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Em Rede
from RTI - Março - 2022
A adoção da tecnologia SD-WAN pelos provedores regionais
Ano a ano, temos observado uma brusca redução na margem de lucro das operadoras que fornecem links de dados para os mercados corporativo e residencial. Uma parte relevante dessa redução se dá pelo aumento da concorrência decorrente do constante incremento nos investimentos em malha de última milha, assim como pelo lançamento de novas tecnologias que simplificam a chegada até o cliente final.
Em todos os eventos de tecnologia que participei, assisti sempre duas ou mais palestras de especialistas em negócios para operadores de telecomunicações, onde são apresentadas soluções para agregar valor ao fornecimento de links. Em todas as palestras, sem exceção, temos a mesma mensagem contida explicitamente ou nas entrelinhas: “A empresa que permanecer ofertando enlace de comunicação sem nenhum valor agregado não sobreviverá aos novos tempos de ampla concorrência”.
Para agravar ainda mais o cenário, estamos presenciando o nascimento do 5G, uma nova tecnologia de comunicação sem fio que está vindo para o mercado como um tsunami que irá ampliar absurdamente a concorrência, sobretudo por links de baixa velocidade. Quando digo baixa velocidade, não considero mais os links de 1, 5 ou 10 Mbit/s, e sim os de 50, 100, 300 Mbit/s ou até mais. Sem a necessidade de cabos para chegar ao cliente, com velocidades já bem consideráveis, essa tecnologia aumentará ainda mais a disputa por mercado, certamente reduzindo a já escassa margem de lucro em cima do link de dados puro e simples.
Quando escutamos dos especialistas em negócios que precisamos aumentar o valor agregado dos nossos produtos, vemos que todos eles indicam o caminho de agregar serviços. E aí está o segredo, pois quando colocamos serviços associados, temos uma maior fidelização do cliente, tornando mais difícil a substituição pela tecnologia de um concorrente, pura e simplesmente por uma pequena redução ofertada por ele na fatura mensal.
Já existente há algum tempo, mas ainda temida e mal compreendida por uma grande parcela das empresas fornecedoras de links, temos o SD-WAN. Essa tecnologia teve o início de sua discussão no longínquo ano de 2014. Em linguagem simples e direta, o SD-WAN consiste na inserção de uma camada superior de inteligência de controle baseada em software, acima das interconexões de WAN Wide Area Network já existentes. Daí vem o prefixo SD - Software Defined da sigla SD-WAN.
Oito anos após o início das discussões acerca dessa tecnologia, e tendo dezenas de fabricantes com soluções maduras, estáveis e cada vez mais baratas à disposição no mercado, percebemos uma total falta de conhecimento, gerando receio, e posso até dizer aversão ao assunto quando tentamos abordá-lo. Neste sentido, para contextualizar melhor do que se trata e facilitar o entendimento da mensagem que quero deixar, vamos entender, de forma leve e superficial, um pouco dessa tecnologia.
Toda empresa que possui diversos pontos de presença, sejam escritórios, lojas, armazéns, escolas, entre outros, precisa de algum tipo de comunicação entre eles. Tradicionalmente, contrata-se uma operadora de telecomunicações que fornecerá links para a interligação destes pontos. Os links podem ser de diversas tecnologias, entre as mais comuns ADSL, xPON, 4G, rádio, satélite ou rede metro. Até aí não temos nenhum problema, afinal são comunicações simples de se resolver. Mas com a exigência cada vez maior de segurança, estabilidade, disponibilidade e baixa latência, o trabalho de operação e manutenção dessas conexões WAN torna-se mais complexo. A mescla de tecnologias diferentes na última milha, a necessidade de inclusão de links de backup e balanceamento de tráfego no momento de maior consumo das redes, a garantia de uma melhor experiência de uso em aplicações críticas e o constante incremento da necessidade de proteger o tráfego de dados sensíveis através das redes públicas, vem tornando o trabalho de quem mantém essas redes um tormento diário. Foi basicamente em cima desses requisitos que começou a ser discutida a possibilidade de inserir uma camada de software para auxiliar nessa tarefa, surgindo assim o conceito de SD-WAN.
Em condições normais de temperatura e pressão, como diziam nossos professores de física e química, cada empresa teria o seu sistema de SD-WAN responsável por manter a inteligência dos negócios na interconexão entre seus diversos endereços. Não que isso
Esta seção aborda aspectos tecnológicos das comunicações corporativas, em especial redes locais, mas incluindo também redes de acesso e WANs. Os leitores podem enviar suas dúvidas para Redação de RTI, e-mail: inforti@arandanet.com.br.
seja impossível, mas a realidade que precisamos é que a imensa maioria das companhas mal tem um setor de TIC bem estruturado, com dificuldades em manter tecnologias básicas funcionando de maneira adequada.
E é aí onde entendemos estar a oportunidade para os fornecedores de links agregarem o valor mencionado previamente. Essas empresas podem fazer a aquisição da solução de software, montar a equipe especializada no assunto, ter um NOC/SOC capaz de administrar essa tecnologia e ofertar como serviço para o usuário final, não mais ofertando apenas a WAN que cai na concorrência comum, mas sim uma camada superior de inteligência, valorizando e fidelizando o seu produto para o contratante.
Outro ponto de ganho de receita que a SD-WAN pode trazer está no fato de que a fornecedora da solução não precisa necessariamente ser a mesma dos links de comunicação. Basta que os roteadores sejam compatíveis com a camada de software para que a solução funcione de forma independente do meio de transmissão. O que isso possibilita? Pense no exemplo de um supermercado, com dezenas de lojas. Hoje, para realizar a interconexão, é preciso ter um ponto de presença ou parceria de última milha em cada um dos endereços contratados. Em um ambiente de SD-WAN, basta que em cada endereço seja adicionado um roteador compatível com sua solução de software, que independentemente de ser um link próprio ou de um concorrente, quem irá responder pela inteligência do tráfego será a sua solução paga como serviço.
Tentei neste artigo ser o menos técnico possível, focando mais nos benefícios para o negócio quando da adoção dessa tecnologia. Espero que, quando voltarmos para apresentar a solução, nos deparemos com corações menos duros e mais propensos a escutar sobre um assunto que, ao contrário do que já ouvi falarem por aí, não é uma modinha passageira, e sim uma solução em amplo crescimento. Segundo estimativas do Gartner, em 2023 até 90% das redes WAN de empresas americanas terão algum nível de implementação deste tipo.
Nós, profissionais de TIC, estamos sempre estudando e nos aperfeiçoando para trazer soluções inovadoras e ajudar a agregar valor ao seu produto, criando diferenciação dentro de um mercado que está acostumado a fazer mais do mesmo e propiciando aos provedores que realizem o que quiserem.
Luiz Puppin é head of training center na FiberX. Graduado em Sistemas de Informação com MBA em Serviços de Telecomunicações e Especialização em Comunicações Móveis, trabalha há mais de 20 anos no mercado de telecomunicações atendendo grandes empresas com os mais diversos fabricantes. Desde 2015, é especializado em equipamentos Huawei, com mais de 20 certificações, incluindo um HCIE-R&S e a licença de Instrutor. Ministra treinamentos na área de IP desde 2010 com foco, principalmente, na área de backbone e borda de redes.