Rodrigo Rosas Campos
Rodrigo Rosas Campos é do Rio de Janeiro, escreve desde os 7 anos, formou-se em Psicologia pela UFF, adora ler e escrever.
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e Outras Viagens
O Homem que Trouxe a Chuva e Outras Viagens
Como entre uma noite e um dia há um sonhar, Gabriel sonhou que Lúcia entrava em seu quarto. Ainda era noite, ela estava nua, ele imobilizado em sua cama, com a barriga para cima. Ela tirava o seu cobertor, sua camiseta e sua cueca. Tudo isso lentamente, como num ritual solene. O pênis do escritor se entumeceu. Lúcia montou nele. A cada estocada, ela o beijava na boca, somente os braços do escritor agora estavam livres, e livres apenas para acariciar a mulher acima dele, cabelos, rosto, seios, cintura, quadris, pernas, tudo. Enfim, num ritual que se repetia cada vez mais lentamente, mas que não parava. Mas, a medida que Lúcia estocava, ela rejuvenescia, embora ele, o escritor, ainda se sentisse com seus 47 anos. Lúcia retornava paulatinamente para os 15. Ambos gozaram quando a mulher chegou aos 15 anos. E apesar dela estar idêntica aos tempos de ‘quietinha’ do colégio, o gozar do homem de 47 anos trouxe o nome ‘Dani’ para seus lábios entre sussurros e gemidos. Ele acordou quando amanheceu a segunda-feira.
O Homem que Trouxe a Chuva Um homem em férias reencontra a menina da escola para quem ele não teve coragem de se declarar na época, em meio às marcas do tempo, o presente trás novas e surpreendentes possibilidades de futuro.
Rodrigo Rosas Campos
Esta e outras histórias estão em O Homem Que Trouxe a Chuva e Outras Viagens de Rodrigo Rosas Campos.
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Copyright © 2013 by Rodrigo Rosas Campos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-xx-xx Projeto gráfico: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Editoração eletrônica: Thiago Ribeiro Revisão: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Thiago Ribeiro
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O Homem que Trouxe a Chuva foi iniciado há muito tempo (entre 1996 e 1998 mais ou menos), mas o projeto não decolava, não passava dos rascunhos rasgados por falta de título. Foi quando minha amiga e colega de UFF, Débora Machado (a madrinha involuntária deste conto) brincou comigo me perguntando se eu era o homem que trouxe a chuva no dia em que eu fui à sua casa para fazer um trabalho da faculdade e estava chovendo. O conto só decolou a partir daí, quando finalmente ganhou um título. Dedico o conto O Homem que Trouxe a Chuva a sua madrinha involuntária, a pessoa que o batizou, Débora Machado. Rodrigo Rosas Campos
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Sumário
O Homem Que Trouxe a Chuva Capítulo 1 — O Conto Inacabado • 13 Capítulo 2 — Recordações Complementares • 21 Capítulo 3 — Trabalho de Casa • 27 Capítulo 4 — Um Jantar na Piscina • 35 Capítulo 5 — Fim de Férias • 41 Capítulo 6 — O Livro do Mês • 43 Capítulo 7 — Casa dos Caseiros • 47 Capítulo 8 — Três Poemas de Lisandra Cerqueira • 55 Capítulo 9 — O Almoço • 61 Capítulo 10 — Uma Compra de ÚLtima Hora • 65 Capítulo 11 — Preparativos • 69 Capítulo 12 — Início de uma Leitura • 71 Capítulo 13 — Manhã de um Aniversário • 81 Capítulo 14 — Um Ardil • 85 7
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Capítulo 15 — Declarações • 91 Capítulo 16 — Quando é Chegada • 95 a
Chance de Momentos • 95
Capítulo 17 — Um Amanhecer a mais (ou Seriam Momentos a mais?) • 99 Capítulo 18 — Noite de Festa, Noite de Frio • 103 Capítulo 19 — Subindo o Topo do Mundo • 109 Capítulo 20 — Capítulo Final • 119
Outras Histórias A Fila B • 123 A Moral da História • 125 Divórcio • 129 Desabafo de uma Celebridade • 135 Fronteiras • 139 Análise Rápida • 141 Um Alpinista • 143 A Ética de um Sucesso • 145 Chuva • 149 Sonhos de Rua • 155 Em Algum Lugar • 159 Motivos a Mais • 161 Pouco Antes de Adormecer • 163 Bola de Cristal • 165 Quando só Resta Descrever • 167 Sobre Felicidade • 169 E Daí? • 173 8
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Só Por um Instante • 177 Depois que a Chuva Passa • 181 Damas • 185 Um Homem Casado • 187 Equiparação • 193 Confissão • 197 O Bom Moço • 199 Borboletas • 211 A Droga da Expectativa • 227 Incondicional • 229 Computador • 235 Ela Ainda Quer Casar • 237 Injustiça • 243 O Último Abate • 249 A Dança do Filme • 253 Falando Só • 259
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Capítulo 1 — O Conto Inacabado
A
temporada de férias havia acabado a pouco, e um pequeno hotel fazenda na estrada servira de abrigo aos que gostavam do ar livre e também para aqueles que não conseguiram vagas no centro de Nova Friburgo. Era o início de agosto, dia 1º, uma tarde de terça-feira, em que o começo de uma chuva dava lugar ao dia ensolarado que a manhã prometera em vão. Era o inverno que continuava. O último hóspede da temporada das férias de julho estava acabando de sair com o seu carro, uma prudência contra o trânsito do fim de semana. Na descida da serra, indo para o Rio de Janeiro, o Monza cinza prata que abandonara o hotel se encontra com um Corsa quatro portas, também cinza prata, subindo a serra. Contrariando o fluxo das férias, o Corsa entrava pelo portão rústico do hotel fazenda Cruzeiro do Sul. Não fizera reservas, mas nem precisaria, era o fim das férias para a maioria. O carro foi calmamente estacionado num estacionamento que, talvez por estar vazio, se mostrava bem amplo e espaçoso, fácil de manobrar. O motorista desceu do carro com uma mochila e se dirigiu a administração do hotel a fim de se registrar e se instalar. Preencheu os registros e as fichas, indicando que lá ficaria durante todo o mês de agosto (pelo menos era essa a sua intenção). 13
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Assinou a papelada com o nome “Gabriel P. Carvalho”. Deixou com o recepcionista algumas recomendações escritas na folha de um bloquinho próximo. Se o senhor de idade, pouco mais de 60, que lhe servia de recepcionista, estranhara o fato de um hóspede aparecer em pleno fim de temporada não demonstrou. O hóspede gozava de certa liberdade para definir sua agenda profissional. Era um profissional liberal bem-sucedido, um escritor, ademais, talvez não fosse o único a tirar férias fora de época. Logo depois, um garoto conduziu o novo hóspede para um dos quartos daquela casa grande. Enquanto o mensageiro carregava a mochila levemente pesada, o viajante de sobretudo levava sua maleta com um laptop, e em um dos bolsos um telefone celular. Tinha ainda alguns outros pertences no carro, fitas áudio, k7’s e CDs no porta-luvas e um livro de bolso abandonado no banco do carona (que estava relendo fazia pouco mais de um dia) também ficara no carro (a mochila estivera por cima dele). Por fim, tinha ainda quatro mudas extras de roupas que comprara pouco antes de viajar, para eventuais emergências, mas que jaziam esquecidas na mala do carro, nas sacolas de suas respectivas lojas desde que foram compradas. Mas “prós diabos, o que não está na mochila pode ser pego amanha de manhã”, pensou o recém-chegado. Agora já estava chovendo, e de fato os outros pertences ficariam para o dia seguinte. Depois de instalado, tirou o sobretudo colocando-o numa cadeira, conferiu seu relógio de pulso, conectou seu laptop ao celular em uma tomada na parede. Enviou um e-mail com o penúltimo conto do livro que estava a escrever para o seu editor no Rio de Janeiro. Rodolfo Neves era o nome do editor e amigo que lhe indicara aquele hotel. Eram 5h:30m, a hora marcada previamente entre eles para o e-mail. Depois que o Neves disse que o arquivo fora recebido e sem problemas, os dois começaram a bater um pequeno papo em um chat. Foi Neves quem “falou” primeiro: — Beleza, com estas laudas, poderemos considerar o novo livro uma edição fechada. — Como assim?! — Retrucou o recém-chegado hóspede — o prazo final não é 30 de agosto? Eu ainda tenho um conto inacabado. 14
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— Sim, mas este pode ficar para o próximo livro. Já há laudas suficientes para um volume de 360 páginas, você este ano produziu um bocado, ,aliás, você nunca produziu tanto como neste ano. Aproveite o lugar e comece a curtir as férias. — É que este conto está ficando bom e eu gostaria de publicá-lo logo. — Tá certo, eu gostaria de adiantar meu trabalho, mas já que é assim, então que tal anteciparmos o prazo final de entrega para o dia 15? Se você não terminar este conto até lá, então ele fica para o próximo livro. Se partir de você a decisão de deixá-lo para o próximo trabalho, então me comunique antes do dia 15, certo? — Feito! — O escritor gostava disso em seu editor, o homem sabia negociar como ninguém. — Tudo certo, então T+! — T+! Quando desligou o laptop, Gabriel finalmente olhou para o quarto ao seu redor. Era amplo, e sua cama era do maior tamanho que uma cama de solteiro poderia ser “se fosse só um pouquinho mais larga e comprida, já poderia ser considerada de casal”, pensou. Seu quarto era equipado com TV, receptor de TV a cabo, vídeo cassete, aparelho de som, um armário, uma pequena mesinha com duas cadeiras e suíte. O Neves não exagerou. Há dois anos, o editor enguiçara naquele trecho da estrada para Friburgo e ficara hospedado no Cruzeiro do Sul por um dia em vista da desagradável emergência. Pegara estrada com o carro porque queria visitar o neto que acabara de nascer em Friburgo. “Nascera durante um período de férias, o danado!”; quando comentou o fato, declarou: “— O lugar é bom mesmo, as suítes são ótimas. Mas estando com o carro enguiçado, mesmo aquele pedaço de céu deixou de ser um paraíso. Vá para lá relaxar enquanto termina o novo livro e inicia as férias. Pelo que sei de você, o lugar é tudo que desejas!”. O recém-chegado riu-se, lembrando de uma conversa anterior que tinha tido com seu editor: “Sou como os árcades, quero fugir das cidades desde que tenha os confortos das cidades, porque quem gosta de mosquito é masoquista.”. E de fato o hotel tinha o cheiro do campo ao redor, mas a casa era detetizada, e o quarto 15
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era de um ser urbano. Quando parou de pensar em tudo isso, respirou fundo, deixou seu estojo de higiene pessoal na pia da suíte junto com seu relógio, pegou seu sobretudo, e se encaminhou para a porta do quarto. Decidiu caminhar pelo hotel fazenda apesar da chuva. O cheiro de terra molhada daquela tarde nublada o desintoxicaria dos ares de chumbo e fumaça da cidade grande. Não gostava dos ‘ares de chumbo’, pelo menos essa era uma razão sincera para passar as férias num hotel fazenda. *** Caminhou pela propriedade do hotel, a garoa engrossara de leve, o bastante para desmotivá-lo a pegar suas coisas no carro naquela mesma tarde, “deixarei mesmo para amanhã”. Ao se dirigir para a piscina, coberta com uma lona, ouviu um trotar atrás de si. Virou-se e viu uma jovem de aproximadamente 15 anos montada numa égua. Ela se aproximou e puxou conversa. — Oi, então você é o homem que trouxe a chuva? É engraçado ter alguém aqui depois da temporada, seu carro enguiçou? De vez em quando essas coisas acontecem. — Sim, pelo visto eu trouxe a chuva. Não, meu carro não enguiçou, apenas não gosto do movimento da temporada de férias como a maioria, e posso me dar ao luxo de fugir dele. A propósito jovem amazona, meu nome é Gabriel e o seu? — Daniela, desculpe-me se atrapalhei sua caminhada, é que é tão raro alguém aqui depois de julho que eu não resisti a tentação de puxar uma conversa. — Como assim, raro? Você está aqui também. — É, ops, você me pegou. Em que trabalha? — Sou escritor. Gosta de ler? — Menos que de cavalgar. — Os dois riram e ele respondeu: — Acontece. — Mas gosto de ler também. Bem, terei de levar a Baronesa para o estábulo. Até logo! — Até logo. — Trocaram um aperto de mãos e logo após a amazona e sua montaria se afastaram. 16
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O escritor olhou novamente a piscina coberta, como que para ter certeza de que não poderia usá-la naquele fim de tarde, queria dar um bom mergulho “quando o ambiente está frio as águas ficam mais quentes”, lamentou. Estava inclusive disposto a não jantar a fim de dar um mergulho noturno. Paciência, voltou para o hotel e se encaminhou ao restaurante no andar térreo logo atrás da recepção. *** Depois do jantar, saiu do restaurante e decidiu olhar o andar térreo da casa antes de subir para seu quarto. Chegou até o salão de jogos que ficava do lado da escada que dava acesso aos quartos do 2º anda. Entrou. Havia uma mesa de sinuca, uma mesa cujo o tampo era, ele próprio, um tabuleiro de Xadrez e com as peças corretamente montadas para um início de uma partida, além das duas cadeiras previamente posicionadas, e, por fim, uma terceira mesa certamente destinada a jogos de cartas em geral, forrada com um pano verde e com quatro cadeiras. De costas para ele, havia uma mulher sentada em uma das cadeiras desta última, ela fazia contas numa planilha eletrônica usando um laptop. Como deixara seu relógio no quarto, o “homem que trouxe a chuva” perguntou as horas. A mulher respondeu 9h:25m, olhando para a tela a sua frente. Três segundos depois, como se despertasse de um sonho e se dando finalmente conta de que estava acordada, a mulher parou a digitação e olhou para trás virando-se lentamente na cadeira, por um instante reconhecera a voz de seu interlocutor. Viu o homem de sobretudo examinando a mesa de sinuca. — Gabriel! Você não mudou nada! — Disse a mulher se levantando. Voltando-se para a mulher, o escritor prontamente respondeu: — Lúcia! Que coincidência, está passando férias fora de hora aqui também ou já está de partida? — E se abraçaram num comprimento de velhos amigos a muito afastados. A mulher sorrindo respondeu: — Não estou passando férias, eu moro aqui, sou a dona deste hotel. Sente-se aqui! 17
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— Indicou uma segunda cadeira das quatro da mesa de baralho. Enquanto ambos sentavam, ela salvava o arquivo e desligava seu computador portátil. — Já fazem pelo menos pouco mais de bons 19 anos desde o colégio heim? — Ela perguntou. — Sim, e eu mal posso acreditar, você continua a mesma. — E então? Como está, o que veio fazer aqui, quanto tempo vai ficar? — Estou tirando férias fora de hora, não gosto das temporadas, ficarei aqui um mês, talvez um pouco mais, não posso precisar agora, tenho planos de vir morar aqui em Friburgo, mas ainda falta saber quando poderei, coisas de trabalho. Mas, e você? A melhor da turma, a garota nota 10, como você se tornou dona de hotel? Eu pensei que faria veterinária. — E fiz, sou formada. Mas eu e meu ex resolvemos investir em hotelaria, não imaginamos que o hotel prosperasse tanto como aconteceu; hoje, a veterinária é só uma segunda atividade para eu não perder a prática. Quando nos separamos, ele decidiu me deixar na administração cobrando apenas a parte dele nos lucros. Mas isso foi temporário, depois que ele se estabeleceu, passou a propriedade de vez para mim; afinal, tínhamos de pensar em nossa filha ao invés de brigarmos por bens, como ele mesmo disse na época. Mas ele nunca se adaptou a administração mesmo. Hoje é sócio e professor de um curso de informática, e dá aula em duas faculdades também. Já faz cinco anos que me divorciei e..., você deve saber como são essas coisas? Está casado? Tem filhos? Como andou depois de sumir do mapa? — Não tenho filhos, eu... — Malandro, quer dizer que você e sua mulher estão curtindo a vida sem maiores compromissos, não é? — Eu não me casei, e no momento estou sem namorada. A propósito, eu não pretendo me casar... — Porque não pretende se casar? Um escritor de sucesso que quer curtir a glória sozinho, fala a verdade! Cadê a grande mulher por trás de você? — Interrompeu Lúcia com uma certa indignação. Neste momento, um pensamento que permaneceu não dito passa pela cabeça do escritor. Este fez uma pequena pausa e respondeu: 18
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— Não me casei porque percebi (observando muitos casados) que dois egos não ocupam o mesmo teto no espaço por muito tempo. — Depois de uma pequena pausa e de um olhar de espanto, ela respondeu: — Taí uma boa resposta, sorte sua ter percebido isso a tempo. Mesmo eu, a garota nota 10, precisei me casar para tanto. — Respondeu a hoteleira honestamente impressionada. — Bem, eu estou exausta, tive de resolver alguns problemas na cidade hoje. Amanhã você pode se encontrar comigo à beira da piscina, depois do almoço, poderemos botar todo o papo em dia, que tal? — Tudo certo. — Até amanhã, então! — Até .— E se cumprimentaram, e Lúcia deixou a sala. ***
O escritor foi até seu quarto. Ligou seu computador portátil. Tentou trabalhar no conto inacabado, sem sucesso. Resolveu então mandar uma mensagem ao Neves: “Você está certo, o conto inacabado ficará para o próximo livro. Pode adiantar a publicação atual, que eu vou curtir às férias. E nunca mais diga que eu não sei me divertir!” Depois de enviar a mensagem e desligar o aparelho, pensou no quanto a “garota nota 10” se impressionou com a resposta que ele deu para a pergunta do ‘porque ele não havia se casado’. Sentiu uma pontada de orgulho, reencontrara e impressionara a “garota nota 10”. “Eu impressionei Lúcia”. Depois disso, repensou preocupado “quem realmente impressionou a Lúcia? O ex- colega ou o escritor de sucesso?”. É que ele sabia, de experiência própria, que este detalhe faria toda a diferença; afinal, grandes expectativas costumam levar a grandes decepções, e ele estava lá para curtir um período de férias, não para decepcionar ninguém, “a fama prega peças, e os grandes não são isentos das quedas”. “Que tipo de chuva estou trazendo para cá?” Perguntou-se ao se lembrar da jovem amazona. Vencido pelo sono, finalmente dormiu. 19
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