Racionalidade, Intencionalidade e Semântica

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RACIONALIDADE, INTENCIONALIDADE E SEMÂNTICA

APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES

Direção editorial: Charles Feldhaus (UEL/Brasil)

Série “Racionalidade, Intencionalidade e Semântica”

Editor da série: Evandro Oliveira de Brito (UNICENTRO/Brasil)

Comitê Editorial

• Aline Medeiros Ramos (UQAM e UQTR/Canadá)

• Alexandre Lima (IFC/Brasil)

• Arthur Meucci (UFV/Brasil)

• Caroline Izidoro Marim (PUC-RS/Brasil)

• Charles Feldhaus (UEL/Brasil)

• Cleber Duarte Coelho (UFSC/Brasil)

• Elizia Cristina Ferreira (UNILAB/Brasil)

• Ernesto Maria Giusti (UNICENTRO/Brasil)

• Fernando Mauricio da Silva (FMP/Brasil)

• Flávio Miguel de Oliveira Zimmermann (UFFS/Brasil)

• Gilmar Evandro Szczepanik (UNICENTRO/Brasil)

• Gislene Vale dos Santos (UFBA/Brasil)

• Gilson Luís Voloski (UFFS/Brasil)

• Halina Macedo Leal (FSL-FURB/Brasil)

• Héctor Oscar Arrese Igor (CONICET/Argentina)

• Jean Rodrigues Siqueira (UNIFAI/Brasil)

• Joedson Marcos Silva (UFMA/Brasil)

• Joelma Marques de Carvalho (UFC/Brasil)

• José Cláudio Morelli Matos (UDESC/Brasil)

• Leandro Marcelo Cisneros (UNIFEBE/Brasil)

• Lucio Lourenço Prado (UNESP/Brasil)

• Luís Felipe Bellintani Ribeiro (UFF/Brasil)

• Maicon Reus Engler (UFPR/Brasil)

• Marciano Adílio Spica (UNICENTRO/Brasil)

• Marilia Mello Pisani (UFABC/Brasil)

• Paulo Roberto Monteiro de Araujo (Mackenzie/Brasil)

• Renato Duarte Fonseca (UFRGS/Brasil)

• Renzo Llorente (Saint Louis University/Espanha)

• Rogério Fabianne Saucedo Corrêa (UFPE/Brasil)

• Vanessa Furtado Fontana (UNIOESTE/Brasil)

Evandro O. Brito

RACIONALIDADE, INTENCIONALIDADE
SEMÂNTICA Apolodoro Virtual Edições 2023
E

APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES

Coordenadora Administrativa Simone Gonçales Capa Apolodoro Virtual Edições Revisão sob responsabilidade dos autores

Concepção da obra Grupo de Pesquisa “Origens da Filosofia Contemporânea” (PUCSP/CNPq)

Concepção da Série Grupo de Pesquisa “Origens da Filosofia Contemporânea” (PUCSP/CNPq)

DadosInternacionaisdeCatalogaçãonaPublicação(CIP)deacordocomoISBD

R121Racionalidade,IntencionalidadeeSemântica/OrganizadoresEvandroO. Brito,LucasAlessandroDuarteAmaral–Guarapuava[PR]:Apolodoro VirtualEdições,2023.

456p.

ISBN:978-65-88619-33-9(Físico).

ISBN:978-65-88619-32-2(Digital).

CDD190

MarcioCarvalhoFernandes–Bibliotecário–CRB9/1815

Atribuição: Uso Não-Comercial

Vedada a Criação de Obras Derivadas

APOLODORO VIRTUAL EDIÇÕES

editora@apolodorovirtual.com.br

www.apolodorovirtual.com.br

1.Filosofia.2.Semântica.3.Epistemologia.4.Ontologia.5.Brito, EvandroO.6.Amaral,LucasAlessandroDuarte.I.Título.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os professores e pesquisadores que colaboraram com o envio dos trabalhos que compuseram este livro. Com essa publicação inaugura-se a série de editorial da Apolodoro Virtual Edições a respeito das origens da filosofia contemporânea, à qual reunirá periodicamente os trabalhos que mostram o andamento das investigações realizadas no Grupo de Pesquisa Origens da Filosofia Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

A concentração da filosofia do século XIX, no seu conjunto na temática da significação, é um fenômeno que não pode ser compreendido adequadamente se nos mantemos no campo da filosofia. Tanto a divisão entre analíticos e continentais, quanto o estabelecimento das suas raízes comuns por atenção ao estabelecimento do sentido e a significação como uma esfera específica, estão essencialmente vinculadas à chamada crise de identidade da filosofia e esta, por sua vez, à situação da ciência no século XIX. A atenção a este fenômeno permitirá entender por que um estudo das origens da filosofia contemporânea, só pode ser desenvolvido como uma investigação propriamente interdisciplinar. Este ponto merece uma consideração mais detida.

FUNÇÕES DO SIGNO E IDENTIDADE PESSOAL: O CASO DA “VIDA SOLITÁRIA DA ALMA” NAS INVESTIGAÇÕES

SUMÁRIO PREFÁCIO......................................................................................11 INTENCIONALIDADE André Leclerc...............................................................................21 A TESE DE BRENTANO (REVISITADA) Guillaume Fréchette ...................................................................51 PSICOLOGIA MORAL E PERFECCIONISMO EM BRENTANO Federico Boccaccini.....................................................................93 NOTA SOBRE CHISHOLM E A PREFERÊNCIA ÉTICA EM BRENTANO Evandro O. Brito .......................................................................123 BRENTANO ON SCIENTIFIC PHILOSOPHY AND POSITIVISM Flávio Vieira Curvello ..............................................................143 FRANZ BRENTANO’S
THEORIES OF CONSCIOUSNESS Joelma Marques de Carvalho..................................................175 HISTÓRIA DA INTENCIONALIDADE:
TOMASELLO Juliana de Orione Arraes Fagundes .......................................185
HIGHER-ORDER
UMA COMPARAÇÃO ENTRE DENNETT, DAVIDSON E
LÓGICAS DE HUSSERL Carlos Diógenes Côrtes Tourinho...........................................209

“FUNÇÃO SE DIZ DE MÚLTIPLOS MODOS”: DO USO POLISSÊMICO DE CASSIRER DO CONCEITO DE “FUNÇÃO” NA OBRA CONCEITO DE SUBSTÂNCIA E CONCEITO DE FUNÇÃO Lucas

A COMPREENSÃO DO TOTALITARISMO A PARTIR DA FENOMENOLOGIA DA CONSCIÊNCIA MÍTICA Rafael

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Alessandro Duarte Amaral ..........................................229
Duarte ...................................................261
DEDUÇÃO
Linhares ..........................................................285
Campos...............................313
Calado Barbosa..........................................................335
Silva...............................................................................365
FREGE ANTECIPOU O PROBLEMA DA MÁ COMPANHIA EM UMA CARTA A RUSSELL? Alessandro Bandeira
A
SUBJETIVA NO DUISBURG NACHLASS Orlando Bruno
ANTICORRESPONDENTISMO DE NEURATH E AVENARIUS Lucas Baccarat Silva Negrão de
NOMES FICCIONAIS NO REFERENCIALISMO CRÍTICO Eduarda
REVISÃO DA LÓGICA, DISPUTAS VERBAIS E NEGOCIAÇÕES METALINGUÍSTICAS Marcos
Garcia..............................................................................397

PREFÁCIO

Na história da filosofia são inúmeros os processos e princípios teóricos subjacentes ao amplo – e proposital no caso desta coleção de textos – escopo em torno aos temas e atores envolvidos com tópicos referentes a Racionalidade, Intencionalidade e Semântica. Dentro do conjunto de contribuições aqui reunidas, apesar de sua heterogeneidade, os textos versam sobre pelo menos algum deles a partir de um determinado prisma e agenda de interesses específica. Dessa forma, quem for ler esta coletânea irá se deparar com ensaios nas mais variadas frentes: desde abordagens transcendentalmente orientadas a respeito das filosofias de Kant e do neokantismo de Cassirer; passando pelas origens e desdobramentos da fenomenologia e seu conceito chave (i.e., intencionalidade) nos já clássicos Brentano e Husserl e seus epígonos contemporâneos; as interfaces entre as teorias positivistas dos séculos XIX e XX e, finalmente, temas de lógica e linguagem em autores desse mesmo período – como no caso da tríade Frege, Russell, Wittgenstein –, mas também em seu desdobramento mais recente – S. Kripke, R. Brandom, J. Perry, C. Wright, entre outros.

Possivelmente um ponto que interessa a todas essas agendas diz respeito ao fenômeno da divisão dos caminhos –termo tomado de empréstimo do Professor Michael Friedmann, em seu livro seminal Parting of Ways (2000). Entre outras implicações, uma das tarefas que vimos realizando, em conjunto com as estudiosas e estudiosos que se dispuseram a participar deste projeto e paralelamente a outros centros de pesquisa no Brasil e no mundo, diz respeito ao estudo de um período chave na constituição dessa separação, a saber, aquele período que se deu entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do XX. Com efeito, foram as mais diversas

tendências, escolas e movimentos filosóficos que surgiram neste momento da história da filosofia. Desse modo, aquela distinção taxativa, e hoje já de pouca valia, entre a uma filosofia “analítica”, de um lado, e, de outro, uma filosofia “continental” carece de uma verdadeira renovação. Longe de serem unicamente dois, os caminhos a serem percorridos nas origens da filosofia contemporânea são múltiplos. E o presente volume traz ao leitor uma parte preciosa com respeito a essa pluralidade.

Se houve um tempo em que estudiosos na área pouco ou nada falavam a respeito das interrelações entre as filosofias “analítica” e “hermenêutico-fenomenológica” (ou continental, se quiserem), agora é praticamente impossível não se deparar com estudos, artigos, livros e coleções que buscam justamente fazer notar suas raízes comuns e interfaces. É nesse sentido que ruma o presente volume.

Em uma coleção de quinze textos de autoras e autores atuantes nessa linha de pesquisa em âmbito nacional e internacional, as contribuições deste livro trazem, a quem possa se interessar, reflexões apuradas sobre os múltiplos assuntos correspondentes aos temas e problemas do mencionado período, seja em se tratando de suas origens, seu desenvolvimento dentro de uma escola/autor, ou desdobramento posterior. Os ensaios aqui apresentados fornecem a quem quiser acompanhar os percursos aqui propostos, além de instigantes leituras ricas em detalhes e profundidade teórica, lugares que, cada vez mais, vem sendo examinados e discutidos.

No capítulo de abertura, intitulado Intencionalidade, André Leclerc analisa o próprio conceito de intencionalidade, tanto no sentido amplo (como a propriedade relacional de ser acerca de algo), como no sentido mais comum e estrito (como o poder da mente de representar algo). Sua análise explicita, primeiramente, o modo como Franz Brentano (1874) fez da intencionalidade a “marca do mental” e, subsequentemente, o modo como Edmund Husserl fez dela a noção central da Fe-

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nomenologia. No segundo momento, o autor explicita o modo como a noção foi introduzida na Filosofia Analítica por R. M. Chisholm (1957), o qual procurou, sem sucesso, um critério lógico-linguístico do mental. Estas duas perspectivas introduzidas por Leclerc formam a base da tese de seu artigo, a qual permite reconhecer que a intencionalidade se tornou uma noção central em Filosofia da Mente. Finalmente o autor apresenta um breve histórico dos principais momentos de desenvolvimento teórico da noção de intencionalidade, tratando especificamente dos componentes e da estrutura da intencionalidade, e da complicada relação entre intencionalidade e consciência. Algumas questões importantes são abordadas: Como resolver o problema dos objetos intencionais inexistentes? A intencionalidade é mesmo a “marca do mental”? É possível “naturalizar” a intencionalidade?

No segundo capítulo, intitulado A tese de Brentano (revisitada), Guillaume Fréchette sustenta uma leitura da “tese de Brentano” diferente da leitura de Chisholm, na medida em que toma intencionalidade como uma característica genérica apresentada de forma muito diferente por diferentes fenômenos mentais. Segundo a interpretação apresentada por Fréchette, ela não consiste simplesmente em uma característica discriminatória que distingue o mental do físico. Além disso, ele não assume a tese de que a citação da intencionalidade implique que a direção a um objeto e a contenção intencional de um objeto em um ato equivalem à mesma coisa. Fréchette explicita que, embora esses dois predicados sejam corretamente atribuídos aos atos intencionais, eles expressam diferentes propriedades intencionais. Seu ponto está baseado, em parte, no próprio uso de Brentano dos termos 'direção' (Richtung) e 'conteúdo' (Inhalt), os quais sustentam a distinção sugerida entre os dois predicados. Embora Fréchette deixe em aberto a questão de saber se Brentano realmente tinha em mente tal distinção, seu objetivo principal consiste em mostrar que há benefícios em ler Brentano com esta distinção em mente. Um desses be-

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nefícios diz respeito à problemática questão da intencionalidade das sensações.

No terceiro capítulo, intitulado Psicologia moral e prefeccionismo em Brentano, Federico Boccaccini analisa o papel central da ética na descrição filosófica que Brentano faz da nossa vida mental como agentes morais. Tal análise explicita o modo como Brentano reivindica uma forma de intuicionismo moral baseada na noção primitiva de emoção correta. Primeiramente, Boccaccini opõe-se à tradição dos comentadores que explicam a teoria ética brentaniana nos termos de uma ontologia do valor intrínseco como um correlato intencional de um sentimento correto, mas também daqueles que a explicam nos termos de uma teoria meta-ética que se “livra da responsabilidade” (buck-passing). O autor oferece uma descrição diferente, pois sustenta que Brentano traça uma psicologia moral a fim de justificar uma forma de perfeccionismo ético de base emotiva. Deste modo, a teoria permite, portanto, fixar o conteúdo de nossos conceitos morais analisando a estrutura de nossos fenômenos mentais como o amor e o ódio. Fundamentalmente, o autor defende que a teoria ética de Brentano se baseia na psicologia moral, e sugere uma postura conciliadora entre seu intuicionismo e seu empirismo. No quarto capítulo, intitulado Nota sobre Chisholm e a preferência ética em Brentano, Evandro O. Brito apresenta as especificidades da interpretação inaugurada pela análise apresentada por Roderick Chisholm. Trata-se, de modo mais específico, da análise de um dos seus primeiros trabalhos (1967-9) acerca da noção de relação intencional no contexto da terceira classe de fenômenos psíquicos (amor, ódio e preferência). Brito sustenta que, ainda que tal análise estivesse orientada por uma bifurcação entre a fase brentaniana da obra Psicologia a partir de um ponto de vista empírico (1874) e a fase brentaniana do Reísmo (1905), a interpretação de Chisholm não excluiu a relevância das reformulações indicadas como novidades na proposta da obra Psicologia Descritiva. Pelo contrário, segundo Brito, a pró-

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pria teoria chisholmeana acerca do valor intrínseco tomou por base a interpretação da obra brentaniana, analisada segundo um critério que permitiu a descrição do fenômeno psíquico de preferência.

No quinto capítulo, intitulado Brentano on scientific philosophy and positivism, Flávio Curvello analisa a quarta tese de habilitação de Brentano, de acordo com a qual o método da filosofia deve ser aquele da ciência natural. O autor sustenta que o sentido desta tese pode ser abordado inicialmente por meio de um exame da perspectiva de Brentano acerca da relação entre as ciências humanas e naturais. Sua análise explicita que os argumentos de Brentano, em favor de uma unidade metodológica neste debate, mostram que ele está efetivamente argumentando por uma ideia omni-abrangente de conhecimento científico, que não pode ser restrita aos campos já reconhecidos como científicos, mas que pode também ser aplicada ao domínio filosófico. Finalmente o autor evidencia que uma compreensão mais robusta dessa ideia é oferecida pelos escritos de Brentano acerca do positivismo de Comte. No sexto capítulo, intitulado Franz Brentano’s higherorder theories of consciousness, Joelma Carvalho apresenta um breve comentário sobre a interpretação de Denis Fisette das teorias de ordem superior da consciência feitas por Franz Brentano, em que a consciência tem sido vista como uma forma de autoconsciência intransitiva, sendo intrínseca a um agente. Tomando por base tal interpretação, Carvalho apresenta alguns argumentos básicos para dar suporte a alguns pensamentos epistêmicos de Brentano dados nas obras Psychologie vom empirischen Standpunkte (1874) e Die Deskriptive Psychologie (1982). A autora divide sua proposta em cinco seções. A primeira seção trata do entendimento inicial a respeito da psicologia de Brentano. A segunda seção oferece uma análise dos conceitos de consciência e intencionalidade. Na terceira seção, ela apresenta a classificação do fenômeno mental. A seção quatro se refere ao conceito de psicologia descritiva e à fenomeno-

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logia e finalmente, na última seção, a autora apresenta as consequências dos argumentos epistêmicos e ontológicos de Brentano relacionados ao conceito de consciência.

No sétimo capítulo, intitulado História da intencionalidade: uma comparação entre Dennett, Davidson e Tomasello, Juliana Fagundes analisa a relação entre dois aspectos da mente humana - intencionalidade e triangulação - sob as óticas de três autores: Davidson, Dennett e Tomasello. A autora sustenta que: a intencionalidade é tomada como a característica de ao menos alguns estados mentais de estarem dirigidos a algo; a triangulação é o processo básico de interação de dois seres entre si e com o mundo, base da linguagem. Fagundes sustenta, ainda, que entre a intencionalidade e a triangulação se situam a linguagem articulada e a forma de pensar especificamente humana. Porém, sua análise descreve o modo como cada um desses autores compreende diferentemente o papel dessas duas características cognitivas na formação da linguagem e seu surgimento na história evolutiva. O resultado é que o conjunto dos seres dotados de intencionalidade é diferente para cada um deles. Assim, seu artigo investiga até onde a intencionalidade desce pela árvore evolutiva conforme cada um dos autores.

No oitavo capítulo, intitulado Funções do signo e identidade pessoal: o caso da “vida solitária da alma” nas Investigações lógicas de Husserl, Carlos Tourinho aborda o caso da “vida solitária da alma”, no qual falamos “conosco mesmos” fora do discurso comunicativo., tal como apresentado por Husserl nos parágrafos iniciais da Primeira Investigação de Investigações Lógicas. Primeiramente, o autor apresenta os sentidos de signo como “indicação” e como “expressão”. Em seguida, aborda o caso do discurso solitário, no qual o signo atua como expressão, mas não como índice. Por fim, o autor supõe que o caso considerado conteria a aceitação do princípio de identidade pessoal que, por sua vez, acarretaria o colapso das pessoas do falante e do ouvinte. Conclusivamente, o autor sustenta que a

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denúncia desse colapso nos permitiria reivindicar uma equivalência entre o discurso dialógico e o discurso solitário. No nono capítulo, intitulado “Função se diz de múltiplos modos”: do uso polissêmico de Cassirer do conceito de “função” na obra Conceito de substância e conceito de função, Lucas Amaral analisa três usos do conceito de “função” no contexto da epistemologia juvenil do neokantiano da escola de Marburgo, Ernst Cassirer. Nesse sentido, o autor busca estabelecer alguns pontos de contato e certos pontos de distanciamento entre Cassirer e os celebres nomes de Frege e Russell, uma vez que esses últimos forneceram uma rigorosa roupagem ao conceito de função, a qual foi simplesmente decisiva no contexto da filosofia analítica, nascente à época. Cassirer, diferentemente, se valeu dessa noção de maneira plural: certas vezes com um uso mais flexível e em outras oportunidades de modo mais rigoroso. O autor procura, por um lado, explicitar esses usos e as razões subjescentes a eles e, por outro, estabelecer certas interrelações entre neokantismo e filosofia analítica nas origens da filosofia contemporânea. No décimo capítulo, intitulado Frege antecipou o problema da má companhia em uma carta a Russell?, Alessandro Bandeira analisa o trabalho monográfico publicado por Crispin Wright em 1983. Bandeira mostra que tal trabalho, intitulado Frege’s conception of numbers as objects (FC), sustentou uma posição logicista nos moldes propostos por Gottlob Frege em Die Grundlagen der Arithmetik (GLA). A análise desenvolvida por Bandeira apresenta resultados que suscitaram algumas questões na literatura secundária. Em primeiro lugar, Frege teria consciência plena do Teorema de Frege (TF)? Em caso afirmativo, por que ele não recuou, admitindo fundamentar a aritmética a partir do Princípio de Hume (PH), quando descobriu que o axioma V era o responsável pela derivação do Paradoxo de Russell dentro do sistema lógico de GGA? Primeiramente, o autor discute a primeira questão e responde afirmativamente. Posteriormente, o autor analisa a resposta de Kimberly

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Heck à segunda questão, baseada em uma tradução equivocada de uma carta de Frege a Russell, a qual sustenta que a Objeção de Júlio César desempenhou um papel central na rejeição de PH para fundamentação da aritmética. O trabalho é concluído com a interpretação da passagem da carta de Frege a Russell como uma antecipação do problema da Má Companhia.

No décimo primeiro capítulo, intitulado A Dedução subjetiva no Duisburg Nachlass, Orlando Linhares analisa o esboço do aspecto subjetivo da dedução transcendental das categorias, tal como apresentado por Kant nos manuscritos do Duisburg Nachlass de 1774-5, ao solucionar o problema da objetividade formulado na Carta a Marcus Herz de 21 de fevereiro de 1772.

No décimo segundo capítulo, intitulado Anticorrespondentismo de Neurath e Avenarius, Lucas Baccarat Campos analisa a controversa crítica de Neurath à teoria da verdade da correspondência. Segundo o autor, ainda que os novos estudos tenham sido capazes de retificar de alguma forma sua imagem amplamente difundida de um teórico da coerência, a posição de Neurath sobre o conceito de verdade continua a ser contestada e o conteúdo exato de sua rejeição de qualquer conversa sobre a realidade não totalmente explicado. Deste modo, Campos procura esclarecer a crítica de Neurath à teoria da correspondência, lançando luz sobre a influência de Avenarius sobre ele.

No décimo terceiro capítulo, intitulado Nomes ficcionais no referencialismo crítico, Eduarda Calado parte do seguinte problema: nomes vazios, tais como os nomes usados no discurso da (e sobre) ficção, supostamente representam um problema especial para os chamados referencialistas semânticos, em virtude do seu compromisso com a ideia de que os enunciados de substantivos próprios expressam proposições singulares - e são, nesse sentido, sobre indivíduos. Consequentemente, Calado considera que os referencialistas devem aceitar a conclusão contra-intuitiva de que as afirmações fictícias de

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substantivos não expressam o conteúdo. Em função dessa falha, a autora discute como o referencialismo defendido por John Perry - também conhecido como referencialismo críticooferece uma solução para este problema, propondo uma semântica pluripropositiva e incremental em que substantivos ficcionais expressam um tipo de conteúdo que, apesar de não ser referencial, explica os nossos estados cognitivos (crenças, em particular) sobre ficção.

No décimo quarto capítulo, intitulado Revisão da Lógica, Disputas Verbais e Negociações Metalinguísticas, Marcos Silva defende que dissensos sobre a revisão da lógica devem ser vistos como negociações metalinguísticas e não como disputas verbais. O autor utiliza-se de uma leitura neo-pragmatista, expressivista e normativa baseada em Plunkett e Sundell (2013), Thomasson (2016), Wittgenstein (1969) e Brandom (1994, 2000).

No décimo quinto capítulo, intitulado A Compreensão do Totalitarismo a partir da fenomenologia da consciência mítica, Rafael Garcia mostra em que medida a concepção cassireriana da fenomenologia da consciência apresentada no segundo volume da Filosofia das formas simbólicas lhe permite, mais tarde, compreender o totalitarismo como um fruto possível, embora não inexorável, da própria constituição das formas simbólicas e da forma da interação destas entre si – uma espécie de atavismo (mas não apenas isso) do desenvolvimento esperado da consciência. Acerca disso, Garcia analisa os processos de surgimento da consciência e as dialéticas inter e intraformas simbólicas com atenção especial para o papel desempenhado pela forma mítica, pois que a dimensão emocional do espírito é um elemento-chave para a efetivação do totalitarismo. Em seguida, o autor mostra as consequências dos postulados de Cassirer para a concepção de homem em contraste com a concepção tradicional da filosofia, em especial do período moderno.

O conjunto de trabalhos aqui reunidos, portanto, pretende não apenas oferecer ao leitor uma indicação dos cami-

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nhos possíveis nas investigações acerca das origens da filosofia contemporânea, mas fundamentalmente oferecer uma boa leitura acerca de algumas novas perspectivas na história da filosofia.

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