JORNAL DA APRS Nº 7 | Dezembro de 2017
Congresso Gaúcho em Bento supera todas as expectativas e marca época
TALENTO ALÉM DA CIÊNCIA
Leviana
Dos males inteligíveis
O
rnando a manhã, surge uma grinalda. O enfeite do tempo azul outonal me perturba. A balzaquiana, dona de atributos, digamos que apreciáveis, lança o inquérito da pureza. Descortez, mas
pura. – Ela é leviana? Um tanto surpreso, pergunto-me: que incrível percepção lhe permite, num átimo, estabelecer tal juízo. Minha companheira gorda, negra e silente, não tem nem como suspirar sua eventual indignação. Inerte, assim permanece diante do entusiasmo pueril da mulher nos seus trinta. Loira natural, trajes esportivos ... simpática, não fora o comentário extemporâneo. Sem me poder recuperar plenamente de meu encontro com a palavra da balzaquiana, divido minha mente entre ela e a transação que segue seu curso. – Podes deixar a negra gorda aqui? Respondi que preferiria sair de pronto, mas com ela bem junto a mim. Penso que a tenho de proteger, pois se, acompanhada, é objeto de juízo, a meu ver, tão duro, imagino a sós com a loira balzaquiana e seus parceiros de labuta. Eis que me socorre o manda-chuva do ponto. – Belchior, podes resolver o problema da negra gorda agora. Belchior, sem sustar seu passo, toma a gorda de minhas mãos e a preta some nos bastidores do palco da, assim entendida, maior agressão gratuita, já sofrida pela negra gorda. Com a loira balzaquiana sob minha vista, fico um tanto mais confiante de que novas investidas possam ser evitadas. Em poucos, mas torturantes minutos, a formosa está de volta. Exibe uma flamante corrente de tração. Pago e escapo antes que a balzaquiana arrisque novo juízo sobre minha bike preta de pneus imensos, vinte e oito marchas, alegria dos transeuntes que a saúdam: – É muito pesada de pedalar? Carlos Alberto Iglesias Salgado
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