Expediente do Jornal – JA Jornal da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul – JA Av. Ipiranga 5311/202 90610-001 – Porto Alegre – RS – Brasil www.aprs.org.br – aprs@aprs.org.br
EDITORIAL
DIRETORIA Gestão 2016/2018
Mário Barcellos
Presidente Flávio Shansis Vice-Presidente Matias Strassburger Diretora de Normas Andréia Sandri Diretora Secretária Adjunta do Exercício Profissional Ana Cristina Tietzmann Diretora Tesoureira Anahy Fagundes Dias Fonseca Diretora Tesoureira Adjunta Fernanda Lia de Paula Ramos Diretor Científico Luciano Rassier Isolan Diretor de Divulgação Eduardo Trachtenberg Conselho Fiscal Titulares Eugenio Horacio Grevet Jair Escobar Neusa Knijnik Lucion Conselho Fiscal Suplentes Cláudio Laks Eizerik Fernando Schneider Gisele Gus Manfro CONSELHO EDITORIAL DO JORNAL 5ª edição, dezembro 2016 Editor Mário Tregnago Barcellos Corpo Editorial Elisa Lima Boéssio Martina Cezar Kopittke Mateus Reche
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ão há dúvida de que é fundamental contar com instituições sólidas e atuantes - especialmente em momentos de crise, como o que vivenciamos atualmente. Essa presença forte vem sendo buscada pela APRS de várias formas, em diferentes contextos e nas diversas regiões de nosso Estado. A presente edição do Jornal da APRS espelha tal realidade: mostramos as Seccionais estabelecidas, promovemos o Ano Amarelo e divulgamos outras atividades que vêm sendo realizadas incessantemente. Além disso, seguimos com as seções tradicionais, oferecendo ainda algumas novidades, como a transformação do Encontro de Gerações em um verdadeiro e frutífero diálogo. A linha do tempo alusiva aos 80 anos a serem comemorados pela APRS continua nessa edição, assim como o Drops, que conta com um número maior de artigos, conforme solicitação dos associados. Temos ainda um Drops Especial com a descrição detalhada de um artigo que tem gerado reflexão e debate ao redor do mundo e que é fruto de trabalho de pesquisa de um grupo gaúcho. Como contribuições dos associados, apresentamos o Projeto Capacitar - de importância social imensurável - e a colorida e encantadora Experiência na África da psiquiatra Luciana Nerung. Realmente vale conferir os textos que trazemos aqui. Desejo uma ótima leitura a todos!
Sumário
Diretor de Divulgação Eduardo Trachtenberg Assessoria de Comunicação Anahi Fros - MTE 9420
Ano Amarelo_______________________________3
Projeto gráfico original Rafael Albuquerque Bernardes
Seccionais APRS____________________________6
Adaptação de projeto e editoração Anahi Fros Rafael Albuquerque Bernardes
da
5a
edição
Institucional_______________________________8 Espaço do Sócio____________________________11
Capa: Ampliação das Seccionais da APRS Foto: Banco de imagens com manipulação eletrônica
APRS 80 anos_____________________________14
Tiragem: 1.000
Encontro de Gerações_______________________16
exemplares
SECRETARIA DA APRS Coordenadora administrativa-financeira Ana Paula Sarmento Cruz administrativo.aprs@aprs.org.br
Instituições Psiquiátricas Gaúchas_____________20
Secretária Sênior – RP. 1464 Sandra Maria Schmaedecke aprs@aprs.org.br
Drops___________________________________22
Estagiário de Comunicação pela ESPM Rafael Albuquerque Bernardes comunicacao@aprs.org.br Estagiário de Administração pela UniRitter Fabricio Magalhães Flores atendimento@aprs.org.br
Síndromes Psiquiátricas Raras________________21 Drops especial TDAH_______________________24 Arte dos Psiquiatras________________________25 Parcerias_________________________________27
COMITÊS
Prevenção ao suicídio entra na pauta permanente de ações da APRS Associação criou grupo de trabalho a fim de auxiliar na diminuição de altos índices de mortes no RS
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Setembro Amarelo - assim como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, celebrado no dia 10 daquele mês - chegou acompanhado de um desafio para a APRS: ir além da data alusiva, por meio da implantação de ações continuadas no calendário anual da associação para a abordagem de uma triste realidade. Três gaúchos morrem a cada dia desta que parece ser uma doença invisível. O primeiro passo se deu com a criação do Comitê de Prevenção do Suicídio da APRS, cuja atuação passa a ser permanente. Focada na formação de profissionais para agir de forma assertiva diante do problema, a agenda iniciou no dia 3 de setembro, com a palestra “Suicídio: podemos falar em prevenção?”. No dia 13, ocorreu debate do artigo “Suicide, Suicide Attempts and Suicidal Ideation”, publicado na Annual Review em janeiro deste ano.
Já nos dias 6 e 13, 20 e 27 de outubro, ocorreu a capacitação gratuita “Ajudando pessoas com comportamento suicida e autolesivo”, voltada a profissionais de saúde de todo o Estado, principalmente da atenção básica. No total, cerca de 400 pessoas acompanharam as atividades, que tiveram o formato presencial com possibilidade de acesso via Ensino a Distância (EAD) nos sete dias seguintes a cada aula. As atividades disseminaram informações focadas da diminuição dos tristes índices do gesto de autodestruição. O presidente da APRS, o médico psiquiatra Flávio Shansis, afirma que a entidade está criando uma agenda positiva sobre suicídio, por meio de parceiras sólidas e a reunião de experts na pauta. “Vamos falar de forma continuada de um assunto sério e doloroso no âmbito institucional, abertos à comunidade, porque temos interesse em mudar essa realidade”, aponta.
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MAL EVITÁVEL O mal leva um brasileiro à morte a cada 45 minutos, sendo registrados seis suicídios a cada 100 mil habitantes. Nessa amarga estatística, o Rio Grande do Sul aparece com a maior taxa, atingindo 10,4 mortes a cada 100 mil habitantes. Há cidades gaúchas que superam 50 óbitos a cada 100 mil habitantes, superando a maior taxa mundial, da Guiana, de 44,2/100 mil habitantes. O Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo e Vale do Jacuí concentram as maiores taxas de suicídio. AGENDA OFICIAL A pauta proposta pela APRS, através do Comitê de Prevenção do Suicídio, repercutiu nos poderes Executivo e Legislativo, bem como em organizações de representatividade estadual. No dia 6 de setembro, Shansis, Moreno e a Dra. Ana Cristina Tietzmann foram recebidos pelo secretário da Saúde, o médico João Gabbardo dos Reis, que apoiou a divulgação do conjunto de capacitações. Na ocasião, a APRS anunciou que passará a integrar de forma permanente as Caravanas da AMRIGS, disponibilizando profissionais para capacitações sobre o enfrentamento do tema. A parceria foi selada na tarde juntamente com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF). No dia 23 de setembro, Moreno foi recebido pelo tesoureiro do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN/RS), Ricardo Arend Haesbaert. A entidade divulgou amplamente os cursos oferecidos pela associação. No dia 4 de outubro, o secretário municipal da Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, se reuniu com a Dra. Mirian Cohen e seus assessores, Roberto Bauer de Borba, da Coordenação geral de Políticas Públicas em Saúde (CGPPS), e enfermeira Cátia Stein, gerente de Políticas Públicas de Cuidado em Saúde da SMS. Ele ouviu atentamente sobre o trabalho desenvolvido pelo Comitê e propôs que sejam feitas parceiras entre a APRS e a prefeitura. No dia 5 de outubro, o presidente da APRS foi recebido pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa (CSMA), onde falou sobre os índices de suicídio no Rio Grande do Sul e o que a entidade tem feito para minimizar a situação.
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“Prevenir é tratar a doença mental, reduzindo o estigma, dando ouvidos ao paciente e encaminhamento aos sinais. Para mais de 90% dos casos, existe prevenção. Queremos ajudar a desmistificar o suicídio. Acreditamos que essas primeiras ações atingiram parte desse objetivo”, avalia o médico psiquiatra e coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio, Rafael Moreno Ferro Araújo.
MUDA TRISTEZA O dia 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, foi a data escolhida para lançar a campanha Muda Tristeza. Em atividade ocorrida na praça Comendador Souza Gomes, na zona Sul de Porto Alegre, moradores que pensavam que iriam participar de um debate sobre a mudança do nome
Comitê de Suicídio da APRS com o prefeito de POA.
do bairro Tristeza foram surpreendidos com um belo evento e informações sobre a importância da data e de quebrar o tabu que se criou em torno do debate do tema suicídio. Por meio de factoide criado pela Agência Matriz, uma campanha feita dias antes deu a entender nas redes sociais e nas ruas da região, bem como por meio de uma petição online, colagem de centenas de cartazes nos muros locais e anúncios em jornais, que havia um movimento pela modificação do nome da Tristeza. A ação foi promovida pelo para o Centro de Valorização da Vida (CVV) juntamente com a APRS, Movimento Educação para a Paz, Ministério Público e Secretaria Municipal da Saúde.
REPERCURSSÃO A criação do Comitê de Prevenção do Suicídio e suas ações geraram grande repercussão na imprensa. Diversos veículos de comunicação da Capital e interior repercutiram os dados repassados pelos profissionais e as atividades desenvolvidas pelo grupo de trabalho e a necessidade de tratar do tema. Entre os destaques, estão reportagem de capa do Caderno DOC da edição de 10 e 11 de setembro e matéria especial da BBC Brasil publicada no dia 4 de outubro e repercutida em inúmeros veículos de comunicação de todo o pais, que aborda a relação entre os agrotóxicos e a depressão e o suicídio entre agricultores. Veja alguns dos canais que publicaram matérias:
EVENTOS DO ANO AMARELO
Jornal do Comércio
- Palestra Suicídio: podemos falar em prevenção?, no dia 3 de setembro, com Dr. Lucas Alves.
Conexão RS
- Debate do artigo: “Suicide, Suicide Attempts and Suicidal Ideation”, no dia 13 de setembro, com Dr. Rafael Moreno. BBC BRASIL
- Conceitualização, Epidemiologia e Fatores de Risco e Proteção, no dia 6 de outubro, com Dr. Rafael Moreno e Dra. Berenice Rheinheimer. - Avaliação de Risco para o Suicídio, no dia 13 de outubro, com Dr. Jair Segal. - Tratamento do Paciente em Risco para o Suicídio, no dia 20 de outubro, com Dr. Rafael Moreno e Dr. Leandro Pizutti.
Jornal ZH
- Prevenção do Suicídio, no dia 27 de outubro, com Dra. Fernanda Baeza e Liziane Heberle, representante do Centro de Valorização da Vida (CVV).
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INSTITUCIONAL
Seccionais realizam jornadas e ampliam ações da APRS Descentralização vem beneficiando associados da entidade no interior
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APRS está fisicamente mais próxima dos médicos psiquiatras do Estado, atuantes ou em formação. Focada na missão de congregar os especialistas em Psiquiatria e estimular o desenvolvimento e a difusão da especialidade, a diretoria da Associação inaugurou cinco novas seccionais entre o final de 2015 e o primeiro semestre de 2016. As regiões do Vale do Taquari e Rio Pardo, Centro Oeste, Serra, Sul e Norte agora contam com divisões da APRS. A descentralização vem permitindo que um número cada vez maior de associados tenha acesso às informações, ações e atividades científicas desenvolvidas pela entidade. Para selar essa intenção, foram realizadas jornadas científicas
em cada uma das seccionais, reunindo profissionais de diversos municípios em torno do debate de temas ligados à saúde mental (leia mais abaixo). Além da representatividade estadual já reconhecida pela psiquiatria gaúcha, a abertura das quatro novas seccionais aproxima fisicamente a Associação de 140 municípios, soma das cidades englobadas por cada núcleo. “Sabemos que cada região tem suas particularidades. As demandas de uma podem ser diferentes das de outras, com a necessidade, por exemplo, de diferentes capacitações. A abertura das seccionais ocorre para agregar ainda mais à APRS que, por meio desse alcance, irá dinamizar o papel da entidade”, comenta o presidente da APRS, Flavio Shansis.
Encontros locais marcam integração Seccional Sul – Pelotas
Sede: Pelotas Data da Jornada: 1º e 2 de julho Tema: Transtornos de personalidade, TDAH, transtorno bipolar (incluindo sintomatologia mista), além de tratamentos psicoterápicos e farmacológicos. Encontro do Núcleo de Psiquiatras em Formação da APRS e Encontro das Ligas de Psiquiatria da UFPEL, UCPEL e FURG. “A importância da abertura da seccional é a de possibilitar atividades conjuntas e o intercâmbio entre colegas de dois centros que são referência em formação psiquiátrica no país. A primeira jornada da seccional Sul, além do altíssimo nível das atividades realizadas, marcou de forma definitiva a interiorização da APRS”. Dr. Pedro Abuchaim, coordenador da seccional
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Seccional Centro-Oeste
Sede: Santa Maria Data da Jornada: 02 e 03 de setembro Tema: O TDAH sob o ponto de vista do diagnóstico, tratamento, neurobiologia e consequências clínicas, controvérsias e debate de caso clínico. “Vejo a importância da Seccional como sendo uma forma da APRS atender as demandas dos sócios do interior do Estado, de aproximá-los de forma mais ativa da entidade, de uma troca de conhecimentos e experiências profissionais. Também acredito que agregará os profissionais da própria região”. Dra. Alba Tereza do Prado Veppo Prolla, coordenadora da seccional
Seccional APRS Serra
Sede: Caxias do Sul Data da Jornada: 9 de julho Temas: Princípios e Tecnologias em Biologia Molecular e Farmacogenômica no Brasil: uma ferramenta para otimização de resultados terapêuticos em psiquiatria.
Seccional APRS Vales do Taquari e Rio Pardo
Sede: Lajeado Data da Jornada: 12 e 13 de agosto Tema: Assistência Psiquiátrica Contemporânea: desafios e atualidades
“A criação da seccional gera uma aproximação dos associados com a APRS, um estímulo a mais para os colegas participarem, por meio de eventos menores e reuniões de discussão de casos. Este é o ano de buscar essa aproximação”. Dr. João Paulo Brenner Filho, coordenador da seccional
“A seccional permite que se leve conhecimento científico para o interior, sem a necessidade de os profissionais irem a Porto Alegre. Criamos um grupo de estudos para enfrentar os problemas de saúde mental da região, principalmente e o suicídio, que soma os mais altos índices do país nos Vales do Taquari e Rio Pardo”. Dr. Rafael Moreno de Araújo, coordenador da seccional
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Casos que exigem internação compulsória desobrigam encaminhamento à Justiça em Porto Alegre
Da direita para a esquerda, o presidente da APRS, Flávio Shansis, o secretário adjunto da Saúde do Estado, Francisco Paz, o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Fabiano Dallazen, o presidente do TJRS, desembargador Luiz Felipe Silveira Difini, a juíza de Direito do TJRS, Gláucia Dipp Dreher, o defensor público-geral, Cristiano Vieira Heerdt e o secretário municipal da Saúde, Fernando Ritter.
APRS integrou assinatura de termo que cria Projeto Saúde Mental
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om o intuito de diminuir as intervenções judiciais, o número de processos e humanizar o acesso às redes de atenção à saúde mental e internações compulsórias, foi assinado no dia 27 de setembro, no Tribunal de Justiça do Estado (TJRS), um termo de convênio interinstitucional que criou o Projeto Saúde Mental e Gestão da Rede de Internações (Naic). O documento, com validade de cinco anos, conta com o aval da APRS, única entidade não governamental a assinar o termo, que ainda teve como signatários o Ministério Público Estadual, o Tribunal de Justiça, a Defensoria Pública e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde. A ação prevê a execução de um projeto piloto, por meio dos serviços prestados no Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) III e nas Unidades de Pronto Atendimento do IAPI e PLP. Nesses locais, localizados no Grupo Hospitalar Conceição, na Vila do IAPI e no bairroPartenon, está sendo implantado um novo fluxo de atendimento, onde o aval do médico psiquiatra é suficiente para solicitar a internação compulsória nos casos onde o paciente não tem domínio sobre a própria condição psicológica e física. Até então, a medida era determinada pelo juiz competente, depois de pedido formal, feito por um médico, situação que vinha gerando um alto custo e morosidade ao Judiciário. Com a nova dinâmica, a intenção é que recursos destinados à área da saúde tenham realmente como fim melhorias e projetos na área. Na ocasião, o presidente da APRS, Dr. Flávio Shansis, destacou que, a partir do momento que a decisão sobre a internação passa a ser técnica, com embasamento em parâmetros médicos, e não jurídica, é possível auxiliar na questão da sobrecarga de processos.
“De 10% a 12% da população gaúcha têm transtorno de humor bipolar ou depressão. Desses, cerca de 20% são refratários ao tratamento e, em algum momento, precisarão de internação. Precisamos sim de internações, mas também de leitos, lembrando que os CAPS não são suficientes para casos mais graves”, indicou Shansis. Acompanhando o presidente da associação estavam os médicos psiquiatras Paulo Oscar Teitelbaum e Rogério Cardoso, do Departamento de Psiquiatria Forense da APRS. A juíza de Direito do TJRS Gláucia DippDreher apontou a existência de uma média de 2 mil internações por ano, que acabam passando pelo Judiciário. Para ela, essa é uma incumbência da área médica, sendo que a intervenção deveria ocorrer apenas em casos extremos. Foi desenvolvida uma cartilha contendo o fluxo de atendimento em saúde mental. Acesse o material em https://goo.gl/RKj3su
APRS homenageia 25 anos do Cenespi
O Centro de Estudos de Psiquiatria Integrada (Cenespi) completou 25 anos. Para homenagear esta importante data, a Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) homenageou a entidade por meio da entrega de uma placa, deixando registrado seu reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela psiquiatria gaúcha. A confraternização ocorreu na sede da APRS, com o Dr. Flavio Shansis fazendo a entrega para a presidente do Centro, Gibsi Possapp Rocha, momento que contou com a presença de diversos membros da diretoria da associação.
APRS integra Fórum de Combate à Violência Sexual contra população infanto-juvenil
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om o objetivo de incentivar e apoiar o desenvolvimento de atividades que promovam a prevenção da violência e a proteção integral da população infantojuvenil em todo o Estado, a Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) passou a integrar, na manhã desta terça-feira (11) o Fórum Permanente de Prevenção e Combate à Violência Sexual Praticada Contra Criança e Adolescente. O presidente da APRS, Flávio Shansis, foi um dos signatários do Termo de Integração Operacional, que instituiu oficialmente o grupo de trabalho. A assinatura ocorreu em solenidade oficial na sede do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Executivo, Legislativo, Judiciário, associações, sindicatos e conselhos de classe. A partir de agora, em um espaço de tempo de cinco anos, serão realizadas reuniões periódicas, integrando profissionais de diferentes áreas, para a busca conjunta de meios que busquem a proteção integral das crianças e do adolescentes gaúchos, garantindo-se
o diagnóstico e a imediata avaliação nos casos de suspeita ou confirmação de violência. O encontro foi conduzido pelo Procurador-Geral de Justiça Marcelo Lemos Dornelles, chefe do MP/RS. A APRS cria, a partir de agora, um novo Comitê no seu organograma: o Comitê de Prevenção aos Maus Tratos.
Da esquerda para a direita, Dr. Flávio Shansis, presidente da APRS, Dra. Suzana Fortes, Dr. Fábio Montano Wilhelms, Dra. Maria Regina Fay de Azambuja, procuradora de Justiça, e Dra. Ana Margareth Bassols
Isaac Pechansky recebe homenagem pela passagem de seus 90 anos
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trajetória e dedicação do Dr. Isaac Pechansky ao desenvolvimento social e científico da psiquiatria gaúcha foram foco de homenagem na passagem de seus 90 anos. Exemplo para profissionais da área e somando ações de grande contribuição para a comunidade, com papel fundamental para que a especialidade al-
çasse o lugar de importância que se encontra na atualidade, o psiquiatra e psicanalista recebeu uma placa da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) e da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), entidades das quais foi presidente. A entrega ocorreu no dia 24 de setembro, em almoço no Hotel Plaza São Rafael. O pioneirismo da Divisão Pinel, no Hospital São Pedro, deve muito de seu destaque por conta da proposição de Pechansky em modificar a ideologia do tratamento da doença mental e na divisão da estrutura da instituição em três alas: a dos crônicos, a dos doentes em estado intermediário e de gravidade e com possibilidade de recuperação e a ala dos pacientes agudos. Foi professor de Psiquiatria do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS e analista didata da SPPA, tendo influenciado gerações de psiquiatras e psicanalistas.
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APRS celebra jubileu de ouro como federada da WPA
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dia 4 de julho de 1963 marcou a solicitação de filiação da APRS (na época, Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Neuro-Cirurgia do Rio Grande do Sul) à World Psychiatric Association (WPA). Em setembro de 1966, durante Assembleia Geral ocorrida na cidade de Madri, a Sociedade foi aprovada como membro associado da WPA e enviada carta ao então presidente, Dr. Manoel Albuquerque. A comemoração dos 50 anos como membros filiados à WPA iniciou no dia 28 de outubro. A comemoração desse meio século deste importante reconhecimento da psiquiatria gaúcha em nível mundial
precederá o início das festividades dos 80 anos da APRS, que iniciarão em novembro do próximo ano e culminarão em um jantar festivo em novembro de 2018. Pela importância da data, a APRS lançou um selo comemorativo em alusão ao aniversário. O chamado ano comemorativo será celebrado até outubro de 2017, período no qual todas as comunicações da associação seguirão acompanhadas do logotipo festivo. A WPA conta com 138 associados, abrangendo 118 países e representando mais de 200 mil psiquiatras no mundo.
Maldade, ética e corrupção pautam fórum da APRS
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Maldade, a Ética e a Corrupção no Cotidiano foram foco do 3º Fórum Interdisciplinar da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS). O evento ocorreu no dia 5 de novembro, um sábado, das 9h às 12h, na Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs). A realização foi da Comissão APRS Comunitária. O assunto voltou à pauta da associação exatamente ao final de um pleito eleitoral e de um cenário político turbulentos, marcados por delações, prisões, radicalismos em diferentes polos e uma grande desesperança entre os eleitores, que massivamente mostraram seu descontentamento por meios de votos brancos, nulos e abstenções.
Temas abordados MALDADE Achados científicos recentes sobre os chamados psicopatas do colarinho branco – Psicólogo Silvio José Lemos Vasconcellos Psicanálise e Maldade – Médico psiquiatra Carlos Augusto Ferrari Filho A ÉTICA A ética “líquida” nas instituições do mundo hipermoderno – Médico psiquiatra Flávio Milman Shansis O que e ético e o que é legal? – Juíza de Direito Gina Walesca Nicola de Sampaio A ética na literatura – Professora Léa Massina A CORRUPÇÃO Liderança e corrupção – Médico psiquiatra Fernando Ledjerman O pensamento maniqueísta – Médico psiquiatra Jorge Alberto Salton
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ESPAÇO DO SÓCIO
Projeto Capacitar Descentralização vem beneficiando associados da entidade no interior Sandra M. Soares, Luciane Carniel Wagner, Carmen Vera P. Ferreira, Francilene Rainone, Veridiana Janaina Tomé Medeiros, Jordana Lectzow de Oliveira, Ana Maria Machado Costa
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imitações das doenças mentais, isolamento social, descontinuidade da educação formal e da qualificação profissional impõem dificuldades relacionadas ao acesso ao mercado de trabalho para pessoas com transtornos mentais graves. Para refletir sobre essas questões, aprofundar os conhecimentos da legislação vigente e propor ações afirmativas formou-se, em 2008, um grupo de trabalho com técnicos de várias áreas de atuação e com ampla experiência na prática da reabilitação psicossocial. Deste grupo, surgiu o Projeto Capacitar, com o objetivo de promover a inclusão social de pessoas com transtornos mentais graves (esquizofrenia, transtornos de humor com psicose e outras psicoses), investindo na formação, capacitação e inclusão no mercado formal de trabalho e contando com parcerias interinstitucionais constituídas pelo CAPS Centro/Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Projeto Vivendo e Reaprendendo/ Centro de Intervenção e prevenção nas Psicoses, SENAC Comunidade e Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que foi inserida no sistema jurídico brasileiro pela promulgação do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, trouxe um conceito mais ampliado de deficiência, sendo possível pleitear-se a inclusão laboral de pessoas com transtornos mentais graves no mercado formal de trabalho. Outro marco importante foi a instituição da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. A metodologia empregada, baseada no emprego apoiado, sustenta o trabalho no cotidiano, com constituição de parcerias intersetoriais, encontros mensais com alunos, familiares e entidades parceiras, apoio e oficinas de sensibiliza-
ção com professores e orientadores das entidades formadoras, articulação com profissionais da saúde, aplicação de instrumentos de avaliação e acompanhamento. Os cursos, de acordo com o Catálogo Nacional de Cursos Senac, são compostos de 1.100 horas de aulas teóricas e práticas, com quatro horas diárias. Eles são escolhidos de acordo com o perfil da turma de alunos e das empresas parceiras. A contratação dos participantes se dá como aprendizes com deficiência, de acordo com a CLT. Até o momento, foram desenvolvidos cursos nas áreas de aprendizagem comercial em serviço de supermercado, comércio e na área administrativa, através de parcerias com as empresas Zaffari, Tumelero, Ferramentas Gerais, Frigelar, RBS, Mazer, Renner, Safe Park e Frigelar, Dimed, Mais Econômica, Maxxi Econômica e Hospital Ernesto Dornelles. A oferta de um projeto estruturado para a formação e inclusão no mercado formal de trabalho com o suporte de uma equipe mostra-se um recurso promissor no cuidado com as pessoas com transtorno mental grave, sendo imprescindível o envolvimento de diferentes setores da sociedade. No momento, está ocorrendo a nona edição do projeto que, além de tencionar a alteração da legislação como garantia de direitos, provoca uma convivência menos estigmatizada com a doença mental.
Contato: projetocapacitar16@gmail.com Fone: (51) 3126.3023 (recados)
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Uma experiência na África Luciana Nerung
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partir de 2015, iniciei pesquisas sobre trabalho voluntário na África. Escrevi para várias ONGs americanas e inglesas em busca de uma oportunidade. Finalmente, cheguei à fundação Karimu, criada por um casal de professores da Califórnia. Preenchi o formulário, troquei correspondências e, por fim, fui aceita como voluntária, disposta a realizar qualquer tipo de trabalho na Tanzânia. Karimu significa bem vindo, hospitalidade, em Swahili (língua deste país). A Tanzânia é um dos países mais pobres do mundo, neutro, localizado na África Oriental e com uma população de 51 milhões de habitantes. A capital é Dodoma, sede oficial do governo, porém, Dar es Salaam é a maior cidade do país. Um total de 61% da população é seguidora do cristianismo, 35% são muçulmanos e o restante segue religiões tradicionais africanas. Para chegar à vila em que fiquei, fui de São Paulo à Johanesburg, depois Nairóbi e Kilimanjaro de avião. Lá, encontrei o restante do grupo onde, de ônibus, fomos para Arusha, uma hora e meia de Kilimanjaro, onde pernoitamos.
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No outro dia, após quatro horas de viagem, chegamos a Babati, vila na qual conseguimos nossos vistos de voluntários. Depois de mais meia hora chegamos a Dareda, vila na qual ficamos, no interior da Tanzânia. É uma região com muito mato e a temperatura que varia de 11 a 25 graus. Nossas acomodações foram numa escola técnica agrícola evangélica que estava em férias. O banho era frio e havia água somente em um tanque na rua. Tínhamos energia por um gerador das 19h às 22h. Antes de nos instalarmos, passamos veneno por toda a casa, pois havia muitos mosquitos e aranhas. À noite, andando de lanterna, podía-se ver o brilho dos olhos das aranhas que ficavam escondidas em pequenos buracos na grama. Me acomodei em um saco de dormir, em cima de uma cama. Trouxe meu próprio mosquiteiro. Também colamos as telas das janelas com fita adesiva. As refeições eram feitas em conjunto no refeitório e consistiam de feijão e arroz todos os dias, acompanhados de verduras refogadas, massa ou purê de batata ou abóbora. A carne era impossível reconhecer a origem, portanto, nunca experimentei. Comíamos num prato fundo com colher. Bananas secas e amendoins fritos também acompanhavam eventualmente as refeições. A comida era preparada em fogos no chão. O leite e muitas comidas ficavam com gosto de defumado. Do alojamento até a escola e a maternidade, onde trabalhamos, caminhávamos uma hora. No trajeto, crianças com idades entre 2 e 15 anos nos esperavam à beira da trilha, nos acompanhando a maior parte do caminho. Todos na vila moram em casas de barro espalhadas pelo mato, sem água encanada ou luz. Nunca vimos qualquer tipo de brinquedo (a bola com que as crianças jogavam futebol era feita de
folhas de babaneira) ou livros infantis, mesmo na escola. Sem energia elétrica, estas crianças nunca tiveram acesso à TV ou internet. Outra característica interessante, é que em nenhum local havia espelhos. Assim, por não poderem se olhar, estas crianças eram ávidas por fotografias, onde podiam ver o próprio rosto. A consequência desta total falta de estímulo ficou muito clara na hora em que trabalhamos com elas. Oferecemos papel e lápis de cor (o que algumas nunca tinham visto) e pedimos para elas desenharem. Nenhuma foi capaz de realizar qualquer desenho livre. Uma vez estimuladas por nós, a iniciarem o desenho por um chão e casa, orientando-as a completarem com janelas, árvores, pessoas etc, observamos que elas faziam desenhos monocromáticos, mesmo com várias cores de lápis à mão, sem composição pictórica alguma. Casas e árvores no ar, figuras com desproporcionalidade corporal muito aquém do esperado para suas idades (de 11 a 15 anos). Crianças de até 5 anos não sabiam segurar um lápis. Nas brincadeiras percebia-se a falta de habilidade motora.
Devido à distância entre a vila e a cidade mais próxima, a maioria das mulheres tem filhos em casa com parteiras. A mortalidade materna é 25 vezes maior que nos EUA e a infantil oito vezes maior. Organizamos um treinamento para as parteiras, ensinando noções básicas de higiene, cuidados maternos e com o bebê, salientando algumas técnicas de ressuscitação para recém-nascidos. A maioria das mortes maternas acontece por hemorragia, infecção ou malária. A doença mental é totalmente negligenciada. Nos postos de saúde se trata pneumonia, diarréia e malária. Diabetes, hipertensão, por exemplo, não são tratados. Em casos extremos de psicose, as pessoas são levadas a Dodoma, capital. A média é de um suicídio por mês, geralmente idosos e por enforcamento. Conviver com toda esta dura realidade e sendo extremamente bem recebida pela comunidade, que nos oferecia comida, danças e muitos abraços, me deixou uma marca profunda, de um povo sofrido, sem qualquer oportunidade de melhoria e que nos vê como a salvação. Idealizam-nos e nos tratam com muito afeto. Sei que o que fiz é pouco, mas algo de bom do meu trabalho ficou e, com certeza, nunca mais os esquecerei.
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ENCONTRO DE GERAÇÕES
Dra. Olga Faceto
Dra. Nathália Barreto
Dra. Elisa Boessio
Paixão pela Psiquiatria, visão humanista e curiosidade como identidade
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ra. Elisa Lima Boessio, membro do Conselho Editorial do Jornal da APRS, instigou a psiquiatra Olga Garcia Falceto, coordenadora do Instituto da Família e docente convidada do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS, e a psiquiatra Nathália Tessele Barreto, formada em 2015 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a participarem de um diálogo entre gerações via Skype, fazendo com que a tecnologia aproximasse ambas. Você acompanha nesta edição um resumo do que foi conversado entre as duas, com a mediação de Elisa, e como a conversa fluiu para uma profunda reflexão. Elisa- Como a Psiquiatria entrou na vida de cada uma de vocês? Nathália - Vim para Pelotas em 2006, quando iniciei a faculdade de Medicina na UFPel. Naquele momento, não imaginava qual especialidade escolheria, mas o currículo foi moldando minha escolha à medida que tinha aulas de Psicologia Médica, desde o primeiro semestre. O primeiro contato foi com Winnicott e “A criança e seu mundo”. Em seguida, fui monitora da disciplina de Psicologia Médica III, participando de
reuniões semanais sob orientação dos professores Fábio Alencar Braga e Sandra Bertoldi. Penso que foi aí que se consolidou a minha escolha. Na mesma época, iniciei estágio extracurricular acompanhando plantões de urgência e emergência psiquiátrica no Hospital Espírita de Pelotas, onde tive contato com a semiologia das doenças psiquiátricas. Já na residência, passei a tentar compreender um pouco mais de cada área da Psiquiatria. No final do primeiro ano de residência, iniciaram os atendimentos em Psicoterapia de Orientação Analítica, que me propiciaram passar a buscar entender e conhecer ainda mais as pessoas como um todo dinâmico. Concluí minha residência na UFPel em fevereiro de 2015 e, de lá para cá, surgiu a oportunidade de ser preceptora no programa de Residência Médica em Psiquiatria na cidade de São Lourenço do Sul, e também de contar com alunos da graduação em Medicina da UFPel acompanhando meus atendimentos no SUS em Pelotas. Paralelamente, a APRS inaugurou, em 2015, uma Seccional em Pelotas. Foi quando vi a oportunidade, através do Dr. Matias Strassburger, de trazer aulas do CELG para cá. Montei uma turma junto com alguns profissionais e, desde março, estamos sistematizando nossos estudos em Psicoterapia de Orientação Analítica quinzenalmente.
Estou muito contente e entusiasmada com a Psiquiatria, não me vejo em outra especialidade ou profissão. E empolgada com a Psicoterapia de Orientação Analítica, buscando aprofundar os conhecimentos. E questiono: Olga, para você, que já tem uma caminhada sólida na Psiquiatria, vale a pena todo o investimento mental, pessoal, profissional e até financeiro que se faz? Olga - A Psiquiatria entrou na minha vida pelas mãos dos professores Paulo e Fernando Guedes, do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, entre outros, quando nossa ATM (de cuja diretoria eu fazia parte) nos ofereceu um curso de Psiquiatria Dinâmica no primeiro ano da faculdade. Foi apaixonante vislumbrar que era possível tornar os comportamentos humanos mais compreensíveis. Mas a escolha profissional em si ocorreu no sexto ano, depois de experimentar todas as especialidades e considerar especialmente a Pediatria e a Medicina Social. Na época, não tínhamos Medicina de Família e Comunidade. Hoje, acredito que poderia ter feito essa especialidade. São eles os que mais fazem Psiquiatria dentro do contexto de vida dos pacientes. E muitos o fazem muito bem. Escolhi a Psiquiatria porque percebi que podia, através dela, integrar todos os meus interesses científicos, humanísticos e até políticos. E, ao longo de minha carreira, tive a oportunidade e felicidade de juntar todos os meus interesses me tornando uma psiquiatra de crianças e adolescentes e famílias que trabalha muito na prevenção. Elisa - Durante a conversa, a Nathália perguntou à Olga no que ela poderia contribuir à visão de um psiquiatra iniciante, que, apesar de se ver precisando trabalhar onde há disponibilidade (hospital, CAPS, consultório), tem como objetivo focar em apenas uma destas áreas. Olga, em contrapartida, quis ouvir
de Nathália como ela imagina ser possível integrar aspectos relacionais e sociais em nossa atuação. Olga - Interessante, ouvi diferente o que a Nathalia disse. Entendi que ela é uma jovem psiquiatra que se interessa por conhecer todas as áreas de atuação da Psiquiatria, com particular interesse na Psicoterapia Dinâmica, com o grande mérito de estar organizando o curso que o CELG está oferecendo atualmente em Pelotas. Como trabalha com clínica e psicoterapia, me perguntou: “Vale a pena o investimento em formação psicodinâmica?”. Digo que sim, sem dúvida. É uma base fundamental, que eu mesma tive em minha formação e que me ajuda a compreender e trabalhar com os indivíduos, casais e famílias, além de sistemas maiores. Digo também que, quanto mais se sabe, mais se sabe que não se sabe... E que é importante aprofundar o conhecimento também em outras áreas, como a biológica e as diferentes modalidades psicoterapêuticas – entre elas a cognitivo-comportamental e os conceitos sistêmicos de que as relações interpessoais estão associadas com o surgimento e a manutenção dos problemas humanos e com os quais a psicoterapia familiar pode ajudar. O que não cheguei a dizer ainda é que penso que deveríamos começar as intervenções psicoterápicas sempre com o método mais natural, na nascente relacional, no casal e/ou na família. Se os sintomas não se esbatem, então sim, passar para as abordagens mais específicas, as individuais, que incluem as várias modalidades psicoterápicas, medicamentos e outros abordagens biológicas. Aliás, em termos de prevenção, se o sistema de saúde atendesse a mãe que vem trazer seu filho sempre solicitando (ou mesmo exigindo) que viesse acompanhada de um adulto apoiador, evitaríamos muitos problemas da infância. É notório que mães/famílias com poucos recursos de apoio e rede social são aquelas nas quais os problemas se tornam mais graves e crônicos. Recente pesquisa de
meu grupo que acompanha longitudinalmente famílias na comunidade há 15 anos também demonstra isso. Também falamos sobre o desejo de Nathalia de ensinar, que foi e continua sendo minha paixão. Ensinar, entre muitas outras coisas, nos exige continuar sempre a estudar e aprender. Nathália - Acredito que o tratamento pessoal e o aprofundamento dos estudos nas diversas áreas contribui para nos tornamos melhores profissionais, conseguirmos enxergar as diversas nuances do paciente, sua família e seu contexto. Elisa- De fato, a psiquiatria abrange uma gama bastante diversificada de linhas e abordagens. Manejos clínicos medicamentosos, psicoterapias de inúmeras orientações e assim por diante. Aproveitando a pergunta da Olga sobre a integração das diversas áreas, seria interessante ouvir um pouco mais de suas visões a respeito e qual o papel da criatividade nesta integração. Olga - Vivemos num mundo que está cada dia mais assustador com o aprofundamento, em nível internacional e local, do fundamentalismo e das guerras (inclusive as guerras simbólicas, como o jornalista Juremir Machado cunhou nosso processo brasileiro). Em nossa sociedade, a profunda divisão social e política, com muita dificuldade de diálogo, com rupturas entre amigos e familiares por diferenças políticas, é um sintoma muito preocupante. Tudo isso nos afeta e agrava sintomas. É semelhante ao que se vê nas famílias multiproblemáticas. Para trabalhar com problemas complexos, organizados em sistemas complexos, temos que lançar mão simultaneamente, mas disciplinadamente e em rede, de muitos recursos. E não existe um protocolo exato de como fazer isso.
Existem mapas sistêmicos, descrição de terapias multissistêmicas, mas cada um de nós precisa fazer a sua integração pessoal de todos os recursos disponíveis. Isso começa abordando cada situação com abertura e curiosidade, buscando respostas no processo de conhecer os problemas e as capacidades dos envolvidos. Nathália - Concordo com a Olga no que diz respeito à integração dos conhecimentos. Escolhemos uma
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especialidade bastante ampla, com diversos “braços”, e acredito que podemos lançar mão de cada um deles para melhor atender nossos pacientes. Quanto mais os vemos como complexos e não isolados, acredito que os tratamos de forma mais efetiva e duradoura. Inclusive, depois das colocações da Olga, fiquei instigada a me inteirar mais a respeito da Terapia Sistêmica. E, quando penso na realidade atual para o psiquiatra recém-formado ou iniciante, acredito que o trabalho em equipe e em rede faz diferença! Principalmente nos casos mais difíceis, complexos, que envolvem muito mais do que uma doença psiquiátrica com um código, mas que também envolvem uma questão social, familiar, econômica e política, algumas vezes até judicial... Frequentemente estamos tentando dar conta das nossas demandas (trabalhar bastante para pagar nossas contas, por exemplo, o que é uma realidade no início da carreira) e vamos precisar ter com quem contar para poder fazer um bom trabalho, um bom atendimento, mais completo, que leve em consideração a totalidade daquela pessoa que nos busca. Elisa - Alguns assuntos, temas e conceitos dentro da Psiquiatria evoluíram muito, como conceitos de família, gênero, sexualidade. Pedimos que vocês falem sobre como enxergam essas mudanças e o que ainda imaginam que pode avançar, além de quais outros assuntos ainda existem como possíveis tabus entre nós psiquiatras e como abordá-los. Olga - Essa é uma pergunta que me coloca em um lugar de muita esperança. Eu sou de uma geração da Medicina da UFRGS em que o hino era o Nicodemus, que dizia que “Medicina não é coisa para menina”. Andamos muito desde então. Hoje, as turmas têm 50% de mulheres. Claro que também é porque é muito mais difícil ganhar muito dinheiro sendo médico hoje do que era naquela época. Por outro lado, não existe médico jovem desempregado. Talvez seja a única profissão em que não há desemprego, ainda que haja subemprego, com más condições de trabalho e baixa remuneração. As mulheres já provaram sua competência em todas as áreas, mas ainda não conquistaram suficiente espaço na sociedade. Também mudou muito o papel do pai na família. Hoje os homens compreenderam que as mulheres não estão empurrando a cozinha e o cuidado com os filhos para eles: são atividades maravilhosas que elas querem compartilhar com eles. Eles sabem agora que são espaços privilegiados de intimidade e criatividade. Mas não é ainda a maioria das famílias que se reorganiza de forma mais equitativa no papel de homem e de mulher. Outras coisas como as novas formas de ser
família decorrentes da possibilidade legal do divórcio e recasamento hoje parecem ser bem aceitas socialmente. Na minha juventude, mulheres divorciadas eram muito discriminadas e seus filhos sofriam na escola. Imaginem o percentual de depressão e ansiedade associados com esses fatores relacionais. Quanto à homofobia, não tenho certeza de que já esteja tão resolvida como às vezes queremos acreditar, embora tenhamos feito muito progresso, inclusive com ajuda da Psiquiatria, ao tirar o cunho patológico de diagnóstico psiquiátrico. Ainda há muitos transtornos psiquiátricos associados com os dilemas relacionados a “sair do armário”. O que dirá em outras variantes de gênero como a transsexualidade! Outra questão na qual temos feito progressos é na parentalidade de casais homossexuais, inclusive com o reconhecimento oficial das famílias multiparentais, resultado da união de três adultos para gerar uma criança. Tenho acompanhado uma família com essa configuração que gerou uma menina muito saudável, hoje com dois anos de idade. A dinâmica familiar é complexa, mas muito amorosa e bem organizada. A Psiquiatria abrange todo o comportamento do ser humano que, evidentemente, é muito afetado pelo seu meio ambiente. Se não nos atrevermos a sermos criativos e não ousarmos inventar, não sei o que será da humanidade nesta era. Novamente, temos muitos focos de guerra além da comprovação de nossa responsabilidade sobre o aquecimento global e seus riscos para a vida no planeta Terra. O psiquiatra tem muita responsabilidade em relação ao futuro porque trabalha com mudanças de atitude. Cada um de nós tem que acreditar que é capaz de inventar. Inventar novos programas preventivos. E também inventar em cada caso. Ao mesmo tempo que são todos iguais, porque os dramas humanos são mais iguais que diferentes, cada caso é extremamente particular e cheio de nuances diferentes. Essa é a maravilha de nosso
trabalho. Agradeço todos os dias a oportunidade de ser médica e de ser psiquiatra. Nathália - Não vivi, ainda, tantas mudanças como a Olga, mas de 2006, quando iniciei a faculdade, até hoje, já vejo muitas modificações no que diz respeito aos tabus. Percebo que as pessoas estão mais abertas a respeitar o diferente. A aceitação da igualdade da mulher, da homossexualidade e transsexualidade ainda não é vivenciada na sua totalidade, mas vejo as pessoas mais respeitosas com estes temas, mais curiosas e mais bem informadas. E nisso, assim como a Olga, vejo ganhos. Penso que para levar em consideração esses “novos” temas, não vamos poder colocar de lado a história da colonização, o acesso à educação e à cultura, que funcionam de maneira bem diversa nos diferentes locais.
Percebo que nas regiões onde o acesso à cultura, renda e educação é menos complicado, as pessoas se sentem mais seguras para vivenciar diariamente a sua particularidade. Porém, em locais com extrema disparidade de renda, abandono escolar, subemprego, falta de acesso à saúde (inclusive mental) e sistemas com características coronelistas, fica mais complicado vislumbrar, ao menos em curto prazo, naturalidade de aceitação e respeito com o diferente. No entanto, acredito que, como psiquiatras, temos um papel importante de ajudar as pessoas a pensar. E fazê-las pensar não só a respeito de si, mas a respeito de seus preconceitos também! Acho que, dessa maneira – e com criatividade, como disse a Olga –, contribuiremos para acelerar essa mudança.
INSTITUIÇÕES PSIQUIÁTRICAS GAÚCHAS
Universidade Federal de Pelotas Programa de Residência Médica em Psiquiatria da UFPel completa 44 anos
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Programa de Residência Médica (PRM) em Psiquiatria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) funciona vinculado ao Departamento de Saúde Mental (DSM) da Faculdade de Medicina. Além da residência médica, o DSM é responsável por ministrar seis disciplinas para a graduação: cinco para a Medicina (Psicologia Médica I, II, III e IV e Psiquiatria) e uma para o Direito (Psicologia Jurídica). O curso de Psicologia Médica, idealizado pelos professores Darcy Abuchaim e David Zimmermann, teve início em 1968 e é desenvolvido até os dias atuais. Sofreu modificações no decorrer dos anos, não mudando, porém, seu sentido básico: um melhor relacionamento entre o médico e o paciente. A Residência Médica em Psiquiatria foi criada em 1972. É o mais antigo Programa de Residência Médica da UFPel e já formou mais de 140 psiquiatras. Os profissionais egressos atuam em diversos estados e grande parte deles mantém contato com os preceptores. Atualmente, dez psiquiatras atuam no DSM como docentes (três doutores, seis mestres, sendo duas especialistas em Psiquiatria da Infância e Adolescência), além de quatro psiquiatras que atuam como servidores médicos (uma doutora, um mestre, uma especialista em Dependência Química e uma psicanalista), um psicólogo (especialista em Psicoterapia Breve) e uma Assistente Social. Contamos também com a colaboração de outros profissionais, como assistentes sociais das UBS, psiquiatra e neurologistas do Hospital Escola/ UFPel, equipes do hospital psiquiátrico conveniado e do CAPS. A chefia do DSM está ao encargo da Profa. Laura Sigaran Pio de Almeida e o atual Supervisor do PRM em Psiquiatria é o Dr. Joaquim Ignácio Silveira da Mota Neto. Os médicos residentes desenvolvem atividades tanto em setores do sistema de saúde próprio da FaMed/UFPel (Ambulatório de Saúde Mental, Unidades Básicas de Saúde, Hospital Escola) quanto em serviços conveniados (Hospital Espírita de Pelotas e CAPS AD).
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Os residentes de primeiro ano realizam atendimento a pacientes internados no hospital psiquiátrico e acompanham a rotina hospitalar. Também atendem ambulatório de adultos, para acompanhamento dos pacientes egressos e participam da triagem semanal do ambulatório. Residentes de segundo e terceiro anos dedicam maior carga horária aos atendimentos ambulatoriais de clínica psiquiátrica e psicoterapia psicodinâmica. Os ambulatórios são divididos por faixa etária, não por diagnósticos. No segundo ano, além de adultos, passam a atender crianças e adolescentes. Desenvolvem ainda atividades de reabilitação: oficinas de criação coletiva na comunidade e coordenação de grupos de pacientes com transtornos mentais crônicos. No terceiro ano, além dos ambulatórios, atendem consultorias no Hospital Escola e nas UBS, prestam atendimento a pacientes com transtornos por uso de substâncias no CAPS AD e têm um mês para estágio optativo. Todos os residentes realizam plantões no pronto atendimento psiquiátrico do Hospital Espírita de Pelotas. Ao longo de todo período, o residente é acompanhado por um supervisor individual, com rodizio a cada seis meses. Além disso, participa semanalmente de reuniões de equipe, supervisões coletivas e reuniões clínicas, bem como de diversos seminários teóricos. Outras atividades realizadas incluem o projeto Cinema Paradiso (apresentação e discussão de filmes com convidados), a Telepsiquiatria (reunião científica mensal com participação online de diversas instituições do país) e reuniões científicas do Departamento de Psiquiatria da Associação Médica de Pelotas. Anualmente, são disponibilizadas cinco vagas para ingresso de novos residentes. O processo seletivo utiliza em sua primeira etapa a prova da AMRIGS. Endereço Av. Duque de Caxias, 250 – 2o andar Bairro Fragata - CEP 96030-002 Pelotas, RS Telefone (53) 3221 1666 – Ramal: 235 E-mail: vlmello@ufpel.tche.br (secretária Vera Lucia Mello)
SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS RARAS
Síndrome de Stendhal “A beleza nada mais é do que o começo do terror, que ainda somos quase capazes de suportar, e que impressiona por serenamente nos desdenhar para nos destruir.” Rainer Maria Rilke, poeta alemão
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tália, 1989: a psiquiatra Graziela Margherini, em um hospital de Florença, percebe uma quantidade significante de pacientes visitantes da cidade atendidos na emergência psiquiátrica ou até admitidos para internação na última década com sintomas somáticos de tontura, palpitações, alucinações, desorientação, desrealização e exaustão física. Todos trazidos diretamente de dentro das galerias de arte da cidade. Intrigante fato em comum? Como fator precipitante, os pacientes apresentavam personalidades impressionáveis e sensíveis e o estresse de estarem viajando. O tratamento: sair da cidade de Florença e retornar à sua rotina cotidiana. Margherini denominou essa apresentação de Síndrome de Stendhal. Henri-Marie Beyle, conhecido como Stendhal, foi um renomado escritor francês que viveu parte de sua vida na Itália. Em uma visita à Florença, Stendhal descreveu um conjunto de vivências estranhas que o tomaram ao deparar-se com obras primas de pintores e escultores: sintomas físicos, sensação de grande emoção, seguida de entorpecimento, desorientação têmporo-espacial momentânea, sudorese e desrealização. Por este relato, teve seu nome atribuído à síndrome. A Síndrome de Stendhal foi então caracterizada como a ocorrência de distorção da percepção da realidade, distúrbios emocionais e crises de pânico ou ansiedade com somatizações manifestadas por viajantes ao depararem com uma obra de arte de grande e notória beleza. Os sintomas descritos incluem taquicardia, dor torácica, fraqueza, dor abdominal, ansiedade e confusão. Os acometidos costumam estar viajando
sozinhos ou em dupla, ser relativamente jovens, sensíveis e impressionáveis e ter entrado em contato com magníficas obras de arte sem a mediação de um guia profissional. Não raro observamos a síndrome de Stendhal em análise retroativa de outros personagens da história. Fiódor Dostoiévski, escritor russo, apresentou sintomas compatíveis com a Síndrome de Stendhal durante viagem a Genebra em 1864. Ele e a esposa fizeram uma parada na cidade de Basileia para apreciar de perto a famosa pintura “Cristo Morto”, de Hans Holbein, e, segundo relatos de sua esposa, Dostoiévski passou a portar-se estranhamente enquanto fitava a obra. O escritor sentiu-se paralisado, e enquanto contemplava a pintura, manteve olhar temerosamente fixo, como uma perplexidade em estado de êxtase por tempo prolongado. Sua respiração encurtou e o sentimento de uma emoção profunda o tomou, até que sua esposa o conduziu para fora da sala. A experiência o impressionou tanto que foi descrita em seu livro “O Idiota”. Pensa-se que outros personagens históricos apresentaram a síndrome de Stendhal e alguns tentaram definir a experiência, como fez o poeta alemão Rainer Maria Rilke na frase citada no início do texto. Já Immanuel Kant, filósofo, na tentativa de entender o que se passava com ele, descreveu: “A contemplação de objetos esteticamente estimulantes induz uma alternância rápida entre atração e repulsão pelo mesmo objeto. Chega-se num ponto onde a imaginação excede-se, transborda e, neste ponto, a imaginação chega a um abismo no qual teme perder-se”. A tentativa de descrever seus sentimentos em frases que quase podemos chamar de confusas nos esclarece o que já imaginávamos: uma verdadeira obra prima incute sentimentos indescritíveis e tem o potencial de abalar corpo e mente. A arte impressiona, inspira, emociona, empolga e, no caso dos mais sensíveis, extrapola, incorpora, decompõe para compor.
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D R O P S SELEÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS RECENTES 1) Effect of Questions Used by Psychiatrists on Therapeutic Alliance and Adherence
British Journal of Psychiatry - Julho/2016 – Thompson L et al.
Avaliou a relação entre a forma dos psiquiatras fazerem perguntas aos pacientes e sua influência sobre a aliança terapêutica e a adesão ao tratamento. Apenas questões do tipo declarativo (isto é, que possuem a sintaxe de uma frase declarativa, que informa ou declara algo, como “Você está dormindo bem?” ou “Você está contente com essa situação?”) foram preditoras de maior adesão ao tratamento e de percepções positivas acerca da relação terapêutica. Perguntas chamadas de “wh- questions” (aquelas perguntas que possuem uma expressão de questionamento – quem, o quê, quando, por que ou como – já no início da frase) foram preditoras de pior percepção da relação terapêutica. Como conclusão, os autores sugerem dar prioridade às perguntas declarativas, que podem ser entendidas como sinal de empatia e aproximação. 2) Optimal Duration of Risperidone or Olanzapine Adjunctive Therapy to Mood Stabilizer Following Remission of a Manic Episode: A CANMAT Randomized Double-blind Trial
Molecular Psichiatry – Agosto/2016 – Yatham LN et al.
Avaliou o período ideal de continuação da terapia adjuvante ao estabilizador de humor com antipsicótico atípico após a remissão de um episódio maníaco a fim de reduzir o risco de novos episódios de humor. 159 pacientes com transtorno bipolar tipo I com episódio maníaco recente e tratados com Lítio ou Valproato associado a Risperidona ou Olanzapina foram acompanhados por 52 semanas após randomização para uma das três seguintes condições: (1) descontinuação da Risperidona ou da Olanzapina e substituição por placebo na entrada no estudo, (2) descontinuação da Risperidona ou da Olanzapina e substituição por placebo 24 semanas após a entrada no estudo ou (3) continuação da Risperidona ou da Olanzapina durante todo estudo. Os resultados sugeriram que o uso de Risperidona ou Olanzapina associado ao estabilizador de humor durante 24 semanas depois de um episódio maníaco é benéfico. Após 24 semanas, é duvidoso: a Risperidona não reduziu o risco de recaída, enquanto a eficácia da Olanzapina permaneceu incerta. 3) A 30-Year Study of 3 Generations at High Risk and Low Risk for Depression
Jama Psychiatry - Setembro/2016 - Weisman MM et al.
A transmissão de risco de depressão além de duas gerações é pouco estudada. Essa coorte retrospectiva longitudinal examinou, entre 1982 e 2016, avós, pais e netos em relação a seu estado de saúde mental. Foi visto que netos com história familiar dupla (um dos pais e um dos avós) de depressão representavam o grupo sob maior risco de também apresentar depressão. Isso demonstra a importância de avaliar amplamente o histórico psiquiátrico familiar, inclusive com o objetivo de oferecer intervenções precoces para os indivíduos do grupo de risco elevado.
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4) Comparative Effectiveness of Cognitive Therapy and Dynamic Psychotherapy for Major Depressive Disorder in a Community Mental Health Setting - A Randomized Clinical Noninferiority Trial Jama Psychiatry - Setembro/2016 - Gibbons MBC et al. Os investigadores randomizaram 237 pacientes com diagnóstico de depressão para tratamento de 16 sessões, ao longo de 5 meses, com terapia cognitiva ou psicoterapia psicodinâmica. O desfecho foi a mudança na pontuação da escala Hamilton de 17 itens. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos, sendo ambas consideradas equivalentemente efetivas no tratamento da depressão maior. 5) Association of Hormonal Contraception With Depression
Jama Psychiatry - Setembro/2016 - Skovlun CW et al.
Coorte dinamarquesa que buscou investigar se o uso de contracepção hormonal era associado com uso posterior de antidepressivo ou diagnóstico de depressão. Mais de 1 milhão de mulheres foram acompanhadas entre 2000 e 2013. Foram comparados casos de mulheres que não faziam uso de contraceptivos hormonais com mulheres expostas a diferentes tipos de contracepção hormonal. O uso de contracepção hormonal, especialmente entre adolescentes, foi associado a posterior utilização de antidepressivos e a um primeiro diagnóstico de depressão, sugerindo que a depressão é um potencial efeito adverso do uso de contraceptivo hormonal. 6) Breastfeeding and Mental Health in Adulthood: A Birth Cohort Study in Brazil
Journal of Affective Disorders - Setembro/2016 – Loret de Mola C et al.
Coorte de Pelotas avaliou a relação entre aleitamento materno e desfechos psiquiátricos. A informação sobre o aleitamento foi coletada em 1982, no início da vida de quase 6000 crianças, e os desfechos psiquiátricos foram avaliados 30 anos depois. Os transtornos avaliados foram depressão maior, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de ansiedade social. A chance de ter um caso mais grave de depressão foi menor entre aqueles amamentados no peito por 6 ou mais meses. Em relação aos demais desfechos avaliados, não houve diferença estatisticamente significativa. 7) A Cluster Analytic Approach to Identifying Predictors and Moderators of Psychosocial Treatment for Bipolar Depression: Results from STEP-BD
Journal of Affective Disorders - Outubro/2016 – Deckersbach T et al.
Avaliação de 135 participantes do estudo STEP-BD em busca de preditores e moderadores da resposta a tratamentos adjuvantes à farmacoterapia para depressão bipolar. Os tratamentos estudados foram: (1) psicoterapia intensiva (30 sessões ao longo de 9 meses de três diferentes tipos de psicoterapia: cognitivo-comportamental, focada na família e interpessoal e do ritmo social) e (2) cuidado colaborativo (3 sessões ao longo de 6 semanas de tratamento psicossocial, focado em psicoeducação). A análise dos dados dividiu os participantes em dois grupos: (1) menos recorrentes/graves e (2) crônicos/recorrentes. Os pacientes menos recorrentes/ graves tiveram maior propensão a atingir recuperação através do cuidado colaborativo. Já a psicoterapia intensiva propiciou uma recuperação mais rápida para os pacientes crônicos/recorrentes. Os autores enfatizam a importância de distinguir os pacientes de acordo com sua história clínica para possibilitar uma indicação de tratamento baseada no prognóstico diferencial.
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Em Julho de 2016, foi publicado no JAMA Psychiatry um trabalho inovador sobre a trajetória do TDAH. Convidamos um dos autores, Thiago Rocha, associado da APRS, para descrever o artigo em nosso Jornal. Jama Psychiatry - Julho/2016 – Caye A, Rocha TB, Anselmi L, Murray J, Menezes AM, Barros FC, Gonçalves H, Wehrmeister F, Jensen CM, Steinhausen HC, Swanson JM, Kieling C, Rohde LA
Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder Trajectories From Childhood to Young Adulthood: Evidence From a Birth Cohort Supporting a Late-Onset Syndrome.
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TDAH foi sempre descrito como um transtorno mental da infância. Mesmo quando relatos apontaram sua ocorrência em adultos, esse diagnóstico persistiu sendo caracterizado como um quadro crônico com início na infância. Apesar de controvérsias sobre a idade mais adequada para o início dos sintomas, sempre houve consenso na comunidade científica sobre a necessidade de que os sintomas iniciassem no período da infância para o correto diagnóstico. Um estudo recente contrapôs tal concepção. Acompanhando indivíduos até os 38 anos de idade, Moffitt e col. demonstraram que, mesmo apresentando taxas de prevalência de TDAH na infância e na idade adulta similares à literatura internacional, as trajetórias desses diagnósticos não se sobrepunham. Os autores mostraram que, entre os indivíduos diagnosticados com TDAH na idade adulta, 87% deles não tinham o diagnóstico de TDAH na infância, ao passo que, entre aqueles identificados com TDAH na infância, 85% desses não persistiam tendo o diagnóstico na vida adulta. Tais achados tiveram sensível impacto sobre a comunidade científica. Em editorial a respeito dos achados de Moffitt e col., a expressão “Everything you know is wrong” (Tudo o que você sabe está errado) foi usada para ressaltar o caráter explosivo do estudo, considerando mandatória a replicação de tais resultados a fim de confirmar ou refutar essa nova hipótese. Dentro desse cenário, o estudo de Caye e colaboradores se propôs a avaliar se os resultados de Moffitt e col. poderiam ser replicados em uma amostra brasileira. Para isso, foram analisados dados provenientes da Coorte de Pelotas de 1993, que acompanha todos os nascidos vivos nessa cidade naquele ano. Dos 5.249 nascidos vivos, 81,3% foram acompanhados até os 18/19 anos de idade. Para fins de comparação e análise, os indivíduos foram agrupados entre aqueles com diagnóstico de TDAH na idade adulta (TDAH-
-A); aqueles com diagnóstico de TDAH na infância (TDAH-I); e aqueles com diagnóstico de TDAH-A mas sem outras comorbidades psiquiátricas (TDAH-A-SC). Os autores identificaram prevalências de 8,9%, 12,2% e 6,3% para TDAH-I, TDAH-A e TDAH-A-SC, respectivamente. Apesar da apresentação mais comum ter sido o subtipo desatento nos grupos, enquanto o TDAH-I foi mais frequente em homens, o TDAH-A teve maiores taxa em mulheres. O TDAH mostrou-se associado a diversos marcadores de prejuízos na vida adulta (como acidentes de trânsito, crimes violentos e tentativas de suicídio) nos três grupos, mesmo no grupo TDAH-A-SC, reafirmando a contribuição independente do TDAH para esses desfechos negativos. Em relação à trajetória, similarmente aos dados de Moffitt e col., entre os indivíduos com TDAH-I, apenas 17,2% foram identificados como portadores de TDAH-A, ao passo que, entre os com diagnóstico de TDAH-A, 87,4% não apresentavam esse diagnóstico na infância. A taxa de TDAH-I foi ainda menor naqueles com TDAH-A-SC, com apenas 11,6% dos indivíduos com esse diagnóstico prévio. Esses resultados contradizem a premissa que o TDAH em adultos é necessariamente uma continuação do transtorno da infância, uma vez que a taxa de persistência na vida adulta foi de apenas 17,2% e a maior parte dos diagnósticos de TDAH-A foram do tipo início tardio. Tais achados sugerem que o TDAH de início tardio pode representar uma entidade nosológica distinta, com trajetória desenvolvimental diferente do transtorno da infância. Além disso, indicam que, independentemente da idade de aparecimento dos sintomas, o TDAH é um diagnóstico com validade clínica, marcado por prejuízos importantes na vida adulta. Tendo em vista que outros transtornos neurodesenvolvimentais também podem ter início tardio, como a esquizofrenia, novos estudos serão fundamentais para elucidar a consistência e relevância clínica do constructo “TDAH de início tardio” no campo dos transtornos mentais.
A ARTE DOS PSIQUIATRAS
Psicomotores unidos pelo rock’n roll
Show na Jornada do CELG 2016, com participação especial do psiquiatra Diego Rebouças na bateria
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banda Psicomotores foi formada em 2010, quando seus integrantes se conheceram nos estágios de internato e residência entre a Santa Casa e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Hoje, a Psicomotores conta com quatro psiquiatras e um neurologista. O baterista Márcio Schneider Medeiros é a parte motora da banda. A raíz do repertório é o rock, especialmente as vertentes indie, punk e hard rock. Os integrantes conciliam as atividades em seus consultórios e outros empregos à dedicação à música: “Acreditamos que a música ajuda a ter serenidade ao lidar com os desafios do dia a dia, melhorando nosso desempenho na arte da Medicina”. FORMAÇÃO Felipe Bauer – Vocalista Médico pela UFCSPA Psiquiatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre Especialista em Psicoterapia de orientação analítica pelo CELG Mestre em Psiquiatria pela UFRGS Trabalha na Prefeitura de Porto Alegre Vitor Breda - Guitarrista Médico pela UFRGS Psiquiatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica pelo CELG Mestre em Psiquiatria pela UFRGS e Doutorando em psiquiatria pela UFRGS. Vauto Alves Mendes – Guitarrista Médico pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
Psiquiatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica pelo CELG Doutor em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela UFRGS Trabalha no Grupo Hospitalar Conceição Jader Piccin - Baixista Médico pela UFCSPA Psiquiatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre Cursando Psiquiatria da Infância e Adolescência no HCPA Márcio Schneider Medeiros - Baterista Médico pela UFRGS Neurologista pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Mestre em ciências médicas pela UFRGS Trabalha no Grupo Hospitalar Conceição
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ASSOCIADOS
Novos sócios fortalecem a psiquiatria gaúcha
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missão da APRS nos seus quase 80 anos de trajetória tem sido a de congregar os médicos especialistas em Psiquiatria e estimular o progresso e a difusão da especialidade. A associação de novos membros tem sido uma das metas da nova diretoria na gestão 2016-2018, objetivo que vem alcançando sucesso. Atingimos a marca de quase 100 novos sócios em um período de dez meses, tendo sido realizadas quatro reuniões de aprovação de novos membros, tarefa capitaneada pela Dra. Ana Cristina Tietzmann, Diretora secretária adjunta do Exercício Profissional. Confira a listagem validada pela Associação. Efetivos
Residentes
Adriana Bán Jacobsen Alexandra Pereira Bender Nabinger Aline Andre Rodrigues Andressa Barroso Aguiar Betina Mariante Cardoso Camila Casagrande Biazuz Carolina Casanova Meneghetti Caroline Ribeiro Daniel Heideman Moura Diego Barreto Rebouças Edgar Arrua Vares Francisco Grandene Botti Gabriel Borges Schwanck Graziela Smaniotto Rodrigues Gustavo Grazziotin Traversa Jorge Gustavo Azpiroz Filho Leonardo Librelotto Rubin Leonardo Salvador Gaspar Leonel Tesch Formiga Lívia Hartmann de Souza Liziane Delazzeri Luciana Lopes Moeira Luciana Maria Berardi Cioffi Marianna de Abreu Costa Miriam Oliveira Tavares Olivan Diniz dos Santos Moraes Rafael Correa da Silva Santos Rafael Goulart Rafael Mondrzak Ramiro Ronchetti Raquel Forginarini Saldanha Sérgio Luis da Silva Lopes
Alex Vicente Spadini Aline Damé Vogg Allan Maia Andrade de Souza André Luiz Schuh Teixeira Arthur Dondonis Daut Augusto Casa Vieira Augusto Martins Lucas Bittencourt Beatriz Capparros Yoneyama Betina Lejderman Bruna Lopes Ferraz de Avelar Carlos Goi Junior Caroline Fredi Almeida Cauê Attab Negrinho César Antônio Caldart Christina de Medeiros Cíntia Paola de Scopel Clarissa Pereira de Albuquerque Cleojonas Cavalcante do Nascimento Cristiane dos Santos Machado Daphne Ronacher Dantas Dianna Monete dos Santos Eduardo Borella Monteiro Eduardo Mazzetti Subtil Elenara Knob de Freitas Elisa lima Boesio Érico Baumhardt Borowsky Filho Eveline Bodignon Everton Franco Silva Flávia Coutinho de Freitas Guilherme Leal Moreno Ferro Gustavo Régis de Menezes Pires Henrique Borges de Nascimento Neto Julia Pinto Trindade Lartiza Kelli Beraldi Laura Maria Brenner Ceia Mariano da Rocha Luciane Padilha Hernandes Montedo
Aspirante Roberto Fábio Lehmkuhl
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Marcelo Trombka Marina Cardoso de Souza Marina Durante Rodolfo Marina Pacheco Coelho Matheus Xavier Provin Nadja Magdalena Köhler Dal Ri Odemir Bordin Junior Pedro Lombardi Beria Rafael Arceno Rafael Bakes da Rosa Rafael Franco Rafael Rodrigues Oliveira Renata Silveira Heine Robson José Ramos Lima Rúbia Mendes Costa Sousa Saulo Maia Martins da Silva Sayra Catalina Coral Castro Thircy Dhamer Vanina de Lima Monteiro Vinicius de Siqueira Afonso Virginia Guarnieri Camatti
Correspondente Débora Piva Cláudia Carrioni
Jubilado João Alberto Barbosa Pinto Osório
Acadêmicos Roberta Catherine Schmidt Zorzetti Daniel Luccas Arenas Daniel Prates Baldez
CAPACITAÇÃO
Parcerias fortalecem laços da APRS com instituições reconhecidas
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isposta a fortalecer os laços com instituições reconhecidas da área da Saúde e o desenvolvimento científico dos associados, a diretoria da APRS firmou importantes parcerias no decorrer de 2016. Em maio, foi oficializada a primeira delas para o Triênio 2016-2018, sendo o acordo firmado com a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Durante a assinatura do termo, representando a APRS, estavam o presidente, Flávio Shansis, e os diretores Matias Strassburger, Anahy Fagundes Dias da Fonseca, Eduardo Trachtenberg, Fernanda Lia de Paula Ramos, Andreia Sandri, Luciano Isolan e a Ana Cristina Tietzmann. A presidente da SPPA, Maria Lucrécia Scherer Zavaschi, estava acompanhada do diretor científico da entidade, Zelig Libermann, e do diretor do NIA, Rui de Mesquita Annes. Já no dia 7 de junho foi a vez de selar um acordo com a Sociedade Brasileira de Psicanalise de Porto Alegre (SBPdePA ), momento que contou com a presença da presidente da instituição, a psicóloga Ana Paula Terra Machado, e um membro da Diretoria, também sócio da APRS, Dr. Celso Halperin. Em reunião ocorrida no dia 15 de junho, foi oficializada parceria entre a Associação e o Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP). Estiveram presentes o Dr. Eduardo Daura Ferreira, diretor clínico do HPSP, e os médicos Gustavo Soares e Mírian Cohen, da direção de Ensino e Pesquisa do Hospital, todos sócios da APRS. “Temos a certeza que essa aproximação resultará em engrandecimento científico aos sócios de ambas as instituições”, comentou o presidente da APRS. O que preveem os acordos:
Parceria com a SPPA - Criação de um grupo de estudos para o 30º Ciclo de Avanços da APRS sobre Diagnóstico e Intervenção Terapêutica; - Realização de atividades em conjunto, em datas alternadas, nas sedes da APRS e da SPPA; - Discussão de casos clínicos em conjunto e de forma periódica; - Apoio à Comissão APRS Supervisora para Supervisão em Psicoterapia de Orientação Analítica. Parceria com o HPSP - Um atividade de estágio no HPSP, por tempo determinado, em áreas escolhidas, aberta a todos os sócios da APRS, que será intitulada “De volta pra casa”; - Uma campanha de valorização da mais antiga instituição psiquiátrica de nosso estado, com o titulo “O São Pedro Vive!”, em parceria com a Comissão APRS Histórica, estimulando, entre outras ações, a visitação histórica ao São Pedro e a desmistificação daquela instituição no público leigo; - Atividades Culturais chamadas “APRS/São Pedro Cultural”, juntamente com a APRS Cultural, em locais fora do espaço do Hospital e da APRS, com a participação de psiquiatras e membros da cultura local; - Participação da APRS na Jornada do HPSP, que ocorreu nos dias 13 e 14 de outubro. Parceria com a SBPdePA - Realização de um Simpósio anual téorico-clínico com relevância para a prática de nossos consultórios.
Revista TRENDS Terceira Edição 2016 - Trends in Psychiatry and Psychotherapy Volume 38 Edição 3 - Julho / Setembro 2016
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