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casa - estúdio

LUIS BARRAGÁN projeto de carlos eduardo fernades teixeira geovanna mendes siqueira, salete iris ferreira pontes thales ferreira lopes orientadora rossana delpino estética 1/2020 centro universitário de brasília



ESTA REVISTA ABORDA a exploração estética DE UM dos grandes nomes da arquitetura mexicana, Luis Barragán. Por meio da análise de um importante e pessoal projeto, a CASA-estúdiO, buscou-se elucidar DE FORMA DETALHADA E PRÁTICA A abordagem estética do arquiteto E OS SENTIMENTOS E SENSAÇÕES INVOCADOS EM SUA OBRA.


SUMÁRIO ARQUITETURA DE RECINTOS textura | cor | luz

LUIS BARRAGÁN


CASA - ESTÚDIO REFERÊNCIAS




LUIS BARRAGÁN


Luis Ramiro Barragán Morfin foi um importante arquiteto mexicano do século XX. Expoente do movimento modernista, tem como assinatura dos seus projetos os traçados simples e retos, o uso de planos e cores vibrantes que traduziram de forma única o seu estilo e percepção do espaço. Formado na Universidade de Guadalajara, no México, buscou novas experiências e linguagens na Europa onde conheceu o trabalho dos jardins estilo mediterrâneoespanhol do paisagista francês Ferdinand Bac, que teria grande impacto nos projetos futuros de Barragán.


“ Quero que me permita fazer todas as ideias que ainda tenho na minha cabeça.” - Luis Barragán -


As obras remetem ao imaginário de Barragán. A exploração da luz e sombra, texturas, cores traduz uma arte única, com fortes resgates da cultura mexicano. Características essas reconhecidas pelo Prêmio Pritzker, em 1980, devido a relevância da sua linguagem para arquitetura.


ARQUITETURA DE RECINTOS


Arquitetura de recintos. Esse termo pode definir com precisão a obra do arquiteto mexicano Luis Barragán. Recinto pode ser interpretado como lugar delimitado, espaço protegido e íntimo, santuário. Característica marcante expressa com eximio por meio de linhas retas, muros e vazios pelo arquiteto mexicano. Para Barragan, - como apresentado em seu discurso na Cerimônia de Premiação do Prêmio Pritzker, em 1980 - a arquitetura deve ser uma combinação entre beleza, poesia, charme, magia, encantamento, feitiço, silêncio, serenidade, mistério, espanto, solidão, alegria, símbolo e mito. Isto é, a arquitetura deve envolver o homem em sua plenitude, ser o santuário de seu corpo e mente.


silêncio

magia feitiço

solidão

serenidade

poesia

encantamento

Luis Barragán charme

símbolo

mistério

mito

alegria

beleza espanto


Por meio do uso de texturas, cores e luz, em seus projetos aborda o homem e suas diversas dimensões, em destaque, a sensível e a espiritual. Barragan brinca com a vida, o mistério e o íntimo. A arquitetura para Barragan é quase um percurso ritualístico em que o homem em meio ao silêncio e a solidão encontrar-se e coexiste entre a esferas tangível e espiritual. Passagem essa marcada por diferentes vazios, cores e, principalmente, a luz e sua decomposição ao passar do dia que faz alegoria a esse rito.


“Solidão. Somente em íntima comunhão com a solidão o homem se encontra. Ela é uma boa companhia, e minha arquitetura não é para quem a teme e se esquiva." - luis barragán -


Somado a dualidade, os projetos de Barragan buscam enquadrar por meio do seu traço reto, assim como em uma pintura, a vida. Dessa forma, aproximandose da ideia de arquitetura de Van Doesburg, na qual o ser não é mais visto como um espectador em frente a tela, mas sim como integrante de sua obra a qual lhe envolve e protege, um local de descanso e serenidade. As paredes deixam de ser meros elementos construtivos e transformam-se em telas nas quais a luz, em sua dimensão mais poética, ou seja, a sua decomposição, torna-se a sintaxe do quadro. Enquanto, a natureza com sua sensualidade e riqueza em texturas e cores se exibe em cena. Desse modo, o homem aprecia a dinâmica da vida imóvel, centrado em si.


O íntimo é uma abordagem recorrente na obra do arquiteto mexicano. Em suas obras sempre é percebido de forma marcante a relação interno e externo, marcado pelos muros e paredes. Um constante convite a reflexão solitária, ao habitar o íntimo e ao contemplar a vida. Destarte, Luis Barragán faz uma arquitetura que envolve o ser humano. Cria espaços de infinitas possibilidades de percepção e relação com o ambiente, um local de emoção, austeridade dramática e a sensualidade expressas em texturas, cores e luz.



textura


Por meio das texturas tanto áspera quanto lisa, Barragán explora a primeira transcendência entre os 2 universos, como apresentado por Thomas Schielke. O uso da argamassa rústica de cascalho aplicado ao tijolo cria padrões irregulares o qual brinca com a dimensão tátil do homem. Enquanto, em contraste, a argamassa regulada cria uma superfície lisa o qual forma um cenário silencioso e abstrato, atuando como uma tela para os feixes de luz que se movem na parede, assim, tornando-se um espaço para mistico, um portal.


corES


““Na imaginação poética de Luis Barragán, a cor desempenha um papel tão significativo quanto a dimensão ou o espaço. “ - SCHIELKE THOMAS As cores na obra de Barragán se distancia dos grandes monólitos modernos brancos da época. Esses projetos com personalidade única, demonstra o intuito do arquiteto de resgate histórico da cultura mexicana, as suas origens e significado. O jogo de cores funciona como um mantra que envolve o homem e brinca com sensível e o místico. Desperta o olhar e acalma o ser para desfrutar os prazeres do pensar, trabalhar, conversar.


LUZ


As múltiplas variações cromáticas registradas deixam pistas da exploração feita por Barragán sobre a interação da cor com os espaços construídos. A luz é explorada na sua forma mais poética, ou seja, na sua decomposição em cores. Além disso, a diferente incidência da luz ao longo do tempo desperta na obra uma sensualidade misteriosa que atrai e conforta o ser.


CASA - ESTÚDIO LUIS BARRAGÁN


Projetada para ser sua habitação pessoal, Barragán concebe uma residência discreta fechada para a rua. Nesse mundo particular as grandes janelas são como um portal místico, emolduram a natureza abundante no exterior. Toda a casa foi uma grande experiência, onde, os caminhos ao longo dos ambientes permitem um adentrar progressivo na casa, tornando a experiência de passagem algo de certa forma sensual. Nesses caminhos os cômodos se expandem e comprimem, tanto verticalmente quanto horizontalmente, com a ideia de preparar o olhar do observador, para o intimismo pertencente a áurea do autor, e isso nos conduz a enxergar no final as grandes janelas para o coração da casa, o jardim, ou o que podemos chamar de ligação com o terreno ou o perene.



Esse incrível laboratório da arquitetura traz sensações e percepções únicas e o uso da luz e cor são essenciais para a mudança de postura do espectador. A casa, também possui um terraço que permite que o projeto se conecte quase que diretamente com o amplo céu azul do México, transcendendo percepções, ligação com o sagrado. A Casa Luis Barragán, foi construída no ano de 1948, é uma das obras arquitetônicas contemporâneas com maior destaque internacional, reconhecida pela UNESCO como patrimÔnio mundial em 2004. Faz parte do movimento modernista, e possui elementos vernaculares, filosóficos e artísticos.



fachada A fachada principal da casa está voltada para a rua, acompanhando a estética dos outros edifícios da vizinhança de aparência austera, quase inacabada. O artista preferiu guardar-se de forma introspectiva, quase anônima. Praticamente todo o exterior possui a cor natural e a aspereza do concreto, e apenas as portas de acesso para pedestres, veículos e as ferragens das janelas foram pintadas.



ENTRADA “ Um espaço onde os significados são preparados. ” - Marina de Holanda É um acesso pequeno que é colorido pela luz que entra através de vidro amarelo. Funciona como um local de espera. A cor e o minimalismo no uso de materiais coloca os sentidos em estado de alerta para o que a por vir. É quase um portal de passagem entre o mundo exterior e o íntimo, do sensível para o espiritual. As paredes de argamassa rústica aflora a dimensão tátil do espaço, contudo o uso do amarelo totalmente destoante da fachada neutra marca a transição.



HALL Em contraponto a entrada, o hall apresenta-se amplo e aberto. De imediato se depara com uma parede e porta rosa. A complementaridade das cores, amarelo e rosa, reforça o convite a transcendência a um estado místico e a porta reforça a mensagem da passagem. Somado a isso, este ambiente possui o mesmo tipo de piso feito de pedra vulcânica da área externa, o que acentua a sensação de integração dos ambientes e trás para dentro da casa o que seria uma espécie de “ pátio interno”.Uma porta separa - através de um mecanismo reflexo - o plano amarelo do exterior, voltado para o sul, do no rosa intenso das paredes. E essas luzes produzem sombras rosas que aparecem no branco da escada colorindo o ambiente.



Sala de estar Nesse ambiente os elementos decorativos foram cuidadosamente colocados para serem descobertos gradativamente, mas o ponto focal é a surpreendente vista para o jardim, nela a janela funciona com uma tela pintada pelo verde da natureza presente, que instiga o poder da vida exterior de valor metafísico e nossa ligação com ela. A capacidade do espaço de conter harmoniosamente esses objetos simples e artesanais, deve ser destacada, eles fazem com que esse local possua esse contexto estilístico que não perde sua essência com o passar do tempo.



Biblioteca A vista e o barulho vindos da rua são excluídos nesse cômodo, que convida em seu interior a presença humana nesta casa ao silêncio e contemplação de coisas não palpáveis. Também é dividida no que seriam uma espécie de compartimentos formados pela introdução de vários planos de parede com meia altura. Apesar da multiplicidade de escala e usos, a unidade da sala é preservada e sublinhada pelo vazamento de linhas da viga que a cobre e pela mesma estante que está alojada em um de seus lados, estruturando todos os espaços da sala.Os muitos livros nesse ambiente, são como testemunhas das diferentes realidades que presenciam.



Pátio dos vasos É o resultado de uma série de modificações no projeto original que separam o jardim da própria oficina. Entre os muros altos e brancos este pequeno local é dedicado a dois elementos indispensáveis na arquitetura de Luis Barragán: a vegetação, sempre forte e dramática, e a água, contida em um volume abstrato que se destaca no chão de pedra vulcânica.Também possui uma porta e parede rosa, em contraste com a verde do jardim, que nos faz ser levados para um conjunto de outras sugestões. É um espaço de reflexão, as cores opostas E complementares presentes nele propõe essa dualidade até mesmo em como reconhecer e habitar o local.



Jardim Luis Barragán decidiu permitir, o que antes seria uma clareira, crescer livremente o que resulta em seu estado atual: um jardim opulento e semi-selvagem, como jardins ancestrais, onde a vegetação tomou a maioria de suas decisões por sua própria vida.No meio do deserto urbano, há um oásis monocromático, exceto o branco ou a laranja acrescentado pelas flores de jasmim e clivias. É o coração da casa, suas nuances e formas, complementam todo o resto ao se redor.



Sala de jantar A janela na sala de jantar transforma a vista do jardim em uma imagem um pouco mais abstrata se fosse na perspectiva de alguém que se senta em um dos sete lugares à mesa. É um local intimista e aconchegante, e a referência a Jesús Reyes Ferreira uma das figuras responsáveis pelo desenvolvimento artístico de Barragán, é clara. Jesús Reyes Ferreira, o artista plástico “que mais do que pintar, confunde”, de acordo com sua própria descrição, é de quem o arquiteto tirou as lições fundamentais de cor e composição que usa em suas obras.



Quarto de hóspedes Possui um espírito monástico, não apenas pela economia de recursos materiais e cores mas também pela seleção de móveis e das texturas dos tapetes e colchas. Esse espaço traduz como Luis Barragán, aprendeu com seu mestre espiritual a cercar-se de poucas coisas, assim, viver em um desapego material, amando as coisas que lhe servem. A janela agora é coberta por um conjunto de persianas brancas e um estudo cuidadoso das proporções, já que a mesma é voltada para a rua traduzem o que pode ou não passar por ela, assim estrategicamente e esconder a rua e evidenciar o céu, ou vice e versa.



Quarto principal e sala branca No andar superior, a vista do jardim é reservada para o quarto do arquiteto e para a sala da tarde ou para a "sala branca". Eles são acessados por uma válvula espacial, agora amarela, que concentra a luz da manhã que sai do salão para os quartos onde não faltam arte sacra e equestres. Esses espaços expressam fundamentalmente a dialética com a qual esta casa foi construída: entre ascetismo e sensualidade, sagrado e místico. Diferente do resto da casa, somente a cor branca cobre as parede de ambos os ambientes, mas uma vez trazendo o sentimento monástico a esfera.


" E as amplas perspectivas dos edifícios se erguem cheias de mistério e presságios, segredos sombrios se escondem em seus cantos que tornam a arte um episódio vibrante e não apenas uma cena limitada aos atos dos personagens representados, todo um drama cósmico e vital que envolve os homens e os prende em seu turbilhão em que o passado e o futuro são confundidos com os enigmas da existência, exaltados pelo sopro da arte e nus do aspecto complexo e temível com que o homem os imagina fora da arte, protegendo a aparência atemporal, calmante e reconfortante de cada compilação legal." - ignacio Días Morales -


Terraço O terraço foi construído com muros altos acima do nível do telhado e esse espaço guarda as chaminés e o sistema de aquecimento mecânico e, também, a torre branca que abriga o tanque de água e as escadas que levam à área de serviço no terceiro e último andar. É também uma composição de paredes crua que funcionam como um laboratório cromático cuja função arquitetônica é quase evocativa. No terraço é onde acontece o resultado da complexa construção espacial e poética da casa, onde também o estado contemplativo, da infinitude do céu, faz-se valioso e de certa forma inegável




planta baixa

piso 1

piso 2


corte aa

fachada rua

corte bb

fachada jardim interno




IMagens

autor desconhecido

ilustração da artista digital JUlien moulin

adaptação da ilustração do arquiteto mexicano Juan Carlos García


adaptação da ilustração do arquiteto espanhol Frederico Babina

adaptação da ilustração da desenhista gráfica Ingrid Picanyol.


ILUSTRAÇÃO THALES FERREIRA LOPES

adaptação da ilustração do arquiteto mexicano Juan Carlos García


FOTOGRÁFIA DE Armando Salas Portugal Barragán Foundation

FOTOGRAFIAS DA FUNDAÇÃO Casa Luis Barragán

AQUARELA DE CARLOS EDUARDO FERNANDES TEXEIRA


REFERÊNCIAS LYNCH, Patrick. In Residence: Casa Gilardi, a última obra de Luis Barragán. ArchDaily, 2016. Disponivel em : https://www.archdaily.com.br/br/798120/in-residence-casa-gilardi-a-ultima-obra-de-luisbarragan SCHIELKE, Thomas. Como Luis Barragán usava a luz para nos fazer ver as cores. ArchDaily, 2018. Disponivel em : https://www.archdaily.com.br/br/898144/como-luis-barragan-usava-a-luz-paranos-fazer-ver-as-cores ARELLANO, Mónica. Uma dança na casa-estúdio de Luis Barragán. ArchDaily, 2018. Disponivel em : https://www.archdaily.com.br/br/893636/uma-danca-na-casa-estudio-de-luis-barragan? ad_medium=mobile-widget&ad_name=recommendation PEREIRA, Matheus. O papel da cor na arquitetura. ArchDaily, 2018. Disponivel em: https://www.archdaily.com.br/br/894425/o-papel-da-cor-na-arquitetura?ad_medium=mobilewidget&ad_name=recommendation El discurso de Barragán. Arquine, 2018. Disponivel em: https://www.arquine.com/el-discurso-de-luisbarragan/ EDER, Rita. Muralismo mexicano: modernidade e indentidad cultural. In: BELLUZO, Ana Maria de M. (org.). Modernidade: vanguardas artísticas na América Latina. São Paulo: Memorial: Unesp, 1990.


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LFERNÁDEZ, Roberto. HYBRIS AMERICANA: A MODERNIDADE ECLÉTICA DE LUIS BARRAGÁN E LUCIO COSTA. ARQTEXTO, 2009. Disponivel em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/29123/000753095.pdf?sequence=1&isAllowed=y AIRES, Daniela Cordeiro. A INFLUÊNCIA DA COR NA PERCEÇÃO ESPACIAL. 2017. MARTINS, Ana Maria Tavares; VIRTUDES, Ana Lídia; SAMPAYO, Mafalda Teixeira. Arquitectura de Luís Barragán: apropriação e influências na contemporaneidade. MONTEYS, Xavier. La acquitectura de Luis Barragán: una arquitectura de decintos. Equipo editorial, 2016. MONTEYS, Xavier. Meros muros de colores.






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