Degusta escuridão

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Saniel L. Silva

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Até onde realmente conseguimos nos confrontar com o mal? Ele se apresenta para nós de muitas formas...

Saniel L. Silva

A escolha certa... Um caminho obscuro... Amante Desperto...

— Sangue Venoso

APED - Apoio e Produção Editora Ltda.

Escuridão Sangue Venoso

Escuridão

O autor nasceu em agosto de 1990, na cidade de Ribeirão - Pernambuco. Fascinado pelo mundo mágico da literatura, aderiu à literatura gótica aos 14 anos com seu estilo de vestir e pensar. Com sua filosofia de vida sombria, escreveu Escuridão: Sangue Venoso, onde o terror e a tensão deixam o leitor frenético a cada linha. Atualmente reside na cidade de Jaraguá do Sul - Santa Catarina. Tem como influências de Edgar Alan Poe, André Vianco e Paulo Coelho. Com o seu jeito mórbido de contar histórias vem se aprimorando cada vez nesse mundo negro. Gosta de cantar e tocar violão. “Não vivo sem música e livros” — conclui o autor.

“— Tomaz. Vivem numa casa fechada, às vezes escutamos barulhos estranhos lá. Sempre de noite. Como se estivem com algum bicho preso, sei lá. O pai carrega consigo um livro preto, tipo uma Bíblia, para cima e para baixo. Já vi muitas vezes eles saírem de madrugada, minha janela pode vê a rua, basta uma limpada no vidro e posso enxergar quem passa. Eles caminharam à casa de Lorie, uma amiga da rua, e depois saíram de lá. A noite anterior, no dia do apagão, e depois disso. Eu nunca mais vi a Lorie, não acham esquisito? — Bota esquisito nisso! — Sussurrou Mariane. — E qual o problema deles? Vocês querem saber? Somente investigando! — Acha mesmo que vou ficar correndo atrás dele pra saber mais sobre a vida sombria que ele leva com o pai? O que será que aconteceu com Lorie? Isso é muito esquisito.”

Traços de Sangue que os unem... Estamos preso na Escuridão.

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Copyright © 2013 by Saniel L. Silva Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-080-9 Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Thiago Ribeiro Ilustração: Marcelo Luz (Naruto) CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ S583e Silva, Saniel L. Escuridão : sangue venoso / Saniel L. Silva. - [1. ed.] - Rio de Janeiro : APED, 2013. 196 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-8255-080-9 1. Ficção brasileira. I. Título. 13-05076 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 10/09/2013 12/09/2013 Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br

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“— Não temerás espanto noturno, Nem a seta que voe de dia, Nem a peste que ande na Escuridão, Nem a mortandade que assole ao meio-dia — Sl. 91-5 ao 6”

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Prefácio

“Seus lábios se moveram intactos pelo pescoço de Isobel, Sua voz suave era doce, como néctar de uma rosa, Mas os espinhos lhe pulsaram antes de detê-lo... Por mais de um minuto, seus olhos estavam Topázios Ela sorri com o branco fluorescente de seus dentes E abraça-o iluminando sua íris num amarelo-ouro — Beije-me. — Isobel sussurrou ao ouvido de Robert. — Não posso... — Robert tentou se afastar, mas Isobel o alcançou Puxando-o rapidamente, agora os dois ficaram imóveis, a Luz Da Escuridão resplandecia nos dois olhares e os lábios se Tocaram, deixando o Amante Desperto preencher o vazio de Isobel com sua dose de Eterna Escuridão.”

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Sumário

Lúgubre • 11 Capítulo 1 • 13 Capítulo 2 • 23 Capítulo 3 • 33 Capítulo 4 • 43 Capítulo 5 • 53 Capítulo 6 • 63 Capítulo 7 • 73 Capítulo 8 • 83 Capítulo 9 • 93 Capítulo 10 • 103 Capítulo 11 • 113 Capítulo 12 • 123 Capítulo 13 • 133 Capítulo 14 • 143

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Capítulo 15 • 153 Capítulo 16 • 181 Prisão de Segurança Máxima da Cidade Satélite • 193

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Lúgubre

As cortinas do céu se abrem, E apenas o rosto da lua, tudo está triste, é frio... Sinto sono, pois os lobos uivam a pequena Nênia Que aconchega minha alma, e perco as horas... Recebo um punhal na vaga estrada da vida lúgubre, Em um sôfrego vou com o mal. Saniel Lourenço da Silva (Frase retirada do livro de poemas Escrituras Góticas)

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Capítulo 1

A

noite debruçava na Cidade do Leste. Uma tempestade de chuva caiu no dia cinco de outubro, e todas as casas ficaram sem força de energia elétrica. A cidade do Leste era acampada de casarões antigos. Havia uma mansão de canto na rua do início do século XX, ainda muito conservada. Do outro lado, a mais uns passos, estava a casa de Lorie. A garota esguia de um metro e setenta e corpo fino, com as madeixas enormes e cor de cobre, era motivo de zombaria por parte de adolescentes na vila da cidade do Leste. Ela não conversava muito, somente com Isobel. Isobel era filha de Alice, uma mãe separada. Vivia com a filha nessa vila há pouco tempo. Calma e cheia de sorriso, Isobel vivia com Lorie andando pelas ruas. A adolescente tinha 17 anos. Naquela noite, Lorie não aparecera na casa de Alice. Ninguém sabia onde estava a garota esguia e feia. Na rua, depois de um temporal, havia um bando de meninos, os mesmos que zombavam de Lorie. Cercados de escuridão, corriam pela rua molhada e jogavam pedras nas janelas e casarões. Uma vila histórica por sinal, mas o patrimônio vinha sendo depredado por parte desses garotos. Alguém do lado de fora de casa estava com uma vela acesa olhando a movimentação no escuro. 13

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— Pode me dizer o que houve com a rede de energia? — Perguntou um vizinho com uma espécie de capa de chuva amparando as últimas gotas. Alice estava de frente ao portão de casa com outras mulheres. — Algum curto circuito na central. Algo do tipo! — Disse Alice. — Ultimamente vem acontecendo isso. — Acrescentou Rose. — Obrigado. — Respondeu o homem, saindo de perto das mulheres. — Quem é ele? — Perguntou Alice. — Nem posso enxergá-lo direito. Maldita queda de luz! – Elas sorriram, e Rose começou a explicar: — É Tomaz. Trabalha na reconstrução de uma igreja que pegou fogo na região. Ninguém ainda sabe direito como aconteceu, mas sabemos que ele estava lá na hora. Não diz nada a ninguém, é sempre fechado, um poço de segredos. Parece que mora com o filho, Robert, de 17 anos. Vive fechado também, um mistério só! — E nunca descobriram quem realmente ele é? — Quem se importa? Não vale a pena. As pessoas querem a igreja reformada e pronta, não ligam se ele botou fogo ou se sabe quem foi. Trabalho feito, ninguém se intromete na vida dele. Robert estuda na escola da vila, a única há seis quilômetros. Como todos da vila, vai para a escola, mas não fala com ninguém. — Sabe muito sobre eles, Rose! –Disse Alice, sorrindo. — Somos vizinhos. Às vezes... Esquece. — Às vezes o que, Rose? — Insistiu Madalene. — Escuto uns rumores na casa, chega a me dar arrepios. É um barulho estranho, não sei o que é. O cara, Tomaz, fala umas coisas estranhas e depois de um tempo acaba. — Nossa! Enigmático. E a mãe do garoto? — Isso eu não sei lhe dizer. A escuridão vai ficar até amanhã, será? Droga! Preciso fazer as coisas em casa. Vou embora meninas. Ah... E Isobel? Onde está? — Isobel já está descansando... Como um Anjo! — Ela sorri. 14

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Rose sai de perto de Alice, as mulheres aos poucos se despedem e caminham pelas ruas escuras. Alguém chamou um menino que estava brincando na água que escoava com um barquinho de papel, e ele sumiu no negror. Alice olhou para a casa de Tomaz, uma casa sombria e quase que abandonada. Tudo estava quieto. Um vento soprou de novo em seu rosto, ela caminhou para trás, fechando o portão. Alice entrou em casa, as velas foram se apagando com o sopro de sua boca. Caminhou ao quarto de Isobel e viu a filha dormindo. Alice foi à cozinha, fechou uma janela que o vento havia aberto com a fúria tempestiva e logo foi se deitar. Teve uma leve impressão de alguém caminhando atrás de si, mas não ligou. Alice adormeceu. O dia amanheceu calmo, as coisas na cidade estavam reviradas com a chuva. Isobel já se levantara para ir à escola. Seu sorriso fazia desaparecer o mau humor de sua mãe por um bom tempo. Alice caminhou de pijama e beijou a testa da filha, com a xícara de café na mão. — Boa aula, garota. Cuide-se. — Alice abriu a porta. Do outro lado da rua o menino de Tomaz também saiu de casa. Robert estava sozinho. Alice observou por um instante enquanto Isobel falava algo que ela não estava ouvindo. A menina gritou, numa exclamação. — Mãe! — Alice assustou-se. — Aposto que não ouviu nada. Deixa pra lá, preciso ir. Isobel subiu naquela bicicleta desajeitada – ela não tinha uma estatura muito grande —, olhou para a casa de Lorie, mas não havia ninguém. Isobel pedalou devagar, as pessoas caminhavam pela rua até a escola. Passavam por baixo de um enorme cone de árvores. Robert caminhava. Isobel começou a observá-lo. Seu pensamento começou a corroer sua memória. “Garoto estranho. Olhem só as roupas dele, tudo é esquisito. Cabelo mal cortado, bagunçado. Deve ser por que mora só com o pai dele. E homens, vou lhe contar! Nossa.” Isobel, meio perdida, bateu de frente a uma árvore no meio do caminho. Na estrada estavam apenas ela e Robert. Seu resmungo o fez parar e olhar para ela, que temeu. Robert se aproximou em silêncio. 15

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— Está tudo bem, eu vou... — Isobel moveu a bicicleta e viu que estava um desastre. – Nossa! Essa bicicleta já era. — Tudo ao avesso. Robert retirou a bicicleta do mato. Seus olhos eram brilhosos, mas possuía um fusco raio dentro deles. Isobel baixou a cabeça. — Acho que vai precisar deixá-la aqui. — Disse Robert, retirando a bicicleta do mato. Isobel observou o estado, olhou indignada. — É... Vou precisar ir a pé. — Isobel passou o cadeado na bicicleta numa árvore, com a intenção de que quando voltasse ainda estivesse lá. Robert já caminhara em sua frente e ela estava alguns passos atrás dele. “Isso é ridículo. O que eu estava pensando mesmo? Droga!” Isobel, por instantes, ficou sozinha na estrada com Robert. As pessoas passavam rápidas de carro e de bicicleta, ele era o único que ia a pé. Às vezes Tomaz o acompanhava, mas neste dia Isobel era o único pedestre com Robert. Ela se aproximou com aquele ar de que precisava de coragem. — Então, Robert. Ainda não nos conhecemos. Eu sou Isobel. — Eu sei quem é você. Filha de Alice, vive na casa branca com um jardim de frente, perto da minha, como uma donzela num reino... Ofuscado, claro. — Como você é grosso. Algum bicho lhe mordeu? — Não posso falar enquanto caminho. — Atrapalha seus pés? — Hábito. — Disse mais do que devia, então. Prestar solidariedade faz parte de seu hábito, Robert? — O garoto parou e encarou-a, ela recuou. — Tudo bem, esquece o que eu disse. Preciso chegar à escola viva. — O que quis dizer com “viva”, Isobel? Isobel não sabia onde enfiar a cara, estava frustrada. Que papel ridículo ela estava fazendo! Ele foi gentil, mas sombrio. Isobel ficou em silêncio Poucos passos e a entrada da escola já se via. Meninos e meninas estavam com suas tribos de frente à escola. Logo Isobel viu uma amiga de classe, Mariane. Caminhou com o coração acelerado. Seus olhos esbugalhados estavam tensos. 16

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— Parece que viu um fantasma. O que você vinha conversando com o cara esquisito? — Não estava com ele. — Olhou para Robert e ele desviou o olhar. — Só vim a pé por um acidente com minha bicicleta. – Mariane caminhou com Isobel pelo corredor. Ela estava pálida. Que sensação mais estranha Isobel tinha quando se aproximava de Robert! Na sala de Aula, todos já estudavam quando, por menos de meia hora, o professor foi interrompido com a diretora batendo na porta. Isobel estava conversando com Mariane no canto da sala. O professor atendeu-a. Ela entrou. — Bom dia, classe. — Disse a diretora esbelta e bonita. Os meninos cochicharam algo entre si. — Bem, não vou tomar o tempo de vocês. Preciso dar um recado. A partir de hoje, de volta ao segundo semestre do ano, temos um aluno novo na sala de aula. Creio que vocês já o viram pelo corredor. Sr. Robert, por favor? Foi um choque. Isobel olhou para a porta e ele começava a entrar. O menino feio, esquisito e desajeitado. Era um pesadelo? Isobel não acreditava no que via, seu coração começou a tamborilar dentro do peito. Mariane olhou para Isobel. — Está passando mal, Isobel? — Não posso acreditar. – Murmurou. — Oh, não. Eu só... — E então, classe? Não darão as boas-vindas ao novo colega de sala? — Disse a diretora. Todos ficaram em silêncio, havia algo muito enigmático em Robert. Mas uma voz distante e quase amarga quebrou o silêncio. Ela não acreditava no que estava fazendo, mas num sôfrego respiro pronunciou, partindo a voz: — Oi... Robert. — Isobel engoliu em seco. As cabeças se moveram como os de uma coruja para Isobel. Ela estava sem graça. Mariane fez um sinal de interrogação na testa. “Como assim? Ela falou com o garoto estranho?” — Bem, acho que vamos ter tempo para nos conhecermos melhor, Robert. Por favor, queira se sentar. — Disse o professor. A diretora saiu da sala. Os meninos comentavam entre si a reação de Isobel, estranha e esquisita. Robert sentou-se na última cadeira da sala, não olhou para Isobel, e seu pescoço se mantinha reto olhando o professor e as explicações. 17

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— Quer me contar o que aconteceu com você garota? —Perguntou Mariane. Isobel estava perplexa com a atitude. — Não sei! Uma força maior, sei lá. – Resmungou Isobel. — Vou fingir que acreditei amiga. Isobel? – Interrogou Mariane. — Não sei explicar. Céus, o que eu fiz. Olha só os meninos me olhando. O que eles estão pensando de mim? — Mariane, preciso beber água! — Tudo bem. Vamos ao banheiro. — As duas se levantaram e saíram da sala, o professor continuava a explicar, mas tudo estava embaraçado para Isobel. — Não entendi nada. Ainda disse “Oi, Robert!” Isso foi pra acabar com qualquer um Isobel! Turbilhões de coisas passavam na cabeça de Isobel. A garota estava constrangida com a atitude na sala de aula. Daniel, o menino mais cobiçado entre as meninas estudava com Isobel e viu a cena, ao retornar para a sala, Daniel passou no corredor. — Oi “Robert”. — Disse Daniel em deboche. Mariane não disse nada, e Isobel ficou com vergonha. Entraram, o sino tocou e trocaram-se de professor. Lá no canto da sala estava Robert. Isobel não acreditava no que via. Seria tamanho castigo de algum pecado anterior? Caminhou para sala com Mariane, e sorri quando Daniel passou. Um mal típico de uma garota apaixonada, assim as frases sussurravam sua memória. Não acreditava no que havia acontecido. — Não posso acreditar que ele disse isso. — Resmungou Isobel. — Eu também não, está má garota! — Exclamou Mariane. — Não me importo, com ele não tenho nenhuma chance mesmo. — Desanimou. Mariane colocou as mãos nos ombros de Isobel em menção de amparo. Servia para alguma coisa toda aquela obsessão com Daniel? Lá no canto da sala Robert continuou imóvel. A professora de História falava coisas diversas, sobre religião, algo do tipo. Como expandiu o cristianismo, o islamismo, disse algo sobre um dos grandes colaboradores da Índia, Gandhi, se não lhe falha a memória. Isobel suava frio, seu corpo perma18

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necia inquieta. Um trabalho foi passado na volta do semestre, ela estava com Mariane. A professora foi clara ao se referir sobre grupo com cinco pessoas. Ele não se moveu. Alunos se sentavam em outras mesas. E elas estavam com quatro pessoas, o reflexo dos olhos da professora ao fundo e os lábios se moveram. Como em câmera lenta, Isobel fixou nos lábios da professora. “Não, ela não vai fazer isso... Vai? “— Oscilou Isobel. — Robert? — Chamou a professora. — Pode se juntar ao grupo de Isobel! –A professora fez um movimento com as mãos indicando o assento de Isobel e Mariane. Antes que Isobel falasse algo, Mariane fez um gesto chamando-o. As pessoas faziam questão de olharem para Robert levantando-se e indo ao encontro de “Isobel”. Poderia ser um castigo, ela não entendeu bem porque todos os fatos estavam indo ao encontro de sua pessoa. Que dia mais azarado! Robert sentou-se numa cadeira perto de Mariane, todos estavam em silêncio. A professora distribuiu papéis com temas nos grupos que haviam se formado. No grupo de Isobel estavam Mariane, a sua melhor amiga de classe. Alan, um garoto baixo de uns quinze anos que usava óculos. Carol, a menina dos olhos cor de jade. E Robert, o cara mais estranho da escola. — Bem, qual foi o tema cedido ao nosso grupo? — Carol rabiscava a mesa. — Olhem só “Cristianismo”! — Alan sorri para Mariane, ela o julga por seu habito de ser nerd, Disfarça sem opção de como jogar uma bomba em cima daquele outro garoto estranho, mas que corria atrás dela como um cachorrinho. — Cristianismo? — Perguntou Robert. Um choque foi tomado na mesa, eles pararam de mexer nos cadernos. Todos os pescoços voltaram-se para Robert. Seus olhos enigmáticos percorreram a todos aqueles outros olhos estranhos. Fez um sinal com a cabeça em menção de perguntar outra vez. Mariane engoliu o ar seco e tonta com o que acabava de ouvir respondeu cortando a fala. — Cla-Claro. Cristianismo. — Seu suspiro foi pior que um búfalo, denunciava agonia quando se referia a Robert, o menino 19

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sem noção. Mariane sentiu medo. Porque tanta aflição. Ele era estranho, mas não ao ponto de pensar uma série de coisas esquisitas sobre ele. Foram livres pelo sino outra vez. O intervalo do recreio. Ele puxou sua cadeira para trás, voltando ao lugar onde estava. Todos saíram da sala, por último ele também caminhou até a porta e fechou-a. Caminhou pelo corredor, algumas pessoas o encaravam. Daniel sorri ao ver ele moribundo pelo vazio da escola, foi ao pátio. Árvores enormes, algumas pessoas sentavam debaixo de seus galhos. Tudo era verde, tudo era lindo. — Deve se sentir um peixe fora d’água não é mesmo? — Indagou Alan ao lado de Robert, se moveu para olhar o colega de classe. Quanta coisa passou na memória de Alan. Fez um movimento brusco limpando os óculos. — Não gosta de falar muito. É quieto, poucas respostas. Enigmático. De onde você é cara? — Alan repetiu a pergunta até que Robert o encarasse outra vez. — Sou de uma cidade pouco conhecida, mudei há pouco tempo para Cidade do Leste. E você? — Indagou Robert. — Vivo há quinze anos no mesmo lugar. Que hilário não acha? Meu pai nunca foi transferido, trabalho no corpo de bombeiros da cidade. Mas e você, qual o nome da cidade que você veio? —Alan percebeu que Robert hesitou em falar. — Tudo bem. A gente se vê por aí. Alan saiu de perto de Robert, não ia tentar saber da vida de Robert num minuto e num dia. Ele queria descobrir o que todos os outros também tentavam, mas a coragem de se pronunciar a Robert era perversa no coração de todos da escola. Robert observou Alan sumir entre as pessoas. Ele sentou-se num banco de mármore. No banheiro, Isobel conversava com Mariane e Carol. Passou o batom nos lábios e fechou com força esmagando o tubo de plástico. — Não posso crer que ele vai ficar no nosso grupo! — Estava nervosa. — Isobel! Relaxa, é só um trabalho. — Carol sorri. — Não. Precisamos encontrar com ele na biblioteca, ver na sala de aula. Meu Deus isso é uma perseguição! — Exclamou novamente arrumando o cabelo. 20

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— Melhor se acostumar com a ideia, Isobel. Ele vai estar com a gente o resto do semestre. Por que será que ele foi pra nossa sala? Que injustiça. — A questão não é essa. O cara tem um perfil diferente. — Disse Isobel. — Como assim? — Perguntou Carol e Mariane juntas. Isobel se olhou no espelho e começou a contar as histórias que havia escutado no bairro sobre ele. — Robert vive sozinho com o pai, Tomaz. Ele é meu vizinho de frente, isso já é uma tribulação. Quando chegamos à vila, escutamos historias de terror sobre ele e sobre o pai. Acusado de colocar fogo na igreja, e ele admite. — Robert ou Tomaz? — Indagou Mariane. — Tomaz. Vivem numa casa fechada, às vezes escutamos barulhos estranhos lá. Sempre de noite. Como se estivem com algum bicho preso, sei lá. O pai carrega consigo um livro preto, tipo uma Bíblia, para cima e para baixo. Já vi muitas vezes eles saírem de madrugada, minha janela pode vê a rua, basta uma limpada no vidro e posso enxergar quem passa. Eles caminharam à casa de Lorie, uma amiga da rua, e depois saíram de lá. A noite anterior, no dia do apagão, e depois disso. Eu nunca mais vi a Lorie, não acham esquisito? — Bota esquisito nisso! — Sussurrou Mariane. — E qual o problema deles? Vocês querem saber? Somente investigando! — Acha mesmo que vou ficar correndo atrás dele pra saber mais sobre a vida sombria que ele leva com o pai? O que será que aconteceu com Lorie? Isso é muito esquisito. — Já foi à polícia local? — Não posso. Não tenho provas que eles saíram da casa de Lorie na madrugada. Isso somente eu e Deus sabe. Não podem contar a ninguém meninas. — Carol e Mariane estavam perplexas aos contos de Isobel. Um arrepio súbito na coluna e um despertar para a realidade com o barulho do sino ecoando de pátio afora pelo escombro de pilares da escola. Isobel suspirou amargando as palavras de sua boca. O que iria acontecer se de fato, eles estivessem envolvidos no desaparecimento de Lorie? 21

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