A viagem do haicai de Nempuku

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A viagem do haicai de Nempuku


UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA Reitor Luiz Carlos Lückmann Pró-Reitor de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Odilon Luiz Poli Pró-Reitor de Administração Gilberto Luiz Agnolin Pró-Reitora de Ensino Silvana Marta Tumelero Conselho Editorial Nedilso Lauro Brugnera (Presidente) Flávio R. M. Garcia Mary Neiva Surdi Monica Hass Odilon Luiz Poli Rivalino Matias Júnior Valdir Prigol Vilson Cabral Junior Diretor Executivo Valdir Prigol Assistente Administrativo Assistente Editorial Projeto Gráfico Diagramação Revisão Capa

Neli Ferrari Hilário Junior dos Santos Eduard Marquardt Hilário Junior dos Santos Arisangela Denti Éder José Minetto

2000


Marco Antonio Chaga

A viagem do haicai de Nempuku

E d i t o ra U n i ve r s i t รก r i a


Copyright © Marco Antonio Maschio Cardozo Chaga, 1999. EDITORA UNIVERSITÁRIA GRIFOS UNOESC — Chapecó Av. Atílio Fontana, 591 E Caixa postal 747 - Bairro Efapi Chapecó — SC 89809-000 Fone: (49) 321 8218 e-mail: grifos@unoesc.rct-sc.br

895.61 Chaga, Marco Antonio A vagem do haicai de Nempuku / Marco C433v Antonio Chaga. - - Chapecó : Universitária Grifos, 2000. 91p.

1. Literatura japonesa - Poesia. 2. Haicai. I. Título. ISBN:

Bibliotecária Responsável: Yara Menegatti; CRB/14-488

Chapecó, verão de 2000.

Editora afiliada

Associação Brasileira de Editoras Universitárias


Para Simone


SUMÁRIO

11 NEMPUKU SATO 15 A VIAGEM CIRCULAR 19 A TRAJETÓRIA DO HAICAI 37 A ORIENTAÇÃO INICIAL 59 MORRER, VIVER E VIAJAR: O TERRITÓRIO DO HAICAI 77 A TRADIÇÃO DO PRESENTE


AGRADECIMENTOS

Este livro é resultado da dissertação de mestrado A viagem do haicai de Nempuku Sato, defendida em agosto de 1995, na Universidade Federal de Santa Catarina. O texto aqui publicado foi modificado, acatando sugestões de alguns leitores. Neste momento, gostaria de agradecer a Cleber Teixeira e a Eduard Marquardt, que sugeriram mudanças significativas e fizeram correções precisas visando sempre um melhor entendimento do texto. Agradeço também aos bolsistas do Projeto Poéticas Contemporâneas, vinculados ao Núcleo de Estudos Literários e Culturais da UFSC, e ao CNPq. Agradeço ainda aos amigos Nelson e Marli Schapochnik, e a Micha Freitas, que me acompanharam durante a realização do trabalho, discutindo, cada um a seu modo, a melhor maneira de levá-lo adiante. Sobretudo, quero firmar minha gratidão aos professores Raúl Antelo e Luíza Lobo pelas argüições e, principalmente, a minha orientadora Maria Lúcia de Barros Camargo, pela dedicação e paciência consumidas durante a realização da dissertação. Finalmente, também dedico este livro aos meus pais e irmãos, especialmente à Maria Gisele e ao Marcelo. O autor


NEMPUKU SATO

Kenjiro Sato nasceu a 28 de maio de 1898 na cidade de Sasaoka, Província de Niigata, no Japão. É o segundo dos seis filhos do casal Yosaku Sato e Tose Sato. Em 1922, conheceu Mizuno Nakata, professor de medicina em Niigata, que o iniciou na prática e no estudo do haicai.1 Nesta época Kenjiro adotou o nome de batismo como haicaísta, Nempuku (que significa pensar com a barriga ou pensamento visceral). Alguns anos mais tarde, Nempuku conheceu Kyoshi Takahama (18741959) — que, por sua vez, era discípulo de Masaoka Shiki (1867-1902) —, de quem se tornou um dos mais destacados alunos. A situação econômica e social do Japão na década de vinte obrigava o governo japonês a estimular a emigração, que havia se iniciado na final do século XIX. É nesse período que Nempuku e outros membros da família decidem, sem muita escolha, emigrar rumo ao Brasil, aqui aportando em 1927. A

(1) Utilizarei a forma consagrada em dicionários brasileiros em detrimento da grafia haiku encontrada em textos franceses, ingleses, norte-americanos e espanhóis. Este aspecto, esta diferença, será melhor explicitado ao longo do texto.


A viagem do haicai de Nempuku

Nempuku, especificamente, a atividade de ensinar haicai no Brasil parece seduzir. Nacionalista, Nempuku fazia parte da maioria dos imigrantes japoneses que acreditavam no Imperador japonês e, consequentemente, na vitória do Japão na Segunda Guerra Mundial. Deve-se esclarecer que entre os imigrantes existiam dois grupos distintos: o primeiro, mais esclarecido e rico, já instalado em São Paulo no início do século XX, que não acreditava na vitória japonesa e já se acostumava com a idéia de não retornar mais ao Japão, acatando, assim, o Brasil como destino final de sua viagem; o segundo grupo, dos imigrantes instalados no campo e voltados à agricultura (embora a vocação da maior parte das pessoas não fosse esta), acreditava que o Brasil era apenas mais uma escala nesta curiosa viagem ao redor do mundo. Assim, este grupo de imigrantes acreditava, potencialmente, em um retorno triunfante ao Japão vitorioso e Imperial. Até onde se sabe, as tensões internas derivadas desta disputa ainda hoje suscitam paixões obstinadas em defesa desta ou daquela posição política. Como o cineasta e escritor Yukio Mishima, Nempuku defendeu de maneira particular a crença no Imperador e na tradição milenar do haicai. Embora a perspectiva política destes posicionamentos alimente uma pesquisa interessante, o silêncio e a extrema falta de documentação impediram, até o momento, qualquer tentativa de se aprofundar nessas questões. Cabe ressaltar, contudo, que a análise de seus haicais poderá revelar outra face menos evidente desta tensão compartilhada por Nempuku durante sua longa viagem ao Brasil. Aqui, paralelamente ao trabalho agrícola, nunca bem sucedido, Nempuku escreveu uma coluna sobre haicai no jornal Brasil Jiho, de 1935 a 1942, quando o jornal é extinto. A mesma coluna retornaria em 1947, no Jornal Paulista, mantendo-se até 1977. Juntamente ao trabalho do jornal, Nempuku funda a revista Kokague (1948-1979, com 372 números), que 12


Nempuku Sato

pretendia divulgar a produção de seus haicais bem como a de seus alunos mais ilustres. A revista colocava-se à disposição para publicar, através de correspondência, haicais de qualquer parte do mundo onde houvesse algum interessado. Assim, além dos haicais de alguns de seus alunos (em torno de seis mil nessa época), encontram-se outros, advindos de países da América do Sul — Argentina, Colômbia ou Venezuela. O ano de 1954 é decisivo para Nempuku, pois, a partir daí, dedica-se exclusivamente ao trabalho de ensino e divulgação do haicai, com o abandono definitivo da lavoura. Nessa época publica, no Japão, dois volumes com seus haicais: Nempuku Kushu I e Nempuku Kushu II. Publica também um volume chamado Nempuku Haiwa (Nempuku falado), que se destinava à divulgação das dificuldades enfrentadas durante o processo de aclimatação do haicai ao Brasil. Entre os anos sessenta e oitenta, em uma vasta região geográfica que inclui o sul de São Paulo e o norte do Paraná, os haicais de Nempuku foram utilizados como material de apoio em cursos de língua japonesa. Os professores que utilizavam este material esperavam despertar o interesse dos alunos, descendentes de japoneses e brasileiros, através do estudo da função que o haicai desempenha para a cultura japonesa. Nempuku Sato morreu em Bauru, São Paulo, em 1979, aos 81 anos de idade.

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