JA - Julho/2019

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JORNAL DA APRS Nº 10 | Julho de 2019

XIV Congresso Gaúcho de Psiquiatria

Vínculos & Saúde Mental

Dall’Onder Grande Hotel I 21 a 24 de Agosto de 2019 I Bento Gonçalves/RS

A APRS te espera em Bento


Expediente do Jornal – JA

JORNAL DA APRS

Esta é uma publicação da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul Av. Ipiranga, 5311/ 202 CEP 90610-001 | Porto Alegre | RS | Brasil Telefones (51) 3024.4846 | 98193.7387 www.aprs.org.br – aprs@aprs.org.br facebook – aprs.psiquiatria

DIRETORIA Gestão 2019/2021 PRESIDENTE

Flávio Shansis VICE-PRESIDENTE

Fernando M. Schneider DIRETORA CIENTÍFICA

Andrea Poyastro Pinheiro DIRETOR TESOUREIRO

Lucas Spanemberg DIRETOR TESOUREIRO ADJUNTO

Mateus Reche

DIRETOR DE DIVULGAÇÃO

Rafael Mondrzak

DIRETORA SECRETÁRIA ADJUNTA DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Berenice Rheinheimer

DIRETORA SECRETÁRIA DE NORMAS

Andréia Sandri

CONSELHO FISCAL – TITULARES

Fernando Lejderman Laís Knijnik Lizete Pessini Pezzi

CONSELHO FISCAL – SUPLENTES

Alba Tereza do Prado Prolla Ana Lucia Duarte Baron Tiago Crestana CONSELHO EDITORIAL DO JORNAL 10ª edição | Julho 2019 EDITOR

Fabio Brodacz CORPO EDITORIAL

Júlia Goi Danitsa Rodrigues Pedro Victor Santos DIRETOR DE DIVULGAÇÃO

Rafael Mondrzak

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO

Marta Castilhos

SECRETARIA DA APRS Coordenadora administrativo-financeira

Ana Paula Sarmento Cruz administrativo@aprs.org.br Secretária sênior

Sandra Maria Schmaedecke – RP 1464 aprs@aprs.org.br Auxiliar de Secretariado

Nataniele Oliveira do Nascimento atendimento@aprs.org.br Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos signatários e não representam necessariamente a opinião institucional.

EDITORIAL

Fabio Brodacz* Em seu discurso de posse da atual diretoria, o presidente Flávio Shansis mostrou, também em números, os feitos da gestão que se encerrava. De todos, o que parece ter sido enaltecido com mais vigor foi o que apontava para o crescimento vultuoso do número de associados da APRS. Era a celebração pelo êxito alcançado a partir de uma decisão tomada no início do mandato: prescindir do apoio financeiro da indústria farmacêutica era um passo arriscado. Ao mesmo tempo, era a oportunidade de tornar cada associado ainda mais decisivo para o sustento e para o crescimento da instituição. Em outras palavras, os sócios se tornaram ainda mais sócios. Então, que outro tema poderia ser escolhido pela comissão científica para o XIV Congresso Gaúcho de Psiquiatria que não “Vínculos e Saúde Mental”? A Associação de Psiquiatria sentiu na carne os efeitos da expansão vincular em sua saúde institucional e os converte no pilar central dos debates programados para Bento Gonçalves. Esse canal de divulgação das atividades da APRS, tão bem cuidado pelas equipes que nos antecederam, quer aquecer o tema do Congresso e estimular ainda mais a participação do associado no evento. Decidimos então pensar esse nosso primeiro número a partir do eixo-tema do Congresso: o texto de Idete Bizzi nos fala dos vínculos em transformação, inaugurando uma seção que pretendemos manter nas edições futuras, o espaço “Saúde Mental Preventiva”. A cada edição, a comissão elegerá um tema relacionado a prevenção do adoecimento mental e convidará um sócio para trazer suas ideias. Sugestões de temas serão sempre bem vindas. O pensamento do conselho editorial, formado por mim e pelos colegas Júlia Goi, Danitsa Rodrigues e Pedro Victor Santos é de que um espaço de entrevista também ajuda a estreitar vínculos com profissionais de outras instituições e assim pretendemos trazer sempre algum entrevistado para as páginas centrais do Jornal. Para esse primeiro número, conversamos com o Prof. Valentim Gentil Filho, que estará conosco em Bento, assim como outros dez convidados nacionais e internacionais apresentados nessa edição. O Jornal preza pela tradição e propõe renovação: a tão conhecida e desfrutada sessão DROPS passa a ter um de seus artigos com um comentário crítico. Elisa Brietzke abre a coluna DROPS vitaminado.

Sumário

Por fim, pretendemos manter o espaço de compartilhamento de atividades culturais e artísticas dos sócios através da página “Psiquiatras Fazendo Arte”. Para as edições seguintes, pedimos que nos enviem suas atividades culturais e trabalhos de criação. Teremos o maior prazer em torná-las conhecidas dos sócios. Nesse primeiro número, nos encantaremos com as histórias fotografadas pelo colega Rafael Karam. Boa leitura e um ótimo Congresso a todos!

Sumário

* Editor do Jornal da APRS

Cerimônia de Posse. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 XIV Congresso Gaúcho de Psiquiatria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 a 9 Vínculos em Transformação:as diversas faces do Vir-a Ser Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 e 11 Atividades dos departamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 e 13 A Psiquiatria e a Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 32o Ciclo de Avanços em Clínica Psiquiátrica. . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Criado o Dia Estadual do Psiquiatra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Entrevista com Dr. Valentim Gentil Filho . . . . . . . . . . . . . . 16 a 18 Psiquiatras fazendo arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Drops. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 e 21 Núcleo de Ação de Internações Compulsórias . . . . . . . . . . . . . . . 22


2019 2020 Congresso 2021

Cerimônia de Posse Tomou posse no dia 15 de janeiro a nova diretoria da APRS para o triênio 2019-2021. A cerimônia ocorreu logo após a prestação de contas e encerramento da gestão anterior. Encabeçada pelo presidente Flávio Shansis, reeleito para o segundo mandato, a nova equipe teve a oportunidade de agradecer à diretoria que se despedia e reconhecer a excelência dos trabalhos conduzidos por ela nos anos anteriores. De imediato, o novo grupo iniciou os trabalhos de preparação para o Congresso. O evento, realizado na AMRIGS, contou com número expressivo de associados, que brindaram a nova diretoria logo após em um coquetel de integração e boas vindas aos novos diretores.

A diretoria que assume: Flávio Milman Shansis, Presidente Fernando Schneider, Vice-Presidente Andrea Poyastro Pinheiro, Diretora Científica Lucas Spanemberg, Diretor Tesoureiro Mateus Reche, Diretor Tesoureiro Adjunto Rafael Mondrzak, Diretor de Divulgação (a partir de 18/03/2019, em substituição à Betina Kruter) Berenice Rheinheimer, Diretora Secretária Adjunta do Exercício Profissional; Andréia Sandri, Diretora Secretária de Normas Conselho Fiscal: Titulares: Fernando Lejderman, Laís Knijnik e Lizete Pezzi; Suplentes: Alba Tereza Prola, Ana Lúcia Duarte Baron e Tiago Crestana.

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Estamos novamente organizando nossa subida à serra com o XIV Congresso Gaúcho de Psiquiatria, em Bento Gonçalves, de 21 a 24.08.2019. Este desafio se apresentou à nova diretoria com a urgência de organizar um evento de excelência em poucos meses, já que iniciamos a gestão em janeiro último. Mas o entusiamo de todos que fazem a APRS, colegas e funcionários que estão participando das Comissões Científica, Executiva e de Divulgação, farão deste evento um momento de intensa troca de conhecimentos e prazeirosa convivência. Seguimos com o propósito de fazer este Congresso ser cientificamente abrangente, clinicamente relevante, socialmente inclusivo, ecologicamente sustentável, associativamente integrador, localmente inserido e financeiramente viável.

Desde o ponto de vista científico, o tema principal do nosso congresso é “Vínculos e Saúde Mental”, o qual será extensamente abordado a partir dos três eixos temáticos principais: Neurociências, Psiquiatria Clínica e Psicoterapia. Teremos também atividades culturais, sociais e de inclusão, todas relacionadas ao tema do evento. Desejosos de conhecimento que somos, não abrimos mão de convidados que venham compartilhar conosco sua competência científica, e, neste ano, serão 4 internacionais e 6 nacionais. Teremos ainda 5 outros convidados internacionais que farão sua participação por vídeo. Nas neurociências, contaremos com a presença de André Brunoni (São Paulo) que é Professor Associado da Faculdade de Medicina da USP, Li-

Franklin Escobar Cordoba

Pim Cuijpers

Roberto Beneduce

Simona Taliani

(Colômbia)

(Holanda)

(Itália)

(Itália)

8h30min

10h30min

23/08

22/08

23/08

Jogos Violentos e conduta dos Jovens.

Tratamento da depressão no adulto: psicoterapia, farmacoterapia ou ambos?

Assombração racial, Ontologias da pessoa e crise dos laços sociais.

Por uma antropologia genética dos laços da família: criança e diagnóstico em perspectiva etnopsiquiátrica e comparativa.

23/08

18h

19h

Convidados internacionais 4


O professor José Alexandre Crippa (São Paulo) é Professor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP – USP e Coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica do HC-FMRP-USP. Realiza pesquisa na área de neuroimagem em psiquiatria e psicofarmacologia, canabinóides, ansiedade social, instrumentos de avaliação em psiquiatria e interconsulta psiquiátrica. Vai abordar o sistema canabinóide, participando de mesa redonda e como conferencista. Flavio Kapczinski (Canadá), Professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor convidado na University of Texas – Medical Health Center in Houston. Pesquisador na área do Transtorno do Humor Bipolar, é apoiado pela NARSAD (Brain & Behavior Research Foundation), Stanley Medical Research Institute, CNPq e CAPES, Brasil. Seus estudos contribuem para o entendimento das bases biológicas do declínio cognitivo e da saúde física que ocorre em pacientes com Transtorno Bipolar. Em nosso congresso, fará uma participação em vídeo, no qual abordará a imunopsiquiatria e os transtornos mentais graves. Contaremos com Pim Cuijpers (Holanda) na Psiquiatria Clínica. Ele é Professor de Psicologia Clínica da Universidade Livre de Amsterdam, chefe do Departamento de Psicologia Clínica, Neuropsicologia e Psicologia do Desenvolvimento. Especialista em ensaios clínicos randomizados e metanálises em prevenção e tratamentos dos transtornos de ansiedade e depressão. Cuijpers vai estar conosco em duas conferências e uma mesa redonda, quando falará sobre o tratamento da depressão: psicoterapia, farmacoterapia ou ambos. Também abordará o que funciona nas psicoterapias: fatores específicos, inespecíficos ou ambos e terá participação em mesa redonda sobre metanálises dos transtornos mentais comuns.

Convidados nacionais

vre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP e Diretor do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do Instituto e Psiquiatra da USP. Seu foco em pesquisa inclui: neuromodulação não-invasiva, interface entre clínica médica e psiquiatria, ensaios clínicos e biomarcadores em neuropsiquiatria. Ele irá abordar a neuromodulação não invasiva na depressão. Será o palestrante em uma conferência e terá participação em mesa redonda.

André Brunoni (São Paulo)

23/08 8h30min

Neuromodulação não invasiva na depressão: o que existe e o que há de novo?

Carmita Abdo (São Paulo)

24/08 17h

Vínculos e Sexualidade: necessários?

Elias Mallet da Rocha Barros (São Paulo) 23/08 8h30min Psicanálise: ontem, hoje e amanhã

23/08 17h

Meeting the Analyst

Elizabeth Lima da Rocha Barros (São Paulo)

23/08 10h30min

Discussão de Caso Clínico em Psicoterapia e Orientação Analítica

José Alexandre Crippa (São Paulo)

24/08 10h30min

Sistema cannabinóide

Valentim Gentil Filho (São Paulo)

24/08 13h30min

A Crise dos Leitos Psiquiátricos no Brasil 5 5


Franklin Escobar Cordoba (Colômbia) é psiquiatra forense, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Nacional da Colômbia. Seu foco em pesquisa concentra-se nos fatores de risco para o homicídio infantil. Ele irá participar do Simpósio Gaúcho de Psiquiatria Forense e participará de uma mesa redonda sobre jogos violentos e a conduta entre os jovens. A professora Carmita Abdo (São Paulo), atual presidente da ABP, é Doutora e Livre Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; professora Associada do Departamento de Psiquiatria e coordenadora do Curso de Sexualidade Humana da FMUSP. Fundou e coordena o Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP. Será a palestrante da conferência: Vínculos e Sexualidade: necessários? Também estamos contando com a sua presença para falar de sexualidade em uma mesa redonda do II Encontro Gaúcho de Psiquiatria da Infância e Adolescência. O professor Valentim Gentil Filho (São Paulo) é Livre Docente em Psiquiatria e Professor Titular de Psiquiatria FMUSP. Suas áreas de interesse profissional atual incluem: mecanismos de regulação do humor normal, a importância da angústia como resposta emocional, o tratamento dos transtornos ansiosos e do humor e o aprimoramento dos serviços e políticas de saúde mental pública. Ele vai estar conosco discutindo a crise dos leitos psiquiátricos no Brasil e a angústia sob diferentes vértices.

Sessão de vídeo com convidados internacionais

Teremos ainda participações em vídeo com Anne Duffy (Canadá), psiquiatra com foco clínico e de pesquisa em transtorno do humor bipolar ao longo do ciclo vital(www.flourishresearch.com). Atualmente é professora pesquisadora em Saúde Mental da Juventude no Campus Alberta da Universidade de Calgary e dirige um programa especializado em transtornos de humor. Vai nos falar sobre Transtorno do Humor Bipolar ao longo do ciclo vital. Elisa Brietzke (Canadá) é Professora do Departamento de Psiquiatria, Queen’s University. Realizou research fellowship na University Health Network, University of Toronto, Canadá (20172018). Membro do Board of Counselors da International Society of Bipolar Disorders. Suas linhas de pesquisa incluem: neurobiologia do transtorno bipolar; biomarcadores em psiquiatria; imunidade e inflamação nos transtornos do humor; envelhecimento nos transtornos do humor; psiquiatria transcultural. Também por video, vai nos falar sobre a microbiota e os transtornos mentais. Erick Turner (Estados Unidos) é Psiquiatra, professor do Departamento de Psiquiatria da Oregon Health and Science University. O foco de suas investigações é melhorar a transparência dos resultados de pesquisas médicas, principalmente de psicofármacos. Trabalhou como pesquisador do NIH – EUA e como revisor do FDA. Rodrigo Machado Vieira (Estados Unidos é Professor Titular do Departamento de Psiquiatria

Anne Duffy

Elisa Brietzke

(Canadá)

(Canadá)

22/08

23/08

13h30min Transtorno Bipolar ao longo do Ciclo Vital

6

17h Microbiota e transtornos Psiquiátricos


da Universidade do Texas, Diretor do Experimental Therapeutics and Molecular Pathophysiology Program, UTHealth, Houston, Texas. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ambos participarão, por vídeo, para debater sobre a liberação da esketamina, questionando se se trata de uma evolução ou precipitação. No eixo da Psicoterapia, contaremos com o casal Beneduce. Roberto Beneduce (Itália), é psiquiatra, psicoterapeuta e professor de Departamento de Cultura, Política e Sociedade da Universidade de Turim. Etnopsiquiatra, estuda trauma, imigrantes e sofrimento mental. Simona Taliani (Itália) é antropóloga, professora de Departamento de Cultura, Política e Sociedade da Universidade de Turim. Realiza pesquisas em antropologia médica e psicológica, com ênfase em infância, maternidade e imigrantes. Roberto Beneduce fará a conferência de abertura do nosso congresso, “Assombração Racial, ontologias da pessoa e crise dos laços sociais”. Simona Taliani também fará uma conferência - Por uma Antropologia Genética dos laços da família: criança e diagnóstico em perspectiva etnopsiquiátrica e comparativa.

Ambos também participarão de uma mesa redonda sobre Vínculos e Diversidade. Stefano Bolognini (Itália) é Analista didata da Sociedade Psicanalítica Italiana (SPI), ex-Presidente da International Psychoanalytical Association. “Conversando com Bolognini sobre Vínculos e Saúde Mental” será o nome do vídeo com sua participação. Contaremos com a presença de mais um casal, os Rocha de Barros. Elias Mallet da Rocha Barros (São Paulo) é Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo; fellow da British Psychoanalytical Society e do British Institute of Psychoanalysis. Elias será o conferencista do tema: Psicanálise ontem, hoje e amanhã. Vai participar também de uma atividade chamada Encontro com o Analista, em que abordará sua trajetória profissional e sua visão da profissão do psicanalista. Elizabeth Lima da Rocha Barros (São Paulo) é Membro efetivo e Analista Didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e Professora do Instituto de Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo Fellow of the British Psychoanalytical Society, vai participar comentarista de um caso clínico de psicoterapia de orientação analítica.

Acesse a programação completa em www.congressoaprs.com.br

Erick Turner

Flavio Kapczinski

Rodrigo Vieira

Stefano Bolognini

(Estados Unidos)

(Canadá)

(Estados Unidos)

(Itália)

24/08

13h30min Esketamina: evolução ou precipitação?

24/08

8h30min Imunopsiquiatria e transtornos psiquiátricos graves

24/08

13h30min Esketamina: evolução ou precipitação?

23/08

15h Conversando com Bolognini sobre Vínculos e Saúde Mental 7


Programação Quarta-Feira – 21/08/2019 Atividades para Comunidade

18h 19h30min

Hotel Dall Onder

Hospital Tachini

UCS - Campus Bento Gonçalves

Politicas Publicas Preventivas no ambiente escolar: experiência do Programa Meninas Cidadãs Apresentador: Karla R. Haack

Avaliação e Manejo de Delirium no Hospital Geral Apresentador: Rodrigo Tramontini

Cyberbullying Apresentador: Letícia Schinestsck

Quinta-Feira – 22/08/2019 PSIQUIATRIA CLÍNICA

PSICOTERAPIAS

NEUROCIÊNCIAS

CIRCULANDO IDEIAS

MR 2 Sono e envelhecimento nas doenças psiquiátrica: aspectos neurobiológicos

RODA VIVA: NEUROCIENCIAS Regulação Emocional nos Transtornos Psiquiátricos

13h30min 15h

VÍDEO COM CONVIDADO INTERNACIONAL Transtorno Bipolar ao longo do Ciclo Vital Anne Duffy (Canadá)

MR 1 Porquoi les Français?: contribuições contemporâneas de autores psicanalíticos franceses

15h30min 17h

MR 3 Abordagem Terapeutica da Síndromes Psicóticas

CONFERÊNCIA “Vinculos e Saúde Mental”. Iara Camaratta (Brasil)

MR 4 Novas perspectivas no estudo da cognição e emoções em pacientes com transtorno de humor bipolar

HOT TOPICS 1 PsychTech

HOT TOPICS 2 Conversando sobre vivências primitivas, transgeracionalidade e saúde mental

HOT TOPICS 3 Tecnologias e neurociências

ATIVIDADES PARALELAS II Simpósio Gaúcho de Psiquiatria Forense

15h – 15h30min / INTERVALO

17h 18h

Ciência e religiosidade: um diálogo possivel?

APRS INCLUSIVA A cultura Afrobrasileira: o que você tem a ver com isso?

18h30min – 19h / ABERTURA

19h 20h

CONFERÊNCIA DE ABERTURA Assombração racial, Ontologias da pessoa e crise dos laços sociais. Roberto Beneduce (Itália)

Sexta-Feira – 23/08/2019 PSIQUIATRIA CLÍNICA

8h30min 10h

MR 5 Jogos Violentos e conduta dos Jovens. Franklin Escobar (Colômbia)

PSICOTERAPIAS CONFERÊNCIA Psicanálise: ontem, hoje e amanhã. Elias Mallet Rocha de Barros (Brasil)

NEUROCIÊNCIAS CONFERÊNCIA Neuromodulação não invasiva na depressão: oque existe e o que há de novo? André Brunoni (Brasil)

CIRCULANDO IDEIAS

ATIVIDADES PARALELAS

RODA VIVA PSIQUIATRIA CLINICA Discutindo a angústia sob diferentes vertices

II Encontro Gaucho de Psiquiatria da Infância e Adolescência

10h – 10h30min / INTERVALO

10h30min 12h

CONFERÊNCIA Tratamento da depressão no adulto: psicoterapia, farmacoterapia ou ambos? Pim Cuijpers (Holanda)

Discussão de Caso Clínico em Psicoterapia e Orientação Analítica Elizabeth de Lima Rocha de Barros (Brasil)

13h30min 15h

MR 7 Diagnóstico Psiquiátrico para além da entrevista clínica

MR 8 Vínculos e Diversidade

MR 9 Neurociência na prática Clínica

A Maconha em um Tribunal

Mindfullness nas Psicoterapias Quando a sabedoria milenar encontra a ciência contemporânea

15h 16h30min

MR 10 Clubdrugs e outras drogas sintéticas

SESSÃO VÍDEO COM CONVIDADO INTERNACIONAL Stefano Bolagnini (Itália)

MR 11 Impacto das Psicoterapias no cérebro

Reprodutividade e transparência em Ciência: a psiquiatria também precisa ouvir

II Encontro do Núcleo dos Psiquiatras em Formação RS

MR 6 Psiquiatria de precisão Mesa com o apoio da Academia Nacional de Medicina

12h – 13h30min / ALMOÇO

16h30min – 17h / INTERVALO

8

17h 18h

HOT TOPICS 4 Microbiota e transtornos Psiquiátricos Elisa Britezke (Canadá)

18h 19h

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL Por uma antropologia genética dos laços da família: criança e diagnóstico em perspectiva etnopsiquiátrica e comparativa. Simona Taliani (Itália)

HOT TOPICS 5 Meeting the Analyst Elias Mallet Rocha de Barros (Brasil)

HOT TOPICS 6 Novas Intervenções para os transtornos de Humor

APRS INCLUSIVA Olho e sou visto, logo existo? – Olhares e reflexões sobre a população em situação de rua


Sábado – 24/08/2019 8h30min 10h

PSIQUIATRIA CLÍNICA

PSICOTERAPIAS

NEUROCIÊNCIAS

MR 12 Guidelines no tratamento dos transtornos de afeto negativo – ansiedade e depressão

MR 13 TCC: Onde estamos e para onde vamos?

MR 14 O que nos dizem as metanálises sobre tratamentos em psiquiatria

MR 15 A prática psicanalítica na contemporaneidade

VÍDEO COM CONVIDADO NAC/INTERNACIONAL Imunopsiquiatria e transtornos psiquiátricos graves. Flavio Kapczinski (Canadá)

CIRCULANDO IDEIAS

ATIVIDADES PARALELAS

RODA VIVA:PSICOTERAPIA Reflexões e Diálogos entre Gerações

II Encontro Sul-rio-grandense de Mindfulness

Psychoanalysis and Psychiatry: Partners and Competitors. Cláudio Eizrik (Brasil)

III Encontro das Ligas de Psiquiatria do RS

10H – 10H30MIN / INTERVALO

10h30min 12h

CONFERÊNCIA Sistema cannabinóide. José Alexandre Crippa (Brasil)

12h – 13h30min / ALMOÇO

13h30min 15h

MR 16 (por vídeo) Esketamina: evolução ou precipitação? Rodrigo Vieira (EUA) e Erick Turner (EUA),

MR 17 Vínculos, simbolização e crescimento mental

MR 18 Transtornos de Ansiedade: novas perspectivas

15h 16h30min

MR 19 E agora, tudo virou bipolar?

CONFERÊNCIA Fatores específicos e nãoespecíficos em desfechos em Psicoterapia. Pim Cuijpers (Holanda)

MR 20 Novas perpectivas no TDAH

A Crise dos Leitos Psiquiátricos no Brasil. Valentim Gentil Filho (Brasil) APRS INCLUSIVA A representatividade e visibilidade LGBT na literatura

16h30min – 17H / INTERVALO

17h 18h 18h15min 19h30min

CONFERÊNCIA NACIONAL Vínculos e Sexualidade: necessários? Carmita Abdo (Brasil) O PSIQUIATRA VAI AO CINEMA Debate com palestrantes nacionais e internacionais

19h30min / ENTREGA DE PRÊMIOS / ENCERRAMENTO

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SAÚDE MENTAL PREVENTIVA

Vínculos em Transformação: as diversas faces do Vir-a Ser Humano Idete Zimerman Bizzi Nenhum homem é uma ilha, diz o provérbio. O mais soberano e autônomo dos indivíduos deriva seu sentido de existência e a própria constituição de seu ser de um trajeto muito particular de relacionamentos ao longo do tempo. Invisíveis laços forjam quem somos, enquanto nos conectam a pessoas significativas, à cultura de nosso tempo, ao inconsciente familiar atual, transgeracional, e a regiões obscuras de nós mesmos, em complexa relação dialética, em que indivíduo e meio se influenciam mutuamente. A palavra vínculo alude a “tudo o que ata, liga ou aperta”. Sob a perspectiva da humanidade, o conceito se faz central desde o nascimento de qualquer indivíduo que, independentemente de quem seja, da família que tenha, ou das circunstâncias cujo nascimento envolva, repete a história atávica das gerações que o antecederam e das que o sucederão: vem ao mundo em total estado de dependência. Em íntima conexão com seu entorno, o recém nascido existe na medida em que é cuidado, alimentado, sustentado, e as fases precoces de vida são marcadas pela profunda suscetibilidade da mente rudimentar aos movimentos do ambiente, em especial dos cuidadores imediatos. Segundo Winnicott, as interações entre o bebê e sua mãe são fatos marcantes de realidade que têm o poder de fazer um imprinting, formatar padrões relacionais tão precoces e estáveis que eventualmente simulam tratar-se de características congênitas de personalidade do recém nascido. Nessa fase, o bebê necessita que o ambiente perceba intuitivamente suas necessidades e adapte-se suficientemente a elas, protegendo sua onipotência originária, e construindo-lhe as bases futuras de uma saudável noção de si mes10

mo. Os olhos da mãe, e todo o seu ser, em contato com o bebê funcionam como um espelho que comunica ao bebê quem ele é. Olho, sou visto, logo existo é a máxima dessa fase. Com o tempo, as necessidades da criança naturalmente se modificam e o ambiente já pode introduzir, em doses toleráveis, o quinhão de frustração e desilusão necessárias ao amadurecimento. Inaugura-se, então, o que podemos chamar de vínculo propriamente dito: mãe e bebê começam a formar duas entidades interligadas, mas diferenciáveis. A criança percebe que ela não é a mãe, e a mãe não é ela, mas a essa percepção difícil e em alguma medida sempre traumática, é esperado que se contraponha a sensação de que algo muito forte as une em vínculo, traçado inédito em cuja extremidade nasce um ser. Inaugura-se a travessia do penso, logo existo. O vinculo, assim posto, como significativa união entre duas pessoas, traz em seu bojo um paradoxo criativo: une duas entidades, sem fusioná-las. Conservam-se as características originais de cada polo, ao mesmo tempo que se transformam mutuamente as partes, de forma criativa, ou, não raro, de forma patológica. Com Bion, compreendemos que o modelo de vínculo que liga componentes unitários enquanto os transforma pode ser aplicada à dimensão intrapsíquica: o próprio funcionamento psíquico reflete a capacidade interna de formar elos de conexão entre elementos mentais ou protomentais pré-existentes que demandam pensabilidade, constituindo o chamado aparelho para pensar. Assim, a vida mental desenha-se e adquire sentido através de pré-concepções que vinculam-se a percepções da


realidade externa ou interna (realizações), e geram pensamentos/emoções/concepções. Cada indivíduo conserva, dentro de si, áreas de funcionamento sadio, capaz de engendrar tais conexões, gerar pensamentos/sentimentos, convivendo com áreas que atacam os pensamentos, ou, em termos bionianos, as partes não psicóticas e as partes psicóticas da personalidade, em cuja comunicação se concentra o grande o desafio dos profissionais da saúde mental. Ao propor alternativas terapêuticas, independentemente do tipo de abordagem, seja individual, grupal, ambulatorial, hospitalar, é importante que o profissional conserve a noção de que o paciente e o seu entorno se complementam, e que a busca por uma convivência mais realística e construtiva com o ambiente, que possa privilegiar os aspectos saudáveis de ambos é fundamental, principalmente em tempos de turbulência ou doença. Em seus esforços terapêuticos, ao enfrentar a luta interna (e externa) entre os vínculos e o ataque aos mesmos, entre compreender, empatizar, tolerar, colaborar ou não, o terapeuta e os pacientes margeiam a pensabilidade (que, para Bion, inclui sempre a emoção). Quando, porém, a parte psicótica da personalidade de um indivíduo, comunidade ou família toma dianteira excessiva, há uma inclinação ao não pensamento, ao vazio, com o risco de abrir-se um fosso cada vez maior, até que intransponível, entre os aspectos saudáveis e doentes do indivíduo, em funesto xeque-mate da destrutividade. Morto está o vínculo quando morta está uma das extremidades da ligadura, a percepção. O indivíduo saudável, capaz de circular entre o pensar e o anti-pensar enfrenta o desfio perpétuo da interação, da capacidade de manter o senso de si mesmo e socializar, interagir com o seu entorno, em salutar independência e dependência. Segundo Ogden, são necessárias no mínimo duas pessoas para sonhar a mais perturbadora experiência do sujeito. Em nossa necessidade insaciável de sonhar as vivências e gerar significados, precisamos do outro, aquele que nos enriquece, que insufla vida, e que, também ameaça, desafia

constantemente nossa vulnerabilidade infantil, em perpétuo paradoxo. Vínculo, palavra bela e tão promissora, está longe de ser um fenômeno simples ou fácil. Cabe lembrar que as relações pessoais encerram em si uma parcela de vinco, mácula ou dobra que o outro impinge, inescapavelmente, quando entra no mundo de alguém. Reconhecer intuitivamente e tolerar a alteridade é um complexo desafio e está na essência da saúde mental, lembrando que “o outro” pode ser uma pessoa próxima, mas às vezes está dentro de nós, e corresponde àquele estranho familiar, intuído e desconhecido, o inconsciente. A disposição para a busca de verdades internas e externas requer coragem, persistência e tempo, ingredientes algo rarefeitos nos dias hipervelozes atuais. A curiosidade e as verdades genuínas, verve vital psíquica, e o reconhecimento das verdades alheias necessitam de espaço, em contraposição ao afluxo da pós verdade contemporânea e da tendência a aceitação de sedutores dogmas ou simulacros da verdade, em evidente ataque ao conhecimento (vínculo – K). Nesse contexto, a psiquiatria, como disciplina científica, além de desenvolver caminhos assistenciais para a saúde, tem um papel fundamental a desempenhar na sociedade contemporânea, como modelo vivo de compromisso com as verdades fundamentais da condição humana. Seja através de seu vértice biológico, psicodinâmico ou de pesquisa, o funcionamento mental e a importância dos relacionamentos são elaborados pela comunidade científica com a seriedade, profundidade e o vagar necessários, em criativa colaboração. Dos paradoxos vinculares característicos da vida humana, em seus limites e promessas, Clarice Lispector nos fala com rara beleza: Muitas coisas você só tem se for autodidata, se tiver coragem de ser. Em outras, terá que saber e sentir a dois. Mas eu espero. Espero que você tenha a coragem de ser autodidata apesar dos perigos, e espero também que você queira ser dois em um. 11


DEPARTAMENTOS DA APRS 16 de maio 2019

Quinta-feira, 20h30min / AMRIGS

Discussão de caso clínico:

Avaliação, indicação e planejamento em psicoterapia de orientação analítica Apresentação do caso clínico:

Dr. Marcelo Vaz

Dr. Matias Strassburger e Dr. Igor Alcantara Debatedores:

Coordenação:

Dr. Luciano Isolan

Valores: Sócios APRS ����������������������������������������������������������������� isentos Não Sócios

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R$ 50,00

APRS Departamentos

Psicoterapia

Contato: (51) 3024.4846 – aprs@aprs.org.br – Inscrições: https://bit.ly/2uUXGQP

Dia 12 de março aconteceu na APRS a aula inaugural do ano de 2019. Na interessante aula, tivemos a oportunidade de ouvir o professor Gabriel Ferreira discutir questões relevantes envolvendo filosofia, psiquiatria e ciência de uma forma profunda e didática. Foi uma noite agradável, de confraternização com os colegas, e de altíssimo nível científico. Que venham mais atividades como essa! Luciano Isolan

No dia 16 de abril de 2019 aconteceu a tradicional recepção aos novos residentes de psiquiatria do estado do Rio Grande do Sul. A atividade foi iniciada com a apresentação de Daniel Luccas Arenas, coordenador do Núcleo de Psiquiatras em Formação (NPF), sobre o planejamento do núcleo para o presente ano. Simone Hauck, presidente do Centro de Estudos Luís Guedes, deu continuidade na atividade com a conferência: “A relação terapêutica no atendimento em Psiquiatria, o que o jovem psiquiatra precisa saber?”. Durante a palestra foi explanada a importância do vínculo das relações terapêuticas e algumas das dificuldades enfrentadas no início da formação. Flávio Milman Shansis, presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), ainda falou sobre a Psiquiatria no Rio Grande do Sul e logo após o final da atividade, os residentes presentes participaram de uma confraternização no Complex Skatepark. Na atividade, os jovens psiquiatras em formação, tiveram a oportunidade de entender as peculiaridades da Psiquiatria gaúcha, o papel institucional da APRS e a importância do NPF para o início de uma vida associativa dentro da instituição. Daniel Arenas, André Schuh e Augusto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Psiquiatras em Formação – NPF

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A APRS através do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência promoveu no dia 27 de abril atividade gratuita sobre Comportamento de Risco na Infância e Adolescência. O tema deste ano foi Bullying: um outra face da violência. Com a participação da Mestre em Jornalismo e autora do livro: Se a Carapuça Serviu. A cultura das indiretas e a violência no Facebook que nos trouxe mais conhecimento sobre o que acontece na internet e que nós não sabemos; David Bergmann Psiquiatra da Infância e Adolescência que falou sobre as consequências do Bullying e os Transtornos Psiquiátricos relacionados a ele e Denise Vilela, Promotora de Justiça, que nos apresentou o trabalho do Ministério Público no combate aos comportamentos de riscos das crianças e dos adolescentes. O evento foi de grande importância para podermos conhecer e nos capacitar para enfrentar este comportamento tão atual e tão preocupante nos dias de hoje. Agradecemos a participação de todos os palestrantes pelos ensinamentos e a possibilidade de troca de conhecimentos. Ana Ache, Cíntia Heidemann e Silzá Tramontina Coordenadoras do Departamento de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da APRS

Nossos referenciais de formação são fundamentais em todas as etapas de uma psicoterapia. Tratamento pessoal, estudos e supervisão garantem consistência e estrutura ao encontro terapêutico. Na prática, no entanto, pretendo que meus conhecimentos e experiências estejam introjetados o suficiente para permitir uma comunicação mais espontânea entre duas pessoas. Peço ao paciente que fale livremente e o acompanho sem me preocupar com planejamento, número de sessões, técnica mais ou menos dirigida ao insight ou avaliação diagnóstica. Procuro criar um campo continente, primeiramente preocupado em receber aquela pessoa em sua complexidade. Progressivamente tento refletir e revisar minhas impressões sobre cada comunicação que recebo. Geralmente necessito de mais do que dois ou três encontros para formar uma ideia sobre o funcionamento psíquico de cada paciente. Igor Alcantara


DEPARTAMENTOS DA APRS

Dia 18/06 o Núcleo de Psiquiatras em Formação (NPF) realizou pela primeira vez a atividade “Conversa com os residentes”, em que a proposta é trazer um pesquisador, professor ou preceptor para um ambiente mais descontraído com o intuito de conversar e debater um tema relevante na Psiquiatria e outros assuntos que surgirem. Nesse dia a conversa, que abordou desde questões práticas do atendimento de idosos a questões intrapsíquicas da dupla terapêutica, foi no pub Bierkeller com o tema “Os ganhos e perdas do idoso: o envelhecimento do psiquiatra” e contamos com a presença dos professores Alfredo Cataldo Neto e Edgar Diefenthaeler, além de 15 residentes dos serviços de psiquiatria de Porto Alegre.

Em 27 junho ocorreu a palestra sobre Efeitos Adversos do uso de Antipsicóticos: Prevenir ou Remediar com a Dra Nathália Janovik. Esta atividade foi organizada pelo Departamento de Psiquiatria Clínica. Na aula a psiquiatra nos fez refletir que muitas vezes estamos mais remediando. Foi muito interessante os artigos que ela trouxe de que formas podemos prevenir o aparecimento de efeitos colaterais indesejáveis com o uso de antipsicóticos, como a síndrome metabólica. Esses momentos de debate da nossa prática são ricos para refletirmos sobre nossas condutas clínicas.

Daniel Arenas, André Schuh e Augusto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Psiquiatras em Formação – NPF

APRS 2019

Foi com muita satisfação que demos início às atividades do Departamento de Psiquiatria Forense, com apoio da Liga de Medicina Legal e Psiquiatria Forense da UFRGS. Em 8/6, com apoio do CREMERS que nos cedeu seu excelente auditório, foi apresentado o filme “22 July” de Paul Greengrass, com o comentário da colega Alcina Barros. Trata-se da história real do assassinato em massa que ocorreu na Noruega em 2011. O filme revive os momentos que antecederam o crime, a reconstituição e as etapas que envolveram o julgamento e as consequências desse trágico atentado. Foca na personagem de Andres Breivik, o perpetrador que se intitula militante de grupo de extrema-direita e numa de suas vítimas, o jovem Viljar, um promissor talento vinculado ao partido trabalhista. A escolha do filme proporcionou que grandes e complexas questões contemporâneas pudessem emergir e produzir um rico debate com uma qualificada plateia, como responsabilidade penal, terrorismo, assassinato em massa, aspectos diagnósticos, tensões sociais e culturais. O Cine Psiquiatria Forense começou já com entusiasmo. Que venha o próximo que será no nosso Simpósio junto ao Congresso da APRS! Nos vemos em breve! Vivian Day, Lisieux Telles e Alcina Barros.

Novos Associados

No dia 28 de maio, ocorreu o primeiro evento do Departamento de Psiquiatria Comunitária sobre competência estrutural. Segundo a coordenadora do departamento, Ana Cristina Tietzmann, entre os papéis e responsabilidades preconizadas pela World Psychiatric Association (WPA) para os psiquiatras do Século XXI estão as habilidades de comunicação, colaboração, trabalho em equipe, gerenciamento de recursos e profissionalismo. Neste sentido, reconhecer os contextos e estruturas que influenciam a interação clínica e poder desenvolver planos de tratamento que levem em conta características dos sistemas institucionais locais torna-se muito importante. O palestrante convidado, Giovanni Salum Jr., Professor do Departamento de Psiquiatria da UFRGS e atual coordenador da Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, trouxe as atualizações no funcionamento do sistema de saúde e os componentes da chamada Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Porto Alegre. O público presente participou ativamente e esclareceu várias dúvidas a respeito do assunto. Ana Cristina Tietzmann

Sócios residentes Bibiana Bolten Lucion Loreto Giulio Bertollo Alexandrino Kyuana Azeredo de Lima Melissa Elwanger Monteiro Sócia efetiva Paula Moraes da Silva Sócios alunos de graduação Letícia Dias Furrieri Andrei Lara Fernandes Andressa Camila Tasca 13


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o Ciclo de Avanços

A Psiquiatria e a Escola: aproximações – uma parceria necessária Com muito orgulho finalizamos hoje a 32a edição do curso para professores. O curso proporciona um diálogo direto entre profissionais da saúde mental e aqueles que lidam diariamente em salas de aula com crianças e adolescentes, vítimas de transtornos psiquiátricos. A cada edição, são feitas atualizações com novos temas que atendem às demandas mais atuais das escolas e de seus professores. Por conta disso, nosso curso tem sido procurado por público cada vez maior. Agradecemos a todos os palestrantes, a AMRIGS e a APRS, que nos apoiaram. Nos vemos em agosto, lá em Bento, no III encontro Gaúcho da Infância e Adolescência do RS. Ana Ache, Cíntia Heidemann e Silzá Tramontina Coordenadoras do Departamento de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da APRS Gestão 2019/2021

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em Clínica Psiquiatrica

No dia 15 de abril de 2019, realizou-se, no Hotel Sheraton – Porto Alegre, o Trigésimo Segundo Ciclo de Avanços em Clínica Psiquiátrica|APRS. Como de costume, o evento ocorreu ao longo de um sábado inteiro com o intuito de promover, além da atualização em temas fundamentais dentro da Psiquiatria e Psicoterapia, também a integração entre os colegas. No total, quase 150 participantes circularam entre as 13 atividades oferecidas pelos grupos de estudos cadastrados junto à APRS. A atividade manteve seu molde padrão ao incentivar a formação ou a manutenção de grupos de estudos, que tenham desenvolvido em seus encontros, aprofundamento e novas visões sobre a clínica psiquiátrica e psicoterápica. Diversos grupos mais antigos mantiverem–se presentes e atualizados. Entre eles, o grupo que abordou o assunto Transtornos de Humor e Microbiota, coordenado por Flavio Milman Shansis e Juliana de Castilhos. Além desse, o grupo de estudo coordenado por Idel Mondrzak abordou um dos temas mais atuais do evento: Nós Psicoterapeutas e o Pensamento Fanático. Novos ou com alguns anos de andamento, grupos como o coordenado por Ana Margareth Siqueira Bassols e Simone Hauck, debateram seu enfoque de estudo: Burnout, ansiedade e depressão: os fatores institucionais como promotores de risco e de resiliência. Além disso, temas como espiritualidade, obesidade, maternidade e aspectos geriátricos na prática clínica também forem discutidos ao longo do sábado. Talvez a diversidade dos temas tratados, que captou uma vasta gama da psiquiatria atual, tenha sido um dos principais méritos desse ciclo. O tradicional almoço também foi realizado esse ano, como parte integrante do Ciclo; momentos de aproximação familiar e cordial entre os colegas com a troca de informações, networking e reencontros. Por fim, novamente o Ciclo de Avanços atinge seu objetivo ano após ano. Para isso, sempre contamos com o apoio de todos os colegas participantes, da diretoria e da instituição. Solicitamos também que os nossos sócios nos enviem sugestões, dicas, críticas ou simplesmente sua opinião para que possamos seguir renovando e atualizando nossos encontros. Até o próximo Ciclo de Avanços Andrea Poyastro Pinheiro, Caroline Peter Scherer, Lucio Cardon e Rafael Mondrzak

Comissão Científica – Ciclo de Avanços em Clínica Psiquiatrica|APRS2019


25 de Abril

Criado o Dia Estadual do Psiquiatra Na tarde desta quarta-feira (26), no salão Alberto Pasqualini no Palácio Piratini, o governador Eduardo Leite sancionou dois projetos de lei do deputado Dirceu Franciscon (PTB). Um dos projetos, que agora é lei, é o que cria o dia do médico psiquiatra no Rio Grande do Sul, a ser comemorado, anualmente, no dia 25 de abril; o segundo, institui a “Semana Estadual de Prevenção aos Transtornos Mentais e Comportamentais”, a ser celebrada na última semana do mês de abril. O deputado Dirceu defende as duas leis, que têm ligação direta entre si, pela importância que têm para a saúde mental da população. O parlamentar citou que já teve diagnóstico de depressão e sabe como é difícil lidar com a doença. Também aproveitou para fazer um alerta: “é preciso procurar ajuda já nos primeiros sintomas da doença, pois no meu caso, que demorei para procurar um atendimento médico, tive evolução para um quadro crônico”. Dirceu ainda concluiu agradecendo a seu médico, que há 25 anos o trata, “hoje, graças ao meu médico, consigo levar uma vida normal. Por isso a importância de darmos mais visibilidade para esses tipos de transtornos que, se tratados a tempo, têm mais chances de cura”. O governador Eduardo Leite disse que “as duas proposições de Franciscon ajudam a colocar o tema da saúde mental em destaque, auxiliando a formar consciência entre as pessoas acerca do tema, o que

reflete também na melhora das políticas públicas”. O presidente Flávio Shansis, presente na solenidade, destacou no evento que “nós psiquiatras estamos muito orgulhos pelo reconhecimento de nosso papel dentro das equipes multidisciplinares, como profissionais importantes para o desenvolvimento no tratamento da saúde mental no Estado”. A secretária do Trabalho e Assistência Social, Regina Becker, agradeceu ao deputado Dirceu pela reapresentação dos projetos na Assembleia Legislativa, “obrigada por ter recepcionado esses projetos, de uma maneira totalmente aberta e solidária e que agora propícia que todo o Rio Grande do Sul possa comemorar”. Ela concluiu, “lembrando a mentora dos projetos, minha amiga Luciana Franco Goelzer, diretora da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais do Rio Grande do Sul (ABRIG). Para o deputado estadual Dr. Thiago, que é médico e esteve representando a Assembleia Legislativa no evento, a iniciativa do deputado Franciscon “é muito importante, principalmente no sentido de valorizar o trabalho do médico psiquiatra, tão importante nos momentos de desespero das pessoas, onde elas podem acabar perdendo o controle e machucando alguém e até mesmo cometer suicídio”. Ele concluiu dizendo que “isso sirva de um grande alerta para a população, para que, além de um dia comemorativo, seja um dia de bastante reflexão acerca da saúde mental”. 15


ENTREVISTA

Não tem como ter saúde mental se não tiver boa psiquiatria Convidado do XIV Congresso Gaúcho de Psiquiatria, o Professor Valentim Gentil Filho, único sócio honorário da APRS, concedeu entrevista à equipe do Jornal. Na conversa, expôs os temas a serem desenvolvidos em Bento Gonçalves, seus interesses atuais em estudo e pesquisa e sobre o estado atual das políticas de saúde mental no Brasil. Em conversa agradável e bem humorada, falou ainda sobre seus sólidos vínculos com a psiquiatria gaúcha. Jornal APRS: Poderia nos contar um pouco como foi sua escolha pela psiquiatria? E o que o fascina na especialidade? Valentim: Com prazer. Eu já tentei entender de várias formas: quando eu era criança, jogava bola na rua com um vizinho que tinha esquizofrenia paranóide e eu gostava dele, mas ele era, obviamente, muito perturbado. E eu acho que isso me deixou uma marca, uma curiosidade, talvez um pouco de medo e muita solidariedade com ele. Depois, ao longo do meu colegial eu estava muito em dúvida sobre qual carreira seguir e eu tinha alguns parentes médicos que eu admirava e um deles me disse: “Olha, se você estiver em dúvida vai ser médico. Lá você tem possibilidades de você ser engenheiro, advogado, médico mesmo, você pode trabalhar com pesquisa”. Entrei na medicina pensando que me interessava coisas que eu estava lendo na época sobre os efeitos de drogas sobre o cérebro e comportamento, naquela época dos hippies e daquelas coisas do Aldous Huxley. Depois descobri que nada daquilo me interessava, anatomia, mesmo neuroanatomia, essas coisas não me interessavam muito, mas na hora que eu cheguei em fisiologia, neurofisiologia e farmacologia, falei: “Bom, é isso que eu quero estudar”. Comecei fazendo iniciação científica em psicofarmacologia, que naquela época era mui16

to incipiente. E aí naturalmente foi reforçando a ideia de que estudar a relação mente e corpo era uma das coisas que a psiquiatria nos oferecia. Depois na graduação fiquei muito assustado com as instituições manicomiais, mas apesar disso eu fiquei cada vez mais interessado em entender distúrbios da mente e do comportamento e foi natural descobrir que eu não tendo outras habilidades na medicina, quem sabe na psiquiatria eu poderia me dar bem. Coitados dos pacientes que eu tive que ajudar em cirurgia ou fazer parto… Jornal: Atualmente, o que tem lhe interessado estudar e pesquisar? Valentim: Estou me aposentando este ano. Eu entrei na carreira acadêmica com vinte e cinco anos e aí eu fiz estágio no exterior para melhorar minha compreensão de diagnóstico em psicofarmacologia porque eu achava que a gente ficava dependendo das traduções muito ruins de autores alemães, franceses, ingleses. Então eu fui fazer PhD na Inglaterra. Lá aprendi também o que eu não queria fazer, não queria ficar só em laboratório fazendo pesquisas de bioquímica, psicofisiologia. Mas voltei interessado em pesquisa e me dediquei a psicofarmacologia clínica. E durante os próximos quarenta e poucos anos, me envolvi em vários projetos de pesquisa para


melhorar minha própria qualidade de ensino. Se e no cérebro do adulto e depois dos cinquenta, você só ensinar coisas que encontra na literatura, as evidencias estão indo muito devagarzinho é não é tão legal quanto quando você põe a mão melhor não mexer também porque você vai prona massa. E agora, que estou me aposentando, vavelmente interferir com o processo do envefiquei com alguns temas que me interessaram ao lhecimento e o quanto que você vai agravar a longo destes anos todos. Por exemplo a regulaestruturação da personalidade, você vai apressar ção do humor: essa história de você pode regular o deterioro cognitivo são questões em aberto. o humor das pessoas normais além de você corEspero que o Brasil não entre nessa de legalizar rigir transtornos de humor. Você pergunta para o uso recreativo. Uma coisa é fazer pesquisa com as pessoas se elas tem angústia, muita gente cannabidiol ou mesmo com THC, a outra coisa é vai dizer que tem e a hora você vai ver quantas você dar essa mensagem de que é menos nocivo delas têm opressão pré-cordial então a minoria do que álcool e tabaco, como se álcool e tabaco tem. Opressão é uma palavra que se perdeu. Eu pudessem induzir psicose. Mas que a cannabis é até conheci um professor inglês que jogou fora a capaz de induzir psicose nós sabemos há três mil palavra "anguish" e aí de 1967 pra cá essa paanos, é só pegar os textos chineses antigos que lavra não existe mais na nomenclatura médica. você já sabe que ela induz um quadro transitório É uma palavra que tem nome em japonês, tem de alteração mental e de comportamento, nada nome em húngaro, tem nome em chinês, árade muito novo. A novidade é o quanto isso é uma be, hebraico, tem nome em todos os idiomas que coisa permanente e irreversível. eu procurei e quer dizer opressão pré-cordial. Mas você não vai a um JORNAL: O senhor tem trabalhacardiologista, você sabe que é de “Que a cannabis do esse tema nas mídias gerais fundo emocional. Mas não é igual a também? é capaz de dor mental. E o fato é que um terço Valentim: Tenho. Eu não faço pesquidos meus pacientes tem e o que as induzir psicose sa, nem tenho clínica pra isso, eu não pessoas me dizem que pode ser horestou atrás de pacientes que queiram rível. Eu nunca senti, então eu sei nós sabemos se tratar, eu estou alertando que nós que essa angustia é diferente da mitemos que fazer prevenção primária. há três mil nha angustia existencial, da minha Eu vejo muito um outro negócio, que angustia ética ou de qualquer outra anos” me incomoda muito, que é a pseudoforma de resposta emocional que eu criatividade em alguns casos que são possa ter. usuários contínuos e que falam qualquer besteira como se fosse uma grande descoJornal: Ela está mais no corpo? berta. Tem personagens importantes até da ciência Valentim: Ela está nessa interface justamente ou da economia, da iniciativa empresarial, fazendo de mente e corpo. Tem uma santa em Portugal, muita besteira e de repente você vai dar uma olhachamada Nossa Senhora das Angústias, é de da e eles usam a cannabis diariamente. E é muito 1684. Ela tem uma espada no coração. Então, triste você ver essas coisas... Essa relação entre não é a toa, que eles deram o nome de Nossa criatividade e o uso de cannabis é uma coisa inSenhora das Angústias. Você pode substituir por teressante, é um pensamento divergente demais. Nossa Senhora das Dores, mas aí já é uma corruptela. A gente não tem informação nenhuma Jornal: E que não tem amparo nenhum na sobre isso e me parece um verdadeiro sintoma ciência. para gente estudar essa interface. Uma outra questão que tem me preocupado bastante, é a Valentim: Não tem nem coerência. Você entra questão do uso da cannabis e os derivados, nano banheiro e começa a escrever na parede uma turais e sintéticos, e acho que isso vem como fórmula matemática que veio a inspiração deum tsunami e as consequências são difíceis de pois de você ter usado um baseado qualquer e prever. Eu costumo dizer que dos zero aos vinte a partir daí você escreve um livro achando que e cinco (anos) é melhor não usar porque você descobriu um fenômeno importantíssimo e que está interferindo com o funcionamento, a progranunca pode ser referendado. Tem alguma coisa mação de transformação do cérebro da criança errada aí. 17


JORNAL: Mudando um pouco de assunto, mas nem tanto: como o senhor diria que é o estado atual da política de saúde mental no Brasil? E para onde caminhamos?

avanço em relação a nós e isso porque vocês conseguiram incorporar também a psicodinâmica. Eu participava das discussões de caso aí e comparava com as daqui, em São Paulo. Não sei se é porque o divã fez os psiquiatras gaúchos Valentim: Estamos saindo de um outro expericonhecerem muito melhor os seus recursos e as mento social muito danoso pros pacientes que foi suas dificuldades em relação interpessoal, cona tal da antipsiquiatria no Brasil, o tal do moviseguiam discutir as coisas sem se deixar tomar mento basagliano. O primeiro contato que eu tive pelas paixões, sem transformar aquilo em uma com isso, foi quando eu me tornei chefe de deparluta romana e eu fiquei encantado com isso. E aí tamento aqui da faculdade de medicina, em 1992. todas as oportunidades que eu tinha eu aceitava A gente precisava modernizar o prédio da psiquiair às jornadas, aos congressos do Rio Grande do tria da USP, porque era um prédio totalmente deSul. Conheci Gramado, conheci Bento Gonçalfasado, um prédio vertical, corredores, bem maves, essas maravilhas todas que vocês esconnicomial mesmo. Então naquele ano houve uma dem dos não eleitos e que eu me sinto privilegiareunião aqui em São Paulo e no meio da minha do de conhecer. Então fiz muito bons contatos e aula eu falo que de vez em quando eu interno padescobri que essa interação era muito criativa e cientes, que preciso de condições adequadas por muito produtiva. Mais adiante um pouco, eu tive causa dos riscos e de repente a plateia começou a oportunidade de entrevistar alguns personaa aplaudir. E eu me perguntava o que eles esgens importantes para a história da psiquiatria tavam aplaudindo? Eu estava falando uma coisa gaúcha, como o David Zimmermann, muita óbvia e aí eu fui ver e tinha um o Davizão, o Manoel Albuquerque e pessoal panfletando um projeto de lei “Felizmente (...) assim eu tenho aqui registros que do deputado Paulo Delgado de 1989 eu espero um dia doar aí pra APRS. dizendo que era proibido construir no- estamos saindo Tenho ótimos amigos, excelentes e vos hospitais psiquiátricos, contratar daquele modelo competentes profissionais na área serviços psiquiátricos ou transformar de pesquisa, na área clínica, na área basagliano e leitos clínicos em leitos psiquiátricos. acadêmica, no geral, que eu admiEu li o primeiro parágrafo daquele profazendo uma ro há muito tempo. Fiquei triste de jeto de lei, um absurdo! Fui me atualinão ter podido ir a festa de oitenta reforma mais zar sobre um assunto que nunca tinha anos da APRS, porque eu sou um dos me interessado, aí eu vi como era a psiquátrica” poucos que sabe que o Flávio Shanhistória do Franco Basaglia, como era sis saiu a cavalo pelo Rio Grande coo projeto do Benedito Sarraceno, e do lhendo assinaturas e assim fez a APRS crescer pessoal da chamada Luta Antimanicomial. Eu pasmais de cinquenta por cento…(risos) sei os últimos trinta anos tentando entender o que os pacientes poderiam ganhar com aquilo. FelizJornal: (risos) Uma última pergunta: gosmente, digo, dois ou três anos pra cá, estamos tamos de conhecer os interesses culturais saindo daquele modelo basagliano e fazendo uma do entrevistado. Podemos ter alguma recoreforma mais psiquiátrica, porque não tem como mendação sua? Pode ser um livro, um filme, ter saúde mental se não tiver boa psiquiatria. Era uma exposição, uma música. isso que estava faltando na equação. Valentim: Eu estou lendo um livro que eu recomendo: é de um sociólogo, na verdade, ele é forJornal: Sua relação com a psiquiatria e com mado em psicologia, biologia e sociologia, mas os psiquiatras gaúchos é próxima e consishoje ele se classifica mais como sociólogo, ele tente há muitos anos. A que atribui essa se chama Nikolas Rose e o título é Our Psychiaproximidade? tric Future. Descontando algumas escorregadas Valentim: Depois que me formei levei mais que sugerem falta de maior experiência clínica dez ou quinze anos para ir a Porto Alegre. Eu e seu encantamento com Michel Foucault (ele é participei de umas atividades do Centro de Esseu discípulo), sua análise crítica da psiquiatria é tudos Luis Guedes, de um congresso gaúcho, e muito interessante, especialmente para quem já de repente comecei a frequentar Porto Alegre e está na pós-graduação. Mas é preciso manter a a descobrir que os gaúchos tinham um grande devida distância para não se deixar seduzir. 18


PSIQUIATRAS FAZENDO ARTE

Histórias Fotografadas Rafael Karam Chego no aqueduto de Segóvia um pouco antes do anoitecer. Deixo a câmera de lado e começo a sentir aquele local secular, a fantasiar toda “água” que já passou por ali. Quanta história! Entre os cenários existentes, um chama a minha atenção: um senhor idoso, com chapéu, retorna os seus passos e para. Parece ansioso. Caminha novamente e volta. Aquilo me atinge e fico a observar a cena, que dura alguns minutos. Pego a câmera e a ajusto para a baixa luminosidade que nos cerca. O senhor então se debruça no parapeito e olha para a janela de uma casa. O clima muda. Com a câmera já em frente ao meu rosto, componho o cenário e, sem entender bem o por que desta composição, clico a foto à esquerda, nominada de Novas Memórias. Pensei em compartilhar a história acima como uma maneira de tentar traduzir o que o fotografar é para mim. Interação, sorte e paciência são o tripé. Noto que a composição da imagem, na maioria das vezes, é mais instintiva do que técnica, e a compreensão do enquadramento poucas vezes ocorre no momento do clique. Imagino que se tente colocar na objetiva algo próximo do que o fotógrafo sentiu ao observar a cena. Entendo que a psiquiatria possui uma parcela importante na minha formação como fotógrafo. As semelhanças entre as atividades são muitas. Trarei duas frases que podem ilustrar este pensamento: “Fotografar é colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração” e “Se a foto não está boa o bastante, você não chegou perto o bastante”. A primeira frase é de Henry Cartier-Bresson e a segunda de Robert Capa, dois dos mais reconhecidos fotógrafos do século XX. Embora a fotografia utilize a imagem, e a psiquiatria, a palavra, as duas compartilham da importância do olhar e do sentir, do interagir com as pessoas e/ ou com a situação, do tempo certo de falar ou de clicar. Gosto de pensar que também é possível criar histórias com a imagem. Por fim, penso que além de compartilharem similaridades, as duas atividades possuem uma relação sinérgica, onde uma adiciona tempero à outra. Boas histórias a todos!

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Trata-se de um estudo transversal (e portanto com as limitações inerentes a este delineamento), realizado em 2017, sobre a prevalência e os fatores associados ao uso aditivo de smartphones e depressão em uma população adulta do Oriente Médio. A avaliação deu-se através de um questionário via redes sociais e utilizando a Escala de Adição a Smartphones (SAS), em sua versão curta de 10 itens, além do Inventário de Depressão de Beck (BDI), de 20 itens. Foram completados 935 questionários, sendo 619 (66,2%) mulheres e 316 (33,8%) homens, com média de idade de 31,7 anos (+- 11 anos), a maioria com escolaridade em nível superior (81,9%). 64% foram considerados levemente adictos e a maioria (ficou entre oscilações de humor consideradas normais e transtorno leve de humor). Houve correlação linear positiva estatisticamente significativa entre adição a smartphones e depressão, o que é alarmante. Os escores mais altos de adição a smartphones foram encontrados entre os usuários mais jovens. E a escolaridade em nível básico foi associada a escores mais altos de depressão. Com isso, o artigo conclui que deve ser sugerido um uso razoável e moderado dos smartphones, especialmente entre jovens e com menor escolaridade, estes últimos ainda podendo estar em risco aumentado para depressão.

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O artigo teve o objetivo de estudar o impacto do suicídio nas telas sobre o humor de adolescentes através da série 13 Reasons Why. Está série trouxe a preocupação acerca da abordagem explícita do suicídio diante de uma audiência de adolescentes. Foram 7004 adolescentes entre 12-18 anos recrutados com a ajuda da internet, 23,7% relataram piora do humor após assistirem a série e esse percentual foi maior entre os que tinham sintomas de tristeza e falta de motivação ou ideação e/ou tentativa de suicídio ou auto-mutilação prévios à experiência. Os autores concluem sugerindo debate cuidadoso acerca da forma como a saúde mental é exposta em obras de ficção em épocas de intenso consumo de conteúdos digitais.

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Elisa Brietzke psicomotora e pensamentos suicidas podem ser, na verdade, “causados por antidepressivos”. Nas entrelinhas, o artigo estabelece que os antidepressivos causam mais riscos do que benefícios. Isso, absolutamente, se sustenta pelos dados do artigo, que não faz uma análise de risco/benefício dos antidepressivos, e nem por uma extensa experiência clínica e empírica.

O ano de 2018 foi sacudido por algumas publicações altamente esperadas e relevantes na área de psicofarmacologia. Uma delas foi a network meta-análise de Cipriani que comparou, basicamente, as alternativas de antidepressivos mais utilizadas e disponíveis entre si e contra placebo. Ainda que, em teoria, a ideia de que antidepressivos funcionam e são eficazes no tratamento da depressão e bem aceita, periodicamente aparecem na literatura, análises como a do artigo de Hengartner e Ploderl (2018). Nesse artigo, os autores levantam pontos tais como o tamanho de efeito da maioria dos antidepressivos e discutem até que ponto uma melhora em termos de significância estatística se relacionaria a melhora clínica. Os argumentos levantados pelos autores são, de certa forma, conhecidos de clínicos familiarizados com a interpretação de ensaios clínicos, tais como possíveis vieses na seleção de amostras, as escalas e instrumentos escolhidos para a avaliação e mesmo a interpretação dos testes estatísticos. Discute-se e critica-se o tamanho de efeito da maioria dos antidepressivos em relação ao NNT (number needed to treat), que segundo os autores, seria relativamente alto, apesar de ser equivalente ou até menor do que a grande maioria das intervenções na medicina, como as utilizadas na cardiologia. Porém, devo confessor que apesar de não morar mais no Rio Grande do Sul há alguns anos, a expressão “me caíram os butiás do bolso” é a que melhor descreve minha sensação ao ler as conclusões do artigo. Basicamente lá está dito que antidepressivos podem ter benefícios clínicos de curto prazo em uma pequena minoria de pacientes e que sintomas como humor deprimido, fadiga, agitação

Mais importante, embora uma postura crítica quanto aos reais benefícios de todas as intervenções na psiquiatria seja sempre desejável e necessária, quando ela se torna niilista diante das melhores evidências que se tem, corre-se o risco de colocar-se médicos e pacientes em uma situação de impotência, ou até mesmo aumentar o estigma de determinados tratamentos. O que deveríamos fazer se acreditássemos nas conclusões do artigo? Indicar ECT para todos os nossos pacientes? Ou simplesmente deixá-los sem tratamento até que uma nova meta-análise nos presenteie com o NNT mais favorável? Se o que nos interessa é a melhora na “vida real” em termos de bem-estar e funcionalidade, talvez seja hora de pensarmos em como medir de forma mais robusta esses desfechos. E ainda, do ponto de vista de pesquisa, em caracterizar melhor subpopulações com maior probabilidade a responderem a diferentes medicações ou mesmo ao desenvolvimento de novas (e melhores drogas) para o tratamento da depressão maior. Numa coisa concordo com os autores. As palavras “depressão” e “cura” raramente podem ser colocadas na mesma frase, pois uma cura definitiva ainda parece distante ou impossível à luz do conhecimento atual. Por outro lado, os colegas que se formaram no início dos anos 90 com certeza testemunharam a mudança radical de paradigma no tratamento de outras doenças, como a AIDS. Se no início, a AIDS era uma doença subaguda e incurável, evoluiu para um entendimento de modelo de doença crônica, para, finalmente, ser percebida como potencialmente curável, a partir de evidências de que é possível eliminar o vírus HIV do organismo. Isso só foi possível a partir da constituição de acordos multi-laterais de pesquisa, da articulação da sociedade, dos pesquisadores e da indústria farmacêutica, e da percepção de urgência em encontrar melhores abordagens para a infecção pelo HIV. Fica a dica.

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Núcleo de Ação de Internações Compulsórias Notícias sobre a participação da APRS no Grupo de Trabalho constituído pelo Tribunal de Justiça do RS composto pelas Secretarias de Saúde Municipal e Estadual, Defensoria Pública, Ministério Público e o próprio tribunal, através do Núcleo de Ação de Internações Compulsórias no período 2016 a 2018.

de Trabalho permitiram entender melhor o problema, nas quais o judiciário determinava internação psiquiátrica por ser esta tua função, mas os juízes sentiam-se desconfortáveis porque entendem que a indicação de internação é função médica e a disponibilização do leito é alçada das Secretarias Municipal e Estadual da Saúde.

“A judicialização da saúde tem sido tema recorrente em debate. E tema inquietante. Levou a Comissão de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça (TJ) do RS à realização de Audiência Pública com os órgãos jurídicos, administrativos e médicos para discutir a questão. O TJ criou o Núcleo de Ação de Internações Compulsórias (NAIC) para acessar informações e buscar assegurar o atendimento à saúde mental através da via administrativa e por meio de políticas públicas, independentemente da prévia intervenção judicial, com o intuito de restabelecer e fortalecer as responsabilidades do sistema de saúde e humanizar o acesso aos tratamentos ambulatoriais e hospitalares, de forma mais facilitada aos cidadãos acometidos por problemas que assolam as famílias que necessitam do amparo e do acolhimento do sistema de saúde mental1”.

O debate continuado possibilitou a criação de um fluxograma onde os familiares (e pacientes) eram encaminhados à Defensoria Pública do RS. Neste órgão, os familiares/pacientes foram cadastrados. Os familiares, pacientes e cadastro eram, então, enviados ao Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) AD da região onde o paciente reside para que o CAPS – ou unidade de saúde – avaliasse e fizesse o encaminhamento adequado. Quando este encaminhamento foi exitoso, e a internação era a única ou melhor opção terapêutica, o próprio local de atendimento gerenciou a hospitalização; ou organizava o atendimento quando a internação não foi necessária.

“O NAIC objetiva acompanhar a rede de atendimentos à saúde e assegurar aos cidadãos as garantias constitucionais através da ampliação da rede de apoio médico, psicossocial e terapêutico, buscando dar resposta célere e adequada à questão da saúde pública e ao problema grave que impõe imediato atendimento e ampliação”1. “Assim, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, as Secretarias de Saúde do Estado e do Município e a Associação de Psiquiatria do RGS firmaram um Termo de Cooperação para estabelecimento de medidas que viabilizem a efetividade de acesso à saúde mental por meio do planejamento da gestão dos órgãos comprometidos e integrados, de molde a ampliar a organização e o fortalecimento da rede pública, com a consequente humanização deste acesso e redução das intervenções judiciais no sistema de saúde pública”1.

Estas medidas permitiram reduzir de mais de duas mil internações em 2017 para cerca de 600 em 2018! Este êxito motivou as Varas de Violência Doméstica e da Infância e Juventude, que também determinam internações compulsórias, buscarem o NAIC e o grupo de trabalho para associar-se à esta estratégia. Portanto, os psiquiatras e suas equipes estão de parabéns por sua capacidade de bem atender e melhorar a assistência psiquiátrica, assim como os órgãos públicos responsáveis pela assistência, bem como o TJ por sua sensibilidade e iniciativa em abordar adequadamente tais questões. Porto Alegre, 08 de fevereiro de 2019 Paulo Oscar Teitelbaum e Rogério Göttert Cardoso Psiquiatra e Psicanalista Representantes da APRS no Grupo de Trabalho do TJ no período 2016/18

Ao longo dos anos de 2016, 17 e 18 o grupo de trabalho descrito acima revisou o conjunto de internações compulsórias – mais de duas mil ao ano – e identificou que, na grande maioria, tratavam-se de familiares de usuários de drogas que buscavam o judiciário para conseguirem internações. As sucessivas reuniões do Grupo 1 Cartilha Projeto Saúde Mental e Gestão Rede de Saúde Mental – Núcleo de Ações sobre as Internações Compulsórias (NAIC), Tribunal de Justiça do RS.

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www.saudementalnaescola.com

Um site sobre os problemas enfrentados pelos jovens em idade escolar

Um site direcionado a educadores, cuidadores e instituições de ensino sobre o que é saúde mental. Os principais problemas enfrentados pelos jovens em idade escolar, o que são e como lidar com eles. Envie sua colaboração.

Grupo do SANPS

(Seção de Afetos Negativos e Processos Sociais, UFRGS)



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