História, Educação e Cultura Escolar

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Elison Antonio Paim Giani Rabelo Marli de Oliveira Costa (Orgs.)

HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E CULTURA ESCOLAR

Chapecó, 2012


Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza Lajús Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

370.98164 H673h

História, educação e cultura escolar / Elison Antonio Paim, Giani Rabelo, Marli de Oliveira Costa (Orgs.). – Chapecó : Argos, 2012. 300 p. : 23 cm. – (Regionais ; 6) Inclui bibliografias. ISBN: 978-85-7897-035-2 1. Educação – História – Santa Catarina. 2. Escolas – religiosas – Santa Catarina. 3. Índios – Educação – História – Santa Catarina. 4. Professores – Formação – Santa Catarina. I. Paim, Elison Antonio. II. Rabelo, Giani. III. Costa, Marli de Oliveira. IV. Encontro Estadual de História – (12. Criciúma, SC). CDD 370.98164

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó

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Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente), César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski Coordenadora: Maria Assunta Busato


Sumário

Apresentação Elison Antonio Paim, Giani Rabelo e Marli de Oliveira Costa

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PARTE I Memórias e histórias de escolas religiosas 21 Congregações religiosas femininas e a Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão (SATC): dando as mãos aos operários mineiros (Criciúma/SC, 1964-1981) 23 Giani Rabelo Colonizar, rezar e educar: atuação de educadores religiosos católicos em São Lourenço do Oeste (SC), 1956 a 1966 51 Elison Antonio Paim e Nanci Laufer Krindges Irmãs de São José (1953-1969): a escola feminina de Xanxerê (SC) 71 Vanessa Picolli


Produzindo fontes para uma história carnavalizada: as instituições e culturas escolares Fabiana Nicolau

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PARTE II Memórias e histórias: reminiscências escolares 103 O livro de leitura e a construção da civilidade em Santa Catarina 105 Marli de Oliveira Costa História, Memória, Educação e inclusão: a Escola Municipal Professor Moacyr Jardim de Menezes na vida de crianças com necessidades especiais 121 Cinara Lino Colonetti Bergmann Cuidando dos bem-nascidos: a memória do Curso Particular Póvoas Carneiro em Criciúma (SC), 1940 a 1962 139 Paulo Sérgio Osório Reminiscências da cultura escolar: vestígios das práticas escolares no sul catarinense (1905-1930) 161 Tatiane dos Santos Virtuoso

PARTE III Educação indígena 181 A educação Guarani e a presença da escola nas comunidades Guarani do Morro dos Cavalos e de Massiambu, Palhoça (SC): elementos de embate cultural 183 Helena Alpini Rosa e Ana Lúcia Vulfe Nötzold


Espaço, poder, educação e cultura nos territórios indígenas 195 Leonel Piovezana Palco de mudanças: a escola sede da Terra Indígena Xapecó 215 Talita Daniel Salvaro e Ana Lúcia Vulfe Nötzold

PARTE IV Formação de professores 227 Formação de professores: projetos em conflito 229 Maria de Fátima Rodrigues Pereira e Elza Margarida de Mendonça Peixoto Rememorando o fazer-se professor(a) em escolas multisseriadas na região oeste de Santa Catarina 253 Elison Antonio Paim Formação de professores de Educação Moral e Cívica 271 André Luiz Onghero Sobre os autores 295


Apresentação

Educação e cultura escolar

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maior parte dos artigos que compõem este livro foi apresentada no XII Encontro Estadual de História – História, Ensino e Pesquisa, promovido pela Associação Nacional de História (Anpuh) – Seção Santa Catarina. O evento foi realizado na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), de 21 a 25 de julho de 2008, e os artigos foram apresentados no simpósio “A cultura escolar nas pesquisas em História da Educação”, que integrou trabalhos com foco na cultura escolar, em sentido amplo. Assim, esta obra apresenta alguns fragmentos que compõem a História da Educação de Santa Catarina. Os artigos foram construídos a partir de uma diversidade de documentos que abrangem fotografias, atas, história oral e muitos outros, apresentando livros de leitura,1 resultados de pesquisas que tiveram como objeto a cultura escolar.

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Utilizamos “livros de leitura” porque assim eram denominados os exemplares encaminhados para as escolas, para completar a alfabetização dos alunos na primeira metade do século XX.

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A cultura escolar vem sendo abordada por muitos autores que têm procurado definir, caracterizar, expressar essa perspectiva de entendimento relativa às questões do universo da escola e dos sujeitos que nela convivem. Procuram-se as temáticas da escola partindo do interior dela, ou seja, do diálogo com o que efetivamente acontece e não apenas com as determinações estruturais, governamentais, legais... Dessa forma, a perspectiva dos estudos a partir da cultura escolar alcança os sujeitos que constituem a comunidade escolar ao longo da história, qual seja: alunos, professores, funcionários e comunidade de pais no cotidiano. Para Dominique Julia,2 [...] poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas [...] (2001, p. 10).

Ou ainda, como trabalha com o “remodelamento dos comportamentos, na profunda formação do caráter e das almas” (p. 22), a cultura escolar estaria entranhada nos sujeitos, após sua passagem pela escola. Outro autor que trabalha com o conceito de cultura escolar é Frago.3 Ele afirma que a cultura escolar

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Julia, Dominique. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas: Autores Associados, p. 9-43, 2001. Frago, Antonio Viñao. História da Educação e História Cultural: possibilidades, problemas e questões. Tradução de Sérgio Castanho. [199-]. (Digitado).

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Inclui práticas e condutas, modos de vida, hábitos e ritos – a história cotidiana do fazer escolar – objetos materiais – função, uso, distribuição no espaço, materialidade física, simbologia, introdução, transformação, desaparição – e modos de pensar, assim como significados e idéias compartilhadas, [...] é toda vida escolar: fatos e idéias, mentes e corpos, objetos e condutas, modos de pensar, dizer e fazer. ([199-], p. 7).

Também Pintado (2000, p. 224),4 numa perspectiva de definição e delimitação do campo de estudos, nos diz que Se incluyen, inicialmente, aspectos relacionados con la instrucción, esto es, lo que la escuela enseña y que es objeto de cuantificación por su relación inmediata con los procesos de aprendizaje, pero también otros mucho más íntimos que afectan a la personalidad global del sujeto, como la generación de actitudes y la jerarquización de los valores5.

Outra dimensão, focalizada por Gómez (2001), é a da cultura experiencial, por meio da qual são abordados aspectos da experiência dos sujeitos – professores – nos quais cada um desenvolve, individualmente, suas singularidades, mas numa dimensão de coletividade:

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Pintado, Antonio Molero. Em Torno A La Cultura Escolar Como Objeto Histórico. In: Berrio, Julio Ruiz (Ed.). La Cultura Escolar de Europa: tendências históricas emergentes. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 2000. p. 223-228. “Incluem-se, inicialmente, aspectos relacionados com a instrução, isto é, o que a escola ensina e que é objeto de quantificação por sua relação imediata com os processos de aprendizagem, porém também muitos outros mais íntimos que afetam a personalidade global do sujeito, como a geração de atitudes e a hierarquização dos valores.”

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[...] o desenvolvimento da cultura experiencial de cada indivíduo é um compêndio singular de conteúdos e formas, de capacidades e sentimentos, atitudes e conhecimentos que se geram na concreta e peculiar interação evolutiva de cada sujeito com as peculiaridades, as pressões e as possibilidades, bem diferentes de cada cenário vital. (Gómez, 2001, p. 256)6.

No diálogo com os autores citados e diversos outros, conclui-se que não existe “a cultura escolar” e, sim, existem “as culturas escolares”, com uma multiplicidade de formas de fazer e viver escola tantas quantas forem as unidades escolares e os sujeitos que nelas vivem, estudam, relacionam-se. Por outro lado, o viver escola não está isolado dos demais aspectos da vida, a qual se constitui na relação com outras culturas para além do espaço escolar. Porém, poderão os leitores questionar se não estaríamos relativizando tal conceito em demasia? Dizemo-lhes que não. Isso porque partimos da concepção de cultura defendida por Raymond Williams (1969, 1979)7 e Edward Palmer Thompson (1981, 1998)8 quando afirmaram que culturas são modos de vida. Williams, em diálogo com Herder, afirma:

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Gómez, Angel Pérez. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001. Williams, Raymond. Cultura e Sociedade: 1780-1950. São Paulo: Editora Nacional, 1969. Willians, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. Thompson, E. P. A miséria da teoria: ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. Thompson, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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Era necessário, argumentou ele, falar de ‘culturas’, e não de ‘cultura’, levando-se em conta a variabilidade, e dentro de qualquer cultura reconhecer a complexidade e variabilidade das formas que lhe davam forma. As interpretações específicas que então ofereceu, em termos de povos e nações ‘orgânicos’ e contra o ‘universalismo externo’ do Iluminismo, são elementos do movimento romântico, que hoje tem pouco interesse ativo. Mas a idéia de um processo social que modela ‘modos de vida’ específico e distinto é a origem efetiva do sentido social comparativo de ‘cultura’ e de seu plural, já era agora necessário, de ‘culturas’. (Williams, 1979, p. 23).

Em outro momento do mesmo texto, o autor afirma que “[...] o conceito de cultura é um processo social constitutivo que cria ‘modos de vida’ específicos e diferentes.” (1979, p. 25). Thompson, por sua vez, ao referir-se à cultura, aproxima-a da noção de experiência, afirmando que as pessoas [...] também experimentam sua experiência como sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares de parentesco, e reciprocidades, como valores [...] na arte ou nas convicções religiosas. Essa metade da cultura (e é uma metade completa) pode ser descrita como consciência afetiva e moral. (1981, p. 189).

No livro Costumes em comum, Thompson retoma o conceito de cultura, afirmando que uma cultura é “[...] também um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole; é uma arena de elementos conflitivos.” (1998, p. 17). Em outra sequência do mesmo livro, ainda na introdução, o autor nos faz uma recomendação, relativa ao conceito de cultura:

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Esquecer que ‘cultura’ é um termo emaranhado, que, ao reunir tantas atividades e atributos em um só feixe, pode na verdade confundir ou ocultar distinções que precisam ser feitas. Será necessário desfazer o feixe e examinar com mais cuidado o componente; os ritos, modos simbólicos, os atributos culturais da hegemonia, a transmissão do costume de geração para geração e o desenvolvimento do costume sob formas historicamente específicas das relações sociais e de trabalho. (Thompson, 1998, p. 22).

A cultura não é pensada apenas como expressão da sociedade. É também instituinte desta. Assim, a cultura dos trabalhadores não é apenas resultante do que produzem, mas também das lutas das resistências. No texto “Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo”, Thompson nos deu um belo exemplo de como se constituem as relações entre os trabalhadores das minas de carvão inglesas do século XVIII e os patrões. Com a institucionalização da máxima “Tempo é Dinheiro” – e o trabalho pago por hora ou produtividade –, os patrões passaram a exigir mais e mais dos trabalhadores; estes, por sua vez, reagiram criando diversos mecanismos de defesa, como a “Santa Segunda-Feira”, quando em nome de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros, recusavam-se a comparecer ao trabalho. Percebemos, assim, que as relações de dominação e resistência não são dicotômicas e fazem parte do mesmo jogo. Entendemos a existência de tantas culturas quantos forem os grupos humanos, quantos forem os modos de vida. Assim, a “cultura escolar” é percebida como “culturas escolares”, como multiplicidade de experiências e significados, em oposição à unicidade e à homogeneidade. Embora existam elementos comuns nos ordenamentos oficiais para as escolas, cada uma cria ou recria sentidos próprios, para cada local específico.

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Para agrupar os artigos e dar conta da amplitude do tema, o livro é composto por quatro partes. A primeira, “Memórias e histórias de escolas religiosas”, procura olhar para instituições escolares de caráter religioso, enfocando suas especificidades. “Congregações religiosas femininas e a Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão (SATC): dando as mãos aos operários mineiros (Criciúma/SC, 1964-1981)”, de Giani Rabelo, promove uma aproximação às práticas assistenciais e educativas, protagonizadas pelas Pequenas Irmãs da Divina Providência em obras missionárias junto às esposas e crianças filhas de operários das minas de carvão do complexo carbonífero do sul de Santa Catarina. A autora tece considerações em relação ao trabalho desenvolvido pelas Pequenas Irmãs da Divina Providência junto à Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão (SATC) e analisa um conjunto de relatórios anuais de quase duas décadas (1964 a 1981), apresentados pela Diretoria Executiva aos seus conselheiros. “Colonizar, rezar e educar: atuação de educadores religiosos católicos em São Lourenço do Oeste (SC), 1956 a 1966”, de Elison Antonio Paim e Nanci Laufer Krindges, dá visibilidade à educação escolar desenvolvida por educadores da Igreja Católica no processo colonizador de São Lourenço do Oeste. Ao trabalhar com fontes documentais escritas e depoimentos orais de professores e alunos, busca perceber relações sociais, culturais voltadas à construção de um ideal de homem e mulher para a região oeste catarinense. Destacam-se a atuação das empresas colonizadoras e suas relações com a Igreja Católica e o Estado na criação da escola como incentivo à vinda de migrantes. “Irmãs de São José (1953-1969): a escola feminina de Xanxerê (SC)”, de Vanessa Picolli, busca registrar como a escola feminina pretendia desenvolver a formação moral, religiosa e doméstica das

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filhas de famílias abastadas de Xanxerê e região. Era uma instituição particular construída pelos moradores do município, juntamente com a Sociedade Brasileira Cultural e Caritativa São José, que arrecadaram fundos para a construção e manutenção desta instituição escolar, a qual contava também com o auxílio financeiro das mensalidades pagas pelas famílias das alunas. “Produzindo fontes para uma história carnavalizada: as instituições e culturas escolares”, de Fabiana Nicolau, propõe uma reflexão teórico-metodológica sobre as fontes documentais produzidas ao longo da pesquisa em andamento “De menino a estudante salesiano – as práticas discursivas e a produção de sujeitos masculinos no Colégio Salesiano Itajaí – 1956-1969”. Nesse texto, são problematizadas a emergência e utilização de documentos fabricados no interior da instituição escolar e a possibilidade de utilizá-los para análise e compreensão das culturas escolares e a consequente produção de sujeitos. Na segunda parte, “Memórias e histórias: reminiscências escolares”, as memórias de alunos expressam elementos da cultura escolar. Em “O livro de leitura e a construção da civilidade em Santa Catarina”, Marli de Oliveira Costa analisa os textos da Série Fontes, que alcançaram as cidades de Santa Catarina entre os anos de 1920 e 1950. A série, idealizada pelo inspetor da Instrução Pública do Estado, Henrique Fontes, marcou “durante décadas o projeto educacional das escolas públicas do Estado”. Era composta por uma cartilha, chamada Cartilha Popular e mais quatro livros de leitura. O conjunto da obra permite perceber tentativas de disseminação de um perfil de criança considerado ideal para o período e visualizar estratégias de construção de hábitos de civilidade nas crianças. As noções de civilidade aparecem associadas a práticas de higiene, à postura do corpo, ao amor à pátria e à família.

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“História, Memória, Educação e inclusão: a Escola Municipal Professor Moacyr Jardim de Menezes na vida de crianças com necessidades especiais”, de Cinara Lino Colonetti Bergmann, é resultado de um projeto de pesquisa que trabalhou com as lembranças de jovens com necessidades especiais que frequentaram a referida escola, do município de Criciúma, entre os anos de 1990 e 2000. “Cuidando dos bem-nascidos: a memória do Curso Particular Póvoas Carneiro em Criciúma (SC), 1940 a 1962”, de Paulo Sérgio Osório, é resultado de um estudo sobre a gênese e o desenvolvimento da escola primária Curso Particular Póvoas Carneiro no contexto de urbanização e modernização da cidade. Enfatiza sua importância no processo de escolarização de um grupo formado por filhos de industriais, de comerciantes, de proprietários de terras e daqueles profissionais que compunham a emergente classe média urbana da cidade. “Reminiscências da cultura escolar: vestígios das práticas escolares no sul catarinense (1905-1930)”, de Tatiane dos Santos Virtuoso, promove um encontro com experiências de ex-alunos de escolas italianas no sul catarinense e leva à percepção de diferentes vozes. Estas se apresentam intrigantes perante os documentos oficiais. Assim, em meio a memórias, bem como por meio do currículo das escolas, procurou-se entender o imaginário cultural que predominava entre os ítalo-brasileiros, especialmente na escola. Nas representações construídas entre Itália e Brasil, percebe-se a contínua disputa de poder e a constante imposição da língua vernácula brasileira. Na terceira parte, “Educação indígena”, os autores abordam como a educação formal escolar está presente em algumas comunidades indígenas do estado de Santa Catarina. Em “A educação Guarani e a presença da escola nas comunidades Guarani do Morro dos Cavalos e de Massiambu, Palhoça (SC): elementos de embate cultural”, Helena Alpini Rosa e Ana Lúcia Vulfe

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Nötzold apresentam o embate cultural entre a educação tradicional Guarani e os elementos educacionais propostos pela escola presente nas comunidades Guarani do Morro dos Cavalos e Massiambu, localizadas no município de Palhoça (SC), na década de 1990. “Espaço, poder, educação e cultura nos territórios indígenas”, de Leonel Piovezana, propõe perceber como as mudanças culturais e ecológicas nas áreas indígenas impõem uma reflexão sobre as formas de propriedade e o uso da terra. Também instiga a reflexão sobre como a presença de não índios nas “reservas”, o crescimento populacional e pressões comerciais fizeram com que os índios se vissem obrigados a depender cada vez mais das relações de mercado e dos processos de educação formal e não formal, criando, assim, novas necessidades. Elas vão interferindo nas mudanças comportamentais e nas formas de vida, nos aspectos socioambiental, político, econômico, educacional e nos tratos para com a terra. “Palco de mudanças: a escola sede da Terra Indígena Xapecó”, das autoras Talita Daniel Salvaro e Ana Lúcia Vulfe Nötzold, trata da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkrê, considerada modelo para a educação escolar indígena. Explicita como objetivo perceber essa escola como um palco de mudanças, desde sua estrutura, sua denominação, além da relação com a história da comunidade. Destaca-se, também, a presença da escola como um mecanismo pelo qual se afirma e valoriza a identidade étnica, trabalhada por meio do currículo diferenciado. Na quarta parte, “Formação de professores”, os autores apresentam três abordagens que explicitam diferentes aspectos da formação de professores em tempos e espaços diversos. “Formação de professores: projetos em conflito”, de Maria de Fátima Rodrigues Pereira e Elza Margarida de Mendonça Peixoto, apresenta um mapeamento dos estudos sobre a formação de profes-

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sores entre as décadas de 1980 e 2000. Aponta que o tema ganhou destaque no conjunto das Reformas de Educação, evidenciando, por outro lado, como os problemas se mantêm e se misturam com vários outros. Defende que o debate continua já que a formação de professores e seu trabalho têm de ser pensados para além do projeto ligado aos interesses do mercado. “Rememorando o fazer-se professor(a) em escolas multisseriadas na região oeste de Santa Catarina”, de Elison Antonio Paim, pauta-se nos conceitos de experiência vivida e rememoração de Walter Benjamin. Por meio de entrevistas com professores que trabalharam em escolas multisseriadas, evidenciam-se as experiências, os diferentes saberes e fazeres. Destaca-se a valorização daqueles que se dispuseram a ensinar o pouco que sabiam para crianças e jovens de comunidades agrícolas, assumindo muitas atividades para além do ensinar a ler, escrever e contar. “Formação de professores de Educação Moral e Cívica”, de André Luiz Onghero, tem a intenção de possibilitar a análise e o debate sobre a formação dos professores de Educação Moral e Cívica (EMC). O artigo foi elaborado com base em fontes escritas, constituídas por leis e decretos do governo federal, e fontes orais, constituídas por entrevistas com professores que lecionaram EMC em escolas da região oeste de Santa Catarina, durante as décadas de 1970 e 1980, subordinadas à 11ª Coordenadoria Regional de Educação, sediada em Chapecó (SC). O ensino de EMC não exigia apenas o comprometimento pedagógico ou o conhecimento acerca do conteúdo a ser ministrado. O professor deveria ser um exemplo de moral e civismo para os estudantes, possuir uma “filosofia de vida”, “cultura humanística satisfatória” e “hierarquia de valores culturais”. Com esta publicação, os(as) pesquisadores(as) envolvidos(as) disponibilizam a todos(as) os(as) leitores(as) contato com as discus-

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sões que atravessam ou são atravessadas pela cultura escolar, contribuindo, assim, para demarcar um tempo de valorização de diferentes “lugares de memória”, oferecendo visibilidade a todos os sujeitos que construíram e constroem a História da Educação em Santa Catarina. Boa leitura! Elison Antonio Paim, Giani Rabelo e Marli de Oliveira Costa (Orgs.)

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Sobre os autores

André Luiz Onghero: graduado em História pela Unoesc, campus Chapecó, especialista em História pela Unochapecó, mestre em Educação pela Faculdade de Educação/Unicamp. Desenvolveu pesquisas na área de História da Educação na região oeste de Santa Catarina: “Disciplina e Civismo: a educação durante os governos militares em Pinhalzinho (1964-74)” e “Moral e Civismo nos currículos das escolas do Oeste catarinense: memórias de professores”, além de uma pesquisa sobre a legislação que implantou a Educação Moral e Cívica: “A Educação Moral e Cívica na Ditadura Militar: uma análise do discurso oficial”. Desde 2007, tem trabalhado como técnico em pesquisa no Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM/Unochapecó), desenvolvendo pesquisas relacionadas com as histórias e memórias dos diferentes grupos que constituem a população regional. Professor no curso de História da Unochapecó e do curso de História da Unoesc, campus Xanxerê. Ana Lúcia Vulfe Nötzold: doutora em História, etno-historiadora, professora do Departamento de História da UFSC e coordenadora do Laboratório de História Indígena. Coordenadora do Projeto MEC/ SESu/Depem “Cipó Guambé, Taquaruçu e anilina: a cultura material 295


Kaingang como fator de inclusão social”. Autora e organizadora dos livros: Nosso Vizinho Kaingang; Ciclo de vida Kaingang; Jogo de Memória Kaingang: uma maneira lúdica de preservar; Ouvir memórias contar histórias: mitos e lendas Kaingang; e Brincando e conhecendo os indígenas em Santa Catarina. Cinara Lino Colonetti Bergmann: graduada no curso de Pedagogia em 2008 pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Mestre em Educação em 2011 pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Unesc. Membro do Grupo de Pesquisa Grupehme/SC. Professora da Rede Municipal de Criciúma desde 2009. Elison Antonio Paim: possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria (1986), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Professor titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Tem experiência na área de História, com ênfase em Práticas de Ensino Experiências de Ensino, atuando, principalmente, nos seguintes temas: memória-experiência-fazer-se professor, ensino de história-história local e Educação Patrimonial. Publicou os livros Fala professor(a): o ensino de História em Chapecó (1997) e Educação e Industrialização (2003), ambos pela Editora Argos. Elza Margarida de Mendonça Peixoto: doutora em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas, faz parte dos Grupos de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (Histedbr); Marxismo, História, Tempo Livre e Educação (Mhtle – UEL); Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas Educacionais e Movimentos Sociais (UnC). Pesquisa os estudos do lazer no Brasil,

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a partir da crítica à produção do conhecimento contextualizada no modo de produção que a viabiliza. Sua tese de doutorado intitula-se “Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels”. Fabiana Nicolau: é bacharel e licenciada em História pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), especialista em História Social pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e mestre em Educação, cuja área temática é História da Educação e Historiografia, pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesse são instituições escolares, produção de sujeitos e subjetividades. As principais publicações se referem ao Sistema Preventivo de Dom Bosco, Oratório São Francisco de Sales, Regulamentos para as Casas Salesianas, entre outros, todas concernentes às práticas discursivas e não discursivas que constituem a Sociedade São Francisco de Sales (congregação salesiana). Giani Rabelo: graduada em Serviço Social pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1986), mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1997) e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora no curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação no Mestrado em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). É líder do Grupo de Pesquisa História e Memória (Grupehme). Tem se dedicado às pesquisas nas áreas de História e Educação, com ênfase nos seguintes tópicos: História, Memória e Educação; Gênero e Educação; Religião e Educação; História das Instituições Escolares; História da escrita e da leitura; e Cultura Escolar. Principais publicações (livros): A escola na Colina: Grupo Escola Núcleo Hercílio Luz (1905-2002) (2003); Escola Casemiro

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Stachurscki: das aulas particulares/comunitárias ao ensino público municipal (2005) Lutas e conquistas: história e memória da escola pública municipal “Honório Dal Toé” (2007). Helena Alpini Rosa: graduada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Cultural da UFSC com a pesquisa “Trajetória histórica da presença da escola na aldeia Guarani de Massiambu, Palhoça, SC”, vinculada ao Laboratório de História Indígena (Labhin) com a orientação e coordenação da professora doutora Ana Lúcia Vulfe Nötzold. Técnica pedagógica na Diretoria de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação, realizando atividades no Núcleo de Educação Indígena com a formação de professores (licenciada). Leonel Piovezana: graduado em Filosofia no Seminário São Carlos Borromeu de Sorocaba (SP) e em História/Estudos Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas (1984). Foi professor na rede pública estadual e municipal de Sorocaba (SP), nos anos de 1979 a 1980 e de 1982 a 2006, da rede estadual de Educação do estado de Santa Catarina. Especialista em História e Geografia pela UFSC, mestre em Desenvolvimento Regional na Área Sociocultural, pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 2000, e doutor em Desenvolvimento Regional pela Unisc. Atualmente é professor titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Maria de Fátima Rodrigues Pereira: doutora em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas, faz parte dos Grupos de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (Histedbr); Marxismo, História, Tempo Livre e Educação (Mhtle – UEL); Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas Educacionais

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e Movimentos Sociais (UnC). Pesquisa formação de professores na perspectiva de História, Trabalho e Educação. Sua tese de doutorado intitula-se “Formação de professores em nível superior no estado de Santa Catarina (1960-2002): controle e desoneração do Estado”. Marli de Oliveira Costa: professora dos cursos de Pedagogia e História da Unesc. Mestre em História e doutora pelo Programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS. Nanci Laufer Krindges: graduada e especialista em História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), campus Chapecó. Assistente técnico-pedagógica da rede pública estadual de Santa Catarina em São Lourenço do Oeste. Foi membro da equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de São Lourenço do Oeste. Tutora do curso de História na Unopar – polo de São Lourenço do Oeste. Paulo Sérgio Osório: historiador, mestre em Educação, professor do curso de História da Unesc e coordena o Centro de Documentação Regional da Unesc. Talita Daniel Salvaro: mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Cultural da UFSC, pesquisadora do Laboratório de História Indígena (Labhin), bolsista CNPq. Sua pesquisa de mestrado é referente ao ensino da língua Kaingang na educação escolar indígena, sob orientação da professora doutora Ana Lúcia Vulfe Nötzold. Subcoordenadora do Projeto MEC/SESu/Depem “Cipó Guambé, Taquaruçu e anilina: a cultura material Kaingáng como fator de inclusão social”.

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Tatiane dos Santos Virtuoso: graduada em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (2004), mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Atualmente é professora na rede municipal de educação de Criciúma e tutora em cursos de especialização na área da Educação. Participa do Grupo de Pesquisa História e Memória (Grupehme). Tem se dedicado às pesquisas nas áreas de História e Educação, com ênfase nos seguintes tópicos: História; Memória e Educação; e Cultura Escolar. Vanessa Picolli: graduada em História pela Unochapecó, mestre em Educação pelo Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), sob orientação da professora doutora Maria Teresa dos Santos Cunha, bolsista Promop/Udesc – Programa de Monitoria de Pós-Graduação da Udesc.

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Argos Editora da Unochapecó Título Organizadores

Coleção Coordenação Assistente editorial Assistente de vendas Secretaria Divulgação, distribuição e vendas

Projeto gráfico e capa da coleção

História, educação e cultura escolar Elison Antonio Paim Giani Rabelo Marli de Oliveira Costa Regionais Maria Assunta Busato Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Leonardo Favero Neli Ferrari Luana Paula Biazus Renan Klaus Alves de Souza Hilario Junior dos Santos

Capa

Alexsandro Stumpf

Diagramação

Alexsandro Stumpf Sara Raquel Heffel

Preparação dos originais Revisão

Formato Tipologia Papel

Araceli Pimentel Godinho Carlos Pace Dori Araceli Pimentel Godinho Marizete Bortolanza Spessato Rodrigo Junior Ludwig 16 X 23 cm Minion Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Dura Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

Número de páginas

300

Tiragem

500

Publicação Impressão e acabamento

2012 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)


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