richard, dez anos se passaram, veja bem, ela nunca falou nada, e agora consegue gritar desesperadamente. Ou está fingindo de muda ou algo muito estranho está acontecendo. 13
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— Diretor, as refeições estão sendo dadas pontualmente, eu sempre tento levá-la para fora da sala, mas é impossível, não há um diálogo, todos os dias. Não acho que seja fingimento da parte dela, se o senhor visse a expressão dela quando a vi, caída no chão depois da crise, iria refazer seus conceitos. — Na verdade nem eu sei o que a nossa clínica está virando, Richard. — O diretor deu um sorriso sombrio. — Pessoas parecem que estão enlouquecendo muito mais do que já estão, e isso não está certo. Se a mídia souber disso, estaremos encrencados. — Ele pegou a ficha da paciente. — Só resta uma coisa a fazer: obrigue-a a sair da sala, se ela insistir em recusar, use um método de força. Vamos acabar com a fama de bonzinhos. — Sim, senhor. — Richard pegou a ficha que o diretor lhe oferecia. — Melanie Hank... Acabou a mordomia de isolamento... Hora de se libertar. — E sorriu para o outro, que acenou gentilmente com a cabeça.
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