Trabalho Final de Graduação Universidade de Fortaleza CCT - Arquitetura e Urbanismo Orientadora: Ma. Fernanda Cláudia Lacerda Rocha
De Timbó à Jacarecanga: Tecendo o rio da história de Fortaleza
Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Francisca Ariane Rodrigues Pontes
Fortaleza Junho de 2016
Fonte: Ariane Rodrigues (2015)
Francisca Ariane Rodrigues Pontes
De Timbó à Jacarecanga: Tecendo o rio da história de Fortaleza
Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Banca Examinadora
__________________________________________________ Prof.ª Ma. Fernanda Cláudia Lacerda Rocha (Orientadora) Universidade de Fortaleza
_________________________________________________ Prof.ª Ma. Camila Bandeira Universidade de Fortaleza
_________________________________________________ Herbert de Vasconcelos Rocha Arquiteto convidado
Fortaleza Junho de 2016
“A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.” Oscar Niemeyer
AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que, pela sua infinita graça e misericórdia, me proporcionou ao longo de toda minha vida oportunidades, força e livramentos. Se fazendo sempre presente, me capacitou para que eu chegasse até aqui, tornando-se o principal responsável por todas as minhas conquistas. “Porque Dele, por Ele e para Ele, são todas as coisas (...).” - Romanos 11:36. À minha família, que me apoiou e me deu condições necessárias para a realização desse sonho. Em especial, agradeço aos meus pais Paulo Roberto e Eliane Rodrigues, que com muita luta, dignidade e amor não mediram esforços para me a judar ao longo dessa jornada, renunciando, muitas vezes, dos próprios sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Às minhas avós Maria do Socorro e Gelcina, por terem contribuído financeiramente para minha formação. Em especial, à Maria do Socorro, por além de tudo, ter se feito mãe, sempre presente, fazendo dos meus sonhos os seus. À minha irmã Niédila que, mesmo longe, foi uma grande incentivadora, que compartilhou comigo tristezas e felicidades, sempre me aconselhando e me colocando em suas orações. Ao meu namorado, Rhamon, que sempre se fez presente, e com quem eu tenho o privilégio de compartilhar meus dias. Agradeço por ter acreditado em mim, por ter me dado forças nos momentos em que eu quis fraquejar, e por ter entendido o misto de sentimentos ao longo desse processo. Aos meus amigos de infância e colegas de curso Filipe e Cauã, que compartilharam comigo todas as fases da da minha vida, se fazendo presente em mais um grande momento.
À minha amiga de infância e também companheira de curso Laíde, que foi parceira em quase todos os trabalhos da faculdade. Obrigada pelas inúmeras experiências trocadas ao longo desses anos, por ter me a judado em todos os aspectos da minha vida. Sem esquecer de agradecer pelas caronas, desde o começo até o fim do curso. Sem você a realização desse sonho não seria completa. Aos presentes que a arquitetura me deu, Mabelly, Karol, Valesca, Morganna e Lora, que compartilharam comigo as dificuldades e felicidades dessa jornada. Obrigada por contribuírem com meu crescimento, acreditarem no meu potencial e por aguentarem os dias de tristeza e desespero. Vocês foram fundamentais. Às minhas amigas, Nadiny, Karen, Amanda, Cris, Ravena e Tainá, que sempre me deram a certeza que tudo ia dar certo, e entenderam a minha ausência. Aos grandes profissionais com que me deparei ao longo de minha formação, em especial aos que me deram oportunidades de viver a profissão. As arquitetas Cynthia Evangelista e Vânia Marcelo, que acreditaram na minha capacidade e muito me ensinaram. Em especial, gostaria de agradecer à minha orientadora Fernanda Rocha, por ter acreditado no meu potencial e ter aceitado me auxiliar nesse árduo processo, sem sequer ter sido minha professora antes. Muito obrigada pelas diversas horas de conhecimento partilhado e pelos puxões de orelha, que foram fundamentais para o desenvolvimento desse trabalho. À todos os professores do corpo docente da Universidade de Fortaleza, que diretamente colaboraram para o meu crescimento e formação. À banca examinadora, por ter disponibilizado seu tempo para contribuir com o presente trabalho.
Fonte: Ariane Rodrigues (2015)
ÍNDICE
00
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
14
RIOS E CIDADES A relação do homem com os rios Os rios e os processos de urbanização Rios e seus valores ambientais O rio como paisagem
22 24 26 31 35
Riacho Jacarecanga: contextualização no histórico da cidade de Fortaleza
38
03
Rios e Cidades: uma história de reconciliação Necessidade e conscientização: a valorização dos rios Parques urbanos Projetos de referência
48 50 53 61
04
Diagnóstico Condicionantes legais Análise cartográfica
67 69 80
05
O PARQUE TIMBÓ Plano de intervenção O Conceito Programa de necessidades O Partido Implantação Geral Setores Mobiliário Urbano
108 110 112 113 116 120 128 146
01 02
07
CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclusão Referências bibliográficas
150 150 152
Fonte: Google Earth
00 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
“Distante da cabana se elevava à borda do oceano um alto morro de areia; pela semelhança com a cabeça do crocodilo o chamavam os pescadores Jacarecanga.” José de Alencar
Trecho a céu aberto do riacho Jacarecanga Trecho subterrâneo do riacho Jacarecanga Interceptação de vias 0
100
300
500m
Rios e Cidades
Bairro Jacarecanga
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Figura 4: Delimitação do Bairro Jacarecanga. Fonte: Google Earth, com edição da autora.
de urbanização, considerada uma das regiões mais antigas de Fortaleza. Às suas margens nasceu o bairro Jacarecanga que, em seus primórdios, abrigava as famílias mais nobres da cidade. Por ter acomodado a classe média de Fortaleza, o bairro recebeu inúmeros edifícios significativos que hoje, em sua maioria, encontram-se degradados ou já foram demolidos para dar lugar às novas edificações e a novos programas.
Rios e Cidades
Figura 5: Localização do bairro Jacarecanga na cidade de Fortaleza. Fonte: Google earth, com edição da autora.
Assim como ocorreu em várias cidades ao redor do mundo, os processos econômicos e de urbanização geraram grandes modificações estruturais nas cidades, impactando diretamente os cursos d’água e alterando a relação do homem com os rios. Como veremos a seguir, em Fortaleza, embora um pouco mais tardiamente, esses processos também aconteceram de forma significativa, resultando na degradação dos recursos hídricos e na sua desvalorização. Esses importantes elementos ambientais foram, gradativamente, sendo rejeitados e tornando-se alvo de esquecimento por parte das autoridades e da própria população. Foi o caso do riacho Jacarecanga, que está inserido em uma zona da cidade que apresenta elevados índices
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Figura 6: Local da Antiga Fábrica Filomeno Gomes, dando lugar a um shopping. Fonte: Acervo Pessoal da autora, 2015.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Atualmente, boa parte do Riacho Jacarecanga encontra-se canalizado, correndo a céu aberto na maior parte do percurso (Figura 4). Todavia, muitos de seus trechos são murados, sendo apenas alguns deles visualmente acessíveis à população (Figura 7). Nessas áreas, nota-se uma grande quantidade de resíduos sólidos, entretanto a situação de degradação do riacho não se limita apenas à sujeira. A presença irregular de moradias em suas margens ainda é uma condição que contribui significativamente para sua degradação. Além disso, a qualidade da água, aliada ao lixo presente nas margens, são causas de inúmeras problemáticas ecológicas e epidemiológicas que atingem a região, resultando na proliferação desenfreada de agentes transmissores de doenças, como ratos, caramujos, e outros.
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Figura 7: Trecho murado do riacho Jacarecanga na avenida Carneiro de Cunha. Fonte: Acervo Pessoal da autora, 2015.
Apesar da atual situação, a região apresenta grandes potencialidades históricas, socioeconômicas, ambientais e paisagísticas. A própria localização do riacho reforça suas potencialidades, tendo em vista que o bairro faz fronteira com importantes regiões econômicas da cidade, como é o caso do centro, além de encontrar-se próximo à orla marítima. A presença de edificações de valor histórico e o próprio
riacho Jacarecanga são elementos que evidenciam o grande potencial da área. Apesar da sua importância, a área vem sendo menosprezada, onde atualmente suas potencialidades são pouco exploradas. Diante desse quadro, o objetivo geral do trabalho é desenvolver um projeto de intervenção para a área. Baseado no referencial teórico e no diagnóstico realizado ao longo desse processo, o projeto visa a revitalização do riacho Jacarecanga, bem como do seu entorno, re-inserindo o recurso na paisagem urbana e, portanto, reconciliando-o com a cidade. Paralelo à isso, tem-se como objetivos específicos: a compreensão dos processos que ocorrem na região e suas
Com a finalidade de alcançar os objetivos já mencionados, a metodologia desse trabalho consistiu na leitura de livros, artigos e outras referências relacionadas ao tema abordado, tendo como intuito o levantamento de dados e a contextualização do problema. Também contou com a elaboração de mapas de diagnóstico, a partir da análise cartográfica, urbana e paisagística da área. Em paralelo a isso, foram realizadas visitas de campo ao local, como forma de complemento do estudo, para obtenção de registros fotográficos e realização de entrevistas com moradores e usuários da região. A visitação ao local serviu de base para a compreensão empírica perceptiva dos processos ocorridos na área, assim como das dinâmicas que ali se dão atualmente. O
presente
trabalho
se
apresentará
em
seis
Rios e Cidades
relações com o riacho Jacarecanga; a melhoria urbana, paisagística, econômica e social do bairro, através da criação de um plano de intervenção que busca a integração do meio natural com o meio urbano construído e, por fim, a redescoberta de espaços esquecidos, através de um novo desenho urbano.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
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itens, sendo divididos em dois grupos. O primeiro grupo, composto por três capítulos, destina-se a comentar sobre as relações dos recursos hídricos com o homem, desde a antiguidade, até os dias de hoje, relacionando os processos ocorridos ao longo da história com suas atuais condições ambientais. Abordará também questões relacionadas diretamente aos rios, conceituando alguns aspectos gerais, a fim de obter uma melhor compreensão da importância desses recursos tanto para o meio ambiente, como também para o meio urbano. O segundo tópico, contextualizará o riacho Jacarecanga com o histórico da cidade de Fortaleza, buscando entender suas relações desde a ascensão do bairro, por volta do ano de 1920, até hoje. Também tem como objetivo explanar as dinâmicas presentes na região, assim como compreender a atual condição em que o rio se encontra. Os processos de revitalização e de valorização dos rios compõem o tema do terceiro capítulo, e aborda o interesse atual do homem para a reconciliação com os recursos hídricos. Nele veremos também a conceituação de parques urbanos, como uma alternativa de revitalização dessas áreas. Por fim, serão mostrados alguns dos projetos nacionais e internacionais que serviram de referência para o presente trabalho. No segundo momento, será apresentado o processo de diagnóstico da área, visando a análise urbana, ambiental, socioeconômica e paisagística do riacho e do seu entorno. Assim, o quinto capítulo apresentará o plano de intervenção para o riacho Jacarecanga, com a definição do programa de necessidades e a explanação das diretrizes e dos conceitos utilizados como base para o projeto. O sexto capítulo, por sua vez, é o rebatimento de todo o embasamento teórico obtido ao longo do trabalho no projeto de intervenção. Será apresentado o partido urbano-paisagístico do projeto, juntamente com os desenhos técnicos que trarão o entendimento do mesmo.
Por fim, as considerações finais buscam retomar os aspectos principais da trabalho, ressaltando a importância dos recursos naturais, principalmente relacionado aos rios, e a sua inclusão nos processos de planejamento urbano. Mostrando que a integração do meio urbana construído com o meio natural é de fundamental importância à cidade como um todo, e que ela é sim possível.
Fonte: Ariane Rodrigues (2015)
01 RIOS E CIDADES
“A cidade nasce da água. A história urbana pode ser traçada tendo como eixos as formas de apropriação das dinâmicas hídricas. A tra jetória das relações entre cidades e corpos d’água reflete, assim, os ciclos históricos da relação entre o homem e natureza.” Sandra Soares de Mello
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A RELAÇÃO DO HOMEM COM OS RIOS
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Desde a antiguidade, o homem e os rios relacionam-se de diferentes formas. Muitas cidades desenvolveramse às suas margens, tendo em vista que os mesmos se configuravam como recursos indispensáveis à sobrevivência do homem. Podemos destacar primordialmente o abastecimento de água, tanto para consumo, como para higiene e também para o exercício das atividades agrícolas e artesanais. Muitas cidades também se utilizavam dos rios como forma de defesa e proteção de seus núcleos (BAPTISTA; CARDOSO, 2013). Além disso, esses cursos d’água, como habitat de espécies animais e vegetais, eram fundamentais ao homem, fornecendo-lhes alimento, através da prática da pesca, frequente até os dias atuais. A presença dos núcleos urbanos nas proximidades dos rios favorecia a comunicação e o comércio, tendo em vista que contribuíam para o escoamento de produtos e da própria população (ALDIGUERI, 2010). Ultrapassando questões sociais e econômicas, os rios também desempenhavam funções voltadas às práticas religiosas. Até hoje, as águas fazem alusão à purificação, e dentro desse contexto a religião utiliza-se das mesmas para a prática do batismo. Em um passado não muito distante, quando os rios ainda eram considerados elementos puros, eles faziam parte desses processos religiosos, como é o caso do Rio Jordão, localizado na Palestina, relatado muitas vezes como local de batismo (FABER, 2011). Segundo Saraiva (1998), a relação do homem com a natureza desenvolve-se através de cinco etapas, sendo a primeira delas o temor. Nessa fase, os acontecimentos naturais são considerados sagrados, quando o homem não conseguindo controlá-los, passavam a receiá-lo, tornando-o elemento de respeito. A segunda etapa é conhecida como fase da harmonia,
Os impactos das fases de controle e degradação sobre o meio natural, mais especificamente sobre o rio, fez com que esses elementos fossem, aos poucos, perdendo suas potencialidades de uso, sob suas diferentes abordagens. Tal condição influenciou negativamente na qualidade dos rios, prejudicando todos os elementos que o compõe, seja a água, a fauna ou a flora (BAPTISTA; CARDOSO, 2013). As consequências desses processos são cada vez mais impactantes, obrigando a sociedade a reconsiderar suas ações em relação aos recursos ambientais. Embora ainda morosamente, Fortaleza começa a emergir na fase de recuperação, colocando em prática algumas propostas de requalificação, como foi o caso de alguns trechos do riacho Pa jeú.
Capítulo 01: Rios e Cidades
quando o homem passa a usufruir dos recursos oferecidos pelos rios, como a água, respeitando os processos naturais. É ainda nessa fase que a população desfruta do rio como local de lazer, reforçando suas potencialidades em todos os aspectos. Em seguida, vem a fase de controle, quando o homem passa a dominar os recursos naturais, visando extrair o máximo de benefícios dos cursos d’água, assim como interferir nos processos naturais que possam oferecer-lhes riscos. Nessa fase começaram a surgir as primeiras tentativas de remodelação dos cursos d’água, nas quais muitos rios passavam por grandes obras de regularização e retificação, à medida que as tecnologias iam se desenvolvendo. A degradação caracteriza-se pela quarta fase, que é identificada pela intensa exploração e controle dos rios, de forma tão exorbitante que desrespeita o tempo de recuperação dos ecossistemas. A última etapa é a recuperação dos meios naturais, em que o homem retoma a consciência da importância da preservação e revitalização dos recursos ambientais.
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Figura 9: Intervenção do Riacho Pa jeú – Trecho da rua Pinto Madeira.
A RELAÇÃO DO HOMEM COM OS RIOS
Fonte: inventarioambientalfortaleza.blogspot.com.br Acesso em 29 de setembro de 2015.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
OS Rios e os Processos de Urbanização
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Os rios começaram a sofrer intervenções ainda na antiguidade, na fase caracterizada por Saraiva (2010) como controle. Como já mencionado, nesse período a engenharia já começava a modificar os cursos dos rios, desviando e rea justando seus percursos, já que haviam locais que passavam por grandes períodos de secas. A relação do homem com o meio natural nessa fase é definida por Santos (1992), e segundo ele a história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo [...] (SANTOS, 1992, p.96-97).
O avanço da tecnologia intensificou ainda mais essas intervenções nos recursos naturais, assim como também no meio urbano. A Revolução Industrial e a
Segunda Guerra Mundial foram fatores
que incentivaram a mudança da população rural para os novos centros urbanos, causando o crescimento das cidades, tanto em população, como em extensão territorial. Esse processo foi denominado de “urbanização”, e foi acentuado no Brasil a partir da década de 50 (Tabela 1). Tabela 01: Taxa de Crescimento da Urbanização Brasileira. Ano
Taxa de Urbanização (%)
1940
31,24
1950
36,16
1960
44,67
1970
55,92
1980
67,59
1991
75,59
2000
81,23
2007
83,48
2010
84,36
No Brasil, a expansão populacional, cada vez maior, fez com que as cidades crescessem sem planejamento adequado, e as infraestruturas não conseguiam acompanhar proporcionalmente seu desenvolvimento. Nesse contexto, o grande contingente populacional que chegava às cidades encontravam locais despreparados para esse acelerado crescimento urbano. A desigualdade social, cada vez mais crescente, já começava a influenciar as condições de apropriação do espaço urbano e, sem alternativas, as famílias de classes menos favorecidas passavam a ocupar áreas da cidade que se encontravam sujeitas a inundações e poluição urbana. (BAPTISTA; NASCIMENTO, 2002 apud BAPTISTA; CARDOSO, 2013). Parte dessa população começava a residir nas margens de rios e lagoas, desconsiderando aspectos ambientais, além se submeter às precárias condições sanitárias e aos inóspitos períodos de cheias.
Capítulo 01: Rios e Cidades
Dados IBGE | Tabela elaborada pela autora.
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Com isso surgem também os cortiços e os primeiros sinais das favelas. As ocupações irregulares ao longo das margens desses recursos hídricos implicam em um intenso processo de degradação dos rios, situação ainda presente nos dias de hoje.
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O elevado número de pessoas residindo nos centros urbanos criava a necessidade básica de consumo de uma grande quantidade de água, fato que ocorre ainda hoje. Quanto maior a quantidade desse recurso vital, maior o volume de esgoto e resíduos sólidos produzidos (Figura 3). Segundo Bento (2011), a falta de coleta de lixo contribui fortemente para a contaminação das águas, sendo um fato presente desde seus primórdios. Nesse contexto do avanço da urbanização, a problemática era ainda mais evidente, tendo em vista que os rios eram locais onde a população despejava seus resíduos sólidos ou os enterravam, contaminando também os lençóis freáticos.
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No final do século XIX, a insalubridade das cidades e dos recursos hídricos só aumentava, modificando suas relações com o homem, onde o rio passava de provedor de água para receptor de resíduos (BENTO, 2011). As cidades emergiam em grandes problemáticas sociais e epidemiológicas, com a disseminação de várias doenças, entre elas: a febre amarela, a peste bubônica, o sarampo, a disenteria, a tuberculose, etc (QUEIROZ, 2008). A cidade passava por vários problemas urbanos e sociais e, nesse contexto, surgiu a necessidade de novos ideais, modificando radicalmente a relação entre os recursos hídricos e os centros urbanos, caracterizando o que hoje conhecemos como higienismo. Fundado na Europa, esse movimento difundiu-se pelo Brasil rapidamente, no contexto histórico da Proclamação da República (BAPTISTA; CARDOSO, 2013). Aliado aos novos conhecimentos tecnológicos e científicos da época, esse processo buscava inúmeras reformas, a começar pelos espaços urbanos.
Os rios e lagoas foram alvos das primeiras intervenções do higienismo, onde afastavam os recursos hídricos dos aglomerados urbanos, com a justificativa de livrar a cidade das doenças e outras problemáticas associadas a eles. Intensificaram os processos de remodelamento dos rios, conduzindo-os sistematicamente para um percurso receptor das águas. O movimento estabelecia os processos de drenagem urbana e implantação de redes de tubulações subterrâneas de água e esgoto, além da canalização de rios e córregos (BENTO, 2011). A canalização dos rios acaba por reafirmar os preceitos da “cidade formal”, caracterizada pela presença de infraestrutura urbana, dispondo de ruas e aveni-
Capítulo 01: Rios e Cidades
das sobre os recursos hídricos cobertos. Em paralelo, o uso dos automóveis foi ganhando espaço, tornando as vias fundamentais ao processo de urbanização das cidades. Segundo Baptista e Cardoso (2013, p.132), as ações de ocultação e afastamento dos recursos hídricos [...] “levam a perda progressiva do papel da água na paisagem das cidades”. A exemplo disso, tem-se o riacho Pa jeú (Figura 10), em Fortaleza, que possui maior parte de seu percurso canalizado em galerias subterrâneas, implicando que a maioria das pessoas que passam ao longo do seu curso nem tomam conhecimento de sua existência (BENTO, 2011).
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Trecho a céu aberto do riacho Pa jeú
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Trecho subterrâneo do riacho Pa jeú 0 100
300
500m
Figura 10: Curso do riacho Pa jeú no tecido urbano da cidade de Fortaleza. Fonte: Google Earth, com edição da autora (2015).
As consequências desses processos resultam até hoje em problemáticas nos nossos centros urbanos. Na publicação “Rios e Cidades: uma longa e sinuosa história”, os autores afirmam que os impactos causados sobre os recursos hídricos pela urbanização resultaram em uma enorme perda de potencialidade dos cursos d’água, em seus diversos usos, tornando-as impróprias ao consumo, higiene, pesca, entre outros. Essas consequências impactam diretamente a qualidade dos rios, reverberando também no bem-estar da população. Os escritores destacam que (Figura 11) “no tocante a qualidade das águas, o aumento da carga orgânica e de poluentes reduz, substancialmente, a biodiversidade e a potencialidade de seus usos múltiplos.
A reduçao da infiltraçao e o aumento do volume e da velocidade do escoamento superficial acarretam a antecipaçao e o aumento dos picos dos hidrogramas de cheias. A canalizaçao dos cursos de água agrava o quadro, levando a crises de insuficiência nos sistemas de drenagem e ao consequente aumento na frequência de inundações, com impacto direto nas áreas ribei-
Figura 11: Impactos da Urbanização sobre as Águas. Fonte: CARDOSO, 2013, página 134.
Os Rios e Seus Valores Ambientais
Os rios são recursos naturais que, juntamente com outros meios, são responsáveis pelo equilíbrio do ecossistema, sendo uma fonte vital para o abastecimento dos seres vivos. Esses recursos são caracterizados por serem fontes de água doce, todavia, o rio não se limita apenas ao elemento água.
Capítulo 01: Rios e Cidades
rinhas.” (BAPTISTA; CARDOSO, 2013, p. 133-134).
31
Ele compõe-se também de outros elementos igualmente importantes, tais como: o relevo, o solo, a vegetação, a fauna e a flora. O rio, por sua vez, não consiste somente na junção desses elementos, mas pode ser considerado como o produto da correlação e da interdependência desses componentes naturais (ALDIGUERI, 2010). A ÁGUA
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
A água é o principal elemento estruturador dos rios, sendo fator determinante para a condição de existência do mesmo. A qualidade da água está diretamente relacionada à qualidade do rio, determinando também a situação do entorno do recurso. Ela é fundamental para a sobrevivência do ser humano, assim como é também responsável pela condição dos outros elementos que compõe os rios, como a fauna e flora. Sobre os aspectos ambientais, Gorski (2010) destaca a atuação dos rios no sistema de drenagem, juntamente com as bacias hidrográficas. Nesse contexto, tem-se o recurso hídrico intrinsecamente ligado às condições climáticas e geográficas do ambiente no qual está inserido, fazendo parte do processo conhecido como ciclo hidrológico (Figura 12).
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Figura 12: Ciclo hidrológico. Fonte: GORSKI, 2010.
Por meio do desmatamento e da crescente impermeabilização dos solos, o ciclo hidrológico tem sido cada dia mais prejudicado pela ação nociva do homem. E como resultante, a natureza reage a tais intervenções, afetando também a população, como o caso da ocorrência de enchentes. A importância ambiental dos rios não se limita apenas à disponibilidade de água, mas abrange a regularização do clima, assim como no que se refere à regulação de enchentes e inundações. Compreender as dinâmicas e o ciclo da água é de fundamental importância para o bom funcionamento dos rios, de modo que sejam respeitados pelos processos que regem as cidades. As áreas dos riachos passíveis a alagamentos devem ser guias de orientação para a preservação, e sua a ocupação deve ser contida ou então adaptada às condições do rio, respeitando e resguardando seus diferentes elementos.
A vegetação que compõe os rios é conhecida como zona ripária, e também apresenta inúmeros valores ambientais. Como já visto, ela também faz parte do ciclo hidrológico, se encarregando de captar águas das chuvas, através de sua folhagem, viabilizando a infiltração no solo. Suas raízes direcionam as águas para o subsolo e lençóis freáticos, possibilitando a retenção de água, por controlar o excesso quando há chuvas fortes, evitando a erosão do solo (GORSKI, 2010). A mata ciliar a juda na preservação dos rios, por reter resíduos que escoariam para a água. Além disso, age no meio ambiente como responsável pela renovação do oxigênio e sombreamento, além de trabalhar conjuntamente com a água para amenização do clima. A vegetação também contribui com a sustentação de diversas espécies aquáticas, mantendo as correntes frias (ALDIGUERI, 2010).
Capítulo 01: Rios e Cidades
VEGETAÇÃO
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
A escassez da mata ciliar às margens dos rios, aliado a outros fatores, como é o caso da impermeabilização dos solos, tem provocado a degradação dos corpos d’água, em todos os seus elementos, já que os recursos se correlacionam diretamente. Segundo GORSKI (2010), esse processo também resulta em um crescente volume de água com escoamento superficial (Figura 13), ocasionando problemáticas como as enchentes e aquecimento das áreas com alto índice de adensamento, assim como acontece na região do bairro Jacarecanga.
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Figura 13: Relação entre superfície impermeabilizada e superfície de escoamento. Fonte: GORSKI, 2010.
Preservar as zonas ripárias ao longo dos rios é uma das formas mais eficazes de conservação, resguardando assim espécies animais e vegetais, bem como trazendo melhorias para a própria população, como o conforto térmico. Para isso, é preciso compreender a importância da vegetação e respeitá-la, onde a ocupação deve ser retida, apropriando-se desses espaços apenas quando o uso for compatível com a área (ALDIGUERI, 2010), como é o caso dos parques urbanos.
O rio como paisagem
Para Saraiva (1998), a paisagem baseia-se na correlação de três componentes (Figura 14), sendo eles: componentes biofísicos e ecológicos; os sociais, culturais e econômicos; e os percepcionais, estéticos e emocionais. Portanto, pode-se considerar que o conceito de paisagem é identificado pela relação do homem com a natureza, dentro de um determinado espaço físico, inseridos em um contexto temporal.
COMPONENTE
COMPONENTE
BIOFÍSICA/ ECOLÓGICA
SOCIAL/ CULTURAL/ ECONÔMICA
COMPONENTE PERCEPCIONAL ESTÉTICA/ EMOCIONAL
Figura 14: Componentes da apreciação e compreensão da paisagem. Fonte: SARAIVA, 1998 | Diagrama elaborado pela autora.
Capítulo 01: Rios e Cidades
O rio, é um dos elementos imprescindíveis na estruturação da paisagem, possibilitando a alteração da superfície da terra através da fluidez de suas águas, e demarcando limites territoriais. Para entender a atribuição dos rios no âmbito paisagístico, é necessário o esclarecimento do termo “paisagem” e como o significado dessa expressão foi sofrendo modificações ao longo da evolução do conhecimento humano. Antes das intervenções do homem no meio físico, os recursos naturais eram considerados, quase que exclusivamente, o que chamamos de paisagem. Todavia, pelas suas várias atribuições, as paisagens fluviais foram sendo usurpadas pelo homem, alterando o rio em seus vários aspectos. O homem passava então a interferir no meio que existia, criando um novo conceito conhecido como paisagem urbana (GORSKI, 2010).
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Dentro do conceito de paisagem descrito por Saraiva (1998), os rios podem ser considerados grandes elementos paisagísticos, já que possuem todos os elementos abordados. A composição de seus elementos, como a topografia, o solo, a água, a vegetação e os ecossistemas pertencentes, tornam esses córregos únicos, e cada rio passa a integrar-se de uma forma diferenciada com o seu entorno, resultando na percepção cênica, ambiental e cultural dessas áreas (ALDIGUERI, 2010).
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Diferentemente de outros recursos hídricos, os rios destacam-se pela sua dinamização, dado que suas águas se encontram em constante movimento, influenciando a paisagem. Em sua inserção no meio urbano, enfatiza-se seu potencial paisagístico através também de sua sinuosidade, altamente discrepante do contexto rígido da maioria das cidades. Segundo Aldigueri (2010), o rio também pode apresentar-se de diversas formas ao longo de seu percurso, tendo em vista que algumas áreas podem manifestar-se mais significativas visualmente, e isso faz dele um espaço com um alto grau de singularidade. Quando as paisagens pluviais se encontram bem preservadas, o rio incorpora ainda funções sociais e de lazer. Da perspectiva de percepção cênica, ambiental e sociocultural, esses corpos d’água possuem grandes potencialidades de entretenimento e, ao longo de seu percurso, podem ser desenvolvidas diversas atividades, tais como: recreação, contemplação, práticas de esportes, atrações turísticas, entre outras. A exemplo disso, têm-se o Rio Guamá, em Belém, que veremos a seguir como estudo de caso. A área passou por um processo de revitalização, re-integrando o rio à cidade, onde foi implantado um Parque, conhecido como Mangal das Garças. Atualmente, o local caracteriza-se por ser um eixo estruturador de Belém, onde é considerado um dos principais pontos turísticos da cidade. (Figura 15).
Figura 15: Parque Mangal das Garças, Belém. Fonte: inventarioambientalfortaleza.blogspot.com.br Acesso em 29 de setembro de 2015.
Essa percepção do rio como paisagem acabou ficando em segundo plano, ocasionada pelas ações antrópicas
Rios e Cidades
de ocultamento e afastamento dos mesmos, que foram, ao longo do tempo, sendo encobertos e/ou canalizados. Todavia, sabemos que, quando bem preservados, esses recursos podem ser grandes eixos estruturadores do meio urbano, exercendo significativa influência no modo de ocupação da cidade, no bem-estar da população, e nos aspectos cênicos que compõem a paisagem. Por isso, o meio urbano construído deve integrar-se harmonicamente com o meio natural, respeitando os limites e as necessidades dos elementos que o compõem, de forma a considerar suas potencialidades, construindo adequadamente o que chamamos de paisagem.
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02 RIACHO JACARECANGA: CONTEXTUALIZAÇÃO NO HISTÓRICO DA CIDADE DE FORTALEZA
“Memória não é algo do passado, é um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e de coerência, seja ele processado individualmente ou em grupo, em reconstrução em si torna-se o fator preponderante para o entendimento de sentimento de identidade.” Maria Roseli Sousa Santos
Para compreender a atual situação do Riacho Jacarecanga e do seu entorno, é necessário considerar os processos que resultaram no nascimento e na grande expansão de Fortaleza. Os rios, como recursos naturais indispensáveis à vida, foram elementos estruturadores para o estabelecimento de muitas cidades no mundo todo, processo que ocorreu também em Fortaleza, que nasceu às margens do riacho Pa jeú, e teve sua expansão diretamente relacionada com o riacho Jacarecanga.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Conhecido atualmente pelo nome “Jacarecanga”, o primeiro registro do riacho foi feito pelos holandeses, por volta do ano de 1649. Nele, o recurso hídrico é indicado como Timbó (Figura 16), palavra de origem tupi.
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Figura 16: Liceu do Ceará, por volta da metade do século 30. Fonte: www.fortalezaemfotos.com.br. Acesso em 01 de junho de 2016.
Fortaleza foi uma cidade que teve seu desenvolvimento considerado tardio quando comparada a muitas outros centros urbanos.
cipal núcleo econômico do estado do Ceará, através da comercialização direta do algodão com a Inglaterra. A partir daí, Fortaleza tem seu crescimento acelerado e então, entre os anos de 1850 a 1860, dá-se início à modernização da cidade e começam a se realizar as primeiras obras de urbanização. Nessa mesma época, inicia-se a expansão da malha urbana, conforme os princípios do Plano Urbanístico de Adolpho Herbster, que previa a expansão da cidade em uma malha xadrez (MUNIZ, 2006). Nesse contexto, Fortaleza passava a receber cada vez mais infraestrutura, a começar pelo centro. Foi implantado na cidade um conjunto de vias do tipo boulevards (Figura 8), identificadas atualmente pelas avenidas Duque de Caxias, Imperador e Dom Manuel. Sendo assim, a área central era caracterizada por abrigar as famílias de maior poder aquisitivo. Em 1875 surge, de autoria de Adolpho Herbsrter, um plano de expansão da cidade (Figura 17), que considerava a interligação entre o riacho Jacarecanga e o Pa jeú. À oeste têm-se a demarcação de áreas de proteção ambiental às margens do Riacho Jacarecanga, interligado ao Riacho Pa jeú (à leste) por um boulevard, correspondente a atual avenida Duque de Caxias.
Riacho Jacarecanga: Contextualização no histórico da cidade de Fortaleza
No princípio, o município tinha sua economia baseada nas dinâmicas do algodão e da criação de gado. Mesmo localizada no litoral, sua atividade portuária não se sobressaia como atrativo populacional e econômico (COSTA, 2004). Só em meados do século XIX, com a Revolução Industrial na Inglaterra, Fortaleza passa a ter uma oportunidade de ganhar reconhecimento econômico e político, através da demanda de agro exportação do algodão (PEQUENO, 2009). A cidade era o núcleo populacional litorâneo mais próximo às regiões produtoras e, portanto, o local mais propício para a chegada da linha férrea e de investimentos em infraestrutura portuária. É nesse contexto que Fortaleza começa a se fortalecer e tornar-se o prin-
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Riacho Jacarecanga Riacho Pa jeú Boulevard (Av. Duque de Caxias)
Figura 17: Planta Topográfica da cidade de Fortaleza e Subúrbios, 1875, com destaque do Riacho Jacarecanga. Fonte: Prefeitura Municipal de Fortaleza. Fortaleza, 1982 apud MUNIZ, M. A. P. C. p. 124, 2006, com edição da autora, 2015.Acesso em 29 de setembro de 2015.
Segundo Almeida (2014), no ínicio do século XX, começam a surgir os primeiros vestígios de segregação socioespacial na cidade, bem como exemplares de uma cidade concentrada, que ele caracteriza como: [...] “um espaço urbano compacto, permeado de regras de conduta social, “justificáveis” socialmente por premissas básicas de saúde, higiene e moralidade, em um espaço urbano controlado e ordenado segundo os moldes europeus de modernização e aformoseamento marcados pelo “culto ao afrancesamento.” (PONTE, p. 145, 1993 apud ALMEIDA, p.78, 2014).
Ao longo dos anos, alguns processos foram fundamentais para a intensificação dessa segregação, dentre eles pode-se destacar as secas que assolaram o estado, no final do século XIX e início do século XX, ocasionando a migração de muitas famílias do interior do Ceará para Fortaleza. Além disso, a chegada do automóvel fez com que a população de classe média alta se espraiasse pela cidade, na tentativa de fugir dos espaços urbanos considerados populares (ALMEIDA, 2014). O Centro passava a abrigar novas dinâmicas, mais voltadas ao comércio e ao serviço e é nesse contexto que as residências de famílias mais abastadas começam a deslocar-se da área central, dispersandose por novos bairros, considerados exclusivos da elite, como o Jacarecanga e o Benfica. É bem provável que a tendência de expansão para o bairro Jacarecanga tenha sido pelo fato de não pertencer a rota de entrada dos imigrantes na cidade, além de ser uma área favorecida pela presença de um riacho e que era composta por grandes sítios e chácaras (ARARIPE, 2007). O bairro Jacarecanga, portanto, surge às margens do riacho de mesmo nome, entre os anos de 1915 a 1920. As novas classes sociais que ocupavam à região apresentavam uma intrínseca relação com o riacho, através de sua exploração como área de lazer e de pesca. Na área, as moradias burguesas começavam a se diferenciar, caracterizando-se pela reprodução da arquitetura neoclássica e eclética, provenientes da Europa, como sinal de modernização (ARARIPE, 2007). O bairro não se limitou apenas às construções residenciais, mas abrigava grandes equipamentos como a Praça
Riacho Jacarecanga: Contextualização no histórico da cidade de Fortaleza
A população que não se adequava a nova proposta urbana, acabou sendo marginalizada, tanto social, como geograficamente. Isso resultou na ocupação de áreas próximas ao centro que, entretanto, não possuíam modernização e nem interesse pelas classes mais abastadas (ALMEIDA, 2014).
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Gustavo Barroso, cujo entorno encontra-se o prédio do Liceu do Ceará (Figuras 18 e 19), o Corpo de Bombeiros, e nas proximidades a escola de Aprendizes da Marinha.
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Figura 18: Liceu do Ceará, por volta da metade do século 30. Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br. Acesso em 02 de dezembro de 2015.
Figura 19: Liceu do Ceará, dezembro de 2015. Fonte: Acervo pessoal da autora.
Segundo ARARIPE (2007), a primazia do bairro não se manteve assim por muito tempo. O apogeu do Jacarecanga não durou mais que duas décadas e, por volta dos anos 30 a 40, o bairro começou seu processo de desvalorização.
44 Por volta do ano de 1930, a implantação da ferrovia que corta a zona oeste de Fortaleza acabou atraindo as primeiras instalações fabris do bairro (Figura 20).
Figura 20 e 21: Fábrica de Tecidos São José, av. Philomeno Gomes, 1957. Instalação da Fábrica Brasil Oiticica S.A, av. Francisco Sá, 1957, respectivamente. Fonte: http://www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em 02 de dezembro de 2015.
Essas famílias que chegavam a Fortaleza, deparavamse com uma cidade sem grande infraestrutura urbana para abrigar um maior contingente populacional. Sendo assim, uma significativa quantidade dessa população começava a ocupar partes da cidade que eram desprezadas pelas famílias abastadas, residindo em áreas naturais, como às margens do riacho Jacarecanga e em regiões de dunas. A população de alta renda, que até então residia no bairro, começou a migrar para a zona leste da cidade, com a intenção de afastar- se das novas dinâmicas econômicas e sociais da área, que traziam consigo a poluição das indústrias e os novos núcleos de favelas. Nesse contexto, o bairro Aldeota passou a ser a nova centralidade de Fortaleza (DANTAS, 2009). Em 1970, essa desvalorização se intensificou ainda mais. Isso porque foi construído na Praia do Jacarecanga, a Estação de Tratamento de Esgoto.
Riacho Jacarecanga: Contextualização no histórico da cidade de Fortaleza
A presença das fábricas nessa região pode ser explicada pela facilidade do escoamento e recebimento de produtos, o que resultou na desvalorização dos terrenos ao longo do percurso da linha férrea. As fábricas, por sua vez, instalaram-se ma joritariamente no eixo da avenida Francisco Sá (Figura 15), formando o primeiro pólo industrial da cidade, e juntamente com elas, vieram a ocupação dos operários (BENTO, 2011).
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Entre a década de 80 e 90, várias políticas públicas impulsionaram o processo de desindustrialização da zona oeste, direcionando o polo industrial para as regiões metropolitanas de Fortaleza, alterando significativamente as funções e dinâmicas do Jacarecanga. O comércio e os serviços passaram a reger a economia local, agregando-se ao caráter habitacional que o bairro possui até hoje. Atualmente, na paisagem urbana do Jacarecanga estão evidenciadas as diferentes épocas de sua história, onde podemos ver os resquícios das elegantes edificações da época (Figura 22), mescladas aos poucos terrenos fabris restantes e aos novos imóveis.
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Figura 22: Palacete Tomás Pompeu Sobrinho, atual Escola de Artes e Ofícios Av. Francisco Sá. Fonte: Acervo Pessoal da autora, 2015.
As consequências da ocupação irregular às margens do riacho reverberam até hoje. O recurso hídrico, canalizado e correndo a céu aberto em boa parte seu percurso, teve o assoreamento do seu leito ao longo de sua existência, e encontra-se hoje completamente poluído (Figura 23). Além disso, a qualidade da água e a presença de uma grande quantidade de lixo nos arredores são causas de inúmeras problemáticas ecológicas e epidemiológicas que atingem a região.
É nesse contexto de não compatibilização do meio urbano construído e o natural que se apresenta a atual condição na qual o riacho se encontra. Apesar disso, o bairro Jacarecanga contempla inúmeras potencialidades, a começar pelo próprio riacho, que se bem exploradas são capazes de modificar completamente a situação da área. No capítulo quatro, a análise urbana, ambiental, socioeconômica e paisagística do Jacarecanga será mais aprofundada.
Riacho Jacarecanga: Contextualização no histórico da cidade de Fortaleza
Figura 23: Situação de poluição e assoreamento do riacho Jacarecanga. Fonte: Acervo pessoal da autora, 2015.
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03 RIOS E CIDADES UMA HISTÓRIA DE RECONCILIAÇÃO
[...] o rio é uma estrutura viva, e portanto, mutante. É principalmente uma estrutura fluida, que pela sua própria natureza se expande e se retrai, no seu ritmo e tempo próprios. Ocupa tanto um leito menor quanto um leito maior, em função do volume sazonal de suas águas. Ao fluir, seu percurso vai riscando linhas na paisagem, como um pincel de água desenhando meandros, arcos e curvas. O rio traz o sentido de uma maleabilidade primordial no desenho da paisagem.” COSTA, 2006, p.11
Necessidade e Conscientização: A Valorização dos Rios
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As consequências dos impactos apresentados nos capítulos um e dois, fizeram com que as cidades começassem a emergir na fase de recuperação dos recursos naturais, reconsiderando as ações antrópicas que têm atingindo e degradado diretamente o meio ambiente.
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No livro “Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação”, GORSKI (2010) esclarece que, apesar da questão ambiental ter sido intensificada nos últimos trinta anos, ela não nasceu no século XX, mas foi produto de uma abordagem que vinha sendo desenvolvida desde o final do século XIX. Segunda a autora, o arquiteto paisagista norte-americano Frederick Law Olmsted e o escocês Ian Mcharg, foram precursores dessa nova postura. Na mesma época, o engenheiro sanitarista brasileiro Francisco Saturnino Rodrigues de Brito também dava suas contribuições voltadas para o desenvolvimento das cidades, conhecido atualmente como desenvolvimento sustentável. A ineficiência das intervenções em drenagens urbanas, por exemplo, foi fator decisivo que impulsionou discussões sobre as ações implementadas até então. O meio urbano era, e ainda é, caracterizado pela desarticulação dos vários elementos que compõem a cidade, imprescindíveis à construção e sustentabilidade das mesmas, tais como: o ecológico, o social e o econômico. A partir da segunda metade do século XX, as cidades brasileiras emergiam em várias problemáticas, englobando esses três elementos bases, tornando-se, por tanto, inviáveis sob vários aspectos. É nesse contexto que a preocupação com os recursos hídricos surge como uma nova conduta na sociedade (GORSKI, 2010). Após a intensa exploração e degradação dos rios, a cidade começa a dar sinais de valorização desses recursos, entendendo que os mesmos são tão importantes social e economicamente, como ecologicamente.
Saraiva (1998), caracteriza e descreve o desenvolvimento dessas ideias, ao longo dos anos, em três etapas (Figura 25): 1. Salvaguardas Ambientais – Década de 60 a 70: Nessa fase, se reconhece a necessidade de conter o crescimento econômico, através de políticas normativas. É também nesse momento que a emissão de gases e de poluição entram na fase de repressão. 2. Gestão de Recursos – Década de 70 a 80: Aqui atribui-se o valor econômico aos recursos naturais, levando em consideração as suas capacidades de renovação. Começam as melhorias nos processos de produção, promovendo iniciativas de prevenção contra a poluição, como é o caso do princípio poluidor;
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3. Desenvolvimento Sustentável – A partir da década de 80: o meio ambiente como fator que deve ser levado em consideração mundialmente, em conjunto. Defesa da integração entre os elementos ecológicos, sociais e econômicos, para fins de planejamento das cidades.
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Figura 25: Evolução dos Paradigmas Ambientais, 1992. Fonte: SARAIVA, 1998, página 28.
As questões relacionadas à água foram abordadas em inúmeros eventos mundiais sobre o meio ambiente. O interesse pela valorização e recuperação de recursos ambientais tem crescido, não apenas no meio acadêmico, mas a própria mídia se encarrega de disseminar a importância dessas medidas, quando veicula as enchentes, tragédias, aquecimento, etc, resultantes das ações do homem sobre o meio ambiente (GORSKI, 2010).
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Esses novos pensamentos fizeram com que as cidades fossem implementando ações visando a reconciliação dos rios com os centros urbanos. Ao redor do mundo, podemos identificar a revitalização de vários deles, frutos desses princípios e da implantação de projetos urbanos e paisagísticos. Sendo assim, será abordado no capítulo II, como estudo de caso, o projeto de reconciliação do Rio Cheonggyecheon, localizado na cidade de Seul.
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Aos poucos, os territórios brasileiros têm modificado suas dinâmicas, incorporando o meio ambiente no desenvolvimento de suas cidades e no planejamento delas. Fortaleza, por sua vez, com vários exemplares de recursos hídricos degradados, ainda não possui nenhum projeto significativo quanto a revitalização dos rios. O riacho Pa jeú, entretanto, sofreu nos últimos anos intervenções positivas em pequenas escalas, como vemos na imagem abaixo. Figura 26: Intervenção do Riacho Pa jeú – Trecho Rua Pinto Madeira. Fonte: inventarioambientalfortaleza.blogspot.com.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
Parques Urbanos
Por volta do ano 2000, surge no Brasil uma lei que acrescenta novas atribuições aos parques urbanos. A Lei nº 9.985 (SNUC) dá uma nova função para esses sítios, tornando-se um local de preservação ambiental e bem-estar social. Nesse contexto, os parques urbanos passam também a ser referências quanto aos seus aspectos cênicos e culturais, sendo incorporados, muitas vezes, ao patrimônio das cidades (KLIASS, 1993). Assim, esses espaços livres são considerados elementos de fundamental importância na qualidade de vida da população, tendo em vista que exercem funções ambientais imprescindíveis aos seres humanos. Como já vimos no capítulo um, os elementos naturais, como a água e a vegetação, assumem um significativo papel nas funções físicas e biológicas, e, sendo esses recursos um dos principais
Rios e Cidades: Uma história de reconciliação
Segundo Kliass (1993, p. 19), os parques urbanos podem ser definidos como [...] “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinado à recreação.” Observando a história dos parques urbanos, identificou-se que essas iniciativas surgiam como consequência da era industrial (ALVES, 2013). Segundo Vainer (2010), as primeiras demandas por espaços verdes e públicos foram decorrentes dos processos de urbanização das cidades, já mencionados anteriormente. Com o crescimento acelerado dos centros urbanos, veio também a destruição de grandes áreas verdes e, ao longo dos anos, surge a necessidade de abastecer as cidades de espaços responsáveis para atender o novo estilo de vida da sociedade: o lazer, em contrapartida da pressão das novas dinâmicas dos centros urbanos. Assim, o principal objetivo dos parques era promover a qualidade de vida do bem-estar da população. (ALVES, 2013).
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componentes dos parques urbanos, fazem com que esses espaços livres reverberem suas potencialidades. Segundo Friedrich (2007), os parques a judam a garantir a permeabilidade do solo nas margens dos recursos hídricos, facilitando a infiltração, com o escoamento mais lento das águas nos períodos de inundação. Sendo assim, os parques urbanos, em geral, contribuem na filtragem do ar e da água, além de a judarem na estabilização do microclima e serem importantes locais de preservação da fauna.
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Os parques lineares surgem também como uma alternativa eficaz de interligar espaços verdes da cidade, não intervindo de forma pontual, mas servindo como conectores de outras áreas livres, permitindo uma maior integração de espécies animais e vegetais (FRIEDRICH, 2007). Nesse contexto também se ressalta o aproveitamento dessas áreas para atividades voltadas ao lazer e à cultura, promovendo uma ocupação adequada dos recursos ambientais, evitando assim a apropriação irregular dos mesmos. Segundo Kliass (1993), a ocupação do solo no entorno dessas áreas interfere significativamente no parque como elemento urbano e paisagístico. Portanto, esses logradouros acabam atendendo as necessidades dos centros urbanos relacionados à recreação, cultura, educação e relações sociais. Essas atividades são caracterizadas pela sua diversificação, bem como pelo baixo custo de implantação. A apropriação desses espaços pela população vem como afirmação dos benefícios socioculturais dessas áreas, resultando em uma maior integração das pessoas, reduzido problemáticas como a violência urbana. É justamente através da vivência recreativa e educacional nessas áreas que os parques também se definem por serem elos de ligação entre os recursos naturais e a população. O contato frequente entre as pessoas e os meios ambientais acaba por restringir a relação entre ambos, onde o homem consegue
usufruir, de forma harmônica, de suas potencialidades. Ainda sobre os benefícios desses espaços Friedrich (2007) ressalta que os parques urbanos surgem, muitas vezes, como elementos reestruturadores de áreas urbanas e ambientais que se encontram em estado de degradação. Esses espaços são caracterizados por contribuírem na reconciliação dos aspectos urbanos e ambientais, servindo como elo de ligação entre os meios naturais, como os rios, com a cidade como um todo. É nesse contexto que se destaca também as potencialidades cênicas e paisagística desses locais que, quando bem implantados, exercem forte influência no marco de paisagens de centros urbanos, como é o caso do Central Parque (Figura 28), em Nova Iorque, e do Rio Madri (Figura 29), na Espanha, que será abordado adiante. 1. Resgate de valores.
1. Aumento da prática de
2. Facilitação da educação botânica-ambiental.
exercícios físicos. 2. Espaços de relaxamento e
Aumento do contato homem/natureza
Provimento de saúde para a população
Aprimoramento da estética da cidade
Influência na dinâmica bioclimática
1. Valorização das
1. Preservação dos
propriedades urbanas.
recursos vegetais.
2. Formação e fixação da imagem urbana.
2. Proteção do solo. 3. Melhoramento do microclima da cidade.
Figura 27: Relevância dos parques nos centros urbanos. Fonte: ALVES, 2013, página 62 | Diagrama elaborado pela autora.
Rios e Cidades: Uma história de reconciliação
lazer.
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Figura 28: Central Parque, em Nova Iorque. Fonte: www.centralpark-ny.us. Acesso em 03 de dezembro de 2015.
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Figura 29: Parque Rio Madrid. Fonte: ww.likealocalguide.com/madrid/. Acesso em 03 de dezembro de 2015.
O CASO DA CIDADE DE FORTALEZA
Figura 30: Distribuição de parques urbanos por Secretaria Executiva Regional (SER). Fonte: ALVES, 2013, página 82.
Como podemos visualizar no mapa acima, a região oeste da cidade, apesar de ser uma área que possui inúmeras potencialidades sociais, culturais, econômicas e ambientais, é a que mais carece de espaços referentes à parques urbanos. Apenas o Pólo de Lazer Sargento Hermínio contempla a região,
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A cidade de Fortaleza não é referência quando o assunto é parques urbanos. Poucos exemplares compõem o município, não restando dúvidas da crescente necessidade da criação desses espaços. Diferentemente de outros centros urbanos, como é o caso de São Paulo e Brasília, a população fortalezense vem reconhecendo morosamente a utilização desses sítios como áreas de lazer. Fortaleza possui nove parques municipais e/ou pólos de lazer (figura 30) com limites oficializados sob lei, distribuídos ao longo da cidade, ma joritariamente na área central e leste.
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não conseguindo suprir as necessidades e demandas da população, além além de se encontrar em completo estado de abandono.
Figura 31: Estado de degradação do Pólo de Lazer Sargento Hermínio. Fonte: www.fortalezaemfotos.com.br. Acesso em 22 de maio de 2016.
A problemática da degradação não se resume apenas ao Pólo de lazer da Sargento Hermínio, mas engloba grande parte dos parques urbanos de Fortaleza. Muitos desses espaços encontram-se completamente desprovidos de infraestrutura básica, apresentando deterioração em muitos de seus equipamentos.
58 Figura 32: Abandono Parque Adahil Barreto. Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br. lAcesso em 05 de janeiro de 2016.
Figura 33: Degradação no Parque Rio Branco. Fonte: www.opovo.com.br. Acesso em 05 de janeiro de 2016.
No bairro Jacarecanga, por sua vez, as áreas livres e verdes se resumem as praças, onde podemos destacar como principais a Praça Marcílio Dias, a Praça São José e a Praça Carlos Jereissati (Figura 34). Apesar de não se encontrar inserida no perímetro do bairro, o principal logradouro da área corresponde à Praça Gustavo Barroso, mais conhecida como Praça do Liceu. Segundo a Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC), a junção dessas áreas verdes corresponde a apenas 5% do território de todo o Jacarecanga.
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Bairro Jacarecanga RiachoJacarecanga Praças 01
Praça Marcílio Dias
01
Praça São José
01
Praça Carlos Jereissati
01
Praça Gustavo Barroso
0
100
300
500m
Figura 34: Levantamento de logradouros do bairro Jacarecanga Fonte: Google Earth, 2016 | Editado pela autora.
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Em visita ao local, pode-se identificar a identidade da praça Gustavo Barroso em relação ao bairro Jacarecanga, e como os moradores do local se apropriam do espaço. Apesar disso, muito de seus equipamentos se encontram degradados (Figura 36), onde a manutenção do espaço não ocorre continuamente, segundo os frequentadores.
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Figuras 35 e 36: Estado da praça Gustavo Barroso. Fonte: Acervo pessoal da autora, 2015.
É dentro desse contexto que se reforça ainda mais a grande necessidade de criação de espaços públicos no bairro, a fim de preservar os recursos ambientais existentes e, em paralelo, proporcionar melhorias urbanas, sociais e ambientais à cidade como um todo.
PROJETOS DE REFERÊNCIA É nesse contexto de reconciliação entre os rios e o meio urbano que destacamos alguns projetos que serviram de referências projetuais para a proposta de intervenção do riacho Jacarecanga. O primeiro projeto é localizado em Seul, na Coréia do Sul, mais especificamente no rio Cheonggyencheon. Durante a ocupação japonesa, por volta dos anos 1910 a 1945, o córrego tornou-se degradado. Segundo Salgado (2014), nas áreas em que a política higienista não tinha intervido, as margens daquele recurso eram ocupadas por assentamentos precários (Figura 37). Assim
Figura 37: Degradação do rio Cheonggyencheon. Fonte: www.ufrgs.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
Figura 38: Ocultação do rio por grandes avenidas da cidade. Fonte: www.ufrgs.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
Nesse contexto, por volta de 1999, surge a iniciativa de eliminar a grande rodovia, intervindo diretamente no córrego presente na área, objetivando a recuperação do rio Cheonggyecheon e a promoção de uma grande renovação urbana.
Rios e Cidades: Uma história de reconciliação
como nas cidades brasileiras, por volta do ano 1950, o rio foi coberto para dar lugar às vias, favorecendo o uso dos transportes automotivos. Toda sua extensão foi recoberta por avenidas, onde nenhum resquício de sua existência era visível na paisagem urbana (Figura 38).
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Com a remoção da via, o local recebeu um enorme parque linear, com quase seis quilômetros de extensão e 80 metros de largura (SALGADO, 2014).
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Figura 39: Implantação geral do projeto. Fonte:www.portalarquitetonico.com.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
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A principal estratégia do projeto foi justamente integrar o rio com o homem, promovendo grandes áreas de contato entre ambos (Figura 40). Os aspectos históricos também foram levados em consideração, onde preservou-se resquícios da antiga rodovia (Figura 41).
Figura 40: Integração do homem com o rio. Fonte: www.portalarquitetonico.com.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
Figura 41: Resquícios da rodovia. Fonte: www.portalarquitetonico.com.br. Acesso em 29 de setembro de 2015.
O segundo projeto de referência foi o do Rio Medellín, na Colômbia. A proposta visava a criação de um parque botânico para a cidade, como alternativa para resolver a problemática do sistema biótico de Medellín, articular o fluxo, os vazios verdes e infraestruturas públicas subutilizadas, através da recuperação do rio e conexão por um corredor biótico metropolitano.
Figura 42: Implantação geral do projeto. Fonte: www.archdaily.com.br. Acesso em 04 de janeiro de 2016.
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Com esse objetivo, o projeto tem como base quatro princípios, sendo eles: a utilização do rio como elemento estruturador; a continuidade dos vários recursos hídricos; a revitalização de espaços verdes subutilizados; e, por último, o aproveitamento de áreas vazias ou subutilizadas.
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Figura 43: Atual condição do rio. | Figuras 44 e 45: Projeto de intervenção da área. Fonte: www.archdaily.com.br. Acesso em 04 de janeiro de 2016.
Situado em São Paulo, na parte desativada do Complexo Penitenciário do Carandiru, o Parque da Juventude também foi tido como grande referência projetual. De autoria da arquiteta paisagista Rosa Grena Kliass, o parque foi dividido em três setores, onde dois destes já foram concluídos. O primeiro compreende o parque esportivo (Figura 46), e o segundo denomina-se parque central. Segundo o co-autor do projeto José Luiz Brenna, a proposta para essa área era criar uma espécie de oásis urbano, onde a população pudesse utilizar-se da sombra das árvores para a realização de atividades de descanso e lazer.
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Além disso, o espaço, considerado um referencial histórico, foi preservado e potencializado. As ruínas de um presídio recebeu tratamento paisagístico (Figura 47), tornando-se um marco visual do projeto.
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Figura 46: Implantação geral do projeto. Fonte: www.vitruvius.com.br. Acesso em 02 de junho de 2016.
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Figura 47: Tratamento paisagístico nas ruínas do presídio. Fonte: www.vitruvius.com.br. Acesso em 02 de junho de 2016.
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Figura 48: Parque esportivo Fonte: www.vitruvius.com.br. Acesso em 02 de junho de 2016.
04 DIAGNÓSTICO
“A cidade nasce da água. A história urbana pode ser traçada tendo como eixos as formas de apropriação das dinâmicas hídricas. A tra jetória das relações entre cidades e corpos d’água reflete, assim, os ciclos históricos da relação entre o homem e natureza.” Sandra Soares de Mello
LEGISLAÇÃO URBANA E AMBIENTAL
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Segundo a Constituição Federal, através do artigo 30, o uso do solo é de caráter municipal. Apesar disso, o Estado e a União podem estabelecer normas para disciplinar o ordenamento do solo urbano, visando o bem-estar das pessoas e do meio ambiente. As leis federais e estaduais surgem como uma alternativa de orientar a criação das leis municipais, que se caracterizam pela adequação dos parâmetros às particularidades do município. Dessa forma, nunca deve haver um conflito entre as leis federais e municipais, sendo crucial que a legislação de um determinado município esteja fundamentada no que foi determinado pela legislação federal, por exemplo, todavia adequando-se às suas particularidades.
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Duas leis urbanísticas de caráter nacional são de suma importância para o estabelecimento da legislação urbana dos estados e municípios, sendo elas: a Lei federal 6.766/79, referente ao Parcelamento do Solo Urbano, e a Lei federal nº 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade. Segundo a Lei de Parcelamento do Solo Urbano, “não será permitido o parcelamento do solo em terrenos alagadiços e sujeitos às inundações (antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas) e em áreas de preservação ecológica”. Além disso, fica determinado um afastamento mínimo de 15 metros non aedificandi para cada lado ao longo de águas correntes e dormentes. Em relação as áreas de vegetação natural, presentes ao longo de rios e outros cursos d’água, a legislação dessas áreas encontra-se presente na Lei federal nº 4.771, de 1965, nomeada de Código Florestal Brasileiro. A resolução Federal nº 303/2002, do CONAMA regulamenta o artigo 2º do Código Florestal Federal, que se refere às Áreas de Preservação Permanente, estabelecendo parâmetros, definições e limites.
Segundo o CONAMA (2002), essas áreas de Preservação Permanente correspondem às faixas marginais, onde seu afastamento é diretamente proporcional à medida horizontal do curso d’água (Friedrich, 2007). Tabela 02: Dimensões de APP’s, segundo Resolução 303/2002 do CONAMA. Área mínima de Preservação permanente
Medida do Curso d’água
30 metros
Menor que 10m de largura
50 metros
De 10 à 50m de largura
100 metros
50 à 200m de largura
200 metros
200 à 600m de largura
O que acontece é que a partir desses parâmetros, a legislação do município deve ser elaborada, respeitando as características do seu território. No caso de Fortaleza, esse documento corresponde ao Plano Diretor Participativo, datado de 2009, que subdivide a cidade em zonas, estabelecendo os parâmetros e instrumentos necessários para cada uma delas. Identificando a legislação que atua sobre o riacho Jacarecanga e o seu entorno, destacamos, primeiramente, a predeterminação da elaboração de “ [...] planos específicos para a regeneração e integração urbana dos riachos Pa jeú e Jacarecanga, definindo-os como patrimônio paisagístico. ’’ (PDPFOR, 2009, p.18). Além disso, o bairro incorpora quatro diferentes zonas (Figura 42), onde encontram-se duas referentes à proteção ambiental.
Diagnóstico
Fonte: CONAMA, 2002, p. 88 | Tabela elaborada pela autora.
69
Limite do bairro Jacarecanga Zona de (ZPA1)
Preservação
Ambiental
Zona de (ZPA2)
Preservação
Ambiental
Zona de Orla - Trecho II (ZO II) Zona de Ocupação Preferencial I (ZOP1) 0
100
300
500m
Como vemos no mapa ao lado, a maior área do bairro encontra-se inserida na Zona de Ocupação Preferencial I (ZOP I), que é caracterizada pela disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos, além de apresentar quantidades significativas de lotes e/ou edificações vazias ou subutilizadas. Dentre os principais objetivos dessa zona, podemos destacar a implementação de instrumentos de atração à ocupação do solo, com o intuito de que o imóvel exerça sua função social. Além disso, a zona procura incentivar a preservação, valorização e conservação das áreas e/ou imóveis com potenciais paisagísticos, de patrimônio histórico, cultural, etc. Conforme consta no Plano Diretor Participativo de Fortaleza (2009, p. 27), os parâmetros urbanísticos estabelecidos para essa área correspondem à: I - Índice de aproveitamento básico: 3,0; II - Índice de aproveitamento máximo: 3,0; III - Índice de aproveitamento mínimo: 0,25; IV - Taxa de permeabilidade: 30%; V - Taxa de ocupação: 60%; VI - Taxa de ocupação de subsolo: 60%; VII - altura máxima da edificação: 72m; VIII - Área mínima de lote: 125m²; IX - Testada mínima de lote: 5m; X – Profundidade mínima do lote: 25m.
I - Parcelamento, edificação e utilização compulsórios; II - IPTU progressivo no tempo; III – Desapropriação mediante pagamento por títulos da dívida pública; IV - Direito de preempção; V - Direito de superfície; VI - Transferência do direito de construir; VII - Operação urbana consorciada;
Diagnóstico
Art. 82 - Serão aplicados na Zona de Ocupação Preferencial 1 (ZOP 1), especialmente, os seguintes instrumentos:
71
VIII – Consórcio imobiliário; IX - Estudo de impacto de vizinhança (EIV); X - Estudo ambiental (EA); XI - Zona Especial de Interesse Social (ZEIS); XII - Instrumentos de regularização fundiária; XIII - Outorga onerosa de alteração de uso.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Toda a faixa litorânea da cidade passa a ser caracterizada como Zona de Orla (ZO). Devido a sua extensão, essa área foi subdivida em sete trechos, onde a região litorânea do bairro Jacarecanga foi identificada como sendo o trecho II. Por ser uma área de particularidades de solo, de aspectos paisagísticos e de sua função urbana, requer parâmetros urbanísticos mais específicos, que respeitem e preservem suas condições naturais. Sendo assim, os índices urbanísticos dessa zona são descritos no Plano Diretor Participativo de Fortaleza (2009, p. 37):
72
I - índice de aproveitamento básico: 1,5; II - índice de aproveitamento máximo: 1,5; III - índice de aproveitamento mínimo: 0,25; IV - taxa de permeabilidade: 20%; V - taxa de ocupação: 50%; VI - taxa de ocupação de subsolo: 50%; VII - altura máxima da edificação: 24m; VIII - área mínima de lote: 125m2; IX - testada mínima de lote: 5m; X - profundidade mínima do lote: 25m. Conclui-se, através dos índices urbanísticos, que a área não é propícia a um grande adensamento, levando em consideração seus recursos naturais. Apesar disso, assim como em outras regiões, tem-se uma forte consolidação no local, proveniente do processo de ocupação irregular. É também importante ressaltar a descontinuidade da legislação quando se trata do riacho Jacarecanga. A sua foz encontra-se exatamente nesse trecho, sendo por isso caracterizada como bacia da vertente marítima, todavia o riacho sequer
é levado em consideração nessa parcela do zoneamento. Diferentemente do que acontece na Zona de Orla (ZO), as Zonas de Preservação Ambiental são definidas pela proibição do parcelamento e da ocupação do solo e, por isso, fica claro a anulação dos índices urbanísticos de construção. Isso ocorre por terem como objetivo salvaguardar os elementos naturais característicos da área, seja o solo, a vegetação e/ou recursos hídricos. Por sua vez, subdividem-se em três microzonas, onde o limite do Jacarecanga incorpora duas delas. A Zona de Preservação Ambiental I (ZAP I) é identificada pela preservação permanente de faixas de recursos hídricos, tangenciando, portanto, as margens do riacho Jacare-
I - plano de manejo; II - plano de gestão; III - estudo ambiental (EA); IV - estudo de impacto de vizinhança (EIV); V - direito de preempção. Art. 66. São parâmetros da ZPA: I - Índice de aproveitamento básico: 0,0; II - Índice de aproveitamento máximo: 0,0; III - Índice de aproveitamento mínimo: 0,0; IV - Taxa de permeabilidade: 100%; V - Taxa de ocupação: 0,0; VI - Altura máxima da edificação: 0,0. Como já mencionado anteriormente, o Jacarecanga é um importante exemplar histórico-cultural da cidade de Fortaleza,
Diagnóstico
canga. Nela fica pré-estabelecido apenas o uso indireto dos recursos naturais, onde é permitido o desenvolvimento de atividades voltadas à educação ambiental, bem como o turismo ecológico. Já a segunda Zona de Preservação Ambiental (ZAP II) corresponde à faixa da Praia do Kartódromo, e pretende, além da preservação ambiental, garantir o uso público da praia. O Plano Diretor Participativo de Fortaleza (2009, p. 24) determina quais os instrumentos aplicados nessa área, bem como a anulação dos índices relativos à construção:
73
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
74
é um importante exemplar histórico-cultural da cidade de Fortaleza, e isso deve ser levado em consideração no seu zoneamento. Foram criadas as Zonas Especiais de Proteção ao Patrimônio Histórico (ZEPH), objetivando a complementação do Plano Diretor de 2009, todavia a criação da ZEPH Jacarecanga é um processo longo que ainda aguarda aprovação. Visando salvaguardar esse patrimônio que, ao longo dos anos, tem sofrido ameaças, o Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico Cultural (COMPHIC) utilizou-se do instrumento de Relevante Interesse Cultural, previsto no capítulo VII da Lei 9.347/2008 para proteger o bairro. Essa declaração é um mecanismo de proteção ao patrimônio cultural, que é aplicada aos bens que, por natureza ou especialidade, não prestam à proteção mediante tombamento. Essa medida visa proporcionar a melhor forma de permanência dos bens, através da conservação de suas características e do resguardo de sua integridade. Além disso, fornece a regulamentação dos direitos legais dos proprietários de bens tombados, através da aplicação dos instrumentos como o direito de construir e o direito de preempção. Cabe, portanto, à Coordenaria de Patrimônio Histórico e Cultural – CPHC, através de estudos detalhados, especificar quais as limitações impostas ao conjunto de interesse cultural, estabelecendo parâmetros urbanísticos para futuras intervenções na área. Para regulamentar e condicionar as diretrizes foi elaborada uma instrução técnica (anexo I), que norteia futuras intervenções na área. “1. A altura máxima das edificações serão medidas a partir do nível do meio fio do logradouro, no ponto médio da testada do lote, incluindo todos os elementos construtivos. 2. Novas edificações, reformas e/ou acréscimos em edificações existentes deverão contemplar tratamento plástico (e de materiais) condizente com a ambiência da área. Não serão permitidos quaisquer tipos de uso ou ocupação que possam ameaçar, causar danos ou prejudicar a harmonia arquitetônica e urbanística da área. 3. Nas áreas compreendidas pelo “Conjunto Urbano do Bairro Jacarecanga” na forma que indica o Anexo 01 serão aplicadas,
Instrução Técnica/CPHC/SECULTFOR Nº 01/2012, pág 14.
Como
o
bairro
incorpora
dinâmicas
diferen-
tes ao longo de sua extensão, a área foi dividida em quatro setores, onde os parâmetros
Diagnóstico
especialmente, os seguintes instrumentos: transferência do direito de construir e direito de preempção. [...] 4. Nas áreas compreendidas pelo Setor 3 – Riacho Jacarecanga, não será admitida a retirada de vegetação nativa remanescente. Estas mesmas áreas poderão, contudo, ser objeto de projetos paisagísticos a serem previamente analisados pelo órgão de Patrimônio Cultural e Histórico do Município. Em todo o “Conjunto Urbano do Bairro Jacarecanga” deverá ser evitada a poluição visual. Considerase como poluição visual o excesso de elementos ligados a comunicação visual, tais como cartazes, placas, painéis, cavaletes, faixas, banners, infláveis, balões, totens, outdoors, back-lights, front-lights, painéis eletrônicos e painéis televisivos de alta resolução, anúncios estampados em ônibus (busdoor), o grafite, pichações, propaganda eleitoral, rede de fiação elétrica e de telecomunicações, as edificações com falta de manutenção, o lixo exposto e outros resíduos urbanos entre outros instrumentos de publicidade, dispostos no perímetro do Conjunto. Deverá ser rigorosamente cumprida a Lei Nº 8.221, de 28 de Dezembro de 1998. 5. Os passeios devem incorporar dispositivos de acessibilidade nas condições especificadas na NBR 9050 da ABNT ou norma técnica oficial superveniente que a substitua, bem como nas resoluções municipais específicas. Fica recomendado o uso de sinalização tátil de piso e o emprego de rebaixamento de calçada e guia pré-fabricado junto à faixa de travessia de pedestres e junto à marca de canalização de vagas destinadas ao estacionamento de veículos que transportam pessoas com deficiência nas vias e logradouros públicos. 6. O Mobiliário Urbano e a Sinalização viária ou turística serão instalados respeitando a padronização específica a ser criada para a área. Devendo este projeto específico atentar as condições de preservação da visibilidade do “Conjunto Urbano do Bairro Jacarecanga” e da relação da comunidade com o espaço. 7. Toda a área do “Conjunto Urbano do Bairro Jacarecanga” em especial o Setor I deverá passar por um processo de internalização subterrânea da rede elétrica, telefônica e lógica a fim de proporcionar uma melhoria dos visuais da paisagem.”
75
urbanísticos variam de acordo com suas especificidades.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Poligonal do Conjunto Urbano de Relevância
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Setor 01 Setor 02 Setor 03 Setor 04
Figura 51: Setorização dos Parâmetros do Bairro Jacarecanga. Fonte: Instrução Técnica/COMPHIC/SECULTFOR Nº 01/2012 com edição da autora, 2016.
A própria setorização acima apresenta uma evidente descontinuidade na legislação quando se refere ao riacho Jacarecanga. Apesar de ter seu percurso indo de encontro ao oceano, a delimitação da área mais restritiva limita-se apenas ao itinerário em que o curso d’água encontram-se a céu aberto, sendo desconsiderado o leito do rio em galerias subterrâneas. Assim, para os quatros setores, o documento estabelece as seguintes diretrizes: “Setor I I - A altura máxima das edificações não poderá exceder o limite de 8 (oito metros) equivalente a 02(dois) pavimentos;
Diagnóstico
II - Os imóveis da área deverão manter a volumetria e o ritmo dos elementos históricos característicos afim de valorizar o perfil urbano da área. Será permitido o remanejamento interno desde de que não altere a volumetria, as alterações externas deverão contemplar o resgate as características originas e a eliminação de elementos espúrios. Não será permitida a retirada de elementos externos como as escadas de acesso, as telhas de barro ou as áreas de frontais em jardim com muros baixos. III – As edificações presentes são de fachadas estreitas, esta modulação deverá ser respeitada nas novas construções. IV – Todos os lotes deverão manter o afastamento de 3 metros e muro de até 1,50 metro de altura. V – Nas novas construções nessa área nos casos em que a demolição for autorizada deverão ser obedecidos os mesmo parâmetros de ocupação da edificação demolida mantendo os mesmos recuos e gabarito. Setor II I - A altura máxima das edificações não poderá exceder o limite de 45 (quarenta e cinco metros) equivalente a 15(quinze) pavimentos. II – Será permitida a demolição de edificações neste setor, desde que aprovadas pelo órgão de patrimônio histórico do município e de a nova construção ou utilização não descaracterize as articulações entre as relações espaciais e visuais ali envolvidas. III – Todos os lotes deverão manter o afastamento frontal mínimo de 10 metros a ser usado com a jardinamento e muro de até 1,50 metro. IV será permitido o amembramento de lotes desde que a área máxima seja de 10.000,00m2 (dez mil metros quadrados). Setor III Nas áreas compreendidas pelo Setor 3 – Riacho Jacarecanga, não será admitida a retirada de vegetação nativa remanescente. Estas mesmas áreas poderão, contudo, ser objeto de projetos paisagísticos a serem previamente analisados pelo órgão de Patrimônio Cultural e Histórico do Município. O Setor III será considerado área “non aedificandi”, as intervenções urbanísticas nessa área deverão ser aprovada pelo setor responsável pelo Patrimônio Histórico no Município e se restringirão a tratamentos paisagísticos e ações de preservação ambiental. Esta área será destinada ao lazer e à prática da pesca artesanal, atividades culturais e esportivas. Não será permitida a conversão desse recurso em Avenida-Canal ou qualquer outra intervenção que limite o seu caráter paisagístico.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
78
Setor IV I - A altura máxima das edificações não poderá exceder o limite de 9 (nove metros) incluindo todos os elementos construtivos e equivalentes a 03(três) pavimentos. Acima deste nível será admitida a altura de 2(dois) metros apenas para elementos que não se caracterizem como pavimento. II - Os imóveis a serem construídos nesta área deverão manter a volumetria e o ritmo dos elementos históricos característicos existentes a fim de valorizar o perfil urbano da área. Será permitido o remanejamento interno, nos casos que forem aprovados pelo órgão de patrimônio do Município, desde que não altere a volumetria. As alterações externas deverão contemplar o resgate as características originas e a eliminação de elementos espúrios. III – Deverá ser preservado o caráter de bangalôs e de chácaras das residências tradicionais do Jacarecanga. Sendo assim ficam protegidos também os jardins e quintais existente. IV – Todos os lotes deverão manter o afastamento de 3 metros e muro de até 1,50 metro. V – nas novas construções nessa área nos casos em que a demolição for autorizada deverão ser obedecidos os mesmo parâmetros de ocupação da edificação demolida mantendo os mesmos recuos e gabarito. Instrução Técnica/CPHC/SECULTFOR Nº 01/2012, pág 15.
Apesar de haver uma instrução técnica que condicione as novas construções, se percebe pouca divulgação desses parâmetros, bem como o seu descumprimento, tendo em vista que atualmente está sendo construído, às margens do riacho Jacarecanga, um shopping (figura 53), no local da antiga fábrica Filomeno Gomes. O empreendimento infringe os parâmetros legislativos que regem a área, bem descaracteriza o patrimônio histórico dos resquícios fabris do local.
Figura 52: Ruínas da fábrica Filomeno Gomes, setembro de 2015. Fonte: Acervo pessoal da autora.
Figura 53: Ruínas da fábrica Filomeno Gomes, maio de 2016. Fonte: Acervo pessoal da autora.
Diagnóstico
Sendo assim, cumprindo o que já se encontra pré-estabelecido no Plano Diretor Participativo de Fortaleza (2009), a área será destinada à criação de um parque urbano, voltado à preservação ambiental, cultural e social. Pelas peculiaridades da área, fica definido o cumprimento da legislação referente à instrução técnica do “Conjunto Urbano do bairro Jacarecanga”, estabelecido pela COMPHIC e SECULTFOR (2012).
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ANÁLISE CARTOGRÁFICA
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Para facilitar a análise e o entendimento das problemáticas e potencialidades do bairro, alguns dos mapas apresentados serão subdivididos em três trechos, respeitando suas particularidades. Os setores foram delimitados com base no diagnóstico realizado na área, onde se pode identificar a existência de três diferentes dinâmicas na área. Portanto, os trechos foram definidos com base nas atuais características do local.
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O primeiro trecho foi delimitado por possuir uma característica mais litorânea, voltada para uma dinâmica diferenciada do restante da região do Jacarecanga. Além disso, os aspectos ambientais acabam por diferenciar-se dos demais trechos, tendo em vista que o riacho encontra-se submerso em galerias subterrâneas. É justamente nesse limite que o recurso hídrico deságua diretamente no oceano. O segundo e maior trecho, foi identificado como a maior área em que o riacho apresenta-se a céu aberto, e está situado em uma área altamente urbanizada. Essa região é caracterizada pelo alto índice de urbanização, tendo uma enorme variação no uso do solo. O terceiro e último trecho é resultado de uma dinâmica mais residencial, caracterizado pela forte ocupação irregular nas margens do riacho. Apesar disso, é uma das áreas em que se tem uma maior preservação da vegetação.
Trecho I
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Trecho II Trecho III 0
100
Diagnรณstico
Riacho Jacarecanga
200
300m
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
04 03 05 01 06 02
Bairro Jacarecanga
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Residencial Comercial Serviço Áreas Livres | Verdes Vazio Urbano | Subutilizado Institucional Industrial 0
100
200
300m
USO DO SOLO O bairro Jacarecanga é marcado pela grande diversificação de uso do solo, como podemos ver no mapa ao lado. Desde o seu surgimento até hoje, o bairro caracteriza-se por ser predominantemente residencial, apresentando as residências unifamiliares como o maior número de suas edificações. Apesar disso, a área tem apresentado um crescimento considerável de edificações multifamiliares, através do processo de verticalização. Muitas dessas unidades habitacionais são incorporadas a outros usos, onde destacamos o comercial. Nesse contexto, encontram-se poucos lotes no bairro que sejam exclusivamente comerciais, sendo a
01
02
Com resquícios do seu passado industrial, ainda encontram-se grandes lotes destinados ao uso fabril e industrial no Jacarecanga. Localizados, em sua maioria, no eixo de grandes avenidas, tais como a Avenida Francisco Sá, que foi local de implantação das primeiras indústrias da
Diagnóstico
maior parte da dinâmica comercial marcada por pequenos e médios comércios agregados à residências, voltados para atender as necessidades da população local. Em muitos casos, o comércio passa a ocupar o térreo da edificação, sendo os pavimentos superiores destinados a unidades residenciais. Esse processo acontece tanto em residências unifamiliares, quanto em multifamiliares, caracterizando-se como uso misto.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
cidade, e a Avenida Duque de Caxias. As indústrias acabam por ocupar grandes lotes e algumas incorporam uma quadra inteira do bairro. Ainda nesse contexto, identificamos uma grande presença de lotes vazios, resultado da mudança do caráter do local. Muito desses lotes vazios e/ou abandonados eram do setor industrial, além de também encontrarmos muitos edifícios históricos nessa situação. O terreno que antes era ocupado pela antiga linha férrea, encontra-se murado e abandonado, com uma grande quantidade de lixo presente. A área também caracteriza-se por abrigar muitos equipamentos institucionais, como o Lar Torres de Melo, o Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, etc.
03
04
A ocupação do solo desordenada no local foi um dos principais fatores de degradação do riacho, fato que é presente até hoje. Nas margens do riacho encontram-se unidades habitacionais irregulares, bem como indústrias e serviços que acabam por contribuir para o assoreamento do seu leito.
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05
06
85
Diagnรณstico
Av. P re
side
nte
Cas
telo
Bran
co
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
01
02 Rua
São
Pau lo
Av. F ran cis
co S á
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Escolas e universidades
Igrejas
Unidades de saúde
Cemitério
Escola de artes
Escola de Aprendizes de Marinheiro
Escola de artes Áreas Verdes
Principais fluxos de automóveis Principais fluxos de pedestres 0
200
300
500m
EQUIPAMENTOS E FLUXOS O Jacarecanga abriga inúmeras dinâmicas, o que torna a área sempre com um intenso fluxo ao longo do dia. Alguns equipamentos acabam sendo responsáveis pela diversificação desses fluxos, pois são polarizadores da movimentação no período diurno e outros no período noturno. O cemitério, as escolas e as unidades de saúde acabam ocasionando um fluxo mais diurno e vespertino e, normalmente, são caracterizados pelo deslocamento de pedestres e através do transporte coletivo. Todavia, apenas em alguns pontos focais do bairro acontecem a essa dinamização no período noturno, normalmente através das universidades, o que gera
Diagnóstico
grandes áreas desertas nesse período. As margens do riacho, em quase toda sua extensão, são exemplos dessa problemática. O bairro, por situar-se próximo a bairros polarizadores de grandes fluxos, como o São Gerardo, o Centro, e a Aldeota, caracteriza-se por ser também um local de interligação e transição entre os bairros da zona leste e oeste de Fortaleza. Algumas vias do bairro destacam-se pela dinamização desses fluxos, como é o caso da avenida Presidente Castelo Branco (conhecida popularmente como Leste Oeste), a avenida Francisco Sá e a Rua São Paulo. Ao longo de seus eixos, a maior demanda corresponde a de veículos automotores, como o carro e o ônibus. Apesar disso, nota-se um crescimento da utilização de transportes alternativos, como a bicicleta e o pedestre, apesar da carência de infra estrutura para os mesmos.
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01
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MOBILIDADE URBANA | TRECHO I Como podemos observar no mapa abaixo, o trecho I carece de mobilidade urbana. Isso porque a mobilidade urbana não se resume apenas à facilidade de acesso por meio do sistema viário, mas compreende também a facilidade e segurança de meios alternativos, como o pedestre e o ciclista. Nessa zona não se encontra nenhuma infra estrutura que dê suporte a esse modais, como ciclofaixas e ciclovias.
04 02 Av. Pres. Castelo Branco
03
es no Gom
05
e Av. Filom
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
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Limite do Trecho I
Linha leste METROFOR
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Boa qualidade dos passeios Média qualidade dos passeios
Pontos de Ônibus 0
100
200
Péssima qualidade dos passeios 300m
06
Apesar disso, a demanda é grande e os ciclistas, muitas vezes, se arriscam em meio aos carros e ônibus. A má qualidade dos passeios varia desde problemas relacionados ao estreitamento e diferenciação de níveis, bem como má pavimentação e ocupação irregular dos mesmos. Boa parte desse trecho encontra-se nessa classificação, restando apenas a área do kartódromo como adequada para a circulação de pedestres. Apesar disso, a circulação de pedestres acaba sendo prejudicada pela aridez do local, onde há uma precariedade, no geral, de vegetação de sombreamento. Na área, há vários pontos de ônibus, que se concentram ma joritariamente nos eixos das grandes avenidas, como a Presidente Castelo Branco (Leste Oeste) e a Filomeno Gomes. Apesar disso, elas atendem ao raio de caminhabilidade desse trecho.
02
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Diagnóstico
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MOBILIDADE URBANA | TRECHO II No mapa abaixo verifica-se que o trecho II possui a maior quantidade de pontos de ônibus, suprindo o raio de caminhabilidade. Todavia, a situação dos passeios é bem precária. A mobilidade fica comprometida quando não há essa integração entre os modais, ou seja, as pessoas que usam o transporte público encontram vários problemas ao caminhar, variando desde a largura e pavimentação dos passeios, como também a existência de elementos que obstruem a passagem.
Av. Pres. Castelo Branco
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
01 04 02
Av. F ran cis
co S á
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Limite do Trecho II
Linha leste METROFOR
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Boa qualidade dos passeios Média qualidade dos passeios
Pontos de Ônibus 0
100
200
Péssima qualidade dos passeios 300m
Além disso, as áreas mais críticas são as margens do riacho. Sem alternativas, a população acaba disputando espaço com entulhos e lixos, desviando o caminho para a própria pista de rolamento dos automóveis, o que dificulta ainda mais os vínculos entre o riacho e a população. No trecho II, se encontra uma ciclovia, na avenida Sargento Hermínio, todavia só supre cerca de 400 metros do bairro. Apesar de ser um trecho que a circulação de pedestres é bem ativa, na área encontram-se também um grande fluxo de automóveis particulares, existindo vários pontos de trânsito intenso, como na av. Francisco Sá e Rua São Paulo.
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Diagnóstico
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MOBILIDADE URBANA | TRECHO III Comparando com os demais trechos, o III é onde se encontra melhor infra estrutura em relação aos passeios. Na avenida Duque de Caxias encontram-se majoritariamente em bom estado, com larguras e pavimentação adequada. Nessa área, se percebe uma grande movimentação de pedestres, ocasionada pela presença de universidades e colégios na área.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
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que
Limite do Trecho III
Linha leste METROFOR
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Boa qualidade dos passeios Média qualidade dos passeios
Pontos de Ônibus 0
06
Av. D u
100
Péssima qualidade dos passeios 200
300m
de C
axia
s
As características das calçadas do restante dessa região, por sua vez, são bem diferentes. As vias incorporam passeios muito altos, o que faz com que as pessoas optem pelo tráfego na pista de rolamento dos carros. O lixo também é um dos problemas que impossibilitam a passagem dos pedestres e se encontram, principalmente, nos passeios ao longo das margens do riacho. Aqui também não existe nenhuma infra estrutura para os ciclistas, e nenhuma estação do bicicletar foi encontrada no bairro. Assim como no trecho I, os pontos de parada de ônibus concentram-se nos eixos das principais avenidas e ruas da região, mas atendem à necessidade de locomoção da população para diversos bairros polarizadores de atividades comerciais e institucionais, como a Aldeota e o Edson Queiroz.
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Diagnóstico
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06 02
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Conjunto Urbano de Relevante Interesse Cultural - SECULTFOR / CPCH Tombamento estadual - SECULTFOR Bens em processo de tombamento Bens de relevância patrimonial 0
200
300
500m
DiagnĂłstico
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BENS PATRIMONIAIS HISTÓRICOS Como já visto anteriormente, o bairro Jacarecanga foi palco do crescimento e da história da cidade, trazendo até hoje alguns exemplares desse período. Dentro da importância histórica e cultural dessa área, o bairro inteiro foi reconhecido pela Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (SECULTFOR) como Conjunto Urbano de Relevante Interesse Cultural. Ocupado anteriormente pelas classes mais favorecidas, o bairro abrigou inúmeros protótipos da arquitetura histórica de Fortaleza, onde muitas delas já foram demolidas para dar espaço a novas edificações. As novas tipologias arquitetônicas da região acabam por confrontarem os exemplares históricos os quais perdem sua visibilidade para as novas construções.
Além disso, muito desses imóveis encontram-se vazios ou subutilizados, reforçando o processo de degradação dos mesmos. Alguns estão cercados por muros, dificultando a visualização e o reconhecimento de sua relevância para a cidade, como a Residência Acrísio Moreira da Rocha (05).Dentro desse contexto, vale ressaltar a localização de uma edificação histórica, de grande valor patrimonial, inserida nas margens do riacho Jacarecanga. Apesar de já consolidado, o local da Antiga Vacaria Adriano Martins (03) é um exemplar da histórica ocupação desordenada ao longo dos recursos naturais e, infelizmente, é também um imóvel que encontra-se em completo abandono e, por conseqüência, em péssimo estado de conservação.
Diagnóstico
Apesar da importância do bairro como um todo para a memória da cidade, muitas dessas edificações estão em péssimo estado de conservação. Tem-se como exceção a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (01), que foi tombada e dado um novo uso. O restantes dos imóveis reconhecidos como importantes patrimonialmente ainda aguardam o processo de tombamento.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Ainda assim, apesar da deficiência de conservação desse patrimônio é, através dele, que a área tem grandes potencialidades a serem exploradas, dando não somente ao bairro, mas à cidade como um todo, a oportunidade de valorizar os resquícios do nosso passado. Escola de Artes e Ofício Thomaz Pompeu
Prédio à Fco. Sá
01
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Local da Antiga Vacaria Adriano Martins
Vila Filomeno
03 Residência Acrísio Moreira da Rocha
04 Bangalô Aristides Capibaribe
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Cemitério São João Batista
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Diagnóstico
Corpo de Bombeiros
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RECURSOS AMBIENTAIS - TRECHO I Como já mencionado anteriormente, o trecho I é caracterizado pelo encontro do riacho Jacarecanga com o mar. Ao longo de todo percurso, o riacho deságua diretamente no oceano e, pela proximidade com mesmo, a área possui uma maior influência litorânea. É dentro desse limite que se encontram os declives mais acentuados do bairro, variando em média de 5 à 10 metros entre a avenida Presidente Castelo Branco (conhecida como Leste Oeste) e a faixa de praia.
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
02 04
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Limite do Trecho I
Suposto talvegue
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Curva de nível mestra
Cobertura Vegetal: Arborização 0
100
200
300m
Curva de nível intermediária Áreas de grande declive
Nesse limite o riacho Jacarecanga fica completamente submerso em galerias subterrâneas, sendo impossível a visualização em praticamente todo o seu percurso. Apenas na sua foz, quando deságua no mar, se consegue observá-lo, juntamente com uma grande quantidade de lixo e a canalização direta de esgoto. Nesse trecho o riacho Jacarecanga e suas margens não são considerados áreas de proteção ambiental, contudo a faixa de praia corresponde a uma Área de Preservação Ambiental 2 (ZPA2). A grande maioria da vegetação presente nessa área corresponde a vegetação típica do litoral brasileiro, que são árvores de grande porte conhecidas popularmente como coqueiros, que proporcionam pouco sombreamento e, portanto, um menor conforto térmico. Ao longo do Jacarecanga se encontra, em menor quantidade, uma vegetação de maior porte e frutífera, incluindo o ca jueiro, que oferece um maior sombreamento, melhorando o micro clima da área.
02 Diagnóstico
01
03
99
04
05
RECURSOS AMBIENTAIS - TRECHO II Nesse trecho o riacho Jacarecanga possui praticamente todo seu percurso a céu aberto, porém em muitos pontos encontramos barreiras visuais que o torna imperceptível à população. São grandes muros que impossibilitam à visualização do riacho, desvalorizando seus potenciais paisagísticos e criando pontos de insegurança na região.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
01
04
02
03
100
05
Limite do Trecho II
Suposto talvegue
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Curva de nível mestra
Cobertura Vegetal: Arborização 0
100
200
300m
Curva de nível intermediária Áreas de grande declive
O riacho, completamente canalizado, caracteriza-se por ser uma das faixas mais largas do riacho. É justamente nesse ponto que observa-se uma maior quantidade de lixo e a canalização direta de esgoto. Praticamente todo o percurso nesse trecho é caracterizado pela vegetação ribeirinha. Em alguns pontos percebemos árvores de grande porte sobrevivendo mesmo com a enorme quantidade de lixo ao redor. A fauna do local fica comprometida pelo assoreamento do riacho e pela presença de resíduos sólidos em suas margens, ocasionando o surgimento de pragas urbanas, como ratos, insetos, etc. A partir desse trecho o riacho já é considerado uma Área de Preservação Ambiental (ZPA1), onde vemos a ocupação irregular que varia desde unidades habitacionais até indústrias.
02
Diagnóstico
01
03
101
04
05
RECURSOS AMBIENTAIS - TRECHO III No último trecho encontramos a vegetação de forma mais abundante, sem muita interferência humana. Apesar disso, assim como no restante do riacho, têmse a canalização direta do esgoto, provocando a poluição direta das águas do Jacarecanga. Nessa área, o riacho tem seu percurso completamente murado.
01
04
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
05
02 03
102
Limite do Trecho III
Suposto talvegue
Riacho Jacarecanga (Subterrâneo)
Curva de nível mestra
Cobertura Vegetal: Arborização
Curva de nível intermediária Áreas de grande declive
0
100
200
300m
Em entrevista com um morador da área, pode-se identificar a problemática da insegurança, gerada por essas áreas muradas ao longo do riacho. Segundo Sr. Antônio, 39 anos, as margens do recurso hídrico é local de usuários de drogas e esconderijo de assaltantes.
01
02
Diagnóstico
03
103
04
05
01
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
02
03 04
Bairro Jacarecanga Poluição do riacho Jacarecanga
104
Áreas de risco Presença de lixo 0
200
300
500m
Segundo os dados do Inventário Ambiental de Fortaleza, o riacho Jacarecanga é identificado com um alto grau de poluição, fato que pode ser percebido visivelmente. Isso porque foram identificado o acúmulo de lixo orgânico e inorgânico, além dos dejetos provenientes da canalização direta do esgoto. Como vemos na tabela abaixo, o Jacarecanga apresenta uma baixíssima taxa de oxigênio dissolvido, além de altos índices de coliformes fecais. A turbidez da água é a mais alta de todos os recursos hídricos da bacia Vertente Marítima. Por isso, ele é caracterizado como fortemente poluído. Análise da qualidade da água | Riacho Jacarecanga Condutividade de (mS/cm) 6,72
0,72
2
Turbidez
OD (mg/L)
Temp
Salinidade
Coliformes
(UNT)
(+-1,5)
(C)
(%)
fecais
65
2,54
31,2
0,3
>16.000 (NPL/1000)
Fonte: Inventário Ambiental de Fortaleza e SEMACE | Tabela elaborada pela autora.
Além disso, como qualquer recurso hídrico natural, suas margens são impróprias à ocupação. Mesmo assim, constatou-se a apropriação irregular de inúmeras edificações, situando-se em áreas de preservação, com alto índice de alagamento. Além disso, a má qualidade da água do riacho torna a ocupação nas margens mais perigosa, no tocante a proliferação de doenças. O lixo não se encontra apenas na água, mas se distribui inclusive nas faixas dos passeios. A faixa de praia, terreno de marinha, é uma Zona de Preservação Ambiental 2 (ZPA2), sujeita a interferências naturais e, portanto, inadequada à ocupação. Apesar disso, encontramos unidades habitacionais, comércios e até edificações institucionais na faixa de praia.
Diagnóstico
PH
105
106
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
01 02
03 04
Recursos Naturais
1. Riacho Jacarecanga 2. Presença da orla Marítima 3. Presença de vegetação ribeirinha
Problemáticas
1. Canalização direta de esgoto no riacho 2. Assoreamento do rio 3. Degradação da mata ciliar 3. Presença de resíduos sólidos 4. Ocupação irregular das margens 5. Pouca e/ou nenhuma visualização do riacho 6. Desconexão do curso d’água com sua foz
1. Abastecimento de Água 2. Coleta de Lixo 3. Esgotamento Sanitário
1. Má iluminação pública 2. Falta e/ou má qualidade de mobiliário urbano
Sistema Viário
1. Vias de importante conexão com diversas áreas da cidade 2. Linhas do METROFOR 3. Grande diversificação de linhas de ônibu
1. Má pavimentação das vias 2. Pouca infraestrutura de passeios 3. Priorização do automóvel ao pedestre 4. Falta de infraestrutura para transportes alternativos 5. Pontos de trânsito intenso
Uso do Solo
1. Diversificação dos usos dos lotes 2. Presença de diversas edificações institucionais 3. Abrangente acervo do Patrimônio histórico da cidade 4. Edificações subutilizadas com potencial de uso
1. Presença institucional às margens do riacho Jacarecanga 2. Degradação e abandono do patrimônio histórico 3. Moradias em áreas de risco
Infraestrutura
Aspectos Sociais
Legislação
1. Vida pública intensa 2. Presença de equipamentos de lazer
1. Presença de Zonas de Preservação Ambiental 2. Criação de uma Instrução Técnica (COMPHIC) que regulamenta futuras construções na área
1. Insegurança 2. Pontos de esvaziamento noturno 3. Equipamentos urbanos em má qualidade 1. Descumprimento da legislação vigente 2. Precária divulgação e fiscalização da Instrução Técnica da COMPHIC
Diagnóstico
Potencialidades
107
05 O PARQUE TIMBÓ
“Quando a união entre o natural e o produzido se completar, nossas construções aprenderão, se adaptarão, curarão a si mesmas e evoluirão.” Kevin Kelly
110
Bairro Jacarecanga
Riacho Jacarecanga
0
100
300
500m
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
PLANO DE INTERVENÇÃO A partir da leitura do território e da análise das dinâmicas que regem o Jacarecanga, foi possível identificar os seus principais problemas e potencialidades. As visitas em campo e entrevistas com os moradores foram elementos fundamentais para que fosse elaborada a proposta de intervenção. O principal foco da intervenção será o riacho Jacarecanga, que é uma das principais potencialidades da área, sendo a partir dele toda a concepção do projeto. A proposta se baseia na criação de um parque urbano ao longo do riacho, que vai desde sua nascente até sua foz, visando proporcionar um espaço público de lazer multifuncional, com enfoque socioeducativo, ambiental e de inclusão e convívio social, em uma área carente desse tipo de equipamento.
Parque Timbó
As decisões projetuais, por sua vez, foram baseadas no diagnóstico da área, visando um objetivo em comum: o melhoramento da qualidade vida das pessoas, bem como a qualidade ambiental do espaço. A proposta é que a população passe a se apropriar do parque de tal forma que consiga modificar a relação existente entre o meio urbano construído e o meio natural. Assim, o conceito do projeto é a reintegração do riacho Jacarecanga com o seu entorno, transformando-o em um eixo estruturador da região, em seus diferentes aspectos.
111
O CONCEITO
Proporcionar a prática de esportes
Preservação e valorização do Patrimônio Histórico
Valorização do Pedestre
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Integração da População
112
Proporcionar Espaços de Lazer Infraestrutura para Transportes Alternativos
Valorização da Paisagem Natural
Integração do Homem com a Natureza
Fortalecimento da Cultura
Entrelaçamento do Homem com o Rio
PROGRAMA DE NECESSIDADES Como já visto no capítulo anterior, foram identificadas diferentes dinâmicas no decorrer do recurso, o que impulsionou a criação de três zonas. Buscou-se respeitar e preservar os aspectos característicos de cada uma delas, desde à cultura e apropriação do espaço, até os elementos físicos já existentes. O programa de necessidades de cada zona foi, portanto, baseado no diagnóstico de cada setor, onde a proposta era sanar as problemáticas existentes e potencializar suas qualidades.
Zona Esportiva
Zona Cultural
Zona Ambiental
Como o próprio nome sugere, nesse trecho foram identificados inúmeras atividades voltada para práticas esportivas, variando desde a corrida ao surfe. O objetivo é criar opções de lazer e recreação ao ar livre, modificando a relação do homem com esses espaços. Além disso, a proposta visa aproveitar as dinâmicas já existentes no local para melhorar a infra estrutura dessas atividades e expandir a gama dos serviços ofertados. Para isso, foi proposto alguns equipamentos de caráter esportivo, que serão as dinâmicas ma joritárias nessa área. Alguns outros serviços serão ofertados, que estarão presentes em todas as zonas, como a infraestrutura cicloviária e os quiosques de alimentação.
Parque Timbó
Zona Esportiva
113
Espaços lúdicos Academia ao ar livre Pista de skate Quadras poliesportivas Campos de futebol Escola de surfe Centro de esporte e cultura
Zona Cultural
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Esse trecho apresenta uma enorme quantidade de edificações de patrimônio histórico-cultural e, por esse
114
motivo, foi caracterizada para ser uma zona cultural. Muitos dos imóveis patrimoniais encontram-se sem uso e/ou em péssimo estado de conservação. Tomando isso como base, identificou-se a necessidade de implantar, nessa área, equipamentos que valorizem a cultura e a história do bairro, bem como da cidade. Sendo assim, a proposta visa a reutilização de algumas edificações para compor o programa de necessidades voltado à cultura, história e lazer da população, a fim de que o patrimônio histórico possa ser valorizado. Além disso, a intenção é fazer com que a história construída se mescle harmonicamente com a história natural, valorizando, principalmente, os recursos ambientais da área. Nas margens do riacho encontra-se uma edificação em processo de tombamento que era o Local da Antiga Vacaria Adriano Martins. A proposta é utilizar-se desse elemento para a criação de um centro cultural de Memória do Jacarecanga, dando utilidade ao imóvel e proporcionando atividades culturais aos moradores do bairro. Nesse trecho também se encontram resquícios de um passado industrial, com a presença de antigas fábricas, hoje sem uso. A preservação desses espaços é de fundamental importância na memória do bairro,
que viveu várias dinâmicas diferentes ao longo de sua existência e, por isso, a proposta é também preservar esses espaços, dando-lhes o uso de pavilhões culturais que atenderam as demandas da população. Centro Cultural de Memória do Jacarecanga Pavilhões culturais Espaços de exposições ao ar livre Anfiteatro Memorial Adriano Martins
Zona Ambiental
A terceira e última corresponde à zona ambientall. Isso porque a área apresenta a maior parte da cobertura vegetal resguardada e, por isso, será destinada ma joritariamente à preservação desses espaços, aliado com a correlação entre ele e as pessoas. A área contará com tos que incentivam à meio ambiente, além ambiental da área em
uma gama relação das de manter seu estado
de equipamenpessoas com o a característica de conservação.
Trilha ecológica Áreas de contato com a água Áreas de contemplação Áreas de piquinique
Área comum
Parque Timbó
Arvorismo
115 Ciclovia Quiosques de alimentação Áreas de descanso e convivência
O PARTIDO Como já visto anteriormente, o conceito principal do projeto é a reintegração do meio natural com o meio urbano construído. Sendo assim, o partido do projeto do Parque Timbó surge a partir de dois pontos focais: o Riacho Jacarecanga (Figura 126) e as Ruínas da antiga Fábrica São José (Figura 127).
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
O riacho, como o principal recurso ambiental da área, é estabelecido como eixo estruturador do projeto, representando todo o meio natural. As ruínas da antiga Fábrica São José, por sua vez, surgem também como ponto focal. Representando o meio urbano construído e o processo de ocupação do Jacarecanga, a antiga edificação acaba personificando todo o acervo histórico e arquitetônico do bairro. Surge no partido como elemento representativo da valorização do patrimônio histórico, bem como da harmonização entre o natural e o construído.
116 Figura 126: Riacho Jacarecanga. Fonte: Acervo pessoal da autora, 2015.
Figura 127: Ruínas da fábrica Filomeno Gomes. Fonte: Acervo pessoal da autora, 2015.
Instalada no bairro por volta do ano de 1926, a edificação era conhecida como Fábrica de Tecidos São José, E é, portanto, do conceito de tecelagem que surge o partido do projeto: Tecelagem “te.ce.la.gem sf (tecelão+agem): 1 Ato ou efeito de tecer através de um entrelaçamento de fios de trama transversais’ (...)” “TECELAGEM”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha]. 2008-2013. Disponível em <http:// www.priberam.pt>. Acesso em 23 de março de 2016. Assim, todo o projeto organiza-se em volta do riacho Jacarecanga, tendo como princípio básico o da tecelagem: O ENTRELAÇAMENTO. Portanto, cria-se um entrelaçado de linhas, de uma forma mais orgânica, representando o riacho e a reinserção dele na paisagem. Além disso, esse entrelaçado corresponde a mescla dos aspectos ambientais, paisagísticos, arquitetônicos e históricos como forma de planejamento da área.
Parque Timbó
A proposta é, através desse conceito, expandir os limites do recurso hídrico e de suas margens para o entorno, reafirmando a integração do meio urbano natural com o construído.
117
EVOLUÇÃO DO PARTIDO Para o desenvolvimento da proposta, demarcou-se elementos considerados determinantes da área, como o riacho, as ruínas e as edificações de valor patrimonial.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Escola de Aprendizes de Marinheiro
118
Ruínas da Fábrica São José Relevância Patrimonial Bangalô Aristides Capibaribe Relevância Patrimonial Antiga Vacaria Adriano Martins Riacho Jacarecanga
Parque Timbó
As linhas partem dos elementos de destaque de encontro ao riacho. Ultrapassam os limites do recurso hídrico e de suas margens, integrando-se de forma harmônica ao meio ambiente natural. Os caminhos sugerem a utilização desses espaços, bem como uma continuidade entre eles ao longo de todo o riacho. Respeitando as dinâmicas da área, os usos e as massas vegetais propostas acabam por reforçar o percurso indicado da área.
119
PARQUE TIMBÓ O Sistema Viário Para viabilizar o projeto do parque Timbó, foi proposto uma modificação no sistema viário do entorno. Algumas vias receberão infraestrutura cicloviária, que se ligará diretamente com a ciclovia interna do parque.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
O cruzamento do parque com as ruas e avenidas do local receberam o sistema conhecido como “traffic calming”, que corresponde a uma série de medidas que buscam reduzir os efeitos negativos do trânsito, buscando a criação de um ambiente seguro e agradável para o pedestre. O sistema utilizado será o de platô, que corresponde a uma plataforma elevada construída com blocos de concreto na cor vermelha (figura 131). O objetivo é a redução da velocidade do automóvel e a acessibilidade dos níveis entre o parque e as vias, permitindo uma travessia segura e confortável do pedestre.
120 Figura 131: Exemplo de platô - traffic calming. Fonte: Manual de medidas moderadoras de tráfego.
Parque Timbó
121 Implantação de ciclovia | ciclofaixa Sistema de traffic calming 0
100
300
500m
PARQUE TIMBÓ Implantação Geral
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Tendo como base os conceitos e o programa de necessidades estabelecidos, a implantação geral mostra o rebatimento do partido já citado no desenho urbano. Foram criados caminhos principais, que conduzem os usuários aos grandes equipamentos de lazer, cultura e esporte do parque Timbó. Interligando todos os setores do parque, esses caminhos ultrapassam os limites do riacho onde, em determinado percurso, deixam de ser apenas uma paginação de piso e tornam-se pontes de travessia.
122
Seguindo uma hierarquização, os caminhos principais caracterizam-se por terem dimensões maiores (seis metros de largura) e são reforçados pela presença de uma vegetação mais densa, de grande porte. Os caminhos menores acabam por conduzir sempre em direção aos caminhos principais, onde a hierarquização do espaço se dá também através da vegetação. Para promover a revitalização do riacho e do entorno, grandes áreas verdes foram criadas, seguindo a legislação prevista pelo CONAMA que determina uma margem vegetal mínima de 50 metros a partir do curso d’água. A integração do parque com a cidade também se deu através da implantação de uma ciclovia, que se conectará com o bairro, por meio de uma nova proposta do sistema viário. A ciclovia tem seu início no trecho II e vai de encontro à proposta na avenida Presidente Castelo Branco. Para melhor compreensão do projeto, a área foi divida em cinco setores, que serão apresentados mais adiante.
0
100
200
Trecho V
300m
Parque Timbรณ
Trecho IV
123
Trecho III
Trecho II
Trecho I
VEGETAÇÃO
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
O paisagismo do parque foi pensado com o intuito de proporcionar aos usuários do espaço público um maior conforto térmico e garantir a qualidade da paisagem natural. Deu-se preferência às espécies nativas que, além de favorecerem o desenvolvimento da fauna local, se fazem coparticipantes no processo de revitalização dos rios. Além disso, toda massa vegetal existente foi preservada e integrada harmonicamente com a vegetação proposta.
124
Demarcando todo o caminho principal do parque, a espécie arbórea, mais conhecida como oiti, a licania tomentosa proporciona um grande sombreamento dessas áreas, reforçando o percurso. Implantada também nas margens do riacho, essa espécie é uma das mais indicadas para a revitalização de cursos d’água, tendo em vista sua grande adaptação a períodos de cheias e secas. Da mesma família do oiti, mas de menor porte, a oiticica (licania rígida) se faz presente no eixo dos caminhos secundários, ao longo de todo o percurso do parque. O ponto de entroncamento dos caminhos, por sua vez, é enfatizado ganhando uma vegetação diferenciada, com características físicas marcantes, como é o caso do Jacarandá mimoso. Árvore de grande porte e conhecida pelo efeito paisagístico que proporciona, a sibipiruna (coesalpina peltophoroides) foi escolhida para realçar certas áreas, como os espaços lúdicos. Proporciona uma ampla área de sombreamento e por não produzir raízes agressivas, é pertinente à arborização urbana. Além disso a árvore de grande porte conhecida como cedro (cedrela odorata) foi usada majoritariamente nas áreas do arvorismo, por ser uma espécie forte e de grande porte, servindo de sustentação às plataformas de passagem.
Por fim, a árvore de pequeno porte, denominada popularmente como pau branco (auxema oncocalix), foi pensada para estruturar áreas de contemplação e próximas ao patrimônio histórico, causando uma melhoria na paisagem natural, sem conflitar com a paisagem arquitetônica existente. Licania tomentosa Oiti
Licania rígida Oiticica
Representação gráfica
Representação gráfica
Cedrela odorata Cedro
Representação gráfica
Auxema oncocalix Pau Branco
Parque Timbó
Coesalpina peltophoroides Sibipiruna
Jacaranda mimosifolia Jacarandá mimoso
125 Representação gráfica
Representação gráfica
Representação gráfica
Representação gráfica Árvores existentes
Bougainvillea glabra
Nasturtium officinale Agrião
Sphagneticola trilobata Vedélia
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
O RIACHO JACARECANGA Para que a revitalização do riacho aconteça de forma adequada e eficiente, a proposta visa a descanalização do recurso, com o objetivo de restaurar seus aspectos biológicos. A princípio, o objetivo era renaturalizar o rio, mas entendendo que ele faz parte de uma bacia, seria inviável renaturalizar apenas um trecho dela. A proposta para o riacho procura aproximar-se o máximo possível de uma renaturalização, através da retirada das barragens de concreto que hoje contêm o Jacarecanga. Sabendo que o recurso hídrico encontra-se em uma área completamente consolidada, a contenção do mesmo faz-se necessária, todavia a proposta visa a implantação de técnicas mais amenas, que exerçam sua função estrutural, mas viabilizem também o desenvolvimento da vida natural no recurso.
126 A técnica de contenção escolhida, portanto, foi a do gabião, que é caracterizada por ser uma estrutura confeccionadas em telas metálicas, preenchidas com pedras e areia.
As vantagens desse método de contenção são muitas, a começar pela principal delas: serem estruturas permeáveis. Pela próprio material com que é produzido, o gabião é uma estrutura permeável e, portanto, autodrenante. Se integram rapidamente ao meio circundante, possibilitando o desenvolvimento da fauna e flora local. O crescimento da flora, por sua vez, acaba consolidando ainda mais a estrutura da contenção, tendo em vista que ali as raízes das árvores se fixam, aumentando o peso e a estabilidade da estrutura. Além disso, são estruturas flexíveis, e práticas, não necessitando de mão de obra especializada. Possui um alta resistência estrutural e apresentam custos diretos e indiretos mais baixos, se comparadas a outras com a mesma resistência. São mais facilmente passíveis a modificações e manutenção, além de serem duráveis. No projeto, foram utilizados dois tipos dessa técnica: o gabião tipo caixa e o gabião tipo colchão reno. O gabião tipo colchão reno tem como principal função atuar como revestimento flexível de fundo de cursos d’água. Já o gabião tipo caixa atua na contenção direta das margens.
Figura 143: Detalhamento estrutura gabião utilizada no riacho Jacarecanga. Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Parque Timbó
127
TRECHO I O primeiro trecho encontra-se na zona esportiva onde há a presença ma joritaria de equipamentos voltados a esse tipo de atividade. Muitos desses elementos já existiam no local, como é o caso do campo de futebol, mas sua orientação encontrava-se errada, prejudicando a qualidade do esporte.
01 8 7 6 54
02
03
04
05
06
07
01
08
3 2 1
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
9 10 11 12
128
13 14
1 15
2 3 4 5
Escala 1:2500
01
07
7
09
10
11
12
01 Quiosque de Alimentação
05 Quadra de areia
02 Escola de Surfe
06 Área de proteção ambiental 10 Ciclovia
03 Campo de futebol
07 Espaço lúdico
11
04 Arquibancadas
08 Academia ao ar livre
12 Mercado dos peixes
09 Quadra poliesportiva
Passarela
6
A proposta então modificou a orientação geográfica do campo, e acrescentou duas quadras poliesportivas e uma quadra de volêi de praia. Com base na demanda do lugar, instalou-se também uma escola de surfe que servirá de apoio a muitos dos praticantes desse esporte. Localizado em cima do riacho, existia uma espécie de mercado dos peixes, onde os moradores da comunidade vizinha utilizavam-se do espaço, sem nenhuma infraestrutura, para venda de seus pescados. Com a proposta de reabrir o riacho Jacarecanga, a mudança do mercados dos peixes aconteceria para uma edificação ao lado, dotada de infraestrutura e localizada bem próximo as barracas de praia, facilitando assim a comercialização dos produtos.
Piso drenante cor crema Terra batida Grama
Parque Timbó
Piso drenante cor marfim
Além disso, a proposta implanta inúmeros equipamentos que atenderiam principalmente à comunidade local. São instalados pontos de quiosques de alimentação, possibilitando uma melhoria social para os moradores. Academias ao ar livre e espaços lúdicos também encontram-se presentes nessa área, criando novas opções de lazer para os moradores e frequentadores do lugar. É através de uma passarela humanizada que acontece a interligação desse trecho com o restante do parque, proporcionando segurança ao pedestre.
129
Figura 145: Perspectiva do trecho I do Parque Timbó - Zona esportiva. Modelagem: autora | edição: Daniel Wenderson.
TRECHO II
01
13
12
02
03
11
10
04
9
05
06
02
01
03
07
08
8
5 6 7 8
9 10
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
11
130
14 12 13 14
15
15
PROJ. LINHA FÉRREA
16
15
15
13
Escala 1:2500
09
10
03
11
03
06
12
06
09
01 Quiosque de alimentação
05 Passarela
09 Área de contemplação
02 Espaço lúdico
06 Centro de esporte e cultura
10 Campo de futebol
03 Quadra poliesportiva
07 Ciclovia
11
04 APP
08 Bicicletário
12 Pista de skate
Piso drenante cor crema Terra batida Grama
O segundo trecho é marcado pela mescla de atividades culturais e esportivas das duas zonas. Nessa área existe a Escola de Aprendizes de Marinheiro, edificação que se encontra no bairro há mais de 150 anos. Por isso, é considerada de relevância histórico -patrimonial. Todavia, a mesma não se integra com o restante do bairro, causando grandes problemas urbanos e sociais na área, como por exemplo: a insegurança pública. Além disso, é a única área em que o riacho encontra-se oculto da paisagem urbana. Com a proposta de reabertura do Jacarecanga, se faz necessária a intervenção nessas edificações. Todavia, sabendo que a mesma faz parte da história do bairro, a proposta é desapropriar apenas o seu uso, preservando os principais imóveis que a compõem. A escolha para um novo uso das edificações deu-se pela necessidade observada no processo de diagnóstico, sabendo que a área incorpora duas grandes comunidades: o Moura brasil e o Pirambu. Sendo assim, o espaço agora contemplaria um centro cultural e esportivo, com um programa de necessidades compatível com o de um CUCA, sendo de menor porte. Reaproveitando a infraestrutura esportiva já existente da escola, seriam acrescidas duas quadras poliesportivas e uma pista de skate. Assim como em todos os trechos do parque, a infraestrutura cicloviária, bem como os equipamentos de quiosques e espaços lúdicos também se encontram presentes no setor II.
Parque Timbó
Piso drenante cor marfim
Riacho Jacarecanga
131
Alambrado
Campo de futebol
Passeio
Passeio
Área verde
Área verde
É nesse setor que encontra-se a linha férrea. Hoje, o Veículo leve sobre trilhos (VLT) circula pelo local e suas características de velocidade são in-
O corte esquemático abaixo mostra a intenção da proposta para a linha férrea.
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
compatíveis com existência do parque Timbó. Sendo assim, a proposta para a linha férrea é soterrá-la nesse trecho, chegando a cerca de 16 metros abaixo do nível inicial do riacho Jacarecanga.
132
Riacho Jacarecanga
Área verde
Área verde
Centro de esporte e cultura
Passeio
Área verde
Passeio
Pista de skate
Passeio
10
20
30
40m
Parque Timbó
Ponte de pedestres
133
TRECHO III Nesse trecho encontra-se um rico acervo da história de nossa cidade. Marcado pela presença de várias edificações históricas, a área contempla um anfiteatro e pavilhões de exposições instalados nesses imóveis. 01
02
03
04
05
06
PROJ. LINH FÉRRE A A
15 15 15
14
13 15
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
134
13
Escala 1:2500
15
14
04
13
12
07
12
08
12
13
09
10
13
01 Memorial Adriano Martins
05 Anfiteatro
09 Área de contemplação
02 APP
06 Ruínas da fábrica São José
03 Ciclovia
07 Riacho Jacarecanga
10 Pavilhões de exposição
04 Quiosque de alimentação
08 Sistema de traffic calming
Piso drenante cor crema Terra batida Grama
Com uma ampla área de proteção ambiental, a proposta é que os elementos construídos se integrem ao meio natural, tomando, inclusive, partido deles para sua concepção, como é o caso do anfiteatro. Assentado sobre um grande talude, proporciona à população, além do conforto térmico, uma valorização do visual das ruínas da antiga Fábrica São José. Criando assim, uma dupla valorização dos aspectos ambientais e históricos da área. O tratamento realizado nas ruínas foi a abertura de todas as suas entradas e implantação da massa vegetal. Além disso, foram dispostas pilastras em aço corten, demarcando o limite da antiga fábrica.
Figura 150: Anfiteatro - Zona cultural. Modelagem: autora | edição: Daniel Wenderson.
Pensando na valorização da edificação, a espécie arbórea escolhida para o local foi o pau branco (Auxema oncocalix), por ser de pequeno porte e pelo aspecto paisagístico de sua floração. Em contraste, ao redor do palco, optou-se pela utilização do arbústo vedélia.
Parque Timbó
Piso drenante cor marfim
135
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Passeio
Ciclovia
Área verde
Anfiteatro
Segundo Leitão (2015), por volta do 1994 os operários do sanear descobriram um cemitério histórico da cidade, sob o asfalto da rua Adriano Martins. Tomando o relato como partido, o trecho da mesma rua recebeu uma grande área de contemplação, com uma paginação de piso que remete a dinâmica de um cemitério. O desenho urbano proposto naquela área, por sua vez, não se resume apenas a uma paginação de piso. A modulação de 2x5 metros deixa, em determinado momento, de ser apenas uma paginação e surgem volumes sólidos, de alturas diferenciadas, que tendem a ser apropriados pela população de diferentes formas.
136
Área de convívio e contemplação
Quiosque
Área de convívio e contemplação
Pilastras em aço corten
Ruínas Fábrica São José
Passeio
Palco anfiteatro
10
Ruínas Fábrica São José
20
30
40m
Memorial Adriano Martins
Parque Timbó
Figura 152: Memorial Adriano Martins - Zona Cultural Modelagem: autora | edição: Daniel Wenderson.
Volumes
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Memorial Adriano Martins
Memorial Adriano Martins
Área de convívio e contemplação
Quiosque
Área de convívio e contemplação
10
20
30
40m
TRECHO IV
15
14
13
12
07 01
12
08
09 02
12
16
10
17
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
03
11
01 04
05
06
14
01
17
12
16
01 06
15
13 15
138
Escala 1:2000 15
14
14
01 Área de contemplação
06 Riacho Jacarecanga
02 Trilha ecológica
07 Ciclovia
03 Museu Jacarecanga
08 Área de piquinique
Sistema de traffic calming Administração Parque 11 Timbó10 12 Espaço lúdico
04 Bicicletário
09 Contato com o rio
12 Quiosque de alimentação
05 Ponte de travessia
Piso drenante cor crema Terra batida Grama
No trecho quatro, o objetivo da intervenção é valorizar o patrimônio-histórico através do meio urbano natural. Dois dos exemplares históricos da cidade encontram-se inseridos nas margens do riacho. A proposta é criar grandes áreas de drenagens, que amenizem os impactos sobre os imóveis lá instalados em períodos de cheias. Além disso, através da apropriação de um novo uso, a iniciativa visa obter êxito no processo de recuperação dessas áreas. O local da antiga Vacaria Adriano Martins terá sua primeira operação de restauro através da criação de um Museu de Memória do Jacarecanga. O local contará a história do bairro, bem como da cidade de Fortaleza, realizando atividades sócio-culturais. A outra edificação histórica abrigará a administração do parque Timbó. Procurando restaurar a relação entre o homem e o meio ambiente, propõe-se a criação de uma trilha, que leva os frequentadores do parque a uma área de contato direto do homem com o riacho. Ali também encontram-se estruturas tensionadas, em meio à área de proteção ambiental, delimitadas para atividades como o piquinique. Parque Timbó
Piso drenante cor marfim
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Área de contato com o riacho
Estrutura tensionada
140 Passeio
Passeio Área verde
Área verde
Riacho Jacarecanga
Área verde
10
Passeio
20
30
40m
Parque Timbó
Figura 155: Área de contato com o riacho - Zona Cultural Modelagem: autora | edição: Daniel Wenderson.
141
TRECHO V Por fim, o quinto e último trecho é caracterizado como sendo o que conversa maior área de cobertura vegetal nativa. Sendo assim, a intenção projetual foi manter sua potencialidade, criando novas dinâmicas a partir delas.
15
08 16 15
17
05 09
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
01
142
02
10 11 15
03
12
04 05 07
06
10
07 18
15
Escala 1:2000
17
16
15
01 Mirante
05 Quiosque de alimentação 09 Área de contemplação
02 Arvorismo
06 Academia ao ar livre
10 APP
03 Entrada arvorismo
07 Caramanchão
11
04 Espaço lúdico
08 Tirolesa
12 Sistema de traffic calming
Piso drenante cor crema Terra batida Grama
Com uma dinâmica mais ambiental, criou-se um grande circuito de arvorismo, por dentre as árvores existentes, conectando o homem com a natureza. O circuito leva a um ponto de encontro, que é uma espécie de mirante, de onde é possível ver o riacho e o seu entorno. É nesse ponto também que se encontra a tirolesa, que leva o usuário do parque à outra extremidade do recurso hídrico.
Figura 158: Mirante e Tirolesa - Zona Ambiental Modelagem: autora | edição: Daniel Wenderson.
Ainda nesse trecho é estabelecido uma área de descanso e lazer para população. Dois caramanchões marcam os espaços de contemplação. A área é composta também pela presença de espaços lúdicos e academias ao ar livre, atendendo a necessidade da demanda residencial presente no entorno.
Parque Timbó
Piso drenante cor marfim
Riacho Jacarecanga0
143
Arvorismo
Mirante
Arvorismo
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Passeio
Riacho Jac
Quiosque
Caramanchão
144
Passeio
Quiosque
Passeio
Área verde
Acesso ao arvorismo
Área verde
Passeio
10
20
30
40m
Caramanchão
Parque Timbó
carecanga
Tirolesa
145
Riacho Jacarecanga
Área verde
10
Passeio
20
30
40m
MOBILIÁRIO URBANO
Quiosques de alimentação
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Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
Parque Timbó
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MOBILIÁRIO URBANO Bicicletário
Trabalho Final de Graduação Uma proposta de revitalização do riacho Jacarecanga
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MOBILIÁRIO URBANO Banco | Passarela
Parque Timbó
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente trabalho buscou-se discutir a importância dos recursos ambientais inseridos nos centros urbanos, bem como justificar os processos vinculados à degradação desses importantes elementos naturais. O meio urbano acabou se sobrepondo ao meio ambiental, trazendo fortes conseqüências às nossas cidades. Em períodos chuvosos, as áreas do Jacarecanga, bastantes impermeabilizadas pelo forte adensamento, acabam sofrendo com enchentes e alagamentos, fruto das alternativas de expansão da cidade. Apesar do cenário existente na maioria dos centros urbanos brasileiros, pode-se concluir que a cidade, como um organismo vivo, está sempre sujeita à mudanças e é, com base nisso, que vemos grandes exemplos de intervenções urbanas que re-integraram os rios às suas respectivas cidades. Tal fato nos mostra a eficiência desse tipo de projeto, nos dando uma perspectiva melhor para o futuro das nossas capitais. Assim, o Jacarecanga, sendo um bairro que abriga uma série de potencialidades, tanto ambiental, quanto econômica e cultural, pode ser considerado uma área muito propícia à requalificação. Além disso, a ambiência do bairro nos faz conhecer parte da história de Fortaleza, sendo ainda mais importante para a cidade. O riacho Jacarecanga surge como um ponto inicial para a revitalização do bairro, sendo apenas um dos elementos escolhidos para potencializá-lo. A revitalização do recurso vem como uma alternativa de re-integração do meio natural com o bairro e com a cidade. É preciso, antes de tudo, que essa relação harmônica entre o homem e os recursos naturais,
faรงa parte da nossa cultura e principalmente do planejamento de nossas cidade.
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