Vanessa Orgélio
Nascida em 29 de agosto, Vanessa Orgélio sempre teve paixão pela palavra escrita. Seu envolvimento com os livros começou após ser alfabetizada e, desde então, seu grande sonho foi se tornar escritora. Ao longo de sua vida, escreveu histórias infantis e poemas, que nunca sairam da gaveta, assim como seu primeiro livro, escrito quando tinha 14 anos. Trabalha como designer gráfico, sua outra paixão, e também como agente literária, após ter lançado seu primeiro livro “O Imortal – A Saga de um Guerreiro”, pela Editora Aped.
““— Deveria me agradecer, não sair batendo o pé como uma criança! — Ele se aproximou nervoso – O que faria se eu não tivesse chegado a tempo? — Ele me segurou pelo braço fazendo-me voltar para ele com força. Seus olhos negros pareciam transmitir uma preocupação genuína, e embora sua voz estivesse brava, seu semblante estava aliviado. — Obrigado – respondi com sarcasmo, — melhor assim? — O coração disparado novamente, mas por outro motivo, ergui meu queixo orgulhosa tentando não transparecer que havia sido afetada por seu olhar ou por sua mão que apertava meu braço. Ele não me machucava, apenas me segurava possessivamente. — Não, — respondeu por entre os dentes — não está melhor assim! — Ele respirava rapidamente tentando se controlar, mas então me puxou com força e me beijou. Seus lábios sobre os meus pareciam urgentes, possessivos, nervosos. Ele me beijava ardentemente enquanto me segurava com força, colada ao seu corpo, e eu correspondia ao seu beijo com toda a intensidade que havia dentro de mim.”
Com a série “Atemporais”, a autora firma seu propósito como escritora, ao ter descoberto seu estilo literário preferido: “os romances água com açúcar”, conhecidos pelos apreciadores como “romances gracinhas”. Site da autora: www.vanessaorgelio.com.br
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APED - Apoio e Produção Editora Ltda.
APED - Apoio e Produção Editora Ltda.
Amanda Davidson é uma garota comum como você ou eu. Mora no Rio de Janeiro, trabalha, estuda, tem amigas, sonhos e projetos. Em uma noite, quando voltava da faculdade, depois de perder o emprego e discutir com sua melhor amiga, seu ônibus quebrou, e ela foi obrigada a ir a pé para casa. Completamente neurótica, acreditou que estava sendo seguida e, para fugir, entrou numa mata à beira da estrada. Depois de vagar por longos minutos, e descobrir que está perdida, encontrou uma casa — uma mansão antiga — na qual pediu abrigo da tempestade que se aproximava. Ali, descobriu que, de alguma forma, voltou no tempo. Estava presa no Brasil de 1879, sendo abrigada por um homem que todos temiam, por alguma razão que ela desconhecia. Ficava, constantemente em dúvida se seria ela uma convidada ou prisioneira de Conde Di Ângelo, um homem extraordinariamente bonito, misterioso e, quem sabe,... até mesmo perigoso. Tudo que ela desejava era voltar para casa, rever seus pais, tentar salvar sua amiga de um romance que a levaria ao fundo do poço. Mas, seu coração tinha outros planos. Ela se apaixona pelo homem que deveria detestar. O que deveria fazer? Desistir de sua vida e viver um novo sonho, ao lado de seu recém-descoberto amor? Em meio a essas dúvidas, a revelação de quem na verdade é Conde Di Ângelo. Medo, amor, ciúmes, compaixão... O que ela será capaz de fazer para viver ao lado do homem que virou sua vida de cabeça para baixo?
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Copyright © 2013 by Vanessa Orgélio Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-xxxxxxxxxxxxxxxx Projeto gráfico: Aped — Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Bianca Carvalho e Aped — Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Vanessa Orgélio e Thiago Ribeiro CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ
Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br
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Dedico esse livro ao meu esposo Rodrigo, meu companheiro e amante, que abriu mão de tantas horas de minha companhia para que esse livro se tornasse realidade.
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Agradecimentos
À Roxane Norris, amiga, escritora e agente, que me acolheu, compreendeu, incentivou e ajudou a lutar pelo meu sonho; e que ,com muito carinho, “apadrinhou” esse livro. À Bianca Carvalho, amiga escritora, revisora e a mais linda Beta Reader de todos os tempos; por acreditar nesse projeto, lutar e sonhar comigo; pelas dicas, pelo carinho e pela confiança. Querida, você é muito especial para mim. A minha amiga e blogueira Bianca Benitez, pelo carinho incondicional e incentivo; pela paixão por essa história, que me fez ter cada vez mais confiança e força para continuar. Aos meus amigos de sempre, de hoje e de ontem. Aqueles que, ao longo da minha vida, têm apoiado e estimulado esse meu sonho. Não citarei nomes, pois cometeria injustiças; vocês sabem quem são. Aos familiares, queridos e amados, por compreenderem a minha ausência, enquanto escrevia, por acreditarem em mim e me darem força. Em especial, as minhas três sobrinhas: Amanda, por 7
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emprestar seu belo nome a minha personagem; Mariana, por ser meu raiozinho de sol, deixando-me sempre feliz com seu carinho, e Mel, princesinha da tia que me enche de orgulho. Amo vocês demais! E a você, querido leitor, que ao ter este livro em mãos, compartilha comigo desse sonho e me encoraja a continuar. Muito Obrigada!
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Prefácio
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amor é um dos sentimentos mais antigos no mundo; algo capaz de arrancar o melhor de uma pessoa ou até mesmo o seu pior: colocar em dúvidas suas atitudes, reflexões e condutas morais. Tal sensação pode nos fazer perder a razão ou mesmo ser racional demais e, assim, perder aquele gosto de saboreá-lo até a última gota. Porém, a parte mais bela do amor é ele quebrar toda e qualquer fronteira... Tempo e espaço. O amor é a linha do destino que une duas almas gêmeas... Você acredita em destino? Crê que o tempo possa ser seu melhor amigo na busca do amor verdadeiro? No romance “Atemporais”, Vanessa Orgélio nos conduz com leveza por essa experiência. Torna-nos reféns de todas as artimanhas que esse sentimento pode suscitar ao ser desejado. E, o destino entra como um tempero a mais numa trama em que o futuro e o passado se mesclam, e uma jovem do século XXI pode ser a chave para a salvação da alma atormentada de um homem do século XIX... E, principalmente, uma cura para seu coração solitário e amargurado. Em qual momento, mundos tão adversos podem se tocar? Quando seu futuro é o passado, e quando o seu passado pode in9
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fluenciar o futuro, é exatamente nesse ponto em que nos encontramos. Uma tênue linha que só pode ser rompida por dois corações. Convido-o a conhecer Miguel Di Ângelo e Amanda Davidson numa história de amor que vai lhe surpreender do início ao fim... E, que, certamente, vai lhe cativar. Como em “Imortal – A Saga de um Guerreiro”, você irá se emocionar, sorrir, ansiar e torcer por mais esse par romântico, que não irá, tão cedo, deixar seus pensamentos. Boa Leitura! Roxane Norris
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Prólogo
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eu escritório particular devia ser um lugar onde ele se escondia, quando queria ficar realmente sozinho. Jamais seria capaz de encontrá-lo, se Nan não estivesse me acompanhando. Era preciso ir até o fim do corredor e passar por uma porta que se abria para uma antessala pequena, com nada além de um jarro de flores sobre um aparador e outra porta. Esta, muito estreita. Nan girou a maçaneta um pouco hesitante e informou-me que deveria subir as escadas, que eram tão estreitas quanto à porta. — Não há como errar. — Disse-me. — Vai encontrar o escritório, quando acabarem os degraus. Senti-me como uma princesa subindo as escadas de uma torre, em direção ao seu calabouço, mas não hesitei. Provavelmente, ali não seria a minha prisão; talvez, fosse a minha libertação. Subi degrau por degrau, sem conseguir pensar em palavras para dizer, e quando cheguei ao topo, encontrei outra porta. Esta se achava entreaberta. Toquei a maçaneta, sentindo meus dedos frios, e a empurrei lentamente. O ambiente estava em meia luz; havia alguns candelabros acesos, porém, não o suficiente para iluminar todo o local, que, para minha surpresa, era maior e mais aconchegante 11
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do que previ, ante aquelas escadas apertadas. Olhei ao redor e notei Miguel numa poltrona, de costas para mim. Estava sentado, desleixadamente, com uma taça de vinho em uma das mãos; e a cabeça apoiada na outra. Entrei devagar, tentando fazer o mínimo de barulho, ao encostar a porta. Ele continuou imóvel, sem me notar. Então, caminhei alguns passos tímidos, parando ao lado de um daqueles candelabros. Minha sombra, projetada na parede, pareceu chamar sua atenção, e ele se virou para trás sobressaltado...
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Capítulo i
“O destino é quem baralha as cartas, mas nós somos os que jogamos.”
William Shakespeare
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jantar está na mesa, Amanda. Saia já desse computador! “Minha mãe está me chamando para jantar, preciso ir, Gabi!” — Teclei rapidamente no bate papo com minha amiga. “Espere, preciso te contar mais uma coisa.” — Amanda! — Berrou mamãe, lá da cozinha. “É sério, se eu não for agora, minha mãe vai vir aqui, pessoalmente, me buscar. Você sabe como ela é. Falo com você amanhã, querida!” “Está bem. Boa noite.” “Boa noite. Não se esqueça do trabalho de Teoria da Literatura, hein?” “Pode deixar, minha amiga agenda!” Sorri e fechei a página da internet. Gabriela era a pessoa mais avoada que conheci na vida. Se não fosse por eu ter pegado tanto no pé dela, duvido que ela tivesse passado de ano no ensino médio ou estivesse, agora, na faculdade. 13
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Sempre fui apaixonada por literatura. Fazer Letras era, pra mim, uma realização pessoal. Mamãe me dizia que eu nunca chegaria a lugar algum, mas era o que eu queria; o que gostava. Podia me imaginar numa sala de aula, contribuindo para que tantas outras pessoas se apaixonassem pela literatura, assim como eu. E, faltava apenas um ano para que eu pudesse deixar para trás aquela vida de vendedora de roupas — que eu odiava — para procurar um emprego como professora. Calcei meu chinelinho de pano e fui até a cozinha. Meus pais estavam sentados, jantando em silêncio. — Por que demorou tanto, menina? A comida vai esfriar! — Minha mãe fazia questão de que comêssemos juntos à mesa, pelo menos aos domingos. Ela era uma pessoa boa, uma mãe carinhosa, uma esposa afetuosa, mas suas manias e seu jeito afobado de ser, às vezes, me tiravam do sério. Amava minha mãe, todavia me esforçava para não me parecer com ela. Era como se ela estivesse sempre brigando, mesmo quando não estava. — Ela nem demorou tanto assim, querida. — Interveio papai, sorrindo para mim. Meu pai era tudo em que eu me inspirava. Era gentil e atencioso. Quando conversava com alguém, olhava nos olhos e prestava atenção em cada palavra que era dita. Nunca o vi tratando alguém mal. Sempre tinha uma expressão amável no rosto e palavras de sabedoria para oferecer. Sentei-me entre eles em nossa pequenina mesa redonda da cozinha. — Amanhã, irei mais tarde para o trabalho. Amanda, quer uma carona? — Ah, será ótimo, pai! O trânsito de segunda-feira é sempre tão horrível! Estou precisando chegar cedo à loja ou Cláudia conseguirá me queimar com a patroa. — Pensar em Claudia amargava meus pensamentos. Como alguém podia ser tão cruel? — Por que essa sua gerente não gosta de você, minha filha? — Sei lá, mãe! Nunca fiz nada de errado nem falei nada contra ela. Vai entender. — Disse, dando de ombros entre uma garfada e outra. 14
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— Vai ver ela tem medo que você lhe roube o lugar. — Sugeriu meu pai. — Acho difícil. Ela é parenta da dona. Duvido que tenha medo de perder o posto. — Nada é impossível, minha filha. — As palavras de papai pairaram no ar, por alguns segundos. — Só acho improvável. — Concluí. Ao findar o jantar, minha mãe levantou-se da mesa. —Olha o que fiz! — Falou, tirando algo de dentro da geladeira. — Sorvete de pudim! — Viu-me triunfante. Suspirei. Sorvete de Pudim deixara de ser minha sobremesa favorita há anos, mas mamãe tinha boas intenções, apesar de muitas vezes me tratar como uma garotinha. Quase podia vê-la desejando pentear meus cabelos, novamente, e me colocar lacinhos de fita ou vestidinhos rodados. E, embora compreenda que, para uma mãe um filho, nunca cresce, isso, em momentos, me irritava, pois mesmo tendo meus 23 anos, ainda me sentia com 9, em sua presença. Mas, nunca tive coragem de lhe dizer isso. Dona Ana, minha mãe, colocou um enorme pedaço da sobremesa em meu prato e sentou-se em seguida. — Amanda, querida, queria conversar com você. O doce gelado machucou meu dente, então fiz uma careta. Sabia que, quando dona Ana me dizia que queria conversar comigo, era porque, certamente, desejava alguma coisa. E, daquela vez não foi diferente: cruzou os braços sobre a mesa e foi logo dando sua cartada: — Estava pensando, Amanda... Você nunca namorou ninguém nem nunca trouxe um rapaz pra eu conhecer. Minha filha, fico preocupada; você é tão linda, mas já tem 23 anos. Precisa se casar! — Mãe! — Exclamei ofendida, com os olhos arregalados. — Não vivemos mais na sua época! Hoje em dia, uma mulher de 23 anos ainda não é considerada encalhada. Sabia?— Era ridículo que, em pleno século XXI, alguém ainda estivesse sendo pressionada a se casar por causa da idade. E eu nem sou tão velha assim! — Mas, você nunca namorou ninguém! Isso me preocupa, querida! 15
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— Uma escolha minha, mãe! Nunca me apaixonei por ninguém. Talvez, já tenha tido vontade de me apaixonar, porém, jamais.Verdadeiramente. Além do mais, quando tiver que acontecer, será naturalmente; não precisarei forçar nada. E, nem quero. — Concluí. Papai comia sua sobremesa. em silêncio, não querendo interferir na discussão entre sua esposa e filha. — Ainda acho que você está deixando o tempo passar demais! Com 23 anos, já era casada com seu pai e esperava você. — Mas, isso não quer dizer que eu tenha de me casar com o primeiro idiota que aparecer. — E, no momento, só eles têm aparecido; completei mentalmente. Meu pai levantou os olhos da sobremesa, assustado com minha exaltação. — Pode baixar esse tom de voz, mocinha. — Bradou Dona Ana. — Estamos conversando de forma amigável aqui. Só queria que você pensasse um pouco a respeito de... — Não seria melhor dizer logo “a respeito de quem” está falando? — Sugeri aborrecida. — Lucas! Não tem nem o que pensar, mãe! Ele não faz meu tipo; não sinto nada por ele e não vou namorar alguém, só porque a senhora acha que eu tô encalhada! — Levantei da mesa.— Isso está fora de questão! — Respirei fundo, moderando meu palavreado. — Voltarei para o meu quarto. Tenho que revisar o trabalho de literatura. — Você vive fazendo escolhas erradas. — Ela argumentou prontamente. Dei de ombros e deixei a sala. Voltei para meu quarto e me sentei de frente para o computador, fitando a tela apagada, por alguns segundos. Lucas era o filho de uma amiga dela. Ele até que não era feio, mas definitivamente não me atraía; era o tipo de cara sem graça, que parecia mais um cachorrinho que fazia tudo que mandavam. Não tinha personalidade nem absolutamente nada que pudesse ser chamado de interessante num homem para mim. Era bem provável que se eu lhe dissesse para pular de uma ponte, ele o faria só para me agradar, mas não era isso que eu esperava de um namorado. 16
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Apertei o botão de ligar mais uma vez. Não tinha nada para fazer. O trabalho estava pronto, mas queria me acalmar. Enquanto o computador ligava, papai bateu à porta. — Posso entrar, filha? Suspirei. —Pode, pai. A porta está aberta. Girei as rodinhas da cadeira para olhar para ele. Meu pai era uma figura incomum. Branco e ruivo por natureza. Era filho de um americano, o que explicava nosso sobrenome diferente “Davidson”. Nunca conheci meu avô, mas meu pai herdara dele os olhos azuis e uma pele coberta de sardas. Usava óculos de armação grossa e um bigode muito bem aparado, que para ele era motivo de orgulho. — Você não devia tratar sua mãe daquela forma, querida. Ela só quer o seu bem. — Não gosto quando ela me trata como se fosse uma criança, que ainda pode ter suas escolhas manipuladas. Tenho o direito de viver minha própria vida. — Foi a maneira que ela encontrou para expor a preocupação dela. — Apaziguou meu pai. Ele se aproximou e puxou a poltrona florida, que ficava em meu cantinho especial de leitura, logo abaixo de minhas prateleiras de livros, para sentar de frente para mim. — Você é nossa única filha. É normal que os pais queiram o bem dos filhos. Sua mãe pode agir de forma errada com você, mas não fique com raiva dela. Sorri. Amava aquela figura mais do que qualquer outra no mundo. — A verdade é que vocês são parecidas, por isso não se dão bem. — Continuou, num tom brincalhão. De fato era verdade. Na aparência, havia puxado ao meu pai. A pele branca, os cabelos ruivos e os olhos azuis; mas na personalidade, tinha muito de mamãe.Talvez, fosse por esse motivo que nós vivíamos brigando. — Queria morar sozinha. — Resmunguei. 17
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— Poderá, quando souber cuidar de si mesma. — Disse seriamente. — Mas, ter com quem dividir a vida é ainda melhor, Amandinha. — Sei, pai. Não é que não deseje me casar. Quero, mas quando conhecer alguém por quem me apaixone de verdade. Não vou namorar um rapaz, porque minha mãe acha que estou velha. Não vou namorar Lucas, por desespero. Entende? Sorriu, mostrando que me compreendia. — O que há de tão errado com Lucas? —Tudo, pai! — Fiz uma careta. — Não faz meu tipo em nada! É um bobão. Não faz faculdade, se conforma com aquele empreguinho bobo, tem aqueles olhos caídos. Cadê a vida? Meu pai alargou o sorriso e sacudiu a cabeça. — Tudo bem, meu amor. Não precisa falar mais nada. Além do mais, a verdade é que também não gosto dele; você merece alguém melhor, que lhe faça sentir que a vida não vale a pena, se não o tiver ao seu lado.— Ele se levantou e me beijou a testa.— Já vou dormir. Descanse, querida.. Papai saiu do quarto, e eu resolvi desligar novamente o PC. Coloquei minha roupa de dormir, acendi o abajur e deitei na cama. Sobre meu criado-mudo estava um livro de Shakespeare: Romeu e Julieta. Um clássico. Aquilo, sim, fora amor de verdade, e eu esperava viver um amor como aquele. Não que eu quisesse morrer como Julieta, mas desejava um amor sincero e puro, que fosse espontâneo e natural. Que ultrapassasse barreiras ou tivesse forças para lutar contra quem se opusesse; que tivesse o ser amado como a coisa mais preciosa do mundo, mais até do que a própria vida. Quem sabe um dia? Divaguei, apaguei o abajur e me ajeitei para dormir. A manhã daquele dia me pareceu diferente. Assim que abri meus olhos, deveria ter percebido que havia algo estranho. Minha mãe sempre me acordava, abrindo a janela para que o sol entrasse e me atingisse no rosto. Mas, naquela manhã, ela apenas se sentou na beirada da cama e me acordou com um: — Levante-se, querida. Está na hora. Espreguicei-me, lentamente, na cama. Senti cada um dos meus músculos se alongarem e se prepararem para o novo dia. 18
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Dona Ana saiu do quarto, e fiquei por alguns minutos olhando para o teto. Pisquei os olhos bem devagar. De alguma forma, eu sentia uma sensação diferente, um frio no estômago, como se soubesse que algo importante aconteceria. Olhei para o relógio ao lado da cama e resolvi levantar. Tomei um banho quente relaxante e penteei meus cabelos, cuidadosamente. Vesti uma calça jeans e uma batinha branca sem mangas enquanto desejava que aquela fosse uma semana tranquila. Certifiquei-me de ter guardado o trabalho de Literatura na mochila e meu molho de chaves. Pensei em guardar também o carregador do celular, mas mudei de ideia; afinal, a carga duraria até a noite. Coloquei, então, a mochila nas costas e fui até a cozinha, onde Dona Ana e Seu Fernando, meus pais, estavam tomando café. Dei um beijo em cada um e mastiguei duas bolachas, que seriam todo o meu café da manhã. Devia ter percebido que meu coração estava batendo de forma diferente quando saí de casa, mas não percebi. Olhei para mamãe, com seus cabelos castanhos, presos num rabo de cavalo, e vi que seus olhos escuros me acompanhavam. Subitamente, senti uma saudade dela... Tanto que voltei e lhe dei um abraço apertado. — Amo você, mãe. Tenha um bom dia! — Decidi não ficar aborrecida com seu comentário da noite anterior. Como dissera papai, ela só queria meu bem. — Também, querida. Cuida-se! — Falou de forma carinhosa, assim como mamãe. Eu não conseguia guardar rancor das pessoas por muito tempo; isso, julgo, era uma qualidade que me orgulhava de ter herdado dela. Como dizia mestre Shakespeare: “Guardar rancor é como beber veneno e esperar que o outro morra”. Entrei no carro de papai e fiquei feliz, por saber que não precisaria enfrentar uma condução cheia até chegar ao trabalho. Trabalhar naquela loja já era castigo demais para uma pessoa; ter que aturar as piadinhas e indiretas de Claudia era um tormento, mas eu precisava daquele emprego, precisava suportar apenas mais um pouco, e, então, estaria livre. 19
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Para minha surpresa, o trânsito estava bom e a viagem não durou muito tempo. Contudo, por alguma razão, não fiquei feliz. Eu estava com o coração um pouco apertado, naquela manhã, e gostaria de passar mais tempo com meu pai. Quando o carro parou em frente ao meu trabalho, fitei-o longamente. — O que foi, querida? Seus olhos sinceros e meigos estavam fixos em mim, e senti vontade de chorar. — Não é nada, pai, só estou um pouco emotiva esta manhã. Ele me beijou na testa. — Assuntos femininos. Não é? — E riu desconcertado. Assenti, mas sabia, lá no fundo, que não era o que ele estava pensando. Eu não estava tendo um ataque de TPM; sentia-me, apenas, emotiva. Algo naquela manhã dizia que alguma coisa muito importante iria acontecer. Não sei se foi a melancolia que me invadiu, mas o dia passou rápido. O vai e vem das pessoas na loja, tantos rostos e nenhum significado. Senti-me sozinha. — O que está esperando, parada aí como uma idiota? A voz anasalada e irritante de Claudia me acordou de meus devaneios. Olhei para ela, demonstrando que não havia entendido sua pergunta. — Não vai atender aquela cliente? Ela já está há dez minutos olhando para a vitrine, e você está aqui parada como uma tola. Corri os olhos pela loja e notei que minhas colegas estavam todas ocupadas. Onde eu estava com a cabeça? Olhei para o relógio e vi que faltavam 5 minutos para o fim do expediente. Afastei-me de Claudia, sem lhe dar explicações, e me dirigi à cliente. — Posso ajudar? A mulher me olhou de cima a baixo e respondeu num tom desaforado: — Há cinco minutos você poderia, mas agora já perdi o interesse. — Virou as costas e saiu da loja, deixando-me com cara de paisagem em frente à vitrine. — O que aconteceu? — Aproximou-se Claudia com seu tom petulante. 20
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— Também gostaria de entender. — Murmurei. — Ela simplesmente virou as costas e saiu. — Claro! Você ficou parada aqui como uma estátua o dia inteiro! Do jeito que está, acho difícil continuar com você, Amanda! Olhei sério para ela e semicerrei os olhos, tentando compreender o significado de suas palavras. — Você está me ameaçando? — Ah, você entendeu! — Ela sorriu desdenhosa. Respirei fundo para me controlar e não falar bobagens. Olhei novamente para o relógio. — Preciso ir. Com licença. — Não sei se poderei liberá-la. — Não faça isso, Claudia. Tenho um trabalho para entregar hoje. Seus olhos tinham uma expressão cruel, e ela ergueu uma sobrancelha desafiadora. — Preciso que fique. — Não posso ficar. Não me importo se tiver que fazer hora extra pelo resto da semana, mas não hoje. — Disse, tentando me mostrar o mais seca possível. Não queria dar a impressão de que estava implorando. — Então, pode ir. — Fez uma pausa, e eu me virei para seguir meu caminho aliviada, porém, ela acrescentou:— Mas, não precisa voltar amanhã. Meus olhos chamejaram de ódio. Eu poderia me subordinar. Na verdade, era o que eu deveria fazer, mas meu sangue ferveu. Não daria esse prazer a ela ou seria ainda mais humilhante e, por impulso, dirigi-me ao meu armário para pegar minha mochila. Seguia-me e tinha em seus lábios um sorriso triunfante. Ela havia conseguido. Adeus, emprego! “Não acredito que fiz isso!”, pensei comigo mesma. Mas, eu merecia algo melhor; não precisava ser tratada daquela maneira. Concordo que o dia havia passado, sem que eu percebesse. Acho que não atendi cliente alguma, mas, e todas as outras vezes em que trabalhei direito? E, todas as horas extras? Por um lado, senti-me aliviada, contudo, por outro, a preocupação de como pagaria meu próximo período na faculdade atormentava-me a mente. 21
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