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Copyright © 2013 by Roberto Laaf e Bianca Carvalho (Orgs.) Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-056-4 PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E REVISÃO: Aped — Apoio e Produção Editora Ltda. CAPA: Thiago Ribeiro CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. A541 Amores impossíveis / organizadores Bianca Carvalho & Roberto Laaf. - 1. ed. - Rio de Janeiro : APED, 2013. 172 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-056-4
1. Histórias de amor. 2. Conto brasileiro. I. Carvalho, Bianca. II. Laaf, Roberto 13-01874 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 06/06/2013 06/06/2013
Aped — Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 — bl. 04 — 1106 Barra da Tijuca — Rio de Janeiro — RJ — 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483 / 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br
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O amor pode nascer de muitas formas, mas é quando nasce da simplicidade de um gesto que inesperadamente toca o coração, que se sente o inelutável arrebatamento que marca para sempre uma vida.
Roberto Laaf
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Àqueles que sonham superar todas as barreiras em busca de um amor “aparentemente” impossível de ser plenamente conquistado.
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Agradecimentos
Agradeço à querida autora Bianca Carvalho por tão prontamente ter aceitado meu convite para colaborar na organização desta bela coletânea de contos, partilhando do seu tempo com tanto carinho e dedicação. Sua leitura crítica e análise apurada sobre a intensidade inserida nos trabalhos apresentados foram fundamentais para a criteriosa seleção que sempre desejamos para a obra Amores Impossíveis. À Zélia Oliveira, da APED Editora, que além de grande amiga, foi mais uma vez a pessoa responsável pela produção editorial e gráfica para a publicação desta nova coletânea romântica. Aos autores e autoras que se emprenharam na construção dos intensos contos românticos que a partir de agora estão aqui reunidos como tributos à literatura. E também agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta coletânea que, de certa forma, realiza também o sonho de um seleto grupo de autores que conquistaram minha admiração. Roberto Laaf 9
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Prefácio
Mais uma vez, estou, como editora, participando desta maravilhosa iniciativa da Editora Alcantis, em descobrir e publicar novos talentos. A cada texto lido, fui me surpreendendo com a profundidade e criatividade desses contos. Uma riqueza sem tamanho. Em cada conto uma emoção, uma ilusão, um sofrimento, um amor não correspondido. E, assim, em cada página folheada, uma surpresa de como podemos viver ou não viver um grande amor, como podemos perder uma oportunidade por aguardar que a iniciativa venha do outro lado. Vamos encarar o amor, o relacionamento, o momento. Pode ser a última oportunidade que surge à nossa frente. Mas, esses dezesseis autores souberam, com maestria, não perder a grande chance oferecida de enfrentar a crítica literária, a seleção. Parabéns, a todos vocês autores, que agora estão impressos nas páginas a seguir, levando a cada leitor o mais saboroso texto, com direito a uma viagem apaixonante. Tenho a certeza de que, o leitor, ao começar a ler esta obra, só fechará o livro quando chegar à última página. E como cada amor vivido com intensidade, ficará um gostinho de “quero mais”.
Zélia de Oliveira Editora da Aped 11
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Sumário
Prefácio • 11 Lembranças • 15 Amor e redenção • 27 Enquanto caem os grãos de areia • 39 Segredos do coração • 49 Sob o jogo • 55 Uma carta, um engano, um amor • 65 Uma vita d´amore • 77 Meu amor é um mito • 87 Sonho inalcançável • 103 Entre o amor e as pedras • 109 Ideia de amor • 119 Lágrimas de um louco • 125 Escolhas • 133 A expectativa do reencontro • 145 A frágil rosa de celuloide • 149 Novas chances • 161
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Lembranças
Fabiane Stela Finger
Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina. Carlos Drummond de Andrade
A
bro os olhos. A noite ainda se estende lá fora, posso ver a claridade da lua entrando pela janela. A noite está serena. Um contraste para os meus sonhos que há anos me acompanham. Ou serão pesadelos? Quem sabe, talvez, uma mescla de ambos? Não consigo dormir. Elas estão chegando, já posso senti-las. Uma vez mais, meus pensamentos irão divagar para lembranças de uma guerra, de ideais de liberdade, para os horrores que vêm com ela e para as minhas mais belas lembranças de amor. 1º de abril de 1964, o golpe militar fora um sucesso. O presidente João Goulart, conhecido como Jango, fora deposto. O Brasil está entrando em uma nova fase que marcará a nação, o povo e suas instituições, assim como a minha alma. Eu era jovem, estava no auge dos meus 25 anos. Vestia minha farda com orgulho, sempre quis ser soldado e mostrar o meu valor ao país que tanto amei, e ainda amo. 15
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Contos Românticos
Em uma tarde de 27 de setembro, a minha vida mudou. Eu era soldado do DOPS, Departamento de Ordem Política e Social. Tínhamos como missão controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder, e o fazíamos com muita eficiência. 27 de setembro de 1967, 14 horas e 15 min. Estávamos reunidos para que nos fosse passada a missão do dia. Sabíamos de fonte segura, que uma manifestação iria ocorrer no centro da cidade, estávamos ali para garantir que os líderes fossem capturados e servissem de exemplo para outros militantes. Envelopes foram distribuídos com as fotos e informações dos líderes. Dividimos-nos e ficamos a espreita. Uma grande tempestade estava se anunciando no horizonte. Relâmpagos e trovões mostravam a força da natureza; estava preparado para seguir ordens, mas nada havia me preparado para o que vi ao abrir aquele envelope e para tudo o que veio depois. Lindos olhos cor de avelã me fitaram da foto. Um rosto delicado; emoldurado por cabelos longos e cacheados, tão negros quanto o carvão. Ela estava sorrindo e aquele sorriso me aqueceu por dentro, queria saber o que a havia feito sorrir assim, sem medo, descontraída, como se soubesse os segredos da vida. Em uma folha; com poucas linhas; dizia que seu nome era Samantha Soares, uma das líderes da Ação Libertadora Nacional — ALN, a organização mais estruturada da guerrilha urbana que se espalhava por todo o país e que também era composta por um grande número de mulheres. O destino de Samantha Soares estava em minhas mãos. Quando os ponteiros do relógio atingiram 15h e 45 min, uma cortina d’água caiu do céu. Tão forte que mal 16
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Amores Impossíveis
podia enxergar a mais de dois metros à minha frente, mas foi nesse momento que a roda da vida resolveu começar a girar, colocando cada um, exatamente onde deveria estar. O silêncio tomou conta de tudo e por alguns segundos pude ouvir apenas a fúria da tempestade, a água que caía sobre a cidade sem piedade e os trovões que estouravam no céu como se quisesse chamar minha atenção, avisar-me para que me preparasse para aquele momento. Uma voz como a de um anjo zangado irrompeu o barulho da tempestade atingindo os meus sentidos em um baque. —Hoje marcharemos pelos nossos ideais! Marcharemos pela liberdade, pelos companheiros que estão sendo mantidos em cárcere e torturados sem piedade! Vamos marchar por amor, por justiça, pelas gerações futuras. O medo estará conosco, mas não será suficiente para nos deter. Lembrem-se dessas palavras para que jamais venham a se lamentar pelo futuro que nos aguarda, pois sabemos que as consequências virão, e cobrarão o seu preço sobre todos nós. A multidão se inflamou e retomou a marcha cantando em alto e bom som, como se quisessem que suas vozes batessem nos portões do céu, a música que havia se tornado o hino da resistência civil: —Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer... Por alguns minutos, que podiam ser contados pelas batidas do meu coração, lutei contra sentimentos e pensamentos conflitantes. Soldados de um lado. Estudantes, jornalistas... de outro. Brasileiros em ambos. Não deveria ser assim, não estava certo, mas já não havia mais tempo para devaneios. Olhei para a multidão que se confrontava buscando o meu alvo, Samantha. Ela estava enfrentando um soldado 17
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que batia em um homem ao chão. Seus olhos brilhavam de raiva e suas mãos tremiam perante a situação. Seus cabelos longos e negros pingavam por conta da chuva, seus lábios estavam apertados em uma linha rígida. Realmente era um anjo zangado. Tiros ecoaram a volta, o caos tomou conta do centro da cidade. Na confusão, Samantha aproveitou para escapar, mas não antes de se abaixar e tocar com as pontas dos dedos, muito delicadamente, a face do homem desmaiado. Pude ver a dor que atravessou sua face por ter que deixá-lo, mas não havia nada que ela pudesse fazer. Quando ela se ergueu e partiu em sua fuga, era chegada a hora de entrar em ação. —Samantha Soares! Está sendo detida pelos seus crimes contra o governo! Ela sustentou o meu olhar e sem um resquício qualquer de medo em seus olhos ajoelhou-se e colocou as mãos atrás da cabeça, sem jamais deixar de olhar direto em meus olhos. Um calafrio percorreu a minha espinha com a intensidade do momento, tive que me controlar para não me aproximar. No caminho para o centro de detenção mal conseguia desviar meus olhos da pequena mulher ao meu lado, sua face agia como imã para os meus olhos e quando se encontraram com os seus o tempo pareceu parar, a atmosfera a nossa volta parecia eletrizada. O que estava acontecendo comigo? Eu só poderia ter enlouquecido de vez! Eu nem a conhecia até algumas horas atrás! Como poderia me sentir assim? Samantha foi colocada em uma cela pequena, onde mal podia dar cinco passos em qualquer direção. Não havia janelas, nem cama, nada, a não ser umidade, mofo e escuridão. 18
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Minha missão havia terminado e logo fui designado à outra, ficando dois dias afastado das instalações, mas apenas meu corpo estava, pois meus pensamentos voltavam para cela pequena, úmida e mofada, onde um anjo estava preso. Quando retornei, não pude conter a ânsia que eu estava para vê-la, minhas pernas pareciam ter vida própria levando-me direto para Samantha. Quando abri a porta de sua cela, meu coração afundou com a visão que tive. Oh Deus! Jamais esquecerei! Sua pele clara estava marcada com tantos hematomas que era quase impossível encontrar um ponto que não fora machucado. Meus olhos se fecharam com pesar e lágrimas correram pelo meu rosto, não pude evitar, era horrível demais. Aproximei-me devagar, com medo de assustá-la. Agachei-me e estendi minhas mãos trêmulas para tirar seus cabelos de seu rosto, eu precisava vê-la. —Quem é você? Não me diga que agora é sua vez de se divertir? Seu tom era amargo e agressivo, e era mais que óbvio que eu não poderia culpá-la, afinal eu era um deles. —Não Samantha, não vim para te fazer nenhum mal. —Então está fazendo o quê aqui? Veio olhar a obra de arte que seus amigos fizeram? Pois muito bem, olhe a vontade. Saí da cela de ombros caídos e cabeça baixa. Meus pensamentos eram uma confusão só, eu sabia o que acontecia nos interrogatórios, vi, certa vez, mas desde então me afastei dessa tarefa, eu não suportaria. A vergonha começou a se instalar em meu ser, eu sempre soube e nunca fiz nada a respeito, preferi fechar meus olhos e tapar meus ouvidos. Não ser a mão que tortura não significava que eu 19
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também não era um monstro, e essa percepção me bateu tão forte que meus joelhos cederam, fazendo-me cair do lado de fora da cela de Samantha, sem poder conter os soluços que irrompiam pelo meu peito e as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Hoje olho para o céu estrelado, através da janela de meu quarto e me pergunto, como muitas vezes antes dessa, como um dia ela pode me perdoar e vir a me amar. Sinto, com cada pedaço de meu ser, que eu nunca mereci tanto. Samantha No momento em que o soldado bateu a porta de meu cárcere detrás de si, pude enfim desmoronar novamente. Já não sabia o quanto mais aguentaria me manter sobre meus pés se ele resolvesse ficar por mais tempo. Agachada e enrolada em meu próprio corpo, pois não havia mais nada para que pudesse me aquecer naquele buraco, levei um susto quando pude ouvir murmúrios e choramingos que estavam vindo do corredor. Logo pensei que seria mais um corpo torturado que estava sendo carregado pelos corredores. Engatinhei, praticamente me arrastando pelo chão imundo, até a porta na esperança de descobrir se conhecia a pessoa que chorava do outro lado. Encostei meu ouvido na porta sem fazer um único ruído que pudesse me delatar e escutei. Mal pude acreditar quando me dei conta de quem eram os sons que ouvia. Vinham do soldado que estava aqui, mas por quê? Quanto mais escutava os sons lamuriantes e os soluços, meu coração se apertava e minhas mãos formigavam como se quisessem tocá-lo para lhe confortar. Meu peito doía, pois sentia que o soldado do outro lado da porta parecia sofrer desconsoladamente, a dor era tangível em seus murmúrios e tudo isso me deixou muito confusa. 20
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