Antes do oeste catarinense: arqueologia dos povos indígenas

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Mirian Carbonera Pedro Ignacio Schmitz (Orgs.)

ANTES DO OESTE CATARINENSE ARQUEOLOGIA DOS POVOS INDÍGENAS

Chapecó, 2011


Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza Lajús Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

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Antes do oeste catarinense: arqueologia dos povos indígenas / Mirian Carbonera, Pedro Ignacio Schmitz (Orgs.). – Chapecó : Argos, 2011. 364 p. : 23 cm. – (Regionais ; 7) Inclui bibliografias. ISBN: 978-85-7897-034-5 1. Índios da América do Sul – oeste catarinense (SC : Mesorregião). 2. Arqueologia – Índios da América do Sul – oeste catarinense (SC : Mesorregião). 3. Oeste catarinense (SC : Mesorregião) – História. I. Carbonera, Mirian. II. Schmitz, Pedro Ignacio. III. Título. CDD 21 – 306.08

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó

Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó

Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente), César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski Coordenadora: Maria Assunta Busato


Sumário

Apresentação Mirian Carbonera Pedro Ignacio Schmitz

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PARTE I A geração do conhecimento 15 As pesquisas arqueológicas entre o final do século XIX e o início do século XXI 17 Mirian Carbonera Da arqueologia acadêmica à arqueologia consultiva no oeste catarinense Solange B. Caldarelli Rodrigo Lavina

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PARTE II A ocupação do território 71 A ocupação indígena do oeste catarinense Pedro Ignacio Schmitz

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As indústrias líticas na área da UHE Foz do Chapecó, oeste catarinense: antiguidade, estratégia tecnológica e variabilidade 105 Sirlei Elaine Hoeltz Adelson André Brüggemann

PARTE III O Guarani nas áreas de mata 137 Caça, pesca e coleta de uma aldeia Guarani 139 Pedro Ignacio Schmitz Suliano Ferrasso Enterramentos Guarani: problematização e novos achados 167 Letícia Morgana Müller Sheila Mendonça de Souza Um caso de “regionalismos culturais” por meio do estudo da cerâmica pintada Tupiguarani de Itapiranga (SC) 219 Kelly de Oliveira

PARTE IV Os antepassados dos Kaingang nos pinheirais 241 Em busca dos antepassados dos índios Kaingang 243 Pedro Ignacio Schmitz Marcus Vinícius Beber


Cremações e sepultamentos: as estruturas anelares do planalto 269 Letícia Morgana Müller Sheila Mendonça de Souza

PARTE V Culturas diferentes em contato 307 O contato cultural entre populações ceramistas pré-coloniais na região do alto rio Uruguai 309 Jairo Henrique Rogge Mirian Carbonera

PARTE VI A região do oeste catarinense 339 Olhares sobre a constituição histórica da região oeste de Santa Catarina 341 Elison Antonio Paim Sobre os autores 363


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Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM) da Universidade da Região de Chapecó (Unochapecó) tem o prazer de colocar em suas mãos o livro Antes do oeste catarinense: arqueologia dos povos indígenas, escrito por arqueólogos brasileiros que realizaram pesquisas no oeste de Santa Catarina e regiões próximas e, neste livro, apresentam aspectos acerca das antigas populações indígenas. A publicação integra a série ‘História e Patrimônio’, na qual já foram publicados A danação do objeto e Há uma gota de sangue em cada museu, relacionados à museologia. O objetivo deste livro é tornar acessível o conhecimento produzido pela ciência arqueológica, que ainda permanece muito limitado à comunidade acadêmica, e divulgar as informações e os dados obtidos nos últimos anos, geralmente encerrados em relatórios de arqueologia consultiva. Esta modalidade de pesquisa, realizada em decorrência de obras de impacto ambiental, começou na região na década de 1980 e cresceu muito nos últimos dez anos. Embora a região seja rica em vestígios arqueológicos, cobrindo muitos milha-

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res de anos, carece de publicações populares semelhantes às que se referem ao período histórico, com destaque para o século XX, para o qual existe uma gama de trabalhos. O aumento das pesquisas na região está relacionado à história da própria arqueologia brasileira. No País, a ciência arqueológica surge no século XIX, vinculada aos estudos de viajantes naturalistas estrangeiros e a museus, como o Museu Nacional, o Museu Paulista, o Museu Paraense Emílio Goeldi. Mas é ao longo do século XX, especialmente a partir de 1950, que aumenta o número de pesquisas, marcadas pela influência de duas escolas estrangeiras, uma francesa e outra americana, e, assim, a arqueologia também entra nas instituições universitárias. Nessa época, os pesquisadores começaram a se preocupar, também, com políticas preservacionistas, que resultaram na criação da Lei n. 3.924, de 1961, que tem por objetivo a proteção dos sítios arqueológicos em todo território nacional. Depois dessa lei foram publicadas portarias complementares que, além de cuidar da proteção dos sítios, visam regulamentar os estudos arqueológicos num país de dimensões continentais, como é o Brasil. A gestão do patrimônio arqueológico é feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ligado ao Ministério da Cultura, que autoriza ou licencia as atividades das instituições universitárias, museológicas e de consultoria de todo o País. Como veremos no primeiro texto deste livro, o próprio CEOM nasceu em 1986, tendo como um dos objetivos principais salvaguardar o patrimônio arqueológico da região. A preocupação se tornou pauta importante, já que nessa década a população regional passou a discutir, de forma acalorada, a construção das grandes usinas do rio Uruguai e de seus afluentes. Embora o número de pesquisas tenha aumentado significativamente a partir da década de 1980, ve-

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remos, ao longo dos textos, que os estudos arqueológicos iniciaram na região muito antes. O trabalho dos arqueólogos consiste em entender a história dos povos que viveram nas matas e nas várzeas dos rios, utilizando, para isso, os vestígios arqueológicos deixados por eles, muito tempo antes da chegada dos colonizadores europeus ou de seus descendentes, na primeira metade do século XX. A narrativa que resulta dessa compreensão é baseada nas centenas de sítios arqueológicos registrados na região e nas datações feitas com o carvão deixado nas fogueiras de seus assentamentos. Embora essas datações não sejam muitas, são úteis para proporcionar uma ideia dos grupos humanos que, durante os últimos oito mil anos, estiveram presentes na região. Trabalhamos com a ideia de oeste catarinense para melhor situar o leitor, mas os limites geográficos contemporâneos eram desconhecidos no período pré-colonial. O livro se apresenta sob a forma de grandes temas, que formam partes. O primeiro aborda a geração do conhecimento, com um texto de Mirian Carbonera e outro de Solange B. Caldarelli e Rodrigo Lavina. Segue com ‘A ocupação do território’, tema em que Pedro Ignacio Schmitz apresenta o panorama do povoamento e Adelson André Brüggemann e Sirlei Elaine Hoeltz apresentam um sítio antigo, localizado próximo à foz do rio Chapecó. O terceiro tema fala dos ancestrais dos índios Guarani. Nele, Pedro Ignacio Schmitz e Suliano Ferrasso tratam da caça, da pesca e da coleta praticadas numa antiga aldeia Guarani; Letícia Morgana Müller e Sheila Mendonça de Souza abordam os sepultamentos Guarani; Kelly de Oliveira fala da cerâmica pintada produzida pelo grupo. O quarto tema se volta para os ancestrais dos índios Kaingang. Pedro Ignacio Schmitz e Marcus Vinícius Beber escrevem sobre os restos deixados pelo grupo no ter-

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ritório e Letícia Morgana Müller e Sheila Mendonça de Souza sobre seus sepultamentos. O quinto tema trata da fronteira entre o grupo Guarani e o Kaingang e é desenvolvido por Jairo Henrique Rogge e Mirian Carbonera. O livro fecha com o texto “Olhares sobre a constituição histórica da região oeste de Santa Catarina”, trabalho desenvolvido por Elison Antonio Paim. Os autores tiveram a liberdade de escrever seus textos de acordo com suas compreensões, sem interferência dos organizadores e sem contatos com os parceiros. Por isso, não precisamos esperar que as opiniões sejam unânimes sobre todos os tópicos desenvolvidos. É uma tarefa complicada, mas fascinante, contar a história de sucessivas gerações de homens e mulheres, usando como documentos pedras lascadas e polidas, fragmentos de panelas de barro, restos de alimentos abandonados nos acampamentos, esqueletos humanos desfeitos, cremados ou acomodados em velhas urnas, estruturas cavadas no chão como base de choupanas, espaços rituais cercados por taipas de terra. Para encontrar explicações sobre a forma como essas antigas sociedades se organizavam, como se relacionavam com o meio, em que acreditavam, como eram suas habitações, de que se alimentavam, usando ralos vestígios no solo e poucos objetos cotidianos, confeccionados para atividades como corte, cozimento, armazenamento, plantio, caça e pesca, não se exige apenas um vasto conhecimento da cultura humana, mas ainda uma rigorosa e controlada manipulação dos poucos elementos disponíveis. Esta é uma narrativa compreensível, bastante coerente com a pesquisa atual, mas que não oferece mais que um esboço da ocupação indígena do oeste de Santa Catarina. Para torná-la mais verdadeira, pede-se muito mais pesquisa de campo, análise laboratorial, datação e compreensão teórica para cobrir melhor o território, entender os materiais recuperados, perceber a sucessão temporal dos

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fenômenos e dar sentido ao povoamento humano da região. Os mapas que acompanham os textos do livro servem para ancorar as informações, mas, com isso, põem a descoberto os grandes espaços dos quais ainda não temos informação. Espera-se que a difusão do conhecimento reunido aqui ajude a valorizar os sítios e os materiais arqueológicos que deixarão de ser velharia inútil, muitas vezes incômoda, para se transformarem em patrimônio caro à população local, regional e nacional. Os organizadores agradecem aos arqueólogos que dispuseram de seu tempo para atender o convite de escrever relatos de suas pesquisas para o bem da comunidade regional, a quem, em primeiro lugar, pertence o conhecimento produzido.

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Adelson André Brüggemann: graduado em História pela Udesc, especialista em Gestão e Controle do Setor Público pela UFSC. E-mail: aabruggemann@yahoo.com.br Elison Antonio Paim: graduado em História pela UFSM, mestre em História pela PUCSP, doutor em Educação pela Unicamp. E-mail: elison@unochapeco.edu.br Jairo Henrique Rogge: graduado em Geologia, mestre e doutor em História pela Unisinos. E-mail: rogge@unisinos.br Kelly de Oliveira: graduada em História pela Unisinos, mestre em História pela PUCRS. E-mail: kelly.arqueologia@gmail.com Letícia Morgana Müller: graduada em História pela Udesc, especialista em Arqueologia pela URI-Erechim, mestre em História pela PUCRS. E-mail: leticiamorgana@yahoo.com.br Marcus Vinícius Beber: graduado em História pela UFRGS, mestre em História pela PUCRS e doutor em História pela Unisinos. E-mail: beber@unisinos.com

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Mirian Carbonera: graduada em História pela Unochapecó, especialista em Arqueologia pela URI/Erechim, mestre em História pela Unisinos e doutoranda em Arqueologia pelo MAE/USP. E-mail: mirianc@unochapeco.edu.br Pedro Ignacio Schmitz: graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Cristo Rei e em Geografia e História pela UFRGS, doutor em Geografia e História e livre-docência em Antropologia pela PUCRS. E-mail: anchietano@unisinos.br Rodrigo Lavina: graduado em História pela UFSC, mestre em História pela Unisinos. E-mail: scientia.rlavina@terra.com.br Sheila Mendonça de Souza: graduada em Medicina pela UERJ, mestre em Anatomia Humana pela UFRJ e doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública. E-mail: sferraz@ensp.fiocruz.br Sirlei Elaine Hoeltz: graduada em Geologia pela UFPA, mestre e doutora em História pela PUCRS. E-mail: sirleihoeltz@yahoo.com.br Solange B. Caldarelli: graduada em Ciências Sociais pela USP e doutora em Ciências Humanas pela USP. E-mail: solange@scientiaconsultoria.com.br Suliano Ferrasso: acadêmico de Ciências Biológicas na Unisinos. E-mail: suliano.ferrasso@gmail.com

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Argos Editora da Unochapecó Título Organizadores Coleção Coordenadora Assistente editorial Assistente de vendas Secretaria Divulgação, distribuição e vendas

Projeto gráfico e capa da coleção

Antes do oeste catarinense: arqueologia dos povos indígenas Mirian Carbonera Pedro Ignacio Schmitz Regionais Maria Assunta Busato Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Leonardo Favero Neli Ferrari Eduardo Weschenfelder Luana Paula Biazus Renan Claus Alves de Souza Hilario Junior dos Santos

Capa do livro

Alexsandro Stumpf

Diagramação

Alexsandro Stumpf Caroline Kirschner Sara Raquel Heffel

Preparação Revisão Formato Tipologia Papel

Carlos Pace Dori Carlos Pace Dori Marizete Bortolanza Spessato 16 X 23 cm Minion Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Dura Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

Número de páginas

364

Tiragem

500

Publicação Impressão e acabamento

2011 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)


Este livro está à venda:

www.travessa.com.br

www.livrariacultura.com.br



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