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Interface
from RTI - Julho - 2022
Como está o desenvolvimento das normas brasileiras para cabeamento estruturado? Elas são atualizadas e seguem padrões internacionais? Quais são as normas que compõem o conjunto de normas brasileiras para cabeamento estruturado? Parte 2
Nesta edição de Interface continuo a discussão iniciada na RTI junho sobre as normas brasileiras para cabeamento estruturado. Como lembrete, discutimos anteriormente os escopos e principais características das normas NBR 14565:2019 Cabeamento estruturado para edifícios comerciais e NBR 16415:2021 - Caminhos e espaços para cabeamento estruturado.
NBR 16665 – Cabeamento estruturado para data centers
A NBR 16665 especifica um sistema de cabeamento estruturado para data centers e se aplica aos cabeamentos em cobre e fibras ópticas, redes locais (LAN) e de campus (CAN). Sua utilização é limitada ao cabeamento interno para a conexão dos equipamentos de
telecomunicações e tecnologia da informação (TI), segurança e automação utilizados em data centers dentro do edifício ou prédios. O cabeamento especificado pela NBR 16665 suporta uma ampla variedade de serviços, como voz, dados, imagem e automação, especificando ainda diretamente ou por meio de referências o seguinte: • Estrutura e configuração mínima do cabeamento estruturado. • Interfaces para as tomadas de equipamento. • Requisitos de desempenho para os modelos de teste enlace permanente e canal. • Parâmetros de desempenho para os cabeamentos óptico e metálico. • Requisitos de conformidade e procedimentos de verificação.
A NBR 16665, como todas as normas do conjunto de regras para cabeamento estruturado, remete à NBR 14565 para tudo o que é comum a ambos os cabeamentos para data centers e
edifícios comerciais. Isso não é novidade no universo de normalização, ou seja, séries de normas que se complementam. Outras normas brasileiras, como a NBR 16264 - Cabeamento residencial
Fig. 1 – Topologia do cabeamento estruturado em data centers conforme a NBR 16665
Esta seção se propõe a analisar tópicos de cabeamento estruturado, incluindo normas, produtos, aspectos de projeto e execução. Os leitores podem enviar suas dúvidas para Redação de RTI, e-mail: inforti@arandanet.com.br.
e NBR 16521 - Cabeamento industrial, também utilizam a NBR 14565 como referência para especificações em comum. Exemplos disso são: • Desempenho do cabeamento nos modelos de testes enlace permanente e canal. • Implementação e desempenho do cabeamento em cobre e fibras ópticas. • Interfaces com o cabeamento na tomada do equipamento. • Tratamento de blindagens, práticas de instalação, etc.
A figura 1 mostra a topologia de distribuição de cabeamento estruturado em data centers com base nessa norma.
Com relação à NBR 16665, gostaria de destacar um de seus anexos em particular. Embora seu objeto seja o cabeamento estruturado em data centers, a norma traz um anexo sobre as melhores práticas para projeto e instalação de infraestrutura para data centers (anexo B) rico em informações diversas que se aplicam à infraestrutura do site de forma ampla, muito além das especificações do cabeamento estruturado, recomendando o seguinte: • Localização, dimensionamento e considerações sobre a estrutura civil do data center. • Uso de piso elevado. • Caminhos de cabos. • Racks, gabinetes e instalações aparentes. • Energia e iluminação. • Climatização. • Detecção e proteção contra incêndio. • Segurança patrimonial. • Monitoramento de infraestrutura do data center. • Aterramento e equipotencialização. • Eficiência energética. • Classificação de data centers em níveis de redundância.
Todos os aspectos construtivos são tratados nesse anexo, como a melhor localização possível para o data center, dimensionamento de paredes, pé-direito, distância entre o topo do rack e o teto, largura e abertura livre de portas dos espaços, carga de piso (kgf/m2), tipos de pisos (monolítico e com placas removíveis), dimensionamento das placas de piso, conformação de corredores quentes e frios, dimensionamento da área sob o piso elevado para a insuflação de ar frio, dimensionamento da área perfurada de placas de piso, grelhas e portas de gabinetes, potência recomendada por rack ou gabinete, tipos de caminhos de cabos e recomendações de projeto, alturas e padrões de racks e gabinetes, dimensionamento e aberturas de portas de racks e gabinetes, distribuição elétrica e iluminação, quadros de distribuição elétrica, sistemas UPS, geradores, sistemas mecânicos (HVAC), parâmetros ambientais, sistemas pre-action de supressão de incêndio, tipo e quantidade de extintores de incêndio adicionais, sistemas DCIM, dimensionamento da malha de equipotencialização para aterramento e do data center, recomendações sobre eficiência energética e classificações tier para data centers.
Fig. 2 – Exemplos de topologias de cabeamento residencial de acordo com a NBR 16264, sendo: a) (em cima) cabeamento para edificações residenciais unifamiliares; b) (embaixo) cabeamento para edificações residenciais multifamiliares
A NBR 16665 traz uma ampla cobertura de tudo o que se aplica a esses ambientes de missão crítica com o objetivo de entregar ao projetista um material único que reúna tudo o que é preciso conhecer para projetar a infraestrutura de um site.
NBR 16264 – Cabeamento estruturado residencial
A NBR 16264 estabelece um sistema de cabeamento estruturado para uso nas dependências de uma residência ou um conjunto de edificações residenciais e especifica uma infraestrutura de cabeamento para três grupos distintos de aplicações: • Tecnologias da informação e telecomunicações (ICT). • Tecnologias de broadcast (BCT). • Automação residencial (AR) para aplicações CCCB (comandos, controle e comunicações em edifícios).
Os meios físicos reconhecidos por essa norma para a implementação das aplicações acima são os cabos balanceados e ópticos, em conformidade com a NBR 14565, e cabos coaxiais para as aplicações BCT mais comumente utilizadas em residências, como TV a cabo, para citar um exemplo.
A NBR 16264 especifica requisitos para o projeto do cabeamento estruturado em residências, tais como: • Topologia. • Configuração mínima do cabeamento. • Desempenho dos canais de cabeamento estruturado. • Densidade e localização dos pontos de conexão. • Interfaces para equipamentos de aplicação específica e rede externa. • Coexistência com outros serviços do edifício.
A ABNT NBR 16264 traz as seções requisitos gerais, estrutura do sistema de cabeamento, cabeamento para aplicações ICT e/ou BCT, cabeamento para as aplicações CCCB (automação e controle), desempenho, implementação do cabeamento, hardware de conexão e práticas de blindagem, que remete à ABNT NBR 14565:2013 e, ao contrário da maioria das normas, não possui anexos.
A cobertura da NBR 16264 permite ao projetista dimensionar todos os sistemas necessários para que serviços de informática, multimídia e automação sejam implementados em residências de forma padronizada.
As aplicações ICT são basicamente de rede de computadores para uso residencial e também para escritórios em residências (home office) que utilizam cabos balanceados e ópticos como meios de transmissão. A figura 2 mostra duas topologias de conexão para aplicações ICT, uma para edificações residenciais unifamiliares e a outra para multifamiliares.
Para suporte às aplicações residenciais, cabos ópticos, de pares balanceados e coaxiais são reconhecidos por essa norma.
Fig. 3 – Topologia de cabeamento residencial para aplicações CCCB segundo a NBR 16264
A topologia descrita na figura 2a para residências unifamiliares recebe os serviços diretamente no HD localizado dentro da residência, onde são distribuídos localmente. Já nas residências multifamiliares da figura 2b, como edifícios, os serviços são distribuídos dentro do prédio por meio do BD e, então para os FD localizados de forma estratégica em cada andar para distribuir os serviços para os HDs, em cada unidade residencial. Note que os serviços utilizados na residência são sempre distribuídos localmente a partir de um HD.
As aplicações BCT são de broadcast, como TV a cabo por exemplo; outros sistemas e serviços multimídia podem ser considerados aplicações BCT. Os meios físicos reconhecidos para aplicações BCT são os cabos balanceados (aplicações BCT-B) e coaxiais (aplicações BCT-C). As topologias de distribuição do cabeamento residencial para aplicações BCT são as mesmas que aquelas para ICT; a diferença está no meio físico e no hardware de conexão utilizado. Para aplicações ICT, o projetista deve prever tomadas de telecomunicações (TO) nas áreas de trabalho e, para as BCT, ele deve prever tomadas de broadcast (BO), que são, na prática, segmentos de cabos coaxiais terminados em conectores coaxiais no ponto de implementação e utilização do serviço (área de trabalho ou equivalente).
As aplicações CCCB são aquelas de controle e automação residencial. Circuitos fechados de TV (vigilância eletrônica), sensores de presença e de fumaça são alguns exemplos. Para as aplicações CCCB, os seguintes elementos funcionais são especificados pela NBR 16264: • Cabeamento de acesso à rede externa (ENI). • Distribuidor de piso (FD) ou residencial (HD) conforme características de projeto. • Cabeamento horizontal. • Ponto de conexão de área de cobertura (ACP). • Cabeamento de área de cobertura. • Tomada de controle (CO).
A figura 3 mostra a estrutura hierárquica do cabeamento residencial para aplicações CCCB. O cabeamento até o ACP deve ser implementado em topologia tipo estrela. Na área de cobertura, ou seja, a partir do ACP (para a CO), o cabeamento pode ser implementado em qualquer outra topologia (anel, estrela ou barramento), dependendo da necessidade e dos requisitos da aplicação. É comum que alguns alarmes e sensores sejam conectados em topologia tipo anel, o que é previsto na norma a partir do ACP, como mostrado na figura 3.
A NBR 16264 é uma norma que permite a implementação das mais diversas aplicações em residências. Entre elas podemos destacar as de rede local (LAN), incluindo a instalação de hotspots wireless (Wi-Fi) nas dependências da residência, home office, entretenimento (TV a cabo, home theater, distribuição de áudio e vídeo, etc.), iluminação a LED, sistemas de segurança, instalação de dispositivos IoT - Internet das Coisas, vigilância eletrônica, entre outros.
Na próxima edição de Interface continuarei a discussão sobre as normas brasileiras para cabeamento estruturado.
Paulo Marin é engenheiro eletricista, mestre em propagação de sinais e doutor em interferência eletromagnética aplicada à infraestrutura de TI. Marin trabalha como consultor independente, é palestrante internacional e ministra treinamentos técnicos e acadêmicos. Autor de vários livros técnicos e coordenador de grupos de normalização no Brasil e EUA. Site: www.paulomarin.com.