Trecho cortesia desenvolvimento científico

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DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO E TERRITÓRIO NO BRASIL Ivo Marcos Theis


Ivo Marcos Theis

DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO E TERRITÓRIO NO BRASIL

Chapecó, 2015


Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Antônio Zanin Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Valéria Marcondes

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

388.9 Theis, Ivo Marcos T376d Desenvolvimento científico e tecnológico e território no Brasil / Ivo Marcos Theis. -- Chapecó, SC : Argos, 2015. 156 p. ; 23 cm. -- (Debates ; 18) Inclui bibliografias ISBN 978-85-7897-155-7 1. Desenvolvimento econômico. 2. Desenvolvimento social. 3. Tecnologia - Aspectos sociais. 4. Disparidades econômicas regionais. I. Título. CDD 338.9

Catalogação elaborada por Joseana Foresti CRB 14/536 Biblioteca Central da Unochapecó

Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Coordenador: Dirceu Luiz Hermes Conselho Editorial Titulares: Murilo Cesar Costelli (presidente), Clodoaldo Antônio de Sá (vice-presidente), Celso Francisco Tondin, Dirceu Luiz Hermes, Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Ricardo Rezer, Rodrigo Barichello, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, Vagner Dalbosco, Valéria Marcondes Suplentes: Arlene Renk, Fátima Ferretti, Fernando Tosini, Hilário Junior dos Santos, Irme Salete Bonamigo, Maria Assunta Busato


Dedicado, em homenagem p贸stuma, ao meu saudoso pai, Marcos Theis

(4/9/1936-19/2/2012).


“Que o estudioso prefira os seus próprios valores aos dos agentes que controlam o poder, não altera o fundo da questão: é observando o comportamento dos agentes que controlam os centros de decisão e dos que estão em condições de contrapor-se e modificar os resultados buscados por aqueles que ele parte para captar o sentido do conjunto do processo social.” (Celso Furtado)

“O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (Carlos Drummond de Andrade)


Sumário

13 Introdução 25

O processo de acumulação e suas repercussões no território

27

A conjuntura anterior ao Plano Real

32

O governo FHC: neoliberalismo em estado puro

36

O governo Lula: demasiada precaução, pouca ousadia

40

Economia fragilizada, “exclusão” e desigualdades socioterritoriais

44

Além de tudo, heterogeneidade no território

55

Ciência & tecnologia e território

57

Sobre ciência e tecnologia

64

Sujeitos e instituições


75

A política de ciência e tecnologia

81

Desenvolvimento científico e tecnológico e desigualdades socioterritoriais

87

Relevância da PCT para o desenvolvimento econômico e social

89

A PCT antes do MCT

92

A PCT no governo FHC: ênfase decidida na inovação

101

A PCT no governo Lula: ênfase na “inclusão social”... e na inovação

115

A contribuição da PCT para a criação de empregos e a geração de renda

118

Desenvolvimento científico e tecnológico e desigualdades regionais

123

Conclusões, sugestões de pesquisa e recomendações de políticas

133

Referências

147

Referências das epígrafes


149 Apêndices 149

Apêndice 1: Breves notas de caráter metodológico referentes ao problema da mensuração da C&T

153

Apêndice 2: Variáveis econômicas e indicadores de C&T, países selecionados, 1998

155 Agradecimentos


Introdução

“Nós vamos semear, companheiro no coração manhãs e frutos e sonhos prum dia acabar com esta escuridão.” (Vitor Ramil; José Fogaça)

Já faz, aproximadamente, quatro decênios que Amílcar O. Herrera, eminente cientista argentino, notara que: A partir da Segunda Guerra Mundial [...] se vem criando uma consciência cada vez maior da importância e do significado das diferenças que separam as nações avançadas [...] do vasto e heterogêneo conglomerado de países que integram o mundo que se tem chamado subdesenvolvido. [...]

Em termos gerais, se pode dizer que, faz uns 300 anos, o nível de vida de muitos dos países atualmente subdesenvolvidos não era sensivelmente inferior ao dos países da Europa Ocidental. (Herrera, 1975, p. 6-7, tradução nossa).

Em grande medida, as distâncias entre o mundo subdesenvolvido e as nações socioeconomicamente mais desenvolvidas aumentariam, como observara Amílcar O. Herrera, em decorrência dos avanços científicos e tecnológicos perseguidos – e logrados – pelos povos dessas últimas. 13


No entanto, não se deve depreender daqui que Amílcar O. Herrera advogasse uma estratégia de desenvolvimento científico e tecnológico para o mundo subdesenvolvido como a adotada nas e pelas nações capitalistas centrais – nem mesmo como meio de reduzir as distâncias entre ricos e pobres em escala global. Pelo contrário, em matéria de formulação de Política Científica e Tecnológica [PCT], ele postulou autonomia para os países periféricos da América Latina. Há, contudo, dois pontos especialmente importantes na citação de Amílcar O. Herrera que inspiraram a investigação cujos resultados aqui se apresentam. O primeiro diz respeito ao fato de que as desigualdades no plano internacional cresceram, nos três últimos séculos, devido ao espetacular desenvolvimento das forças produtivas, inclusive, pois, da ciência e tecnologia [C&T] – controlado pelos países capitalistas centrais, isto é, pelo capital que tem origem nesses últimos, em benefício de suas respectivas populações. O crescimento das desigualdades nesses mais de trezentos anos é, portanto, um fato histórico, que pode ser associado ao desenvolvimento socioeconômico dos países centrais, em grau considerável, como resultado dos avanços científicos e tecnológicos. O segundo ponto refere-se à consciência do significado das desigualdades. Para os propósitos aqui em vista, entretanto, merecerão maior atenção as desigualdades que se manifestam no interior dos países. Sem que se o aprofunde, o pressuposto de que se parte é que, da mesma maneira que as desigualdades entre países aumentaram, como bem notou Amílcar O. Herrera, as desigualdades no interior de cada país tomado isoladamente também aumentaram – desigualdades que parecem ser tanto maiores quanto mais periférico for o país considerado. No caso brasileiro, a consciência do significado das desigualdades se manifesta, explicitamente, no início da Carta Magna de 1988 [Inciso III, artigo 3º, Título I: “dos princípios fundamentais”], em que se lê que “[...] constituem objetivos fundamentais da República Federati-

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va do Brasil: [...] erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” (Brasil, 1988).

Cabe advertir, enfim, que as desigualdades socioterritoriais em escala global não são aqui objeto de maior consideração. Tampouco se acrescenta algo a respeito da contribuição da C&T para explicar sua continuidade – ou, mesmo, seu agravamento – ao longo do tempo. A esse tema, precisamente, Amílcar O. Herrera dedicou boa parte de suas energias. Não obstante, sua inspiração deveria ficar evidente nas páginas a seguir.

De forma que, neste livro, produto de investigação sobre o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro e sua manifestação no território, apresentam-se os resultados de um esforço que visou desvelar as relações entre as desigualdades socioterritoriais, a dinâmica do desenvolvimento periférico e a atuação dos sujeitos e instituições envolvidos com a (e afetados pela) PCT no Brasil. O tema, assim explicitado, apoiou-se no pressuposto de que o território é território utilizado1, espaço de ação política dos sujeitos e instituições que produzem e consomem C&T.

Do ponto de vista espacial, o tema abarca o território brasileiro. Esse território vem se modificando ao longo do tempo, culminando num espaço heterogêneo, marcado por crescentes disparidades inter-regionais. Do ponto de vista temporal, o tema compreende o período dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ou seja, de meados dos anos 1990 até o fim dos anos 2000 (Brasil, 2007).

1 “É o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele o objeto da análise social.” (Santos, 2005, p. 137).

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A problemática mais geral da investigação, cujos resultados aqui se apresentam, foi elaborada nos seguintes termos: Como se relacionam desenvolvimento científico e tecnológico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social? Como essa relação se manifesta no território brasileiro? As seguintes perguntas deveriam subsidiar o estudo realizado: Como vem se expressando em termos econômicos (crescimento do produto econômico, participação setorial etc.) e sociais (geração de empregos, crescimento da renda do trabalho etc.) o processo de acumulação de capital no Brasil no período recente? Como esse processo de acumulação de capital vem se manifestando no território? Que relevância vem tendo a PCT para o desenvolvimento brasileiro recente? Que atuação dos sujeitos e instituições – que produzem e consomem C&T – tem informado a PCT adotada, o processo de desenvolvimento socioeconômico e sua manifestação no território? Como os recursos de C&T vêm contribuindo para o desenvolvimento social? Em face da problemática referida, foi construída a seguinte hipótese central de investigação: o desenvolvimento brasileiro recente parece continuar sendo socialmente excludente, e o caráter excludente do desenvolvimento brasileiro se manifesta no território. Algumas regiões do País apresentam condições médias de bem-estar material superiores a outras. Supõe-se que a dinâmica do desenvolvimento brasileiro recente – condicionada pela mobilização de recursos de C&T no interior de cada região, pela PCT e pela atuação política de certos sujeitos e instituições no período atual – acentue as disparidades regionais. As seguintes hipóteses secundárias fundamentaram o estudo realizado: - O processo de acumulação que vem tendo lugar no Brasil no período recente, submetido a uma implacável política econômica

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neoliberal, pode ser caracterizado como economicamente desastroso e socialmente excludente2.

- Esse processo de acumulação parece contribuir para a crescente heterogeneidade do território, para a ampliação das disparidades inter-regionais – portanto, para um desenvolvimento geograficamente desigual.3

- Por trás do desenvolvimento brasileiro atual parece radicar uma PCT ajustada à preservação do padrão de acumulação vigente, incompatível com um cenário de crescimento de empregos e rendas do trabalho. - A atuação dos sujeitos e instituições que produzem e consomem C&T parece privilegiar a PCT adotada, favorecer o processo de desenvolvimento excludente e ampliar as disparidades inter-regionais. - Um cenário de crescimento de empregos e rendas do trabalho, apoiado num processo de desenvolvimento socialmente equitativo e apontando para a redução das disparidades inter-regionais existentes no País, requer uma reorientação da PCT.

2 Carlos Brandão (2007, p. 148), em síntese irretocável, afirmou que “[...] construímos talvez a mais veloz máquina capitalista de crescimento e [...] a mais eficiente máquina de exclusão social do planeta.” 3 A hipótese do desenvolvimento geográfico desigual, devida em sua origem a David Harvey (1982) e Neil Smith (1988), foi objeto de maior consideração em trabalhos anteriores (Theis, 2009a; Theis; Butzke, 2012). Por revelar-se consistente na análise de disparidades inter-regionais, que caracterizam países periféricos marcados por elevada heterogeneidade de seus territórios, ela vem sendo aplicada também no exame do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro recente (Theis, 2009b; Moser; Theis, 2013).

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A partir dessas hipóteses formularam-se, então, os objetivos do estudo. O principal deles passou a ser o exame da relação entre desenvolvimento científico e tecnológico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social no Brasil no período recente e sua manifestação no território. Os seguintes objetivos específicos puderam auxiliar na consecução do propósito mais geral: - Identificar os resultados do processo de acumulação de capital que vem tendo lugar no Brasil no período recente em termos econômicos (crescimento do produto econômico, participação setorial etc.) e sociais (geração de empregos, crescimento da renda do trabalho etc.).

- Verificar como esse processo de acumulação vem se manifestando no território. - Identificar – e examinar criticamente – a relevância da PCT para o processo de desenvolvimento brasileiro recente. - Analisar criticamente a atuação dos sujeitos e instituições que informam a PCT, o processo de desenvolvimento socioeconômico e sua manifestação no território.

- Analisar como os recursos de C&T vêm contribuindo para o desenvolvimento social. Quais são, porém, as razões que convidam a estudar a relação entre desenvolvimento científico e tecnológico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social no Brasil no período recente – e sua manifestação no território? Por que analisar a contribuição (em termos de recursos alocados) da C&T para o desenvolvimento social? Há inúmeras respostas possíveis, mas, sobretudo, duas motivaram a investigação realizada: uma de caráter científico (teórico-metodológico), 18


outra de natureza socioeconômica. Assim, de um lado, o estudo realizado procurou ir ao encontro da carência de reflexão teórica sobre a relação entre desenvolvimento científico e tecnológico e território no Brasil – o estudo de Barros (1999) ainda é um grão de areia neste deserto4. Ademais, ele encontra justificativa na possibilidade de colocar o tema C&T e território em perspectiva com desenvolvimento social. De modo que, sendo poucos os estudos neste campo, abriu-se a possibilidade de gerar conhecimento novo sobre uma questão fundamental do desenvolvimento econômico e social de um país periférico.

De outro lado, as respostas às perguntas de pesquisa deveriam conduzir a que os diversos sujeitos e instituições envolvidos com a produção e o consumo de C&T pudessem reavaliar suas respectivas atuações. O estudo realizado deveria levar a um conhecimento mais adequado do sistema de C&T, da PCT recentemente adotada e dos seus limites e potencialidades para um desenvolvimento geograficamente menos desigual. Não custa lembrar que, para o senso comum, o desenvolvimento social só poderia ser logrado se houvesse investimentos em C&T – de preferência, de ponta5. Aqui se tem o intuito de mostrar que qualidade material de vida pode resultar de iniciativas que contrariem o senso comum – nos últimos anos, as receitas prescritas

4 Aliás, neste importante trabalho, publicado já faz uma década e meia, Fernando A. F. Barros (1999, p. 16) admitiu que sua motivação derivara de lacuna identificada nos “[...] estudos sobre as relações entre a questão regional e o desenvolvimento científico e tecnológico.” 5 Senso comum, cumpre atentar, alimentado pela difusão generalizada da crença no automatismo da cadeia linear de inovação. Trata-se da conhecida sucessão unidirecional de etapas que, iniciando com a pesquisa básica, deveria desembocar em benefícios sociais, como a criação de novos postos de trabalho, a elevação da renda e o aumento no volume de impostos.

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pela economia da inovação –, entre as quais podem ser referidas as tecnologias sociais.

Quanto ao instrumental metodológico mobilizado para realizar a pesquisa, cabe informar, inicialmente, que compartilho as preocupações consubstanciadas na proposição de um relativismo democrático6. Este não é introduzido a partir de cima e de fora – por exemplo, por intermédio de um grupo de intelectuais. Ele tem origem em cada ser humano que queira tornar-se autônomo e independente, no sentido que lhe parece ser o mais apropriado. O que conta, portanto, não são planos intelectuais, mas desejos, vontades, anseios e temperamentos de cada mulher e de cada homem que quer conhecer para transformar. Em conformidade com a proposição do relativismo democrático (e com vistas a oferecer uma visão de como a pesquisa foi executada), o método adotado fundou-se numa abordagem do problema, em certos métodos de procedimento, em técnicas correspondentes, numa dada definição do universo da pesquisa, numa estratégia de coleta de dados e em procedimentos de análise e interpretação. Quanto à abordagem, partiu-se do pressuposto de que as desigualdades no território resultam da dinâmica excludente do capitalismo periférico brasileiro e da atuação dos sujeitos e instituições

6 O relativismo democrático repousa em três pressupostos principais: o primeiro considera que todas as pessoas têm o direito de viver como querem, mesmo se suas vidas parecerem a outros/outras como tolas, obscenas, sem fé. O segundo se refere à ideia de pluralismo teórico, no qual considera melhor viver em uma sociedade que dispõe de instrumentos para avaliar um conjunto amplo de tradições do que em uma na qual predomine uma única ideologia. O terceiro se refere ao caráter inacabado do conhecimento científico e considera não apenas que pontos de vista, ideias e procedimentos são incompletos, mas também revelam a ausência de aspectos muitas vezes importantes da respectiva ciência ou teoria (Feyerabend, 1992).

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que informam a PCT. A tentativa de compreensão deste processo foi apoiada na perspectiva dialética – que permite examinar relações entre espaço e tempo, entre o local e o global, entre particularidades e universalidades (Harvey, 2004, p. 30-31), privilegiando enfoques fundados na contradição e na produção de sínteses – como a abordagem mais ajustada à produção de respostas teoricamente significativas e socialmente relevantes (Demo, 1980; Ritsert, 1997).

Quanto aos métodos de procedimento, recorreu-se ao método histórico (apesar da ênfase no período recente), ao método comparativo e ao método estatístico. O método histórico porque se previu a necessidade de identificar as rupturas mais evidentes no processo de desenvolvimento brasileiro recente; o método comparativo porque se considerou a necessidade de examinar as desigualdades socioeconômicas e científico-tecnológicas no território; e o método estatístico porque se almejou acessar dados quantitativos que expressassem objetivamente as desigualdades territoriais. Quanto às técnicas, recorreu-se à chamada documentação indireta, que abrange a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica. A pesquisa documental porque havia a necessidade de acessar planos e relatórios oficiais. A pesquisa bibliográfica, baseada na consulta à literatura especializada recente, porque permitiria atualizar os argumentos sobre o tema em questão.

Quanto ao universo da pesquisa, ele foi constituído dos entes privados e públicos que exercem influência sobre a PCT brasileira, sobretudo aqueles que interferem de forma mais direta na formulação e execução das diversas políticas que conformam o padrão de acumulação produtor de exclusão social e disparidades inter-regionais. Se em outros contextos tais entes são genericamente etiquetados como agentes econômicos ou atores sociais, aqui se os designou por sujeitos e

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instituições. Consideraram-se unidades do setor produtivo: entidades que representam os interesses do setor produtivo privado, universidades e instituições de pesquisa, a administração pública nos diversos níveis e entidades que representam os interesses da sociedade civil organizada.

Quanto à coleta de dados, recorreu-se à documentação indireta. Ela compreendeu o levantamento de dados por intermédio da pesquisa documental e da pesquisa bibliográfica. No que se refere à pesquisa documental, ela propiciou acesso a planos e relatórios gerados pelos sujeitos e instituições que exerceram e exercem influência sobre a PCT brasileira. No que diz respeito à pesquisa bibliográfica, ela consistiu de uma revisão da literatura sobre a problemática investigada. No que concerne ao levantamento estatístico, ele permitiu que se recuperasse a evolução recente do desenvolvimento brasileiro por meio de dados quantitativos relativos ao período de meados dos anos 1990 até o presente. Aí foram bastante úteis os dados gerados pelo IBGE, pela OCDE, por outros órgãos públicos e por entidades que representam os interesses do setor produtivo privado e as demandas da sociedade civil organizada. Levantadas as informações e disponibilizados os dados, procedeu-se à sua tabulação e aos seus cruzamentos. Procurou-se tabular as informações coletadas, observando-se como critério principal a identificação de regularidades nas interações entre desenvolvimento científico-tecnológico, desenvolvimento socioeconômico e sua manifestação no território.

As informações coletadas e tabuladas, após um agrupamento por categorias, foram analisadas e interpretadas à luz dos objetivos da pesquisa (ver Goode; Hatt, 1979, cap. 20), enfatizando-se, sobretudo, as seguintes questões:

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- Os resultados do processo de acumulação de capital que teve lugar no Brasil no período recente em termos econômicos (crescimento do produto, participação setorial etc.) e sociais (geração de empregos, crescimento da renda do trabalho etc.). - A expressão territorial dos resultados desse processo de acumulação.

- A relevância da PCT para o processo de desenvolvimento brasileiro recente. - A atuação dos sujeitos e instituições (que produzem e consomem C&T), que informam a PCT, o processo de desenvolvimento socioeconômico e sua manifestação no território.

- A contribuição dos recursos de C&T para a promoção do desenvolvimento social. Resta antecipar, depois do acima dito, que o livro se encontra estruturado em três capítulos principais, além desta introdução e das conclusões. O primeiro capítulo compreende uma exposição breve do processo de acumulação de capital que teve lugar no Brasil e suas respectivas repercussões sobre o território, com ênfase no período mais recente. No segundo capítulo apresentam-se os conceitos, as definições e o referencial que fundamentaram a análise desenvolvida ao longo do livro. O terceiro capítulo, finalmente, é o que apresenta os dados (e sua respectiva interpretação) referentes à relevância da PCT para o desenvolvimento econômico e social no Brasil, com a mesma ênfase no período mais recente.

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Sobre o autor

Ivo Marcos Theis – Economista, tem doutorado em Geografia pela Eberhard Karls Universität Tübingen (Alemanha) e pós-doutorado em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua como docente e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Universidade Regional de Blumenau (FURB), junto ao qual coordena o Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional (NPFR). É Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 2). Tem sido autor e organizador de diversos livros, o último dos quais – Desenvolvimento local/regional na periferia do capitalismo mundializado – publicado pela Editora da FURB em 2014


Argos Editora da Unochapecó www.unochapeco.edu.br/argos Título

Desenvolvimento científico e tecnológico e território no Brasil

Autor

Ivo Marcos Theis

Coleção Coordenador Assistente editorial Assistente de vendas Secretaria Divulgação

Debates, n. 18 Dirceu Luiz Hermes Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Marcos Domingos Robal dos Santos Luana Zimmer

Distribuição e vendas

Neli Ferrari Luana Cirelo Luana Paula Biazus

Projeto gráfico

Alexsandro Stumpf

Capa

Caroline Kirschner

Diagramação

Caroline Kirschner Luana Cervinski

Preparação dos originais

Emanuelle Pilger Mittmann

Revisão

Carlos Pace Dori Emanuelle Pilger Mittmann

Formato Tipologia Papel

16 X 23 cm Adobe Caslon Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Supremo 280 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

Número de páginas

156

Tiragem

500

Publicação Impressão e acabamento

2015 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)


Este livro estĂĄ Ă venda:

www.unochapeco.edu.br/argos www.travessa.com.br www.livrariacultura.com.br

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Este livro, produto de investigação sobre o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro e sua manifestação no território, apresenta os resultados de um estudo que visou desvelar as relações entre as desigualdades socioterritoriais, a dinâmica do desenvolvimento periférico e a atuação dos sujeitos e instituições envolvidos com a (e afetados pela) Política de Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil. Que razões convidariam a dedicar atenção a essa relação, aparentemente, sem maior sentido, entre desenvolvimento científico e tecnológico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social no Brasil no período recente – e sua manifestação no território? De um lado, percebe-se ainda uma carência de reflexão sobre a relação entre desenvolvimento científico e tecnológico e território no Brasil. Em especial, o tema “C&T e território” tem sido tratado sem maior preocupação com “desenvolvimento social” – desafio que neste livro se procura enfrentar. De forma que, sendo poucos os estudos neste campo, apresenta-se aqui uma contribuição para o debate sobre uma questão crucial do desenvolvimento econômico e social de um país que permanece periférico, como o Brasil. De outro lado, o conteúdo do livro deveria inspirar os diversos sujeitos e instituições envolvidos com a produção e o consumo de C&T a reavaliarem suas respectivas atuações. Assim, os resultados do presente estudo poderiam conduzir a um conhecimento mais adequado do sistema de C&T, da Política de C&T que vem sendo adotada, e dos seus limites e potencialidades para um desenvolvimento geograficamente menos desigual. Não custa lembrar que, para o senso comum, desenvolvimento social só poderia ser alcançado se houvesse elevados investimentos em C&T – de preferência, em C&T de ponta. Aqui se tem o intuito de mostrar, também, que qualidade material de vida pode resultar de iniciativas, como as tecnologias sociais, que contradizem o senso comum, que contrariam receitas como as prescritas pela economia da inovação.

ISBN 978-85-7897-155-7


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