Ilustração: Jennifer Carriker
Manual DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
- Setembro de 2010 -
MANUAL DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
Sabemos que quando se trata de ajudar ao pobre, boas intenções não são suficientes. O teólogo Ronald Nash (livro Poverty and Wealth, 1986) mostrou como boas intenções combinadas com uma teoria ruim produzem políticas más, que prejudicam as próprias pessoas a quem deveriam ter ajudado. Muitas vezes, motivada por Cristo para ajudar o pobre, a igreja inclinou-se para análises e estratégias de assistência e desenvolvimento seculares. Outros cristãos, de pensamento mais gnóstico, preocuparam-se apenas com “coisas espirituais” e abandonaram sua herança de compaixão. Os dois, de formas distintas, esqueceram-se que Deus deve ser a fonte, o meio e o fim para tudo que fazemos com e para o pobre. Desta forma, a verdadeira caridade deve levar em consideração a história das pessoas. Devemos examinar as atitudes de um povo e seus valores culturais para determinar se eles promovem o desenvolvimento ou a pobreza. Então devemos expressar os princípios universais que provêm o solo fértil para desenvolvimento. Neste material você encontrará inicialmente a parte teórica sobre desenvolvimento comunitário, temas importantes a serem abordados para que um projeto de desenvolvimento alcance suas metas: cosmovisão, Reino de Deus e princípios. Posteriormente, abordaremos temas práticos: projeto semente, roteiro para um projeto maior e captação de recursos. Para elaborar este manual, A Rocha Brasil fez uso das informações existentes no manual utilizado no Seminário de Desenvolvimento Comunitário (SEDEC 2010) do CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral), livro “Discipulando Nações” (Darrow L. Miller, Editora FatoÉ Publicações, 2003), livro “Desenvolvimento de Liderança 2” (Robert C. Moffitt, Editora FatoÉ Publicações, 2002), manual sobre Captação de Recursos da Tearfund (ROOTS 6), artigo de Darrow V. Miller (“Cosmovisão e Desenvolvimento: O Poder da Verdade para Transformar a Pobreza”) e livro “O Reino entre nós: Transformação de comunidades pelo evangelho integral” (Maurício Cunha e Beth Wood, Editora Ultimato, 2003). Que este material possa abençoar imensamente seus leitores assim como as literaturas citadas acima têm enriquecido o trabalho d’A Rocha Brasil.
Equipe Rede de TransformAÇÃO – A Rocha Brasil Email: pea.brasil@arocha.org www.arocha.org
Apoio:
Setembro de 2010.
CONTEÚDO
COSMOVISÃO BÍBLICA E TRANSFORMADORA ......................................................................... 01 COSMOVISÃO, O QUE É? .............................................................................................. 01 AS TRÊS COSMOVISÕES PRINCIPAIS ............................................................................ 02 IMPACTO DA COSMOVISÃO NO DESENVOLVIMENTO ................................................ 03
O REINO DE DEUS ...................................................................................................................... 05
PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO .............................................................. 11 SANIDADE INTEGRAL, um adendo aos princípios de desenvolvimento ..................... 13
PROJETO SEMENTE ................................................................................................................... 15 MODELO – PLANEJAMENTO PROJETO SEMENTE ........................................................ 16 MODELO – PRESTAÇÃO DE CONTAS FINANCEIRAS ..................................................... 17 MODELO – RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO PROJETO SEMENTE ................................ 17 AVALIAÇÃO ................................................................................................................... 17
ROTEIRO PARA UM PROJETO MAIOR ....................................................................................... 18
CAPTAÇÃO DE RECURSOS ......................................................................................................... 19
COSMOVISÃO BÍBLICA E TRANSFORMADORA (texto adaptado do manual SEDEC/CADI) COSMOVISÃO, O QUE É? É a visão de mundo, segundo dicionário Aurélio; é o “sistema de crenças sagradas”, “suposições religiosas”, “pressuposição”, “história cultural”, “ideologia”, ou “paradigma”. Em outras palavras, é a forma como ordenamos o mundo, é ainda a forma como qualificamos os elementos da realidade baseado em nossa realidade de mundo. Cosmovisão nada mais é do que um conjunto de suposições (pressuposições) consideradas verdadeiras. É aquilo que cremos consciente ou inconscientemente. Desta forma, cada pessoa e cultura têm uma cosmovisão. Se for inconsciente, foi transmitida e aprendida através da aculturação ou socialização. Se for consciente, a pessoa examinou criticamente suas suposições e consequências. Por exemplo, no Norte do país não se adiciona limão ao açaí por se acreditar fazer mal a saúde (mesmo a medicina já ter comprovado que ocorre o contrário, o limão ajuda na assimilação no cálcio presente no açaí). Esta suposição sobre o possível mal do limão foi transmitida por gerações e gerações, portanto, trata-se de uma cosmovisão inconsciente. Por sua vez, as pessoas que passaram a adicionar limão ao açaí passaram a fazer uso de uma cosmovisão consciente, pois questionaram a antiga suposição (que o limão no açaí fazia mal). As três questões básicas do ser humano em relação à realidade e a vida são respondidas segundo nossa cosmovisão:
Fonte: Internet
1. Questões relacionadas ao ser: O que é realidade? O que é o ser humano? O trabalho é importante? Deus existe? 2. Questões morais: O que é certo? O que é errado? De onde vem o mal? O que é o belo? 3. Questões relacionadas ao conhecimento: O que eu posso saber e conhecer? Como eu posso conhecer? Existe verdade? Resumidamente, a cosmovisão seria como um par de óculos. A forma como enxergamos e lemos nossa realidade e nossa vida depende da lente que estamos usamos. Ela afeta o que vemos, mas não o que está para ser visto. Todos nós usamos um conjunto de lentes em nossas mentes, mas poucos percebemos sua presença. Para testar seus óculos, olhe a figura ao lado. O que você vê? Algumas pessoas veem uma mulher idosa, outros uma jovem. Na verdade, a figura contem as duas, mas seus óculos mentais individuais o predisporão para ver uma ao invés da outra. Mas o que a nossa cosmovisão ou história tem a ver com o desenvolvimento? Tudo. “Qualquer programa de desenvolvimento que falhe em levar em consideração o sistema predominante de crenças de um povo e as possíveis influências desse sistema de crenças no plano proposto de desenvolvimento, corre um sério risco de afundar antes de sair do lugar.” (Edward Stockwell e Karen Laidlaw, Third World Development, 1981). Assim como o solo no qual uma árvore está plantada tem um papel decisivo no seu crescimento, da mesma maneira os valores, atitudes e cultura de um povo determinarão se o seu desenvolvimento é saudável, raquítico ou
1
inexistente. Cremos que há uma história, uma cosmovisão que transforma pobreza em abundância; existe um conjunto de princípios, uma ética de desenvolvimento, que cria um terreno fértil para o crescimento. E é sobre esta cosmovisão que falaremos a seguir, comparando-a com outras duas muito comuns nos dias atuais. Para refletir: Que tipo de lente (cosmovisão) você tem usado para enxergar e interpretar o mundo a sua volta? Com qual lente (cosmovisão) você tem lido e interpretado os ensinamentos bíblicos?
2
AS TRÊS COSMOVISÕES PRINCIPAIS Existem muitas cosmovisões, mas aqui falaremos de apenas três que julgamos importantes: teísmo bíblico, secularismo e animismo. Quais são as consequências de se enxergar o mundo usando lentes do teísmo bíblico, ou lentes do secularismo, ou então as lentes do animismo? Tentaremos responder estas perguntas. Basicamente, na visão teísta bíblica sobre a realidade há um Deus criador e sua criação. Este Deus está separado de sua criação, porém mantém um relacionamento muito íntimo e pessoal com ela. Na realidade secularista, existe a natureza (matéria) e aquilo que chamamos de “além”, ou seja, o secularista nega toda e qualquer existência de uma realidade espiritual ou transcendente. E na animista1, deus e criação são um elemento único, em outras palavras, a realidade animista é essencialmente espiritual, o mundo físico é “animado” por espíritos. Enquanto no teísmo bíblico a realidade é fundamentalmente pessoal, no animismo ela é espiritual e no secularismo ela é material. Veja no quadro abaixo uma breve comparação entre estas cosmovisões.
Governante Perspectiva Ser humano Papel do ser humano
ANIMISMO Natureza Biocêntrica Espírito Vítima adoradora
TEÍSMO Deus Teocêntrica Imagem de Deus Mordomo
SECULARISMO Ser humano Antropocêntrica Animal superior Consumidor de recursos
Veja também como cada uma destas cosmovisões analisa o problema da pobreza no mundo:
Sobre naturalismo Causa do problema Métodos para solução O alvo
1
COSMOVISÃO E ANÁLISE DO PROBLEMA DA POBREZA Animismo Teísmo O ser humano está afastado de Deus, Enchentes; Secas; Doenças e afetando assim os interenfermidades. relacionamentos humanos e com a criação. Queda do ser humano; O pecado A ira dos deuses; Espíritos maus; pessoal e coletivo; Dureza de coração, Carma. mente caída. Conversão pessoal e cultural, Sacrifícios; Indulgências; Meditação; compartilhando do conhecimento de Submissão a vontade dos deuses; Deus; Trabalho; Compaixão; Passividade. Responsabilidade pessoal. Harmonia com a natureza e com os Harmonia com o Criador; Cura deuses; Desaparecimento do ego. substancial; Integridade física e moral.
Secularismo Pobreza física; Subdesenvolvimento crônico. Nações ricas; Injustiça; Estruturas erradas. Revolução; Redistribuição dos recursos; Autoritarismo; Os fins justificam os meios; Programas de governo. Igualdade material; Justiça econômica.
Segundo dicionário Aurélio, animismo é o “modo de pensamento ou sistema de crenças em que se atribui a seres vivos, objetos inanimados e fenômenos naturais um princípio vital pessoal, isto é, uma alma.”
Ter conhecimento sobre as cosmovisões vigentes é importante porque elas se difundem rapidamente, através dos oceanos, sociedade e pelos séculos; moldando indivíduos, culturas, nações e o fluir da história:
Cosmovisões propagam-se horizontalmente. Geograficamente, começam com um indivíduo e difundem-se a seus discípulos, que levam a mensagem a comunidade, a nação e por fim, ao mundo. Ideias também penetram verticalmente em cada esfera da vida, moldando os valores, as estruturas sociais, e as instituições de uma cultura. Ideias também se difundem através do tempo. Hoje, com o advento das modernas tecnologias de informação, as ideias requerem menos e menos tempo para se espalharem – para o bem e para o mal.
Portanto, se você busca viver e causar um impacto na sociedade brasileira por meio das culturas, deve examinar a cosmovisão em três áreas críticas: 1. Você precisa conhecer sua própria cosmovisão pessoal, que normalmente é derivada da cultura dominante no país; 2. Você precisa estudar a cosmovisão das pessoas com as quais você está vivendo e trabalhando; 3. Todo cristão precisa tornar-se cristão consciente, arrepender-se de suas falsas visões e abraçar a realidade de Deus (teísmo bíblico). Segundo George Grant (livro The Micah Mandate, 1995), “Agostinho (de Hipona) reconheceu que inevitavelmente a cosmovisão dominante das pessoas molda o mundo que as rodeia. E ele também reconheceu que a igreja é o ponto de início para o desenvolvimento desta cosmovisão quando esta cumpre seu chamado para fazer justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus o Todo Poderoso”. Para refletir: Como você vê que isso afeta sua congregação/comunidade/igreja?
IMPACTO DA COSMOVISÃO NO DESENVOLVIMENTO Anterior ao modernismo, a cosmovisão predominante do ocidente baseava-se na existência de um Deus transcendente, infinito, pessoal, que existia antes de tudo. Deus criou o universo tanto animado como inanimado, espiritual e físico, à parte de si, mas não independente dele. Deus é tanto transcendente (fora de sua criação) como imanente (presente dentro dela). Ele está em todo lugar presente e envolvido, imanente na história. O universo não é um sistema fechado, está aberto ao propósito e intervenção de Deus. Com o passar do tempo, sem se dar conta, os cristãos caíram na antiga dicotomia grega, dividindo o universo em um espaço espiritual, que era considerado sagrado, e o espaço físico, visto como profano. Fé, teologia, ética, missão, vida devocional e evangelismo foram colocados no plano espiritual e considerados de primordial importância. Razão, ciência, negócios, política, arte, música e atendimento das necessidades físicas das pessoas, ocuparam um plano inferior, o plano físico.
3
Deste modo, atualmente, os cristãos sofrem de “dupla personalidade”. Sua vida está dividida em compartimentos: o “religioso”, o que fazem quando vão à igreja ou a um estudo bíblico; e o “secular”, seu trabalho, recreação e educação. Milhões de crentes atuam segundo esta cosmovisão, que Darrow Miller chama de gnosticismo evangélico. Sem nunca ter ouvido o desafio de serem cristãos conscientes (arrepender-se de suas falsas visões da realidade e abraçar a realidade de Deus) em suas vidas diárias, eles estão conformados com o padrão do mundo e têm uma mente secular.
4
O que tudo isso tem a ver com o trabalho de desenvolvimento? Quase tudo. Os princípios fundamentais de uma cultura, a história que ela aceita como verdadeira, os sonhos, ideias e visão do seu sonho fornecem o fundamento para seu desenvolvimento. Porém, como já foi dito, obreiros em ministérios de ajuda também precisam examinar suas próprias cosmovisões. Muitas pessoas envolvidas em ministérios de compaixão são ativistas que optam por programas com alvos físicos. Eles querem saber quem, onde, quando e como. Preocupam-se com estratégias, métodos, pessoal, recursos, currículos e instituições. Contudo, muitas vezes se esquecem de que suas práticas surgem de políticas de desenvolvimento enraizadas em certa cosmovisão. O que é desenvolvimento? O que faz com que o trabalho de desenvolvimento seja cristão? A história de um trabalhador de desenvolvimento determinará o tipo de programa que ele implanta. Lembrem-se, ideias têm consequências, especialmente as centradas em cosmovisões. Sistema sagrado de crenças (cosmovisão) •Qual a natureza do conhecimento, da existência, do bem e do mal.
Valores pessoais e culturais •Critérios, ética, ambiente, alvos, idéias, hábitos do coração.
Conceito de desenvolvimento •Definições, identificando problemas, propondo soluções, metas, objetivos, teorias.
Programa de desenvolvimento •Estratégias, recursos humanos, currículo, metodologia, instituições, estruturas.
Ideias têm consequências! Frutos: consequências Galhos: comportamentos Tronco: valores Raízes: crenças
Para refletir:
“Não há um só centímetro, em todos os domínios da nossa vida humana, sobre o qual Cristo, o Senhor de tudo, não clame: “É MEU!” (Abraham Kuyper).
Fonte: Internet
Nós somos feitos à imagem de Deus, homens e mulheres (Gênesis 1:27); somos co-criadores com Deus (Gênesis 1:26; 2:19); somos agentes de Deus e não meros expectadores (Jeremias 5:1). E não se preocupe, Deus usa os pequeninos para fazer Sua obra (Eclesiastes 9:14-16).
O REINO DE DEUS... (texto de Darrow L. Miller, retirado de seu artigo “Worldview and Development: The Power of Truth to Transform Poverty” [Cosmovisão e Desenvolvimento: O Poder da Verdade para Transformar a Pobreza], p. 31-38).
O cristianismo perdeu o Ocidente. O Ocidente vive um estado de decadência moral e cansaço espiritual. A decadência começou com o abandono da cosmovisão bíblica e continuou com a influência bárbara do Secularismo, chegando à sociedade ocidental. A ascensão da cultura pósmoderna (neo-animista) dominou a última década do século 20. A Igreja da nossa geração abandonou a cultura muito depressa. Está esperando o céu, esquecida de sua missão. Por quê? O que aconteceu? Esquecemo-nos do Reino de Deus e de que a nossa tarefa é discipular nações. Stanley Jones, estadista missionário na Índia, declarou: “O Reino é a resposta total de Deus para a necessidade total do homem”. Muito interessante! Gálatas 3:8 diz que as Escrituras previam que Deus iria justificar os gentios pela fé e anunciou o Evangelho primeiro a Abraão. Qual foi o Evangelho que Ele anunciou primeiro a Abraão? Todas as nações serão abençoadas através de você. Esta é a boa notícia. A boa notícia do Reino de Deus. Jesus ensinou e pregou a boa notícia do Reino de Deus e modelou o Reino de Deus com a própria vida. Antes de examinarmos alguns dos elementos críticos do Reino, vamos definir o Reino de Deus. A definição mais simples é: o Reino de Deus é todo o ambiente onde Cristo, o Rei, reina. Portanto, o Reino de Deus é qualquer lugar onde Cristo está reinando. Cristo está reinando em sua vida? Então o Reino de Deus está aí. Cristo está reinando em sua igreja? Então o Reino de Deus está lá. O Reino de Deus pode estar numa igreja local, numa comunidade, ou numa nação onde Cristo está reinando. Outra maneira de dizer isto é que o Reino de Deus é o lugar onde é feita a vontade de Deus. O que oramos na Oração do Pai Nosso? “Venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. Primeiro, oramos pela volta de Cristo com o Seu Reino. Depois, oramos por nós mesmos, para que o Reino possa ser manifestado hoje em nossas vidas. Se você está plantando uma igreja, que tipo de igreja vai ser? Mateus 25:31-46 descreve a volta de Cristo como Rei. Quando Ele voltar, Ele vai separar as ovelhas dos bodes. O fator diferencial entre os dois é o ministério da compaixão. As ovelhas manifestaram compaixão; os bodes não. Precisamos edificar igrejas do Reino que sejam sal e luz para as suas comunidades, dispostas a criticar a cultura desses lugares e a se posicionar ao lado da justiça e da verdade em meio à corrupção. Precisamos criar igrejas que entendam que precisam santificar todas as áreas da vida. Precisamos construir igrejas que entendam que o caráter de Deus é compassivo e que Ele quer manifestar a Sua compaixão através da Igreja. Precisamos discipular cristãos do Reino e edificar igrejas do Reino se queremos que o Reino venha. Agora vamos ver os sete elementos que descrevem a natureza do Reino de Deus. Primeiro, o Reino é revelado na pessoa de Jesus Cristo, o Rei. Colossenses 1:19 diz que em Jesus Cristo habita toda a plenitude de Deus. O que Jesus revelou na carne? Ele revelou como Deus é. Ele pôde dizer: “Quem me vê, vê o Pai”. Mas, Ele também revelou na carne como é o Reino de Deus. Alguém afirmou que nós construímos nações de acordo com o deus que cultuamos. Edificamos instituições baseados no deus que cultuamos. Que tipo de deus cultuamos? Ao
5
olhar para qualquer instituição ou examinar uma nação, você poderá ter uma ideia. Não devemos simplesmente viver a vida cristã dentro do contexto da nossa cultura; temos de vivêla diante da face de Deus de forma que ajudem a redimir a nossa cultura e a edificar a nossa nação. O Reino é revelado na pessoa de Cristo. Segundo, o Reino é abrangente. É inteiramente inclusivo. O que Colossenses 1:20 diz: “... e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas...”, diz que Cristo veio redimir? Todas as coisas. Por que Cristo morreu na cruz? Para salvar almas? Sim. Mas, isso é tudo? Não! Por que Cristo morreu na cruz? Para salvar o homem. Sim. Mas, isso é tudo? Não. Por que Ele morreu na cruz? O que diz a Palavra de Deus? Reconciliasse consigo todas as coisas, não só a alma do homem, não só o homem. Ele quer reconciliar com Ele todas as coisas. Talvez ainda não acreditemos nisto, por isso Paulo escreve: “... tanto as coisas que estão na terra quanto as que estão no céu”. Por que Cristo morreu? Para restaurar algumas coisas? Poucas coisas? Não, para restaurar todas as coisas para Ele mesmo. Vamos verificar Romanos 8:18-23. Na leitura desta passagem, procure ver o que Paulo diz que está esperando a redenção. Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados coma glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. A criação foi sujeitada à queda. O que Paulo está dizendo com estar aguardando a redenção? Toda a criação! Quatro vezes Paulo diz que toda a criação está aguardando a redenção. Depois disso, ele fala dos filhos de Deus. Quem são os filhos de Deus? Eu sou. Se você é cristão, você é. O que Paulo diz que a criação está aguardando? Ele diz que a criação está aguardando a revelação dos filhos de Deus. O que isto quer dizer? Que fomos declarados santos e justos; agora devemos viver vidas santas e justas para os nossos semelhantes e para a criação. Por meio da justificação, fomos declarados filhos de Deus. Quando recebemos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, fomos adotados na família de Deus. Na medida em que crescemos em Cristo, vamos ficando cada vez mais parecidos com o nosso Pai, revelando o nosso ser como filhos e filhas de Deus. Expressamos mais a Sua natureza. Expressamos mais o que significa ser um ser humano pleno. Expressamos mais o que Deus nos criou para sermos. Leia novamente o versículo 21. O que a criação toda está esperando? “A própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Do que a natureza vai ser redimida? Da escravidão da decadência. Para que ela vai ser redimida? Para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. A natureza está ansiosamente esperando que estejamos maduros em Cristo para podermos ser mordomos de tudo o que Deus criou. Ao amadurecermos como cristãos, veremos a necessidade de nos posicionarmos contra o mal natural no mundo, lutarmos contra a fome e a pobreza, sermos bons mordomos da natureza. Os cristãos deveriam estar liderando, não
6
seguindo, o movimento ecológico. Por que deveríamos estar liderando esse movimento? Porque somos filhos de Deus e Deus está redimindo todas as coisas para Si mesmo. Deus está em ação libertando toda a criação. A abrangência da Sua ação é a humanidade toda e todos os nossos relacionamentos. Não é só libertar as almas para o céu. Isto é o que o pietismo diz: “Só precisamos salvar almas para o céu”. O liberalismo diz que nós não precisamos nos preocupar com a alma; precisamos nos preocupar com o corpo. O que diz o Reino de Deus? Que tudo precisa ser redimido. O todo precisa ser redimido. Cosmovisão é a maneira completa de ver, e o Reino é a maneira completa de viver. Se grandes áreas da nossa vida são “incircuncisas”, então grandes áreas da nossa cultura serão “nãoredimidas”. Vamos redimir a cultura somente até ao nível em que as nossas próprias vidas forem circuncisas. Se somente os nossos corações forem circuncisos, se somente a nossa parte espiritual for circuncisa, jamais conseguiremos redimir as nossas culturas. Terceiro, o Reino de Deus santifica o comum. Isto significa que o Reino de Deus dá dignidade às coisas que o mundo chama de servis. De acordo com 1 Coríntios 10:31: “Assim, quer vocês comam, quer bebam, ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus”. O que é que temos de santificar? O nosso comer e o nosso beber. As coisas comuns. Zacarias 14:2021 ilustra isto muito bem: Naquele dia será gravado nas campainhas dos cavalos: SANTO AO SENHOR; e as panelas na casa do Senhor serão como as bacias diante do altar. Sim, todas as panelas em Jerusalém e Judá serão santas ao Senhor dos Exércitos; todos os que oferecerem sacrifícios virão, lançarão mão delas e nelas cozerão a carne do sacrifício. Naquele dia já não haverá mercador na casa do Senhor dos Exércitos. Viu o que diz? Nas panelas vai estar gravado SANTO AO SENHOR. As campainhas dos cavalos vão ter a inscrição SANTO AO SENHOR. Quando o Reino de Deus chega numa casa, as coisas pequenas e insignificantes tornam-se santas. Quando tratamos bem as pequenas coisas, estamos gravando nelas “Isto é santo ao Senhor”. Outra maneira de dizer isto é que nós temos de viver todas as áreas das nossas vidas diante da face de Deus. Os reformadores usavam a frase em latim coram Deo. Eles saudavam uns aos outros com “Viva hoje coram Deo” - viva hoje diante da face de Deus. Não é só quando estamos na igreja que devemos viver diante da face de Deus. Quando e onde devemos viver diante da face de Deus? A toda hora e em todo lugar. Antigamente, quando as pessoas entendiam este conceito, algumas mulheres tinham na cozinha uma placa na qual estava escrito: Cultos de adoração três vezes ao dia neste lugar. O que esta mulher tinha entendido? Ela estava vivendo diante da face de Deus. Ela não era cristã só quando estava na igreja. Ela não era cristã só quando estava fazendo o seu devocional ou quando estava fazendo um estudo bíblico. Quando ela era cristã? Em todos os momentos da sua vida. Assim, quando estava em casa preparando a refeição para a família e para os convidados, ela entendia que aquilo era um ato de culto ao Deus vivo. Vou dar outra ilustração: Eu estava participando de um culto numa igreja muito pobre, que a missão Food for the Hungry [Alimentando os Famintos] ajudou a começar em Huarina, Bolívia.
7
A maior parte dos membros dessa igreja era lavradores pobres. Qual é a posição dos lavradores na maioria das sociedades? Muito baixa. São olhados de cima. As histórias culturais da maioria dos países dizem que se você trabalha com a terra, você não é nada. Os líderes da igreja me perguntaram se eu gostaria de saudar as pessoas da igreja. Fiquei em pé, abri as Escrituras e li Gênesis 2:8: “E plantou o Senhor um jardim no Éden, da banda do Oriente...” O quê? O Senhor tinha plantado um jardim. Deus é jardineiro. Ele plantou um jardim. Pude ver os semblantes daqueles lavradores se iluminarem. Eles eram lavradores. Mas, quem mais era lavrador? Deus. A dignidade pode ser restaurada. Você está na agricultura. O Deus do universo é um jardineiro! Você já tinha pensado nisto? Ele quer que tragamos todo o pensamento cativo a Cristo. Não pensamos mais assim. Pensamos que Deus é somente o Deus do espiritual. Mas, Ele é Deus de tudo, ou não é Deus de nada. Ele é Deus da vida inteira. Você vive diante da face de Deus em todas as áreas da sua vida? Você é cristão só quando está na igreja? E no trabalho? Você já pensou o que significa ser um cristão que é engenheiro? O que significa ser um cristão que é educador, médico, comerciante ou construtor? Se pensarmos como os gregos, estaremos preocupados em ser cristão só no reino espiritual. Deus quer que sejamos cristãos em todas as áreas das nossas vidas. Se este pensamento é novo para você, eu gostaria de incentivá-lo a começar a desenvolver uma teologia bíblica para o seu chamado. Comece a ler a Bíblia para ver o que ela diz sobre a sua vocação. Você sabia que a Bíblia tem mais a dizer sobre economia e negócios do que sobre salvação das almas? É isto mesmo. Mas nunca lemos com olhos que veem isto. Mas, muitas vezes, uma pessoa de negócios cristã é cristã na igreja e pessoa de negócios nos negócios. Talvez seja hora de começar a desenvolver um par de óculos bíblico para o seu chamado vocacional. Quarto, o Reino está aberto a todos. João 3:16 é o famoso convite para o Reino. Deus estende a Sua oferta do Reino não só para os judeus, mas também para os gentios. É para escravos e livres, para homens e mulheres. Gálatas 3:28 diz: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. Você não precisa pertencer a uma raça em particular ou a um grupo étnico ou a um determinado sexo para poder ser convidado a entrar no Reino de Deus. O Reino transcende a culturas. Deus estende o convite para o Seu Reino a todas as pessoas: “Venha e submeta-se ao Rei e entre no Seu Reino.” Quinto, o Reino é “agora e ainda por vir”. A oração em Mateus 6:10 diz: “Venha o Teu Reino...” O que estamos pedindo ao orarmos assim? “Jesus, venha com o Teu Reino. Ele ainda não está aqui. Por favor, Senhor, traga-o”. Isto é o futuro; o Reino está para vir. E depois o que ela diz? “Seja feita a Tua vontade...” Quando? Agora. Este é o aspecto presente do Reino. Nós devemos estabelecer as regras do Reino em nossas vidas, em nossas comunidades e nações hoje. É um misto misterioso de estar aqui agora, e ainda estar por vir. O Reino de Deus está dentro de você. O Reino de Deus está fora do universo, mas dentro de mim. É agora e ainda por vir. Sexto, o Reino de Deus é inabalável. Vamos ver Hebreus 11:10. “Pois ele [Abraão] esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus”. Abraão esperava alguma coisa. Deus disse: “Abraão, saia da sua nação, deixe o seu povo, e vá para o deserto”. O que Abraão procurava no deserto? Uma cidade. Que cidade? A Cidade de Deus. Preste atenção a estas palavras: “a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus” (Este é um
8
“pensamento bônus”). Deus um arquiteto? O que está escrito? Que Ele é um arquiteto. O que mais? Ele é um edificador [um construtor]. O Deus do universo é construtor e arquiteto. Os engenheiros que existem no meio de vocês não querem deixar de fazer engenharia. Deus é um engenheiro. O que significa ser arquiteto para um cristão? Deus é um arquiteto. Ele quer falar em todas as áreas. Em Hebreus 11:13-16, encontramos outra referência ao Reino inabalável. Todos estes ainda viviam pela fé quando morreram. Eles não receberam as promessas; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, uma pátria celestial. Por isso, Deus não se envergonhava de ser chamado o Deus deles, pois preparou-lhes uma cidade. Nós pertencemos à “geração microondas” da Igreja: queremos tudo instantaneamente. Deus não trabalha com microondas, mas com MACROondas. Deus trabalha na história, em multigerações. As pessoas mencionadas em Hebreus 11 ainda estavam vivendo pela fé quando morreram! Se Deus faz uma promessa e nós não a recebemos no mesmo instante, qual é nossa reação? Pensamos que há alguma coisa errada conosco ou com Deus. Mas, Hebreus 11 fala de pessoas que viram a cidade de Deus diante delas, procuraram-na e morreram sem receber a promessa. Eles foram firmes e inabaláveis. Você está disposto a viver a sua vida deste modo? Isto é, andar na fé. E o versículo 16 diz: “Por isso, Deus não se envergonhava de ser chamado o Deus deles”. Você não gostaria de ter isto como o seu epitáfio? Não seria maravilhoso saber que Ele não se envergonhava de nós? Como conseguimos isso? Mantendo a promessa diante de nós, sendo inabaláveis, confiando Nele até a morte. Hebreus 12:28-29 afirma: “Portanto, já que estamos recebendo um reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, pois o nosso Deus é um fogo consumidor”. Note a frase em itálico e tente imaginar isto. O Reino das Trevas e o Reino da Luz estão sendo construídos lado a lado. Deus está construindo o Seu Reino em todo o mundo hoje. Ao mesmo tempo, Satanás está trabalhando freneticamente na construção de um reino de mentira. Olhando para o mundo, podemos ver todo o tipo de atividade acontecendo. Grande parte do que Satanás está construindo chega a impressionar. É muito atraente; resplandecente. Atrai! Grande parte do que Deus está construindo as pessoas não veem. São pessoas agindo em silêncio, despretensiosamente. São pessoas que visitam os presos, alimentam os que têm fome, vestem os nus, abrem as suas casas para estranhos, cuidam de viúvas e cuidam de órfãos com AIDS. Esse é o Reino de Deus, e você pode não percebê-lo. Mas, um dia, vai acontecer um abalo. O mundo todo vai ser sacudido. E o que vai desabar? Tudo o que Satanás construiu. Vamos olhar e ficar admirados de ver que Deus esteve construindo o Seu Reino em nosso meio. O reino abalável vai ser um monte de entulhos. O Reino inabalável será revelado em toda a sua glória. Durante a primavera de 1997, estive em Belo Horizonte, visitando a base da JOCUM. Lá, um grupo de 15 Jocumeiros cuidava de mais de dez bebês infectados com o vírus HIV. O mundo nem sequer sabe que lá existe uma base. Aquelas crianças são crianças “jogadas fora”. Mas o
9
Reino de Deus está naquela base. Diversas agências na China trabalham com órfãos. “Crianças jogadas fora”. Sem nomes, sem história, sem registro de nascimento. Quando os orfanatos ficam lotados, algumas crianças são colocadas em “quartos da morte”, onde são deixadas sem comida, até morrer. Há uma equipe da Alimentando os Famintos trabalhando lá. O mundo não sabe que estas coisas estão acontecendo. Deus está construindo o Seu Reino e Satanás está construindo também o seu. Um dia vai acontecer um abalo e, quando esse abalo acontecer, o Reino das Trevas vai desmoronar e virar um monte de entulhos. Mas, o Reino inabalável vai permanecer e a glória de Deus vai ser revelada. Outro dia, Gary Stephens me contou que quando a JOCUM iniciou o seu trabalho em Hong Kong, há muitos anos, eles fizeram o trabalho que ninguém queria fazer, e sem o dinheiro necessário para realizá-lo. Esse trabalho não chamou a atenção do mundo. Portanto, se você está trabalhando num lugar quieto e está vendo o reino de Satanás avançando à sua volta, não desanime, porque quando vier o abalo, a obra do Reino de Deus será revelada. Sétimo, o Reino de Deus é ofensivo. Leia Mateus 16:18: “E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. O reino de Satanás não vai vencer a igreja. Até cerca de seis meses atrás, eu pensava que a posição da Igreja era defensiva, a Igreja estava na defensiva. Quem estava na ofensiva? Satanás. Mas, o que diz a Bíblia? “Eu vou edificar a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Para que servem as portas de uma cidade? Para impedir a entrada do exército atacante. As portas são defensivas. Jesus disse que as portas do inferno não vão prevalecer contra as investidas do Reino de Deus. Quem está na defensiva? Satanás. Quem está na ofensiva? Os cristãos têm que estar na ofensiva. A igreja não pode só ficar reagindo aos ataques de Satanás. Precisamos estar na ofensiva desafiando o seu reino. As portas do inferno não vão aguentar os ataques do Rei! Jesus derrotou Satanás na cruz! A morte de Cristo foi um ato ofensivo contra Satanás. Colossenses 1:15 diz que Cristo triunfou sobre os principados e potestades na cruz. Lá Ele foi um conquistador vitorioso. As portas do inferno não vão prevalecer contra o avanço do Reino de Deus! Devemos estar na ofensiva. Jesus Cristo derrotou Satanás! Na batalha decisiva da guerra, a guerra espiritual nos lugares celestiais, Jesus venceu. Jesus é vitorioso! E Ele não foi vitorioso só na ressurreição. Ele foi vitorioso na cruz! A cruz foi a vitória de Cristo sobre Satanás. A arma mais poderosa de Satanás contra nós era o medo da morte. Jesus enfrentou a morte de frente. Na cruz, Jesus encarou Satanás e não piscou. Foi uma luta. Ele segurou as lágrimas. Clamou ao Pai. Mas foi soberano na cruz. Ele escolheu a cruz e a Sua vitória veio na cruz. O Reino de Deus está na ofensiva. Temos uma mentalidade defensiva? “Não podemos discipular nações, é impossível”? Não, podemos. Não somente é possível, mas vai acontecer (se não no nosso turno, vai ser numa futura geração de cristãos), porque o propósito de Deus na história é que a glória das nações seja revelada quando Jesus voltar com o Reino. Ele venceu a morte para que você não precise mais temer a morte. Ele morreu não para nos livrar DO sofrimento, mas para nos livrar PARA o sofrimento. Há uma batalha acontecendo e nós somos do exército do Rei. Sangue vai ser derramado, mas as portas do inferno não prevalecerão. Celebremos a vitória que é nossa!
10
PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO Até aqui aprendemos que não chegaremos onde queremos, a menos que comecemos do lugar certo e apontemos para direção certa, e que nossa abordagem deve ser sempre a teocêntrica. Neste sentido, para que o Reino de Deus venha até nós por meio do desenvolvimento comunitário é necessário ter em mente alguns princípios, que devem nortear nossos projetos. São eles: 11
1. Visão Equilibrada de Ministério Marcos 2:1-12 – Cura do paralítico. Contemplação e Ação: “Cremos firmemente que, quando colocamos Deus no centro de nosso ministério de apoio aos menos favorecidos, buscando nele a força, a direção e a unção para o trabalho, dispostos também a pormos as mãos no arado, sem nos perdermos em discursos e apenas boas intenções, não há limites para o que Deus pode fazer e usar em nossas vidas. Vamos crer que o nosso trabalho de dimensão social é de fato uma manifestação do reino de Deus e, por mais que tenhamos os recursos financeiros e o know-how técnico, é uma obra de fé.” – O Reino entre nós, p. 99. 2. Visão Integral do Ser Humano Gênesis 1:27, 29-30; 2:18-20. Reconhecimento da realidade complexa do ser humano: suas necessidades físicas, sociais e espirituais. Amor incondicional às pessoas (não se trata de isca para o evangelismo). 3. Trabalho Preventivo Impedir que os males aconteçam. É mais eficiente. É mais barato. “O trabalho de desenvolvimento comunitário constitui-se num forte elemento de prevenção, pois atua nas próprias comunidades, no seio das famílias, onde está a origem de todos os problemas sociais e de onde fluem todas as suas sequelas. Somente com famílias restauradas, alcançadas por Cristo, no seio das nossas comunidades, quebraremos o círculo vicioso da dor e da destruição de vidas, sem termos de ficar apenas ´correndo atrás do prejuízo´, longe de alcançarmos resultados realmente transformadores.” – O Reino entre nós, p. 103. O que a igreja tem feito no âmbito preventivo? 4. Identificação Filipenses 2:5-8 – Jesus tornou-se semelhante a homens: devemos amar suficiente o povo a ponto de nos tornar um deles. 1 Coríntios 9:19-23 – Paulo se faz igual aos outros.
“Quando estamos servindo na comunidade para a qual fomos chamados, temos de ser, dentro do nosso alcance, como um do povo. Esse é o princípio que envolve ações diárias de sabedoria. O agente de desenvolvimento sábio é amado e respeitado pelo povo justamente porque ele o ama e respeita. Ele afirma o que o povo afirma, desde a música, a comida, a cultura, os valores, a tradição, a história, a forma de se relacionar, até os seus projetos e sonhos futuros. Em vez de querer implantar o seu próprio estilo de vida e cultura, ama o suficiente o seu povo a ponto de se tornar um deles. Tudo isso, desde que nenhum destes fatores culturais contrarie algum princípio da Palavra de Deus, a nossa regra máxima de vida e conduta.” O Reino entre nós, p. 105. 5. Excelência Uma intervenção na comunidade pode tanto valorizar e dignificar quanto humilhar e desvalorizar as pessoas. Portanto, competência, motivação correta e testemunho eficaz são itens importantes na execução do projeto. “Muitos têm a tendência de pensar que ‘se é para os pobres, pode ser de qualquer jeito´. Acham que estão fazendo um grande favor em servir e doar coisas. Por isso a preocupação com a qualidade fica praticamente esquecida. No âmbito social a questão da excelência se transforma num forte fator de testemunho: um bom serviço prestado, até a transparência com questões financeiras; uma peça de roupa doada até a forma como tratamos as pessoas que participam dos nossos programas.” O Reino entre nós, p. 107. 6. Ênfase nos relacionamentos João 4:1-26 - Mulher Samaritana “O desenvolvimento está primordialmente baseado em relacionamentos. Programas e projetos são importantes, mas nunca poderão substituir a essência do processo, que são relacionamentos de amor e confiança com o povo.” O Reino entre nós, p. 108. “Não queremos projetos bem estruturados tecnicamente, mas com pouco ‘coração’.“ 7. Trabalho em equipe Uma boa equipe é essencial! Diversidade de formações, dons e ministérios; amizade antes de função; transparência, consenso e comunicação efetiva. Equipe: pessoas comprometidas, capacitadas, coordenadas e com os mesmos alvos. 8. Participação da comunidade “Uma das essências do trabalho de desenvolvimento comunitário é a participação. Se não incluirmos as pessoas como agentes ativos do processo, de forma alguma poderemos gerar desenvolvimento. (...) Para que haja um processo saudável, os esforços de desenvolvimento devem envolver as pessoas que estão sendo beneficiadas em todas as áreas, desde a identificação das necessidades, implementação do projeto, até a avaliação.” O Reino entre nós, p.111-112.
12
9. Paternidade X Paternalismo PATERNIDADE Oferece Respeita Liberta Fomenta a capacidade do filho Prepara para a responsabilidade Passa confiança e eleva a autoestima Responde às necessidades e expectativas do filho Realização do filho Permite e aprova Pelo outro
PATERNALISMO Impõe Humilha Prende Supõe que o filho é incapaz Fomenta a irresponsabilidade Transmite insegurança e necessidade de aprovação alheia Está a serviço de suas próprias necessidades Realização própria Ordena e proíbe Para o outro
10. Começando com o que eles têm João 6:1-13 – Primeira multiplicação (5 pães e 2 peixes). O maior recurso da comunidade é seu próprio povo. “Toda comunidade, por mais precária que seja, tem muitas coisas boas que Deus já plantou ali: recursos, pessoas, talentos, capacidades, atitudes de solidariedade, cooperação, abertura para mudanças, vocação para o trabalho, esperança, etc. O agente de desenvolvimento sábio identifica essas qualidades e edifica o trabalho baseado nelas, maximizando o potencial do povo.” O Reino entre nós, p.115. 11. Igreja local como centro do processo de desenvolvimento A igreja é fonte de recursos humanos, local onde se viabiliza o cuidado pastoral, local de transformação, onde tanto a fé como o sentimento para com o próximo é correta.
SANIDADE INTEGRAL, um adendo aos princípios de desenvolvimento “Desenvolvimento pode ser definido como o processo de mudança ou transformação em que um indivíduo ou um grupo de indivíduos cresce em direção a melhores níveis de vida em todos os aspectos: físico, social e espiritual. Baseia-se no fortalecimento das pessoas e da comunidade, e no alcance das condições, informações e conhecimentos suficientes para que sejam capazes de resolver os seus próprios problemas.” (O Reino entre nós, p. 91). Para tanto, este tipo de transformação requer do executor do projeto o que chamamos de sanidade integral. Lidar com as cosmovisões do outro e seus problemas só é possível e saudável se estivermos em sintonia com Cristo. “Compaixão não é um sentimento! Compaixão verdadeira sempre gera ação. Por isso, o cristão que busca intimidade com Deus, mas não está disposto a se envolver numa vida de misericórdia, especialmente para com os pobres, ficará frustrado, desequilibrado e isolado. (...) Se a minha vida de compaixão não flui do meu relacionamento com Deus, logo me encontrarei
13
sobrecarregado pelas necessidades sem fim ao meu redor e acabarei oferecendo ´ajuda´ impessoal e institucionalizada, sem me envolver de coração. O nosso ministério deve ser profundamente pessoal, nos levando a dar, como Paulo, ´não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa própria vida ´ (1 Ts 2.8).” – O Reino entre nós, p. 81-82.
Ilustração: Jennifer Carriker
“Não poderemos ministrar ao povo aquilo que não temos ou não recebemos. Não poderemos levar esperança se não a carregamos conosco. Não poderemos lutar contra a miséria em nossas comunidades se carregamos dentro de nós uma mentalidade de miséria e avareza. Não poderemos ministrar reconciliação e paz se relutamos em perdoar aqueles que nos ofenderam. Somente em Deus e por meio de uma caminhada de maturidade espiritual teremos vida para transmitir.” – O Reino entre nós, p. 94.
14
PROJETO SEMENTE (texto adaptado do manual SEDEC/CADI) O que é? É um projeto de serviço ministerial, em escala bem pequena, feito/executado por igrejas, equipes missionárias, voluntário, etc., que demonstre o amor de Deus para as pessoas da comunidade. É uma demonstração tangível do amor de Deus aos não cristãos, de forma simples, descomplicada e feita com recursos locais em pouco tempo. Ele possui quatro áreas de impacto: sabedoria (conhecimento), física, espiritual e social (relacionamentos). Características do projeto semente: 1. Deve ser coberto com oração: é pela oração que recebemos a orientação e capacitação/poder do Espírito Santo para executar o projeto. O projeto começa em Deus; 2. Deve ser motivado pelos propósitos de Deus: fazemos o que fazemos por obediência a Deus; 3. Deve ser cuidadosamente planejado: Primeiro passo – DIAGNÓSTICO: identificar a necessidade/problema por meio de visitas ao local ou a pessoas que serão beneficiadas; Segundo passo – PLANEJAMENTO: identificar o propósito de Deus (base bíblica) para a necessidade levantada; descrever a atividade a ser executada (redação do projeto), tendo como base a necessidade diagnosticada; definir as áreas primárias e secundárias de impacto do projeto; listar as tarefas do projeto, as pessoas a serem consultadas, responsáveis, recursos e data/hora de conclusão de cada etapa (veja modelo na próxima página). 4. Deve ser um projeto simples, pequeno, descomplicado e de rápida execução (no máximo 2 dias): por ser pequeno, tem menos chance de dar errado; 5. Deve ser executado com recursos locais: deve-se mobilizar/envolver a comunidade local; 6. Deve ser executado sem discriminação: ele pode beneficiar qualquer membro da comunidade; 7. Aqueles que se beneficiam do projeto também devem participar dele, na medida do possível: isto promove o senso de pertencimento nas pessoas da comunidade e não gera paternalismo; 8. O projeto é avaliado pelos padrões do Reino de Deus. 9. Seu resultado deve ser a glorificação do nome de Deus: o fim do projeto é a glorificação do nome de Deus, e o louvor ao Rei. Exemplos do que É e do que NÃO É um projeto semente:
Montar um restaurante comunitário (NÃO) – Organizar um almoço comunitário (SIM); Organização de uma creche (NÃO) – Recreação de um dia em uma creche (SIM); Elaborar um curso de educação ambiental na escola (NÃO) – Organizar um dia de sensibilização para o consumo consciente na escola (SIM); Organizar a coleta seletiva de um bairro (NÃO) - Mutirão de limpeza de uma praia no fim de semana (SIM).
15
MODELO – PLANEJAMENTO PROJETO SEMENTE (modelo adaptado do manual SEDEC/CADI) Necessidade: __________________________________________________________________ Propósito de Deus: _____________________________________________________________ Nome do Projeto Semente: ______________________________________________________ Duas áreas de impacto: assinale P (primária) ou S (secundária): ( ) Sabedoria
( ) Física
( ) Espiritual
( ) Social
Texto bíblico que inspirou o projeto: ______________________________________________
Ações/responsável (O que?/Quem?) Exemplo 1: Montar apostila/Raquel Exemplo 2: Orar/coordenador do projeto e participantes
Computador, internet e literatura.
Data/horário, pessoas para contatar, data de conclusão (Quando?) Prazo: 1 dia para apostila ficar pronta.
Tempo especialmente designado para oração.
Orar em todas as reuniões de planejamento.
Recursos necessários (Com o que?)
Transformação esperada (resultado das ações): _____________________________________________________________________________ Critérios de avaliação: Recursos (humanos e financeiros) foram multiplicados? Pessoas foram abençoadas? (inclua um perfil: idade, gênero, quantidade, etc) O amor e propósito de Deus foram demonstrados? (utilize depoimentos) Deus foi honrado? (utilize depoimentos para responder esta questão) Orações foram respondidas? (utilize depoimentos para responder esta questão) O serviço foi feito com graciosidade (sem reclamações)? (utilize depoimentos) Se surgiram reclamações, quais foram os motivos delas? Vidas foram salvas (espiritual e fisicamente)? Quantas pessoas foram impactadas? Houve participação das pessoas da comunidade? (inclua um perfil destas pessoas)
16
MODELO – PRESTAÇÃO DE CONTAS FINANCEIRAS (modelo retirado do manual SEDEC/CADI) ENTRADAS Descrição Doação do comerciante João dos Santos
Exemplo
Valor R$ 10
17
Total
SAÍDAS Exemplo
Estabelecimento de compra Supermercado Estrela
Descrição Lanche
Valor R$ 20
Total
MODELO – RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO PROJETO SEMENTE (modelo retirado do manual SEDEC/CADI)
Atividade Exemplo 1 Corte de cabelo Exemplo 2 Recreação
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES Faixa etária (participantes)
Número (participantes)
15 a 50 anos
33
5 a 7 anos
10
AVALIAÇÃO (texto adaptado do manual SEDEC/CADI)
Apresentação dos PONTOS FORTES E FRACOS da própria equipe, do projeto em geral (planejamento e execução) e da participação da comunidade beneficiada; Apresentação de relatos dos beneficiados sobre o projeto e uma porcentagem de satisfação. (Durante a execução do projeto a equipe deve coletar os relatos e fazer uma amostragem de satisfação).
ROTEIRO PARA UM PROJETO MAIOR (roteiro retirado do manual SEDEC/CADI)
Uma comunidade não deve ser auxiliada apenas com Projeto Semente, ele é importante, porém não é suficiente para mudar a realidade da comunidade. Um Projeto Semente deve ser visto como uma porta de entrada, uma oportunidade para execução de um projeto mais consistente e contínuo na comunidade. Para ajudá-lo na elaboração de um projeto maior sugerimos o seguinte roteiro:
1. Descrição da comunidade alvo: principais características, localização, população, economia, nível de renda, etc. 2. Descrição de aspectos relevantes da Cosmovisão do povo: seus valores, crenças. 3. Identifique três necessidades a atender. Escolha uma delas e descreva quais são as intenções de Deus em relação à necessidade escolhida. Dê base bíblica. 4. Quais são as principais ações de intervenção dentro da necessidade escolhida? Quais são os objetivos destas ações? 5. Que outros esforços (cristãos ou não) já existem na comunidade para atender a necessidade escolhida? Como se pode trabalhar em parcerias? 6. Como a intervenção para resolver a necessidade escolhida vai se tornar autosustentável? 7. Qual a participação da igreja local no trabalho comunitário? 8. Qual é a estrutura organizacional do projeto? Apresentar um organograma. 9. Defina o fluxo financeiro do projeto, desde captação até prestação de contas. 10. Descreva a conduta nas questões espirituais da equipe. 11. Que sistema de prestação de contas haverá? E a quem? 12. Quais serão os indicadores de resultados? Como o projeto será avaliado? 13. Qual será o processo de capacitação dos obreiros envolvidos? 14. Quais são as etapas em longo prazo? 15. Como será trabalhada a sua saída do projeto e/ou comunidade?
Se você encontrar dificuldade em entender o roteiro, A Rocha Brasil tem um modelo de projeto elaborado a partir dele e pode disponibilizá-lo para auxiliá-lo na elaboração de seu projeto. Basta solicitar pelo nosso e-mail: pea.brail@arocha.org
18
CAPTAÇÃO DE RECURSOS (texto retirado do manual Captação de Recursos da Tearfund (ROOTS 6), p. 11-19. Manual disponível na íntegra em: www.tilz.tearfund.org/Portugues/ROOTS/Captação+de+recursos.htm)
De modo geral, um trabalho bem sucedido de captação de recursos conduz os doadores pelo seguinte processo: sensibilização, interesse, compreensão, decisão de apoiar, doação, construção contínua de relacionamento, nova doação ou encaminhamento. 19
Independentemente do tipo de trabalho de captação de recursos que seja feito, existem alguns princípios fundamentais que devem ser seguidos para garantir que todos os vínculos neste processo funcionem. Muitos dos princípios envolvem relacionamentos. Pode ser dito que a captação de recursos é, em primeiro lugar, um trabalho de conquista de amizades. Princípio 1: Eduque A educação pode ser uma maneira eficaz de conquistar interesse pelo nosso trabalho, o que leva às doações. É mais provável que os doadores nos apoiem se formos específicos sobre quais são as nossas necessidades. Reflexão: Somos bons no sentido de educar aqueles ao nosso redor sobre o nosso trabalho e sobre as pessoas com quem trabalhamos? Se não somos bons nisso, como podemos melhorar a forma com que educamos as pessoas? Princípio 2: Peça Os materiais educacionais costumam ser suficientes para incentivar os doadores potenciais a apoiarem o nosso trabalho. No entanto, às vezes precisamos pedir apoio diretamente, pois as pessoas ficam incertas sobre como responder. Além de dinheiro, talvez queiramos pedir oração ou voluntários para apoiar o nosso trabalho. A cultura local poderá determinar como podemos pedir. É importante que encontremos maneiras apropriadas de procurarmos os doadores para pedir recursos. A organização pode ser específica sobre o que está solicitando. Se as pessoas tiverem uma boa idéia do que exatamente o dinheiro delas ajudará a financiar e como a doação mudará vidas, elas ficarão mais dispostas em apoiar. Sendo assim, a organização poderá dizer aos doadores potenciais o que poderá ser financiado com cada nível de doação. Reflexão: Que métodos usamos quando nos aproximamos das pessoas para pedir doações? Que métodos obtêm maior sucesso e por quê? Princípio 3: Use uma abordagem pessoal Captação de recursos está intimamente ligada a relacionamentos. O nosso objetivo deve ser construir bons relacionamentos entre os doadores, a organização e as pessoas que servimos. Isto pode levar mais tempo, mas pode valer mais a pena e ser mais eficaz. Precisamos tratar os doadores como pessoas e não apenas como fontes de dinheiro. Da mesma forma, precisamos mostrar aos doadores que as pessoas a quem servimos são indivíduos e não simplesmente uma certa categoria de pessoas que recebe o apoio dos doadores. Também precisamos estar cientes de que somos representantes da organização para a qual trabalhamos. Para que os
doadores possam confiar as suas doações aos nossos cuidados, devemos ter uma abordagem profissional e pessoal ao mesmo tempo. Reflexão: Quão pessoal é a nossa abordagem de captação de recursos? Como podemos melhorar isto? Princípio 4: Compreenda o ponto de vista do doador Os doadores costumam ter duas razões principais para contribuir com o nosso trabalho: eles confiam que usaremos os recursos com sabedoria; e eles acreditam que as suas doações farão uma diferença nas vidas das pessoas. É útil lembrar disto quando pensamos em como realizar os nossos projetos e em como procurar os doadores. Reflexão: Como a nossa captação de recursos poderia ser mais eficaz se pensássemos mais sobre os pontos de vista dos doadores? Princípio 5: Busque doadores éticos Nós poderemos considerar as seguintes questões sobre o doador:
Ele é socialmente responsável? Em outras palavras, o doador cuida da sua mão-deobra, preserva o meio ambiente e trabalha para melhorar a sociedade? Como ele é visto pelo público? Há algum conflito entre a missão e os valores do doador e o que a nossa organização defende? As práticas trabalhistas da organização estão de acordo com bons princípios de desenvolvimento comunitário? Por exemplo, existe algum tipo de discriminação referente a sexo, idade ou origem étnica de alguns dos funcionários?
Poderá ser útil identificar os tipos de doadores que não iremos procurar ou dos quais não aceitaremos financiamento, assim como aqueles que estão envolvidos na fabricação de armas ou de tabaco. Reflexão: Os nossos doadores atuais são éticos? Princípio 6: Agradeça Talvez esse princípio possa ser óbvio, mas dizer obrigado poderá tornar-se mais difícil com o aumento no número de doadores que temos. Não é apenas educado dizer obrigado e demonstrar que valorizamos a generosidade do doador, mas também é vital para que o doador nos apoie com dinheiro novamente. É importante que a nossa expressão de agradecimento seja apropriada, feita no momento certo e não seja vista como um desperdício. Reflexão: Nós agradecemos a todos os nossos doadores? Se ainda não fazemos isto, podemos pensar em maneiras apropriadas de agradecer aos nossos doadores? Princípio 7: Invista tempo e dinheiro na retenção de doadores Para criar uma base estável de financiamento, precisamos ter doadores dispostos a doar dinheiro repetidamente. É mais rentável reter doadores do que encontrar doadores novos. Os
20
doadores precisam ter confiança na nossa organização e no trabalho que realizamos antes que estejam dispostos a doar novamente. Eles precisam saber que o dinheiro doado no passado tenha sido usado sabiamente. Reflexão: Quantos dos nossos doadores fazem mais do que uma doação? Que métodos poderíamos usar para incentivá-los a fazer mais doações? Princípio 8: Mantenha uma boa reputação
21
Uma boa reputação nos permitirá reter e atrair novos doadores. Será muito mais provável que as pessoas doem dinheiro para uma organização sobre a qual elas já tenham ouvido falar e que seja bem respeitada. A reputação é tão importante quanto a qualidade do nosso trabalho e dos nossos métodos de captação de recursos. Princípio 9: Preste contas Quando os doadores financiam o nosso trabalho, eles esperam que usemos o dinheiro sabiamente. Se assim o fizermos, eles farão novas doações em dinheiro. Porém, se não usarmos o dinheiro sabiamente, eles não ficarão interessados em financiar o nosso trabalho no futuro e poderemos ficar com uma má reputação. Ao prestarmos contas aos nossos doadores, também prestamos contas a Deus pelo que Ele nos proporcionou.
Ilustração: Jennifer Carriker
Reflexão: De que maneira estamos prestando contas aos nossos doadores? Como podemos melhorar a nossa prestação de contas aos nossos doadores? Que procedimentos precisaríamos colocar em funcionamento?