Cadernos metodológicos diretrizes do trabalho científico Hilda Beatriz Dmitruk (Org.)
8ª edição
Hilda Beatriz Dmitruk (Org.)
Cadernos metodológicos diretrizes do trabalho científico 8ª edição
Revisada, ampliada e atualizada de acordo com as normas da ABNT: NBR 6023/2002; NBR 6024/2012; NBR 6027/2003; NBR 6028/2003; NBR 10520/2002; NBR 14724/2011; NBR 15287/2011. Revisão técnica: Araceli Pimentel Godinho, Caroline Miotto, Daniele Lima Chaves Lopes, Joseana Foresti
Chapecó, 2012
Reitor
Odilon Luiz Poli
Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão Maria Aparecida Lucca Caovilla
Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Claudio Alcides Jacoski
Vice-Reitor de Administração Antônio Zanin
Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu Maria Assunta Busato
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. 001.42 Cadernos metodológicos: diretrizes do trabalho científico / C122c Hilda Beatriz Dmitruk (Org.) – 8. ed. – Chapecó : Argos, 2012. 238 p. ; 23 cm. – (Didáticos ; 5) Edição revisada segundo o novo acordo ortográfico e atualizada de acordo com as normas da ABNT. ISBN 978-85-7897-043-7 1. Metodologia científica I. Dmitruk, Hilda Beatriz. II. Título. CDD 001.42 Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó
Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos
Conselho Editorial
Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente), César da Silva Camargo, Dirceu Luiz Hermes, Elison Antonio Paim, Érico Gonçalves de Assis, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Maria Assunta Busato, Murilo Cesar Costelli, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski
Coordenador
Dirceu Luiz Hermes
Sumário Prólogo
15
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Apresentação: Cadernos metodológicos, um passaporte ao mundo universitário
17
Arlene Renk
PARTE I O estudo e a produção de conhecimentos na universidade Capítulo 1. Estudar é pesquisar
25
Hilda Beatriz Dmitruk 1.1 Trabalhos técnico-didáticos 1.1.1 Quanto à configuração gráfica 1.2 Leitura e interpretação de textos 1.3 A prática da documentação 1.3.1 Esquema 1.3.2 Resumo 1.3.2.1 Resumo informativo 1.3.2.2 Resumo crítico 1.3.2.3 Resumo indicativo 1.3.3 Fichas de leitura 1.3.3.1 Ficha de obra inteira 1.3.3.2 Ficha de citações diretas 1.3.3.3 Ficha de resumo mista 1.3.3.3.1 Ficha de resumo mista digitada 1.4 Resenha 1.5 A pesquisa bibliográfica 1.5.1 O paper
28 30 32 33 34 36 37 38 38 38 40 41 42 43 45 47 50
1.6 Outros trabalhos técnico-didáticos 1.6.1 Relatórios de saída de campo e similares 1.6.2 Apresentação oral e elaboração de slides 1.6.3 Cartazes/pôsteres 1.6.4 Seminário: características 1.7 Estilo redacional
Capítulo 2. Da leitura à autoria: elaboração de trabalhos acadêmicos
50 51 53 55 55 56
61
Hilda Beatriz Dmitruk 2.1 Trabalhos acadêmicos 2.1.1 Resenha crítica 2.1.2 Papers 2.1.2.1 Tipos de paper 2.1.2.2 Estrutura e apresentação gráfica do paper 2.1.3 Artigos científicos 2.2 Estrutura de um trabalho acadêmico, conforme a NBR 14724/2011 2.2.1 Elementos que compõem os trabalhos acadêmicos 2.2.1.1 Elementos da parte pré-textual 2.2.1.1.1 Capa 2.2.1.1.2 Lombada 2.2.1.1.3 Folha de rosto 2.2.1.1.4 Errata 2.2.1.1.5 Folha de aprovação 2.2.1.1.6 Dedicatória 2.2.1.1.7 Agradecimentos 2.2.1.1.8 Epígrafe 2.2.1.1.9 Resumo na língua vernácula 2.2.1.1.10 Resumo em língua estrangeira 2.2.1.1.11 Lista de ilustrações 2.2.1.1.12 Lista de tabelas 2.2.1.1.13 Lista de abreviaturas e siglas 2.2.1.1.14 Lista de símbolos 2.2.1.1.15 Sumário 2.2.1.2 Elementos da parte textual
65 69 69 69 71 72 75 75 76 76 76 76 77 77 78 78 78 78 79 79 79 79 79 80 80
2.2.1.2.1 Introdução 2.2.1.2.2 Desenvolvimento 2.2.1.2.3 Conclusão 2.2.1.3 Elementos da parte pós-textual 2.2.1.3.1 Referências 2.2.1.3.2 Glossário 2.2.1.3.3 Apêndice 2.2.1.3.4 Anexo 2.2.1.3.5 Índice 2.2.1.4 Ilustrações e tabelas 2.2.1.5 Digitação e apresentação gráfica 2.2.1.5.1 Modelo de capa e folha de rosto
Capítulo 3. Citações
80 81 82 82 82 83 83 84 84 84 86 89
93
Hilda Beatriz Dmitruk, Joseana Foresti, Leda Cristina Lopes e Yara Menegatti 3.1 Tipos de citações 3.1.1 Citações diretas ou textuais: breve, longa e mista 3.1.2 Citações indiretas ou conceituais 3.1.3 Citação de citação 3.2 Informações adicionais sobre as citações 3.3 Notas de rodapé 3.4 Abreviaturas e expressões latinas 3.5 Sinais e convenções gerais
Capítulo 4. Organização das referências
94 94 97 97 98 102 104 105
107
Hilda Beatriz Dmitruk, Joseana Foresti, Leda Cristina Lopes e Yara Menegatti 4.1 Elementos essenciais de uma referência 4.1.1 Autoria intelectual 4.1.1.1 Autor pessoal 4.1.1.2 Entidades coletivas 4.1.1.3 Eventos 4.1.1.4 Autoria desconhecida 4.1.2 Título e subtítulo
109 109 109 112 113 114 114
4.1.3 Edição 4.1.4 Imprenta 4.1.4.1 Local da publicação 4.1.4.2 Editora 4.1.4.3 Data da publicação 4.2 Elementos complementares de uma referência 4.2.1 Descrição física 4.2.2 Ilustrações e dimensões 4.2.3 Séries e coleções 4.2.4 Notas 4.3 Ordem dos elementos 4.3.1 Obras consideradas no todo 4.3.1.1 Livros e folhetos 4.3.1.2 Trabalhos acadêmicos 4.3.1.3 Trabalhos publicados em eventos 4.3.2 Obras consideradas em partes, capítulos etc. 4.3.2.1 Com autoria própria 4.3.2.2 Sem autoria própria 4.3.3 Publicações periódicas consideradas no todo (coleção) 4.3.4 Publicações periódicas consideradas em partes 4.3.4.1 Suplementos, fascículos e números especiais 4.3.4.2 Artigos de revistas 4.3.4.3 Artigos de jornais 4.3.4.4 Resenhas, discussões e revisões 4.3.5 Normas técnicas 4.3.6 Documentos jurídicos 4.3.6.1 Leis, decretos etc. 4.3.6.2 Jurisprudência 4.3.6.3 Doutrinas 4.3.7 Bíblia 4.3.8 Entrevistas 4.3.8.1 Entrevistas não publicadas 4.3.8.2 Entrevistas publicadas 4.3.9 Convênios 4.3.10 Obras inéditas (trabalhos e documentos não publicados)
115 116 116 117 118 119 119 120 120 120 121 121 121 121 122 122 122 123 123 124 124 124 125 126 126 126 126 126 127 127 128 128 128 128 129
4.3.11 Documentos de arquivos 4.3.12 Atas de reuniões 4.3.13 Material cartográfico 4.3.13.1 Mapas 4.3.13.2 Globos 4.3.13.3 Atlas 4.3.13.4 Cartografia aérea 4.3.14 Documentos iconográficos 4.3.14.1 Diapositivo (slides) 4.3.14.2 Fotografia 4.3.14.3 Fotografia de obra de arte 4.3.14.4 Obra de arte 4.3.14.5 Transparência 4.3.15 Documentos tridimensionais 4.3.15.1 Escultura 4.3.15.2 Maquete 4.3.16 Imagens em movimento 4.3.16.1 Fita de vídeo 4.3.16.2 Filme cinematográfico 4.3.16.3 DVD 4.3.17 Documentos sonoros 4.3.17.1 CD 4.3.17.2 Disco LP 4.3.17.3 Fita cassete 4.3.18 Documentos de acesso exclusivo em meio eletrônico 4.3.18.1 Artigo de revista eletrônica sem autoria 4.3.18.2 Comunicação eletrônica pessoal 4.3.18.3 Jogos educativos 4.3.18.4 Banco de dados 4.3.18.5 Software 4.3.19 Documentos em meio eletrônico 4.3.19.1 Com indicação de autoria 4.3.19.2 Sem indicação de autoria 4.3.19.3 Verbete de dicionário 4.3.19.4 Trabalho acadêmico 4.3.19.5 Livro no todo
129 130 130 130 130 131 131 131 131 131 131 132 132 132 132 132 133 133 133 133 133 134 134 134 134 135 135 135 135 135 136 136 136 136 136 137
4.3.19.6 Legislações 4.3.19.7 Jornal 4.3.19.8 Artigo de jornal sem autoria 4.3.19.9 Artigo de jornal com autoria 4.3.19.10 Revista 4.3.19.11 Artigo de revista 4.3.19.12 Evento 4.3.19.13 Entidade 4.3.20 Outros materiais 4.3.20.1 Cartão postal 4.3.20.2 Fôlder 4.3.20.3 Bula 4.3.20.4 Desenho técnico
137 137 137 138 138 138 138 138 139 139 139 139 139
PARTE II Ciência, pesquisa e ética na universidade Capítulo 5. Conhecimento
143
Robinson Tramontina 5.1 O processo do conhecimento: caracterização 5.2 A realidade e suas estruturas de abordagem 5.2.1 Senso comum 5.2.2 Conhecimento filosófico 5.2.3 Conhecimento religioso 5.2.4 Conhecimento científico 5.3 A interação entre os diversos saberes
Capítulo 6. A ciência
143 146 148 149 152 152 154
157
Nedilson Lauro Brugnera 6.1 Conceitos e aspectos 6.1.1 Ciência-disciplina 6.1.2 Ciência-processo 6.2 Classificação das ciências
157 158 158 159
6.2.1 Ciências formais 6.2.2 Ciências factuais 6.2.2.1 Características 6.3 A ciência e o meio social
Capítulo 7. Universidade e compromissos sociais
159 159 160 161
163
Maria de Lurdes Pertile e Hilda Beatriz Dmitruk 7.1 A universidade no cenário das instituições de ensino superior 7.2 Trajetória da universidade 7.2.1 A universidade no Brasil 7.2.2 Compromisso e desafios da formação universitária
Capítulo 8. Pesquisa: do projeto ao relatório
163 164 166 171
175
Hilda Beatriz Dmitruk e Lorete Maria Gallon 8.1 Desmitificando a pesquisa 8.2 Conceitos da pesquisa científica 8.3 Roteiro de projeto de pesquisa 8.4 Estruturação e descrição dos elementos básicos de um projeto de pesquisa 8.4.1 Introdução 8.4.1.1 Escolha a delimitação do tema 8.4.1.2 Definição do problema de pesquisa 8.4.1.3 Hipóteses ou questões de pesquisa 8.4.2 Objetivos 8.4.3 Justificativa 8.4.4 Revisão bibliográfica 8.4.5 Definição de termos (opcional) 8.4.6 Procedimentos metodológicos 8.4.6.1 Tipo(s) de pesquisa 8.4.6.2 Delimitação do universo de pesquisa 8.4.6.3 Definição das fontes e técnicas selecionadas 8.4.7 Cronograma
175 177 178 180 180 181 182 182 184 185 185 186 186 187 188 188 190
8.4.8 Orçamento 8.4.9 Referências 8.5 Relatório de pesquisa: elementos básicos 8.5.1 Elementos básicos para a apresentação do relatório 8.5.2 Roteiro básico de apresentação do relatório
190 191 191 191 192
Capítulo 9. Ética na pesquisa envolvendo seres humanos e legislação 195 Eleci Teresinha Dias da Silva 9.1 A Conep e os CEPs 9.2 Princípios da bioética 9.3 Comitê de Ética em Pesquisa
Capítulo 10. Plágio, pirataria e outros danos mais
197 198 199
203
Arlene Renk 10.1 Por que isso ocorre? 10.2 A vida universitária está a salvo de plágios? 10.3 Os direitos autorais nas constituições? 10.4 E cadê as formas democráticas de acesso às publicações? 10.5 E o creative commons?
204 206 209 210 212
Referências
215
Apêndices
225
Apêndice 1 – Exemplo de resumo crítico Apêndice 2 – Exemplo de resumo indicativo Apêndice 3 – Exemplo de resumo em Língua Portuguesa e em Língua Inglesa Apêndice 4 – Exemplo de resenha com fins didáticos Apêndice 5 – Exemplo de resenha crítica
225 226 227 228 229
Apêndice 6 – Exemplo de Sumário de Projeto de Pesquisa Apêndice 7 – Relatório de TCC: elementos pré-textuais (capa) Apêndice 8 – Relatório de TCC: elementos pré-textuais (folha de rosto) Apêndice 9 – Relatório de TCC: elementos pré-textuais (folha de aprovação) Apêndice 10 – Relatório de TCC: elementos pré-textuais (sumário)
230 231 232 233 234
Anexos
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Sobre os autores
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Prólogo
Apresentar a 8ª edição da obra Cadernos metodológicos, organizada pela professora Hilda Beatriz Dmitruk e revista por professoras integrantes do Núcleo das Metodologias da Área de Ciências Humanas e Jurídicas da Unochapecó, constitui-se numa grande honra. A satisfação de recomendar este volume parece pouco diante do que esta publicação representa para a história da Unochapecó. Os textos que compõem a coletânea ratificam a excelência de seu corpo docente, comprometido com uma proposta de universidade que tem na pesquisa científica a base para a qualidade acadêmica. A premissa deste livro é de continuar auxiliando na busca de respostas nos domínios da metodologia científica, articulando os elementos teóricos e os instrumentos práticos para um aprender pesquisando. Os métodos e técnicas, as normas e discussões aqui selecionados integram um processo de formação profissional fundamentado no ensino, na pesquisa e na extensão. Estudantes, pesquisadores e cientistas iniciantes têm nos Cadernos metodológicos uma eficiente e atualizada fonte
de consulta acerca dos procedimentos de documentação e de pesquisa, sem descuidar os aspectos formais que pautam os diferentes tipos de produção acadêmica (resumos, resenhas, papers, projetos e relatórios de pesquisa, entre outros). Se a iniciação científica é uma tarefa ineludível no âmbito da universidade, almejamos que sirva de estímulo para que estudantes e docentes se coloquem como sujeitos do processo de construção e de democratização de novos conhecimentos, à altura das grandes mudanças geradas pela sociedade do século XXI.
Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unochapecó
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Cadernos metodológicos
Apresentação Cadernos metodológicos, um passaporte ao mundo universitário
Este escrito é um pretexto de prefácio aos Cadernos metodológicos, uma obra coletiva de docentes pesquisadores da Unochapecó e daqueles que por ela transitaram. Seus autores consideraram a metodologia científica como a “ossatura da inteligência” do curso superior. Sucessivas edições e reedições da obra evidenciam o êxito de seu intento em servir de passaporte para a vida universitária, na qual o leitor ora ingressa. Esta, como a vida científica, tem muitas facetas. Todas elas tenderão a mostrar o(s) método(s) para encontrar os procedimentos considerados legítimos e adequados ao saber universitário. Rapidamente falando, é uma forma de vencer o “caos do senso comum” e construir uma forma de pensar calcada em princípios legitimados pela universidade. Nem sempre na ciência e na vida isso é tão tranquilo. Num belíssimo livro, François Jacob1 (1998) nos dirá que há jeitos de fazer ciência. Existe uma ciência diurna, aquela da glória, quando os cientistas expõem os re-
1 Pesquisador francês, prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1965.
sultados de suas pesquisas em congressos, quando falam e apresentam com convicção os dados de seus trabalhos e pesquisas, quando defendem como os cavaleiros medievais ou samurais (as analogias são nossas) “suas verdades”. Mas há um lado do qual pouco falam: o da ciência noturna, quando são perseguidos pelas dúvidas, pela angústia, quando têm incertezas grandes os acompanhando. Esse conjunto diurno e noturno, do qual um prêmio Nobel nos fala com tanta humildade, não está somente presente nas ações dos grandes cientistas. Também encontra espaço na formação universitária, no “tatear” esse novo mundo em que ingressa. O que reter dessa assertiva? Esses fazeres diurno e noturno são constitutivos do mundo científico, ou seja, não há como escapar, pois não dependem tão somente de nós. Vale reter que entrar na universidade significa descobrir um novo caminho para nós, mas já trilhado por outros. A exemplo de um jogo, esse caminho tem suas regras. Significa que cabe a nós, que nele adentramos, conhecer e nos apropriar das regras para melhor estudar, para usar da criatividade, para escrever, pesquisar e publicar com respeito e decoro acadêmico. E por que não, quem sabe, um dia, também propor novas regras? Afinal, as regras são construídas. Os Cadernos metodológicos remetem ao aprender/ fazer universitário, aos procedimentos, às normas, mas, principalmente, ao exercício da criatividade honesta e respeitável. As normas, às vezes, parecem ser severas demais. Quando efetivamente as conhecemos, vemos que não. Há uma razão de ser. Esta razão de ser é objeto dos capítulos dos Cadernos metodológicos. 18
Cadernos metodológicos
Cada época tem, falando de modo prosaico, seus manuais. Talvez cause espanto ao jovem leitor entrar em contato com os estudos de Norbert Elias2 (1994). Este descreve, com maestria, o processo de civilização e a importância dos manuais de etiqueta da sociedade ocidental. Pasme-se. O que hoje é naturalizado, banalizado, foi motivo de imposição, por meio de manuais de etiqueta. Há alguns séculos, nossos ancestrais se valiam de modos à mesa que hoje seriam repulsivos. Graças a esses manuais, eles deixaram de usar a mesma faca para cortar a carne, limpar as botas, extrair o espinho encravado na sola dos pés... O processo de refinamento da sociedade ocidental levou alguns séculos. Nem todos acompanharam ou foram convidados a entrar nessas mudanças. Alguns, tardiamente, deixaram de comer com as mãos e passaram a usar talheres e um prato individual. Coisas que nos são tão familiares não o eram há alguns séculos. Fomos civilizados e somos constantemente socializados nesses códigos que naturalizamos. Mas, lembre-se, no mundo social nada há de natural. Todas as instituições passaram e passam por formulações de normas. A universidade também. Algumas exigiam o uso de togas para distinguir seus integrantes daqueles que jamais nela ingressariam. Hoje as vestes estão democratizadas, mas há outros procedimentos que devem ser aprendidos. Há outra “etiqueta” acadêmica. Ingressar na universidade é entrar num novo mundo, um rito de
2 Sociólogo europeu que dedicou boa parte de seus estudos para pesquisar o processo de “refinamento” da sociedade europeia, abandonando a violência e a agressividade, comuns até meados das Idades Média e Moderna.
Apresentação
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passagem, é aprender, é incorporar e internalizar os procedimentos do método ou dos métodos de estudar, de redigir, de pesquisar, de apresentar com a estética do texto. Esse admirável mundo, que não é tão novo, tem suas regras. À medida que deles fazemos parte, naturalizamos esses procedimentos. Passamos a respeitar aqueles que construíram as fontes e informações que consultamos; desqualificamos aqueles que se desapropriam deslealmente das ideias e dos textos alheios. Furto das ideias continua sendo infração grave. Quem dele se vale é visto como equivalente a um falsário. Você sabe como evitar o plágio, o que você jamais fará? Os Cadernos metodológicos apresentam os textos que indicam o que é uma universidade, no que consiste a produção acadêmica, qual a lógica ou as lógicas que permeiam a vida universitária, como estudar. Você imagina que sabe estudar? Os Cadernos metodológicos te recebem com o capítulo “Estudar é pesquisar”, como boas-vindas. Para melhor situar o leitor, a organizadora dividiu os textos em duas partes. Na primeira delas, há técnicas e normas sobre como estudar e como aprender a fazer trabalhos indispensáveis para aprender a estudar. Há diversas orientações sobre fichamentos, esquemas, resumos e outras formas de registro e documentação. Você, que é inteligente, logo verá o quanto de proveitoso há neste para as suas tarefas. Esta obra te ensinará a aprender a pensar e a redigir, de acordo com a lógica acadêmica. Uma coisa é uma carta extravasando sua paixão ou seu desafeto; outra coisa é redigir um texto de caráter universitário. Você verá que existe a Associação Brasileira de Normas Técnicas 20
Cadernos metodológicos
(ABNT), que regulamenta formatações e padronizações de trabalhos, não só de trabalhos universitários, mas também infinidade de padrões (por exemplo, para a construção de prédios) que, no fundo, visam a nossa segurança. O que há de tão perigoso num texto que possa torná-lo inseguro? Seguramente, quando escreve um texto brilhante, tão brilhante que só você consegue vislumbrar sua genialidade enquanto fica enigmático para os demais. Saiba que seus colegas e professores não são obrigados a decifrar enigmas, tampouco as consequências ficarão por conta da incompreensão alheia. No entanto, se você tiver aprendido algumas normas básicas de fichamento, de redação e dos padrões da ABNT, seu texto terá leitores atentos. O julgamento do mérito do texto é outra instância. Se você aprender o modo de pensar, caso mudem as regras da ABNT conseguirá, perfeitamente, acompanhar as novas exigências. Caso só tenha estudado as regras, a história será outra. A estética do texto é importante, mas vale lembrar o que está no interior do texto, o conteúdo, sua consistência teórica e metodológica. A segunda parte aborda ciência, ética e pesquisa na universidade. Ética e ciência conjugam-se o tempo todo. Você verá no que consiste uma universidade, instituição secular com algumas invariantes, como a de ensinar a pensar, ensinar a pesquisar. No seio dessa instituição, ocorrem o ensino, a pesquisa e a extensão. Você já ouviu que, às vezes, há acusações de plágios entre universitários e entre professores e pesquisadores? A ética na pesquisa faz parte do mundo universitário. Aliás, não tão somente com os procedimentos rotineiros exigidos pelos comitês de pesquisa, mas também com os pequenos e grandes procedimentos do faApresentação
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zer da pesquisa: o respeito pelas fontes, pelos sujeitos da pesquisa, pelo uso dos recursos das subvenções recebidas, quando for o caso. A ética na pesquisa se constrói, ainda, com a responsabilidade do pesquisador quanto ao uso e ao emprego dos resultados, no zelo pela comunidade e pela instituição que abriga. Enfim, os textos dos Cadernos metodológicos são uma tentativa de um caminho feliz na busca da autonomia universitária. Boa leitura e bom trabalho. Arlene Renk
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Cadernos metodológicos
Sobre os autores
Arlene Renk Graduada em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora em Antropologia Social pela UFRJ. Eleci Teresinha Dias da Silva Graduada em Psicologia pela Universidade de Passo Fundo, especialista em Docência no Ensino Superior e Comunicação Integrada, mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutora em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Hilda Beatriz Dmitruk (org.) Graduada em Estudos Sociais pela Fundação de Ensino do Desenvolvimento do Oeste, com Licenciatura Plena em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Palmas, especialista em Pesquisa do Brasil República pela PUC/SP e em Arqueologia: Abordagens Interdisciplinares pela URI/Erechim/RS, mestre em Pós-Graduação Stricto Sensu pela Fundação Universidade Regional de Blumenau. Joseana Foresti Graduada em Biblioteconomia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), especialista em Gestão de Arquivos Públicos e Empresariais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Leda Cristina Lopes Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Lorete Maria Gallon Graduada em Administração pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó, mestre em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc/ESAG). Maria Aparecida Lucca Caovilla Graduada em Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, especialista lato sensu em Direito Processual Civil pela Unoesc/Chapecó, mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista lato sensu em Docência na Educação Superior pela Unochapecó. Maria de Lurdes Pertile Graduada em Licenciatura Plena em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Palmas, especialista em História do Brasil e mestre em Educação strictu sensu pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Nedilson Lauro Brugnera Graduado em Filosofia e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Robinson Tramontina Graduado em Filosofia e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Yara Menegatti Graduada em Biblioteconomia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). 238
Cadernos metodológicos
Título: Cadernos metodológicos: diretrizes do trabalho científico Organizadora: Hilda Beatriz Dmitruk Coleção: Didáticos Coordenador: Dirceu Luiz Hermes Assistente editorial: Alexsandro Stumpf Assistente de vendas: Neli Ferrari Secretaria: Leonardo Favero Divulgação, distribuição e vendas: Neli Ferrari, Felipe Alison Zuanazzi, Luana Paula Biazus, Renan Klaus Alves de Souza Projeto gráfico e capa da coleção: Alexsandro Stumpf Capa desta edição: Alexsandro Stumpf Diagramação: Caroline Kirschner, Alexsandro Stumpf Preparação dos originais: Araceli Pimentel Godinho Revisão: Carlos Pace Dori, Araceli Pimentel Godinho Formato: 16 x 23 cm Tipografia: Sabon LT Papel do miolo: offset 90g Papel da capa: supremo 300g Número de páginas: 238 Tiragem: 1500 Publicação: 2012 Impressão e acabamento: Gráfica e Editora Pallotti Santa Maria (RS)
Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 Telefone: (49) 3321-8218 – e-mail: argos@unochapeco.edu.br Site: www.unochapeco.edu.br/argos
Este livro está à venda:
www.travessa.com.br
www.livrariacultura.com.br
ISBN 978-85-7897-043-7
Cadernos metodológicos valoriza a transversalidade da metodologia científica, percorrendo temas e questões relacionados às formas de produção, circulação e apropriação dos saberes acadêmicos e às dimensões constitutivas dos processos de formação cultural, intelectual e profissional dos estudantes. Convida ao uso e à apropriação de noções, conceitos e normas na configuração autônoma, livre e criativa de um éthos investigativo que permeia as práticas acadêmicas. Vilson Cabral Jr. (in memoriam)