Francisco de Assis (Org.)
IMPRENSA DO INTERIOR
conceitos e contextos
Francisco de Assis (Org.)
IMPRENSA DO INTERIOR: CONCEITOS E CONTEXTOS
Chapecรณ, 2013
Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Antônio Zanin Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Maria Assunta Busato
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. 070.4 I34i
Imprensa do interior : conceitos e contextos / Francisco de Assis (Org.). - Chapecó : Argos, 2013. 326 p. (Debates ; 4) Inclui bibliografias ISBN: 978-85-7897-098-7 1. Imprensa – História. 2. Jornalismo local. 3. Jornais brasileiros. 4. Jornalistas. I. Assis, Francisco de. II. Título. III. Série. CDD 070.4
Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó
Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Coordenador Dirceu Luiz Hermes Conselho Editorial Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente), André Onghero, César da Silva Camargo, Dirceu Luiz Hermes, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Maria Assunta Busato, Murilo Cesar Costelli, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, Valéria Marcondes
Sumário
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Prefácio
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Apresentação Imprensa do interior: conceitos a entender, contextos a desvendar Francisco de Assis
Cicilia M. Krohling Peruzzo
PARTE I Conceitos 23
O jornalismo interiorano a serviço das comunidades Luiz Beltrão
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Jornal do interior: conceitos e preconceitos Wilson da Costa Bueno
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O futuro do jornalismo em cidades do interior Beatriz Dornelles
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Desafios e caminhos possíveis para uma nova concepção de imprensa do interior Luiz Custódio da Silva
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A proximidade como valor-notícia na imprensa do interior Mario Luiz Fernandes
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Jornalismo de release na imprensa do interior: flertes com o “homem cordial” Adriana Santana
PARTE II Contextos 165
Política, debate e participação no jornalismo do interior Juliana Colussi
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A profissionalização do jornalismo no interior brasileiro: o caso de Mossoró (RN) Lerisson C. Nascimento
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As dificuldades do jornalismo impresso no interior do Brasil: uma ilustração de resistências Geder Parzianello
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Jornalismo impresso no interior paulista: características Pedro Celso Campos
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O fortalecimento dos jornais locais e a desconcentração da imprensa no interior de São Paulo Walter Alberto de Luca
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A imprensa do interior no jogo de escalas: os jornais do centro-oeste paulista e a questão local em foco Marcos Paulo da Silva
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Jornalistas do interior: influências pessoais na construção da imprensa Francisco de Assis
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Posfácio Muito além da grande mídia: razões e racionalizações do jornalismo no interior Ana Carolina Rocha Pessôa Temer
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Sobre os autores
Prefácio Cicilia M. Krohling Peruzzo*
Saúdo a iniciativa de Francisco de Assis em organizar o livro Imprensa do interior: conceitos e contextos, por reunir textos sobre um assunto pouco pesquisado no circuito acadêmico brasileiro. Apesar de os jornais de cidades situadas fora dos limites das capitais existirem desde 1842 – começando por O Paulista, editado em Sorocaba, no estado de São Paulo –, o jornalismo praticado nesse âmbito tem merecido apenas estudos esporádicos ou parciais, portanto pouco abrangentes do ponto de vista analítico, não capazes de configurar um panorama nos âmbitos regional e nacional. Essa situação prejudica a caracterização de práticas, avanços e (des)continuidades desse segmento de imprensa de modo a registrar dimensão importante da história do jornalismo. As razões do descompasso talvez estejam na percepção preconceituosa de considerar tratar-se de uma categoria inferior de mídia e do próprio jornalismo, mas o motivo principal está nas dificuldades em se adentrar nas localidades para se realizar
* Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Coordenadora do Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Local (Comuni).
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pesquisas de campo no amplo e diverso universo comunicacional em um país das dimensões do Brasil. Salvo raras exceções, como indica o conteúdo desta coletânea, ultimamente são feitos mais estudos de casos de jornais ou rádios locais do que investigações ampliadas que descrevam, analisem e configurem o fenômeno no seu conjunto. O que não quer dizer que os estudos de casos não tenham sua importância. Pelo contrário, ao sistematizarem relatos e análises sobre experiências relevantes de imprensa, eles contribuem para a geração de sistemas de informações e de conhecimento sobre diferentes iniciativas de mídia interiorana, em que algumas dimensões se configuram como de mídia local, dos meios impressos aos audiovisuais e digitais.
Diante desses fatores, a publicação desta obra se torna muito oportuna. Ela reúne textos sobre estudos de mídia local, especialmente jornais, de diferentes cidades situadas no Brasil. É uma forma de proporcionar visão de conjunto do fenômeno em questão. O que também valoriza esta coletânea são os estudos empíricos selecionados, pois revelam-se fruto de investigações realizadas para teses e dissertações, portanto com maior densidade teórico-metodológica. Sabe-se que a redução deste tipo de pesquisa em papers de poucas páginas resulta em abordagens que nem sempre conseguem sintetizar bem o todo. Se este é o caso de alguns dos capítulos aqui reunidos, por outro lado eles remetem a estudos completos que podem ser buscados para subsidiar investigações teóricas mais abrangentes. Os aportes teóricos inseridos nos diferentes textos refletem algumas das linhas conceituais que vêm sustentando os estudos sobre jornais do interior. Porém, conceitos que podem ter marcado época em determinado contexto, como os de Beltrão e de Bueno, não repercutem de forma contundente nos estudos mais recentes. Às vezes há certa tendência ao modismo, ou seja, de aproximar o estudo de jornais do interior a conceitos em geral aplicáveis à grande imprensa. Mas algo similar continua a aparecer: 10
a inclinação ao discurso normativo e indicativo para as boas práticas jornalísticas. Porém, com uma diferença: enquanto, na década de 1960, a visão centrava-se no papel dos meios de comunicação na difusão de inovações, então favorável ao desenvolvimento das regiões tidas como atrasadas, hoje em dia passa a haver mais interesse, nos estudos acadêmicos, em concepções críticas sintonizadas com as demandas cívicas e dos cidadãos e novas propostas de desenvolvimento local. No nível das práticas, as motivações principais para a dedicação à imprensa local, seja no interior ou nos bairros das metrópoles, são de ordem econômica e política: o local como nicho de mercado e o meio de comunicação como arma para assegurar a divulgação das posições político-ideológicas de grupos conservadores.
Outro aspecto que gostaria de enfatizar é sobre a diversidade da imprensa do interior, a qual se manifesta no conteúdo desta coletânea e também nos tipos de abordagem dos textos que a compõem. Cada texto tenta apanhar o objeto a partir de diferentes facetas, o que mostra existir um campo de estudo a ser explorado a partir das transformações que vêm sendo constituídas ao longo do tempo. Se, na década de 1960, havia todo um brio valorativo que ornava visões sobre como deveria ser a práxis da imprensa do interior, nos últimos anos vêm bastante à tona suas facetas mais realistas, tanto pelo desnudamento sobre o comprometimento dos conteúdos uma vez submetidos aos vínculos dos seus proprietários aos interesses econômicos, ideológicos e políticos, quanto advindas de práticas clientelísticas e das limitações decorrentes das estruturas operativas das empresas midiáticas locais ou regionais. Ao mesmo tempo que esses aspectos limitam o avanço do jornalismo local, no caso no interior, entendido como aquele que acontece fora do eixo das capitais – embora neste âmbito também haja grandes jornais de cidades grandes com práticas semelhantes aos das capitais, o que dificulta o uso do termo interior –, alguns dos textos permitem visualizar a 11
existência de iniciativas que ultrapassam as amarras das práticas centradas na “cordialidade local”, da subordinação ao jogo político-partidário e institucional dos poderes instituídos, das facilidades reprodutivas do material das assessorias de imprensa dos órgãos públicos e da difusão dos editais públicos. Ainda resta espaço para o jornalismo cívico e para as coberturas sérias e críticas dos acontecimentos locais.
Para finalizar, volto ao tema da diversidade da imprensa do interior, para enfatizar sua importância e a premência da pesquisa a seu respeito, bem como sobre outras modalidades de mídia local e comunitária. Ao refletirem a diversidade de milhares de cidades e municípios brasileiros com seus diferentes acontecimentos, raízes históricas, culturas e problemáticas, os canais de comunicação têm a potencialidade de realizar um trabalho comunicacional centrado na proximidade. Desse modo, são capazes de refletir as peculiaridades locais e regionais que a grande imprensa só faz em casos especiais, tais como de grandes tragédias1 ou fatos sensacionalistas de fundo político ou de outra índole. Por outro lado, os milhares de pequenos meios de comunicação representam o exercício da liberdade de expressão desejável no conjunto da sociedade brasileira. Quanto mais emissores houver, melhor para a democracia da sociedade brasileira. Mesmo existindo distorções e a tendência à reprodução de padrões da grande mídia por meios de comunicação de pequeno porte e alcance, neles sempre há espaço para o diverso, para corresponder às demandas pela informação local e para colocar em xeque a oligopolização dos meios de comunicação no Brasil. São Paulo, 27 de janeiro de 2013.
1 Vide a atenção dada pela mídia nacional ao incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013.
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Apresentação Imprensa do interior: conceitos a entender, contextos a desvendar Francisco de Assis
As pesquisas realizadas no território da Comunicação, a exemplo de outras áreas das Ciências Sociais Aplicadas, carecem, muitas vezes, de conceituações e de olhares atentos sobre aspectos conjunturais que possibilitem melhor entender os fenômenos suscitados no cenário social. No Brasil, especificamente, apesar de investigações científicas acerca da mídia e de suas interfaces serem realizadas há meio século – ou mais do que isso, se levarmos em conta os estágios anteriores à formação do nosso campo1, nos quais o jornalismo e outras atividades correlatas já haviam-se tornado objeto de análise –, ainda é possível notar lacunas e contradições em muitas frentes de estudo, como é o caso da imprensa do interior, foco deste livro.
1 Tomamos como marco referencial do campo acadêmico da Comunicação no Brasil o ano de 1963, quando foi fundado, em Recife (PE), o Instituto de Ciências da Informação (Icinform), sob o comando de Luiz Beltrão. É a partir daí e de uma série de outros esforços e acontecimentos que essa área do saber se legitimou junto à sociedade e às instâncias que regulamentam a atividade científica.
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Os embates de ideias que se colocam à frente da compreensão do recorte podem ser percebidos desde o vocábulo “interior”, polissêmico que é. Sem querer adentrar nesse mérito em toda a sua extensão, vale mencionar que o dicionário Michaelis nos oferece, dentre vários significados para tal palavra, três itens ligados a contextos geográficos, os quais particularmente nos interessam. Segundo a referida fonte, o interior pode ser: 1) “parte central de um país, por oposição às fronteiras”; 2) “parte interna do país por oposição à costa ou litoral”; e 3) “o próprio país, por oposição aos países estrangeiros”. Na leitura que temos feito dos estudos sobre a imprensa do interior, percebemos uma particularidade: embora muitos deles não expliquem a que segmentos atribuem essa nomenclatura, praticamente todos abordam temas relacionados a meios de comunicação – e a seus desdobramentos, como profissionais, rotinas, produtos, entre outros – estabelecidos em cidades de pequeno e médio porte, localizadas em espaços um pouco ou muito distantes dos grandes centros urbanos (metrópoles, megalópoles etc.). Podemos dizer, então, sem medo de cometer equívocos, que interior, na pesquisa acadêmica sobre a imprensa – e mesmo no chamado senso comum –, consiste em território que não o das capitais e o qual pode estar situado tanto na parte interna das unidades federativas, quanto no litoral e na fronteira entre estados (províncias, em alguns casos) ou na divisa de países.
Tratar sobre imprensa do interior, portanto, é bem mais do que pensar a relação da mídia com particularidades às quais comumente são atribuídos os nomes “local” e “regional”. Dizemos isso por entendermos que esses conceitos – largamente aproximados da situação de pequenos municípios e de áreas afins – também podem reportar-se aos grandes centros. Em outras palavras, questionamos, por exemplo, se o que ocorre em São Paulo, maior cidade brasileira,
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não seria também fato local. Ou, mais, se noticiários sobre Recife, considerada a principal capital do Nordeste, não se enquadrariam no conceito de regional, assim como pode se dar com acontecimentos de qualquer outra grande cidade nordestina, haja vista que temos por hábito associar aquele agrupamento de estados a um ambiente com marcas de regionalidade.
Estamos convencidos de que debater a realidade da imprensa em contextos interioranos não é o mesmo que tratar sobre o local e sobre o regional, ainda que essas questões sejam tangenciais e significativas. De igual maneira, é impossível não reconhecer que tais ideias estejam imbuídas de outras noções, com igual importância, como as de proximidade, pertencimento, comunidade, entre muitas outras. Visualizamos, pois, múltiplas possibilidades de articulações teóricas e reflexivas nesse cenário por muitos ignorado ou pouco valorizado (afinal, ainda há, no meio acadêmico, certo preconceito com estudos que se debruçam sobre peculiaridades do interior, assim como notamos alguns desconfortos, no âmbito do mercado, quando o assunto é o trabalho da imprensa em pequenas cidades, posto que alguns profissionais chegam até a não considerá-lo como labor legitimado ou desejado). Atentos a isso, idealizamos a organização desta coletânea, a fim de oferecê-la à área em que estamos inseridos, a disciplinas correspondentes e a outros interessados no assunto, como ponto de partida para o entendimento da imprensa do interior. Como não poderia deixar de ser, tomamos o Brasil como principal parâmetro, não obstante muitos dos textos que seguem dialogarem com autores estrangeiros, assimilando seus pressupostos ou reproduzindo seus relatos sobre experiências sucedidas em outros lugares. Nossa ambição, por tudo isso, é que o conteúdo aqui reunido possa demarcar balizas conceituais e contextuais, além de estimular a realização de novos projetos dedicados ao
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tema que nos motiva. Num país com 5.565 municípios2, parece-nos subestimar potencialidades a insistência na valorização de pesquisas fincadas apenas no eixo Rio-São Paulo, em Brasília (DF) – o principal centro de decisões políticas da nação – e em uma ou outra capital. É preciso avançar, jogando luzes sobre as incertezas que, do ponto de vista científico, pairam por sobre os cenários menores, configurados assim quer por suas dimensões territoriais, quer por seu contingente populacional ou, ainda, por sua própria localização.
Outro motivo que nos estimulou a preparar o livro foi a escassez de material sistematizado acerca do assunto. É evidente que, mesmo em quantidade reduzida, há trabalhos acadêmicos a esse respeito divulgados em diferentes bancos de dados ou plataformas. Mas a dispersão atrapalha não somente localizar muitos desses itens como também prejudica seu exame a partir de uma lógica coerente, que apenas um trabalho prévio de seleção e articulação é capaz de fazer. Temos notícia de poucas iniciativas dessa natureza, quase todas circunscritas a periódicos acadêmicos, como é o caso da revista PJ:Br – Jornalismo Brasileiro, editada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), que dedicou o dossiê de sua quinta edição (1º semestre de 2005) ao tema “jornalismo do interior”3 –, ainda assim contando tão somente com artigos produzidos por alunos de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), matriculados no campus de Arcos, no interior daquele estado. De fato, faltava, até aqui, a reunião de conhecimento produzido em nível avançado.
2 Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao censo de 2010. 3 O dossiê sobre jornalismo do interior, publicado pela PJ:Br, pode ser acessado no endereço a seguir: <http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/dossie5.htm>.
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Não à toa os autores convidados para dar corpo a esta publicação, por meio de seus escritos, são doutores e doutorandos, atuantes em diferentes estados brasileiros (Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul), de modo a compor um mapa diversificado de pensamentos sobre a produção jornalística em cidades interioranas. Esses pesquisadores têm seus trabalhos reconhecidos pela comunidade acadêmica, em razão da qualidade e da relevância que exibem. Alguns deles, inclusive, estão despontando no cenário internacional, pelo diálogo que conseguem estabelecer com pesquisadores da Europa, dos Estados Unidos e de outros países da América Latina. É de se perceber: muitas são as razões que nos trouxeram até aqui. No entanto, torna-se imprescindível justificar a formação do livro em virtude de dois fatores que se complementam e que articulam posicionamentos já diluídos nestas linhas:
1) a literatura comunicacional brasileira nos apresenta uma boa gama de estudos que versam sobre “mídia regional”; porém, percebemos que há uma diferença conceitual, pouco percebida/discutida, entre imprensa/jornalismo local/regional e imprensa/jornalismo do interior, como exposto anteriormente; isso porque fatos locais ou regionais – dependendo do local ou da região – podem ter dimensões mais amplas do que o seu próprio território, atingindo mídias de grande alcance (nacional/internacional); isso é bem diferente do que acontece no interior, na maioria das vezes, pois os acontecimentos de cidades “não metropolitanas” quase nunca despertam interesses além dos delas próprias (a não ser em casos muito específicos);
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2) a imprensa do interior, assim sendo, apresenta-se como saída para os municípios darem vez e voz às suas comunidades, já que à “grande imprensa” interessa apenas os acontecimentos regionais de grande repercussão, ou seja, aqueles que podem atrair olhares de todo o país ou até do exterior. Logo, o que apresentamos são discussões aptas a mostrar horizontes a pesquisadores e a estudantes que desejam pensar a organização, a estrutura e os modos de agir da imprensa do interior. Para tanto, foram selecionadas algumas contribuições que tratam do assunto de maneira mais geral e algumas análises de experiências demarcadas no tempo e no espaço. Tal como sugerido pelo título, há uma divisão em duas etapas: conceitos e contextos. A primeira parte, voltada a conceituações, problematiza o fenômeno, buscando na práxis subsídios para teorizá-lo. Aí se incluem notas sobre terminologias, características da mídia impressa, desafios para o futuro próximo, critérios de noticiabilidade, práticas comuns às rotinas produtivas, implicações éticas e outros elementos que impactam na constituição do objeto, em permanente diálogo com teorias, hipóteses e pensamentos oriundos de diferentes subdivisões das Ciências Sociais. Também devemos explicar que fizemos questão de reproduzir, de início, um texto de Luiz Beltrão, pernambucano falecido em 1986 e que ocupa o posto de primeiro doutor em Comunicação do País. Pioneiro em diversos segmentos, ele sistematizou, na década de 1960, as características singulares dos jornais do interior – com especial vínculo à realidade do Nordeste –, sendo tal material, muito provavelmente, o primeiro texto produzido no Brasil a respeito da questão. Por isso mesmo, acreditamos ser válido recuperar suas percepções, nesta nova obra, até mesmo porque suas considerações – embora conjunturais, em
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alguns momentos – tocam em aspectos que podem ser considerados em leituras contemporâneas.
Já o segundo grupo de textos apresenta exemplos que ilustram como é a dinâmica da imprensa do interior, ponderando certos desdobramentos. Há aproximações de fatores relacionados ao debate de assuntos públicos, à profissionalização da atividade jornalística, aos entraves para a manutenção de publicações impressas, às transformações provocadas pela internet, bem como à gestão de empresas midiáticas, entre outros. Tudo isso, obviamente, com referência direta ao modus operandi próprio de recortes geográficos que nos atraem a este livro. Além do mais, as últimas reflexões – alocadas propositalmente ao fim dos capítulos, como espécie de “base” dos processos discutidos no cerne do conjunto – retomam circunstâncias históricas, destacando singularidades da formação da imprensa em duas regiões distintas do interior de São Paulo, as quais podem servir de parâmetro para outras análises. Tivemos o cuidado, ainda, de aqui expor não somente elementos tradicionais da imprensa posta em relevo, mas também abordagens acerca de outras demandas, que exigem situar as problemáticas ligadas ao interior em temáticas mais amplas, como as que se ocupam do desenvolvimento – econômico, cultural, ambiental etc. –, premissa para a ação efetiva da imprensa nas comunidades.
Apontar fronteiras de uma prática aparentemente limitada, em razão de sua estrutura, e ao mesmo tempo explorar amplas possibilidades de pensamento em torno desse escopo são o principal compromisso que assumimos ao organizar estas páginas. Fazemos imenso gosto que a partir delas surjam ideias fecundas ou novas observações capazes de nos situar quanto aos contornos da prática jornalística no interior.
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Sobre os autores
Adriana Santana: professora adjunta do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É jornalista, mestre e doutora em Comunicação pela UFPE. Coordena o Projeto de Extensão Universitária em Cena: Radionovela e Cidadania. E-mail: <adriana.andrade.santana@gmail.com>. Beatriz Dornelles: professora-doutora do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Realizou estágio de pós-doutorado sobre jornalismo interiorano na Universidade Fernando Pessoa, em Portugal. E-mail: <biacpd@pucrs.br>. Francisco de Assis: jornalista e professor do curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo (SP). Doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), mesma instituição na qual obteve o título de mestre. Vice-coordenador do grupo de trabalho (GT) Estudios sobre Periodismo da Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (Alaic). E-mail: <francisco@assis.jor.br>. Geder Parzianello: jornalista e tradutor. Professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio 323
Grande do Sul (Pucrs) e pós-doutorando na Universität Paderborn, na Alemanha, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Pesquisador de grupos vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sócio-fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e da Sociedade Brasileira de Retórica (SBR). Autor do livro A retórica nos jornais impressos e os desafios ao jornalismo contemporâneo (Rio de Janeiro: Publit, 2011). E-mail: <gederparzianello@yahoo.com.br>. Juliana Colussi: jornalista com experiência em assessoria de imprensa e em redações de jornais, revistas e web, no Brasil e na Espanha. Também trabalhou como professora em várias faculdades em Brasília (DF), após concluir o mestrado em Comunicação, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Atualmente, desenvolve doutorado sobre jornalismo digital na Universidade Complutense de Madri, com bolsa da Fundação da Ciência e Tecnologia de Portugal. E-mail: <julianacolussi@hotmail.com>. Lerisson C. Nascimento: sociólogo. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e doutorando em Sociologia, na mesma instituição. Pesquisador do grupo Sociologia das Profissões (UFSCar). E-mail: <lerisson@gmail.com>. Luiz Beltrão (1918-1986): foi jornalista, pesquisador, escritor e professor universitário. Primeiro doutor em Comunicação do Brasil, defendeu sua tese Folkcomunicação, um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias, na Universidade de Brasília (UnB), em 1967. Pioneiro em diversas áreas, destacou-se, 324
sobretudo, nas pesquisas sobre jornalismo e sobre os fenômenos folkcomunicacionais. Desde 1997, dá nome a um prêmio de reconhecimento acadêmico oferecido anualmente pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Luiz Custódio da Silva: jornalista. Mestre em Comunicação e Administração Rural, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe). Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Atualmente, leciona as disciplinas Jornalismo Especializado, Jornalismo Cultural e Comunicação Comunitária, no Departamento de Comunicação da UEPB. Coordenador do grupo de pesquisa Comunicação, Cultura e Desenvolvimento. Coordenador da Comissão Própria de Avaliação da UEPB e coordenador de Extensão do Departamento de Comunicação da mesma instituição. E-mail: <custodiolcjp@uol.com.br>. Marcos Paulo da Silva: jornalista e professor adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), tendo realizado estágio de doutorado-sanduíche na Syracuse University (Syracuse, New York, Estados Unidos). E-mail: <marcos.paulo@ufms.br>. Mario Luiz Fernandes: jornalista e professor adjunto do curso de Jornalismo e do mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutor e mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Líder do grupo de pesquisa Mídia, Identidade e Regionalidade. E-mail: <mario.fernandes@ufms.br>. 325
Pedro Celso Campos: doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), tem pós-doutorado na mesma área pela Universidade de Sevilha, na Espanha. Integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (FAAC-Unesp). Sua pesquisa na área do jornalismo ambiental e da ecologia humana relaciona comunicação, saúde e qualidade de vida da pessoa idosa. E-mail: <pcampos@faac. unesp.br>. Walter Alberto de Luca: doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), mestre em Comunicação e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero (Facasper) e graduado em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Leciona na Universidade de Sorocaba (Uniso) e é diretor do jornal Diário de Sorocaba. E-mail: <walterdi@uol.com.br>. Wilson da Costa Bueno: jornalista e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Líder do grupo de pesquisa Comunicação Empresarial no Brasil: Uma Leitura Crítica (Criticom). Coordenador do curso de especialização em Comunicação Empresarial da Umesp. Editor de oito portais especializados em Comunicação e/ou Jornalismo. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa e da Mojoara Editorial. E-mail: <wilson@comtexto.com.br>.
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Argos Editora da Unochapecó www.unochapeco.edu.br/argos Título Organizador Colaboradores
Coleção Coordenador Assistente editorial Assistente de vendas
Imprensa do interior: conceitos e contextos Francisco de Assis Adriana Santana Ana Carolina Rocha Pessôa Temer Beatriz Dornelles Cicilia M. Krohling Peruzzo Geder Parzianello Juliana Colussi Lerisson C. Nascimento Luiz Beltrão (in memoriam) Luiz Custódio da Silva Marcos Paulo da Silva Mario Luiz Fernandes Pedro Celso Campos Walter Alberto de Luca Wilson da Costa Bueno Debates, n. 4 Dirceu Luiz Hermes Alexsandro Stumpf Neli Ferrari
Secretaria
Leonardo Favero
Divulgação, distribuição e vendas
Neli Ferrari Andressa Cazalli
Projeto gráfico e capa
Alexsandro Stumpf
Diagramação
Caroline Kirschner
Preparação dos originais Revisão Formato Tipologia Papel
Carlos Pace Dori Carlos Pace Dori Rodrigo Junior Ludwig 16 X 23 cm Adobe Caslon Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Supremo 280 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2
Número de páginas
326
Tiragem
800
Publicação Impressão e acabamento
2013 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)
Este livro está à venda:
www.travessa.com.br
www.livrariacultura.com.br
O interior é cenário com dimensões bem mais amplas do que sua demarcação territorial. Trata-se do lugar onde situações ocorrem segundo lógicas culturais e sociais, constituídas com particularidades que a própria geografia condiciona. Fazer jornalismo nesse ambiente, portanto, não consiste apenas em reproduzir padrões comuns aos grandes centros. Este livro sugere caminhos para compreender a imprensa do interior. Discutindo conceitos e apresentando relatos contextuais, os autores desenham um mapa da produção jornalística feita em localidades que não as capitais ou regiões metropolitanas, estimulando novos olhares. Leitura essencial aos que pretendem adentrar nesse terreno cognitivo.
ISBN 978-85-7897-098-7