O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará Implicações para a conservação da biodiversidade em diferentes cenários
LUCIANO JORGE SEREJO DOS ANJOS NÍVIA GLÁUCIA PINTO PEREIRA SORAYA TATIANA MACEDO ALVES
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará Implicações para a conservação da biodiversidade em diferentes cenários
1º Edição
Belém-Pará 2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade-SEMAS, Belém, PA Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade. I59o O futuro da fauna ameaçada do Pará: Implicações para a conservação da biodiversidade em diferentes cenários / Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade. – Belém: IDEFLOR-Bio, 2016. 76 p.: il. ISBN : 978-85-92612-00-9 1. Biodiversidade – Fauna. 2. Espécies ameaçadas. I. Título. CDD – 333.9522
As fotos contidas neste livro não correspondem necessariamente às espécies ameaçadas de extinção.
Simão Robison Oliveira Jatene Governador do Estado do Pará José da Cruz Marinho Vice-Governador do Estado do Pará Luiz Fernandes Rocha Secretário de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade Thiago Valente Novaes Presidente do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade Crisomar Raimundo da Silva Lobato Diretor de Gestão de Biodiversidade Nívia Gláucia Pinto Pereira Gerente de Biodiversidade Colaboradores técnicos Crisomar Lobato Luciana Alves de Souza Arte Grá ca e Diagramação Rubens Santos da Cunha – ME Revisão de Texto e Catalogação Paulo César Chagas Maia Márcia Maria Campos João Marcelo Vieira Lima Fotos Augusto Jarthe, Claudia Kahwage, Evandra Vilacoert, Glauber da Silva, Liza Veiga (in memoriam) - Foto CAPA, Luciano dos Anjos, Nívia Pereira, Pedro Sampaio e Socorro Almeida, Edson Pereira (design grá co/foto Ararajuba), Renata Valente e Olivier Jaudoin.
Sumário
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INTRODUÇÃO 1.1. Amazônia paraense 1.2. Lista de Espécies Ameaçadas do Pará e o Programa Extinção Zero 1.3. Justi cativa e objetivo
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MÉTODOS E ANÁLISES 2.1. Seleção das espécies ameaçadas 2.2. Determinando a distribuição geográ ca através da MDE 2.3. Dados de entrada para a MDE 2.4. Software e parametrização da MDE 2.5. Pós-modelagem e processamento dos modelos em um SIG
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2.7. Análises sobre o padrão de riqueza atual
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2.8. Análises sobre os padrões futuros: prevendo extinção e persistência local ao longo do tempo
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2.9. Análise da dinâmica futura dos remanescentes e estimativas de extinção
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2.6. Simulações e cenários de desmatamento futuro
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08 11
ONDE AS ESPÉCIES AMEAÇADAS ESTÃO?
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DENTRO OU FORA DE APs?
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EXISTE DIFERENÇA ENTRE AS CATEGORIAS DE PROTEÇÃO?
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QUAIS ÁREAS PODEM PERDER OU MANTER MAIS ESPÉCIES EM UM FUTURO PRÓXIMO?
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DINÂMICA DOS REMANESCENTES E EXTINÇÃO ESTADUAL EM CENÁRIOS FUTUROS
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IMPLICAÇÕES DO CENÁRIO ATUAL PARA A CONSERVAÇÃO 8.1. Um hotspot na Amazônia Paraense 8.2. Maior chance de extinção fora de Áreas Protegidas 8.3. Maior chance de persistência dentro de Áreas Protegidas
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44 46 47 46
O QUE PODEMOS ESPERAR PARA O FUTURO?
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RECOMENDAÇÕES
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CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO A – Lista de animais ameaçados de extinção
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ça ea m A
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Apresentação O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará: Implicações para a conservação da biodiversidade em diferentes cenários é um trabalho de relevância num contexto que engloba enormes esforços do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade IDEFLOR-Bio, no sentido de estudar, propor, planejar, criar e gerenciar as áreas legalmente constituídas como Unidades de Conservação da Natureza, Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, localizados em amostras representativas dos ecossistemas do Estado do Pará, visando à proteção, o uso sustentável e a preservação da biodiversidade. As Áreas Legalmente Protegidas no Estado do Pará distribuem-se em Unidades de Conservação da Natureza, sendo sob a gestão do governo federal ICMBio ; estaduais IDEFLOR-Bio ; municipais e particulares. Essas áreas somam . . , hectares ou , da área territorial paraense. Já as Terras Indígenas demarcadas, homologadas e registradas são com área de . . hectares ou , . As Forças Armadas detêm áreas que correspondem de , a do Estado do Pará. Outras comunidades reivindicam a condição de remanescentes de quilombos sendo que dessas áreas possuem reconhecimento legal, que corresponde a , da área desse estado. No total, as Áreas Protegidas somam aproximadamente do território, sendo que estudos indicam mais . . , de hectares , a serem legalmente protegidos na forma de Unidades de Conservação Estaduais. De acordo com a literatura disponível, a Amazônia Brasileira contém uma das mais importantes reserva de diversidade biológica do mundo. O bioma amazônico possui quatro milhões de quilômetros quadrados que correspondem a da área total do Brasil. Estudos apontam imensos estoques de carbono, algo entre a mil toneladas por quilômetro quadrado. Possui a maior floresta tropical do mundo, segundo pesquisa, com do remanescente desse tipo de floresta, essenciais à manutenção do ciclo das chuvas não apenas da região, mas do sudeste e sul do Brasil. A região é, ainda, importante por abrigar a maior rede hidrográfica do mundo, concentrando cerca de a das águas doces superficiais não congeladas do mundo. As áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no Estado do Pará foram resultados de sobreposições de espaços indicados em trabalhos técnico-científicos com destaque para a Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade na Amazônia Brasileira Macapá e Prioridades Biológicas para a Conservação da Amazônia Manaus , dessa última foram selecionadas as vinte mais importantes indicações, de onde foram compiladas e ou adaptadas às descrições contidas nas cinquenta e uma áreas resultantes para proteção da biodiversidade no estado. Finalmente, entende -se que este trabalho sobre o futuro da biodiversidade no Estado do Pará expõe a problemática, levando à reflexão, gerando debates e propostas para preservar a biodiversidade com ênfase nas espécies ameaçadas de extinção, visando estudos e pesquisas científicas, assim como o uso dos recursos naturas de maneira sustentável, em suas diversas formas, na maior floresta tropical úmida contínua do Planeta Terra.
Crisomar Lobato Diretor de Gestão da Biodiversidade do IDEFLOR-Bio
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Introdução Extinção é um processo inevitável. Isso implica dizer que nenhuma espécie durará para sempre. Estimativas apontam que a biodiversidade global atual representa aproximadamente 1% do total de organismos que já viveram ao longo da história da vida na Terra (NOVACEK, 2001; SHIH, 2015). Os outros 99% já foram extintos. Outras evidências indicam que pelo menos cinco grandes eventos de extinção em massa já ocorreram ao longo da história da Terra (BARNOSKY, 2011; HULL, 2015). Portanto, é necessário reconhecer que a extinção é inerente ao mundo vivo, contrabalanceado no processo evolutivo baseado na formação de novas espécies. No entanto, a taxa atual das espécies desaparecendo não é um evento natural. E o principal responsável por isso é o ser humano. A espécie humana tem acelerado esse processo de maneira dramática, principalmente através da destruição dos ecossistemas e do mau uso dos recursos naturais (MEA, 2005). Estima-se que a taxa de extinção atual é 1.000 vezes maior do que a do registro fóssil e em um futuro próximo pode alcançar um patamar 10.000 vezes maior (DE VOS, 2015; PIMM, 2014). A maior ameaça à biodiversidade global na atualidade é a perda de habitat (MEA, 2005). Esse fator possui relação estreita e inequívoca com a extinção das espécies conforme é predito pela teoria ecológica. De acordo com a Relação Espécies-Área (REA) (ARRHENIUS, 1921), à medida que se aumenta a área amostrada, aumenta-se também o número de espécies registradas (MAGURRAN, 2011). Essa relação é expressa através da equação: S=cAz Em que “c” e “z” são constantes e “S” e “A” representam Riqueza de Espécies e Área, respectivamente. Assumindo esse pressuposto, então, é possível supor que à medida que a área disponível diminui através da perda de habitat, as espécies desaparecem nessa mesma proporção. A Amazônia é a maior oresta tropical do mundo (~6.7 milhões km²) e contém a maior diversidade biológica de ecossistemas terrestres do planeta (Silva et al. 2005). Dentre os organismos já descritos, são 40 mil espécies de plantas vasculares, 425 mamíferos, 1.300 aves, 371 répteis e 427 anfíbios (MITTERMEIER, 2003). Porém, esses números são subestimados, sobretudo em relação a organismos ainda pouco estudados como invertebrados, fungos e micro-organismos.
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A despeito desse imenso patrimônio, nos últimos 30 anos foram desmatados mais de 40 milhões de hectares de oresta na Amazônia brasileira (INPE, 2015). O desmatamento, caracterizado aqui como o corte raso da oresta, pode afetar as espécies de duas maneiras diretas: (1) reduz o tamanho populacional devido à morte de indivíduos e (2) diminui a área de habitat adequada disponível. Portanto, quando uma determinada área é desmatada, além da perda de indivíduos por morte, é esperado que as espécies dependentes de oresta se tornem extintas localmente. Com o acúmulo de extinções locais ao longo do tempo e do espaço, as espécies se tornariam extintas globalmente se toda a área de habitat dentro de sua distribuição geográ ca fosse suprimida, seguindo as premissas da Teoria de Metapopulações (LEVINS, 1969). Nesse sentido, aquelas espécies dependentes de oresta e/ou com distribuição geográ ca restrita apresentam um maior risco de extinção. A maior proporção de áreas desmatadas na Amazônia está concentrada ao longo das bordas sudeste e leste, no denominado “arco do desmatamento” (FEARNSIDE, 2005). O fato desse padrão existir, por si só, traz implicações para a conservação da biodiversidade amazônica. Isso porque a Amazônia está longe de ser um tapete orestal contínuo, em que todas as espécies estão em todos os lugares. Na verdade, existe uma grande heterogeneidade de ambientes dentro do bioma que implica em diferenças quantitativas (riqueza) e qualitativas (composição) em termos de biodiversidade entre as regiões (SILVA, 2005). Portanto, a perda de habitat, caracterizada pelo desmatamento, não atinge de modo homogêneo a biodiversidade amazônica, mas afeta de maneira mais acentuada àquelas espécies que ocorrem dentro dos limites do arco. Quando a oresta primária, com uma elevada riqueza de espécies e alta complexidade ecossistêmica, é convertida a usos alternativos (e.g. exploração seletiva de madeira, monoculturas, pastos) as mudanças ambientais são na direção da simpli cação dos ecossistemas (LEES, 2015; MOURA, 2013; SOLAR, 2015). A perda de biodiversidade derivada de tais mudanças implica em ecossistemas menos funcionais (CARDINALE, 2012), comprometendo a oferta de variados bens e serviços ecossistêmicos, essenciais à sadia qualidade de vida humana. Sumariamente, os benefícios advindos da biodiversidade podem ser de nidos como serviços de provisão (e.g. comida, água fresca, combustíveis), regulação (e.g. clima, polinização, controle de doenças), culturais (e.g. recreação, ecoturismo) e suporte (e.g. ciclagem de nutrientes, formação de solos) (ECOSYSTEM..., 2005).
1.1 Amazônia paraense O Estado do Pará é o segundo maior da federação com 1.247.954,320 km² e está situado na porção oriental da Amazônia, tendo oresta ombró la como
o tipo de cobertura vegetal predominante. Em relação ao desmatamento, de 1988 até o presente (2015), já foram desmatados 137.981 km² de oresta segundo dados do PRODES (INPE, 2015). Apesar de o Estado do Pará sempre gurar entre os três estados com maiores taxas de desmatamento da Amazônia Legal, nos últimos cinco anos ocorreu uma redução signi cativa do desmatamento (INPE, 2015). Em termos de cobertura de Áreas Protegidas (APs), o Estado do Pará ocupa posição estratégica para a conservação da Amazônia. São vinte e uma (21) Unidades de Conservação (UCs) estaduais que juntas contabilizam mais de 21 milhões de hectares. Além das UCs estaduais, as UCs federais e municipais, Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e Áreas Militares possuem também grande representatividade no estado. Somando tudo, são aproximadamente 75 milhões de hectares entre os diferentes tipos de APs, cobrindo próximo de 45% do território estadual.
1.2 Lista de Espécies Ameaçadas do Pará e o Programa Extinção Zero O Estado do Pará adotou uma iniciativa pioneira quando criou dois importantes instrumentos de gestão da biodiversidade que se tornaram um marco para a proteção das espécies ameaçadas: (1) a Lista das Espécies Ameaçadas do Estado do Pará (LEAP) e (2) o Programa Extinção Zero (PEZ). A LEAP foi fruto da parceria entre o Governo do Estado do Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Conservação Internacional (CI do Brasil) rmada entre os anos de 2003 e 2006. Baseados em critérios recomendados pela União Internacional para a Conservação da Natureza, foram identi cadas um total de 181 espécies ameaçadas no Pará, dentre as quais 91 vertebrados, 37 invertebrados e 53 plantas. A lista foi homologada através da Resolução COEMA nº 54 de 24/10/2007, sendo o primeiro estado da Amazônia Brasileira a o cializar uma lista de espécies ameaçadas de extinção. Apesar da criação da lista ter sido um passo fundamental para a proteção das espécies ameaçadas, apenas o seu lançamento e divulgação não seriam su cientes para promover a diminuição ou mesmo evitar o processo de extinção das espécies. Assim, tornou-se necessário a criação de medidas que permitissem a implementação de ações práticas e efetivas de gestão da fauna e ora ameaçadas. Por esse motivo, foi instituído em 2008, o PEZ, através do Decreto Estadual nº 802 de 20/08/2008. A nalidade desse programa é assegurar que nenhuma espécie nativa do território paraense seja extinta, por meio das seguintes medidas principais: 1. Desenvolvimento dos Planos de Proteção e Recuperação de Espécies da Fauna e dos Planos de Gestão das Espécies da Flora com base na lista, que
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serão elaborados e implementados sob a coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA/PA) com a participação dos órgãos estaduais, da comunidade cientí ca e da sociedade civil organizada; 2. Criação de uma estrutura para coordenar o programa constituído pelo comitê gestor e técnico; 3. Instituição da Câmara Técnica Permanente de Espécies Ameaçadas (CTPEA), criada pela Portaria SEMA n° 254/2009; 4. Atualização futura da lista e a necessidade de ações urgentes para investigar, conhecer e preservar as espécies, principalmente aquelas classi cadas como criticamente ameaçadas. No âmbito do PEZ, a Diretoria de Áreas Protegidas (DIAP) e a Coordenadoria de Ecossistemas (CEC), vinculadas à SEMA, elaboraram e executaram o Projeto “Proteção das Espécies da Flora e Fauna Ameaçadas de Extinção do Pará”. O referido propunha ações de sensibilização e educação ambiental com a nalidade de promover a divulgação de informações referentes às espécies sob ameaça de extinção para a sociedade. Após a reestruturação administrativa, estabelecida pela Lei 8.096/2015, as atribuições de elaboração, implementação e execução de ações voltadas para a conservação e preservação da biodiversidade passaram ao recém-criado Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará – IDEFLOR-Bio, o qual assumiu a execução das atividades anteriormente planejadas.
1.3 Justificativa e objetivo A iniciativa deste livro partiu da necessidade de entender como está distribuída a biodiversidade do Estado do Pará, em particular àquelas espécies de vertebrados ameaçadas de extinção, e avaliar o impacto do desmatamento no cenário atual e futuro. Nesse sentido, prever quantas e quando as espécies podem se tornar extintas é uma informação valiosa na mitigação dos efeitos da perda de biodiversidade, pois permitirá a elaboração e execução de um plano estratégico para o melhor direcionamento dos esforços conservacionistas. Toda a estrutura metodológica do trabalho foi direcionada a m de responder questões fundamentais acerca dos padrões de biodiversidade ameaçada e sua conservação. Explicitamente, dentre os objetivos deste trabalho estão: Ÿ
Mapear a distribuição geográ ca das espécies ameaçadas e veri car a in uência do desmatamento sobre os padrões de persistência e extinção das espécies;
Ÿ
Analisar a contribuição do conjunto de APs na manutenção da biodiversidade ameaçada e identi car de forma espacialmente explícita, lacunas, de ciências e oportunidades para a conservação das espécies.
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Métodos e Análises
2.1 Seleção das espécies ameaçadas Foram utilizadas as espécies ameaçadas de extinção contidas na LEAP, homologada através da Resolução COEMA n° 54 de 24/10/2007. Por razões de disponibilidade de ocorrências e variáveis ambientais foram incluídas nas análises somente as espécies da fauna ameaçada de vertebrados terrestres. No total, foram usadas 48 espécies nas análises: doze (12) de mamíferos, vinte e seis (26) de aves, três (3) de anfíbios e sete (7) de répteis. Na Tabela 1, encontram-se as espécies utilizadas no estudo, assim como sua respectiva classi cação de risco de extinção.
2.2 Determinando a distribuição geográfica por meio da MDE Diversos fatores in uenciam a distribuição de uma espécie ao longo do espaço geográ co. Pode-se mencionar, por exemplo, variáveis abióticas (e.g. clima, relevo), bióticas (e.g. interações intra e interespecí cas), assim como a mobilidade ou potencial de dispersão das espécies. Neste trabalho, por razões operacionais, foram somente utilizadas variáveis abióticas como determinantes da distribuição, mais especi camente variáveis climáticas, derivadas de medidas de temperatura e precipitação. Para esse propósito, foi empregada a modelagem de distribuição de espécies (MDE) (PETERSON, 2011), um método com respaldo da teoria do nicho ecológico. Existe hoje uma imensa gama de métodos de MDE que operam com diferentes pressupostos matemáticos, estatísticos e biológicos, além de demonstrarem diferentes níveis de interpretabilidade e aplicabilidade (RANGEL; LOYOLA, 2012). Basicamente, esses consistem em correlacionar com o auxílio de um algoritmo, ocorrências geográ cas das espécies-alvo com variáveis ambientais especializadas. O resultado principal são mapas que indicam locais com diferentes níveis de adequabilidade à ocorrência e persistência das espécies.
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2.3 Dados de entrada para a MDE Há dois tipos de dados de entrada necessários para rodar os modelos: (1) ocorrências georreferenciadas das espécies e (2) variáveis ambientais espacializadas no formato raster. As ocorrências georreferenciadas deste estudo foram compiladas a partir de base de dados online como o GBIF (www.gbif.org), Infonatura (www.infonatura.natureserve.org), Vertnet (www.vertnet.org), SiBBr (www.sibbr.gov.br) e SpeciesLink (www.splink.cria.org.br). As variáveis ambientais (bioclimáticas) foram copiadas da base de dados do WORLDCLIM no formato raster (www.worldclim.org/) (HIJMANS, 2005). Cada célula do raster possui resolução de 0.041°, ou seja, ~5 km de lado, o que corresponde a aproximadamente 25 km² por célula, abrangendo toda a Amazônia. Como principais fatores climáticos que afetam a distribuição das espécies em grandes escalas foram considerados as seguintes variáveis: bio1 (temperatura média anual), bio2 (amplitude diária média), bio5 (temperatura máxima do mês mais quente), bio6 (temperatura mínima do mês mais frio), bio12 (precipitação anual), bio13 (precipitação do mês mais úmido) e bio14 (precipitação do mês mais seco).
2.4 Software e parametrização da MDE O método de MDE utilizado foi o MAXENT 3.3.2 (PHILLIPS, 2006) por ser um dos mais bem avaliados quanto à acurácia das predições (ELITH, 2006). A cada nova rodada, de um total de 10 por espécie, as ocorrências geográ cas foram divididas aleatoriamente através de bootstrap em 75% para treino e 25% para teste. Ao nal foram selecionados quatro (4) dentre os 10 modelos que apresentaram as menores taxas de omissão das amostras de teste, seguido do cálculo do modelo médio. O resultado nal foram modelos de distribuição, na forma de mapas, que indicam a adequabilidade dos locais para a persistência das espécies variando entre zero (inadequado) a 100 (adequado).
2.5 Pós-modelagem e processamento dos modelos em um SIG Após rodar os modelos e gerar o melhor modelo médio, que permitiu delimitar a distribuição climática potencial para as espécies, foi aplicado um “ ltro” de distribuição. Sabendo que as espécies utilizam primariamente o habitat do tipo “ oresta ombró la densa” foram selecionados apenas aqueles locais que reuniam condições climáticas favoráveis e ainda possuíam oresta densa primária. O raster contendo a categoria “ oresta primária” para a
Amazônia Legal foi extraído do PRODES – Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (INPE, 2015). Em seguida, os modelos foram recortados utilizando um polígono da extensão do Estado do Pará. Todas as rotinas de análises sobre o espaço geográ co foi realizada no software ArcGis 10.2 .
2.6 Simulações e cenários de desmatamento futuro Os cenários de desmatamento futuro para o Estado do Pará foram baseados no estudo de Soares-Filho (2006). Os rasters com o desmatamento previsto até o ano de 2050 estão disponíveis no sítio http://www.csr.ufmg.br/ simamazonia. Esses dados consistem em cenários espaço-temporais que simulam mudanças nas taxas de desmatamento em função de parâmetros estruturados espacialmente (SOARES-FILHO, 2006 ). A partir dessas simulações, foram gerados dois cenários de uso do solo para a Amazônia até o ano de 2050: a) Business as usual (BAU): assume as premissas de manutenção da taxa de desmatamento atual; rodovias seriam pavimentadas; não seriam criadas novas APs; baixa adesão ao cumprimento da legislação ambiental atual. b) Governança (GOV): pressupõe o cumprimento da legislação ambiental vigente; licenciamento ambiental baseado em dados de satélites; expansão da rede de APs na Amazônia. Para as análises foram utilizados quatro intervalos temporais (2020, 2030, 2040 e 2050) para os dois cenários de uso do solo (BAU e GOV). As bases, que estão no formato raster, são compostas por três classes: oresta, desmatamento e cerrado.
2.7 Análises sobre o padrão de riqueza atual Após determinar a distribuição geográ ca de cada espécie, os rasters com os dados de presença gerados por MDE e ltrados com informações de cobertura vegetal foram sobrepostos e somados para determinar a riqueza de espécies para cada célula. Isso permitiu identi car em quais regiões há maior concentração de espécies ameaçadas atualmente, um padrão espacial indetectável quando analisados rasters de espécies individuais. De posse dessa variável espacializada foi possível investigar questões que levam em conta elementos da paisagem estruturados espacialmente. Por exemplo, onde as espécies ameaçadas estão? Os remanescentes que abrigam estas espécies estão predominantemente no interior de APs ou em zonas de uso consolidado? Existe diferença em relação à proteção do número de espécies entre as categorias de APs? Todas essas análises foram realizadas com o auxílio do software ArcGis 10.2.
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2.8 Análises sobre os padrões futuros: prevendo extinção e persistência local ao longo do tempo Para prever padrões futuros de persistência e extinção da assembleia de espécies ameaçadas foi utilizada uma combinação da distribuição atual com as projeções futuras de uso do solo. As células da grade com oresta atualmente poderiam assumir dois estados no futuro: permanecer com oresta, nesse caso a espécie persistiria naquela célula; ou desmatamento, o que ocasionaria a extinção local da espécie. Esse cálculo foi realizado para cada espécie individualmente, sobre os dois cenários futuros de uso do solo (BAU e GOV) e para os quatro períodos temporais (2020, 2030, 2040 e 2050). Após isso, já com os mapas de persistência e extinção local das espécies individuais, foi efetuada a soma algébrica entre os rasters de modo a quanti car espacialmente onde e quantas espécies persistiriam ou se extinguiriam no futuro. Ao longo de um gradiente, os valores positivos (acima de zero) indicam a persistência local de um determinado número de espécies, enquanto que os valores negativos (abaixo de zero) indicam extinção local.
2.9 Análise da dinâmica futura dos remanescentes e estimativas de extinção Além de avaliar onde as espécies estariam mais vulneráveis à extinção no futuro, foi realizada uma análise sobre a dinâmica temporal dos remanescentes das espécies individuais. Em outras palavras, foi possível avaliar a proporção relativa de habitat remanescente para cada espécie nos diferentes cenários e períodos. Isso permitiu estimar eventos de extinção levando em conta a variação do percentual de habitat disponível para as espécies ao longo das mudanças previstas sobre o uso do solo.
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Onde as Espécies Ameaçadas Estão? De acordo com os resultados alcançados, as espécies da fauna de vertebrados terrestres ameaçados de extinção não estão distribuídas aleatoriamente pelo território estadual. Pelo contrário. Nas análises foi possível identi car e quanti car hotspots (áreas quentes) de biodiversidade ameaçada. A maioria das espécies está concentrada nos remanescentes orestais do Leste paraense, mais especi camente nas regiões de integração Lago Tucuruí, Rio Capim, Rio Caeté e Tocantins. Nas áreas mais quentes do mapa (tons mais próximo ao vermelho), veri ca-se a ocorrência de até 38 diferentes espécies de vertebrados terrestres ameaçados (Figura 1). Em relação à distribuição das diferentes categorias de ameaças, o padrão geral permanece orientado para a região Leste do estado, com diferença apenas no número de espécies ameaçadas por categoria. A categoria Vulnerável (VU) mostra um padrão espacial mais difuso pelo território em comparação com as categorias Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR), que por sua vez possuem um padrão geogra camente mais restrito ao Leste do estado do Pará.
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N
A
Figura 1 - (A) Padrão de riqueza de vertebrados ameaçados com ênfase ao hotspot de biodiverisidade ameaçada do Leste do Pará. (B) Espécies vulneráveis; (C) Espécies em perigo; (D) espécies criticamente em perigo. O gradiente de cor indica o número de espécies que varia de 1 a 38, onde este aumenta na direção do tom mais quente (vermelho).
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Dentro ou Fora das APs? Testou-se o efeito de duas das principais categorias de destinação do uso do solo no Pará, conforme determinado pelo Macrozoneamento EcológicoEconômico: uso especial (UES) e uso consolidado (UCO). Aqui, o tratamento 'uso especial' engloba todos os tipos de APs, incluindo UCPI, UCUS, TI e Territórios Quilombolas, enquanto que a classe 'uso consolidado' são as áreas que já possuem infraestrutura e atividades econômicas estabelecidas ou apresentam potencial de implantação e exploração. Os resultados revelam que, em média, áreas de UCO abrigam 15% mais espécies do que áreas de UES, demonstrando uma signi cativa diferença estatística, onde: [F(1,40287), p=0,0000] (Figura 2).
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Figura 2 - Diferença na proporção relativa da riqueza de espécies em áreas e UES e UCO. O valor de p= 0.0000 demonstra que há uma diferença estatisticamente signi cativa entre os tratamentos.
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Existe Diferença Entre as Categorias de Proteção?
Sabendo que há diferenças nos níveis de acesso e uso dos recursos naturais entre diferentes categorias de APs, foi testado este efeito sobre a proporção de espécies ameaçadas protegidas entre as diferentes categorias. Faz-se necessário ressaltar que a área de cobertura de APs no Pará segue a seguinte proporção: aproximadamente 49% são UCUS, 31% são TI e 20% são UCPI. Os resultados indicam que TI e UCPI, que possuem maior restrição ao uso dos recursos naturais, abrigam mais espécies ameaçadas no Pará do que UCUS, que por sua vez possuem regras bem mais exíveis de uso dos recursos. A diferença é estatisticamente signi cativa onde: (F [2,28146] = 222.86, p = 0.000), como mostrado no gráfco da Figura 3, a partir de uma Análise de Variância (ANOVA Unifatorial).
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Figura 3 - Diferença na proporção relativa da riqueza de espécies ameaçadas em APs levando em conta três categorias de proteção: Terras Indígenas (TI); Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI) e Uso Sustentável (UCUS). O valor de p= 0.0000 demonstra que há uma diferença estatisticamente signi cativa entre os tratamentos.
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Quais Áreas Podem Perder ou Manter mais Espécies em um Futuro Próximo? De acordo com os resultados, os remanescentes com maior riqueza de espécies são aqueles onde ocorreria também o maior número de extinções locais em um futuro próximo, independente do cenário de desmatamento (Figura 4). No Leste do estado, as extinções locais ocorreriam com a supressão de remanescentes que estão predominantemente fora de APs. No painel superior da Figura 4 (cenário com governança), fora do Leste paraense, as extinções locais se concentrariam ao longo das rodovias BR-163 (CuiabáSantarém) e BR-230 (Transamazônica), em áreas fora de APs. No Leste do Pará, a persistência das espécies ameaçadas seria possível se os poucos remanescentes orestais da região fossem mantidos até 2050, como visto no cenário com governança. Ainda assim, a maioria dos refúgios orestais estariam situados fora de APs. No cenário BAU (painel inferior), até o ano de 2050 restaria apenas uma proporção ín ma de cobertura vegetal. Os resultados mostram também a contribuição relativa das APs para a manutenção dos remanescentes orestais e, consequentemente, das espécies, sobretudo na região fora do hotspot de biodiversidade em ambos os cenários, embora estas estejam mais suscetíveis a degradação em seu interior no cenário BAU.
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Figura 4 - Padrões espaciais de extinção e persistência das espécies ameaçadas nos diferentes cenários (GOV e BAU) ao longo do tempo.
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Dinâmica dos Remanescentes e Extinção Estadual em Cenários Futuros
Os resultados mostram que a dinâmica dos remanescentes e o processo de extinção previsto para as espécies dependerão fundamentalmente do cenário de desmatamento futuro que se consolidará e do grupo biológico em questão. No cenário com governança (GOV), há uma tendência geral de estabilização da perda de habitat até 2050, após uma queda inicial acentuada entre o período atual e o ano de 2020. No entanto, é possível identi car que há diferenças nas proporções relativas de habitat perdido entre os grupos biológicos investigados neste cenário. Por exemplo, para os Anfíbios ocorreria uma estabilização em aproximadamente 70% dos remanescentes até 2050. No entanto, para Aves, a maioria das espécies estaria abaixo do limiar de 40% e três espécies abaixo dos 20% a partir de 2020 (Figuras 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4) Comparativamente, no cenário BAU, a tendência de perda de habitat é mais acentuada do que no cenário GOV para todos os grupos. Para a maioria das espécies, independente do grupo biológico, o limiar de remanescentes estaria abaixo dos 40% até o ano de 2050. A situação se tornaria dramática para as Aves, as quais estariam com o limiar abaixo dos 20% de remanescentes logo a partir de 2020 com algumas espécies se tornando extintas no território estadual.
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O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
Anfíbios - Gov 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3
Atual
2020
2030
2040
2050
Anfíbios - Bau 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3
Atual
2020
2030
2040
2050
Figura 5.1 - Dinâmica dos remanescentes de habitat ao longo do tempo para Anfíbios nos cenários GOV e BAU.
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
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Répteis - Gov 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7
Atual
2020
2030
2040
2050
Répteis - Bau 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7
Atual
2020
2030
2040
2050
Figura 5.2 - Dinâmica dos remanescentes de habitat ao longo do tempo para Répteis nos cenários GOV e BAU.
40
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
Mamíferos - Gov 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7 sp8 sp9 sp10 sp11 sp12
Atual
2020
2030
2040
2050
2040
2050
Mamíferos - Bau 100 80 60 40 20 0
sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7 sp8 sp9 sp10 sp11 sp12
Atual
2020
2030
Figura 5.3 - Dinâmica dos remanescentes de habitat ao longo do tempo para Mamíferos nos cenários GOV e BAU.
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
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Aves - Gov 100 80 60 40 20
sp1 sp10 sp11 sp13 sp12 sp16 sp17 sp18 sp19 sp2 sp20 sp21 sp22 sp14 sp23 sp24 sp25 sp27 sp26 sp3 sp28 sp4 sp7 sp8 sp6 sp9
0 Atual
2020
2030
2040
2050
2040
2050
Aves - Bau 100 80 60 40 20
sp1 sp10 sp11 sp13 sp12 sp16 sp17 sp18 sp19 sp2 sp20 sp21 sp22 sp14 sp23 sp24 sp25 sp27 sp26 sp3 sp28 sp4 sp7 sp8 sp6 sp9
0 Atual
2020
2030
Figura 5.4 - Dinâmica dos remanescentes de habitat ao longo do tempo para Aves nos cenários GOV e BAU.
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O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
O Futuro da Fauna Ameaรงada do Parรก
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8
Implicações do Cenário Atual para a Conservação Indubitavelmente, a situação atual encontra-se diante de um grande desa o: garantir que a biodiversidade ameaçada do Estado do Pará, inserida em um contexto de grande vulnerabilidade, não se extinga em um futuro próximo. E esse desa o está em plena consonância com o Objetivo Estratégico C das Metas de Aichi para a Biodiversidade, o qual em sua Meta 12 sugere que “até 2020, a extinção de espécies ameaçadas conhecidas terá sido evitada e sua situação de conservação, em especial daquelas sofrendo um maior declínio, terá sido melhorada e mantida”. Tratou-se aqui, em particular, das espécies classi cadas com algum grau de ameaça de extinção. Porém, sabe-se que a Floresta Amazônica é abrigo de uma megadiversidade de organismos, os quais boa parte ainda não foram descritos pela ciência, compondo uma complexa estrutura biológica organizada e moldada ao longo do tempo evolutivo. Consequentemente, desmatamento, neste contexto, signi ca muito mais do que a perda de espécies ameaçadas de extinção.
8.1 Um hotspot na Amazônia Paraense Hotspots de biodiversidade são caracterizados como áreas com medidas particularmente elevadas de riqueza de espécies, endemismos, espécies raras ou ameaçadas e intensidade de ameaça, assim como a combinação entre essas variáveis (REID, 1998). Por essas razões, consensualmente, hotspots são tidos como áreas de alta prioridade para a conservação da biodiversidade (MYERS, 2000). Na Amazônia paraense, a região Leste do estado possui atributos que permitem, inequivocamente, caracterizá-la como um hotspot. A região concentra boa parte da biodiversidade de vertebrados terrestres ameaçados com ocorrência exclusiva ou parcial sobre a região.
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O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
No Leste paraense está situada a frente de ocupação humana mais antiga de toda a Amazônia, iniciada ainda no século XVII. O processo de destruição e degradação orestal foi intensi cado na década de 1960, após a abertura e pavimentação da rodovia Belém-Brasília (BR-010) (ALMEIDA, 2014). A oresta ombró la densa, que era o habitat predominante na região, cedeu espaço à ocupação humana, consolidando nas últimas duas décadas uma nova fronteira de expansão do agronegócio. Outro fator complicador é o fato de a área ser coincidente com uma das oito principais unidades biogeográ cas da Amazônia (LÓPEZ-OSÓRIO, 2010; SILVA, 2005), conhecida como Área de Endemismo Belém (AEB). É a menor em dimensões geográ cas dentre as oito principais áreas de endemismo, a mais degradada e a que possui menor cobertura de APs (GARDA, 2010). Do ponto de vista logenético, a AEB possui reconhecidamente linhagens evolutivas distintas e independentes de outras áreas de endemismo (LÓPEZOSÓRIO, 2010).
8.2 Maior chance de extinção fora de áreas protegidas Os remanescentes orestais com maior valor de conservação para as espécies ameaçadas estão fora de APs no Pará. Esse padrão ganha contornos marcantes principalmente na região Leste do estado. Como veri cado anteriormente, o Leste paraense é uma região com signi cativa degradação e com um grande conjunto infraestrutural (e.g. alta densidade de municípios, rodovias, energia elétrica, atividades de mineração, indústrias e agronegócio) (ALMEIDA, 2014). Todos os fatores mencionados acima possuem forte correlação com o desmatamento na Amazônia. Por exemplo, evidências mostram que orestas próximas às rodovias ou em áreas anteriormente desmatadas estão signi cativamente mais sujeitas a serem suprimidas em um futuro próximo. Quase 95% de todo o desmatamento ocorrido na Amazônia brasileira aconteceu em zonas de até 5.5 km ao longo de rodovias, estradas ou ramais. Essa combinação de variáveis aumenta sobremaneira a vulnerabilidade desses remanescentes orestais, ampli cando os potenciais efeitos sobre a biodiversidade ameaçada . Em propriedades privadas, as espécies estão mais vulneráveis à extinção. Se em uma região existem rodovias, estradas ou ramais, essas conduzem, provavelmente, a propriedades particulares. Não obstante, os efeitos relacionados à infraestrutura, as orestas primárias dentro dessas propriedades do Leste do Pará são mais suscetíveis à supressão. Isso porque essas áreas estão classi cadas como de Uso Consolidado de acordo com o Macrozoneamento do Estado do Pará (Lei nº 6.745, de 06 de maio de 2005), possuindo, assim, maior exibilidade em relação a usos alternativos do solo.
Evidências cientí cas indicam que se em uma paisagem for alcançado um limiar de cobertura vegetal, a perda de espécies é vertiginosa. Por exemplo, em paisagens no sudoeste da Amazônia que continham menos de 20% de cobertura vegetal, um estudo observou que a riqueza de espécies caiu dramaticamente quando comparada com outras paisagens de diferentes proporções de cobertura vegetal (OCHOA-QUINTERO, 2015). Ações na esfera federal podem atuar como vetores de indução à perda de biodiversidade no estado. Um exemplo desse tipo de efeito foi a aprovação do Novo Código Florestal (Lei 12.651/12), por exemplo. Através de Decreto de 24 de abril de 2013 foi autorizada a redução da Reserva Legal de imóveis rurais, situados nas Zonas de Consolidação da Zona Leste (Leste) e Calha Norte do Estado do Pará, de 80% para até 50%. Embora não autorize expressamente o desmatamento de novas áreas, pois está vinculada a ns de recomposição, regeneração ou compensação, tal legislação estimula a recomposição de áreas de Reserva Legal (RL), utilizando o plantio de orestas comerciais, tais como Paricá, Eucalipto, Pinus, Dendê, ao invés de estimular o processo de sucessão orestal natural. Esses tipos de uso do solo possuem baixo valor de conservação quando comparados com orestas primárias ou secundárias (BARLOW, 2006; LEES, 2015; MOURA, 2014; SOLAR, 2015).
8.3 Maior chance de persistência dentro de áreas protegidas Quase 45% do território do Estado do Pará encontra-se sob algum regime de proteção legal. Isto é signi cativamente relevante quando se leva em consideração a extensão territorial do estado. De tal modo, essa estratégia tem papel chave para a conservação da biodiversidade estadual, em especial, para as espécies ameaçadas. Hoje em dia, é consensual dizer que o conjunto de APs na Amazônia tem auxiliado enormemente na contenção do desmatamento, retenção de cobertura vegetal e na manutenção dos estoques de carbono (NESPTAD, 2014). Estudos apontam que APs retém mais habitat primário do que áreas adjacentes desprotegidas (JOPPA, 2008; NEPSTAD, 2006). Todos os tipos de APs têm contribuído para evitar o desmatamento na Amazônia brasileira, mesmo sujeitas a diferentes níveis de pressão de desmatamento. Porém, há diferenças quando se leva em consideração o tipo e os objetivos para os quais foram criadas. APs com maior restrição de uso na Amazônia brasileira tem consistentemente evitado desmatamento mais do que APs de uso sustentável (NOLTE, 2013). Nossos resultados corroboram essa informação. Em alguma proporção, independente da categoria, todas protegem remanescentes orestais com biodiversidade ameaçada. Contudo, quanto maior a restrição ao uso dos recursos naturais, maior a proporção de biodiversidade ameaçada resguardada. Em outros termos, isso signi ca que deve ser priorizada a criação de UCPI ou agilizar o processo de demarcação e consolidação de TI.
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O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
É válido realçar que no Estado do Pará há diferenças geográ cas importantes entre as regiões quanto à cobertura de APs. Enquanto a cobertura de APs no Leste paraense é irrisória, composta principalmente de pequenas TIs, em outras regiões do estado essas possuem maior relevância no contexto espacial e da paisagem. Os três principais mosaicos de APs do Estado do Pará são o Centro-Sul, Sudoeste e Calha Norte. Trata-se de grandes blocos de APs, formando importantes corredores de biodiversidade em uma escala regional. Esses mosaicos são constituídos de diferentes tipos de APs, o que representa um fato positivo, pois teoricamente traria mais dinâmica aos processos de planejamento e conservação da biodiversidade. Nesse contexto de ameaça estruturado espacialmente, um principal elemento da paisagem regional atuando em favor da conservação da biodiversidade ameaçada são as APs. De nitivamente, os três principais mosaicos serão imprescindíveis tanto para frear a perda de habitat das espécies quanto para resguardar as populações naturais de espécies ameaçadas. Obviamente, é necessária uma atenção especial àquelas APs que estão em contato direto com as zonas de consolidação, que são invariavelmente mais vulneráveis ao desmatamento. Os resultados demonstram que o atual conjunto de APs possui baixa representatividade no que diz respeito às espécies ameaçadas, sobretudo por estarem predominantemente concentradas no Leste do Pará, de modo a possuir baixa cobertura de APs. Esse dé cit de espécies ameaçadas em APs pode ser explicado pelo modo de como áreas são selecionadas para criação. No que diz respeito à criação de UCs (excetuando Terras Indígenas), elas são, em geral, criadas em dois contextos socioeconômicos extremos. Ou são áreas com iminente ameaça de degradação com danos reais a uma grande parcela da sociedade, ou são áreas com baixa pressão de atividades humanas, em grandes vazios demográ cos e/ou isolados geogra camente.
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O que Podemos Esperar para o Futuro?
Se nenhuma providência mais drástica for tomada nos próximos anos, as primeiras espécies a serem extintas do território do Pará (em alguns casos, até globalmente) são aquelas que ocorrem no Leste desse estado. Vale ressaltar que o estado tem o compromisso e o dever legal de agir a m de impedir que nenhuma espécie da ora ou da fauna se torne extinta em seu território. A vulnerabilidade à extinção está diretamente relacionada à taxa de perda de habitat e inversamente ao tamanho da distribuição geográ ca. Ou seja, a biota da região é duplamente vulnerável: altas taxas de desmatamento e um grande número de espécies endêmicas com distribuições geográ cas restritas. O mais preocupante é supor que, mesmo em um cenário futuro com governança, as espécies que ocorrem primordialmente da região Leste do estado possuiriam montantes de habitat inferiores a 20% até o ano de 2020. Só por esse fato estaria decretada, inevitavelmente, a extinção das espécies em médio e em longo prazo. Ainda assim, tais resultados são conservadores e seguramente subestimam o risco de extinção das espécies, pois há outras variáveis que também podem in uenciar no processo de extinção.
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O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
Por exemplo, as diferentes espécies orestais possuem distintos níveis de suscetibilidade a distúrbios na oresta, como a exploração seletiva de madeira. Além disso, não foi medido aqui o efeito particular da fragmentação do habitat orestal sobre a qualidade do ambiente para as espécies, o que também afeta diretamente as populações naturais (BIRD, 2012; WEARN, 2012). Sumariamente, é esperado que os efeitos observados sejam mais severos sobre aquelas espécies com um grande nível de especialização a um tipo de habitat ou micro-habitat em particular, e que fatores relacionados à história de vida como tamanho do corpo, raridade, tamanho populacional, também estão diretamente vulneráveis à extinção. Neste trabalho, foram veri cados, principalmente, os efeitos relacionados ao tamanho da distribuição e ao montante de habitat disponível. Fundamentalmente, a conservação da biodiversidade ameaçada do Estado do Pará dependerá, daqui em diante, do rumo que será tomado em relação ao uso do solo na Amazônia. Nesse contexto de ameaça iminente à biodiversidade, é fundamental uma postura proativa da administração pública com decisões baseadas em planos estratégicos a m de frear o acelerado processo de perda de habitat.
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
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RECOMENDAÇÕES
Recomendações
Este livro, além de caracterizar o status atual e futuro da biodiversidade ameaçada de extinção e seus remanescentes, é dedicado ao apontamento de potenciais soluções e também ao direcionamento dos esforços no enfrentamento da crise da biodiversidade na Amazônia Paraense. É válido ressaltar que todas as ações propostas aqui só surtiriam algum efeito se forem adotadas em um ambiente com maior governança e integração de ações possíveis. Nesse tópico, são sumarizadas ações que visam (1) minimizar o processo de extinção e (2) potencializar a persistência das espécies no Estado do Pará, dentro de quatro diferentes eixos de ação, complementares e concomitantes.
1. Garantir a manutenção dos remanescentes orestais que já estão sobre algum regime de proteção. Ações
56
Ÿ
Aumento da efetividade de gestão das APs;
Ÿ
Intensi cação do monitoramento e scalização no interior e entorno das APs, principalmente naquelas mais vulneráveis ao desmatamento;
Ÿ
Recuperação de áreas degradadas no interior de APs;
Ÿ
Gerar alternativas e/ou estratégias para evitar processos de desafetação;
Ÿ
Aplicação de práticas de Manejo Integrado de Paisagens, evitando assim, a simpli cação dos tipos de uso do solo.
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
2. Criar outras Áreas Protegidas, principalmente sobre o hotspot de biodiversidade ameaçada do Leste paraense. Ações Ÿ
Agilizar o processo de demarcação e consolidação de TIs
Ÿ
Estimular a criação de RPPNs;
Ÿ
Criar UCs de Proteção Integral;
Ÿ
Criar mosaicos de APs e estimular o Manejo Integrado de Paisagens.
3. Reduzir a extinção local fora de Aps Ações Ÿ
Regularização de nitiva em relação às orestas presentes no interior de propriedades privadas (validação do CAR);
Ÿ
De nição de áreas de RL e APP que formem blocos e/ou corredores ecológicos entre propriedades privadas adjacentes ou APs.
Ÿ
Incentivo à manutenção de excedentes de RL, subsidiando o mercado de Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) previsto na Lei 12.651/12;
Ÿ
Incentivar a prática de marketing estratégico nas empresas e seus produtos, utilizando a conservação de espécies ameaçadas;
Ÿ
Criação de uma certi cação que valorize empreendimentos que auxiliam na conservação das espécies ameaçadas de extinção;
Ÿ
Fortalecimento de instrumentos como a Lista de Desmatamento Ilegal (LDI) e Áreas Embargadas (AE);
Ÿ
Criação de incentivos econômicos e/ou scais àqueles proprietários que mantenham em sua propriedade, populações viáveis, em termos demográ cos, de espécies ameaçadas de extinção.
4. Observância às normas estabelecidas que visem minimizar a pressão antrópica sobre espécies ameaçadas de extinção. Ação Ÿ
Cumprimento do disposto da Legislação vigente que trata das regras jurídicas regulamentares que disciplinam os procedimentos de supressão de vegetação e captura, o transporte, armazenamento e manejo da fauna no âmbito do licenciamento ambiental e da supressão de vegetação nos casos de uso alternativo do solo em que estejam envolvidas espécies da fauna e ora constantes na lista nacional/estadual o cial de espécies ameaçadas de extinção.
CONCLUSÕES
Conclusões
De acordo com os resultados, é possível concluir que a biodiversidade de vertebrados ameaçados do Estado do Pará encontra-se em situação de ameaça real, podendo estar em curso um evento de extinção maciça de espécies, sobretudo no Leste do estado. Nesse cenário, APs possuem um importante papel para a manutenção e conservação da biodiversidade, entretanto não podem ser a única solução. Para todos os efeitos, a erosão da biodiversidade ameaçada pode ser minimizada em um cenário com maior governança, seja garantindo a persistência das espécies ameaçadas dentro de APs já estabelecidas, até mesmo ampliando a rede de proteção, ou ainda com estratégias que reduzam a extinção fora de APs, principalmente por serem mais vulneráveis à degradação.
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SOARES-FILHO, B.S. et al. Modelling conservation in the Amazon basin. Nature, n. 440(7083), pp.520–3. Available at: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/16554817>, 2006.
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WEARN, O.R., Reuman, D.C.; Ewers, R.M. Extinction Debt and Windows of Conservation Opportunity in the Brazilian Amazon. Science, n. 337(228), 2012.
68
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
69
Bolitoglossa paraensis
Bufo ocellatus
Pseudopaludicola canga
Amazona ochrocephala xantholaema
Anodorhynchus hyacinthinus
Aratinga pintoi
Celeus torquatus pieteroyensi
Charitospiza eucosma
Coryphaspiza melanotis marajoara
Crax fasciolata pinima
Deconychura longicauda zimmeri
Dendrexetastes ru gula paraensis
Dendrocincla merula badia
Dendrocolaptes certhia medius
Euscarthmus rufomarginatus
Guaruba guarouba
Anfíbio
Anfíbio
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Nome cientí co
Anfíbio
Grupo taxonômico
ANEXO A
Vulnerável Vulnerável Em perigo Vulnerável Vulnerável Vulnerável Em perigo Vulnerável Vulnerável Em perigo Vulnerável Em perigo Em perigo Em perigo Vulnerável Vulnerável
sp2 sp3 sp1 sp2 sp3 sp4 sp6 sp7 sp8 sp9 sp10 sp11 sp12 sp13 sp14
Categoria de ameaça
sp1
Código
Ararajuba CONTINUA
Barulhento, Maria-corruíra
Arapaçu-barrado-do-nordeste
Arapaçu-da-taoca-maranhense
Arapaçu-canela-de-belém
Arapaçu-rabudo
Mutum-de-penacho
Tico-tico-do-campo
Mineirinho
Pica-pau de coleira
Piriquito
Arara-azul-grande
Papagaio moleiro
Sapo
Sapo
Salamandra
Nome comum
70
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
Myrmotherula klagesi
Oryzoborus maximiliani
Phlegosis nigromaculata paraensis
Piculus chrysochloros paraensis
Piprites chloris griseicens
Primolius maracana
Psophia viridis obscura
Pteroglossus bitorquatus bitorquatus
Pyrrhura lepida lepida
Synallaxis rutilans omissa
Tangara velia signata
Thalasseus maximus
Thamnophilus aethiops incertus
Ateles marginatus
Pteronura brasiliensis
Puma concolor
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Ave
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Nome cientí co
Ave
Grupo taxonômico
CONTINUAÇÃO
Categoria de ameaça Vulnerável Criticamente em perigo Em perigo Vulnerável Vulnerável Vulnerável Em perigo Vulnerável Em perigo Em perigo Em perigo Vulnerável Em perigo Vulnerável Vulnerável Vulnerável
Código sp16 sp17 sp18 sp19 sp20 sp21 sp22 sp23 sp24 sp25 sp26 sp27 sp28 sp1 sp10 sp11
Sussuarana, puma
Ariranha
Coatá da testa branca
Choca-lisa
Trinta-réis-real
Tangará
João-teneném
Tiriba-pérola
CONTINUA
Araçari-de-pescoço-vermelho
Jacamim-de-costas-verdes
Maracanã-do-buriti
Papinho-amarelo
Pica-pau-dourado-escuro
Mão-de-taoca-pintada
Bicudo, bicudo-verdadeiro
Choquinha-do-Tapajós
Nome comum
O Futuro da Fauna Ameaçada do Pará
71
Speothos venaticus
Chiropotes satanás
Chiropotes utahickae
Cebus kaapori
Leopardus tigrinus
Leopardus wiedii
Myrmecophaga tridactyla
Panthera onca
Priodontes maximus
Anolis brasiliensis
Apostolepis avotorquata
Chironius avolineatus
Colobosaura modesta
Liophis meridionalis
Pseudoboa nigra
Tupinambis merianae
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Mamífero
Réptil
Réptil
Réptil
Réptil
Réptil
Réptil
Réptil
Nome cientí co
Mamífero
Grupo taxonômico
CONTINUAÇÃO
Categoria de ameaça Vulnerável Criticamente em perigo Vulnerável Criticamente em perigo Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável Vulnerável
Código sp12 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7 sp8 sp9 sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 sp7
Jacuraru, Teiú
Cobra-coral (falsa)
Cobra de capim
Lagarto
Cobra-cipó
Cobra da terra
Lagarto-papa-vento
Tatu-canastra
Onça pintada
Tamanduá bandeira
Gato-maracajá
Gato-do-mato
Macaco-caiarara
Cuxiu
Cuxiu-preto
Cachorro-vinagre
Nome comum