Narrativas da diferença

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NARRATIVAS DA DIFERENÇA


Série Debates

UNOCHAPECÓ Argos - Editora Universitária Av. Atílio Fontana, 591-E - Bairro Efapi - Chapecó - SC CEP 89809-000 - Caixa Postal 747 - Fone: (49) 321 8218 E-mail: argos@unochapeco.edu.br

É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.

Associação Brasileira de Editoras Universitárias


ARLENE RENK

NARRATIVAS DA DIFERENร A

Chapecรณ, 2004


REITOR: Gilberto Luiz Agnolin VICE-REITORA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: Maria Assunta Busato VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Gerson Roberto Röwer VICE-REITOR DE ENSINO: Odilon Luiz Poli

__________________________________________ 981.64 R412n

Renk, Arlene Narrativas da diferença / Arlene Renk. - Chapecó : Argos, 2004. 150 p.

1. Santa Catarina - História. 2. Migração. I. Título. CDD 981.64

__________________________________________ ISBN 85-7535-063-3

Catalogação: Yara Menegatti CRB 14/488

Conselho Editorial Josiane Roza Oliveira (Presidente); Ricardo Rezer (Vice); Alexandre Mauricio Matiello; Arlene Renk; Eliane Marta Fistarol; Flávio Roberto Mello Garcia; Hermógenes Saviani Filho; José Luiz Zambiasi; Juçara Nair Wolff; Leonardo Secchi; Maria Assunta Busato; Maria dos Anjos Lopes Viella; Maria Luiza de Souza Lajus; Monica Hass Coordenadora: Monica Hass Assistente Editorial: Hilario Junior dos Santos Assistente Administrativa: Neli Ferrari Secretaria: Paula Cristina Primo Divulgação: Daniela Lanhi Zancanaro Projeto gráfico e Diagramação: Ronise Biezus Capa: Hilario Junior dos Santos e Jakeline Mendes Imagem de capa: “Le désastre” ou “La guerre”, de Vieira da Silva, 1942 Revisão: Jakeline Mendes e Carlos Pace Dori Tiragem: 800 exemplares


SUMÁRIO

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ALGUMAS PALAVRAS

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CULTURAS HÍBRIDAS: REGIÃO E NAÇÃO Domesticando a natureza A colonização e suas representações Colonização marcos temporais: ruptura e construção A sagarana dos construtores do progresso Catarinenses: somente por liames políticos A polifonia regional

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A RELIGIÃO COMO IDIOMA DA IDENTIDADE Os brasileiros de Ponte Serrada e Vargeão A ocupação do Oeste catarinense Grupo étnico e experiência partilhada Identidade faccional: brasileiros católicos e brasileiros crentes Os capatazes crentes Considerações

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NARRATIVAS DE MULHERES: A DIFERENÇA GERACIONAL

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OS DACOS NO MUNDO GLOBALIZADO

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REFERÊNCIAS


ALGUMAS

PALAVRAS

Narrativas da diferença constitui-se de quatro textos escritos em momentos diversos e que carregam essas marcas. O leitmotiv é a narrativa na região. Valho-me da clássica diferenciação feita por Geertz: não estudamos aldeias, mas nas aldeias. Repito o mesmo. Acresço a preocupação de EvansPritchard: não estudamos povos, mas problemas. O fio condutor poderia ser: como se concebe a região? No que consiste essa ficção bem fundamentada chamada região? Quem faz a região? Como os grupos sociais ocupam as posições diferenciadas no espaço social? De que estratégias se valem? O primeiro texto “Culturas híbridas: região e nação” faz uma anamnésia social desse território que a partir dos anos vinte e trinta do século passado foi nominado Oeste catarinense e de como as diferentes paisagens foram construídas. Mais do que isso, como a história construiu o que chamamos de região. E aí cabe a pergunta: de que história e de quantas histórias se faz uma região?


O segundo texto inspira-se no remorso ocidental que criou a etnografia, conforme Levi-Strauss. É sempre uma tímida forma de pagar uma dívida social contraída por ancestrais em relação aos autóctones. Dedico-me especialmente aos brasileiros – como se nominava a população das matas dessa região. Recupero abreviadamente o modo de vida anterior à religião para situar o leitor na identidade faccional que assume. No capítulo seguinte, centro-me nas Ariadnes que ajudaram Teseu a matar o minotauro. E nos sentimentos inculcados lenta e microscopicamente, como o da culpa, atávico em nossos esquemas de percepção. O último texto versa sobre a inserção dos jovens no mundo globalizado, abordando a migração internacional. Para narrar valho-me da linguagem. Numa analogia doméstica, a linguagem é o tear e seu fio o organizador do mundo social. Cardar, tecer, tricotar, crochetar, costurar, remendar, produzir patchworks, fuxicos e rendas. Como descrever as fidelidades de Penélope e Argos? Em toda história há um Ulisses, mesmo que a contrabando! Se não a linguagem, quem estaria a amalgamar os rituais, os comícios, as marselhesas, as liturgias, as homilias, a escuta terapêutica, as profanações e sacralizações, os eufemismos, os fetichismos, a denegação, a humanidade, a alteridade, da ipseidade à impessoalidade? 8


Como operacionalizar simetrias e assimetrias, inclusões e exclusões? Sociedade de discurso? Como abolir as hierarquias domésticas de humanidades? Ressignificar Babel? Não na imitatio dei, mas na possibilidade múltipla de abolir monopólios de expressões e linguagens, mesmo sem encontrar o elo e a palavra perdida. Língua de Esopo na adversidade da censura? Mercado lingüístico com pidgins, crioulos, jargões, língua franca, do esoterismo ao exoterismo, das retóricas aos dialetos e socioletos, das ortodoxias às heretodoxias e glossolalias, mesmo que hierarquizadas. Linguagem e rituais. A força e eficácia da linguagem transforma o indicativo em imperativo. Nomear, instituir e fazer existir pela nomeação, arvorar-se a legitimidade em prescrever. O que nos une, apesar das diferenças e das hierarquias domésticas de humanidades? A linguagem e seus significados em Pandora, Cassandra, no canto de Débora, na Cabala, no Males, Livro dos Provérbios (mesmo que poucas sejam Naomis), na procura de terras sem males, de Édens/Paraíso/ Pardês, das utopias ilimitadas a nos desafiar. Linguagem, se não linguagens? Agradeço à Unochapecó por disponibilizar tempo dentro do plano semestral de trabalho para organizar o volume, ao Fape e ao Pibic/CNPq pelas bolsas de iniciação científica. Por último, mas não menos importante, obrigadíssima a Silvana 9


Winckler, Luci Bernardi, Valdir Prigol e Vilson Cabral Jr. pela interlocução.

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