Dimensões do urbano: múltiplas facetas da cidade

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Dorval do Nascimento|João Batista Bitencourt (Orgs.)

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DIMENSOES

DO URBANO múltiplas facetas da cidade


DIMENSÕES DO URBANO


É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.

Associação Brasileira de Editoras Universitárias


D O RVA L D O N A S C I M E N TO E J O Ã O B AT IS TA B I T E N C O U RT ( O R G S . )

DIMENSÕES DO URBANO mú l t i p l a s f a c e t a s d a c i d a d e

Ch a p e c ó , 2008


REITOR: Odilon Luiz Poli VICE-REITOR DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GR ADU AÇÃO: Claudio Alcides Jacoski ADUAÇÃO: VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Sady Mazzioni VICE-REIT OR A DE GR ADU AÇÃO: Maria Luiza de Souza Lajus VICE-REITOR ORA ADUAÇÃO:

D582d

Dimensões do urbano: múltiplas facetas da cidade / Dorval do Nascimento, João Batista Bitencourt (Orgs.). — Chapecó: Argos, 2008. 284 p. 1. Geografia urbana. 2. Planejamento urbano. I. Nascimento, Dorval do. II. Bitencourt, João Batista. III. Título. CDD: 910.13042

ISBN: 978-85-98981-90-1

Catalogação: Yara Menegatti CRB 14/488 Biblioteca Central Unochapecó

Conselho Editorial: Elison Antonio Paim (Presidente); Alexandre Mauricio Matiello; Antonio Zanin; Arlei Luiz Fachinello; Arlene Renk; Claudio Alcides Jacoski; Edilane Bertelli; Jacir Dal Magro; Jaime Humberto Palacio Revello; José Luiz Zambiasi; Luis Flávio Souza de Oliveira; Maria dos Anjos Lopes Viella; Valdir Prigol; Neusa Fernandes de Moura; Ricardo Brisolla Ravanello C o o rd d o r:: nad rrd e na rr::: Valdir Prigol


SUMÁRIO

PREFÁCIO .....................................................................................

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APRESENTAÇÃO ........................................................................... 13 IMAGENS DO URBANO: DO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO Annateresa Fabris ........................................................................... 15 HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E CIDADE: A CONSTRUÇÃO DA CIDADE MODERNA NAS FOTORREPORTAGENS DA

REVISTA DO GLOBO NOS ANOS 1950 Charles Monteiro ........................................................................... 37 A COMPLEXIDADE DO AMBIENTE URBANO E SEU REFLEXO NA GEOGRAFIA DO BAIRRO RESTINGA DE PORTO ALEGRE (RS) Claudia Luísa Zeferino Pires ............................................................ 57


PARA ALÉM DO MONUMENTO: ETNICIDADE E IDENTIDADE URBANA NA CIDADE DO CARVÃO (CRICIÚMA, 1966) Dorval do Nascimento ................................................................... 83 HISTÓRIA, TEMPO PRESENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL: DIMENSÕES CONTEMPORÂNEAS DO PATRIMÔNIO URBANO Janice Gonçalves ............................................................................ 105 SOB O DOMÍNIO DO PASSADO João Batista Bitencourt .................................................................. 125 PLANEJAMENTO: POLÍTICA E MEMÓRIA URBANA NAS CIDADES DE CRICIÚMA E IÇARA Jorge Luiz Vieira ............................................................................ 159 ESCRITOS SOBRE A CIDADE: “AS MIL PORTAS” DA MODERNIZAÇÃO DE CHAPECÓ (1960/1970) Juçara Nair Wollf .......................................................................... 169 QUANDO HANNAH ARENDT VAI À CIDADE E ENCONTRA COM RUBEM FONSECA; OU DA CIDADE, DA VIOLÊNCIA E DA POLÍTICA Robert Moses Pechman .................................................................. 189 A CIDADE ENTRE PLANOS DE REMODELAÇÃO E RESISTÊNCIA POPULAR: POLÍTICA E POLITIZAÇÃO DAS QUESTÕES URBANAS NO BRASIL Rodrigo Santos de Faria ................................................................. 217


NOTAS PARA PENSAR UMA HISTÓRIA DA ARCÁDIA Rosângela Miranda Cherem .......................................................... 239 AS INTER-RELAÇÕES DA DIMENSÃO FÍSICA DO URBANO Yasmine Moura da Cunha ............................................................. 269


PREFÁCIO

A cidade é um fenômeno ancestral, tomado como paradigmático da civilização e como realização máxima da cultura, como bem sabem os historiadores. E é dessa condição de ser um padrão de referência universal, reconhecível mundialmente, na sua expansão planetária e temporal, que a cidade tira sua força de fascínio, de interesse, de preocupação. A cidade não nos deixa apáticos, ela está presente desde tempos imemoráveis e é preocupação dominante na era contemporânea. Seja qual for a modalidade do núcleo urbano, em termos de tamanho, modus vivendi ou ainda de valores e significados, que distinguem as cidades umas das outras, o urbano comporta um elemento característico e individualizante que o faz ser reconhecido como tal; diante dela, suas condições intrínsecas enquanto fenômeno social e histórico se manifestam, permitindo o reconhecimento. Nessa medida, as cidades dialogam entre si, pequenas, metrópoles ou megalópoles, cidades faróis do mundo, agitadas e modernas ou burgos modestos, pacatos e esquecidos, urbes antigas, carregadas de cultura ou cidades novas, com um passado ainda bem recente. O dicionário de La Furetière , de 1679, definia cidade como “um lugar cheio de casas e fechado por terrenos e fossos, ou muralhas e fossos”.


Esta definição antiga, inspirada em uma preocupação de inventariar o significado das palavras que dão sentido ao mundo, marcada pela historicidade de seu tempo de escritura, já nos remete a certos elementos que têm acompanhado a identidade urbana: um espaço delimitado, com fixação de limites, que estabelecem “um fora” e “um dentro” da cidade; uma concentração populacional, marcada pelo sedentarismo e pela presença de construções, definidoras de uma paisagem urbana. Ora, uma cidade é, sem dúvida, “materialidade”; ela é pedra, tijolo, ferro, vidro, madeira, cimento, aço, plástico. Tudo aquilo que o homem construiu e que converteu em volume, espaço, superfície, através de edificações, monumentos, vias públicas, equipamentos. Uma cidade é, sobretudo, “sociabilidade”, pois não é possível pensála sem atores, sem relações sociais, sem interação. A cidade é sempre obra dos homens e só se realiza na coletividade; a cidade existe porque é habitada, porque é reduto de uma vida social. Mesmo as cidades abandonadas, as cidades fantasmas, mostram, nas suas ruínas, o registro da vida humana que ali houve um dia. Mas não é possível deixar de entender que a cidade é, além de tudo, “sensibilidade”. Uma cidade é sempre materialidade e sociabilidade qualificada, é realidade que se define por valores, ethos, imagens, discursos, sentimentos. Uma cidade que, ao longo da história, foi objeto de discursos e imagens que traduziram sensações, expectativas, desejos, medos, sonhos e utopias, razões e sentimentos. Cidade é, ainda, uma palavra que, para além do seu sentido nominativo de designar um fenômeno específico, carrega uma dimensão simbólica inegável, que faz possível o diálogo entre aqueles que, tal como os historiadores, os geógrafos e os geólogos, os arquitetos e os urbanistas, se voltam para o estudo da urbe. Pois a cidade, essa unidade de referência, tão claramente identificável, é polimorfa, polifônica, polissêmica.

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Parece ter sido desse ângulo que surgiu a proposta de um grupo de jovens pesquisadores que, desde Criciúma, estabeleceram uma interlocução universal com o tema da cidade. Nesse encontro, realizado no âmbito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), que teve por desafio pensar as “dimensões da cidade” e cujo produto se apresenta na obra que ora se oferece aos leitores, não tem sentido falarmos de regional, local ou nacional, categorias que ainda vêm assombrando os caminhos da história para designar abrangências espaciais e também identitárias que atuam como marcos divisórios do conhecimento. Cremos que a proposta desta obra é bem outra: seus organizadores partem de um pressuposto multifacetado e plurifocal para estudar a cidade, assim como os olhares que dirigem sobre o urbano são fruto de um espectro multidisciplinar. Assim, a proposta é instigante e se reveste de uma atualidade inquestionável, dada a complexidade das questões que envolve e que, desde o passado, atravessam nosso presente e se projetam no futuro. Iniciativas como esta demonstram a vitalidade empreendedora de uma nova geração de pesquisadores, que, sem receio, enfrentam talvez um dos maiores desafios de hoje, que é o de pensar a complexidade do urbano, centrando, sob diferentes enfoques, seu interesse sobre este “lugar onde as coisas acontecem”. Sandra Jatahy Pesavento Doutora em História, professora titular de História do Brasil da UFRGS.

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A P R E S E N TA Ç Ã O

Em obra bastante conhecida, na qual tece sua crítica aos princípios artísticos – ou à falta deles – na construção das cidades modernas, Camillo Sitte recorre a Aristóteles para lembrar que “uma cidade deve ser construída para tornar o homem ao mesmo tempo seguro e feliz”1; afirmação que chega a surpreender na atualidade, pois não é tarefa cômoda avalizá-la nos dias de hoje; não estamos exatamente felizes, tampouco seguros, na urbe contemporânea. Certamente, não habitamos mais a cidade das últimas décadas do século XIX, quando Sitte lançou Der Stâdtebau, e muito nos afastamos das formações urbanas da Grécia clássica. As cidades ganharam volume e complexidade e impõem, aos estudiosos de questões urbanas, renovadas indagações. Em torno dos questionamentos que a cidade lança a seus leitores, entender/explicar a vida urbana, analisar sua forma e refletir sobre sua imagem, sociabilidades e vivências, enfim pensar o tema cidade, pesquisadores da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) constituíram, em

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SITTE, Camillo. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos. São Paulo: Ática, 1992. p. 14.


2002, o grupo de pesquisa Cidade: Espaço e Cultura, reunindo profissionais de diferentes áreas em uma proposta interdisciplinar. Entre as atividades desenvolvidas, o grupo realizou, de 15 a 18 de maio de 2006, na cidade de Criciúma, um evento que reuniu pesquisadores de universidades brasileiras cujos objetos de estudos focam observações sobre o ambiente urbano a partir de diversos campos do conhecimento e em diferentes abordagens. Intitulado Dimensões do Urbano, o simpósio elegeu quatro temáticas a serem debatidas: Dimensão social: processos de remodelação urbana e resistência popular; Dimensão cultural: identidade, memória e patrimônio urbano; Dimensão física: processos de degradação e reocupação do ambiente urbano e Dimensão sensorial: sensibilidades, percepções e usos da cidade. A obra que ora apresentamos resulta do citado Simpósio Dimensões do Urbano. Aqui estão dados a ler os trabalhos apresentados nas quatro mesas temáticas, contendo ainda as análises abordadas nas conferências de abertura e enceramento. Espelhando a perspectiva interdisciplinar do grupo de pesquisa Cidade: Espaço e Cultura, os artigos partem de variados campos do saber, que lançam olhares sob ângulos diversificados sobre a cidade. Dimensões apreendidas por arquitetos, historiadores, urbanistas, geólogos e geógrafos que para adentrar a urbe se valem de múltiplos caminhos: investigam planos de remodelação; debatem a relação entre patrimônio e memória; observam monumentos públicos para refletir sobre imaginário e identidade; passeiam pela pintura, literatura e fotografia para abstrair representações; debatem a violência; apresentam áreas degradadas. Um amplo espectro que converge para a cidade, que assim como as leituras aqui apresentadas é igualmente multifacetada. Dorval do Nascimento João Batista Bitencourt (Organizadores)

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Título Dimensões do urbano: múltiplas facetas da cidade Autor Dorval do Nascimento e João Batista Bitencourt (Orgs.) Assistente editorial Alexsandro Stumpf Assistente administrativo Neli Ferrari Secretaria Alexandra Fatima Lopes de Souza Divulgação, distribuição e vendas Neli Ferrari, Jocimar Vazocha Wescinski e Ricardo S. Hagemann Projeto gráfico Alexsandro Stumpf e Ronise Biezus Diagramação Carolina Debiasi Capa Ronise Biezus, a partir da foto “Canal de Amsterdam” cedida por Ana Marcia Debiasi Duarte Preparação dos originais Wendy Sampaio Martins Revisão Jakeline Mendes Ruviaro e Wendy Sampaio Martins Formato 16 X 23 cm Tipologia Minion entre 7 e 15 pontos Papel Capa: Cartão Supremo 350 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2 Número de páginas 284 Tiragem 1000 Publicação setembro de 2008 Impressão e acabamento Gráfica e Editora Pallotti - Santa Maria (RS)

Argos – Editora Universitária – UNOCHAPECÓ Av. Attilio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 Fone: (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos


Cidade é, ainda, uma palavra que, para além do seu sentido nominativo de designar um fenômeno específico, carrega uma dimensão simbólica inegável, que faz possível o diálogo entre aqueles que, tal como os historiadores, os geógrafos e os geólogos, os arquitetos e os urbanistas, se voltam para o estudo da urbe. Pois a cidade, essa unidade de referência tão claramente identificável, é polimorfa, polifônica, polissêmica.

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